Tecnica e pratica 37

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Técnica & Prática #37


Saiba como montar um

portfólio para casamento e moda

Os fotógrafos Marcio Sheeny, Vinícius Matos, Dorival Zucatto e Primo Tacca ensinam como montar um portfólio físico e digital adequado para os segmentos em que atuam. Confira as dicas POR KARINA SÉRGIO GOMES

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inte minutos. Esse é o tempo médio que os clientes dispõem para avaliar o trabalho de quem fotografa casamento ou moda. Por isso, não adianta colocar as cem melhores fotos que você já fez na vida de diferentes segmentos. É preciso ter foco. O profissional não deve misturar, no portfólio, ensaios de famílias com books de modelos e festas de criança, por exemplo. Ele deve escolher o que gosta de fazer e investir nisso. Mesmo vivendo em um mundo em que as plataformas digitais ganham cada vez mais

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espaço, fotografias impressas e bem editadas ainda conquistam os clientes. Mas, claro, isso não dispensa ter um site organizado, com as melhores fotos feitas, e perfis nas redes sociais — imprescindíveis para divulgar o trabalho de quem trabalha com casamento e moda. Inclusive, o primeiro contato com o fotógrafo, muitas vezes, parte do compartilhamento de imagens feitas por clientes no Facebook. Confira as dicas de quatro especialistas para caprichar na apresentação de seu trabalho antes de ele ganhar notabilidade nos mundos real e virtual.


Marcio Sheeny

Marcio Sheeny gosta de dirigir as noivas: essa característica é notável no portfólio do fotógrafo

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PorTfólio

Ensaio de trash the dress (acima) é um dos segmentos que fotógrafos de casamento podem explorar

Menos é mais. Um portfólio pode ter poucas fotos, desde que as imagens causem impacto Vinícius Matos

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A HORA DO SIM Ao contrário de fotojornalismo, de fotografia documental ou de arte – temas da próxima aula – em que o profissional irá apresentar um portfólio para pessoas experientes no mercado, o fotógrafo de casamento tem um compromisso direto com os clientes, que provavelmente estão tendo o primeiro contato com esse universo naquele momento. A partir da avaliação do portfólio de alguns profissionais e de acordo com gostos pessoais, eles irão escolher (ou não) quem irá registrar um dos momentos mais importantes da vida de um casal. Para o fotógrafo Marcio Sheeny, que trabalha com casamentos há oito anos no Rio de Janeiro (RJ), as redes sociais são a melhor forma para divulgar o

trabalho. A maioria dos clientes que o procuram vem por meio delas. “É importante montar álbuns com fotos de casamento que registrou em sua página no Facebook e marcar as pessoas para que o trabalho seja compartilhado na time line dos noivos. Recebo cerca de quatro mensagens de pessoas interessadas em fazer um orçamento comigo depois dessa ação”, diz. Essas imagens, no entanto, já precisam ter sido previamente tratadas e editadas. Das cerca de quatro mil imagens que Sheeny faz durante o evento, ele seleciona cem para postar no Facebook. Após verem as fotos na rede social, os clientes visitam o site do fotógrafo, que, segundo Sheeny, deve ter, além de fotos, um blog em que o profissional conte um pouco sobre a história de cada


Fotos: Marcio Sheeny

O portfólio físico e o site devem conter fotos de vários momentos: cerimônia (acima), making of (ao lado) e book da noiva (abaixo)

casal que fotografou ou até divida experiências pessoais. “É importante mostrar o seu lado humano”, afirma ele. Já Vinícius Matos, que atua também há oito anos no mesmo segmento, mas em Belo Horizonte (MG), acredita que poucas pessoas têm paciência para ficar navegando muito tempo. Por isso, alerta que é importante selecionar muito bem as imagens que serão colocadas no site e nas redes sociais. Para ele, 30 boas fotos são o suficiente. “São dois momentos: geralmente o cliente vai chegar a você pelo que ele já viu em seu site. Se ele gostou, pedirá para ver álbuns impressos, que deverão conter fotos de todos os momentos do casamento. Sou da filosofia ‘menos é mais’. Podem ser poucas fotos, desde que tenham impacto”, explica.

