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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
“LIEUX DU MILIEUX” DA LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA / MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Silva (2013)5 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)6, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas:
[...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. [...] as vinculações destes agentes a determinados lugares e “movimentos culturais” devem ser analisadas relacionando-se os demais posicionamentos tomados em domínios diferenciados e considerados estrategicamente como oportunidades para o estabelecimento de alianças que retroalimentam suas variadas formas de atuação – facilidades de publicação, nomeação para cargos públicos etc. Desta forma a ocupação de cargos públicos vinculados a atividades culturais como a Secretaria de Cultura, FUNC, SIOGE, Conselho Estadual de Cultura e o IPHAN, constituem-se em estratégias privilegiadas para as relações de aliança faccional, que implicam em relações de trocas e retribuições entre estes “intelectuais”, no trânsito entre os domínios político e literário. Assim considerados, justifica-se o percentual elevado dos agentes que ocuparam tais funções administrativas, buscando através do granjeamento das instâncias culturais do estado, condições de sobrevivência, econômica e principalmente literária, que um contexto como o maranhense, sem uma relativa autonomia deste espaço, não lhes poderia ofertar.
1900 ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS
Transformação da OFICINA DOS NOVOS, pelo fato de alguns operários7 terem participado como membros fundadores da Academia, entre eles: Godofredo Viana, Vieira da Silva e Astolfo Marques; no entanto, Jomar Morais discorda e observa que a relação destes intelectuais com a Oficina dos Novos já não ia além do apoio e da simpatia. Jomar Morais faz esta afirmação baseado no registro de atividades concomitantes das entidades nos jornais da época. Um jantar de confraternização foi registrado entre as duas confrarias no Hotel Central em 15 de novembro de 1908, ou seja, as duas instituições existiram ao mesmo tempo, mesmo que por um curto período em razão do término da Oficina (CASTRO, 2008) 8: Convém ressaltar, que no ano de 1917, a Oficina dos Novos passou por uma reorganização e definiu como membros honorários os sócios da Academia Maranhense de Letras, outrora a ela ligados. Pelo quadro de membros efetivos que àquela data compunham o corpo social da Oficina, não é possível
5 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 6 REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO
MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 7 Assim eram denominados os membros da Oficina dos Novos. 8 CASTRO, Ana Caroline Neres. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: UM SÉCULO INVENTANDO TRADIÇÕES (1908-2008). OUTROS
TEMPOS, Volume 5, número 5, junho de 2008-Dossiê História da América
encontrar nenhum dos nomes daqueles pertencentes à Academia Maranhense de Letras. CASTRO, 2008, obra citada. Essa autora considera que, talvez, a maior particularidade dessa instituição (AML) tenha sido a oficialização de uma história da literatura maranhense e com ela a construção de um passado para as nossas letras, elaborando uma história oficial das obras e dos autores mais importantes do Estado: [...] No próprio culto que rendemos aos nomes dos que nos engrandeceram e nobilitaram os dias idos, não vizâmos somente a homenagem que o dever nos reclama de cada um de nós, e a todos nos ordena. Evocâmo-los tanto para maior glória sua como para exemplo aos de hoje, de modo que possamos bem preparar os dias de amanhã. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 37, in CASTRO, 2008) 9 . Continua: Para tanto, além de reunir dados biográficos e literários, adotaram patronos para cada uma das cadeiras da Academia. Esses patronos deviam ser intelectuais maranhenses, já falecidos que marcaram a história literária do Estado, ou seja, na ausência de um passado literário estruturado, organizar-se-ia uma genealogia elevando alguns nomes para que formassem, de repente, o capital simbólico da instituição.
1920 TÁVOLA DO BOM HUMOR
Em agosto de 1922, surge a antologia Sonetos Maranhenses, lançado pela Távola do Bom Humor, contando com: José Augusto Vieira dos Reis, Cypriano Marques da Silva, Chrysostomo de Souza,
Joaquim de Souza Martins, Carlos de Castro Martins, e J. Ribamar Teixeira Leite, todos de escassa memória na história da literatura maranhense. Pretendiam reunir num volume mais de cem sonetos de autores maranhenses, dividida em duas partes, de poetas mortos e de poetas vivos, desde Gonçalves
Dias e Odorico Mendes, até os novíssimos bardos. Graça Aranha deveria escrever a introdução.
