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CADEIRA 38 - 1º OCUPANTE - JOSÉ NERES "MARCA DAS PALAVRAS"

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POESIAS

POESIAS

CADEIRA 38 PATRONO - DAGMAR DESTÊRRO E SILVA 1º OCUPANTE - JOSÉ NERES

"MARCA DAS PALAVRAS"

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Capa.

Marca das Palavras, Joiza Costa Nota do Editor: Abri o (Marca das Palavras) e me daparei com algo expressivo: 'Não me faça nó/ Faça-me laço./ Assim poderemos estar juntos/ num só abraço...'. Essa é a Joiza Costa que admiro enquanto ser humano, poeta, professora, amiga e escritora. (Mhario Lincoln). Prefácio:

O Prefaciador. Prof. Neres.

Cerca de um ano antes de falecer – em 1985 – o escritor Ítalo Calvino deixou para os amantes da literatura uma série de cinco ensaios completos e um por iniciar. No Brasil, estes estudos foram publicados enfeixados em um volume intitulado Seis propostas para o próximo milênio, no qual o leitor pode entrar em contato com as ideias do autor de Palomar acerca das seis características que ele julgava essenciais na hora de produzir um texto que pretendesse atingir os leitores do século XXI, momento histórico que ele não chegou a vivenciar, mas sobre o qual teve muito a dizer, não como um exercício de futurologia, conforme ele mesmo explicou, mas sim como observação atenta de uma realidade que rapidamente se aproximava. As seis propostas enumeradas por Calvino são, a saber: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência, sendo que dessa última restou apenas o título, pois o escritor faleceu antes de eternizar seus argumentos no papel. Resta-nos, então, imaginar o que seria dito sobre a prática da consistência em textos artísticos. Contundo, no primeiro ensaio, dedicado à leveza, Ítalo Calvino aprofundou com maestria aquilo que considerava algo leve em literatura, sem, no entanto, desprezar a noção e a necessidade do peso. Para ele. A leveza pode ser exemplificada por três acepções distintas, mas que se completam: a) uma linguagem despojada; b) a narração de um raciocínio ou um processo psicológico que acabe comportando um elevado grau de abstração; c) uso de imagens figurativas que assumam um valor emblemático. Desde seu livro de estreia, publicado em 2020 – Essência da alma: poesias e reflexões – é possível perceber na construção poética da jovem escritora Joizacawpy Muniz Costa um apego à leveza e à suavidade da linguagem, do raciocínio e das imagens poéticas. Mesmo declarando que “Há escombros em minha alma / Os quais eu preciso remover”, é possível perceber que esse peso que incomoda também serve como forma de alívio para quem sabe ser possível desfazer-se dele a qualquer momento. Transformar alguns incômodos problemas da vida em versos e páginas de poesia parece ter sido a opção desde o princípio do eu lírico eleito por essa professora, pedagoga, cronista e poetisa nascida na cidade de Santa Inês, criada em Monção e há alguns anos radicada na capital maranhense. Agora, em seu segundo livro, a escritora continua fiel a seu estilo aparentemente simples, mas que oculta em cada verso algumas das especificidades humanas mais caras e raras. É facilmente perceptível que Joizacawpy Costa não trava lutas com as palavras, mas sim acaricia-as e mantém com cada uma delas uma relação de carinho e de cumplicidade. Em determinado momento ela diz que:

Não quero a obrigação de escrever, Prefiro a leveza das palavras sem rigores A leveza nascida na fonte da simplicidade Gerada nas entranhas dos sentimentos. Leveza que salta da alma Feito sopro de felicidade.

