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JORNAL DE SANTA CATARINA

“O Deba foi minha casa, já que o alojamento do clube ficava no estádio. Havia conforto lá”

Esportes

PATRIMÔNIO BLUMENAUENSE

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2007

JANDYR NASCIMENTO

OPINIÃO

“VIVIA ALI”

Ronaldo Alfredo, 39 anos, ex-jogador do BEC

CÉSAR PAULISTA

“Eu era torcedor do Olímpico, mas lamento a demolição do Aderbal. Era um patrimônio do futebol blumenauense” Valcir de Amorim, 53 anos, assistente administrativo

“É uma grande vergonha. Venderam um estádio que era nosso, era do povo” Nelson Paulo, 47 anos, artista plástico

“Dói no coração ver o Aderbal sendo demolido. Mas alguma coisa tinha que ser feita. Deixar o estádio abandonado foi um erro” Valdir da Luz, 61 anos, ex-jogador e exdirigente do Palmeiras Esporte Clube

“Quando eu vi o símbolo sendo destruído, fiquei com vontade de chorar. Machucava ver o abandono do estádio” Jorge Koffke, 41 anos, mecânico

“Sou favorável à demolição. O Aderbal estava abandonado e o local não é apropriado para ter um estádio” Alcidades Furtado, 40 anos, assistente administrativo

“O Estádio estava abandonado e oferecia riscos à população. O Aderbal tinha de ser demolido” Júlio Schvanbach, 16 anos, estudante

Duia, ex-zagueiro do Palmeiras, foi surpreendido ontem de manhã ao passar em frente ao Deba ISABELA KIESEL isabela.kiesel@santa.com.br

A queda de uma paixão

e roupa esportiva, mochila e bola na mão, Manoel Brites Ramalho, 60 anos, conhecido como Duia, saiu de casa a pé ontem de manhã em direção ao Grêmio Esportivo Olímpico. Às 8h30min, ao passar diante do Estádio Aderbal Ramos da Silva, que sediou as atividades do Blumenau Esporte Clube (BEC) por mais de duas décadas e estava abandonado, percebeu movimentação. Pediu para entrar. Sozinho na arquibancada, o ex-zagueiro do Palmeiras chorou. Ele testemunhava a demolição do estádio, que começou ontem, às 7h. – Não tenho palavras para descrever um episódio lamentável como esse. A derrubada de um patrimônio maravilhoso da cidade. Vivi os melhores momentos da minha vida aqui dentro – comentou o ex-jogador. Durante as três horas em que observou a única máqui- carregava na bagagem de mão na retroescavadeira trabalhar, para serem mostradas a um Duia preencheu quatro pági- colega no Olímpico ontem de nas de um caderno manhã. que trazia na bolsa. Primeiros sinais O início da deRedigiu palavras de molição trouxe dor de destruição t a m b é m p a r a f a tristeza e memórias dos oito anos em náticos do BEC. atraíram que dividiu o campo Quando surgiram curiosos, que os primeiros sinais do BEC com jogadores renomados do paravam para d e d e s t r u i ç ã o , n o futebol, entre 1967 paredão ao longo da observar e 1975. Aproveitou Rua das Palmeiras, também para rever curiosos e torcefotos e recortes de jornais da dores paravam para observar. época, que coincidentemente Havia quem balançasse a cabe-

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Demolição do estádio do BEC causou comoção entre torcedores e ex-jogadores ça num gesto de discórdia, outros que tapavam o rosto, como quem não quisesse acreditar no cenário diante dos olhos. – Cresci aqui dentro, fiz parte da torcida. Participei do mutirão da limpeza e recuperação do estádio no ano passado. Me seguro para não chorar. Blumenau já não tem estádio de futebol. Por que não conservaram o único que existia? – disse Leandro Izidoro, 30 anos, com os olhos cheios de lágrimas. (Colaboraram nesta cobertura Giovanni Ramos e Rodrigo Pereira)

O sentimento ao ver o Deba demolido é de muita tristeza. Quando cheguei a Blumenau, em 1988, minha primeira partida foi lá, contra o Joinville, num jogo em que perdemos de 1 a 0 – depois daquela partida, no entanto, ficamos 14 jogos sem perder. Eu vim de São Paulo e me tornei blumenauense através do Deba, vivia ali, treinava ali, encontrava a torcida ali. Quando jogávamos em casa, o estádio estava sempre lotado, era um verdadeiro caldeirão. A demolição do Deba é realmente uma grande perda, o fim de um símbolo do município. Para uma cidade que quer fazer renascer o futebol, é lamentável ver seu único estádio ser demolido. Quando o BEC fechou, ficamos preocupados, mas não pensei que o Deba pudesse vir abaixo. Foi uma surpresa, pensamos na possibilidade de uma nova equipe, ou até mesmo de o Metropolitano vir a jogar no estádio. A gente espera agora que isto sirva de lição e que a gente consiga fazer um outro estádio que, se não for ali, que seja em outro lugar. Mas temos de tentar suprir esta grande ausência. O que aconteceu com o BEC foi uma pena, pois era o clube mais organizado de todos em que eu já havia jogado quando vim para cá. Era mais organizado até do que os clubes paulistas por onde passei. Recebíamos em dia, o estádio era bem conservado e tínhamos assistência médica e odontológica, além de todo o conforto que um atleta precisa ter. Porém, com a crise do setor têxtil no início dos anos 90, as grandes empresas da cidade que patrocinavam o time pararam de investir, dando início à decadência do clube. Com a demolição do Deba, essa história ganha um ponto final deprimente, deixando muitas saudades. César Paulista foi um dos maiores ídolos da história do BEC. Hoje, é treinador da escolinha de futebol da Artex, base do Metropolitano


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