ARQUITETURA
Enxaimel
subtropical
Subtropical fachwerk
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
180 anos da imigração alemã em Santa Catarina
Origem
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Adaptada ao clima local, a técnica medieval é hoje um traço marcante da influência alemã A medieval technique adapted to local weather became a unique sign of German influence
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“Queridos avós! bem de saúde. e tr n co en s o a rt ca Espero que a ra estão se o g a e u q er b sa em Fico contente s no meio da o m ve vi i u q A r. o h el sentindo m gostaria de te en m a rt ce vô a eu natureza, a ti m os é coberta de m ra o m de n o sa ca passar aqui. A as e sem el n ja em S r. la u se Palmito e palha é o assoalho (...).”
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n spite of their optimistic tone, the first words of the letter that Rose Gartner wrote from Blumenau to her grandparents in Dresden-Sachsen, in Germany, 1860, unveil the lack of comfort experienced by the European immigrants that settled in Santa Catarina in the 19th century. The house described in the letter was a temporary shelter. With the development of the colonies, Rose’s family and many others would live very soon in places with glass on the windows and a wooden floor. Driven by the will to improve their living standards, those settlers couldn’t imagine that their houses would become a world unique architectonic legacy, a subtropical adaptation to the fachwerk (framework) technique, used by the Etruscans six centuries before Christ and then spread to the whole Europe. From São Pedro de Alcântara to the entire Santa Catarina’s Northeast, the harmonious, simple and centenary houses, with their red bricks and crossed woods, represent a singular period of the history of a people who had to build a new way of life in a place very different from their origins. A fachwerk house was usually put up with wood beams forming frames that would then be filled with mud, clay, manure, animal fur and straw. Later, with the first pottery factories, the filling would be replaced by the bricks that still remain in most of the preserved buildings. But the Brazilian heat required a few changes on the original technique. Balconies, useless in the cold northern Europe, became a must in Santa Catarina. They were extremely useful on hot summer days as leisure and resting space.
Em blumenau, construções imitando o estilo tradicional enfeitam as ruas e deixam clara a influência européia IN Blumenau, buildings reproducing the traditional style leave no doubts about the european influence
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esmo em tom otimista, as primeiras palavras da carta que Rose Gartner escreveu de Blumenau para seus avós em Dresden-Sachsen, na Alemanha, em 1860, revelam a falta de conforto experimentada pelos colonos europeus que aportaram em Santa Catarina no século 19. A casa descrita na carta era uma habitação temporária: com a evolução das colônias, a família de Rose e outras tantas logo morariam em residências com janelas de vidro, porta e assoalho. Motivados pela vontade de viver em melhores condições, aqueles imigrantes não imaginavam que suas construções deixariam um legado arquitetônico único no mundo, uma adaptação subtropical da técnica enxaimel (em alemão, Fachwerk) utilizada pelos etruscos seis séculos antes de Cristo e posteriormente difundida por toda a Europa. De São Pedro de Alcântara em direção ao Nordeste catarinense, as harmoniosas, simples e centenárias casas de tijolos à vista e madeiras cruzadas representam um período singular da história de um povo que teve de criar um novo modo de vida em um lugar distinto de suas origens. Uma construção enxaimel era erguida com barrotes de madeira que formavam um engradado, preenchido com taipa (mistura de barro, argila, estrume, pelos de animais e capim) ou, posteriormente, com as primeiras olarias, com os tijolos vermelhos encontrados na maioria das edificações preservadas. O calor das terras brasileiras levou os colonos a desenvolver adaptações arquitetônicas para o clima local. As casas ganharam varandas, área sem muita utilidade na fria Europa, que nos dias mais quentes servia como espaço de lazer para
na área rural de POMERODE, A ROTA DO ENXAIMEL GUARDA EXEMPLOS BEM CONSERVADOS DA ARQUITETURA NAS COLÔNIAS ALEMÃS IN POMERODE's countryside, THE fachwerk ROUTE HOLDS well preserved examples oF german COLONIAL STYLE ARCHITECTURE
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“Dear grandparents, I hope this letter will find you in good health. I am glad to know that now you are feeling well. Here we live among nature, you, grandpa, would certainly love to spend a couple of days here. The house where we live is roofed with palm tree leaves and straw is our home. No windows and no wooden floor (...).”
