2 minute read

INACIO RAPOSO

(1875 - 1944) Poeta e jornalista e desenhista maranhense, formou-se em arquitetura pela antiga Academia Nacional de Belas-Artes.

PAQUITA E COTINHA

Advertisement

Eu tive uma irmãzinha, a que morreu criança, Mais loira e mais gentil que as loiras alvoradas; Nos olhos infantis a luz serena e mansa Tinha o brilho ideal das brancas madrugadas.

E morreu a sorrir. Na lousa em que descansa Vão gemer, à tardinha, as rolas concentradas... Viveu como o brilhar da estrela da esperança; Morreu como o rubor das rosas perfumadas.

Foi-se, alada, a primeira e resta-me a segunda, Alegre rapariga, olímpica, jocunda, Como os sonhos do amor e os risos da bonança.

Qual será mais feliz? Não sei como decida... Se a virgem donairosa a despertar na vida, Se o loiro querubim que adormeceu criança.

A PÉROLA

Nasci no mar. Num côncavo rosado, Serena apareci; Mas finou-se a idéia do passado, Da concha em que nasci...

Sobre o nevado colo em que repousa, Longe do frio mar, Descubro a cada instante um novo gozo Que me leva a sonhar.

Prefiro, assim, viver no colo dela, Todo feito de amor, Mas que não tem penhasco, nem procela, Nem ríspido furor!

Tal murmurava a pérola sentida,

Quando uma gota cai, Uma lágrima triste como a vida, Sobre o colo de Aglae!

- Líquida pérola, o que vens sozinha Neste mundo buscar? Perguntava-lhe a pérola que tinha Visto a jovem chorar.

- Venho do amor, das tormentosas mágoas De um triste coração, Como surgiste, Ó pérola! das águas, Das águas da amplidão.

- Sonha em meio seio, e transformada em breve, Qual Niobe a carpir, Numa pedra mais fria do que a neve, Poderás me sorrir... - Não n'o farei!... Mais tarde convertida Num ligeiro vapor, Irei, nas nuvens, procurando a vida, No espaço, recompor.

Como és feliz! Em noite constelada, Sob o noturno véu, Brilharás como a estrela da alvorada Que cintila no céu.

Responde a gota: - Invejo-te a ventura, Ventura que me atrai: Ficarás a dormir serena e pura Sobre o colo de Aglae!...

TÂNTALOS

Não poderei ter de certo os olhos sempre enxutos Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito: Sedento - vê debalde um córrego infinito; Faminto - vê debalde os floridos produtos!...

Ante um castigo tal, que apiedava os brutos Leve talvez pareça um bárbaro delito!... Foge sempre a torrente ao mísero precito E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!

Há Tântalos também na vida transitória: Querem estes a lympha e os pomos do talento, E morrem no hospital para viver na história.

Desditosos que são... no malogrado intento!... Longe de haverem ganho os loiros da vitória, Encontram no sepulcro o eterno esquecimento! (Cânticos, 1910)

This article is from: