Edição 40 | www.europanet.com.br
A R E V I S TA Q U E VA L E P O R U M A A U L A D E F O T O G R A F I A
DICAS PARA SE TORNAR UM
fotógrafo profissional
O expert Mauro Holanda ensina soluções simples para quem é iniciante
Imagens para e-commerce
Como fazer o planejamento para trocar a profissão atual pela de fotógrafo
Truques e esquemas de luz para atuar em uma área em crescimento
Quatro histórias de sucesso de quem deixou outra carreira para viver de fotografia
Dois especialistas falam do trabalho com still de cinema
Fotos de gastronomia
Aprenda a fazer foco perfeito 12 dicas para não errar e conseguir uma boa nitidez
Como registrar o público em auditórios durante eventos
A luz e os macetes para fotos de lingerie e trajes de banho
Wagner Araújo
Profissão
A hora de se tornar
fotógrafo
Veja quatro exemplos de pessoas que abandonaram a profissão em que já estavam estabelecidas pelo desejo de viver de fotografia POR KARINA SÉRGIO GOMES
U
ma comichão, aquela coceirinha que dá ao segurar uma câmera e pensar: poderia fazer isso pelo resto da minha vida. Mas você já tem uma carreira, contas a pagar, uma família para sustentar. Será que vale a pena jogar para o alto tudo o que foi conquistado para tornar o sonho de ser fotógrafo em realidade? Claus Weihermann, Rafael Benevides, Rogério Fernandes e Wagner Araújo decidiram que sim e resolveram se arriscar. E com um pouco de sorte, um bocado de talento e muito estudo hoje vivem da fotografia e estão profissionalmente realizados.
6
Técnica&Prática
Claus trocou uma carreira internacional pela fotografia de arquitetura. Rafael largou, no último ano, a faculdade de Engenharia Química para fotografar casamentos. Assim como Rogério, que trocou a cadeira de dentista pelas lentes para se dedicar aos cliques de matrimônios com uma pegada de fine art. Já Wagner deu um chega para lá na monotonia da vida de funcionário público para correr atrás de atletas de triatlo e fazer imagens para a revista que criou. Conheça e inspire-se na história desses profissionais, que tiveram coragem, persistência e dedicação para viver da paixão de suas vidas: a fotografia.
Registro do Campeonato Brasileiro de Aquathlon, em Manaus (AM), feito por Wagner Araújo, que trocou a estabilidade de funcionário público pela vida de fotógrafo
Técnica&Prática
7
Fotos: Claus Weihermann
Profissão
Foto de ambiente decorado na Inglaterra que ficou em 2o lugar na categoria Arquitetura do concurso The Societies do Reino Unido
É importante saber se vender, mas não pelo menor preço para conseguir mais trabalho, e sim pelo real valor dele. Esse é o principal desafio para quem está começando Claus Weihermann
8
Técnica&Prática
A LOUCURA QUE DEU CERTO empresa de educação internacional e Certo dia, o curitibano Claus nunca tinha pensando em trabalhar com Weihermann, 31 anos, olhou para a mulher fotografia. A ideia surgiu depois de no sofá e disse: “Amor, estou pensando em comprar uma câmera semiprofissional e virar fotógrafo”. Mariane, 29 anos, achou fazer os primeiros cliques. que o marido tinha enlouquecido. Imagem “Comecei a estudar e aquilo foi Eles moravam em Londres, na interna de um se tornando uma paixão. Depois Inglaterra, e estavam estabelecidos empreendimento na carreira. Claus tinha 27 anos e na Praia Brava de quase um ano praticando a era diretor de marketing de uma em Itajaí (SC) fotografia como hobby, achei
que seria legal ser fotógrafo”, diz Claus. Duas semanas depois da primeira sondada em Mariane, Claus voltou a tocar no assunto, dessa vez propondo uma maneira de viabilizar o sonho. Percebendo que o marido estava certo do que queria, Mariane resolveu apoiá-lo. O aspirante a fotógrafo aproveitava todo o tempo que tinha livre para estudar fotografia com tutoriais na internet e praticar muito. Foram seis meses de aprendizado até que decidiu sair do trabalho para se dedicar à nova profissão. A primeira ideia era trabalhar com registros de casais em lua de mel em Londres e Paris. Mas não deu o retorno esperado. Um cliente do antigo trabalho, dono de um hotel para estudantes, procurou Claus para que ele fizesse fotos do estabelecimento. O aspirante aceitou na hora e vislumbrou naquele momento um novo ramo. Começou a pesquisar sobre fotografia de arquitetura e encontrou vídeos do fotógrafo norte-americano Scott Hargis dando dicas para profissionais da área e que se tornou sua maior referência. Aproveitando os contatos que tinha do trabalho anterior, Claus conseguiu estabelecer uma carteira de
clientes para o novo negócio. Em 2013, de férias no Brasil, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, vislumbrou na cidade um grande potencial de trabalho. “O mercado imobiliário aqui é muito intenso, há muitos arquitetos e escritórios de decoração. Por isso, decidimos voltar”, conta. Há três anos dedicando-se à fotografia, Claus diz estar muito feliz. Porque, além de trabalho, ele sempre se lança em um novo desafio ao se testar fazendo retratos e outros tipos de imagens, mesmo que não profissionalmente.
Casa Cor 2014 em Santa Catarina: à dir., ambiente da Villa Gourmet decorado pelas arquitetas Fernanda Consonni e Priscilla Borges; à esq., cozinha gourmet decorada pelo Studio Saut Arte & Interiores
Suíte master da cobertura de um empreendimento de Balneário Camboriú (SC)
Acima e ao lado, registros de casamentos que Rogério fez para a Drom; as fotos têm acabamento em fine art
SORRISOS APENAS EM RETRATOS
Estudar, estudar, estudar. Você precisa se envolver, fazer cursos para entender a essência da fotografia e se comunicar a partir dela. Só assim você poderá contar histórias por meio das imagens Rogério Fernandes
10 Técnica&Prática
hospitais e pessoas saudáveis em seu Com quase 12 anos de idade, Rogério consultório. Foram quatro anos Fernandes, 40 anos, ganhou uma câmera dedicados a cuidar dos sorrisos das de Natal e se tornou o fotógrafo da pessoas para saírem bonitos em fotos. família. Mas, quando teve de escolher Até que um dia a rotina que já a profissão, seguiu o conselho Autorretrato o fatigava há algum tempo o fez dos pais ao optar pela feito no antigo deixar um paciente sentado na Odontologia. Especializado em consultório de atendimento hospitalar, ele dentista de cadeira para ir ao banheiro chorar tratava pacientes em risco em Rogério e lavar o rosto antes de voltar ao
tem a Drom, empresa que registra momentos especiais na vida das pessoas, como o casamento, com tratamento de fine art. “Digo que até hoje estou em processo de construção da minha carreira”, afirma o fotógrafo, que se dedica à nova profissão há seis anos.
Acima, ensaio pessoal feito pelo fotógrafo em filme 35 mm; abaixo, registro dos internos da Fundação Casa, onde Rogério ministra oficinas de fotografia para os internos
Fotos: Rogério Fernandes
atendimento. Aquilo para ele foi o limite. Conversando com um amigo sobre o cansaço da profissão, ele lhe fez a seguinte observação: “Cara, você sempre gostou de fotografar. Por que não vai ser fotógrafo?”. A princípio, Rogério não levou a sério a dica do amigo, mas pensou na fotografia como uma válvula de escape. Foi fazer um curso de autorretratos do Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Achei que era um curso de retratos. Não tinha ideia do que era se autorretratar”, conta. O curso despertou o lado fotógrafo que Rogério exerceu na adolescência. “Transformei minha parte da clínica em equipamentos fotográficos”, lembra o profissional, que, com o dinheiro que conseguiu com a venda do consultório, comprou uma câmera, lentes e outros acessórios. O começo não foi fácil. Rogério ralou muito fazendo pautas para agências de notícias, carregou muitos equipamentos atuando como assistente do premiado fotógrafo de casamento Vinícius Matos, com quem aprendeu de fato os macetes da fotografia social. Hoje, ao lado de dois amigos (Helena Rios e Marcelo Grecco),
Técnica&Prática
11
Foto do Campeonato Brasileiro de Aquathlon premiada no concurso Foto de Viagem de 2013 da National Geographic Traveller
DEIXA QUE EU FAÇO
Deve-se ter consciência de que não se torna fotógrafo do dia para a noite. É preciso desenvolver o seu estilo e para isso é necessário estudar Wagner Araújo
12 Técnica&Prática
um nicho a ser explorado, pois não havia Wagner Araújo, 33 anos, era sites e revistas sobre o assunto. Ele funcionário público há seis anos e resolveu usar os conhecimentos formado em Administração e Jornalismo. aprendidos nas duas faculdades para “Sabia que não ficaria no sistema público criar a Mundo TRI. por muitos anos. E a rotina de Imagem do Pan“Já queria sair do serviço trabalho já estava me deixando Americano de público e senti que aquele era o um pouco deprimido”, conta. Triatlo de 2013 Praticante de triatlo, Wagner que ocorreu em momento, pois ainda era novo, percebeu que havia em seu hobby Vila Velha (ES) tinha 26 anos, e depois de um
Fotos: Wagner Araújo
tempo poderia ficar mais difícil de me jogar em uma nova profissão”, conta. Como os recursos eram pequenos e a revista não tinha como contratar bons fotógrafos de esportes, Wagner resolveu ele mesmo virar fotógrafo. As duas grandes inspirações eram o norteamericano David Black, com quem chegou a fazer um curso, e o australiano Delly Car. “A fotografia não só abriu uma possibilidade de uma nova profissão, como também permitiu que eu explorasse meu lado mais artístico, com que, durante
a faculdade e no tempo como funcionário público, não consegui trabalhar. Pude exercitar minha criatividade na fotografia”, diz. Hoje, com sete anos dedicados à profissão, Wagner ainda não consegue ser 100% fotógrafo. Ele ainda trabalha na parte editorial da revista que criou. Mas acredita que esse é um passo que ainda está por vir. “Hoje, sou muito mais feliz. E quanto mais a fotografia estiver na minha vida, melhor será”, diz ele, vencedor do Concurso de Fotos de Viagem da revista National Geographic Traveller em 2013.
Foto da prova de bicicleta do Iron Man disputado em Pucón, no Chile
Ciclista disputando o Race Across America em Washington (DC), nos Estados Unidos
13
Fotos: Rafael Benevides
Foto premiada no concurso internacional de fotografia de Casamento Fearless Photographers
PARA IMPRESSIONAR AS MENINAS
A maior dica que dou é: cuide primeiro do seu lado de artista e depois vire fotógrafo. Para você trabalhar com arte é preciso consumir arte. Você tem de ler, ir a museus, assistir a bons filmes
O pernambucano Rafael Benevides, 42 anos, estava no último ano de Engenharia Química e desmotivado com a faculdade. Quando foi passar as férias na cidade natal, Petrolina, resolveu levar para Recife, onde morava, o laboratório de revelação preto e branco que o pai mantinha no tempo em que era fotógrafo – na época, o pai tinha largado a profissão para se dedicar ao mercado de revelação de filmes. Em Recife, transformou o quarto de empregada em laboratório. A princípio, segundo Rafael, a ideia era fotografar para impressionar as meninas da faculdade.
