Edição 38
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A R E V I S TA Q U E VA L E P O R U M A A U L A D E F O T O G R A F I A FOTOGRAFIA DE PAISAGEM | FOTOGRAFIA DE MODA | DICAS TÉCNICAS | BOOK COM FLASH E LUZ NATURAL | PORTFÓLIO | COMO FAZER UM LIVRO DE FOTOGRAFIA | HISTOGRAMA
Seis profissionais indicam o caminho para apresentar
PORTFÓLIOS
OS MACETES DA FOTOGRAFIA DE
de fotojornalismo, de documentário e de arte
MODA ESPECIALISTA ENSINA DIREÇÃO, PRODUÇÃO E ILUMINAÇÃO
Como tratar IMAGENS DE PAISAGEM para uma impressão em fine art
BOOK FORA DO ESTÚDIO
Cinco soluções de luz para produzir ensaios na rua usando um flash a bateria
EDITORA EUROPA
Dicas de ARAQUÉM ALCÂNTARA para fazer um livro de fotografia Capa Tecnica e Pratica 38.indd 5
Tire suas dúvidas sobre objetivas com o professor THALES TRIGO
Aprenda a ler o HISTOGRAMA para melhorar suas fotos 07/04/2014 15:30:37
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Kirilos Fotos: Pedro
PorTfólio
Aprenda a apresentar um
portfólio de fotojornalismo, de documentário e de arte
Seis profissionais com décadas de experiência ensinam como montar um conjunto de imagens representativo para cada área de atuação 8
Técnica&Prática
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POR KARINA SÉRGIO GOMES
o
tempo médio destinado à avaliação de um portfólio para fotojornalismo, fotografia documental e arte é de cerca de 20 minutos – o mesmo gasto para analisar um conjunto de imagens para casamento e moda, como foi visto na primeira aula na edição 37 de Técnica e Prática. A diferença é que, para essas áreas, quem está na outra ponta da mesa não é mais um cliente, e sim um profissional gabaritado com muita experiência na bagagem. Nesta segunda e última aula sobre apresentação de portfólio, profissionais com décadas dedicadas à fotografia dão dicas sobre como montar e mostrar um trabalho em redações, editoras de livros ou galerias. “O portfólio é uma espécie de carta de apresentação do fotógrafo. Por isso, é preciso cuidar muito bem do material, já que ele pode abrir ou fechar portas”, afirma o
professor Rubens Fernandes Jr., que trabalha com curadoria de fotografia há mais de 30 anos. Confira as dicas de profissionais especializados como ele.
NA PAUTA Para quem está interessado em trabalhar em uma redação é importante ter foco, recomenda a editora de fotografia da revista Veja, Gilda Castral, há 25 anos na publicação, com 15 dedicados à edição. “O fotógrafo pode até apresentar um portfólio variado que tenha um pouco de cada coisa. Mas ele deve reforçar o que tem de melhor: retrato, hard news, estúdio, comida... Em uma revista, há momentos em que você precisa do profissional especializado em alguma dessas áreas”, explica. Essa também é a visão do editor de fotografia do jornal O Globo, Alexandre Sassaki, que acumula 20 anos de experiência
Um portfólio de fotojornalismo precisa ser variado para mostrar a versatilidade do fotógrafo; pode ter imagens bem sacadas, como a do Cristo, na página ao lado, e de hard news, como a cena acima, captada durante uma manifestação
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PorTfólio Cataratas do Iguaçu registrada por Pedro Kirilos, que foi contratado para trabalhar em O Globo depois que Sassaki viu o portfólio dele
5 dicas para portfólio de fotojornalismo Apresente um portfólio, variado, com fotos de hard news, estúdio e retrato
1
As fotos têm de ser bem enquadradas e editadas; e o assunto deve estar bem resolvido na imagem
2
Na hora da edição, peça ajuda a um profissional. Às vezes, você pode estar envolvido emocionalmente com aquele material e o conjunto talvez não represente o que você tem de melhor
3
Faça legendas para as fotos pensando na máxima do jornalismo: o que, quando, onde, como e por que
4
Coloque um trabalho autoral (com no máximo dez fotos) que revele o seu olhar de fotógrafo
5
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na área. “Primeiro, o fotógrafo precisa mostrar o que ele faz bem. Depois, apresentar que pode ser versátil com outras imagens, que podem ser de esporte, comportamento, cultura ou alguma série de uma pauta que ele correu atrás, com uma história bem contada”, diz. Ter alguma experiência com hard news é quase obrigatório para quem quer vivenciar o dia a dia de uma redação. Pois, ao sair para fazer um retrato de alguém, por exemplo, se o fotógrafo cruzar com uma manifestação, tem de estar pronto para trazer material sobre o episódio. Sassaki recomenda que o profissional invista em pautas – como as manifestações de junho de 2013 que rederam um vasto material para muitos fotojornalistas.