Compilados pela Távola do Bom Humor, conteria cento e cinquenta e seis sonetos de autores nascidos no Maranhão, contemplando desde Odorico Mendes até o ultimo aedo presente, revelando nomes ainda desconhecidos. Dedicados a nossa terra, e em homenagem a Antonio Lobo.
ANOS 30/40 Barros (2005, 2013?) 10, ao analisar a literatura maranhense num recorte temporal de 1930 a 1960, afirma que, politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos: Primeiro, entre fins da década de 30 e metade da década de 40, quando Paulo Ramos foi Interventor (15/08/1936 – 23/3/1945). Barros (?) 11 considera ser importante destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o fenômeno de aliciamento de poetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional. Com Paulo Ramos, a máquina do Estado foi expandida. Houve um crescimento das instituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais. Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e do jornalismo provinciano” passaram a “compartilhar das responsabilidades administrativas do Estado” (CORRÊA, 1993): Paulo Ramos foi encontrar os intelectuais do Maranhão na Academia Maranhense de Letras (AML), “instituição concentradora da inteligência e dos mecanismos regulares e legitimados de um hipotético reconhecimento das qualidades literárias”. No contexto estado-novista, vários foram os intelectuais maranhenses que se destacaram no exercício da atividade pública, entre os quais, Agnello Costa, Clodoaldo Cardoso, Ribamar Pinheiro, Astolfo Serra, Luso Torres, Oliveira Roma e Nascimento Moraes. Tais intelectuais justificavam o Estado Novo enumerando suas consequências positivas (CORRÊA, 1993, p. 209219) 12 .
9 CASTRO, 2008, obra citada. 10 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no
Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor
Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014 11 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no
Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 12 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis: SIOGE, 1993.
Para Corrêa (2001), talentos ressalvados, Edmo Leda e Sebastião Corrêa morreram precocemente, e Erasmo Dias e Paulo Nascimento Moraes não construíram, de maneira organizada, obras literárias. Cedo também desapareceu Viana Guará. E alguns, como costumeiro, não confirmaram a vocação matinal, não deixando vestígio na história da literatura maranhense. Terminada a década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectual maranhense estavam radicados no Rio de Janeiro, onde acreditavam ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores e estudiosos: Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Antonio de Oliveira e Manoel Caetano Bandeira de Mello. Outros, como Erasmo Dias, Mário Meireles e Nascimento Moraes, permaneceram no Maranhão. (CORRÊA, 1993). Rossini Corrêa (1989) 13 vai identificá-los como a Geração de 30.
CENÁCULO GRAÇA ARANHA
Onde a jovem Geração de 30 vai congregar-se, estimulada que foram pelo Mestre Antonio Lopes da
Cunha, professor do Liceu Maranhense. Josué Montello foi o orador na solene fundação do Cenáculo: De minha geração literária, em São Luis, eu era o primeiro a sair da província. Antolnio Lopes, mestre de literatura do Liceu Maranhense, professor de Faculdade de Direito e grande jornalista, havia-nos reunido à sua volta, sob a invocação do nome de Graça Aranha, num grêmio literário que tinha por sede o Largo do Carmo. [...] Do mestre de Canaã, Lopes não ensinara a insurreição exemplar, que o impelira a romper com a Academia e a tradição literária; ensinara-nos o seu lado academico, que o levara a escrever pouco antes desse rompimento, o primoroso confronto de Nabuco e Machado de Assis, na introdução à correspondência epistolar dos dois escritores. (CORREA, 2001, p. 212)14 .
SUPLEMENTO “RENOVAÇÃO”
Erguida por Antonio Lopes, nas páginas do Diário do Norte, que substitui tanto o Cenáculo Graça Aranha, quanto o Centro Maranhense de Artes e Letras. “Renovação” extingue-se com a debandada de quase todos os seus fundadores para fora da ilha, não deixando maiores frutos, mas deve ser lembrado pelo que representou para um punhado de jovens talentosos. Antonio Oliveira, diz que nos últimos trinta anos (1953, quando fala): Antonio Lopes da Cunha esteve sempre à frente de quase todos os movimentos literários promovidos pelos moços do Maranhão. Portanto, sua influencia na formação literária desses moços constituirá, sem dúvidas, um capitulo interessante da história da literatura maranhense. (p. 215). Foi Corrêa da Silva quem sustentou o fogo do combate - afirma Corrêa (2001) 15. Daquela geração de 30, ninguém foi mais pranteado do que Sebastião Corrêa, que deixou inédito o livro de poemas Reminiscências.
“REVISTA ATHENAS”
Em 1939 aparece o primeiro número, e, nas palavras de Nascimento Moraes (1939) 16, tratar-se-ia de
“uma arrancada” comprovadora de que “A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental”. Este é um momento em que a noção de cultura – e tradição – indicada pelo desejo da afirmação do termo “Atenas” ainda continua a apontar, sobretudo para uma tradição que valoriza a
Europa, um texto velho, mas continuamente revitalizado.
CENTRO CULTURAL GONÇALVES DIAS
Nesse período, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 17, organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e
Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais
13 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 14 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 15 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 16 MORAES, José Nascimento de. Uma arrancada. REVISTA ATHENAS, São Luís, p. 1-2, jan. 1939, citado ,por BARROS (S.D.). 17 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989.
Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, Reginaldo Telles de Sousa, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro: “Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso, fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras”. Lago Burnett lançou sua primeira obra, Estrela do Céu Perdido (1949) Outro dos fundadores declara que, teoricamente, o Centro já estava fundado, pois se reuniam no Bar Paulista, e à noite, na Galeria do Carmo, para declarar poesias e discutir literatura. Não era um movimento de escola literária, declara outro integrante a Corrêa (1989): o movimento era cultural, portanto, global. Envolvia tudo – não havendo nunca antes no Maranhão, um movimento neste sentido. Os encontros centristas aconteciam, então, já, no Casino Maranhense, no Clube Litero Recreativo Português, e na Escola Benedito Leite e, as solenidades mais representativas, no teatro Artur Azevedo. A publicação de revistas, enquanto veículos culturais foram duas, abarcando os ângulos histórico –Caderno Histórico – e literário – Caderno Literário. O então Governador Sebastião Archer da Silva deu total apoio, patrocinando algumas publicações através do sistema oficial do Estado, assim como cedendo espaço, para as jornadas semanais, difusão através da rádio oficial, e espaço na Revista da Academia Maranhense de Letras
SUPLEMENTO LITERÁRIO DO DIÁRIO DE SÃO LUÍS,
Do extinto Partido Social Trabalhista, começou a circular seu, sob a direção de Nascimento Morais
Filho. O suplemento cultural já estava com 40 números publicados quando Lago Burnett e Ferreira
Gullar assumiram a sua direção. E diferentemente de Nascimento Morais Filho, passam a exercer censura, decidindo que “Toda a matéria que não for solicitada deverá passar pela nossa censura” (CORRÊA, 1989, p. 89): “Refletiam, decerto, o contexto do CCGD, relacionado com as exigências da redação do Diário de São Luis. Entretanto, sob disfarce, o sarcasmo da história se processava, e José Sarney, polemicando sobre o poético com os centristas, começava a escrever para o publico, sob beneplácito do Senador Victorino Freire, o qual na década seguinte, o lançaria na política e a quem viria a combater e suceder historicamente”.
Depois, de meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinista18 que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965. Informa Barros (2005) 19: Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra Serrão Cardoso (23/3/1945 – 7/11/1945), Saturnino Belo (16/2/1946 – 10/04/1947) e João Pires Ferreira (10-14/4/1947). Os governadores no período vitorinista: Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (1951-1956), José de Matos Carvalho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966). Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos, vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.
“ALVORADA”
Jornal do Colégio de 2º Grau “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias. Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos
18 Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensão política de Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do General Dutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido que tinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado em mandonismos locais e no uso sistemático da
“Universidade da Fraude” nos processos eleitorais (in COSTA, Wagner Cabral da. O SALTO DO CANGURU: DITADURA MILITAR E
REESTRUTURAÇÃO OLIGÁRQUICA NO MARANHÃO PÓS-1964. CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004. 19 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no
Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181
SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍSTICA DO MARANHÃO
Fundada por Lilah Lisboa de Araujo em 1948, é mais um dentre tantas sociedades culturais surgidas nesse período.