Entusiasmado com a ideia de fazer retratos de belas mulheres e com a experiência que adquiriu fazendo ensaio de amigas, resolveu largar a faculdade porque queria ser fotógrafo de moda. Isso deixou o pai furioso. “Meu filho, a fotografia não dá mais dinheiro. Você não vai conseguir um emprego”, dizia. De volta a Petrolina e com ideia fixa de se tornar fotógrafo, Rafael usou a loja de revelação de filmes do pai para mostrar seu trabalho, deixando as fotos que fez expostas nas vitrines. Certo dia, uma cliente o procurou para fotografar o
Rafael Benevides
No começo, Rafael fotografava casamentos pelo dinheiro; hoje, o segmento é sua grande paixão
14 Técnica&Prática
casamento dela. O jovem nunca tinha fotografado um evento como aquele antes, mas topou o desafio. “Não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Mas ela gostou do resultado. E eu gostei mais ainda do dinheiro que ganhei por um dia de trabalho. Resolvi, então, me especializar
na área”, conta. Lá se vão 25 anos dedicados à fotografia de casamento. Hoje, o pai se enche de orgulho do filho fotógrafo, que, além de registrar matrimônios, dá cerca de um workshop por semana e abriu o Wedding Brasil 2014, o maior evento de fotografia de casamento da América Latina.
A foto acima foi premiada em dois concursos internacionais de imagens de casamentos: o Fearless e o ISPW (International Society Professional Wedding Photographers)
Mercado é concorrido, mas quem tem talento se estabelece Por Sérgio Branco Ao longo de quase 14 anos como editor da revista Fotografe Melhor (a “mãe” da Técnica&Prática), conheci e acompanhei a carreira de vários fotógrafos profissionais iniciantes. Muitos deles abandonaram uma área em que estavam estabelecidos para viver de fotografia. Essa é uma decisão difícil de ser tomada, pois os primeiros passos na profissão podem ser lentos, pesados e com um retorno financeiro pífio. Dos que decidiram mudar de vida, posso assegurar que a maior parte não se arrependeu. Trabalhar com o que se gosta é altamente inspirador. E quem tem determinação e talento consegue superar os obstáculos. Essa decisão, no entanto, não deve ser tomada sem a devida preparação. Quem deseja ser profissional de fotografia, em qualquer segmento, precisa ter conhecimento técnico sólido e pleno domínio do equipamento. Isso atualmente é muito
mais fácil do que uma década atrás, pois existem diversos cursos de formação profissional, com opção até de estudar pela internet. Também o acesso ao equipamento (câmera, objetivas, flash e acessórios) é muito mais simples hoje, com uma oferta maior e preços mais acessíveis. O que ficou mais complicado para quem busca espaço é a concorrência, que aumentou. Na última década, a fotografia deu um salto como área de interesse profissional e tem muito mais gente brigando para se firmar no mercado. Para quem já tem uma profissão e sonha em viver de fotografia, fazer um planejamento de transição e escolher um segmento para atuar são itens muito importantes (essas dicas você pode encontrar na reportagem seguinte, na pág. 16, dadas pelo especialista Alex Mantesso). O segmento de fotografia que mais tem apresentado crescimento no Brasil é o voltado para a fotografia social (casamento, retratos de família, fotos
de crianças e coisas correlatas). É um setor que também tem experimentado uma concorrência acirrada e, nesse caso, quem consegue oferecer algo inovador pode fazer a diferença. Áreas como fotografia de publicidade e fotojornalismo tiveram um forte declínio nos últimos cinco anos, algo também sentido com fotografia de moda e book, mas não na mesma proporção. Por outro lado, produções de imagens para catálogos e e-commerce (veja também nesta edição uma reportagem com dicas sobre esse nicho) têm um bom potencial para quem está começando. Independentemente de como anda o mercado, quem deseja realmente viver de fotografia, é determinado, busca conhecimento e tem talento acaba sempre encontrando um espaço. É o que tenho visto nesses anos à frente de Fotografe e de T&P. Por isso, minha dica para quem sonha em ser fotógrafo é: seja persistente, mantenha o foco no seu projeto e invista em conhecimentos técnico e artístico.
Técnica&Prática
15