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OSVALDO GOMES

OSVALDO GOMES

Membro fundador e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de GuimarãesIHGG, Vice -prefeito de Guimarães Professor de História

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A vida é cheia de grandes desafios e momentos que marcam as nossas vidas. As vezes ficamos com medo de enfrenta-los, outras vezes vamos à luta. Como desafio, aceitei a este convite de Dilercy, pois sei que sou um humilde mortal, sem pretensões de laçar-me na literatura. Aceitei, e como é difícil começar; as palavras fogem, mas, ela também chegam e aos poucos vão preenchendo esta folha, que fará a apresentação desta importante obra de uma mulher simples e visionária que viveu a maior parte da sua vida em Guimarães, no século XIX. Esta cidade do litoral norte maranhense, banhada pela Baia de Cumã, na qual está encantado o Poeta Gonçalves Dias, que no passado áureo tinha como base econômica, a plantação de cana de açúcar, grande produtor de farinha e algodão. Muitos eram os engenhos, muitos eram os povos africanos que vinham da África, de maneira desumana a derramar o seu sangue. Nesta terra, Guimarães, hoje conhecida como a terra mãe, nasceram grandes personalidades, como Sousândrade, Urbano Santos, Monsenhor Estrela, João Pedro Dias Vieira e tantos outros que estão imortalizados nas páginas da História do Nosso País, sem esquecer dos vimaranenses que continuam a escrever com brilho. Esta obra é conduzida por uma mulher extraordinária, a Dilercy Adler, uma imortal, Presidente da Academia Ludovicense de Letras, atualmente a pessoa mais capacitada para falar de Maria Firmina dos Reis, a nossa mestra Regia que deixou um grande legado, e aos poucos vai tornando-se conhecida, estudada, e levada aos quatro cantos do mundo. Neste livro, somos contemplados com duas grandes obras, Gupeva e Cantos a Beira Mar. A primeira, um conto indianista em que Firmina se dedica a a pensar o lugar do índio. Vamos descobrir o jovem marinheiro francês, apaixonado por uma nativa da Bahia. Uma paixão capaz de desafiar a todos e a própria natureza, mas com o passar das páginas, novas surpresas, novos momentos e o leitor fica ansioso, querendo chegar logo ao final, que não poderei contar, pois é surpreendente. Vivemos as cenas e os momentos, é como se estivéssemos ali, acompanhando de perto os passos das personagens, ou como se assistíssemos a um filme, uma telenovela. Gupeva, Alberto, Gastão, e Épica, personagens de um romance forte, uma paixão proibida e separada por dois mundos, duas culturas diferentes: a indígena e a europeia. Gupeva foi pulicado como um romance brasiliense, no periódico semanal, O jardim das Maranhenses, entre os meses de outubro de 1861 a janeiro de 1862. Depois nos anos de 1863 e 1865, no Jornal Porto Livre e outra publicação no jornal Eco da Juventude. Após esse período só vamos poder achar o romance no livro Fragmentos de Uma vida, de autoria de Nascimento Morais Filhos, o responsável pela descoberta da escritora, nos porões empoeirados da biblioteca. Passados 42 anos, uma nova edição do livro mostrará para esta sociedade que chamamos de moderna, que não preserva a natureza, extermina os seus nativos, uma história escrita há 166 anos, continua viva e fazendo refletir sobre a nossa existência e contribuindo como cidadão na preservação da natureza, na busca da liberdade e no respeito pela cultura do outro. A segunda obra que faz parte deste livro, Cantos a Beira Mar, poesias escritas por uma mulher apaixonada, uma idealista que sempre esteve à frente do seu tempo, não tendo medo de escrever a palavra “Liberdade”. Os moradores de Guimarães, cidade que em 19 de janeiro de 2018 completará 260 anos de fundação, e visitantes buscam revigorar as energias do corpo e da alma, no alto da Praça dos Sagrados Corações que

avista toda a Baia de Cumã e uma parte do município de Alcântara, e nas noites o clarão da cidade de São Luís. Uma beleza ímpar admirada por todos. Local onde admiramos o nascer do sol ou da esplendida lua cheia, prateando as aguas da famosa baía, transformando-o num lugar magico e inspirador para qualquer poeta.,

E com toda certeza, desse mesmo local Maria Firmina dos Reis inspirou-se para escrever as suas poesias, que fazem parte do seu livro escrito em 1871, Cantos a Beira Mar. Livro este dedicado a sua falecida mãe: “Minhas Mãe! – as minhas poesias são tuas. É uma lágrima que verto sobre tuas cinzas! acolhe-as, abençoa-as para que elas te possam merecer”. (Cantos a Beira Mar, pág. ). Firmina em seu livro de poesias, homenageia pessoas, enaltece a lua, lembra dos combatentes vimaranenses na Guerra do Paraguai, dedica poemas às amigas, chora de saudade, chora de amor não correspondido, descreve uma tarde em Cumã, a expulsão dos índios que são obrigados a deixarem suas casas e tantas outras situações transformadas em versos. Esta mulher que nós homenageamos, completará no dia 11 de novembro, 100 anos de falecimento. Uma data que não podemos deixar passar em branco pela importância que foi para a Literatura. Atualmente seu nome já consta em raríssimos livros de literatura, seu nome já é mencionado em algumas rodas de conversa. Foi uma mulher forte, revolucionária, que desafiou o seu tempo ao romper as barreiras impostas por uma sociedade, paternalista e escravocrata. Foi além, ousada, determinada, algo que faz falta hoje.

Filha de uma escrava forra, um pai escravo, que não se sabe realmente se existiu. Tirou o negro da senzala, como diz Dilercy, “foi teimosa, ao insistir em desempenhar funções e papeis que não cabiam ´à mulher da sua sociedade”. (Sobre Maria Firmina, 32).

Morreu ao 95 anos, depois de um longo caminhar. Cega, sem poder ver a lua tão bela. Ficou esquecida por um por tempo, até ser lembrada e receber todas as honras que uma mulher maranhense possa receber por tudo que fez por um mundo melhor, mais justo e liberto!

Viva Maria Firmina dos Reis!!! Guimarães 30 de outubro de 2017.

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