NO MUNDO VIRTUAL Os dois editores também ressaltam que o fotógrafo precisa chegar com um material conciso e muito bem editado, com no máximo 30 imagens, porque não há muito tempo para a avaliação. E não há diferença se o profissional vai apresentar em computador, tablet ou impresso. O importante é que ele seja organizado e ágil ao mostrar o material. “O site tem de ser bem estruturado, com imagens divididas por áreas, e as fotos e vídeos têm de abrir rapidinho. Um portfólio digital bem resolvido mostra a maturidade do profissional”, ressalta Sassaki. Ele e Gilda ainda recomendam que 20 fotos de cada área é o suficiente para avaliar o perfil do candidato. Dica importante: hoje em dia, o profissional que souber editar bem um vídeo ganha pontos. Gilda conta
Pedro Kirilos
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Fotos: Domenico Pugliese
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Depois de conhecer o portfólio online do italiano Domenico Pugliese, Gilda Castral convidou o fotógrafo para colaborar com a revista Veja
que 60% das reportagens publicadas em Veja têm interação na versão para tablets. “O vídeo não pode ser muito longo. Deve ter mais ou menos dois ou três minutos, no máximo. É importante saber se ele consegue resolver toda a matéria em um vídeo curto. Presto atenção para ver se o fotógrafo sabe editar e capturar bem o áudio”, diz. Detalhes que Sassaki também repara quando está avaliando um candidato. Sobre as redes sociais, os editores divergem de opinião. Para Sassaki, o importante é o que o profissional mostra ao vivo, na hora da avaliação. “A única rede social que posso até dar uma olhada é no Flickr, mas isso se eu já gostei do material apresentado e quero ver mais”, explica. Para Gilda, no entanto, é importante ter o Facebook e o Instagram atualizados. “É preciso ser criterioso. Você tem de postar aquilo que o sensibiliza, o que pode render um bom momento”, diz.
DOCUMENTÁRIO Se para o fotojornalismo ser rápido e ágil é uma das grandes qualidades, para a fotografia documental, entretanto, ter tempo é tudo. O fotógrafo Tiago Santana, que trabalha desde 1992 na área e é sócio da Editora Tempo d’Imagem, levou oito anos para montar o seu primeiro ensaio, Benditos, sobre o sertão nordestino. “A gente tem uma tendência a querer fazer tudo
rápido. Mas é importante se dar o tempo de conviver um pouco com as imagens, se permitir isso até a exaustão”, diz. E para a execução desse trabalho não há um tempo predeterminado. Pode demorar meses, anos ou mesmo uma vida inteira. “É preciso mergulhar fundo. Muitas vezes você fica fazendo trabalhos soltos ou vários ao mesmo tempo. A fotografia documental
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Fotos: Tiago Santana
PorTfólio
Para realizar um documentário não é preciso ter pressa: o ensaio Benditos, de Tiago Santana, levou oito anos para ser produzido, enquanto o fotógrafo...
5 dicas para portfólio de fotografia documental Escolha um tema e o desenvolva mesmo que seja, no começo, apenas um projeto pessoal
1
Mergulhe no tema e não tenha pressa. Todo projeto precisa de um tempo de maturação
2
Compartilhe. A partilha o ajudará a pensar e a entender seu ensaio
3
Decida o que você quer fazer com as imagens: um livro, uma exposição, qual será o formato ou o lugar que quer expor
4
O sonho tem de ser do fotógrafo, jamais do editor ou do curador. É o fotógrafo que tem de decidir o que quer fazer com o projeto
5
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pode ser uma oportunidade de ir do começo ao fim de um tema. E esse talvez seja o grande aprendizado”, ressalta Santana. Mas antes de tudo, e até mesmo para o fotógrafo documental ter fôlego para seguir sua jornada, ele precisa escolher um tema que traga algo inédito na abordagem ou no assunto. “É fundamental correr atrás de um motivo que tenha uma íntima relação com a pessoa. Porque, se for algo distante, tornase mais difícil. O tema tem de lhe
provocar inquietude”, explica Roberto Linsker, sócio da editora Terra Virgem e que há cerca de 30 anos trabalha com fotografia documental.
EDIÇÃO Depois de ter mergulhado em um determinado tema, editar uma pequena amostragem do trabalho para apresentar em uma leitura de portfólio ou em um edital para um livro pode se tornar uma tarefa árdua. Santana ensina que é
Fotos: Roberto Linsker
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importante conviver com as imagens. “Coloque as fotos na parede e vá filtrando. Com o tempo, você vai sentir que aquela foto que você achava que era importante talvez já não seja tão necessária”, explica. Na hora da edição, a palavrachave é desapego. “Um portfólio não pode ser longo nem redundante. E não basta apenas ter fotos bonitas. As fotos devem contar uma história e representar bem o tema que você escolheu”, conta Linsker. Outra dica é mostrar o material para outras pessoas, mesmo as que não são profissionais. “É importante apresentar para diferentes pessoas para saber se o seu trabalho está funcionando e dando conta da mensagem que você quer passar. O portfólio tem de ter a cara do fotógrafo, e essa personalidade passa muito pela edição”, diz Santana.