REVISTA SACI
Lago Burnett e Ferreira Gullar, agindo como autônomos em relação ao CCGD partem para sua publicação, ilustrada por Cadmo Silva e o próprio Lago Burnett, com tiragem de 3.000 exemplares, aceitava colaboração: “[...] O Saci é a figura mais importante da História do Brasil... folclórico. Saci está em toda parte, dá cabo de tudo, remexe com tudo e provoca todo mundo. Mas Saci não é mau. Ele quer apenas se divertir. Ele sempre aparece assim, de repente, sem ser esperado. Não é de cerimônias. O Saci é o tipo mais simples que existe: não tem preconceitos, nem preferências e muito menos tabu. Não tem idade, não teve principio e nem terá fim. Ele é eterno como tudo que é bom e que é belo. Finalmente, como não bebe água encanada de outras fontes, de lagoas estagnadas ou de poços obsoletos, não sofre do fígado e vive sempre sorrindo, com a consciência tranquila de quem faz o bem. O Saci é muito feliz, podem crer! Na sua humildade, é o ente mais feliz do mundo.
Tinha como mérito a abertura à congregação pluralista de colaboradores - no entender de Corrêa (1989) – haja vista a diversificação do conteúdo, reunindo desde antigos cantares de trovador até poemas sem rima e métrica. A revista, bastante satírica, foi um excelente instrumento de critica ao ambiente literário de São Luis: [...] provocando, destacadamente, Corrêa de Araujo, Assis Garrido e Clodoaldo Cardoso. Não dispensava, também, a Academia Maranhense de Letras, para onde a maioria migraria, logo a partir da década seguinte, com José Sarney, Lago Burnett e Domingos Vieira Filho. O sodalício se apresentava ao trocadilho “sódá-lixo”, com os candidatos a acadêmicos denominados de substitutos de “ilustres mortos” e chamados por uma hipotética “ordem analfabética” [...] (CORRÊA, 1989, p. 112-113) 20 .
JORNAL LETRAS DA PROVÍNCIA
Tão efêmero quando a Saci, um periódico de artes e letras da cidade de São Luis do Maranhão fundado por Ferreira Gullar e Lago Burnett; aberto a colaboradores de todo o Brasil, com dois endereços para correspondência; divulgavam os livros recebidos também no Suplemento Cultual do Diário de São Luis.
“MOVIMENTO DA MOVELARIA GUANABARA”
A geração seguinte foi a “geração de 45”. Para Rego (2010) 21, também denominada de “Movimento da Movelaria Guanabara”, onde: O contexto literário da capital maranhense vai-se dinamizar a partir de encontros realizados na Movelaria Guanabara, de propriedade do artista plástico Pedro Paiva. A Movelaria Guanabara servia como espaço para a realização de encontros e debates que, segundo Rossini Corrêa, ali eram traçados caminhos imediatos de intervenção intelectual na realidade maranhense. Silva (2011; 2013?) 22, ao investigar as diferentes estratégias, espaços e modalidades de atuação em que se insere um conjunto de agentes que ingressaram na carreira literária entre os anos de 1945 e 1964 no Maranhão, identificou sete movimentos culturais, citando – em quadro – os seguintes: Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Movelaria, Grupo Ilha, Afluente, Opinião, Apolônia Pinto, e dentre os intelectuais analisados em seu
20 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989 21 REGO, Rosemary. A “geração de 45” - (Ou o Movimento da Movelaria Guanabara), In GUESA ERRANTE, edição 221, publicado em 10 de setembro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 22 SILVA, Franklin L. A LITERATURA COMO CONDIÇÃO: APONTAMENTOS PARA A ANÁLISE DAS ENTRADAS NA CARREIRA LITERÁRIA
NO MARANHÃO CONTEMPORÂNEO (1945-1964). REVISTA OUTROS TEMPOS, V. 8, número 11, 2011 – Dossiê História e
Literatura. SILVA, Franklin Lopes. LITERATURA, POLÍCIA E PESSOALIDADE: LÓGICAS CRUZADAS DE ATUAÇÃO NO ESPAÇO INTELECTUAL
MARANHENSE (1945-1964). Síntese da monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013?, disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessdo em 08/05/2014
trabalho, alguns não participaram de qualquer movimento (seria o sétimo, de seu quadro): [...] superado o chamado Estado Novo, que no Maranhão transcorre sob a interventoria de Paulo Ramos, destacam-se entre os “intelectuais” expoentes e os “movimentos” em que se engajavam, nomes como os de José do Nascimento Morais Filho, José Sarney e Bandeira Tribuzi (todos contidos entre os casos aqui analisados), reconhecidamente lideranças do Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Ilha e Grupo Movelaria Guanabara, respectivamente. No interior destes “movimentos” destacam-se, vinculados ao Centro, Bernardo Coelho de Almeida, Nascimento Moraes Filho, Vera-Cruz Santana, Manuel Sobrinho, Tobias Pinheiro, Dagmar Desterro, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Bandeira Tribuzi –deslocando-se logo depois para o Grupo Ilha. Em torno deste último transitavam José Sarney, Bello Parga, Carlos Madeira e Lucy Teixeira. Quanto ao Movelaria Guanabara, uniram-se Antonio Almeida e Lago Burnett, que até então compunha o Centro Cultural Gonçalves Dias.
