– 12h – FOI UM MILAGRE NA MINHA VIDA.
– 17h –
Quando chegamos lá, não havia nada.
– 5h –
Quis descobrir
um pouco da minha gente,
e me apaixonei.
– 23h –
Ela chegou e partiu sendo amada.
– 15h –
ERA UM A CHANCE DE
– 0h –
QUANDO ELE SORRIU,
SOUBEMOS QUE O COMA TERMINARA. – 9h –
O coração é o órgão mais bonito. – 22h –
– 18h –
– 3h –
Escolhi a UTI porque preciso de resultados rápidos.
Tratar a pessoa por inteiro é o que faz a diferença.
– 6h –
Nunca desisti nem me entreguei.
– 20h –
A primeira voz que eu ouvi de novo foi a da minha filha.
– 21h – AS FAMÍLIAS ACHAM
QUE O CÂNCER É MORTAL. E NÓS
MUDAMOS ISSO.
24HORAS NA VIDA
Doutor, se não tiver uma solução, nós vamos inventá-la. SE NÃO FOSSE POR ELE, EU TERIA MORRIDO.
– 2h – UM CORAÇÃO NOVO BATIA EM MEU PEITO.
– 16h –
LIDAR COM O SOFRIMENTO DOS OUTROS.
– 7h –
Deixar um paciente melhor é o que me dá garra para continuar.
UM DIA ENTRE MÉDICOS E PACIENTES DE TODO O BRASIL,
E SUAS HISTÓRIAS INSPIRADORAS DE LUTA E VITÓRIA – 14h –
– 1h –
Minha fé é no ser humano.
– 11h –
QUANDO – 19h – VOCÊ NUNCA TRATA SÓ A PESSOA. – 10h – MAIS DO QUE
MÉDICO, ELE SE TORNOU
MEU AMIGO.
PERCEBEU QUE HAVIA
Haviam me dito para não ter mais esperança.
– 13h –
PODER MUDAR UMA VIDA É MARAVILHOSO.
VOLTADO AO
– 4h –
Naquela noite, ganhei a vida de novo.
NORMAL, ELE COMEÇOU
A CHORAR.
– 8h – A DOR ENSINA. E DÁ FORÇAS PARA ENFRENTÁ-LA.
UM PRESENTE DE FIM DE ANO AOS MÉDICOS PARCEIROS
Walter José Gomes, 52 anos, cardiologista em São Paulo (SP)
9H
Quando fala o coração
Q
uma mudança estranha no marido. “Ele era ateu. Mas, depois da cirurgia, passou a ir à igreja”, revelou. Intrigado, Walter voltou ao homem, querendo entender o porquê da mudança. E ele contou ao doutor uma história surpreendente. “Enquanto eu estava em coma, lembro-me de estar deitado em um lugar branco. Lá, um homem de barba, que eu reconheci como Jesus, me deu a mão e me trouxe de volta”, explicou a Walter. “Por isso, agora vou à igreja – é como se fosse visitar um amigo.” Anos depois, o caso continua entre as lembranças mais fortes da carreira de Walter, professor e médico da Universidade Federal de São Paulo e presidente das sociedades brasileira e latino-americana de cirurgia cardiovascular. “Não tenho uma explicação para a visão que ele teve, mas isso reforçou meus laços religiosos”, revela. Foi por chances assim, de salvar vidas e mudar histórias, que com 15 anos ele deixou Palmital, no interior de São Paulo, rumo à capital, para preparar-se para o vestibular. Na residência em cirurgia geral, Walter se apaixonou. “O coração é o órgão mais bonito”, declara-se. E esse é um amor que lhe ensina muito sobre a vida.
uando a cirurgia começou, Walter José Gomes esperava poder mudar a vida daquele paciente da mesma maneira como ajudara a mudar a de milhares de outros: reconstruindo os caminhos do seu coração. Cirurgião cardiovascular, ele tinha diante de si a tarefa de criar pontes que devolveriam à circulação do sangue o fluxo desimpedido. Mas, quando um problema em um dos equipamentos deixou que o ar entrasse no corpo do paciente, Walter, dessa vez, também mudaria o jeito que aquele homem deitado na mesa de cirurgia veria o mundo dali para a frente. O paciente entrou em coma. Foram duas semanas até que se recuperasse, em um hospital em Trinidad e Tobago, país caribenho e ex-colônia britânica onde Walter, na época, atendia de tempos em tempos, por causa do trabalho no Instituto do Coração da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Numa tarde, de volta a Trinidad, Walter foi visitar o homem, já restabelecido. “Notou algo diferente?”, perguntou. Ele negou: sentia-se normal. Mas, quando fez a mesma questão à esposa do paciente, o médico recebeu outra resposta. Ela notara 13
Beatriz Cabral de Paula, 54 anos, urologista em São Paulo (SP)
13H
Perder a ternura jamais
E
cos é justamente esse cuidado – que Beatriz se comprometeu a jamais deixar de oferecer aos seus pacientes, independentemente do tipo de hospital ou tratamento. Quando menina, o gosto pelos trabalhos manuais, como bordado, tricô e pintura, deu-lhe pistas de que, no futuro, escolheria uma profissão em que pudesse utilizar as mãos. Acabou influenciada pelo pai, o urologista e uropediatra Alfredo Duarte de Paula, que tinha o costume de reunir a família para ver os filmes das cirurgias que realizava, enquanto explicava manobras e detalhes da anatomia invisível. As gravações encantavam a pequena Beatriz. Na hora de prestar vestibular, não resistiu à medicina e, mais tarde, à urologia – especialidade que exige mãos firmes e delicadas para cirurgias. Beatriz atende no mesmo endereço que foi do pai, com quem compartilhou o consultório no início da carreira. O tempo é dividido com o hospital público infantil Menino Jesus, em São Paulo. “Sempre me preocupei em trabalhar com a população carente e atendê-la bem”, diz. Cuidar das crianças é sua grande alegria e maior missão. “Mudar uma vida que está começando e lhe dar melhores condições de seguir é maravilhoso.”
ra hora do almoço quando a mãe entrou no hospital afobada, carregando o filho pequeno nas costas. “Dá para consertar?”, perguntou, desesperada, à urologista Beatriz Cabral de Paula. Por causa de uma má-formação nas pernas e nos órgãos, o menino, de 8 anos, não conseguia andar nem controlar a bexiga. Com a mãe, ele já havia peregrinado por outros consultórios e hospitais, sem encontrar solução. A perspectiva de uma vida de limitações era devastadora. Era mesmo um caso complicado. Mas Beatriz consultou a equipe e, juntos, numa cirurgia de longas horas, conseguiram reconstituir todo o aparelho urinário da criança. Coube ao setor de ortopedia dar movimentos às pernas, permitindo ao menino a possibilidade de andar. Hoje, ele tem 14 anos e uma vida independente. Beatriz guarda com carinho essa história, como outras em que sua participação foi além do diagnóstico e do tratamento. “Só sei trabalhar me envolvendo emocionalmente com o que faço”, conta. A médica vive as angústias e as alegrias de cada paciente como se fossem de um parente ou amigo seu. Para ela, o que falta tantas vezes aos médicos que atuam em hospitais públi17
Flávia Campora, 34 anos, geriatra em São Paulo (SP)
19H
Toda a paciência do mundo
Q
Afinal, foi a possibilidade de construir vínculos que fez Flávia desistir da engenharia. Durante a faculdade de medicina, não fazia ideia de que área seguir. Foi se encontrar ao visitar o trabalho de uma geriatra amiga da família. Ali, Flávia reconheceu a facilidade para lidar com idosos – que ela credita à convivência próxima e amorosa que sempre teve com os avós. “Naquele instante, descobri meu caminho”, lembra. E, no decorrer dos anos, outros casos lhe ensinariam habilidades valiosas para trabalhar com a terceira idade. Como saber que um paciente nunca é só um paciente. “Quando você cuida de uma pessoa idosa, nunca trata dela sozinha. Tem de dar satisfação também aos filhos, aos netos e a todos os envolvidos.” Como para muitos médicos, para Flávia talvez o mais difícil do trabalho não sejam os casos, mas como conseguir tempo para a vida pessoal. Manter-se envolvida na rotina de cada paciente exige agenda irrestrita. Há dois anos, ao tornar-se mãe, ela se esforça para ter uma rotina regrada. Até porque isso a torna uma médica melhor. “O tempo livre me ajuda no meu trabalho.”
