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SARAU POÉTICO

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O IMORTAL MARABÁ1

Mário Martins Meireles2

I

Ó guerreiros da raça tapuia! Ó guerreiros da raça tupi! Vossos deuses inspiram meus cantos... Ó timbiras, meus cantos ouvi!

Esta noite era a lua tão linda, Entre nuvens, serena, a vagar, E eu olhava as estrelas brilhantes, No futuro, tristonho, a pensar.

Relembrava o mau sonho que tive, A visão da desgraça por vir: Nossos filhos perdidos nas matas, Da desonra e da morte a fugir...

Nossas tabas, sem gente, sem vida... Nossa gente, sem glória, a morrer... Nossa raça, sem força e vencida, Seu passado de glória a esquecer!

1 Extraído de MEIRELES, Mário Martins. O imortal Marabá. São Luiz: Tip. M. Silva, 1948. p. 37-39. O poema, que evoca o “O canto do Piaga”, de Gonçalves Dias, tendo como inspiração o quadro da morte do poeta caxiense, de autoria do pintor Eduardo de Sá, foi atualizado em termos ortográficos.

De vergonha, eu chorava sozinho, Implorando o favor de Tupá, E pedia que a morte chegasse. Mesmo vinda das mãos de Anhangá.

Eis no céu se me mostra outro quadro Diferente daquele que eu vi! Vossos deuses inspiram meus cantos! Ó timbiras! meus cantos ouvi!

II

Entre os gestos de igara gigante, Sobre as ondas bravias do mar, Vi um branco de pálido rosto Sobre as águas, sem vida, a boiar.

Brancas folhas, que eu nunca antes vira, Apertava-as, bem vi, nesta mão; Descansava-lhe a outra no peito, Bem aqui..., sobre seu coração.

O fantasma de um índio timbira – que surgiu ou do céu ou do mar –Recurvando-se sobre o cadáver, A cabeça lhe vi coroar!

E o oceano, bramindo, roncando, Vi-o grande, terrível, se erguer, E o cadáver, no seio das águas, Para sempre, e de vez, se perder!

Em seguida, falou-me o fantasma – o fantasma de um índio bem vi –E eu repito o que disse o guerreiro... Ó timbiras! meus cantos ouvi!

III

“Tu bem viste, ó piaga divino!, Este branco que eu vim coroar, Cujo corpo sagrado tu viste O oceano zeloso guardar.

E não sabes, piaga, quem seja? Não t’o disse o cruel Anhangá?! Não é branco, ó piaga!, é dos nossos... Será nosso – será marabá...

Entre os brancos será nossa glória, Pois que glória dos brancos será;

E poeta será como nunca Entre os brancos se viu ou verá, Pois seus cantos serão inspirados Quais se fossem do próprio Rudá!

O seu nome será venerado, Pois o quer, por vingança, Tupá: O maior dos poetas dos brancos Será nosso – há de ser marabá!

Bem aí, onde estás tu sentado, Entre as palmas, olhando este mar, Hão de os brancos, em pedra esculpida, Sua estátua do chão elevar.

E os seus filhos virão no seu dia – que ele um dia na História terá! –Cultuar o Cantor dos Timbiras, O sublime e imortal marabá!

Ele é filho de deuses, te digo, E por isso, no fundo do mar, O seu corpo, entre flores e cantos, Hão de iaras ciumentas guardar...

Os guerreiros convoca, ó piaga!, Faze ouvir teu fiel maracá... Manitôs já fugiram da taba... A vingança há de vir, ó Tupá!”

Ana Luiza Almeida Ferro3

O mundo cabe no meu quarto e gira cada vez mais rápido sem controle sem filtro me atordoa me prende deixando para trás o tempo perdido nas cidades nuas que se despiram do homo que nunca foi sapiens.

O mundo cabe no meu quarto e é invisível ao olho de Hórus lavo as mãos como Pilatos ou Lady Macbeth mas elas nunca estão limpas os dedos me escapam os anéis estão refugiados no fundo da última gaveta do primeiro móvel ao lado.

O mundo cabe no meu quarto e não sei onde guardei a caixa onde ficou a esperança só me lembro das meias velhas e das velhas histórias contadas ao redor da fogueira cuja chama quer morrer mas é preciso vigiar sem punir meu reino por um abraço!

MARANHÃO SOBRINHO

Soror Teresa ... E um dia as monjas foram dar com ela morta, da cor de um sonho de noivado, no silêncio cristão da estreita cela, lábios nos lábios de um Crucificado... somente a luz de uma piedosa vela ungia, como um óleo derramado, o aposento tristíssimo de aquela que morrera num sonho, sem pecado... Todo o mosteiro encheu-se de tristeza, e ninguém soube de que dor escrava morrera a divinal soror Teresa... Não creio que, de amor, a morte venha, mas, sei que a vida da soror boiava dentro dos olhos do Senhor da Penha...