E é esse não forçar as palavras, esse não acorrentar-se às regras impostas pelo artificialismo dos versos, o que aproxima o leitor da obra de Joizacawpy Costa. Ela não demonstra interesse em usar termos e palavras que estejam fora do universo linguístico da maioria das pessoas que leem poemas e crônicas. De certa forma, em seus textos, essa escritora busca ultrapassar barreiras respeitando limites, seus e das pessoas com as quais dialoga. Como boa observadora dos entornos da realidade, ela consegue transformar momentos corriqueiros em pequenas e delicadas obras de arte, seja em verso, seja em prosa. O tom levemente coloquial de seus textos contribui para que a sensação de leveza e de bem-estar do leitor diante das palavras impressas nas páginas de um livro. Essa leveza transparece tanto em seus poemas quanto em suas crônicas. Sendo que há uma considerável diferença na construção e na recepção dessas duas modalidades. Nos versos, percebe-se que o eu lírico dá um mergulho em si mesmo, desnudando-se diante dos olhos do leitor ao apresentar suas angústias, suas palavras ditas e/ou silenciadas por motivos vários e seus desejos. São textos que apresentam um olhar dirigido para dentro, para o interior nublado pelas agruras do dia a dia, mas iluminado pela liberdade de poder livrar- se dos pesos do dia a dia a partir da libertação possibilitada pelas palavras.

Por outro lado, nas crônicas, o olhar do narrador é quase sempre para fora, para uma realidade que incomoda. São pequenos textos que buscam informar o leitor sobre realidades que nem sempre são visíveis a olho nu e que precisam da lupa das artes para serem visualizadas sob ângulos distintos. Nas crônicas, a professora, a pedagoga e a mulher atenta às mudanças cotidianas se sobressaem e, em um estilo que muitas vezes lembra a prosa de Rubem Alves, ela deixa diversas lições de vida e chama a atenção para detalhes que de tão visíveis, estão se tornando invisíveis, graças às inúmeras anestesias metafóricas a que somos submetidos diariamente.

Como “a vida de fato é uma grande escola, aprendemos desde o primeiro sopro de vida até o apagar da última chama”, este novo livro de Joizacawpy Muniz Costa pode ser visto como uma série de pequenas aulas sobre essa leveza que devíamos considerar para distribuir os inúmeros pesos cotidianos que podem nos incomodar. Conforme disse certa vez Ítalo Calvino: “Às vezes o mundo inteiro me parecia transformado em pedra.” Então, nada melhor que usar a arte para nos aliviar desse peso. E cada poema, cada crônica, deste livro é capaz de aliviar esses pesos que carregamos tantas vezes sem nos darmos conta. Literalmente alguns poemas Saltam das minhas mãos inquietas As palavras dominam minha mente E no meu fazer escrito elas são ditas Ainda que eu esteja em silêncio (Joizacawpy Costa)

Imagem cedida pelo autor.

Para a professora Diomar das Graças Motta, Para o poeta Wybson Carvalho: dois pesquisadores da obra de Laura Rosa. Há acontecimentos tão importantes para a sociedade como um todo que acabam eclipsando outras partes da biografia e até mesmo da obra de determinada pessoa. Foi isso que, de alguma forma, aconteceu com a poetisa e educadora Laura Rosa, escritora que adotou para si o pseudônimo de Violeta do Campo e que deixou importantes contribuições para a intelectualidade maranhense. Filha da senhora Cecília da Conceição Rosa com um cidadão que assumiu a paternidade da criança, Laura Rosa nasceu em São Luís, no dia 1º de outubro de 1884, teve como padrinhos o casal formado pelo Dr. Antenor Coelho de Souza e a professora Lucília Wilson Coelho de Souza. Esse contato favoreceu sua formação intelectual, que foi fortalecida por imersões no mundo da leitura e por uma ativa colaboração em jornais e revistas. No final de 1909, ela concluiu as aulas do Curso de Normal, colando grau no ano seguinte. Logo após o fim de suas aulas, foi convidada para ser uma das conferencistas de um evento comemorativo pelo 130º aniversário de fundação da Biblioteca Pública. Na ocasião, apresentou um trabalho intitulado “As Crianças”, no qual traçou um breve perfil histórico de como as crianças eram educadas ao longo dos tempos em diversas sociedades. No segundo momento, dava conselhos relativos a como as mães deveriam cuidar de seus filhos.

