Sorria #18

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NOVIDADE!

*18 fevereiro/março 2011

Agora, a Sorria contribui também com a educação :)

Realização:


Sob o brilho da noite

© Stuart O’Sullivan/ Getty Images

texto K a r i n a S é r g i o G o m e s

Um dos meus passatempos favoritos na infância era encontrar figuras nas nuvens. “Olha aquela ali, parece um elefante.” Qualquer tempo disponível que eu tinha, gastava com céu. Lá pelos meus 9 anos, vi um aviso sobre um planetário que seria montado na escola em que eu estudava. Curiosa, comprei o ingresso. A coisa era meio improvisada: uma lona prateada inflada como um balão, onde, por uma frestinha, as crianças entravam. Naquela bolha, constelações e planetas eram projetados enquanto um professor de astronomia fazia explanações. Mambembe, o espetáculo bastou para levar meu interesse das nuvens às estrelas. Quando anoitecia, lá ia eu deitar no quintal para tentar ligar os pontinhos e montar os desenhos sobre os quais havia aprendido. Até hoje o céu me encanta. Eu volto sempre para casa de olho no alto. Quando vejo que só tem uma estrela brilhando na imensidão negra, faço um pedido. Um dia, indo para a praia com meu namorado, um céu incrivelmente luminoso se abriu. Naquela noite, a minha vontade era de dormir na varanda. De volta a São Paulo, ainda empolgados, decidimos visitar o planetário do Parque do Ibirapuera. Além da gente, não havia nenhum outro adulto desacompanhado de criança. Mas logo vimos que os deslocados não éramos nós. E sim quem cresce e se esquece da graça que tem encantar-se com o céu.


ajudar

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a qquem pprecisa

Ka Kawany K é só fantasia. Francine, pés no chão. O que F Fr elas ela l têm em comum? Você, qque, ao comprar a Sorria, qu aass ajuda a seguir sonhando e cconstruindo. Obrigado!

Onde termina a fantasia a e começa a realidade? Aos 6 anos, Kawany Vanderlei não vê muito propósito nessa pergunta. Ela jura que tem 100 mil bonecas guardadas no quarto. A favorita é Rapunzel, cujos longos cabelos são trançados por bichinhos mágicos que vivem entre os fios. Cinderela é outra amiga de longa data. Vestir as fantasias disponíveis na brinquedoteca do GRAACC é a sua diversão preferida quando vai ao hospital tomar os antibióticos. “Ela só sossega depois de provar todas”, conta Aparecida, sua mãe. Com figurino de princesa, a menina faz todas as poses de balé que se lembra de ter visto no filme sobre a Barbie bailarina. Em casa, Kawany banca a artista plástica. Foi ao vê-la pintando que a mãe descobriu que ela já sabia ler. “Como você sabe que tem de pintar o tronco da árvore de marrom?”, perguntou. “Ué, tá escrito!”. A descoberta da leucemia veio cedo, aos 4 anos. Por isso, ela foi alfabetizada no hospital, pelos professores que atendem as crianças internadas. Agora, que só precisa ir ao GRAACC às vezes, está na escola. Quando crescer, se não for princesa, cogita dar aulas de matemática. O tratamento deve ser concluído em junho, quando Kawany faz aniversário. Um presente e tanto. Mas ela promete voltar, para vestir todas as fantasias de novo.

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A idade d adulta d lta chegou na vida de Francine André ao fim da 2ª série do ensino médio. Ela precisava escolher entre o 3º ano tradicional ou a opção voltada para o magistério. Ali, ela decidiu que seria professora. Naquele mesmo ano, uma experiência inesquecível confirmaria sua vocação. Francine ficou sabendo que sua escola estava participando do programa SuperAção Jovem, do Instituto Ayrton Senna, e resolveu integrar a iniciativa. Na hora de definir qual projeto ela e suas colegas desenvolveriam, o grupo se valeu da paixão por crianças e de um olhar atento às demandas da população local. Francine mora em Ibitinga (SP), a capital nacional do bordado, onde todos os sábados há uma feira de artesanato. Para acolher os filhos dos vendedores, o grupo de amigas montou uma creche dentro da escola. “Deu tão certo que tivemos de criar uma lista de espera”, conta. Hoje, aos 24 anos, Francine dá aula no mesmo colégio onde estudou. E agora é ela quem orienta os alunos a desenvolver iniciativas dentro do SuperAção Jovem. Como a reativação da biblioteca da escola: antes, o horário de funcionamento e o acesso aos livros eram restritos. Agora, o espaço abre até nos fins de semana. “Quando você tem um problema, pode fazer algo para resolvêlo. É isso que aprendemos no SuperAção Jovem”, ensina.

