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TERÇA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2007
JORNAL DE SANTA CATARINA
JANDYR NASCIMENTO
PATRIMÔNIO BLUMENAUENSE
Apaixonados pelo BEC lamentam demolição do Aderbal e juntam fragmentos do velho estádio para guardar de recordação PAOLA LOEWE paola.loewe@santa.com.br
BLUMENAU - A segunda-feira foi um dia de luto para os torcedores do BEC. Um dia depois do início da demolição do Estádio Aderbal Ramos da Silva, muitos foram até o local e fizeram uma espécie de ritual de despedida. Com lágrimas nos olhos, juntaram os cacos daquele que carinhosamente ganhou o apelido de Velho Deba. Os pedaços de concreto se somarão às lembranças de quem tenta manter vivo o clube, em insolvência desde 2004. O aposentado João Babitonga, 70 anos, não escondeu a tristeza ao ver, mesmo entre as grades, o cenário da destruição. – Agora bateu a saudade. Passou um filme na minha cabeça – comentou, ao lembrar da época em que o time ainda se chamava Palmeiras. Em frente ao estádio, seu Babitonga recordou fatos históricos e falou de vários jogadores que atuaram por ali, como Criga, Gentil, Vado, Pi-
Torcedores Aloísio (E) e Antônio recolheram restos da parede do Deba colé e Parobé. – Tínhamos um timaço – contou. O cenário chamou a atenção até daqueles que não eram apaixonados pelo BEC. O atendente de farmácia Diego Budag levou a câmera fotográfica para registrar imagens do que ainda resta no local. – Não cheguei a ver jogos aqui, mas tinha a esperança que o estádio fosse reformado e eu pudesse fazer isso algum dia. Agora, terei que guardar isso como recordação – lamentou. Os amigos Aloísio Eble Júnior, 18, e Antônio Augusto Neves, 19, fizeram questão de recolher alguns pedaços
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de concreto, que serão guardados como troféu. No entanto, até o fim de semana, eles não imaginavam passar por isso. – Foi uma injustiça. Se soubéssemos teríamos preparado uma despedida – disse Aloísio. As pedras estão guardadas na casa de Neves, na Ponta Aguda. A partir de agora, ele pensará no BEC todas as vezes que entrar no quarto. – Esses pedaços de concreto vão trazer muitas lembranças. São pequenos, mas não têm preço. Para quem é torcedor do BEC, o valor é inestimável.
Dono diz que decidiu demolir na sexta-feira Muitos torcedores foram pegos de surpresa com a demolição do Estádio Aderbal Ramos. Mas não houve tempo– e interesse– de avisar alguém. O proprietário do estádio, Airton Borba, garante que tomou a decisão rapidamente, na última sexta-feira, quando ligou para a empresa começar o serviço. – Estava viajando e resolvi tudo por telefone – revelou. Segundo ele, a tentativa de transformar o local em patrimônio histórico, iniciativa de um grupo de torcedores, foi o que motivou a ação. – Tentaram fazer o tombamento e não gostei. Então resolvi limpar tudo antes que viesse alguma complicação – admitiu, afirmando que tudo deve estar no chão em duas semanas e que vem hoje à cidade para acompanhar o trabalho. Borba, que arrematou o estádio por R$ 1,3 milhão em leilão, não revelou o que pretende fazer no local e negou que será construído um supermercado, como chegou a ser comentado: – Estamos em tratativas para fazer um grande projeto, mas não posso divulgar. No entanto, ele terá que consultar a prefeitura antes de executar qualquer obra. – A Rua das Palmeiras é um centro histórico. Qualquer construção ali precisa de aprovação – explicou o gerente de análises de projetos da Secretaria de Planejamento Urbano, Wagner Figueira de Faria. Faria diz ainda que o estádio fica na chamada zona de localização especial, o que dá à prefeitura o direito de interferir no tipo de obra e até mesmo no aspecto estético. – Sem passar pelo nosso crivo, ninguém faz nada ali – declarou.
JOSÉ WERNER
Restaram os cacos