Dois anos depois, em 1911, publicou o livro de contos intitulado “As Promessas”. Segundo informações registradas na época do lançamento, os textos dessa obra eram dirigidos tanto ao público adulto quanto ao juvenil. Com narrativas que conduziam a um fundo de moralidade e de noções sobre educação. Infelizmente, ainda não conseguimos encontrar exemplares desse livro, para um maior aprofundamento. Porém, a recepção da obra foi bastante calorosa, sendo recomendada para todos os públicos.

Logo após sua formatura, Laura Rosa passou em um concurso e foi designada para lecionar em uma escola mista no município de Caxias, onde ficou por alguns anos e estabeleceu muitos laços afetivos e profissionais. Depois conseguiu transferência para sua cidade de origem, onde ministrou aula por anos, até sua aposentadoria em 1944. Após o falecimento de sua madrinha, retornou para Caxias, onde novamente foi muito bem recebida e onde veio a falecer, no dia 14 de novembro de 1976, aos 92 anos. Mesmo muito tendo contribuído para a educação e para a literatura do Estado, o nome de Laura Rosa atualmente é mais lembrado por haver sido ela a primeira mulher a ingressar nos quadros da Academia Maranhense de Letras, ao ser eleita para a Cadeira nº 26 da Instituição, no dia 03 de abril de 1943, e ser recepcionada por Nascimento Moraes duas semanas depois, no dia 17 de abril. Sempre discreta, em seu discurso de posse, preferiu silenciar totalmente sobre suas qualidades humanas e literárias e tecer elogiosos comentários ao patrono da Cadeira, o escritor Antônio Lobo, que havia sido seu professor durante sua formação para exercer o magistério. Porém, um pouco do brilho dessa escritora foi destacado por seu sucessor na AML, o professor José Jansen Ferreira, que foi seu colega nas aulas de inglês e que lamenta o fato de os originais da primeira ocupante daquela cadeira não haver sido localizada para ser publicado, já que o anunciado livro de poemas “Castelos no Ar” (ou “Bolhas no ar” – conforme alertou o professora Clóvis Ramos em um de seus estudos) jamais foi localizado.

Os trabalhos de Laura Rosa permaneceram no ostracismo durante muito tempo. Até que a professora Diomar das Graças Motta, em sua tese de doutoramento, recuperou parte da obra e da biografia da escritora, recolhendo, posteriormente, e publicando em forma de livro a conferência “As Crianças” (Edufma, 2017, 53 páginas) e alguns de seus poemas dispersos em jornais e revistas, sob o título de “Poesia Reunida de Laura Rosa” (Edições AML, 2016, 84 páginas). No entanto, é sabido que vários dos poemas de Laura Rosa ainda podem ser localizados em jornais, assim como parte de sua prosa, que ainda não foi explorada e quem sabe um dia pode ser resgatada e transformada em obras que deleitem os admiradores dessa escritora que precisa ser mais lida e analisada. Um exemplo disso é o poema “aquelas Cruzes…” – publicado no Jornal “A Folha do Povo”, de 05 de novembro de 1925, e no qual a escritora mostra a todos nós, de modo bastante simbólico, quão efêmera é a vida e o caminho que invariavelmente será percorrido por todos os seres humanos. AQUELAS CRUZES… Laura Rosa (Violeta do Campo) Vinde comigo, entremos devagar, É francamente aberto este portal. Por que hesitais? É permitido entrar. Olhai de frente a Porta principal. Mas, antes de transpor o patamar, tirai, vos peço, a sandália social. Que podereis, com uma bulha perturbar o sono, que se dorme em leito igual. Meditai dez minutos. Tantas luzes a tremerem na cera derretida! Braços abertos, vede aquelas cruzes… Quase todas nos falam da tortura de arrastá-las, senhor, por esta vida, Neste vale de pranto e de amargura.