PAPEL PASSADO Se o cliente gostou do que está no Facebook e no site, chegou o

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PorTfólio As fotos do portfólio devem ser atualizadas anualmente

5 dicas para portfólio de casamentos 1

Procure por referências e profissionais que você admire

Descubra o seu estilo e direcione os clientes para a sua especialidade

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Só divulgue o que você tem de melhor

Conheça muito bem o equipamento que tem e saiba o que você pode extrair de melhor dele

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Mantenha o portfólio on-line e impresso sempre atualizado

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momento de mostrar o trabalho impresso. “No portfólio físico deve haver uma seleção das melhores fotos do site. Você pode mostrar no passe-partout ou em um fotolivro, que, para os noivos, talvez seja mais interessante ao ver como o álbum pode ficar quando pronto”, explica o premiado Vinícius – ele venceu o Wedding Awards 2012 na categoria Ideia Criativa e foi selecionado em três edições de outro prêmio internacional, o Best of The Best Wedding. Sheeny costuma levar três modelos de portfólio: o simples, o intermediário e o mais sofisticado. “Contrato um diagramador para fazer todo o design do álbum. Recomendo que

não coloque mais do que três fotos por dupla de páginas, que deve contar um momento completo do evento, como a entrada da noiva ou o corte do bolo”, diz Sheeny. No portfólio, o fotógrafo precisa deixar claro como gosta de trabalhar. Sheeny, por exemplo, prefere dirigir os noivos. Já Vinícius é reconhecido por fazer registros mais espontâneos. “Você precisa direcionar o trabalho para onde você quer. É importante descobrir o seu estilo e deixá-lo claro no portfólio”, diz Sheeny. E, para quem quer entrar na área e precisa montar um portfólio, ambos recomendam que o iniciante procure um profissional com o qual se


identifique para trabalhar como assistente dele, mesmo que de graça. “É preciso que você entenda como é a dinâmica de um casamento. A maioria das pessoas está vivendo aquilo pela primeira vez e o experiente tem de ser você para pegar os melhores ângulos”, explica Sheeny. De acordo com ele, para entrar no mercado leva cerca de três anos.

Fotos: Vinícius

Matos

O fotógrafo Vinícius Matos acredita que o portfólio precisa ter poucas e boas imagens que causem impacto, elas podem ser de detalhes (acima) ou de momentos espontâneos (ao lado e abaixo)

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Fotos: Primo Tacca

PorTfólio

Em fotos para books, o fotógrafo deve destacar o que as modelos têm de melhor

A rede social é o primeiro contato com um possível cliente. Depois de ver fotos no Facebook, ele vai olhar o site e, se gostar, marcará uma reunião para analisar o seu portfólio físico Dorival Zucatto

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MUNDO FASHION O profissional de fotografia de moda também deve direcionar os clientes para os segmentos que gosta de atuar. Conforme Primo Tacca, de Bruque (SC), que trabalha há cinco na área, o mercado de moda no Brasil é regional e com peculiaridades. “Há polos de empresas que precisam de alguém para fazer catálogos; o que é diferente de lugares em que a maior parte do mercado é de lojistas, que buscam profissionais que retratem bem o conceito da marca; e há as modelos que procuram por fotógrafos que façam e atualizem books”, explica. Tacca ressalta ainda que é importante entender muito bem o mercado com o qual vai trabalhar porque para cada trabalho é necessário esmero em algum detalhe. Quem está a fim de fazer um portfólio voltado para catálogos deve apresentar bem os detalhes técnicos das confecções, por exemplo. Em casos de book, é preciso valorizar o que a modelo tem de melhor

(sorriso, pele, olhar...). Mas uma regra vale para todos: “a foto tem de prender a atenção do espectador primeiro e, depois, vender o produto”, ensina Tacca. Escolhida a área de atuação, chega o momento de montar o portfólio. No caso de books de modelos, o fotógrafo Dorival Zucatto, com 15 anos de experiência, recomenda que o profissional faça parcerias. “Você deve procurar por um bom produtor, uma boa modelo e um bom maquiador que estão precisando renovar ou mesmo montar um portfólio e façam um acordo que fique bom para todo mundo. Geralmente, você compartilha as fotos com eles e não precisa pagar pela mão de obra dos envolvidos”, explica Zucatto. Depois de selecionar a equipe, o fotógrafo precisa fazer um briefing bem completo para todos os envolvidos. Essas fotos devem ser compartilhadas nas redes sociais da equipe e servirá como vitrine para os profissionais. Quem não tiver verba disponível para