uando recebeu o caso, Flávia Campora foi avisada: seria difícil. Outros já haviam tentado e desistido. Ela topou. Foi tocar a campainha do falado casal num fim de tarde. Ele sofria de problemas de memória. Ela, de dificuldades motoras e, digamos, de uma certa rebeldia – o que não é doença, mas tem lá suas complicações. Não havia remédio que a senhora não questionasse. Seguir prescrições, então, nem pensar. Flávia confessa: algumas vezes pensou em desistir também, por causa das desconfianças e resistências, que mais soavam como birra, e das exigências – não foram poucas as vezes em que a paciente ligou ordenando que Flávia fosse imediatamente vê-la. Mas, quando a médica refletia sobre sua responsabilidade com aquela dupla, a consciência pesava. Afinal, ela foi a única que a senhora deixou entrar em casa. E talvez tanta dificuldade tivesse algo a lhe ensinar. Então, Flávia resistiu. Aprendeu a ser dura quando necessário, a falar firme e a não se deixar intimidar. E, principalmente, entendeu quão importante é a relação de confiança entre médicos e pacientes. 23
Fernando Machado, 56 anos, intensivista em Florianópolis (SC)
3H
A vida por um fio
E
É, na verdade, a condição fundamental para exercer sua especialidade. Para os intensivistas, todas as horas são de emergência, e cada minuto conta. No pronto-socorro e na UTI, seu habitat, não há casos fáceis: são acidentes, infartos e males súbitos de todo tipo. É viver sob pressão, sem jamais perder a calma nem a memória – às vezes, são as lembranças do que estava escrito no rodapé do livro que ajudam em diagnósticos difíceis quando o relógio corre. E, embora já tenha sido encarada como um corredor da morte, a UTI hoje é o local em que está a maior chance de sobreviver. A tecnologia evoluiu, as equipes são multidisciplinares, há mais profissionais acompanhando de perto cada sinal nos monitores. De dez pacientes internados, nove vivem. Fernando acompanhou essa história. Quando partiu para a residência em clínica geral, eram poucas as UTIs no Brasil. Foi na emergência do Hospital das Clínicas, em São Paulo, que descobriu a vocação. “Fico angustiado por receitar um remédio e ter de esperar 30 dias para saber se houve melhora. Preciso de resultados rápidos”, afirma. Para ele, salvar vidas é um trabalho intenso.
ra para ser um caso simples. O paciente, um garoto de 19 anos, viera ao hospital operar uma hérnia. Mas, pouco depois da cirurgia, começou a ter convulsões. No corredor da emergência do Hospital Celso Ramos, em Florianópolis (SC), um colega veio pedir a opinião de Fernando Machado, o intensivista de plantão. Não precisou olhar duas vezes. Fernando diagnosticou porfiria aguda intermitente – uma doença rara, que causa transtornos neurológicos. Recomendou glicose, e, em 48 horas, ele estaria pronto para receber alta. Mas mal havia amanhecido e, antes de sua ronda pela UTI, Fernando resolveu visitar o paciente – e o encontrou tendo uma nova crise. Como provar que seu primeiro diagnóstico estava correto? Na hora, colheu sangue e urina e mandou para análise em São Paulo. Receitou mais glicose e esperou. Quando os exames chegaram, confirmaram sua avaliação. “Tenho notícias de que ele está muito bem hoje”, conta. A capacidade de avaliar uma situação, juntar os pedaços do quebra-cabeça e decidir rapidamente a solução é mais do que uma habilidade útil para Fernando. 31