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JADIR MACHADO LESSA
Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIDA, Senhora Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras, CERES COSTA FERNADES, Senhora Secretária da Academia Ludovicense de Letras, JUCEY SANTOS DE SANTANA, Senhores Acadêmicos, Senhoras Acadêmicas, Ilustres Autoridades que aqui se fazem presentes, Familiares, amigos e convidados, Senhoras e senhores, Boa noite!
Acima de tudo e antes de mais nada, eu gostaria de agradecer a todos os membros desta excelsa instituição literária, por terem homologado meu pedido de inscrição e escolhido meu nome para fazer parte, junto a este extraordinário grupo de acadêmicos, da Academia Ludovicense de Letras, ocupando a cadeira 37, patroneada pela ilustre escritora e acadêmica ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud.
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Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Estar aqui, neste momento inesquecível, para proferir meu discurso de compromisso e adesão, irreversível e irretratável, aos artigos que compõem o regimento desta academia, tornando-me um imortal da ALL, transcende os limites de minha razão e me coloca em patamares que jamais havia vislumbrado. As forças que comandam nosso universo sócio-histórico conspiraram para que eu estivesse aqui e agora, experimentando outros sabores e outros saberes que a ciência tradicional, no uso obstinado do raciocínio lógico-causal, não consegue definir nem compreender; não por falta de dados precisos, mas sim, por negarse, de início e na maioria das vezes, a utilizar metodologia própria e adequada para lidar com os complexos fenômenos humanos. Neste momento inesquecível, onde me vejo atravessado por grande emoção, percebo que quem utiliza o método teórico explicativo, que norteia as ciências naturais, pouco sabe sobre as emoções que se desencadeiam dentro de cada um de nós humanos, quando nos permitimos voar com as asas da fantasia e da ilusão. Neste momento inesquecível, sinto-me, como aquele candidato, que Platão quase afogou, no tanque de água fria, nos arredores da Academia, sua escola de conhecimento. Nessa ocasião Platão mergulhou a cabeça de um candidato a discípulo, que havia solicitado ingresso em sua Academia, e a manteve submersa, até o limite de tolerância do pobre rapaz. Ao emergir, ainda durante sua primeira respiração, Platão perguntou ao jovem candidato o que mais desejara naquele exato momento, quando estava com a cabeça em baixo da água, no limiar da fronteira espaço-temporal que separa e
distingue a vida e a morte. O rapaz em questão deu a mesma resposta dada por todos aqueles que o antecederam na mesma experiência de violência iniciática: naquele momento, seu maior desejo era respirar. De modo geral, todos aqueles que até então haviam sido submetidos a esta mesma prova ritualística de iniciação, respondiam que seu único desejo era respirar. Então, Platão afirmou, em tom de desapontamento, que o candidato somente seria aceito naquela sociedade do saber quando seu desejo de ingressar na Academia, fosse igual ou superior à vontade de respirar. Esse era o primeiro teste para ser admitido na Academia de Platão. Após aceita sua candidatura, o postulante teria que passar um período de um ano, sem poder dirigir a palavra a nem um dos acadêmicos. Deveria perambular por todos os lugares e por todas as reuniões sem denotar sua presença. Seria um fantasma no meio da multidão que falava, discutia e expressava suas ideias. Com essa determinação Platão queria, apenas, que o neófito aprendesse a ouvir e a meditar sobre os temas e ideais discutidos no plenário da Academia. Depois de um ano de completa abstinência da fala, o postulante iniciava seu segundo ano, distinguindo o que sabia de fato, de tudo aquilo que apenas imaginava saber. No final desse período o neófito já havia concluído o processo de completa desconstrução de seu modo original de pensar, de sentir e de agir.