alugar um estúdio pode optar por fazer um ensaio ao ar livre em um parque para explorar bem a luz natural. Um dos momentos mais difíceis e que merece mais atenção é a hora da edição. “Às vezes, é melhor selecionar apenas cinco imagens incríveis do que dez, caso alguma possa jogar para baixo o seu trabalho”, alerta Zucatto. Para facilitar esse processo, ele recomenda que o fotógrafo leve sempre consigo algumas imagens impressas em tamanho 10 x 15 cm para mostrar para amigos em encontros casuais. “Logo, você vai perceber que algumas imagens chamam mais a atenção das pessoas”, conta. Os profissionais de fotografia de moda recomendam selecionar cerca de 12 fotos para cada área – book, foto conceito e catálogo – e fazer um portfólio diferente para cada uma.

Primo Tacca sugere que sejam feitos portfólios separados para os diferentes segmentos, como catálogos, editoriais e books de modelos

Feita a seleção, capriche na impressão das imagens. Se necessário, contrate um designer para dar uma unidade visual ao portfólio. “Muitas vezes, o cliente vai pedir para você fazer fotos para o catálogo dele. Por isso, é importante apresentar um portfólio bem-feito para ele ver a qualidade das fotos impressas”, alerta Zucatto. Ele recomenda ainda que as imagens sejam levadas soltas com um passe-partout e dentro de uma caixa, porque muitas


PorTfólio

Desfiles de moda também rendem bons portfólios no segmento

5 dicas para portfólio de book e moda 1

Foque no segmento em que você pretende atuar

Escolha um material humano bacana. Não se prenda a uma modelo porque você a conhece desde a infância. Procure pela profissional certa para o tipo de trabalho que deseja realizar

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Explore a rede social para fazer contatos

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Tenha um design diferenciado no site e no portfólio impresso

Não se importe em ter um portfólio vasto. Monte-o com imagens de qualidade

Fotos: Dorival Zucatto

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vezes a reunião é feita com mais de uma pessoa, e os envolvidos na análise podem ir trocando as imagens entre si. Tacca e Zucatto também aconselham o fotógrafo a ter um CD/DVD personalizado, com capa estilizada e mais trabalhos, e o deixar com o cliente para que ele possa olhar outras vezes. Outra dicas é levar um folder bem diagramado e impresso com os contatos e o endereço do site do fotógrafo (que deve ser atualizado com frequência). Tacca indica que cada foto fique publicada no site no máximo um ano, porque as coleções mudam a cada seis meses. O profissional ressalta ainda que o site tem de ser bem desenhado, o endereço deve ser curto e evitar palavras estrangeiras. É importante investir em alguém que crie uma identidade visual no portfólio on-line, que pode ser reproduzido no físico. Para quem não puder fazer esse investimento, Zucatto sugere o site ttp://pt.wix.com/, que tem


templates criativos direcionados para páginas de fotógrafos.

NO FACEBOOK Depois de ter um portfólio bem definido, o próximo passo é compartilhar as fotos nas redes sociais. Essa é uma boa maneira de divulgar o trabalho. Zucatto recomenda ter uma fan page atualizada e com as fotos organizadas por álbum – por exemplo: book, ensaio, catálogo – e todos os envolvidos nas produções marcados. “A rede social é o primeiro contato com um possível cliente. Depois de ele ver o trabalho no Facebook, vai olhar o site e, se gostar, marcará uma reunião onde você terá de levar o seu portfólio físico”, explica. Tacca ensina também que o fotógrafo pode criar uma rotina na rede social, cativando clientes e provocando uma interação. “Cerca

As modelos devem ser escolhidas de acordo com o trabalho que será feito, como estas para os segmentos de joias, beleza e moda verão

de 95% dos meus clientes vêm da rede social. Mas muita gente gasta energia demais de forma errada no Face. Você precisa usá-lo de forma profissional para agregar valor ao seu trabalho e evitar gastar tempo falando da sua vida

pessoal ou reclamando de alguma coisa”, ensina o profissional. Já para os portfólios de fotojornalismo, fotografia documental e arte a rede social não é primordial. Mas esse é o assunto da próxima aula.

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