Livro: 6Ds Autores: Calhoun Wick Roy Pollock Andrew Jefferson Editora: Évora Coleção Lab SSJ - Educação & Negócios Prefácio Quando começamos a escrever a introdução para a edição brasileira do livro 6Ds – as seis disciplinas que transformam educação em resultado para o negócio, pensamos em contar um pouco sobre o nosso encontro com os autores e sua empresa, a Fort Hill Company. Conversando um pouco mais, percebemos que existem dois caminhos para mostrar como chegamos aos conceitos apresentados neste livro: um tem 20 anos de duração, o outro tem 10 meses. Vamos começar pelo mais curto. No final de 2009, estávamos estudando muito a questão de aprendizagem informal no LAB SSJ. A pergunta que nos intrigava na época era “qual a melhor maneira de aproveitar o dia a dia do participante para que o aprendizado continue ocorrendo?”. Ao longo de nossa pesquisa, tivemos a chance de conhecer um excelente vídeo de Jay Cross*, um dos maiores pesquisadores sobre o assunto. O vídeo começa com ele dizendo: “Todo início de ano, uma série de pensadores da área de educação corporativa se encontra em Londres para um evento chamado Learning Technology”. Precisávamos investigar isso. Pesquisamos, encontramos o programa e decidimos aprender um pouco mais com este evento, que nasceu com foco no e-learning, mas evoluiu para um fórum europeu de discussão sobre práticas e tendências na área de educação. Viajamos até Londres e lá conhecemos um dos principais conferencistas convidados, Josh Bersin, sócio-fundador da consultoria norte-americana Bersin, que elabora publicações e pesquisas de tendência na área de gestão de talentos. Em sua palestra, Josh apresentou sua visão completa sobre arquitetura de aprendizagem corporativa –, hoje uma referência definitiva na área. No final, ele nos convidou para participar de um evento que sua empresa realiza todos os anos em Saint Petersburg, na Flórida (EUA). Lá fomos mais uma vez para apreciar relatórios, modelos e casos apresentados.
___________________________________________________________________ * Informal Learning 2.0 – disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=Pi3r-GBD1tk>.
Uma das sessões mais concorridas era a de Jayne Johnson, diretora responsável pelos programas de liderança da GE, na famosa sede de Crotonville. No início da palestra – a única que não seria filmada e nem teria os PPTs distribuídos –, Jayne disse que essa seria uma das apresentações mais especiais da vida dela, pois sua mãe estava presente. Para as quase 100 pessoas que estavam na sala, ficou claro que veríamos uma palestra especial. A simplicidade com que os projetos e estratégias da GE foram apresentados transformou o ambiente em um grande círculo de aprendizagem. E, com uma vontade sincera de ajudar todos os presentes a criar programas mais eficientes para suas empresas, Jayne disse algo como: “As grandes transformações começaram quando li o livro 6Ds – as seis disciplinas que transformam educação em resultado para o negócio. Ele nos ajudou a entender como vincular educação corporativa aos resultados do negócio. Com ele, conseguimos engajar nosso líder, envolvê-lo – de verdade – no processo de crescimento e identificar quando efetivamente impactamos nosso negócio.” Não tinha como não nos interessarmos pelo livro. Meia hora depois da palestra, já estávamos comprando-o em um Ipad recém-lançado. Ficamos maravilhados com a metodologia. Ela estava conectada com a nossa crença e a nossa prática no campo da educação corporativa. Mais ainda, é descrita de uma maneira profunda, gostosa de ler, cheia de exemplos e, principalmente, com dicas de como aplicar. Voltamos para o Brasil, compramos algumas cópias do livro, distribuímos para nossas equipes e montamos grupos de estudo. Depois de confirmar que isso era realmente tudo aquilo que Jayne disse, ligamos para a Fort Hill Company, tivemos uma conversa maravilhosa, fechamos uma parceria e trouxemos os autores para o Brasil para nos ensinar essa metodologia na prática. O outro jeito de contar essa história, aquele mais comprido, é pensar na trajetória do LAB SSJ, que existe há mais de 20 anos. Ainda éramos estagiários e estudávamos em uma das principais escolas de negócio do Brasil, a FGV, quando enfrentamos a dificuldade de aplicar no dia a dia o conteúdo do curso de Administração de Empresas. Esse foi o principal estímulo para começarmos o processo de pensar como a educação pode ajudar o desenvolvimento e a performance de pessoas e organizações. Desde então, o que temos feito é explorar maneiras