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, imaginem como devia estar se sentindo esse jovem grego, em pleno século IV, antes de Cristo. Todavia, depois de mais outro ano de convívio, aprendizagem e mudanças de atitude, o postulante ouvia de Platão, – para seu espanto e surpresa , em seu terceiro ano de academia, que todo o conhecimento estava dentro de si mesmo. A partir daquele dia, ele teria que encontrar, dentro de si, o conhecimento sobre tudo que lhe rodeava e a compreensão do mundo. Agora, ele podia usar da palavra para perguntar, discutir e apresentar suas ideias no plenário. Ali, ele deveria praticar o método didático desenvolvido por Sócrates, que visa alcançar o conhecimento por meio do diálogo: a maiêutica. O nome Maiêutica, que significa obstetrícia, foi escolhido por Sócrates para homenagear sua mãe Fenarete, que era parteira. Enquanto Fenarete, com seu método, fazia parir corpos, Sócrates, com a maiêutica fazia parir idéias. Ou, como poderia definir Foucault: maiêutica seria o parto de si por si. Mas deixemos Foucault para outro momento porque agora a palavra final deve ser dada a Platão, discípulo de Sócrates por logos vinte anos. Platão, o inventor do Tópos Noetos ou Mundo Inteligível ou, simplesmente, o Mundo das idéias, um lugar abstrato, invisível e inatingível onde, supostamente, habitariam as formas e as idéias perfeitas do bem, do belo e do verdadeiro. Platão parte do princípio que a verdade está em nós, obscurecida pelo manto do esquecimento. Segundo ele, antes de encarnar, todas as almas percorrem o Mundo das Ideias e contemplam essas mesmas formas e idéias perfeitas do bem, do belo e do verdadeiro. Porém, ao nascermos, esquecemo-nos de tudo aquilo que foi contemplado. Assim, segundo Sócrates, precisamos da maiêutica para resgatar aquelas lembranças perdidas. E é exatamente por isso que maiêutica também pode ser compreendida como um exercício de reminiscência.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, Nesse momento inesquecível, sinto que minha responsabilidade se multiplica de forma exponencial quando, no exercício da Maiêitica, dou-me conta de que tenho como patronesse a notável e talentosa escritora ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud, que ocupou, em seu tempo, a Cadeira nº 20, da Academia Maranhense de Letras. Maria da Conceição Neves Aboud nasceu em São Luís, em 10 de julho de 1925 e faleceu no Rio de Janeiro em 2006. Foi uma mulher para além do seu tempo, tanto por seus atributos literários, expressos em suas obras, quanto por suas atitudes ousadas dentro da sociedade em que vivia em sua época. Fez os estudos secundários no Colégio Sion, uma das mais importantes instituições de ensino do Rio de Janeiro. De volta a São Luís, na contramão dos costumes da época, foi trabalhar no estabelecimento bancário de Francisco Aguiar, onde conheceu seu futuro marido, o industrial Alexandre Aboud, de importante família árabe local. A partir do casamento, fixou residência no Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira literária. Publicou o romance Grades e Azulejos, pela Editora Pongetti em 1951. Escreveu Os Galhos do Cedro, publicado em capítulos, na Revista da Semana e Rio Vivo pela Editora O Cruzeiro, no Rio de Janeiro em 1956. Em seguida, publicou, em capítulos, o romance Ciranda da Vida, na revista O Cruzeiro, na época a revista de maior circulação no Brasil. Publicou Teias do Tempo pela SIOGE em 1993, romance que ganhou o Prêmio Graciliano Ramos, da União Brasileira de Escritores. A temática de suas obras estava inteiramente
ligada às suas raízes maranhenses, particularmente à cidade de São Luís dos anos de 1940. Deixou inéditos: O Preço - ganhador do prêmio da Prefeitura de São Luís , Cinza e Rosa e Um Amor de Psiquiatra. Segundo pesquisei, a acadêmica Ceres Costa Fernandes, nossa ilustre Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras e, também membro da Academia Maranhense de Letras, é quem detém, com suas pesquisas bibliográficas, as maiores e mais significativas informações sobre a escritora ludovicense Maria da Conceição Neves Aboud.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, Com o coração e a mente enamorados pela a ideia de viver e trabalhar na iluminada São Luís participei, com sucesso, em 2012 de concurso público na Universidade Federal do Maranhão, para pesquisar e lecionar os fundamentos da Psicologia Clínica, no Departamento de Psicologia do Centro de Ciências Humanas. Confesso que não tinha nenhuma ideia de tudo que haveria de ver e experimentar nesta ilha encantada, situada a quatro graus do equador, onde muitos vultos da literatura deixaram suas raízes fincadas nesse solo fértil, como árvores do paraíso, que nunca deixam de nos oferecer suas flores perfumadas, não apenas na primavera, mas sim, durante todos os meses do ano. A poesia de Gonçalves Dias, imortalizada pelo mundo afora, se materializa em seu busto de pedra em plena Praça dos Amores. As ruas de paralelepípedos luzentes de São Luís, encantadas em prosa, nos romances de Josué Montelo, ainda estão aí, para quem quiser ver e sentir que esta cidade, de desenho e alma portuguesa, ainda existe e existirá para sempre, pelas mãos talentosas daqueles que publicam neste novo ciclo da literatura maranhense.