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CADEIRA 40 - 1º OCUPANTE - ROBERTO FRANKLIN MINHAS MÃOS INOCÊNCIA

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POESIAS

POESIAS

CADEIRA 40 PATRONO – JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS 1º OCUPANTE - ROBERTO FRANKLIN

Minhas mãos

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Através delas Mostro o meu lado oculto Mostro, através de poemas Sentimentos perdidos Sentimentos que não encontrei Sentimentos que vivi. Através delas Mostro aquilo que não conquistei Mostro a falta de um abraço Aquilo que teus lábios Me negaram, mostro a tua falta. Meus poemas revelam o que Existe em mim O que me foi negado assim como O que vivi.

Inocência

Gostaria de voltar a terras inocentes Que um dia pisei Onde o olhar nos dava prazer Onde as mãos tocadas Guardavam o perfume roubado Onde um abraço levava a sonhos E a tentação de beijar-te Não passava de uma vontade

SONHO VAZIO

Um lugar distante o rio à porta

PAI

o silêncio a falta de alguém a esperança no amanhã o esquecimento do que passou. A rotina de um dia, a chuva que cai... tudo isso faz parte de uma vida tudo isso seria belo se não fosse um quadro a imagem descrita a imaginação solta. A falta da realidade um sonho... a realidade outra maltrata, o sonho não é real.

Gostaria de mais um minuto Para que o tempo se transforma-se em infinito Este minuto seria para te contemplar Para ti sentir novamente teu perfume Para poder conversar. Queria somente um minuto Para olhar tua face sorrindo Para te vê novamente chegando Para, aos domingos dividir a mesa contigo Pai, como você faz falta Por isso queria somente mais um minuto Só para olhar e dizer Foste maravilhoso como pai. Meu amor eterno.

Navegar no prazer

Velas abertas, oceano ao nosso dispor O vento soprando, o sol nos envolvendo. Braços abertos, teu corpo a meu prazer Perfume no ar, luz a brilhar. E assim me pareço como um barco a navegar. Pelo teu corpo sedento de tentações Navego ao sabor de tua brisa No sentido do teu olhar Sinto teus carinhos no silêncio de um oceano. Sussurras ao meu ouvido o prazer Palavras ditas ao vento, só o teu calor Ainda fica, penetra, esquenta minha alma Nesse momento nosso o que pensar? És minha Sou teu Navegaremos nesse intenso prazer.

ROBERTO FRANKLIN

Das lembranças que ainda tenho como ouvinte de rádio, uma na semana passada veio à tona, a prima Cláudia, pelo WhatsApp, perguntara o nome da música que fazia o fundo musical de um programa que gostava muito de ouvir com o meu pai. Tratava-se do programa “A Difusora Opina”, um programa jornalístico transmitido pela Difusora AM 680, “a poderosa”, tendo a produção e apresentação do grande jornalista escritor membro da Academia Maranhense de Letras, Bernardo Coelho de Almeida, o fundo musical era a música “Contrasts” interpretada pela Alumni Band. A Rádio Difusora foi fundada pelos irmãos Bacelar, ela foi a terceira rádio em São Luís – MA, foi ao ar no dia 29 de outubro de 1955. Os irmãos Bacelar foram pioneiros na comunicação em nossa cidade. Oito anos depois, inaugurava-se a primeira emissora de TV de nossa cidade. Era sempre assim, todos os dias, com exceção de sábado e domingo, almoçávamos na casa da minha avó materna, Dona Flora, e pontualmente às 12:00, na Rádio Difusora 680 AM, “a poderosa”, ouvíamos o programa “A Difusora Opina”, ouvíamos pelo rádio a voz de Bernardo Coelho de Almeida, com fundo musical, como afirmamos, da música “Contrasts”. Inesquecível o programa, no momento da sua transmissão era um silêncio, todos nós parávamos de falar para escutar o grandioso Bernardo Almeida lendo suas crônicas. Bernardo Coelho de Almeida era maranhense de São Bernardo, nascido em 27 de julho de 1927. Em 1938, já em São Luís foi seminarista no Seminário de Santo Antônio. Mais tarde foi estudar no Colégio Maranhense, dos Irmãos Maristas. Foi transferido depois para as cidades de Parnaíba e, posteriormente, para Fortaleza –CE, onde continuou os estudos. Voltando para São Luís, terminou seus estudos no Liceu Maranhense. Faleceu em São Luís em 04 de agosto de 1996. Em São Luís, o escritor, poeta, romancista e cronista iniciou-se na imprensa escrevendo para o Jornal do Povo, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, O imparcial, onde semanalmente escrevia suas crônicas “Ponto de Prosa”. Foi membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira de número 14, patroneada por Nina Rodrigues, tendo como seus antecessores os escritores Achiles Lisboa e Odilon Soares. Ele foi presidente da Fundação Cultural do Maranhão, adido cultural do Brasil na Embaixada do Peru, e diretor da TV Difusora, de São Luís. Dentre tantos livros deixados, um que marcou muito foi o seu último livro com o título de “Éramos felizes e não sabíamos”, onde ele retrata nossa cidade dos anos de 1950 e 1960. Voltando ao programa da Difusora 680 AM, “A Difusora Opina”, dentre tantas crônicas, uma na época me chamava a atenção: foi uma crônica dedicada ao imortal recentemente eleito, Fernando Braga, que na época estava iniciando nas letras. Na crônica ele escreve sobre o nascimento de vários escritores jovens com bastante talento para as letras dentre, os quais o nosso, Fernando Braga. Abaixo, transcrevo a crônica escrita pelo nosso saudoso Bernardo Coelho Almeida:

