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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Poética Brasileira

A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012)91 . Ramos (1972, p. 9-10)92 afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases, sendo, para este estudo, considerada as duas últimas: 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com êxito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta1 e neoconcretista , ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenômeno que também ocorreu no âmbito nacional; 9ª fase – a partir de 1969, de jovens que buscavam, através de movimentos como a Antroponáutica , novas formulas poéticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores . A poesia do Século XX é dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luís Augusto Cassas (Corrêa, 2010)93 . Rodrigues (2008)94 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. Para Borges, Abreu, Garrone e Chalvisnki (2016 - os editores da Antologia da Akademia dos Parias) 95, a poesia produzida no Maranhão até o final dos anos 1940 permaneceu presa a uma linguagem do final do século 19, predominantemente parnasiana. Foi o poeta Bandeira Tribuzi, voltando de Portugal, onde fora seminarista, quem trouxe para São Luís, em 1947, algo do modernismo português de Fernando Pessoa e Almada Negreiros, além de poetas brasileiros da Semana de Arte Moderna de 22, principalmente Mario de Andrade e Manuel Bandeira. Ainda assim, os escritores que começaram a escrever nos anos 1950 na capital maranhense foram muito mais influenciados pela Geração de 45, cuja proposta era combater os ‘excessos’ do modernismo brasileiro. Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas96 abrem-se com o poeta:

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90 7 - Issuu 91 DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em

Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua

Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua

Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. 92 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. 93 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 94 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 95 BORGES, Celso; ABREU, Fernando; GARRONE, Raimundo; CHALVINSKI, Marcelo. AKADEMIA DOS PÁRIAS: A POESIA ATRAVESSA

A RUA. Teresina: Halley, 2016. 96 Microsoft Word - Revista Garrafa 22 modelo WORD (ufrj.br)

Jorge Nascimento nasceu em São Luís, a 8 de janeiro de 1931. Filho do senhor João Pereira do Nascimento, que nasceu no município de São Bernardo e de dona Neusa Pereira do Nascimento, nascida na Parnaíba, Piauí. O pai trabalhava como vigia do Matadouro do hoje bairro da Liberdade e de D. Neusa, que era a mãe de poetas, uma excelente cuidadora das prendas domésticas, cujo dom era fazer milagres com o pão nosso de cada dia posto na mesa, no ponto e toque certos para o paladar. A infância, a adolescência e a mocidade de Jorge e seus vários irmãos, entre eles o poeta e fotógrafo José Maria do Nascimento, aconteceu no bairro Areal, hoje Monte Castelo. Fez o curso primário, na Escola Modelo Benedito Leite e o secundário, no Colégio Ateneu Teixeira Mendes. O saudoso ensaísta e jornalista Clóvis Ramos, o único biógrafo de Jorge, resgatou sua peregrinação de jornalista e escritor: “Em Belém do Pará, trabalhou no Conselho Nacional de Petróleo, de 1950 a 1952(?). Em São Luís, trabalhou no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956-58(?); no Jornal Pequeno,1975(?)-79(?); no O Estado do Maranhão, 1980-(?), como repórter e copidesque. Na Rádio Educadora, trabalhou entre 1964 e 1966. Foi um dos colaboradores da revista Legenda, na década de 1960. Em 1956, está no Rio de Janeiro, onde se submete a Concurso para revisor do Jornal do Brasil. Aprovado em segundo lugar, trabalhou nesse periódico, entre 1957(?) e 1959. (O poeta Chagas Val dá o acontecimento com data de 1956(?). Em Pernambuco, foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco, 1975; e do Diário da Tarde, também em 1975. De volta ao Rio de Janeiro, lá trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. Foi Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, em São Luís, entre 1981 e 1982”. Jorge Nascimento morreu no Hospital do Servidor Maranhense, na noite de 11 de agosto de 2020, após passar por duas cirurgias, do estômago e do esôfago, às quais não resistiu. Foi velado em sua residência, no São Francisco, por familiares e amigos e, sepultado, no dia seguinte, no cemitério Jardim da Paz. Jorge Nascimento: memórias de um poeta andarilho – JP Turismo

Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas;

Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio

Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz;

Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem!

De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos:

ÁTILA: Antes da Batalha

Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ?

E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma,

Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me,

Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados ! O Arconte Executado

A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino,

Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos,

Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade, Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida,

Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço!

NÓDOAS DO CARVÃO:

Desencontro

Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento:

Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo

Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços,

Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia,

Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende: Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida! JORGE NASCIMENTO – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO (antoniomiranda.com.br)

Fonte: http://users.elo.com.br ARLETE NOGUEIRA DA CRUZ Arlete Nogueira da Cruz (Machado) nasceu na estação ferroviária de Cantanhede, no interior do Maranhão, em 1936. Iniciou seus estudos na cidade em que nasceu, Cantanhede, no interior do Maranhão. Aos 12 anos, sua família mudou-se para a cidade de São Luís, onde ela frequentou, entre outros, o Liceu Maranhense. Seu pai, Raimundo Nogueira da Cruz, foi agente da estrada de ferro, e sua mãe, Enoi Simão Nogueira da Cruz, autora de poemas e crônicas. Seu primeiro livro, A Parede, foi escrito quando tinha menos de vinte anos e obteve o 3o. Lugar no Prêmio Júlia Lopes de Almeida, da Academia Brasileira de Letras, em 1960, após ser inscrito naquele concurso pelo escritor Josué Montello[3]. Licenciada em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, cursou o mestrado em Filosofia Contemporânea na PUC/RJ, defendendo dissertação sobre Walter Benjamin. É professora aposentada da UFMA e exerceu também a docência na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde lecionou Filosofia Contemporânea. É a autora de uma relevante e numerosa bibliografia, incluindo o clássico Litania da Velha (poema, edições: 1995, 1997, 1999, 2002). Companheira do poeta Nauro Machado por uma vida inteira. Os poemas aqui compartilhados foram extraídos do livro O quintal e das páginas Jornal de Poesia e Poesia dos Brasis. Livros publicados: A parede (romance, edições: 1961, 1993, 1998), Cartas da paixão ensaios filosóficos, edições: 1969, 1998), Compasso binário (romance, edições: 1972, 1998), Canção das horas úmidas (poesia, 1975), Litania da Velha (poema, edições: 1995, 1997, 1999, 2002), Contos inocentes (edições: 2000, 2001) e Trabalho Manual (Imago Editora, Rio, 1998), através de um convênio entre a Biblioteca Nacional e a Universidade de Mogi das Cruzes.

LITANIA DA VELHA (fragmento) O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça. O campo se perde embebido em jenipapos para a manhã sufocada.

Os bois da infância ruminam sua paciência e espreitam essa audácia. — O tempo dói na ferida aberta da recordação.

A velha cata os pertences no quarto que exibe a sua miséria. A sacola esconde improvisos da vida e ganhos equivocados.

A rua se reserva precária aos passos vacilantes, entre lembranças. A pobre mulher sai maltrapilha, sem pressa, carregando brio e saudade.

Estes são os primeiros versos do livro-poema LITANIA DA VELHA, de Arlete Nogueira da Cruz (São Luis, 2008) já em sua quinta edição, agora como um volume de uma caixa contendo também o livro “Trindade Dantesca” do grande Nauro Machado e um DVD com dois curta-metragens. O curta “Litania da Velha”, de Frederico Machado (1977) ganhou prêmios nacionais e internacionais.

Nascido em 27 de novembro de 1924, na cidade de Balsas, Eloy Coelho Netto começou a escrever suas crônicas e poesias ainda na juventude, quando estudava Direito em Fortaleza, capital cearense. O escritor também se notabilizou por ser um dos principais autores de estudos e obras sobre o sul do Maranhão, produzidas ao longo de sua carreira. Teve oito filhos. Faleceu em 10 de agosto de 2002.

Cunha Santos Filho (1952)99 , Poeta da geração Hora de Guarnicê, dos anos 1970. Aparece com os nomea de Jonaval Cunha Santos e Homaval Medeiros da Cunha Santos em diferentes fontes. Nascido em Codó, Maranhão, a 10 de novembro de de 1952, e seu texto de estréia é Meu calendário de pedaços (1978). Irreverente, audacioso, ousado, Cunha Santos costura sua própria dicção poética sob sarças de fogo e com muito fôlego. Com desassombro, investe contra os podres poderes responsáveis únicos pelas injustiças sociais.Antes de mais nada, o poeta reforça o conceito de que poesia é, acima de tudo, emoção e sensibilidade, a parte anímica do ser em seus desdobramentos e conjunções, com a força telúrica das percepções sensoriais. O poema, sim, é outra coisa, pois, como um filho, depois de ser gerado e gestado, pronto e parido, precisa ser criado. E é aí, nesse dado momento, que o poeta se vale do potencial de que dispõe para criar os melhores frascos e embalagens para guardar suas essências. Títulos principais: A Madrugada dos alcoólatras, Odisséia dos Pivetes, Paquito – o anjo doido e Pesadelo. In http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina329.htm Manoel dos Santos Neto100 traça sua trajetória: Boa parte do meu caminho, eu o tenho percorrido sob a inspiração deste companheiro exemplar: Jonaval Medeiros da Cunha Santos, que se assina como JM Cunha Santos. Por ele sempre tive a maior admiração. Afinal, desde cedo o reconheci como um poeta de rara sensibilidade, que põe seu ofício e sua arte a favor dos marginalizados, dos desvalidos, dos famintos de pão, de justiça e de solidariedade. É impossível ignorar que a literatura de Cunha Santos é marcada por uma flagrante indignação e protesto contra as injustiças sociais, os regimes autoritários, a censura, a violência, a tortura, a intolerância. Como em toda arte, também na poesia existem os fora-de-série. É o caso de Cunha Santos. Figura humana fora-de-série, ele é admirável como poeta, jornalista e escritor, personalidade ímpar, de qualidades inegáveis. Não é demais frisar que Cunha Santos ensinou uma geração inteira de maranhenses a enxergar o sofrimento como experiência poética. Muito ricas são a trajetória e a obra desse escritor genial, que escreve poemas que tratam do sentido da vida, da solidariedade, do amor e da amizade, das angústias, das grandezas e heroísmos da natureza humana. Às vésperas de completar 60 anos de idade, Cunha Santos – natural de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952 – é hoje reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão. Escrevi certa vez, em um artigo publicado no Jornal Pequeno, que Cunha Santos – filho de Durval Cunha Santos e de Josefina Alvin de Medeiros – herdou de seus pais a sensibilidade para as lutas populares e abriu espaço nestas lutas para, numa atividade simultânea, dedicar-se à poesia, à música e à reflexão política.

O primeiro poema de sua autoria que fez sucesso em São Luís foi “Mamãe Máquina”, escrito num tempo em que não existiam clones nem bebês de proveta. Foi o início de uma carreira marcada pela obstinação. Autor de “Meu Calendário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes” (1996) e “Vozes do Hospício” (2008), Cunha Santos acaba de escrever mais um livro: “A Comunidade rubra”. Este novo título, concebido como uma novela política baseada nos livros “Utopia”, de Thomas More e “O Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam, denuncia a corrupção nos nossos dias e, com certeza, irá associar-se, como realização indispensável, aos livros já consagrados de Cunha Santos. Vale frisar que Cunha Santos é um escritor veterano, tarimbado, um profissional de atuação exemplar. Como jornalista e escritor – já trabalhou como editorialista de diversos periódicos e, desde então, vem fazendo de seu trabalho na imprensa um instrumento a favor do ideal de cidadania e justiça e, em seus escritos, costuma ressaltar a teimosa insensatez dos homens, causadora de crises, guerras, conflitos e opressões. Como jornalista, profissão que abraçou aos 17 anos de idade e que jamais abandonou, tem sido um grande lutador. Em 1973, entrou no Jornal Pequeno (tinha então 21 anos) como redator-chefe, substituindo seu pai, o velho Durval Cunha Santos. Mesmo sendo um jornalista reconhecidamente lutador, Cunha Santos não esconde de ninguém que prefere a poesia ao jornalismo. Pode-se dizer, sem hesitar, que hoje ele é, essencialmente, um poeta, cronista e editorialista fenomenal. Já passou pela redação de vários jornais de São Luís, entre os quais “O Diário do Norte”, do ex-deputado federal José Teixeira, o “Diário do Povo”, editado por Nilton Ornellas, onde escreveu as melhores reportagens sociais de sua vida; “O Estado do Maranhão”, à época de Bandeira Tribuzi, Adalberto Areias e Vera Cruz Marques; a velha “Folha do Maranhão”, que era comandada pelo ex-deputado Cid Carvalho, “O Debate”, de Jacir Moraes, e “O Litoral”, de Mary Pereira. Na condição de editor de Política do “Diário do Povo”, Cunha Santos escreveu inúmeras matérias sobre lutas sindicais, causas populares e publicou uma série de reportagens sobre menor abandonado, intitulada “A geração perdida do Brasil”, denunciando o drama dos cheira-colas que começavam a se multiplicar pelas ruas de São Luís. Merecedor de todas as homenagens, Cunha Santos tem muito do que se orgulhar. Hoje ele é, sem dúvida, um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns de seus poemas estão entre os mais belos da literatura do país. Seu nome consta no livro “A Poesia Maranhense no Século XX”, antologia organizada por Assis Brasil. É elogiado no livro “A Intelectualidade Maranhense”, de Clóvis Ramos, e tem alguns de seus poemas na “Hora de Guarnicê”, de 1975. Manso e afável, embora coerente e firme na defesa dos princípios em que acredita, e movido pela paixão em tudo que faz, Cunha Santos teve ainda suas incursões pelo teatro, chegando a fundar um grupo teatral denominado Gpap – Grupo de Estudos e Pesquisa da Arte Popular. Apaixonado por música e poesia, Cunha Santos vive uma fase em que sua literatura parece essencialmente voltada a suas ilusões, seus sonhos e esperanças – a seus sentimentos sublimes e, também, a suas paixões mundanas. Com este novo título – “ A Comunidade rubra” -, Cunha Santos lança ao público um texto simples e belo, à altura das tradições literárias do Maranhão. E não cansa de demonstrar o seu amor pela poesia, onde busca forças até para suportar as dificuldades da vida. Ele mantém inalterado o notável talento como escritor, poeta, compositor e jornalista, e o gosto de cantar e de fazer poesias. Com este novo livro, confirma-se que Cunha Santos é uma das mais importantes figuras da poesia em língua portuguesa surgidas na segunda metade do século XX. E confirma-se também que grandes obras literárias serão sempre fonte de deleite, conhecimento e de vida.

João Alexandre Júnior (1948)101 , (São Luís, Maranhão, Brasil) - Foi um dos editores da Página da Juventude, do Jornal Pequeno). SUPLEMENTO CULTURAL & LITERARIO JP Guesa Errante ANUÁRIO. São Luís (MA), n. 5 – p. 1-129, 2007. Ex. bibl. Antonio Miranda

Endocrinopatia

O lado de fora é branco, sem cor (exatamente branco pela falta) pálido, polido, gélido calculadamente ausente e branco. Faz medo o outro lado porque se interna assexuado, de prenhez letal, fatal, inexorável...

Eu me tenho tido em minha pátria e soberano faço a mesa e disponho a casa. Os meus amigos todos eu os tenho Já à mira e me diverte o novo engenho que desde ontem lhes reservo (aliás ontem eu domino quando me contenho) Não tenho pois porque carecer de hoje: — se não sou, tanto faz, se fui e não será esse outro lado que fica do lado de fora que me vai tirar de mim (do meu lado de dentro onde tenho inventado a vida)

Namoro nas paredes do espaço ameaças de externos internos e faz mal o meu hábito postiço habituado à palavra asfáltica

(Faz medo o outro lado que fica do lado de fora)

(Jornal Pequeno, A Letrinha, 13.03.1973, p. 03) “Aqui não há lugar para Ex poema” Por: John CutrimData de publicação: 22/06/2016 - 9:56 Blog do JM Cunha Santos Foi o poeta João Alexandre Júnior o autor da manchete, nos tempos em que jovens poetas, quase sempre sem livros publicados, cultivavam uma página literária no Jornal Pequeno, cerzindo versos disformes que desafiavam o conceito de poesia e as imagens lúdicas da época. Eram versos que sobremaneira irritavam o gosto acadêmico, o arcadismo, o sabor barroco da literatura descompromissada das questões sociais e selecionada pela ditadura militar. “Aqui não há lugar para Ex Poema” foi uma reação da juventude à virulência das críticas, entre gentes famosas que não resistiam ao perfeccionismo parnasiano de Olavo Bilac e Raimundo Correa, contra as coisas e a forma que a juventude queria dizer.

Mas “Aqui não há lugar para Ex Poema” era também uma reação à força bruta do latifúndio, representado pela exposição agropecuária nascente em São Luís, numa época em que o homem do campo era tangido a ferro e fogo do interior do Estado para viver em bolsões de miséria na capital – as chamadas invasões que deram origem a vários bairros em São Luís. Era a resposta de uma juventude inconformada com o apoio do sarneisismo, da ditadura e do Estado que a latifundiários, grileiros e empresas agropecuárias cedia a polícia na condição de guarda pretoriana para o cometimento dessa diáspora violenta e injusta que, sem nenhuma dúvida, contribuiu para o atraso do Maranhão. Os lavradores apanhavam lá e aqui quando chegavam para ocupar terrenos que também já tinham “donos”. Leia mais: https://jornalpequeno.blog.br/johncutrim/aqui-nao-ha-lugar-para-expoema/#ixzz6v9h3q14k

CHAGAS VAL - Nasceu no Estreito, Buriti dos Lopes - Piauí, a 23 de julho de 1943. Até os vinte anos residiu no Piauí onde fez o curso primário no estreito e em Buriti dos Lopes no grupo escolar Leônidas Melo, o ginasial em Parnaíba no ginásio São Luís Gonzaga e até o 2° ano científico também em Parnaíba, no colégio Lima Rebelo, quando, então, se transferiu para São Luís, em 1963, terminando o científico no colégio de São Luís. Professor em vários colégios da Capital maranhense (Rosa Castro, Luís Viana, ginásio SENAC, escola Normal do Estado), somente em 1974 licenciou-se em Letras pela UFMA, quando já iniciara a sua carreira poética com a publicação, em 1973 de Chão e Pedra. E vieram depois, Chão Eterno e Mundo Menino (1979), Teoria do Naufrágio (1987), Floração das Águas (1992), Estado Provisório da Água (1993) e Anatomia do Escasso Cotidiano (1998). Fonte da biografia e da foto: www.redutoliterario.hpg.ig.com.br

Poema 10

A vida reinventada na cidade onde achei o caminho do meu sonho, o carinho de seu povo, a face amiga das ruas me saudando e me levando a percorrê-las, fruí-las nesta suave harmonia, neste abraço inaugural do evento em que minha alma se debruça sobre o tempo e bebo a água das fontes e me banho neste mar, minha sede que sacio mergulhando o tempo fundo de um rio invisível cujas águas transparentes são o sangue dos escravos ou o leite das crianças, seios tépidos de mulheres,

negras bocas a sugar e seus corpos, nus, esbeltos, delineiam-se no escuro, formas belas e serenas, curvas danças se desenham sobre o solo do passado, áureos brandos sons de sinos, silhuetas da memória na estória de quem canta a cidade que nasceu e cresceu verde-luares, suas claras mãos de moça neste abraço comovido.

(Chão Eterno/1979)

o rio dentro do rio

um rio que se define no próprio espaço da fala um rio dentro do rio no seu leito permanente jardins acesos nas margens o áureo arroz explodindo na manhã leitosa e branca o milho ergue as espigas na terra como um luar o arco-íris entreabre-se em cores azuis-suaves como aves que voassem no redondo silêncio alado. O rio muge entre pedras punhais e pontes mais claras a água canta entre luzes espelhos e alvas manhãs mugindo dentro da noite a foice de suas águas ferindo a face de um espelho e chove dentro da noite no aceso silêncio espesso no espaço aberto da fala o rio dentro do rio deságua no próprio curso no seu uso mais corrente as flores do rio cantam abrindo os olhos nas margens flutua alva a canoa no metal claro da água a lua leve no espaço

brota do rio e floresce por entre margens e margens à sombra azul do espelho um fino punhal de prata cravado no próprio peito no leito claro qual pássaro voando dentro do sonho e passa leve a canoa a lua acesa na mata. o ri dentro do rio no curso de suas águas floresce fundo no espelho no alado silêncio vário no seu caminho mais claro é o Longa que se abre à luz tenra da manhã por entre pedras e pásparos o rio a relva o riacho

(Floração das Águas/1992)

FRANCISCO TRIBUZI Francisco José Santos Pinheiro Gomes usa o apodo Francisco Tribuzi, a exemplo de seu pai Bandeira Tribuzi. Francisco Tribuzi (São Luís/MA, 24 de janeiro de 1953). Poeta brasileiro. Autor do livro Verbo Verde (1978), também dos inéditos: Azulejado (poesia), Tempoema (poesia) e Sob a ponte (contos). Possui publicações em jornais, revistas e antologias, como Hora de Guarnicê, Poetas da Ponte, A Poesia Maranhense no Século XX (org. Assis Brasil) e Atual Poesia do Maranhão (org. Arlete Nogueira Machado). A produção literária de F.T. foi destacada em As Lâmpadas do Sol (ensaio de Carlos Cunha) e Um degrau (revista literária da UFMA). Filho do poeta Bandeira Tribuzi. Prepara uma publicação que reúne seus trabalhos inéditos.