© 1 Diogo Salles 2 Instituto Ayrton Senna / Michele Zollini

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educar a novão ç se

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dentro e fora da escola

Lição de casa Ter um filho é tornar-se um professor. Quem se dedica a esse dever descobre uma fonte de satisfação e constrói a mais bela herança que se pode deixar texto

Dilson Branco e Karina Sérgio Gomes ilustração E l C e r d o

“A PRINCIPAL FUNÇÃO DOS PAIS é educar os filhos. Inseri-los em nossa cultura e ajudá-los a construir sua identidade”. Essa afirmação, da professora de psicologia Leda Bernardinho, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), resume o trabalho de uma existência inteira. Uma obra que começa antes do nascimento do filho, quando, dentro da barriga da mãe, ele já percebe o que seus progenitores fazem aqui fora. E que se estende além da vida dos pais, enquanto as pessoas que um dia eles foram restarem na memória da sua prole. Para cumprir esta tarefa de apresentar o mundo a seus novos habitantes, e ajudá-los a achar o seu lugar em milhões de anos de história, entre bilhões de outros seres humanos, nossa sociedade deu origem a uma de suas mais célebres invenções: a escola. Passar a primeira parte da vida nessas instituições especializadas se tornou um padrão, um eficiente ritual na formação dos cidadãos. Mas, por melhor que seja

o sistema de ensino, muitos pais acreditam que seu dever é maior do que apenas garantir o ingresso e a permanência dos filhos na educação formal. Como Lúcio e Marlene, pais de Juliana. É por isso que eles fizeram questão de matricular a filha em uma escola que os permita participar de perto da sua formação. Paulo e Márcia, pais de Mariana, concordam: essa é a razão de sempre buscarem formas divertidas de transmitir à filha a cultura que acumularam no decorrer da vida. E o mesmo vale para Antônio, que tomou para si a função de ensinar aos filhos uma profissão. Eles são exemplos de como a educação, mais do que uma obrigação, pode ser um prazeroso exercício que torne ainda mais forte o laço natural que une pais e filhos.

Erguendo uma ponte O advogado Lúcio Ferreira e a dentista Marlene, sua esposa, ambos de 39 anos, de São Paulo, não estavam muito satisfeitos com o colégio particular em que a


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Lúcio e Marlene escolheram uma escola que abrisse espaço à pariticipação dos pais. Paulo e Márcia buscam formas divertidas de passar cultura à filha. Antônio decidiu deixar como herança sua profissão filha Juliana, hoje com 9 anos, cursava a pré-escola. Não que a infraestrutura ou os professores fossem ruins. O problema era que, sempre que eles tentavam fazer algo mais do que simplesmente levar e buscar a menina e participar das reuniões de pais, eram desencorajados. Nos encontros de família, começaram a prestar atenção nas histórias sobre a escola pública em que o afilhado de Lúcio estudava, a Desembargador Amorim Lima. Decidiram conhecê-la: “Em 2008, fomos a uma reunião do Conselho de Escola e ficamos encantados com a participação ativa dos pais e com a forma com que os problemas eram resolvidos”, conta Lúcio. Um dos casos discutidos no encontro foi o de alunos que haviam vandalizado uma oca instalada por um grupo indígena convidado a visitar a escola. “Os estudantes tiveram de recuperar o local e ainda dar palestras sobre a importância de preservar os ambientes”, relata Lúcio. No ano seguinte, Juliana foi transferida para lá.