“Bernardo Almeida: A Difusora Opina, São Luís, 4 de março de 1968. “A poesia maranhense – essa que é motivo de glória para nós, pois tem suas raízes cravadas no mais profundo de nossa tradição de cultura – permanece viva e cada vez mais se fortalece com a contribuição de jovens e surpreendentes autores. Jovens e surpreendentes como um que se chama Fernando Braga, cuja estreia se deu há pouco tempo, com o livro Silêncio Branco.

Fernando Braga, até então desconhecido pelo público, era um convivente assíduo de nossas rodas literárias, onde surgiu depois de ter passado algum tempo fora, no Rio e em Brasília. Graças à colaboração do Departamento de Cultura, ele pode ver o seu primeiro livro publicado, e publicado com aquela magnífica alegria do poeta estreante com o entusiasmo da crítica.

Prefaciado por Erasmo Dias, uma espécie de mestre de nossa mocidade, e com recomendação do acadêmico Domingos Vieira Filho, Fernando Braga encontrou amplamente abertas as portas do mundo que acariciava desde quando tomou consciência de que a poesia viria a ser a constância de sua existência. Em nosso comentário, não temos por norma examinar a obra literária de autores maranhenses. Cabe-nos sempre a agradável tarefa de saudá-la e recomendá-la ao público, de promovê-la com o prazer natural de quem deseja um Maranhão cada vez maior em cultura. De um modo geral, os poemas de Fernando Braga são bons. Comunicativos e repassados do mais suave lirismo, eles correspondem ao tipo de poesia fácil, compreensível, sem que lhes faltem uma técnica moderna, ritmo e beleza. Fernando Braga é um poeta de grande futuro, de belas perspectivas. É fluente e natural. Superadas as falhas inevitáveis de todo estreante, ele partirá, sem dúvida para horizontes mais largos ao mesmo tempo em que mergulhará mais na profundeza da poesia, que quanto mais profunda é mais bela, misteriosa e eterna. Não temos o menor receio em afirmar que Fernando Braga tem um futuro promissor em nosso mundo literário. Achamos que o melhor, o que é mais válido numa estreia – além do mérito inerente à obra poética, é aquele compromisso, aquela necessidade que o autor sente em ir adiante. E o autor de Silêncio Branco poderá ir mesmo muito mais adiante em poesia.” Pois bem, assim termina mais uma vez o saudoso programa “A Difusora Opina” que através da lembrança da música “Contrasts”, traz a poesia de Fernando Braga, e a minha infância, relembrando momentos marcantes em companhia de meus familiares.

