INÁCIO RAPOSO265
(1875 - 1944) Poeta e jornalista e desenhista maranhense, formou-se em arquitetura pela antiga Academia Nacional de Belas-Artes. PAQUITA E COTINHA Eu tive uma irmãzinha, a que morreu criança, Mais loira e mais gentil que as loiras alvoradas; Nos olhos infantis a luz serena e mansa Tinha o brilho ideal das brancas madrugadas. E morreu a sorrir. Na lousa em que descansa Vão gemer, à tardinha, as rolas concentradas... Viveu como o brilhar da estrela da esperança; Morreu como o rubor das rosas perfumadas. Foi-se, alada, a primeira e resta-me a segunda, Alegre rapariga, olímpica, jocunda, Como os sonhos do amor e os risos da bonança. Qual será mais feliz? Não sei como decida... Se a virgem donairosa a despertar na vida, Se o loiro querubim que adormeceu criança.
A PÉROLA Nasci no mar. Num côncavo rosado, Serena apareci; Mas finou-se a idéia do passado, Da concha em que nasci... Sobre o nevado colo em que repousa, Longe do frio mar, Descubro a cada instante um novo gozo Que me leva a sonhar. Prefiro, assim, viver no colo dela, Todo feito de amor, Mas que não tem penhasco, nem procela, Nem ríspido furor! Tal murmurava a pérola sentida, 265 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/inacio_raposo.html