O Conselho de Escola, que tanto impressionou o casal, é uma peça-chave na Amorim Lima. Ele é formado por pais, estudantes, funcionários, professores e membros da diretoria. Em reuniões mensais, são buscadas soluções coletivas para os problemas da instituição. A cada ano, um pai assume a presidência. Em 2010, Lúcio ocupou essa função. Uma das ações foi o isolamento acústico do prédio. “Pais arquitetos e engenheiros descobriram uma solução barata: jatear uma espécie de espuma no teto”, lembra. O preço acessível facilitou a obtenção da verba na prefeitura. Outra forma pela qual os pais participam do cotidiano escolar é oferecendo oficinas aos alunos. No primeiro semestre do ano passado, Lúcio ensinou um grupo de estudantes a jogar xadrez. “Foi muito recompensador ver o desenvolvimento das crianças”, conta. Lúcio e Marlene acreditam que seu envolvimento com a escola faça com que a filha se sinta valorizada. “Ela sem-

pre vê a gente por lá, organizando uma festinha, participando de reuniões...”, diz o pai. Segundo a psicóloga Leda Bernardinho, é importante criar essa ponte entre o ambiente familiar e o escolar. “Essa interação faz com que a criança se sinta mais confortável no colégio”, diz. Juliana conta que os pais também adoram lhe perguntar sobre as atividades que ela realiza na sala de aula – o que também é muito bem-visto pelos especialistas. “Quanto mais a família mostra interesse pelo que o filho está aprendendo, mais ele se empenhará nas atividades”, afirma o professor de psicologia da educação Américo Agostinho, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para além desses benefícios, a menina vê uma vantagem muito prática na participação direta dos pais na sua escola: “Assim eu não preciso explicar quem é quem e o que é o que quando quero contar sobre o que acontece lá”.

Indicando referências “Esse garoto estava passeando com os pais perto de um rio. De repente, quando cruzavam uma ponte, ele achou que tinha se perdido, e deu um baita de um berro.” Faz sete anos que Mariana Zocchi ouviu essa história, mas ela ainda se lembra bem. Foi durante uma exposição de obras de pintores expressionistas, em


educar

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São Paulo, onde mora. O inventivo relato foi a maneira que o pai dela, Paulo Zocchi, inventou a fim de despertar a curiosidade da menina para o famoso quadro O Grito, do norueguês Edvard Munch. Na época, Mariana tinha 10 anos. Quando completou 13, ela ganhou um caderninho com o título “100 filmes para você ver antes dos 18 anos”. A seleção de clássicos do cinema foi feita pelo próprio pai. Cada título acompanha ficha técnica, sinopse e um espaço para comentários. “Nessa época, a Mariana estava assistindo a muito lixo. Quis incentivá-la a conhecer bons filmes”, conta o jornalista de 52 anos. Paulo e sua esposa, a também jornalista Márcia Nogueira, sempre buscaram oferecer à filha experiências que pudessem expandir seus horizontes. Foi assim também com a literatura. “Em casa, temos muitos livros. Quando eu era pequena, eles sempre liam para mim. E depois, junto comigo, ao meu lado, como aconteceu com os primeiros volumes do Harry Potter”, lembra Mariana.

Nas viagens em família, o casal sempre fez questão de incluir destinos e atividades que pudessem ser instrutivos e divertidos. Como a vez em que foram ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), no interior de São Paulo, onde a menina se deliciou explorando cavernas e encontrando morcegos. “Os pais devem transmitir suas experiências aos filhos como forma de educá-los, mas desde que isso não seja imposição. Tem de ser prazeroso para ambos”, ressalta Leda Bernardinho. Mariana reconhece que nem sempre amou de paixão todas os programas que seus pais bolavam. “Quando você é criança não se interessa muito por museus, né?”, diz. Mas ela percebe que mesmo as atividades que não a empolgavam muito na infância acabaram lhe despertando para universos que, agora, aos 17 anos, compõem seu leque de interesses. Ir a exposições de arte, por exemplo, é algo que hoje ela tem prazer em fazer, por conta própria. “Quanto mais você incentiva a criança a participar de ações cultu-