"ESTRELAS DE UMA INFINITA CONSTELAÇÃO"

JOSÉ NERES

Parte I. (Autorizada publicação pelo autor).

José Neres (autor) e as autoras-destaque. (Professor. Membro da AML, ALL, Sobrames-MA, Medalha Comendador "Gonçalves Dias", concedida pela Academia Poética Brasileira)

Desde tempos imemoriais, as mulheres se dedicam às artes da poesia. Porém, por razões diversas, nem sempre tiveram oportunidade de publicar seus trabalhos em forma de livros. Em alguns casos, nem mesmo puderam mostrar seus versos guardados em cadernos ou expô-los oralmente. Provavelmente, há muitas escritoras desconhecidas até mesmo no seio familiar. Quem sabe um dia esses manuscritos não sejam recuperados e publicados para que os leitores e pesquisadores de hoje possam conhecer essas autoras e obras que foram silenciadas ontem, mas que podem ecoar no futuro... No Maranhão, nas últimas décadas, muitas escritoras têm publicado seus textos tanto em forma física, em livros individuais e antologias, quanto por vias digitais, em sites, blog e congêneres. Essas novas escritoras não raramente dialogam com o silêncio e veem suas obras relegadas ao esquecimento. No entanto, independentemente da qualidade da obra, a publicação de um livro é um acontecimento histórico que merece ser registrado e o autor ou autora deve ser encorajado(a) a continuar seguindo seu sonho de ser reconhecido(a) por seu trabalho.

Muitos leitores, porém, esperam que cada livro deve ser uma obra-prima e acabam lendo tão somente com a finalidade de encontrar defeitos nas obras ou insistem em tentar comparar quem ensaia os primeiros passos nos campos das letras com pessoas que navegam por longas datas por esses mares nem sempre calmos e acolhedores.

A seguir, comentaremos de modo bastante sintético e superficial (dada a brevidade deste artigo) o nome de algumas escritoras maranhenses contemporâneas que têm publicado seus trabalhos em formas diversas e cujos nomes podem figurar em uma constelação que já conta com poetisas renomadas em nossas letras, como é o caso de Maria Firmina dos Reis, Laura Rosa, Mariana Luz, Lucy Teixeira, Dagmar Destêrro, Wanda Cristina Cunha, Arlete Nogueira da Cruz, Aurora da Graça, Ana Luiza Almeida Ferro, Sônia Almeida, Dilercy, Aragão Adler, Rosemary Rêgo, Lindevânia Martins, Lília Diniz, Sharlene Serra, Laura Amélia Damous, Jorgeane Braga, Luiza Cantanhêde, Silvana de Meneses, Jeane Lima Fiddan, Ceres Costa Fernandes, Conceição Aboud, dentre outras. Este breve texto não tem como objetivo comparar talentos, mas sim registrar a presença dessas escritoras e lembrar que há muitas outras mulheres produzindo literatura em cada município de todo o Estado. Vejamos a seguir nossas escritoras da palavra: Escritora bastante experiente e que de monstra em seus poemas um olhar crítico carregado de sensibilidade ADRIANA GAMA DE ARAÚJO é autora de Mural de nuvens para dias de cinza (2018), TRaNSiTo (2019) e Metábole (2021). Sua obra é carregada de imagens poéticas e pequenas transgressões que visam demonstrar microfraturas pessoais e sociais, mas sem perder de vista a necessidade de buscar as palavras adequadas para construir um cenário poético no qual a palavra é o ponto fulcral de uma busca existencial que não gira apenas em torno de si mesma, mas de toda uma geração. Em determinado poema de seu mais recente livro, ela comenta que “meu poema / hospeda uma sombra / sem segredo conjuramos”. É uma autora de livros relativamente curtos, mas com poemas que exigem atenção máxima por parte do leitor. A professora, bióloga, gestora pública e pesquisadora ASSENÇÃO PESSOA é mais conhecida por suas incursões pelos resgates históricos e culturais de sua terra natal – a cidade de Itapecuru Mirim – e por suas obras de caráter infantojuvenil, mas há um bom tempo ela também se dedica à elaboração de poemas que vieram à luz em obras coletivas e em livros individuais, como é o caso de Recordações (2011) e Lagusa Poemas: orgasmos em dose dupla (2020). Dona de uma dicção poética que preza pela simplicidade vernacular, a autora parece usar a poesia como uma ponte que liga um passado às vezes distante a um presente carregado de metáforas. Mesmo preocupada com as rimas, ela não sacrifica a imagem poética em prol da forma e sabe equilibrar doses de erotismo com abordagens que unem o cotidiano às experiências familiares.