REVISTA ILHA
Fundada pelo Grupo Ilha, sob as lideranças de José Sarney e Bandeira Tribuzi, da qual também participava Lucy Teixeira; participava do conselho editorial Luís Carlos Bello Parga, que não chegou a publicar livro. O Grupo Ilha é uma dissidência do CCGD, formalizado com a presença e influencia de Bandeira Tribuzzi que fora afastado do Centro por faltas – faltara três sessões seguidas, contrariando o seu regulamento, que previa a participação obrigatória em todas as sessões; todos são úteis, ninguém é necessário... Trouxe consigo José Sarney, Erasmo Dias, Luis Carlos Belo Parga, Lago Burnett... A experiência de A Ilha, revista mensal de arte dirigida por José Sarney e Bandeira Tribuzi, representou, portanto, um desdobramento das atividades do poeta lusomaranhense enquanto organizador da cultura. A publicação contava com um conselho de redação integrado por Lucy Teixeira, Erasmo Dias, Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho e Luis Carlos Bello Parga.
A Ilha nasceu só E sempre será Mas não hermética E inacessível
Pode-se chegar a ela Por qualquer ponta Da Estrela Cardeal Não é preciso bussola
Basta atravessar a água Mas não vão se afogar Com o peso da roupa
Para alcançar a Ilha É Preciso que dispam As roupas que ainda vestem.
“MALASARTE”
Mensário de cultura dirigido por José Brasil (teatrólogo), J. Figueiredo (pintor), e pelos poetas Corrêa da Silva e Bandeira Tribuzi. Em seu editorial – aos leitores – é informado que era formado por um pequeno grupo de alguns dos modernos artistas e escritores do Maranhão atual (1948...). Seus colaboradores foram: Corrêa da Silva, Erasmo Dias, Franklin de Oliveira e Oswaldino Marques, contrapostos a Bandeira Tribuzi e seu circulo, integrado por José Sarney, Lucy Teixeira, Belo Parga,
Carlos Madeira, e Domingos Vieira Filho, e temperados por figuras atomizadas, àquela altura, como
José Brasil e Lago Burnett (CORRÊA, 1989) 23: De onde transparece a conclusão de que muito embora aqueles rapazes tenham ficado rotulados como o Grupo Ilha ou Grupo da Movelaria, o pioneirismo do Modernismo maranhense está radicado no mensário de cultura Malazarte, cujos responsáveis diretos e compósitos foram Corrêa da Silva e J. Figueiredo / José Brasil e Bandeira Tribuzi.