APRESENTAÇÃO Na hora da apresentação a um editor, entretanto, os profissionais divergem sobre a impressão. “Você não precisa imprimir o seu trabalho em fine art, mas tem de ser uma impressão honesta, com uma boa
margem branca. Uma boa impressão feita em papel fotográfico 20 x 25 cm, às vezes, pode ser suficiente”, conta Santana. Para o fotógrafo, o portfólio não é para durar muito tempo porque é um processo. À medida que você vai mostrando para diferentes pessoas, ele vai mudando. Já Linsker afirma que, na apresentação, a impressão tem de ser a melhor possível. “Quanto maior o impacto, melhor. Se você puder fazer dez imagens impressas em fine art com tamanho 30 x 40 cm, faça”, aconselha. Ambos concordam, porém, que as imagens devem ser mostradas soltas. “Não aconselho ninguém a levar uma coisa muito fechada, como um fotolivro já diagramado. É bom levar as imagens soltas para o curador ir montando aquelas imagens como um quebra-cabeça e orientar uma sequência de fotos”, explica Santana. Os dois editores ressaltam ainda que é interessante ter um portfólio on-line, mas que só deve ser apresentado depois que você já conquistou o curador com o portfólio físico. “Por favor, nunca envie um e-mail pedindo para alguém 'dar uma olhada no seu
... e editor Roberto Linsker levou quatro meses apenas para selecionar as 93 imagens do livro Mar de Homens
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Flavia Junqueira
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A série Na Companhia de Objetos, de Flavia Junqueira, chamou a atenção do curador Rubens Fernandes Jr. pela autenticidade dos autorretratos (acima) criados pela artista
Flickr' ou entrar no seu site. Provavelmente isso não irá gerar resultado”, alerta Linsker. Mas, se depois da apresentação do portfólio o editor ficou interessado, apresente o site com mais imagens.
NAS GALERIAS
5 dicas para portfólio de fotografia de arte 1
Pesquise um tema e pense em uma visualidade inédita
2
Evite texturas, fotos de janelas e grafismos banais
3
Faça uma boa edição. Peça ajuda a amigos e conhecidos
4
Escolha um formato que transmita bem o seu discurso
5
Leve as imagens soltas para as leituras de portfólios
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Assim como na fotografia documental, os fotógrafos interessados em entrar para o mundo das artes devem ter em mente que o portfólio físico vem antes de qualquer site ou rede social. “O portfólio físico é a carta de apresentação. Tem gente que exibe no tablet, mas dificilmente você vai apresentar esse trabalho em uma tela. Por isso, é importante mostrar as imagens bem impressas e com um passe-partout de cor neutra”, afirma o curador Rubens Fernandes Jr., com experiência de 30 anos na área. Ele recomenda que as fotos tenham em média o tamanho de um folha A3 (30 x 42 cm). Assim também pensa o espanhol radicado no Brasil Claudi
Carreras, que atua há 20 anos no mercado e é um dos curadores do Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco. “Prefiro ver as fotos impressas, mexer nelas e colocá-las em uma mesa para saber como as imagens funcionam no conjunto”, diz. Para ambos, o site é apenas o famoso “plus a mais” para depois da avaliação do portfólio físico.
MENOS É MAIS Com muitas similaridades com a fotografia documental, quem está pretendendo fazer um portfólio para apresentar para curadores também precisa pensar em um bom tema. “Você tem de ter um discurso pronto e seu trabalho deve transmitir uma mensagem. É como se cada imagem fosse uma palavra e todas reunidas formassem um texto. Não adianta sair por aí fotografando. Cada um tem de achar um bom tema”, explica Carreras. E o assunto deve estar bem resolvido em poucas imagens – um conjunto com 12 é o suficiente. Por
Fotos: Cia de Foto
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A série Guerra, da Cia de Foto, foi um dos trabalhos escolhidos por Claudi Carreras para a exposição Laberinto de Miradas
isso, a edição é um processo importante. “O fotógrafo tem de saber editar o seu próprio trabalho, mas as imagens também tem de falar por si. Mostre as fotos para pessoas de sua confiança para receber opiniões diferentes e ver se elas estão comunicando bem o discurso”, explica Carreras. Você pode até ter um texto ou um vídeo que explique um pouco sobre o trabalho. Guarde, porém, esse material para o momento em que o curador já foi conquistado pelo que viu impresso. “O tempo destinado à leitura de portfólio é geralmente de 20 a 30 minutos. Se você apresenta um vídeo de cinco, já
perdeu esses minutos de troca com o curador”, explica Fernandes Jr. Dentro desses segmentos de fotojornalismo, de fotografia documental e de arte, o que você mais vai encontrar é gente ocupada
e com pouco tempo disponível para avaliar o seu trabalho. “Tenha em mente o ditado: menos é mais. Basta ser simples, preciso, tecnicamente impecável e organizado”, resume bem Fernandes Jr.
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