2015 foi o ano da estreia em livro da escritora CLEYDE SILVA, que assina seus Versos Diversos com o pseudônimo Cleyde S. Trata-se de uma poetisa que busca no cotidiano e em suas vivências a matéria-prima para seus versos. A escritora demonstra preocupação com os aspectos formais sem descuidar de pôr em seus versos um pouco de questões pessoais e sociais que lhe causam incômodo, com as diferenças de classes e os problemas que podem advir desses conflitos. Os textos da autora parecem ser extraídos de momentos de decepção e de breves situações de alegria. A funcionária pública, poetisa, artista plástica e cordelista GORETH PEREIRA é autora de algumas obras como, por exemplo, Confissões e Diálogos em poesia (2004), Garimpando poesias e Desejos poéticos (2011) e Maria Firmina dos Reis: uma mulher de atitude (2020). Seus textos primam pela musicalidade e dialogam diretamente com a linguagem do cordel e das vertentes mais populares da literatura. A aparente simplicidade de seus versos pode enganar alguns leitores que podem confundir essa marca estilística da autora com superficialidade no tratamento dos temas. Para Goreth Pereira, praticamente tudo pode ser transformado em arte em suas mais diversas concepções, inclusive a poética. Essência de uma alma (2020) e Marca das palavras (2022) são, por enquanto, os dois livros individuais publicados pela pedagoga, poetisa e prosadora JOIZACAWPY MUNIZ COSTA. Investindo em uma linguagem leve e poeticamente agradável, a escritora consegue transformar acontecimentos aparentemente banais em poesia. Seu grande mote é a essência da vida em suas múltiplas manifestações. Seus livros são geralmente

divididos em duas partes: uma em verso e outra em prosa poética. Em alguns momentos, o tom de angústia (Sou apenas um sopro / Prestes a virar poeira / Nunca me iludi em ter felicidade) contrasta com o desejo de felicidade (À procura de um sorriso / Andei em caminhos / Que ninguém vai). Em sua prosa poética é possível encontrar laivos de suas leituras e de suas experiências docentes, em um tom de agressiva leveza que remete a um Rubem Alves.

A atriz e professora LINDA BARROS estreou em 2012 com Palavras ao vento (que teve nova e definitiva edição em 2018) e recentemente, em 2022, trouxe à luz também o livro Meu ser espelhado em mim. Sua marca maior é o minimalismo da linguagem e a capacidade de compor imagens poéticas em cromos temáticos que refletem a acuidade do olhar com o trabalho e com a linguagem. Essa escritora não demonstra preocupação com métricas clássicas ou com soluções rímicas. Seu interesse maior recai na busca de “pintar” paisagens mentais com o uso de metáforas e metonímias, bem como em homenagear personalidades que fazem ou fizeram parte de seu convívio e que são transformadas em versos. Adepta da forma fixa do Spina, que recentemente começou a ser utilizada, MAURA LUZA FRAZÃO, que participa de inúmeras antologias, estreou em livro solo com Nuances de uma essência, em 2021 e, em 2022, publicou Revisitando memórias em prosa e verso. Seu estilo memorialístico traz à tona passagens vividas e revividas em forma de poemas. Cuidadosa com a forma fixa que adotou como modelo, ela demonstra domínio técnico e diversidade de temas, mesclando, em seu mais recente trabalho, poesia e prosa com abordagens pessoais e um jeito próprio de interagir com os temas que se apresentam. Caso interessante é o de TÂNIA ARRUDA, que escreveu e editou o livro Infinitos Pensamentos (2021), mas que ainda não disponibilizou o trabalho para o público leitor, circulando o livro apenas entre amigos e familiares. Como o título já indica, trata-se de um livro no qual os poemas refletem inquietações pessoais, mas que quando vistas em conjunto, podem representar os anseios de muitas pessoas. O tom nostálgico dos textos, embora possa ter origem em momentos pessoais, encontra ressonância em experiências coletivas e pode servir como ponto de partida para inúmeras reflexões acerca dos debates íntimos que são travados no dia a dia por uma massa silenciosa que nem sempre consegue traduzir sentimentos em palavras. Eis uma pequena amostra de escritoras maranhenses que têm produzido trabalhos interessantes e que podem servir de base para inúmeras pesquisas. Como o espaço é curto, a lista terá continuação no próximo mês.