Rossini Corrêa (1993) 24 considera que a “Geração de 45” foi um momento de maior embate literário e resistência política. Ferreira Gullar, jovem intelectual, travou um embate literário com Corrêa de Araújo, que resultou em grande polêmica. A relação dos jovens intelectuais com os escritores de contexto literário diferente foi marcada por discordâncias e contendas. Foi na verdade o maior período de irreverência literária vivido no Maranhão, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “De modo geral, havia de parte dos velhos simpatia por nós, mas nós éramos realmente insubmissos, atacávamos, atacávamos, atacávamos”: Voltando-se à Movelaria Guanabara, as discussões ali travadas não se limitavam apenas às discussões literárias, mas passando pelas artes plásticas, entre outros assuntos. O Centro Cultural Gonçalves Dias tinha como meio de divulgação de seu pensamento crítico, um suplemento cultural publicado no jornal Diário de São Luiz, de propriedade do senador Vitorino Freire. Devido o posicionamento questionante dos jovens intelectuais, este teve a sua concessão cancelada. Era o momento de repressão política vivida pelos intelectuais da Geração de 45 e o Maranhão dominado pela oligarquia vitorinista. (REGO, 2010) 25
Como já mostrou Gonçalves (2000) 26, analisando processos de (re)invenção do Maranhão, a partir do estudo da trajetória (fabricada, deliberadamente construída, que se apresenta como natural) de Sarney no campo político e no campo intelectual, a “geração de 50” (geração de 45) idealizou o Maranhão propondo um projeto coletivo para o mesmo, tal projeto foi convertido em projeto pessoal pelo próprio Sarney. Longe de romper com o “estado dinástico”, com o velho e o retrógrado (do vitorinismo) 27, Sarney, com seu projeto “Maranhão Novo”, reinstala e reabilita aquele estado de dinastia. Longe de ser natural, “o Maranhão foi inventado e reinventado, tantas vezes quanto puderam ser construídas estratégias para tal” .
ANOS 50/60
TIPOGRAFIA SÃO JOSÉ
Da Arquidiocese de São Luís. Gerenciada por Bernardo Coelho de Almeida –entrementes incluído entre importantes estreias como as de José Chagas, Nauro Machado, Macedo Neto, Manuel Lopes e
Nascimento Moraes Filho
REVISTA AFLUENTE
Sob a direção de José Carlos e José de Ribamar – Burnett e Gullar. Essa revista teve como particularidade, uma preocupação inédita com a pesquisa, questionando a preferência literária e o problema do livro no Maranhão (CORRÊA, 1989). Lago Burnettedita alguns livros de sua autoria, como
O Ballet das Palavras (1951) e Os Elementos do Mito (1953). Além destas, Voz no Silêncio, de Manuel
Lopes (1953); Canção Inicial, de José Sarney (1954) e Iceberg de Macedo Neto (1955).
E assim partem Ferreira Gullar, Lago Burnett, Lucy Teixeira, entre outros. Ferreira Gullar quando se despede dos seus familiares, dos amigos e dos mestres, afirmando para os novos companheiros de ofício que no Maranhão não havia artes plásticas e que vivera uma fase pré-poética. Ou, como ainda confessou para a Folha
24 CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis, SECMA, 1993, p.226. 25 REGO, 2010, obra citada, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 26 GONÇALVES, Fátima. A INVENÇÃO DO MARANHÃO DINÁSTICO. São Luís: EDUFMA-PROIN-CS. 2000 27 O vitorinismo (1945-1966) caracteriza-se pelo domínio, da cena política estadual, de Victorino Freire, da Ocupação, contestado pelas Oposições Coligadas, que ascenderiam ao poder em meados dos anos 60, tendo início o sarneísmo; a Ocupação era acusada pelas Oposições de consolidar um projeto contrário às verdadeiras tradições maranhenses; trata-se do período de invenção da mística “Ilha Rebelde” na Greve de 1951 e de forte reatualização do mito da Atenas Brasileira. In COSTA, Wagner
Cabral da. SOB O SIGNO DA MORTE: DECADÊNCIA, VIOLÊNCIA E TRADIÇÃO EM TERRAS DO MARANHÃO. 2000. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.