rais, mais curiosidade ela terá por aquilo. Quando tiver autonomia, ela vai procurar por isso”, diz Américo Agostinho. De cada incentivo dos pais, Mariana reconhece um ganho para sua vida. Com o gosto pela leitura, veio uma habilidade da qual muitos jovens da sua idade carecem: “Os livros me ajudaram a focar minha atenção, e isso me auxilia muito nas tarefas escolares”, afirma. Da viagem ao parque com cavernas e morcegos, ela também traz uma herança muito útil para o dia a dia: “Eu não tenho medo de bichos. Sou a única entre as minhas amigas que mata baratas!”, gabase. Mas parece que o livreto com a lista de filmes foi o empurrãozinho que mais surtiu efeito: Mariana ainda não assistiu a todos, mas está pensando em fazer vestibular para a faculdade de cinema.

Seguindo os passos Os gêmeos Fernando e Juliano Basile tinham 11 anos quando a família se mudou de São Paulo para Gonçalves (MG). Como a cidadezinha de menos de 5 mil


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habitantes não oferecia muitas opções de atividade para que os meninos se entretivessem depois da escola, o pai, Antônio, hoje com 47 anos, achou que era hora de pôr seu plano em ação. “Minha ideia era ensinar-lhes uma ocupação”, diz. Chef de cozinha, à época dono de uma pizzaria, ele chamou os meninos para ajudálo à frente do forno. “Mesmo se eles decidissem seguir outra carreira na vida, teriam essa qualificação”, explica. A dupla começou pegando ingredientes na geladeira, depois lavando uns legumes e aprendendo a cortá-los. Conforme iam dominando uma tarefa, o pai ensinava outra mais complexa. “Essa experiência lembra a relação de mestres e aprendizes da cultura medieval, quando o jovem aprendia seu ofício com profissionais mais velhos”, lembra a psicóloga Leda. “É uma experiência interessante, desde que a pessoa possa escolher se quer seguir aquilo ou não”, explica. E os irmãos tinham mesmo outros planos. “Eu queria ser engenheiro civil, e o Fernando, engenheiro mecânico”, con-

ta Juliano. Mas eles se divertiam com o aprendizado, e a cada avanço tomavam mais gosto. Aos 13 anos, quando a pizzaria da família já havia dado lugar a um bistrô, os dois prepararam seu primeiro prato servido a um cliente: uma truta mandarine – filé de peixe com molho de tangerina e pimenta-rosa. Passado mais um ano, eles já estavam conquistados. Haviam nascido para cozinhar, e queriam fazer isso pelo resto da vida. “Nossos pais sempre nos perguntavam se esse era mesmo nosso desejo. Desde então, sempre respondemos convictos que sim”, diz Juliano. “É muito positivo para a formação de uma criança quando você ensina algo de que gosta a ela. É até natural que depois o filho sinta prazer pela coisa e busque se aprimorar”, afirma o professor Américo. Foi bem isso o que aconteceu com os gêmeos. Ainda antes de completar o ensino fundamental, eles chegaram a tentar a matrícula em uma faculdade de gastronomia. Barrados, não desistiram: após terem lido Cartas a um Jovem

Chef, de Laurent Suaudeau, escreveram ao autor, consagrado chef francês radicado no Brasil, pedindo que desse aulas a eles durante as férias escolares. O pedido convenceu o cozinheiro, que também começou sua carreira na adolescência. Em seguida, os dois estagiaram com Alex Atala, dono de um dos mais prestigiados restaurantes do país, o D.O.M.. Aos 16 anos, os gêmeos já comandavam sozinhos a cozinha do bistrô da família. Completado o ensino médio, foram estudar gastronomia na Espanha, onde fizeram estágio com um dos chefs mais famosos do mundo, Ferran Adrià. Quando voltaram, em 2010, aos 19 anos, assumiram o comando do restaurante Janela com Tramela, criado pelo pai especialmente para eles. “Agora, começa a segunda parte do aprendizado: como administrar um restaurante”, conta Antônio. E sua voz transmite um indisfarçável orgulho. A satisfação de saber que um pouco dele viverá para sempre nos seus filhos, sob a forma do mais nobre legado que um pai pode deixar: a educação.


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