JOSÉ NERES

José Neres

ESTRELAS DE UMA INFINITA CONSTELAÇÃO – PARTE II "Há muitas outras escritoras que nasceram ou que vivem no Maranhão e que merecem destaque. A relação não se esgota aqui e possivelmente pode dar margens para inúmeros trabalhos de análise".

Há algumas semanas, neste mesmo espaço, comentei, de modo bastante sintético, o nome, a obra e o estilo de algumas escritoras maranhenses contemporâneas que têm produzido obras de excelente nível, mas que nem sempre são lembradas, lidas e estudadas. A lista é sempre vasta e, possivelmente, inesgotável. Contudo, acrescentarei alguns nomes à relação anterior, porém com a certeza de que cairei no inevitável abismo das omissões e dos olvidos.

Nascida na cidade de Arari, a jovem escritora Samara Laís Silva adotou o nome literário de SAMARA VOLPONY e já publicou dois livros de autoria individual – Contramaré (2017) e Lua de Memória (2021) – e tem participado de antologias e coletâneas. A poesia de Samara Volpony reflete não apenas suas leituras, mas também enfatiza uma intrínseca relação entre as diversas perspectivas vividas pelo ser humano. Ela aproveita detalhes aparentemente insignificantes do dia a dia e, a partir de observações pertinentes, traça um percurso poético bastante pessoal e eivado de referências que podem ser compartilhadas com o leitor sem perder as singularidades da autora. Não é à toa que ela constantemente investe em verbos e pronomes em primeira pessoa. Trata-se de um toque pessoal na busca de representar o que sai de si, mas que não é somente seu… é humano, essencialmente humano.

Confissão (Samara Volpony)

aos domingos dói-me o inútil pecado confesso concordo calo ficamos assim. (Contramaré, pág. 40)

Outra escritora que vem se destacando tanto nos terrenos da crítica quanto na produção de textos poéticos é GABRIELA LAGES VELOSO. Coautora (com a professora Jeanne Ferreira) do ensaio “Através dos espelhos de Guimarães Rosa e Jostein Gaarder” (editora Diálogos), ganhadora de diversos prêmios literários e com participação em diversas obras coletivas, ela demonstra um bom grau de conhecimento da técnica de tecer versos associado à capacidade de traduzir imagens mentais em forma de palavras. Em versos geralmente sincopados que obedecem ao ritmo impresso pelo tema do poema, essa escritora não se limita a alinhas palavras em uma folha de papel ou na tela de um aparelho eletrônico, ela procura impregnar seus textos de incômodas verdades que deixam de ser um reflexo exclusivo do eu lírico para tentar atingir o olhar e a sensibilidade de um outro ser (des)conhecido e (i)nominável, mas que que pode habitar as entranhas de quem pousa os olhos nas páginas de sua poesia, conforme pode ser visto abaixo.

Esfinge (Gabriela Lages Veloso)

Calmaria. Grito abafado. Mergulho dentro de si. Várias vozes falam em uníssono. O silêncio é ensurdecedor. Essencial. Inadmissível. Vital. Várias imagens simultâneas. O silêncio é caleidoscópio. Paz. Imposição Espelho. Várias linhas de um mesmo novelo. O silêncio é tecitura. (Antologia Ruas descalças)

INÊS PEREIRA MACIEL é uma escritora e advogada maranhense que tem investido bastante na literatura. É autora do romance Virna (2014), do livro de crônicas Ramas do Tempo (2003), do livro infantil A Menina dos Olhos de Peteca (2014) e do livro de poemas Despida (2008). Seja em prosa, seja em versos, essa escritora preza pela poeticidade das palavras e faz questão de mesclar formas que vão do soneto aos versos livres, mas não descuida do ritmo, que se torna um elemento primordial na construção de seus textos. Seus temas são diversificados e vão desde mergulhos na metalinguagem até rememorações poéticas de passagens de sua infância, passando por observações do cotidiano, questões sociais e declarações de amor. Em seus textos, ela aposta na leveza das palavras e das construções sintáticas. Seus textos podem ser lidos e apreciados por leitores das mais diversas idades e formações sem perda de conteúdo e sem dificuldade de perceber as várias nuances “pintadas” pela autora caxiense em seu percurso poético.

Pétala no Chão (fragmento – Inês Pereira Maciel)

Vamos, jogue fora essa solidão, Pois a poeira é pétala do chão… Lance o olhar além da escuridão, Pois a poeira é pétala do chão… Plante a semente da nova ilusão, Assuma todo o risco que é viver, Recomece, refaça sem temer,

A médica e escritora maranhense que há muitos anos adotou o Maranhão como morada, MÁRCIA SOUSA é uma escritora que, até onde sei, ainda não publicou um livro individual de poemas, mas que tem tido relevante participação no âmbito literário maranhense, participando de recitais e antologias. Seus poemas costumam trazer temas ligados tanto à saúde física quanto à mental em uma dicção bastante pessoal e que instiga o leitor a imaginar o que existe por trás das palavras não ditas. Em linhas gerais, a ideia de Márcia Sousa em seus poemas não é deslindar para os leitores o que poderia ser dito com outras palavras, mas sim demonstrar que é possível compor versos simples, mas com conteúdo.

Segredo (Márcia Sousa)

Atrás da porta Há um segredo Um medo Um desejo Há uma espera Uma cama Uma vela Há um espinho Um caminho Sem volta. (V Antologia Sobrames-MA, pág. 184)

A também médica e escritora SOCORRO VERAS costuma trazer em seus versos as vivências do ambiente hospitalar, mas tratados de forma poética, de modo a não chocar quem não esteja habituado a esse meio. Em alguns momentos, seus poemas remetem a orações proferidas no intuito de salvaguardar quem esteja ou se sinta desprotegido nas desconfortáveis situações de enfermidade. Ela deseja de alguma forma “transformar as dores em flores”. Mas também seus versos, em alguns momentos, remetem a um erotismo velado, como pode ser antevisto em seu livro de estreia, já algumas vezes prometido, mas, ao que parece ainda não publicado, que tem como título “Eu, Nua e Pura: 100 poemas por amor”. Uma breve amostra dessa carga de sensualidade feminina pode ser vista no poema abaixo, originalmente escrito todo em letras maiúsculas, como ocorre em vários poemas da autora:

EXPLICANDO LÁGRIMAS (Socorro Veras)

VENTO DE MAR ÁGUA DE CHUVA PINGOS DE SUOR GOTAS DE PRAZER (V Antologia Sobrames-MA, pág. 321)

Há muitas outras escritoras que nasceram ou que vivem no Maranhão e que merecem destaque. A relação não se esgota aqui e possivelmente pode dar margens para inúmeros trabalhos de análise.

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