de São Paulo em 200528: “Nasci em São Luís. Era uma cidade à qual as coisas chegavam cem anos depois. Para mim, os poetas estavam todos mortos. Essa era uma profissão de defuntos. Então, comecei como poeta parnasiano, com decassílabos e dodecassílabos. Só mais tarde tomei conhecimento de que havia outra poesia que não era rimada e metrificada: nenhum princípio a priori, nenhuma norma.” Mais tarde, em outra entrevista, agora para a revista E (nº 77, SESC) 29, ao ser lembrado sobre uma afirmativa de Mário Faustino na qual dizia que o maranhense havia saído de São Luís e chegado ao Rio sabendo tudo de poesia e de artes plásticas, Ribamar/Gullar arrisca ser mais humilde: [...] A cidade de São Luís continua a ser uma terra de poetas, de pessoas estudiosas e apaixonadas pela literatura, especificamente pela poesia. Quando saí de lá, eu não tinha o conhecimento sobre arte que adquiri um tempo depois. Um dos motivos de ter saído de lá foi exatamente esse. Eu era apaixonado pelas artes plásticas, e lá não havia praticamente nada de artes plásticas. Não tinha museu, salão, galeria de arte, não havia nada. Sequer havia livro sobre arte nas livrarias. O primeiro livro de arte que li era do pai de um amigo meu. [...]
REVISTA LEGENDA
Fundada por Nascimento Moraes Filho, publica várias obras de colaboradores, além de lançar outros livros de estreia, como o de José Chagas, Canção da Expectativa (1955).
GALERIA DOS LIVROS
do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados livros nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete
Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97) 30 .
SUPLEMENTO LITERÁRIO DO JORNAL DO MARANHÃO
por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José
Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José
Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex.
PLANO EDITORIAL SECMA
28 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 29 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014 30 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006
PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009
CONCURSO LITERÁRIO E ARTÍSTICO “CIDADE DE SÃO LUÍS”
O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de
Cultura (FUNC), atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso.
Para Leão (2008) 31, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”:
[...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros.
Bruno Azevedo (2012) 32 expõe sua revolta com os diversos concursos literários que eram realizados à época, afirmando:
Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto. Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra!
31 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 32 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014
Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros.
ANOS 70/80 no Maranhão convencionados GERAÇÃO LUÍS AUGUSTO CASSAS: [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 33 .
MOVIMENTO “ANTROPONÁUTICA”
nasceu no Liceu34 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)35; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)36 .
Dinacy Corrêa (2010)37 diz ser intergrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948),
Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando
Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia
“A Hora do Guarnicê” 38 , – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como
João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80.
Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino
Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.
A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”...
RUA CANDIDO RIBEIRO
33 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 34 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 35 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de
Educação e Cultura, s.d. 36 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 37 CORRÊA, 2010, obra citada 38 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no
Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008
Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 39, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Em outro contato, Corrêa 40confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar.
Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 41. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968).
“A HORA DO GUARNICÊ”
Sobre o Guarnicê: Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente
39 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 40 CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014. 41 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994
(HAICKEL, 201442; CORRÊA,2014) 43 . Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão (CORRÊA, 2014) 44 . A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 45 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).46 .
LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas
Lima (2003) 47 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo
Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros.
42 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista
Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. 43 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 44 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 45 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José
Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 46 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 47 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003
JORNAL A ILHA
Surge em setembro de 1974, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes,
Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior,
José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger,
Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas.
GERAÇÃO MIMEÓGRAFO
Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José
Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato. Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê...
REVISTA VIVÊNCIA
Ribamar Feitosa , ao lado de poetas estudantes da UFMA, em 1979, cria a revista, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José
Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis
Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim. Também denominada
Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano - 92/9348 .
ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE ARTES PLÁSTICAS
João Ewerton é o presidente, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas; transitam, entre os anos 1970 e 1980: Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio
Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro
Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga,
Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide.
SUPLEMENTO SETE DIAS
Entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação
Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e
Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito
Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia
Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira
Ayres. Américo Azevedo neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La
Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo.
PLANO EDITORIAL DO SIOGE
Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson
Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia
Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini
Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE ; e outros de maneira independente (LIMA, 2013)49 .
REVISTA VAGALUME
Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico
Carneiro.
GRUPO DO GUARNICÊ
“Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 50. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento
Antroponautica. O grupo do Guarnicê, “nascido” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)51; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. Em1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De
Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo
Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de
Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero52. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim
49 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 50 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 51 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de
Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 52 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.
Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.
“AKADEMIA DOS PÁRIAS”.
Lima e Outros (2003) 53 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone,
Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy
Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros.
“Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Pergunta-se Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário
Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô,
Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo.
“Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem54 .