Amor, página 1.145.069

há coisas nas profundezas eu não desacredito do amor, este sítio de buscas então quando eu digito “transtorno emotivo”, “êxtase absoluto” “deslumbramento” ainda não chego à página 1.145.069 do amor porque ele ou está num tanque submerso ou será apenas um depósito de restingas conforme o conceituamos descobrimos que outras coisas assumem o seu lugar e só chegamos até seus cookies, suas hiperpáginas: ternura, filia, ferida, devoção making love em que língua se chega à saliva do amor se o malicioso vírus corrói o corpo do seu discurso? *** há casais que exigem a todo momento que se diga: “eu te amo”, “oh, sim, amor,” e choram birrentos como se o mundo se resumisse a um retoque de cabelo maldormido ou como se precisassem a todo momento daquele dedinho para chupar alguns apenas se olham através do tempo e vislumbram o volume do mar que os submerge dar as mãos nada diz a quem não provou do sal ou não conhece a primeira porta para a solidão do outro: que não existe ao fundo o conceito em si o resto é rinha a dois, no definitivo acordo de cães assimétricos que um dia chegarão a envelhecer juntos trancafiados num baú de ferro depois do amor, acrescento às profundezas um endereço anônimo em algum lugar estará a minha pele e, a partir dela, a aparente ideia de uma aventura

HOMENAGEM AO MEU PATRONO Antônio Henriques Leal, Plutarco de Cantanhede, Judael de Babel-Mandeb Irandi Marques Leite I No espaço, mergulho no tempo, de volta ao século XIX Nas margens do caudaloso rio Itapecuru Olho meu patrono, Antônio Henriques Leal II Os ribeirinhos acompanham A natureza resplandece E reflete o canto dos pássaros A correnteza está forte, muitas embarcações As palavras navegam e deslizam na superfície do rio Parecem bolhas de sabão, saltitantes, São palavras molhadas pela água divina Eu reconheço humildemente - Deus é o criador da engenharia hidráulica III Desço do barco e piso na terra molhada Bom dia meu Patrono - Ele coça a barba O sabiá canta O vento beija as flores com plasticidade IV Antônio Henriques Leal! Nasceste em 24 de julho de 1828 No povoado Candimbas, próximo à Vila de Itapecuru V És Patrono da Cadeira 10 da Academia Maranhense de Letras És Patrono da Cadeira 9 da Academia Ludovicense de Letras Teus livros inspiram minha fala Pantheon Maranhense Dribla meu corpo E toca minha alma

ENGENHARIA DO CORPO ABSTRATO Irandi Marques Leite I Ouço gritos de um corpo com fome de leão A vibração ressoa nos telhados de telhas de barro, Molhados Pingos d’água caem na unha de Adão A ressonância se propaga suavemente A poesia sente e acolhe no coração. II O Sabiá viaja pelo espaço Na busca do alimento sagrado Do céu desce uma balança abstrata para pesar sonhos Olhos adimensionais focam o termômetro da saúde III Alma e corpo suados Conexão indelével de colo e carinho. Mágica na academia sagrada IV Raio de sol inclinado Sombras místicas na floresta divina, As sementes germinam... V O ser holístico surfa numa onda global A retina dilata, explode - meu corpo, minha mente, minha vida!

ROSAS DE AMOR José Ribamar Sousa Reis

Aconteceu. Não sei dizer nada do que aconteceu. Só o tempo dirá. Quando as flores sem canteiros, sem jardins florescerem em nós.

Tu com um ardor feroz, em plena calmaria, semearás o que já colhemos.

Estarei em lentos e quentes abraços no céu, na terra ou no mar .

Tu e eu colhendo os frutos, onde logo os botões serão rosas vermelhas rosas, brancas rosas, coloridas rosas.

Rosas de amor são lindas! Qualquer que seja a cor.

Roberto Franklin

Mulheres não precisam de nada elas já são tudo são alegrias e tristezas são pensadoras são dominantes são chegada são partida nos fazem sorrir e até chorar são contos, poesias, músicas.

As mulheres são paixões têm algo que somente o “algo” poderia explicar.

O poeta dizia que todas têm que ter um algo mais além da beleza até a tristeza na face da mulher é lindo, meigo, sem falar no seu andar ela nem sempre necessita de um perfume já nasce com o seu, suave aroma.

Quando veio ao mundo fez-se o belo o amor, a suavidade Se repararmos, quando estão bravas, são lindas alegres são lindas quando choram são lindas tímidas são lindas apaixonadas são lindas.

Só não posso afirmar como afirmam, que são frágeis. Frágeis não, nem pensar

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