ROBERTO FRANKLIN

Por muito tempo pensei em entrar naquela casa que ao longo de minha adolescência morei, saindo de lá quando eu me casei, por muito tempo ou todas as vezes que passava pela Rua 13 de maio, algo me chamava, algo puxava minha atenção em direção a aquela casa, de número 340, onde por muitos anos convivi, casa que por muitos anos tive alegrias e tristezas, amores vivos e amores perdidos, vozes que me acariciavam e que também me chamavam a atenção. Casa que procurei sempre traçar meu destino, de sonhar um futuro e moldá-lo para que fosse digno, traçar talvez um destino me transformar em um adulto não sonhador como era minha infância e adolescência, alguns sonhos hoje viraram realidade, outros não. Lá encontrei o amor que por quarenta e cinco anos convivo, lá mostrei para meus pais, seus netos, lá a cada manhã idealizava o que realmente pretendia ser e ter. Engraçado, de todos os sonhos realizados ou não, nunca imaginei em ser escritor, ser um poeta e cronista, ser um acadêmico, mas através de sonhos sempre direcionado ao amor talvez tenha sem que eu percebesse me levado a ser o que sou. Ali deixei uma boa parte de mim, na rua onde está a casa que a princípio era amarela, cor que significa felicidade otimismo, lá fui feliz, lá era otimista em relação ao meu futuro. Pois foi no sábado passado, após ir até a Livraria Café Guará, apanhar um livro do poeta Fernando Abreu: a livraria fica em um sobrado que muito me traz recordações, se localiza na esquina da treze de maio com Afogados. Assim vestir-me de coragem, sabia que sairia de lá triste, sairia de lá melancólico, fui até lá em busca de minhas recordações, de meus entes que já partiram, mesmo que fosse somente olhando minhas lembranças. Por mais ou menos uns trinta anos não entrava na referida casa, sentia ao passar por lá algo que me chamava, algo que deveria rever, que deveria recordar. Devagar, tremulo, cheguei ao portão, minhas mãos acariciaram aquele ferro pintado de branco, que por muito tempo foi apoio para subir ou descer, assim entrar naquele corredor que até hoje guarda o mesmo piso, notei que na parede o relógio da antiga Cemar não estava lá, assim como aquela foto de uma criança e sua mãe, notei que no corredor havia uma escada de ferro que levava ao segundo andar, lá onde hoje funciona uma ótica ficava o quarto que era o quarto onde dormiam eu e meus dois irmãos, confesso que não tive a coragem de subir, pedi licença me identificando e entrei na sala, ali onde assistíamos a tv, notei que tudo estava diferente, logo depois ficava uma segunda sala onde fazíamos as refeições, imediatamente vi que nada mais era como antes também, haviam modificado minha casa, a sala da frende logo na entrada ouvia sempre aos sábados músicas, eu e minha mãe em uma radiola hifi longa comprada por meu pai na Importadora Maciel. A mesa, local onde reuníamos a família já não estava lá, assim como uma escada que nos levava ao segundo andar, local que ficavam dois quartos que como falei, um era onde nós três, os irmãos dormíamos, e o outro para as minhas irmãs que moram em Belém e que quando vinham para São Luís ficavam nesse segundo quarto, também não estava, demolida ou encoberta por uma parede, a emoção não me deixava vê. Nas minhas lembranças não mais ouvia as vozes de minha mãe e do meu pai, de repente visualizei a parede em azulejo azul colocado lá para impedir as infiltrações que vinham do vizinho, foi o único detalhe preservado naquele ambiente. Através de lembranças fui em direção ao quarto dos meus pais, tive a vontade de voltar e sair, ali não era mais um quarto e sim uma financeira, o quarto logo após o do meus pais nem tive a coragem de perguntar, como gostaria de rever no quarto que era dos meus pais a penteadeira da minha mãe onde encontrava sempre uma bomba de laquê e os seus perfumes, era usada sempre quando ia trabalhar, eu senti esse momento, resolvi então sair, ao agradecer e me despedi fui até uma porta, porta essa que separava a sala de um pequeno terraço onde um muro ondulado e recoberto por um azulejo amarelo já não estava lá, vi perfeitamente as grades de segurança na janela do quarto dos meus pais, eram as mesmas .

Lá naquela casa vivi bons e maus tempos, lá eu morei após casar por mais ou menos um ano, sempre aos domingos ia encontrar meus pais e meus irmãos, lá sonhei, sorri e chorei por causas ganhas e perdidas, lá me preparei para o futuro, lá amargurei muitas derrotas, lá hoje senti saudades, fui em busca dos meus sonhos que foram formados lá, pensei em pelo menos ouvir as vozes dos que partiram, notei apenas que a casa de hoje era menor do que a casa em que morei, talvez pelos ocupantes que lá estavam e talvez nunca sonharam como eu sonhei.

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