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The fachwerk technique lasted until the Second World War, when President Getúlio Vargas` policies turned against any Germanic demonstration (which got criminal status) as a way of showing its commitment against the Nazism in Germany. This repression, together with the coming up of new constructive techniques, soon made fachwerk construction to fall out of practical use. However, in the end of the 1970s, with the tourism business growth in Brazil, a tax sheltering law approved in Blumenau fostered the construction of new buildings with the ancient technique. The result of it was the booming of a style – called “fake fachwerk” by its critics – that can be found on the streets of the city central area. The initiative spread to other cities and nowadays, despite of not following strictly the original methods and using modern materials like concrete and tempered glass, those new constructions gave a noticeably European look to those cities. Ironically, the “fake” polemic ended up giving a new significance to the authentic fachwerk which started to be preserved as historical heritage throughout all Santa Catarina, creating new touristic routes. One of the most famous, founded in 2002, is the Pomerode`s Fachwerk Route, that runs by more than 70 houses at the suburb of Testo Alto and. Among its sights there are the Casa de Taipa, built in 1898 and belonging to the Lümke Family; and the Casa Rahn, dated from 1920. North of Blumenau, Vila Itoupava district concentrates a number of fachwerk houses. There, even the small hospital is registered as cultural heritage and it is easier to hear a chat in German than in Portuguese. In Jaraguá do Sul, the rural locality Rio da Luz Pequeno keeps a little jewel named Casa Rux, built in 1915. São Pedro de Alcântara, Timbó, Indaial, Guabiruba, Ascurra, Benedito Novo, São Bento do Sul also have dozens of centenary houses spread through their streets and rural communities. Driving by any of these towns, it takes just an attentive look to find authentic treasures of colonial architecture, physical witnesses of Santa Catarina’s history.
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as famílias. A técnica enxaimel deixou de ser utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, quando manifestações alemãs passaram a ser crime no Brasil, dentro do política do presidente Getúlio Vargas contra o nazismo. A repressão, aliada ao surgimento de novas técnicas de construção, tirou o sentido prático de se manter a arquitetura enxaimel. Mas no fim dos anos 1970, com o crescimento do turismo, uma lei de incentivo fiscal criada na cidade de Blumenau possibilitou que novas construções voltassem a utilizar a técnica centenária. O resultado, encontrado hoje nas ruas do Centro da cidade, foi a explosão de um estilo que os críticos chamam de “falso enxaimel”. A ideia se espalhou para outras cidades e hoje, mesmo não seguindo a técnica estritamente e incluindo modernidades como concreto armado e vidro temperado, as novas construções dão uma aparência única às cidades de colonização germânica. A polêmica das “falsificações” acabou gerando interesse pelo autêntico enxaimel e o resultado foi o tombamento de dezenas de casas em toda a região e a criação de roteiros de visitação turística. Um dos mais famosos, criado em 2002, é a Rota Enxaimel de Pomerode. O percurso inclui mais de 70 casas no Bairro Testo Alto e tem como destaques a Casa de Taipa de 1898 da família Lümke, e a Casa Rahn, de 1920. Ao norte de Blumenau, o distrito da Vila Itoupava concentra bom número de construções enxaimel. No bairro, até o hospital local foi tombado e é mais fácil ouvir o idioma alemão do que o português nas ruas. Em Jaraguá, o Rio da Luz Pequeno guarda uma preciosidade chamada Casa Rux, construída em 1915. São Pedro de Alcântara, Timbó, Indaial, Guabiruba, Ascurra, Benedito Novo e São Bento do Sul também contam com dezenas de casas espalhadas por suas ruas e localidades rurais. Passando por qualquer destes municípios, na ausência de um roteiro específico, basta um olhar atento para encontrar verdadeiros tesouros da arquitetura colonial, testemunhos concretos da história de Santa Catarina.
A ESTRUTURA DE MADEIRA APARENTE É UMA DAS CARACTERÍSTICAS MAIS MARCANTES DO ENXAIMEL the timber framework structure is one of the most noticeable traits of FAChwerk buildings
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Santa Catarina guarda verdadeiros tesouros da arquitetura colonial Santa Catarina keeps authentic treasures of colonial architecture
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