de ensinar e aprender que sejam diferentes e inovadoras. Como não é tão simples assim transferir o aprendizado para o trabalho cotidiano da empresa, buscamos o tempo todo formatos alternativos para as pessoas refletirem e implementarem de fato o conhecimento adquirido. No fundo, esse é o maior diferencial das 6Ds. Por um lado, quando falamos em transferência, pode ser que alguém pense em algo muito prático como uma “lista de tarefas de segunda-feira pela manhã”. Isso também é importante, mas não pode ser uma ação isolada. Ao desenharmos um programa, focamos toda a experiência no participante, buscando metodologia e conteúdo que sejam profundos e diferentes. Isso é o mais desafiador. Não é para menos que o primeiro livro desta coleção fala de Andragogia, a forma como os adultos aprendem. A história do LAB SSJ tem muito a ver com a história das 6Ds: foco em resultado de negócio desde o começo, ênfase na transferência do aprendizado e respostas às necessidades do cliente. Fazer treinamento só por fazer não é o tipo de coisa que consideramos como solução. Do início do LAB SSJ, quando ainda éramos estudantes, para as mais de 200 pessoas que formam a empresa hoje, precisávamos de uma ferramenta para organizar
tudo. Nossa inquietação era como colocar em prática de maneira sistemática e objetiva. Foi aí que as 6Ds se revelaram como um jeito excelente de fazer isso. A proposta das 6Ds para desenhar uma solução de aprendizagem é sempre começar pelo fim, isto é, pelos resultados de negócio pretendidos, não por quais competências ou temas serão trabalhados. Basicamente, é preciso pensar primeiro em quais impactos se pretende alcançar no negócio; em seguida, em quais comportamentos serão necessários desenvolver e, por fim, qual tipo de programa estará mais de acordo. Já fazemos isso, mas agora temos um referencial, as 6Ds, para incentivar mais gente a fazer dessa maneira. Depois de conversarmos, analisarmos e pesquisarmos bastante com a Fort Hill Company, chegamos à conclusão que nosso maior desafio ao trazer a metodologia para o Brasil é a aplicação prática. Devemos levar em conta fatores particulares da nossa cultura, da formação do brasileiro e da atuação em negócio. Não será fácil, mas podemos conduzir de duas formas: aceitar passivamente o estereótipo de que o brasileiro é desorganizado por natureza e não vai fazer a gestão da transferência do aprendizado depois do treinamento como ela deve ser feita, ou – como acreditamos mais – enxergar uma oportunidade para implantar um processo bem-estruturado e superar isso. Pelo contato direto que temos com os autores deste livro, sentimo-nos seguros do ponto de vista da aplicação da metodologia, pois ela não é teórica, mas fruto de pesquisas e experiências executivas aplicadas e documentadas com mais de 125 mil pessoas, em 150 empresas ao redor do mundo. E, principalmente, as 6Ds nos ajudam a falar efetivamente em RH estratégico. A necessidade de profissionais de Recursos Humanos que entendem cada vez mais sobre o negócio é algo que temos acompanhado e considerado há 20 anos. Sabemos que o discurso do RH precisa mudar, está mudando e deve continuar ainda mais rápido. Essa é uma mudança de postura em relação à maneira como são propostas ideias para o negócio, traduzidas em treinamento e desenvolvimento de pessoas. Também sabemos que capital humano é um recurso fundamental para o sucesso da organização. Enquanto olharmos para métricas como o número de módulos e a quantidade de horas treinadas como resultado, estaremos perdendo uma boa oportunidade para fazer a real diferença para o negócio. Mesmo porque isso é custo, não resultado. O RH estratégico precisa ter conhecimento do negócio. Para isso, o Teste de Reconhecimento do Negócio com seis perguntas e a Roda do Planejamento (que estão no primeiro e no sexto capítulos, respectivamente) podem ser alternativas eficientes para compreender de fato o que é conhecimento de negócio. As 6Ds não dão margem para que “termos corporativos vagos” sejam utilizados como resposta. O RH assume um grande desafio de precisar conhecer sobre o negócio, educação e comportamento humano. No fundo, a escolha deste livro para a Coleção Educação & Negócios tem muito a ver com o espírito do LAB SSJ. A história deste prefácio, sobre como chegamos a este livro, é um bom exemplo do nosso jeito de ser curioso, diverso, conectado e profundo. Esperamos que a metodologia faça tanto sentido para você quanto fez para nós. Boa leitura. Conrado Schlochauer Sócio-diretor do Laboratório de Negócios SSJ