Sina

A gente grita, corre, sufoca e morre. A gente canta, encanta, explode e pára: A gente avança, recua, esbarra na rua. A gente ama, trai, reclama e caí. A gente come, some, chora a fome. A gente ganha, sonha, acorda, esvaí. A gente cala, fala, escala e crê. A gente reza, preza, é preso. E a fé? A gente é medo doente da própria gente.

Momento-interno

No ar o sentido do mistério Em mim essa dor sem remédio No vago um momento sério Na vida esse inconfundível tédio.

Vanda Cunha

Qual de mim já foi quem em outras era(s) Um navegar de azul me influiu quimera(s) Que em ser outra vida talvez dessa invertida Hoje a sinto perdida. Se sinto a impressão que já vi outro céu que não esse: Manchado, escurecido

Esquecido? .. . Onde estão meus antigos pensares? Noutros céus? Noutros mares? Que hoje só guardo pesares A que distância de mim me encontro? ... (?) Sinto as canções do meu caminho Por que esa tristeza de eu ser outro Perdido no vácuo, sozinho Que madrugada guardou o meu perfume? Que a manhã sempre me esconde Existência gastando o que o ser assume No aí sem resposta, onde?

(Verbo Verde,1978)

o museu e a ponte

Lá dentro guardam-se histórias... Aqui fora a ponte guarda em segredo os vultos que adentraram as glórias e as memórias dos gestos sem medo.

De cada ângulo vista como que a jorrar passado a ponte em si despista o conteúdo sonhado.

E o que ela inspira: estética e formusura traduz o belo que delira em gesto e arquitetura.

Poetando

Eu faço versos como quem conserta sapatos não como quem comanda uma empresa. São tão simples os meus atos como simples é a natureza.

Eu faço versos com pureza não vou além da surpresa que me inspiram os relatos mas vou além do que sinto eu faço versos não minto e fazer versos é amar.

(Tempoema/inédito.)

Wanda Cunha (2010)104assim se refere a ele: Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal.

Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”.

104 CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR. In RECANTO DAS LETRAS. Enviado por Wanda Cunha em 23/07/2010 Código do texto: T2394790. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem) (recantodasletras.com.br)

Alex Brasil, nome literário de Alsenor Duailibe Garcia. Nasceu a 28 de dezembro de 1954 no povoado Saco, município de Codó. Fillho de Raimundo da Silva Garcia e Maria das Dores Duailibe Garcia. Ainda no interior, iniciou seus estudos em Lima Campos, passando depois por Bacabal e Rosário e transferindo-se finalmente para São Luís, onde terminou o primeiro grau, no Centro Educacional do Maranhão, e, o segundo, no Liceu Maranhense. Na década de 1970, iniciou os cursos de Engenharia Civil, de Agronomia e de Direito, sem se adaptar a nenhum deles, para, afinal, concluir o de Jornalismo e Radialismo, na área de Comunicação Social, na Universidade Federal do Maranhão. Após os estudos, insatisfeito com os empregos públicos no Banco do Brasil e no Banco do Nordeste, trabalhou em televisão, jornalismo e publicidade. Nesta última atividade encontrou, afinal, seu caminho profissional como diretor-proprietário da AB Propaganda. Poeta, contista, jornalista e publicitário, Alex Brasil participa da vida intelectual da cidade, colaborando com movimentos, homenageando artistas e fazendo-se presença constante em acontecimentos culturais. Foi distinguido com o título de Cidadão de São Luís, outorgado pela Câmara Municipal. a) poesia: Planeta vermelho. São Luís: Sioge, 1979; Idade do ouro negro. São Luís: Gráfica São Luís, 1980; O sonho deve continuar. São Luís: Sistema Difusora, 1981; Crepúsculo vinte. São Luís: Star Gráfica, 1982; Inferno verde. São Luís: Sioge, 1983; Brasil, não chores mais. São Luís: Sioge, 1985; Crianças do apocalipse. São Luís: Sioge, 1986; A solidão é cinza. São Luís: Grafica São Luís, 1986; Peregrino das emoções. São Luís: Sioge, 1987; Meninos de São Luís. São Luís: Gráfica Escolar, 1992; A voz do coração. São Luís: Gráfica Escolar, 1993; Ilha verde. São Luís: Gráfica Escolar, 1995; Pátria amarga, Brasil. São Luís: Unigraf, 1998; Razões do coração. São Luís: Unigraf, 2000; Todas as estações (antologia) São Luís. Unigraf, 2003; Amor.com. São Luís: 2013: Lithograf. b) prosa: Amores perdidos (contos). São Luís: Sioge, 1987; Lençóis proibidos (contos). São Luís. Minerva, 2007; Quatro discursos. São Luís. Minerva, 2007; Último sol nascente (contos). São Luís: 2012; Lithograf.

POETA É POVO

Se o povo geme, o poeta chora; se o poder ignora, o poeta sente.

Se o miserável estende a mão

105 Biografia – Alex Brasil PoetaALEX BRASIL – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br Alex Brasil: uma história de poesia e humanidade - ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS 4 poemas de Alex Brasil – QUATETÊ (wordpress.com)

e só ouve da sociedade o não, o poeta fere o poder vilão com o grito agudo da canção.

Se os corpos de aço com almas de porcelana olham-se, e não se acham, a realidade é fria e desumana…

Se a infância no lixeiro não toca os corações de pedra, cujo deus é o dinheiro, se a cidade concreta dorme nessa hipocrisia, é o poeta que a desperta com o punhal da poesia.

TEMPERO DIVINO

Um pouco de veneno, um pouco de mel, um pouco de inferno, um pouco de céu: assim Deus tempera a nossa sorte, enquanto nos espera na eternidade, além da morte.

DOIS PÁSSAROS

Nós somos como dois pássaros singrando os céus, planando ao vento, amor livre de águias sobre os mares e selvas. Somos corações alados, almas amigas entrelaçadas que um dia se encontraram e não podem mais viver separadas. E se a morte, que nos espreita. partir as nossas asas, em nosso último voo, meu amor, unamos as nossas garras na queda inevitável: desçamos juntos na imensidão, mergulhando no azul e no verde onde, além da morte, nosso amor prossiga para sempre, singrando a eternidade.

MARGENS DE SÃO LUÍS

há uma flora que mais se multiplica quando uma criança chora pedindo outra palafita que a morte não demora para almas raquíticas com sarampo e catapora. Cresce em tua periferia uma cancerígena miséria antipoesia, anti-humana, por entre o mangue, por sobre a lama. Floresce em tuas margens homens desvalidos, infâncias sem pastagens, úteros poluídos… E mesmo assim, São Luís, o menino vadio, no olho da rua, teima em ser feliz diante da realidade crua, que o condena à própria sorte –esfomeado de vida só engole a morte nas tuas margens, São Luís, cemitério de crianças apodrecidas.

Nasceu em Caxias, Maranhão, em 1930 e estudou jornalismo em Niterói, Rio de Janeiro., e depois mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faleceu em outubro de 2000 Livros de poesia: O Sol Fala aos Sete Reis das Leis das Aves e Bandeira Vermelha.

AUTO-RETRATO

Diante do espelho grande do tempo sinto asco tenho ódio descubro que não sou mais menino Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre com medo olhando para trás e para os lados) questiono-me (lagarto sem rabo): — como deve ser bom nascer crescer envelhecer e morrer

Diante do espelho grande na porta (o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me: feto asno velhote pétreo ser incomunicável sem qualquer detalhe que eu goste (Um espermatozóide feio e raquítico)

Como nas cartas do tarô onde me leio — eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio

EXÍLIO DELE NAS URUBUGUÁIAS

exilAdo nas urubuguáias boi serapião do buriti corre nos cerrAdos e grotões

106 ADAILTON MEDEIROS – POESIA DOS BRASIS – MARANHÃO - www.antoniomiranda.com.br Adailton Medeiros - Poemas escolhidos (escritas.org) O Espelho de Narcisópolis na Era da Selfie. Adailton Medeiros. (ufrj.br)

andarilho sem odres de couro um patori desaplumbeAdo na travessia das grAndes estórias construindo em sete mil dias Dios

um antropomOrfa como o veAdo do mistéRio de gelos e vinhos tintos

ou o carCará castrAdo vindo dos salEs noturnos furnicAdo de marinhas Veja também o E-BOOK:https://issuu.com/antoniomiranda/docs/adailton_medeiros

O CASMURRO

Potro: um monte de músculos Chegou bem discreto fugindo das terras do Loreto Com rotundo porrete de ipê esmagara a cabeça da madrasta A malvada tinha assassinado a sua pequenina e querida irmã de cabelos longos e lisos O jovem Zé-Aleixo era casmurro: "homem calado e metido consigo"

Burro: para o serviço pesado Carregou nos ombros tanta água lenha melancia ração Ao amanhecer — no fundo pilão socara muito milho e arroz Mana — a minha irmã Adailma — ele a chamava com saudade da sua pobre menina morta O velho Zé-Aleixo era casmurro: "homem calado e metido consigo"

Salvo algumas exceções, somente no começo da década de 1970, com o movimento Antroponáutica (Luís Augusto Cassas, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio e Raimundo Fontenele, entre outros), a poesia maranhense liberta-se da estética do soneto e se aproxima do lirismo, da ironia e do verso livre da escola modernista. Dinacy Corrêa (2010) diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento, incluindo Chagas Val..

Fonte:http://www.mallarmargens.com/ GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE (germinaliteratura.com.br)

Nasceu e mora em São Luis do Maranhão desde 2 de março de 1953. Publicou muitos livros de poesia, sempre bem recebidos pela crítica. Autor de 22 livros de poemas. A Poesia sou Eu, Poesia Reunida, 2 volumes encadernados, com aproximadamente 1400 páginas, reunindo 20 livros, Imago Editora, 2012, dentre os quais Em Nome do Filho (Advento de Aquário) e Ópera Barroca: Guia Erótico-Poético & Serpentário Lírico da Cidade de São Luís do Maranhão. Em 2017, dois novos livros de poemas, A Pequena Voz Interior & Outros Comícios do Vento e Maria, A Fortaleza Sutil que Vence toda Força, Editora Penalux. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato, ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo.

VIRIATO GASPAR (Viriato Santos Gaspar) – nasceu em São Luís (MA), em 7/3/1952. Radicado em Brasília desde agosto de 1978. Jornalista desde 1970. Funcionário de carreira do Superior Tribunal de Justiça. Participação em antologias poéticas no Maranhão e em Brasília. Vencedor de muitos prêmios literários, tanto em sua terra natal quanto no Distrito Federal. Bibliografia: Manhã Portátil, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1984); Onipresença (versão incompleta), Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1986); A Lâmina do Grito, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1988), e Sáfara Safra, São Luís-MA (1996). Está concluindo um livro de Salmos em linguagem moderna, e tem dois livros de poemas e um de contos, inéditos. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” "Só agora pude concluir a leitura do Tributo ao Poeta II. (...) Recordei e reli muita coisa conhecida, mas tive a deliciosa surpresa de descobrir o poeta Viriato Gaspar, cujos vigorosos versos me arrebataram preenchendo uma lacuna no meu elenco dos bons poetas contemporâneos." ASTRID CABRAL - Rio de Janeiro, maio de 2010 VIRIATO GASPAR – POESIA DOS BRASIS – DISTRITO FEDERAL - www.antoniomiranda.com.br Página realizada com a colaboração de Salomão Sousa, Angélica Torres e de outras fontes.

Raimundo Fontenelle (2020)107 assim se manifesta, ao falar de Viriato Gaspar, identificando-o como ANTROPONAUTA:

Correndo o risco de tornar-me um blogueiro bissexto (bissexto porque tem sido um parto difícil parir uma postagem) fui à cata de alguma coisa essencialmente nova em termos de poesia e acabei chegando ao refúgio deste meu grande irmão e amigo Viriato Gaspar, o poeta tão essencial ao Movimento

Antroponáutico quanto os outros 4 que lhe fizeram companhia: Cassas, Chagas Val, Valdelino Cédio e este escriba menor. Escrevo isso porque tomei conhecimento de que alguém cujo nome me escapa referiu-se a nós como a geração de Luís Augusto Cassas. É um tremendo erro, engano ou..., deixa pra lá, o próprio Cassas, de quem conheço a humildade humana e a honestidade intelectual refutaria tal assertiva. A nossa geração é a GERAÇÃO ANTROPONÁUTICA da qual todos nos orgulhamos. Nós afundamos navios de cascos avariados, detonamos velhas pontes de madeira a quem o cupim destroçava, e os grandes nomes da literatura maranhense naquele momento, Nauro, Zé Chagas, Arlete, Jomar, Nascimento de Moraes, Bandeira Tribuzi, Carlos Cunha, Domingos Vieira Filho, Alberico Carneiro e outros nos reconheceram os méritos e nos fizeram as honrarias merecidas, publicando 2 antologias e estendo um imaginário tapete voador por onde desfilamos a nossa tola vaidade juvenil.

José Valdelino Cécio Soares Dias, (popularmente Valdelino Cécio)108, enquanto viveu no planeta terra exerceu as funções de poeta, escritor, advogado, folclorista, pesquisador e administrador cultural maranhense. BIBLIOGRAFIA - 2004 – Poesia Reunida Participação em Antologias Poéticas - 1970 – Antologia do Movimento Poético Antroponáutico; 1980 –Esperando a Missa do Galo; 1980 – Hora de Guarnicê Publicações sobre Cultura Popular - 1977 – A Dança do Lelê; 1985 - Tambor de Criuola, Ritual e Espetáculo; 1990 – Memória de Velhos, contribuição à memória oral da Cultura Popular do Maranhão Publicações em Jornais e Períodicos - - Jornal Pequeno; - O Estado do Maranhão; - Ganzola; - A Ilha; Jornalzinho de Turismo Maranhense

VER E SONHAR Onde sonha o verso o inverso é difícil de cantar onde canta o sonho impossível perceber o olhar por mais que seja o nada ainda existe alguma coisa bem maior que seus olhos seu instinto de cão a me procurar

CINCO DA TARDE Deste mirante de mil sonhos perdidos e inexplicáveis miro-te no reflexo das telhas seculares testemunhas de luas e sóis que iluminaram paixões e desejos dos amantes desta cidade Não sei se é miragem se é mentira ou verdade te rever aqui ali acolá enquanto as janelas cinzentas me observam e me distribuem

como essas folhas ao vento na tentativa de te alcançar Mas a tarde se esvai entre os paredões de pedra e suor onde pessoas funcionários comerciários despedem-se do dia a dia sorrindo sem perceberem que meus olhos novamente te descobrem na memória e nos céus da cidade iluminando o poema a vida e o luar

VELHO FOFÃO O poema debaixo da máscara de narigão a pular saltar no espaço da memória assustando gritando ô lá lá ô nesse sonho de fofão O poeta por cima da saudade a cantar chorar no escuro das ruas tropeçando fugundo ô lá lá ô nos olhos da multidão O homem dentro do povo a falar calar entre os dentes da canção reclamando perseguindo ô lá lá ô com a boca e o estômago na mão

SENDA Não se quebra um galho seco Quando a sede é vontade de plantar Não se seca o suor dos olhos Quando está seca a vontade de olhar Nem se olha a secura das nuvens Quando a chuva tardia inundou o mar

TRÊS PONTOS DE VISTA

Vum’ borá rapaz teu tambor ronca como ronca tua barriga de fome teu boi morre como tua esperança

a cada ano mas tua matraca ataca alegria do povo e a gente se esquece o couro do teu boi é o saco do trigo americano e tua toada sai com a voz rouca da cachaça que já é pouca e dá prazer precisão que te arrasta Mas continua irmão que amanhã é domingo e vais poder acordar depois do sol pra assistir teu time perder e ficar lembrando tua última toada “minha sina eu posso afirmar É cantar na porta de mercado Mendigando pra poder te sustentar ê boi ê boi-bumbá”

Convidado Especial: Wilson Martins, "Valdelino Cécio não Morreu"Convidado Especial: Wilson Martins,

"Valdelino Cécio não Morreu" (facetubes.com.br) Por: Mhario LincolnFonte: Wilson Martins

Valdelino Cécil

Valdelino Cécio não morreu

Texto de Wilson Martins (Facebook.com).

Hoje, 29 de setembro, marca a passagem física de Valdelino Cécio para outra esfera. Conheci Valdelino no início da década de 1960, residentes que éramos no Centro Histórico de São Luís, entre Rua das Hortas e do Rancho. Entre as praças de Santo Antônio e Gonçalves Dias. Entre as ruas da Alegria e Afogados. Entre Madre Deus, Beira-mar e Praia Grande. Pesquisador, advogado, técnico em assuntos culturais, poeta, produtor, fomentador e ativista da cultura popular, Valdelino foi também brincante e festeiro. Foi devoto, mordomo e abatazeiro. Nos anos 70, liderou

o Movimento Antroponáutica, ao lado de Chagas Val, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Luís Augusto Cassas, que motivou Jomar Moraes a editar a antologia Hora de Guarnicê – poesia nova do Maranhão, (1975). No semanário Jornal do Maranhão, onde eu trabalhava, reencontrei Valdelino para as edições do Suplemento Literário JM, que publicava além de outros, a safra de poetas do Antroponáutica. Logo depois, estávamos reunidos com Tácito Borralho para criação do Laborarte e, seguimos juntos em alguns movimentos culturais até nos tornarmos colegas de trabalho por muitos anos. Não era raro vê-lo reunido semanalmente com músicos para a criação do Clube do Choro, ou incentivando alguns do Cine Clube de São Luís e outros do Salão de Artes Plásticas. Sincero, cordial e criativo, Valdelino Cécio, hoje, não é só nome de praça de sua cidade, mas patrimônio sentimental de nossa arte e cultura.

Poema do morto na morte do dia o morto a morte o morto a poesia o morto a sorte o morto só ele sabia o morto memória eterna o morto morreu na folia o morto enfim novidade o morto artigo do dia

............................................. Valdelino Cécio não morreu

Praça Valdelino Cecio

Onde fica: Centro Histórico de São Luís – Reviver - Homenagem ao advogado, escritor, pesquisador e poeta da cultura popular do Estado do Maranhão. Também é conhecida como Praça da Pacotilha, pois ocupou o lugar de antigo casarão onde funcionou o famoso jornal “A Pacotilha”, em meados do século XIX, anos 1800. Está situada na Rua do Giz, esquina com o Beco da Pacotiha e propicia aos frequentadores uma bela vista do bairro da Praia Grande. Espaço é utilizado para manifestações culturais, como rodas de capoeira, tambor de crioula e espetáculos de bonecos e de grupos folclóricos.

O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu109 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)110 segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)111 .

Foto: Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio, Luís Augusto Cassas

Natan Castro (, 2016112; 2021)113 , nos traz importantes revelações sobre a formação desse grupo e sua atuação naqueles anos de chumbo; para esse autor:

No início dos anos 1970 cinco jovens poetas maranhenses resolveram propor uma ruptura com a tradição poético/literária do estado. Já vivíamos a segunda metade do século XX e por aqui ainda eram perceptíveis traços do simbolismo e parnasianismo nas obras de poesias que eram lançadas. Os cinco propunham uma renovação urgente no fazer poético no Maranhão. Eram eles Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luis Augusto Cassas, todos poetas genuínos que tinham como interesse maior renovar a poesia no Estado do Maranhão, rompendo com as antigas escolas literárias do Século XIX que tanto influenciaram as gerações passadas. Deles somente Raimundo Fontenele possuía um livro lançado. O nome do movimento é uma homenagem ao poeta Bandeira Tribuzzi, Antroponáutica é o nome de um poema de sua autoria. O poeta inclusive era junto do grande Nauro Machado e José Chagas, os únicos da geração anterior que os Antroponautas enalteciam e citavam como influência.

109 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 110 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de

Educação e Cultura, s.d. 111 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 112 CASTRO, Natan. Literatura Limite: Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime

Militar. In LITERATURA NO LIMITE 113 CASTRO, Natan. In Movimento Antroponáutica - Atitude e Ousadia Poética No Maranhão em Meio ao Regime Militar

Prossegue Natan, em sua narrativa, que foi em 1971 que começaram os encontros num bar no Canto da Viração no centro de São Luís, regadas a cerveja e muita discussão em torno dos caminhos futuros da poesia maranhense:

A princípio o primeiro passo era chamar a atenção da elite literária da capital, o que foi alcançado logo depois que nomes como João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira, Jomar Moraes e Nauro Machado perceberam a chegada dessa nova leva de jovens poetas que buscavam mudanças no meio literário do Maranhão. O reconhecimento devido foi buscado ferrenhamente pelos cinco, quase não havia espaço para publicação de seus artigos e poemas, como muita luta começaram as publicações no Jornal do Dia (jornal comprado pelo Sarney que veio a se tornar o Estado do Maranhão), o Jornal do Maranhão (da Arquidiocese), que tinha um crítico de cinema o José Frazão que também acolheu muito bem as novas ideias do pessoal.

Continua:

Após tanto esforço, de fato o primeiro passo havia sido alcançado, os Antroponautas haviam sido reconhecidos como novos nomes da literatura maranhense. Logo em seguida saiu a famosa Antologia Poética do Movimento Antroponáutica e logo depois foram convidados a integrar um projeto da Fundação Cultural que publicou os cinco juntamente com outros novos poetas na Antologia Hora do Guarnicê.

A seguir a narração detalhada do inusitado lançamento do livro "Às Mãos do Dia”, do Antroponauta Raimundo Fontelene, nas dependências da Biblioteca Pública Benedito Leite:

R - Vocês sabem. A história é feita de fatos, episódios, circunstâncias, eventos, mil acontecimentos distantes um do outro, mas que por esta força grandiosa que é a marcha da vida e da história se conjugam tudo e todos num momento único para deflagrar a coisa, seja revolucionária ou evolucionária, de reforma ou de acomodação. E por essa época aconteceu o lançamento do meu segundo livro individual, o Às Mãos do Dia, que era para ser uma coisa puramente pessoal, mas acabou transcendendo o particular e inseriu-se nessa paisagem do instante que vivíamos: a ditadura militar em todo o seu reinado e esplendor. Querendo fugir daquelas noites de autógrafos costumeiras, que achávamos até enfadonhas, decidimos que o lançamento do meu livro seria diferente. Aí a gente juntaria artes plásticas e música, e lembro do César Teixeira, do Josias, do Sérgio Habibe, do Jesus Santos, do Ciro, Ambrósio Amorim, Lobato, Tácito Borralho, tanta gente. E o lançamento aconteceu na Biblioteca Pública Benedito Leite. Na noite anterior, após tomarmos algumas cervejas, eu, Viriato, Valdelino e outros ficamos na escadaria da Biblioteca Pública conversando e só, de sarro, planejando o lançamento, e cada um saía com a ideia mais louca. Tipo: no lugar de cadeiras para as autoridades íamos colocar vasos sanitários; colocaríamos uma árvore de natal com ratos pendurados, etc.; íamos convocar mendigos, loucos, os despossuídos para tomarem as escadarias da Biblioteca quando as autoridades e convidados fossem chegando. Ah, e no coquetel no lugar de bebida alcoólica serviríamos leite, mas não em taças e sim em penicos. Novos, claro. Naquele tempo a autoridade maior dos estados era sempre o militar mais graduado, no nosso caso o Comandante do 24 BC. Alguém nos ouviu falar aquelas bobagens e levou a sério. O certo é que o Governador foi acordado pelo Comandante do 24 BC que lhe ordenou visse do que se tratava pois algo de muito grave ia acontecer. Fui chamado às pressas no gabinete do Secretário de Educação (que havia permitido que eu fizesse lá na Biblioteca, órgão da SEC, o lançamento do livro), à época o saudoso Professor Luís Rêgo, um homem boníssimo. Quando entrei em seu gabinete levei um susto, pois ao seu lado estava um Major do Exército. Pálido e trêmulo, ali sentei e o professor Luís Rêgo passou a me interrogar a cerca do lançamento e do que estava programado. Neguei tudo. Disse que era mentira. Jamais faríamos uma coisa daquelas e tal. Despachou-me dali, mas me recomendando prudência, e cuidado com o que ia acontecer, pois estavam de olho. Pela cara do oficial do exército nem

precisava de me dizer mais nada. Pois, mais tarde enquanto estava na Biblioteca em companhia do poeta Viriato Gaspar, ultimando os preparativos do lançamento, eis que nos aparece um agente da Polícia Federal. E dirigindo-se a mim diz que estava a minha procura, e porque nada mandara o livro para a Censura, e cadê o livro e tal e coisa, e nos colocou em sua viatura fomos até onde eu residia, pegamos um livro, e enquanto eu lia, o motorista nos levou até a sede da Polícia Federal, naquela época ali na Rua Grande na altura do Ginásio Costa Rodrigues. Novo interrogatório pelo delegado de plantão. O Viriato saiu-se bem nas respostas. E quando o delegado quis saber dos mendigos (olha a subversão) que íamos levar, o Viriato disse que não tinha nada a ver, aquilo era uma peça de teatro que estávamos escrevendo e tão logo ficasse pronta levaríamos lá no Serviço de Censura. O certo é que à noite a Biblioteca lotou. Talvez até curiosos, além de meus convidados, muitas autoridades se fizeram presentes. Secretário de Educação, o Prefeito Haroldo Tavares, e lá atrás de uma daquelas colunas reconheci o agente da PF de nome Mateus, esperando que eu saísse da linha no meu discurso para me grampear. Mas o resultado prático da repressão, que é o cerne desta pergunta, é que nós, os jovens (falo dos jovens em geral e não especificamente do nosso grupo), tomamos rumos diferentes: uns foram para o comodismo da vida privada, outros foram para luta armada, e no meu caso, no primeiro momento, abandonei tudo e embarquei numa carona com os hippies e fiquei vagando pelo país uns três a quatro meses, metido no universo da Contracultura, cujo estímulos vinham da geração beat, e era uma época rica e enriquecedora, chegávamos ao desregramento de todos os sentidos, na vida e na arte, aquilo que o poeta Arthur Rimbaud profetizara um século antes. E a nossa geração foi importante porque abriu caminho pra todos vocês que vieram depois de nós. É o ciclo da vida, quer reconheçamos ou não. Ele existe. Ele é. O Maranhão desde Gonçalves Dias deu inicio a uma tradição literária que continua até os dias atuais, do Romantismo para cá apresentamos ao país e ao restante do mundo, uma quantidade satisfatória de grandes literatos, para não citar outros gêneros da arte. A geração da Antroponáutica que hoje nos parece quase esquecida pelos tais entes da cultura do Estado, possui um papel relevante, quando o assunto é a renovação dessa brilhante tradição. Os cinco jovens poetas buscaram espaço devido, sonharam com as mudanças e ao conseguir colocaram heroicamente seus nomes na história da arte e da cultura do Maranhão. Tudo isso num período onde a náusea artística era vista como algo peçonhento e altamente prejudicial ao poder estabelecido.

Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê”114 – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Para Mesito115 a antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas.

114 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no

Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84.

HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984.

LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 115 MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm

ROSSINI CORRÊA116 - Jose Rossini Campos do Couto Corrêa, poeta, ensaísta, pesquisador nascido no Maranhão em em São Luís do Maranhão, em 8 de setembro de 1955. É advogado, formado pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Possui Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Direito, além de mais de 20 Doutoramentos Honorários. Foi Advogado da Secretária de Planejamento do Estado do Maranhão; Assessor Jurídico do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente no Distrito Federal – CDCA/DF; Chefe do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural – CNPJNC/MINC; Coordenador Nacional da Lei Sarney – MINC; Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário UniEURO; Assessor Especial do Governador de Pernambuco; Secretário da Educação e Cultura de Jaboatão dos Guararapes e Assessor do Centro Universitário de Goiás – Uni-Anhanguera. Também é membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB; do Instituto Ibero-Americano de Direito Público – IIADP; do Instituto dos Advogados do Distrito Federal – IADF e sócio correspondente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ e Professor da Faculdade de Direito do UniCEUB e do IESB, bem como titular do selo jurídico Editora Rossini Corrêa. Sócio-Diretor do Escritório de Advocacia Rossini Corrêa Advocacia & Associados, premiado com o Selo Referência Nacional 2016 – Rio de Janeiro, pela Agência Nacional de Cultura, Empreendedorismo e Comunicação, recebendo a premiação Referência Nacional e Qualidade Empresarial. Rossini Corrêa é Escritor, Jurista e Filósofo do Direito, com mais de 30 livros publicados, entre os quais se destacam: Saber Direito-Tratado de Filosofia Jurídica; Jusfilosofia de Deus; Crítica da Razão Legal; Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias e companheiro de Nabuco; Teoria da Justiça no Antigo Testamento; José Américo, o Jurista; Política Externa Independente: contribuição critica à história da diplomacia nacional; O Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva; Brasil Essencial: para conhecer o país em cinco minutos; e O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade: bases para um contrato social universalista. Pertence à Academia Brasiliense de Letras (AbrL) e foi eleito por duas vezes membro titular do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, no qual foi membro titular da Comissão Nacional de Educação Jurídica. Seus livros mais conhecidos são Canto Urbano da Silva (1984), Almanaque dos Ventos (1991), Baladas do Polidor de Estrelas (1991), Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos (Thesaurus, 2001).

Movimento da Terra, na Praça Gonçalves Dias, em São Luís do Maranhão

O violino da consciência rememora a música dos pássaros vegetais, quando, no crepúsculo, o bolaço de fogo espacial, movimentava-se vagaroso, e naufragava, sem a mínima resistência, no oceano atlântico. Da estátua, Gonçalves Dias a tudo assistia, comovido...

Como um namorado das estrelas, certamente conhecendo os mistérios, esperava, sob paciente convicção, o retorno, indescritível aurora: e o bolaço de fogo espacial, azul cintilava, aquecido no dormitório marítimo. O poeta, artesão do eterno, repetia: "onde canta o sabiá!"

Soneto da Arte Poética

Como escrever um soneto antológico, se o sentimento não for meritório? Tem, o poema, seu universo biológico, sobre a fronteira deste território

verbal, que arquiteta o vôo mágico do sonho, com plumas vestindo o azul. Mas, sem coração e sem cérebro, trágico será o soneto, este cruzeiro sem sul.

— Se o poema é escrito com palavra, a boca há de sentir gosto de sangue e a mão há de pensar a sua lavra...

Do trapézio do verbo quedará exangue, todo aquele que, à procura do infinito, no promontório, canto, viva em grito.

A palavra poética

— Rossini — falaram-me — quando tu escreves (remando chuvas solando ventos roçando terras)

dás às palavras (as falanges roçando de nada leves lavras. ígneos tempos domando) um sentido bíblico ...

— Eu nisso ri, rosado e amarelo de espanto. E, rosnando neste sorriso, havia quanto de dramático espanto ...

— guisa alado e belo — no telhado do hemisfério, acima e afora do reino da sombra, obscuro comando de escombros e de alicerces de abismos, trevas e ruínas. Sem travo e sem prece, ele sabia que, por sobre o muro, a boca (l) (r) (p) ouca gerava manhãs e tardes, como a oficina que anima a aurora. E nela, a translúcida luminosidade, toda liberta de tardas malsãs, escorria, como a caravela, a paisagem em viagem, ora escondendo, ora espelhando, na arcada dramática, a ponte épica e o dente lírico.

CORRÊA, Rossini. Sonetário do Quixote vencedor. Brasília, DF: Thesaurus, 2015. 48 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-409-0388-3 “ Rossini Corrêa “ Ex. bibl. Antonio Miranda

Pobre Quixote que perdeu o caminho, qual é o meu papel nesta tragédia? Imaginei de azul vento e moinho, mas tudo terminou só em comédia...

Cruéis para comigo foram os fados:

(tudo em mim foi dor ou desvario, olhos postos na luz, e já vazados) sempre morrer de calor dentro do frio.

Tanta fatal esperança malograda, tanta rosa de Malherbe fenecida, revolto mar vagando para o nada.

Completamente bêbado, e sem vinho, sem uma gota da verdadeira Vida — pobre Quixote que perdeu o caminho.

ELEGIA DOS VISIONÁRIOS

Avança — Dom Quixote — avança: não tem fim a luz, fatal archote a reinventar o jardim

azul do Éden: avança e, depois da Andaluzia, mesmo Sancho Pança, em sua febril fantasia,

a ti convidará: 'vamos!, que a viagem infinita é o pão que amassamos, e a nuvem, na marmita,

nos alimenta com sonho, nos reinventa, com vinho e nos liberta do tristonho e crepuscular caminho.

E Quixote, todo ancho, colherá um verde lírio e responderá: 'bom Sancho, somos filhos do delírio,

a nossa missão é agora e sempre. A cruz, a rosa e o pavilhão da aurora anunciam a uva licorosa.

Vamos... Vamos colhê-la ali, na rua de toda a terra, na esplendorosa estela que só o nunca descerra.

Brasília, fevereiro 2015

IBÉRIA

Avistei terras de Espanha, de Espanha e de Portugal. E foi uma miragem tamanha, que o azul emocionou a nau. Que o azul lacrimejou o ser, esperto bicho, só de alegria, mascarado, logo a renascer, pintando de colorido o dia. Colorido dia de Espanha, de Espanha e de Portugal: (este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal).

Madrid, julho, 2007.

CAVALO ÁRABE Em Abu Dhabi (no verbo amar) galopo o mar dentro de ti. Estrelas desço sobre o ventre teu, gemente... Cego, alvoreço.

Abu Dhabi, janeiro, 2010.

Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014)117, assim se coloca:

Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo

menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo.

Em outro contato, Corrêa118confirma:

[...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous.

Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neoromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994)119 .

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