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Eis-me aqui, nesse momento inesquecível, apresentando-me como operário do tempo, para ajudar, naquilo que for preciso, no sentido de enaltecer, preservar, fazer crescer e florescer o mundo intelectual ludovicense, através das suas obras. Não vim para colher flores ou frutos, venho com o firme propósito de ajudar a plantar a boa árvore que floreará e dará sombras para aqueles que estão por vir. Não vim falar dos que se foram, mas honrar suas memórias através do meu trabalho de jardineiro do amanhã. Não vim dividir, mas somar esforços para que o hoje seja sempre um bom exemplo para os que habitarão esta cidade no amanhã.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, No ano de 2017, a vida, como que para compor as prerrogativas de preparo para outras ações acadêmicas, me surpreendeu quando tive meu nome proposto, na Câmara Municipal de São Luís, pelo digníssimo Vereador Dr. Gutemberg Fernandes, para receber o título de cidadão ludovicense, tornando-me, desde então, filho adotivo da Cidade de São Luís do Maranhão. Outro grande evento que vivi nesta Ilha dos Amores, foi meu ingresso na Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES) Secção do Maranhão. Pelas minhas prerrogativas profissionais e acadêmicas, e pelas prerrogativas do Regimento Interno daquela sociedade, que aos poucos descobri tratar-se de uma verdadeira fraternidade, tive o privilégio de ter meu nome adicionado ao maior grupo de homens e mulheres da área médica do Maranhão, dedicados ao cultivo da habilidade de escrever poesias, crônicas, novelas e romances da melhor e maior qualidade, neste novo ciclo da literatura maranhense. Ali, tive minha primeira oportunidade de conviver com pensadores vivos: poetas, cronistas, contistas e romancistas de nível internacional.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Eis-me agora, ingressando na Academia Ludovicense de Letras, recebendo a honra e o privilégio de ampliar minha experiência literária convivendo e aprendendo com este grupo de ilustres pensadores vivos: poetas, cronistas, contistas e romancistas de nível internacional, membros da Academia Ludovicense de Letras.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Não poderia encerrar meu discurso sem antes apresentar e louvar o nome de um dos homens que mais inspiraram e influenciaram minha vida intelectual e profissional aqui na Cidade de São Luís. Ao longo da última década esse homem tem sido meu mentor intelectual, além de um amigo muito querido. Ele tem
me incentivado e me acompanhado, não apenas em caminhadas dominicais no calçadão da Avenida Litorânea, mas também tem me mostrando e apontando as melhores trilhas e os melhores modos de caminhar na vida intelectual e acadêmica. Com ele aprendi, não apenas a respirar o ar puro, vindo do Oceano Atlântico, como também, a encontrar dentro de mim mesmo a devida inspiração que fez disparar minha produção literária e acadêmica. Ele, que talvez como missão, se prontificou a melhorar os meus sentidos e ampliar o horizonte de minhas possibilidades profissionais e existenciais.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores acadêmicos, Não foi Platão e nem Sócrates, mas Natalino Salgado Filho, um servidor de Deus, quem me desafiou a transpor os limites da minha segurança pessoal para que eu pudesse exteriorizar, através dos meus sentidos e sentimentos, tudo aquilo que estava adormecido dentro de mim. Não foi Platão nem Sócrates, mas Natalino Salgado Filho, ocupando o lugar de Mentor e de Psicólogo Honorário, quem realizou o trabalho obstétrico da Maiêutica socrática, ajudando-me a fazer parir o pensador que ora me tornei.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Acadêmicos, É com muita humildade, e sabedor dos meus limites físicos, emocionais e intelectuais, que colocome à disposição desta excelsa Academia, para fazer parte deste seleto grupo de homens e mulheres, que estão acima da vaidade humana, dispostos a contribuir e colaborar com o contínuo processo evolutivo desse povo, honrado e talentoso, que tem todos os motivos para se orgulhar de suas ricas tradições, de sua cultura e, principalmente, de sua postura diante dos fenômenos da vida. Por isso, clamo, nesse momento inesquecível, pelos ancestrais ludovicenses, que construíram a história da literatura maranhense, que abençoem a todos nós, que participamos desta honrada sociedade acadêmica, para que possamos adicionar, com nosso trabalho, novas obras que engrandeçam, ainda mais, a cultura e o povo do Maranhão. Muito obrigado a todos!