Durante todo o período de atividade da Akademia dos Párias, Marcelo Chalvisnki55 assinava 'Marcelo
Silveira': Só passei a assinar Marcello Chalvinski a partir do segundo livro de poemas "Temporal", lançado no ano de 2005. O 'Canto do Tunico' foi uma referência em entretenimento de bom gosto, à época que a nossa Praia Grande estava recém restaurada e era de fato um lindo cartão postal. O nome homenageava o grande Tunico Santos (mestre nas artes da cachaçaria e dono de uma famosa farmácia). Tunico é o pai da poetisa Lúcia Santos e doZeca Baleiro. O bar em questão era comandado por Aziz Junior e Samme Sraya Santos. O que eles fizeram naquele espaço era realmente uma coisa bonita de se ver.
UNS & OUTROS
A revista atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.
“POEME-SE”
Surge em 1985, e deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo
Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio
Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 56. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos: Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”…
53 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. 54 LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 55 In Comentário no facebook em 14/03/2015, acerca de uma pergunta de Ricrdo Leão por que mudara de novo. 56 LIMA e Outros, 2003, obra citada..
Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. [...] Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”57
“ESPAÇO” PAPOÉTICO!
O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o
REVISTA UNDEGRAU
Zeca Baleiro58, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do
Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 59 .
Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone,
Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi,
Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa,
Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.
ANOS 90/00 E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas
57 CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 58 Sobre o apelido de Zeca Baleiro: “Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARARI ? Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de chocolate…), degustandoas, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro!
Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos…”. In CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar
Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-deanonimos-ilustres-15/, publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 59 LIMA e Outros, 2003, obra citada.
e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmicouniversitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)60
GERAÇÃO 90
Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Para Dyl Pires61, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito62 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Morando Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta.
POEISIS
Ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane
Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande
60 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm 61 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 62 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254
relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde63 . Sobre esse movimento, Antonio Aílton64 deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale65, o maior e mais importante deles66, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª Felis, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.
CARRANCA
Outro grupo que surge nessa época, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone
Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do
Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns,
63 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 64 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 65 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 66 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE.
Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome...
com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense67 . Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca68: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais - determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta. Leão (2008) 69 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: [...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.
GRUPO CURARE
Em 1995, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. [...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da
Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro ( LEÃO, 2008) 70 . Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008).
67 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 68 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico 69 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 70 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm
As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego71 .
Antonio Aílton Santos Silva (2014) 72, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). [...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... [...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego. [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais.
71 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 72 SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.
Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). [...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/ UFMA/ Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). [...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.
CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE / LATINIDADE
Dilercy Adler (1995) 73 organiza a antologia (a primeira)– 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto
Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade74. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da
73 ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 74 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São
Luis: Produções, 1998.
Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 200475. Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções...
SAFRA 90
Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio
Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito),
Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira
Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros: [...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poemese, ex-integrante da Akademia dos Párias. 76
O GUESA ERRANTE
Alberico Carneiro77 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno78 .
Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores: Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas
75 ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São
Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São
Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis:
Produções, 2004. 76 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 77 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL
PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html 78Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/
REVISTA/EDITORA PITOMBA,
Criada por Bruno Azevedo, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha: A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora: Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poemese e do Chico Discos (AZEVEDO, 2012)80 . Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo –escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A
Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub,
A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa.
POESIA MALOQUEIRISTA
Também de 2002, o movimento nascido em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor
Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 201481 .
SOBRAMES-MA
A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão –– lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética82 .
EXPOSIÇÃO TREZEATRAVÉSTREZE83
79 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm 80 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014 81 Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 82 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009 83 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-na-galeria-hum/
De 2001, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego
“MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 84
Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro85, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores86. E um quarto volume...87 . A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Viana, Barra do Corda, Vargem Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro.
“MARCHA PELA POESIA”
84 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013.
Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b__parte_2; 85 CARNEIRO, Alberico. Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia. in ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL
MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ 86 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; 87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013...
Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores)
“MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo.
De acordo com Teixeira (2014) 88, um novo grupo se forma, e que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea.
“CATÁLOGO DOS CAFÉS LITERÁRIOS DO ODYLO”
organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, que editado por Jomar Moraes. Certamente mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís89 ...
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
Fundada em 2013, surge um novo espaço para discussão da literatura ludovicense...
88 TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa. 89 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico.