MARANHAY 57 - MARÇO 2021: EDIÇÃO ESPECIAL - OS ATENIENSES, VOL. III

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MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

ANTOLOGIA:

ATENIENSES [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011

VOLUME III

MIGANVILLE – MARANHÃO EDIÇÃO 57 - MARÇO DE 2021


A

presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


EDITORIAL

A “MARANHAY – REVISTA LAZEIRENTA” é sucessora da “REVISTA DO LÉO”, e continua em seu formato eletrônico, disponibilizada através da plataforma ISSUU – https://issuu.com/home/publisher.

Ao decidir-me pela construção de uma antologia que comportasse literatos ludovicenses – nascidos na cidade do Maranhão e/ou que tiveram sua vida ligados à São Luís – os Confrades da Academia Ludovicense de Letras fizeram algumas restrições. Primeira, que uma Antologia da Academia Ludovicense deveria conter apenas literatos à ela ligados... segunda, de que apenas os nascidos na capital do Maranhão... terceira, que deveria se começar pelos Perfis Acadêmicos... Já havia iniciado o levantamento, haja vista que até aquele momento não tínhamos ainda formada a Comissão encarregada, um dos primeiros ‘protestos’ pela obra que se iniciava, e que seria muito cedo... idéias que não compartilho. Então, é uma obra de dupla mão – a que atenda ao Estatuto e Regimento Interno, e submetida à apreciação da Comissão, no que já foi feito, e um trabalho particular, que farei enquanto pesquisador, e, já decidido, terá a chancela da ALL, mas não será dela: o autor sou eu! Assim, teremos pelo menos sete volumes, assim distribuidos: - Volume I - Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Fundadores; já publicado; - Volume II – Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Primeiros Ocupantes. Este volume só será possível concluir quando as 16 cadeiras restantes foram ocupadas; na ALL – como em todas as Academias de Letras, seguindo a tradição da Academia de França – são 40 (quarenta) Cadeiras; 25 (vinte e cinco) preenchidas no momento da fundação, restando 15 a serem complementadas, destas, sete já têm os primeiros ocupantes; e já tivemos o falecimento de um dos fundadores... Os volumes seguintes serão trabalho independente, como já dito, sendo: - Volume III – Os Ludovicenses – uma antologia, que abrigará literatos nascidos em São Luís, e que pertencem aos quadros da ALL – patronos, fundadores, primeiros ocupantes, até o ano de 2014; - Volume IV – Os Atenienses – literatos nascidos em São Luis, mas que não fazem parte da ALL, pertencendo a outras instituições culturais-científicas – AML e IHGM – e a alguns dos movimentos literários que se formaram na cidade, principalmente a partir da década de 30, século passado, até o momento atual. Dividido em dois volumes, sendo que o primeiro


abrangerá os membros da AML, e até a Geração de 30; o segundo volume, a partir do Movimento da Movelaria Guanabara – anos 50, até a atualizade (2014). - Volume V – Mulheres de Atenas – volume destinado apenas às literatas – exigencia das senhoras Confreiras, que desejam estar em destaque; não é um movimento separatista, pelo menos de parte do sexo masculino da ALL, mas como com elas não se discute... como são poucas, em relação aos homens, em um unico volume estarão aquelas ligadas à ALL, e a outras instituições/movimentos, nascidas ou não em São Luis, mas com sua vida literária ligada à cidade... - Volume VI – Alhures – volume dedicado àqueles literatos ligados à cidade de São Luís, mas que não nasceram nela... mesmo assim, Atenienses... Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção2, constituíram-se em importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscou-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sitios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... Alguns autores listados foram objeto de edições especiais: https://issuu.com/home/published/revista_all__n.6__v3__julho-setembro_2019_-_suplem https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__24.1_-_setembro__2019_-_edi__o_esp

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR

1 MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 2 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.


SUMÁRIO EDITORIAL SUMÁRIO BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE LITERATOS LUDOVICENSES - aml ALVARO SERRA CASTRO ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LÔBO ANTONIO MARQUES RODRIGUES ANTONIO MARTINS DE ARAUJO ARMANDO VIEIRA DA SILVA ARNALDO DE JESUS FERREIRA ASSIS GARRIDO AUGUSTO TASSO FRAGOSO BENEDITO BARROS E VASCONCELOS CARLOS ALBERTO MADEIRA CLODOMIR SERRA SERRÃO CARDOSO FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA GODOFREDO MENDES VIANA I. XAVIER DE CARVALHO IVAN CELSO FURTADO SARNEY COSTA JERONIMO JOSÉ DE VIVEIROS JOAQUIM MARIA SERRA SOBRINHO JOSÉ AUGUSTO CORREIA JOSÉ CARLOS LAGO BURNETT JOSÉ DE ALMEIDA NUNES JOSÉ DE JESUS LOUZEIRO JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA JOSÉ JOAQUIM RAMOS FILGUEIRAS JOSÉ NASCIMENTO MORAES JOSÉ RIBAMAR PINHEIRO JUSTO JANSEN FERREIRA LUIS CARLOS BELLO PARGA MAGSON GOMES DA SILVA MANUEL ÁLVARO DE SOUSA SÁ VIANA NONNATO MASSON PEDRO BRAGA FILHO RAIMUNDO CLARINDO SANTIAGO RAUL ASTOLFO MARQUES RAUL DE AZEVEDO RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA WALDEMIRO ANTONIO BACELAR VIANA OUTROS ATENIENSES... AMERICO GARIBALDI DE AZEVEDO ANTONIO AUGUSTO D´AGUIAR (TONICO MERCADOR) ANTONIO MIRANDA BENEDITO JOSÉ MARTINS COSTA FERREIRA CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES EDUARDO BORGES OLIVEIRA EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA FRANCISCO GAUDENCIO SABBAS DA COSTA FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR FRUTUOSO FERREIRA INACIO RAPOSO HUGO VIEIRA LEAL JOSÉ JOAQUIM FERREIRA DO VALE LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO

3 5 7 56 57 61 62 65 66 68 72 74 75 77 79 80 82 85 90 95 98 101 103 104 105 109 112 114 117 119 120 122 124 125 126 127 131 133 140 144 156 162 166 167 168 169 173 174 176 178 179 181 182 185 184 187 188


MANOEL NUNES PEREIRA RONALDO COSTA FERNANDES SALOMÃO ROVEDO WELITON CARVALHO ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA GERAÇÃO DE 30 OSWALDINO MARQUES SEBASTIÃO CORRÊA CENTRO DE CULTURA “GONÇALVES DIAS” ERASMO DE FONTOURA ESTEVES DIAS HAROLDO LISBOA OLIMPIO TAVARES JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO JOSÉ VERA CRUZ SANTANA REGINALDO TELLES DE SOUSA

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BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 Antologia, de acordo com a Wikipédia3, (ανθολογία ou "coleção de flores", em grego), é uma coleção de trabalhos literários (ou musicais) agrupados por temática, autoria ou período. A palavra vem do nome da mais antiga antologia que se tem conhecimento, organizada pelo poeta grego Meléagro. É usado para categorizar coleções de obras curtas, tais como histórias curtas e romances curtos, em geral agrupados em um único volume para publicação. Refe-se a coleção de trabalhos literários. T. S. Eliot, em O que é poesia menor? 4, nos assegura que o valor primordial das antologias, como de resto de toda literatura, é “nos dar prazer, embora outras serventias possam prestar aos leitores interessados”. Entre elas, assinala o poeta-crítico, “as antologias são uteis porque ninguém tem tempo de ler tudo, e existem poemas dos quais apenas algumas passagens permanecem vivas” (in BARBOSA FILHO, 2004)5. No Maranhão, foram publicadas, já, várias antologias que se tornaram clássicas, como: Parnaso Maranhense, de Gentil Homem de Almeida Braga; Panteon Maranhense, de Henriques Leal; Os novos atenienses – subsídios para a história literária do Maranhão, de Antônio Lobo (2008, 3 ed.), a do cinquentenário da Academia Maranhense de Letras, Antologia AML 1908-19586, de Mário Meireles; Arnaldo de Jesus Pereira; Domingos Vieira Filho (1958; 2008); para a construção da presente antologia recorreremos a elas, sempre que necessário, mas a principal fonte será Clóvis Ramos: Nosso céu tem mais estrelas – 140 anos de literatura maranhense (1972); Onde canta o sabiá – estudo histórico-literário da poesia do Maranhão (1972); Roteiro literário do Maranhão – neoclássicos e romanticos (2001); Rossi Corrêa, com O modernismo no Maranhão (1989); Formação social do Maranhão – o presente de uma arqueologia (1993); e Atenas Brasileira – a cultura maranhese na civilização nacional (2001); Jomar Moares com seu Apontamentos de literatura maranhense (1976); e quando necessário nos Perfis Academicos da AML (1993); Assis Brasil e A poesia maranhense no século XX (1994); Arlete Nogueira da Cruz, com o seu magistral Sal e Sol (2006); José Henrique de Paula Borralho, com Uma Athenas equinocial – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro (2010) e Terra e Ceu de Nostalgia – tradição e identidade em São Luis do Maranhão (2011); e por fim, Ricardo Leão: Os atenienses – a invenção do cânone nacional (2011). Leão (2011)7 refere-se à utilização do terno atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão:

3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Antologia 4 ELIOT, T. S. Ensaios de Doutrina Crítica. Lisboa: Guimarães Editores, 1977, citado por BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. 5 BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. 6 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958. Edição fa-similar comemorativa do centenario de fundação da Academia Maranhense de Letras, AML, 2008. 7 LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011


Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes - depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. [...]. (p. 33). Esclarece, ainda, que a adoção do tropo ateniense também se inspira na obra do crítico maranhense Frederico José Correia, em seu Um livro de crítica (1878)8, no qual critica a invenção em torno da Atenas Brasileira, particularmente endereçada ao biógrafo maranhense Antonio Henriques Leal, autor do Pantheon Maranhense. Esse autor utiliza o conceito de “cânone” que é, com efeito, uma seleção de obras que atende critérios de eleição e exclusão, os quais podem: [...] orientados pela questão da representatividade histórica e da fundação e formação de uma literatura, compondo, enfim, a arqueologia do campo intelectual e dos letrados de um país ou, no caso específico da literatura, seguir uma orientação de acordo com a representatividade estética dos textos. (p. 34). [...] O cânone, portanto, é uma lista de textos, autores e obras, coadjuvada por uma elaborada narrativa historiográfica que, apesar de sua pretenção em ser verídica, como se resto o é toda historiografia, traz consigo motivações que, pelo fato de incluir excluindo, trai e solapa a sua pretenção histórica enquanto verdade absoluta, natural e indubitável. (p. 36). Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)9 dividiu a literatura maranhense em três ciclos, admitindo que, para essa classificação, não houve “na realidade fatos decisivos e característicos na sua evolução, capazes de representar as linhas divisórias de cada ciclo”. Ele, porém, demarca cronologicamente a literatura da seguinte maneira: “o primeiro ciclo vai de 1832 a 1868”; “o segundo ciclo da literatura maranhense abrange a geração nascida das duas primeiras décadas do último semi-século, de 1850 a 1870”; “O terceiro ciclo [...] compreende os escritores nascidos nas duas primeiras décadas da última geração do século passado, 1870 a 1890” (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)10. Mário Meireles11, seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (1800-1832) que, para ele, não apresentava relevância para a história literária do Maranhão. No prefácio da Antologia da AML apresentam as seguintes fases: Primeira fase: de maior extensão de tempo, que vai dos séculos XVII a XVIII, da “literatura sobre a terra”; Segunda fase: de transição, do primeiro quartel do seculo XIX, de características essencialmente coimbrão, 8 CORRÊA, Frederico José. UM LIVRO DE CRÍTICA. São Luis: Tip. Do Frias, 1878. 9 DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 10 CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012). 11 MEIRELES, Mário. Panorama da literatura maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955; MEIRELES; FERREIRA; e vieira filho, 1958; 2008, obras citadas;


periodo do romantista classicista12; Terceira fase: do segundo ao terceiro quartel da centúria oitocentista, quando surge a imprensa periódica, regresso dos doutores de Coimbra, que em constituir o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro13; São Luis torna-se a Atenas Brasileira; Quarta fase: do terceiro ao ultimo quartel do seculo passado (o livro é de 1958...), com o surgimento do naturalismo14, do parnasianismo15, do simbolismo16; os intelectuais da terra são afastados para fora dela, reconhecidos como literatos nacionais; Quinta fase, e para os Autores, a penultima, dos ultimos anos do seculo XIX para o primeiro quartel do seculoo XX, ciclo do

12 O Classicismo teve início na Itália no século XIV e apogeu no final do século XVI, espalhando-se rapidamente pela Europa, com a criação da imprensa as informações eram divulgadas com maior rapidez - ocorreu dentro do Renascimento. É uma literatura antiga que sofreu várias influências principalmente greco-latinas, devido à criação das primeiras universidades. Em 1527, quando Francisco Sá de Miranda retornava a Portugal, vindo da Itália, trazendo o doce estilo novo (soneto + medida nova). Clóvis Monteiro assinala que o Classicismo em Portugal durou três séculos de atividades literárias: iniciado em 1527 e encerrado em 1825. No Brasil Colônia, o Classicismo português do período cultista também influenciou a literatura, como por exemplo, na obra Prosopopéia de Bento Teixeira, que imitava os versos de Camões, até meados do século XVIII, quando surgiria uma literatura nacional ou brasileira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_classicista 13 O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Ainda no mesmo ano, no Brasil momento histórico em que ocorre o Romantismo, 14 anos após a sua Independência - esse movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade, sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que acabava de se tornar uma nação rompendo com o domínio colonial. Três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de expressão. O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo. Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa ("eu") ganha relevância nos poemas. O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais. Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo propõe um destaque da chamada "cor local", isto é, o conjunto de aspectos particulares de cada região. Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite. A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola romântica. "Nem regra , nem modelos "- afirma Victor Hugo, um dos mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões variadas de seu próprio "eu", o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções a um conjunto de regras préestabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos artísticos consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade. Primeira geração - Indianista ou Nacionalista; Segunda geração - Ultrarromantismo ou Mal do Século; Terceira geração – Condoreira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil 14 Naturalismo - literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. O naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica. No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciada pela leitura de Émile Zola. O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço. http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo#Naturalismo_em_Portugal_e_no_Brasil 15 O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França. No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922. http://pt.wikipedia.org/wiki/Parnasianismo#No_Brasil 16 Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes àliteratura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire


decadentismo17; Sexta, e ultima fase analisada pelos antologistas da AML, atual, para eles, que que corresponde ao ciclo do modernismo18. Meireles (1980)19 caracteriza, os ciclos literários maranhenses através dos títulos dos capítulos de sua obra: “Séculos XVI e XVII – Literatura sobre o Maranhão”; “Século XVIII – Ainda literatura sobre a terra”; “Século XIX – O ciclo de transição do seu primeiro quartel (1800-1832)”; “Século XIX – Segundo Ciclo (1832-1868) – O grupo maranhense no Romantismo brasileiro. O Maranhão Atenas Brasileira”; “Século XIX – o ciclo de 1868 a 1894. Os homens de letras do Maranhão passam a ser, essencialmente, literatos nacionais”; “Século XX: o ciclo de 1894 a 1932, o decadentismo; a reação local para estabelecer, no Maranhão, os foros de Atenas Brasileira”; “Os tempos atuais”. Na primeira edição de História do Maranhão20 - no capítulo intitulado Panorama Cultural do Maranhão no Império -, aponta os ciclos literários maranhenses, traçando um esquema parecido com os dos autores supracitados. Ele, porém, associa características econômicas a esses ciclos : Este Grupo Maranhense abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a 1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao ciclo do algodão”. E continua: “Com o ciclo do açúcar, sobrevém o ciclo literário de 1868 a 1894 [...] desfazendo-se o Grupo local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o Sul, onde, granjeando justo renome, fazemse essencialmente literatos nacionais (MEIRELES, 1980, citado por DURANS, 2009; 2012) 21 . Durans (2009; 2012) 22 afirma que no século XVII, inicia-se uma literatura descritiva acerca do Maranhão produzida pelos colonizadores, a fim de identificar, caracterizar, relatar e descrever a terra conquistada: Essa produção inicial é denominada ‘literatura de viajantes’, ‘relatos de viajantes’, entre outras denominações. Esses textos tinham como função descrever os aspectos naturais, econômicos e sociais das terras descobertas, com o fim de servir como fonte de informação

17 Decadentismo é uma corrente artística, filosófica e, principalmente, literária que teve sua origem na França nas duas últimas décadas do século XIX e se desenvolveu por quase toda Europa e alguns países da América. A denominação de decadentismo surgiu como um termo depreciativo e irônico empregado pela crítica acadêmica, mas terminou sendo adotada pelos próprios participantes do movimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Decadentismo 18 O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um prémodernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco. Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada PósModernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil; http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/ 19 MEIRELES, 1955, obra citada; 20 MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. 21DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. DURANS, 2012, obra citada; 22 DURANS, 2009; 2012, obras citadas;


e de propaganda da terra conquistada. Com o tempo e sua ampla divulgação na imprensa européia, tais produções vão se tornando cada vez mais bem elaboradas. Já Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de [...] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes [...]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar [...]. (MORAES, 1976, grifo nosso)23. Para Durans (2012) 24 esse objetivo fica mais evidente com a capítulos e tópicos, apresentados de forma temporalmente literários. A partir da segunda parte, intitulada Autonomia capítulos: “1832-1868 – Grupo maranhense”; “1870/1890 – ”1899/1930 – Os Novos Atenienses”; “Depois de 1922”.

própria organização do livro, em linear e delimitando momentos literária, aparecem os seguintes Um vigoroso sopro renovador”;

Prossegue Durans (2012) 25, para quem: A literatura maranhense apresenta três grandes ciclos, nascendo de fato com a geração romântica, uma vez que antes dela somente existiam relatos sobre o Maranhão e não uma literatura do Maranhão propriamente dita. Didaticamente, muitos autores que se debruçam sobre a crítica, análise e história da literatura maranhense dividem-na em ciclos e gerações que encerram especificidades consoantes ao tempo em que foram produzidos. A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012). É Ramos (1972, p. 9-10)26 quem afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases: 1ª fase – de extensa duração, é “a da literatura sobre a terra”, feita pelos cronistas a contar dos padres capuchos d´Abbeville e d´Evreux; 2ª fase – a do ciclo de transição, em que desapareceram os ultimos cronistas e ensaia-se a literatura da terra, já no primeiro quartel do século XIX, literatura que se caracteriza pela feição coimbrã, fruto do classicismo; 3ª fase – a que surge a imprensa periódica – “o Conciliador”, “O Argos da Lei”, e “O Censor”, e que os filhos da terra, formados em Coimbra, de regresso da Europa, constituem o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro, justamente a geração de Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, e Gonçalves Dias; 4ª fase – a partir de 1865, a que possibilitou o surgimento do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo, de poetas e escritores levados por força do fator economico a se transferirem para o Sul do país, e foram, muitos deles, literatos nacionais: Teixeira Mendes, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Artur e Aluisio Azevedo, Coelho Neto, Dunshee de Abranches;

23 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 24 DURANS, 2009, obra ciatada. 25 DURANS, 2012, Obra citada. 26 RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972.


5ª fase – com inicio em 1900, em consequencia da visita de Coelho Neto ao Maranhão, de intelectuais que procuraram, permanecendo na terra natal, desenvolve-la, faze-la outra vez grande centro de cultura, a geração de Antonio Lobo, Correa de Araujo, e Nascimento de Moraes, fase áurea do simbolismo no Maranhão, que viu também, como escritores nacionais, Humberto de Campos, Viriato Correa, e Graça Aranha; 6ª fase – ciclo do modernismo, segundo Meireles (1958) a fase atual, mas de transição, de poetas ainda apegados a velhas formulas, neoromanticos uns, neoparnasianos outros, neosimbolistas grande parte, já se firmando alguns poucos, nos canones trazidos pelo modernismo: a fase inaugurada em 1927 por Astolfo Serra; 7ª fase – inicio do movimento “Renovação”27, sob a orientação de Antonio Lopes, é a geração de 4528, quando o modernismo se impôs no Maranhão, principalmente na pintura com J. Figueiredo, cubista; Floriano Teixeira, na mesma linha de Portinari; Cadmo Silva, surrealista, e Jorge Brandão; a fase de Erasmo Dias, em que o Maranhão viu emigrar mais alguns de seus melhores talentos: Josué Montello, Manoel Caetano Bandeira de Melo, Franklin de Oliveira, e Osvaldo Marques; 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com exito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta29 e neoconcretista30, ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenomeno que também ocorreu no ambito nacional;

27 “O movimento de renovação colocado pelas escolas literárias não consiste necessariamente na exclusão de uma geração anterior, mas um retorno a um movimento que vem antes do modelo negado. Assim aconteceu com o Arcadismo, que revisita os modelos clássicos; com o Parnasianismo, que retoma o Classicismo; e com o Simbolismo, que reassume o subjetivismo romântico. Assim também ocorreu com a literatura neo-ateniense, que pretendia revalidar o foro de Atenas Brasileira, igualando-se a todos os outros”. DURANS, 2009, obra citada. 28 Na literatura brasileira, a chamada Geração 45 surgiu a partir de trabalhos de poetas que produziam uma literatura oposta às inovações modernistas de 1922. Uma fase de literatura intimista, introspectiva e de traços psicológicos. http://www.infoescola.com/literatura/geracao-de-45/ 29 Poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual a conhecemos, por Augusto de Campos na revista Noigandres de número 2, de 1955, publicada por um grupo de poetas homônimo à revista e que produziam uma poesia afins. Também é chamada de (ou confundida com) Poesia visual em algumas partes do mundo. O poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica) . seu problema: um problema de funções- relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia de gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área linguística específica - "verbivocovisual"- que participa das vantagens da comunicação não-verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra, com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens. a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbificação : "a moeda concreta da fala" (sapir). daí suas afinidades com as chamadas "línguas isolantes"( chinês) : "quanto menos gramática exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente ( humboldt via cassirer) . o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras ( ver fenollosa, sapir e cassirer). http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta 30 Neoconcretismo foi um movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, Brasil, em fins da década de 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no concretismo. O movimento neoconcreto nunca conseguiu impor-se totalmente fora do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. O MANIFESTO NEOCONCRETO - No dia 23 de março de 1959, o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil , (dirigido por Reynaldo Jardim, participante do movimento) publicou o 'Manifesto Neoconcreto', assinado por Ferreira Gullar , Reynaldo Jardim , Theon Spanudis , Amílcar de Castro , Franz Weissmann , Lygia Clark e Lygia Pape . http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoconcretismo.


9ª fase – a patir de 1969, de jovens que buscavam, atraves de movimentos como a Antroponáutica31, novas formulas poeticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores32. Recorremos, ainda, a Clóvis Ramos (2001) 33 - fênix renasce das cinzas, ao propor-se a realizar o “sonho do Dr. Eliezer Moreira Filho”, com a publicação de uma Antologia escolar maranhense. Abrangência das fases diversas da rica vida literária do Maranhão. São elas: Volume I – quando a brilhante aurora despertava: cronistas franceses, os portugueses da fase colonial e a poesia neoclássica do Maranhão; Do sol meridiano a luz dourada – os românticos da geração de Gonçalves Dias; Um Sol de fogo – geração de Sousândrade; Volume II – onde as estrelas cantam – no tempo de Frutuoso Ferreira, tempo também de Teófilo Dias, Raimundo Correia, Catulo, Coelho Neto e Graça Aranha (fase do movimento naturismo e do parnasianismo); De rosas cor de rosa no sol posto – o simbolismo no Maranhão; Vão se abrindo as estrelas e as juremas – sobre o sincretismo, que resultou nos caminhos abertos para o modernismo, entre nós; Volume III – Asas cantando sob um céu lilás – os ecléticos e os da geração de Corrêa da Silva; Volume III - o despenhadeiro das auroras – a geração de 45, de poetas e escritores voltados ao hermetismo, à poesia de vanguarda – pós-modernos, uns e outros ainda apegados aos ritmos tradicionais; Rosas manhãs – contendo a poesia atual do Maranhão; Um quarto volume, sendo preparado para apresentar, ainda, autores maranhenses, antigos e modernos, que não foram incluídos nos roteiros, e já prontos. E mais adiante, apresenta-nos novo roteiro, com os títulos que formam o Novo Parnaso Maranhense: A irmã da noite – a grande poesia do Maranhão, estudo e antologia; A pedra e o monte – a poesia neoclássica do Maranhão; O astro das manhãs – o Maranhão na poesia romântica e utra-romantica; A flor do abismo – ainda os românticos e parnasianos do Maranhão ou a geração de 1880; No infinito mar – poetas tradicionalistas, de estilo clássico-romantico; 31 Em 26 de maio de 1972, foi lançada, em Noite de Autógrafos, em São Luís do Maranhão, a antologia poética Antroponáutica, que apresenta poemas de poetas até então inéditos, em livros. Eram eles Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio. Para eles, alguma coisa estava errada, já que a Semana de Arte Moderna havia acontecido, de maneira ruidosa, há 52 anos antes, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo e poucos, à exceção de Nascimento Moraes Filho, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswaldino Marques, Lago Burnett e José Chagas, pouquíssimos outros dela tomaram conhecimento, decorridas cinco décadas. Era como se São Luís vivesse ainda em plena época do soneto parnasiano sem tomar conhecimento sequer da linguagem revolucionária de O Guesa, de Sousândrade. GASPAR, Viriato. Os Trinta Anos Pós-Antroponáutica. GUESA ERRANTE, Suplemento literário – Jornal pequeno, São Luis, 29 de novembro de 2005. 32 Com a instituição dos Jogos Florais no ano de 1960, o movimento dos trovadores (então sob a égide do GBT, Grêmio Brasileiro de Trovadores) teve um grande impulso, embora ainda incipiente. Com a fundação e o estatuto definitivo em 1966, a entidade passa a multiplicar-se pelo país inteiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Brasileira_de_Trovadores 33 RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: neoclássicos e românticos. Quando a brilhante aurora despontava – do sol meridiano a luz dourada – um sol de fogo. Niterói: Clovis Ramos, 2001


Sinos do entardecer – que exalta bandeira Tribuzzi – ainda com a poesia tradicionalista de poetas imbuídos de sincretismo; Soluços nas ramadas – começo do modernismo no Maranhão ou geração de 1900; Velário das estrelas – o modernismo no Maranhão, a geração de 1930; A música dos violinos ou a geração de 45; Verbo em chamas – movimentos de vanguarda, poetas pós-modernos, ou a geração de 60; Espelho grande do tempo – movimentos de vanguarda, pós-modernos; Brisa e espuma – a nova poesia do Maranhão; O céu é a mesma luz – que o continua, reunindo poetas do final do século XX, de Enes de Sousa (João Nascimento Sousa), Antonio Carlos Alvim, Leonardson dos Santos Castro, Lenita de Sá, Francisco de Assis Peres Sousa, Paulo Melo Souza, Cesar William, e Luís Inácio Araujo – nascidos nas décadas de 1960/70, e outros, a João Fábio Ramos de Souza, o mais moço, nascido em 1983 [...] Assis Brasil (1994) 34 faz um “retrospecto poético”, antes de entrar na Poesia do Século XX, considerando que a evolução histórica e estética de nossa (brasileira) poesia pagou tributo, por longos anos, à evolução da poesia portuguesa, desde os séculos XVI a XIX, de tradição erudita e pomposa, cultivando metáforas e referencias mitológicas, influenciada pela poesia greco-latina. Para esse autor, as mudanças – aos trancos e barrancos – vieram com os pré-românticos, mudando a linguagem e a estrutura dos poemas, com imagens mais simples, perdendo a ortodoxia nas rimas, com versos mais curtos. Junto com preocupações mais intimas – lirismo – surgem os temas populares e folclóricos. “O Poeta corria atrás da nacionalidade”. Afirma, ainda, que chegou a falar-se, “em pleno fastígio do Neoclassicismo e do pré-romantismo, em Modernismo ‘avant la lettre’, uma ligeira prova do um ‘avant-goût’ que viria à frente” (BRASIL, 1994)35. Apresenta uma nova ‘“temporalidade”, numa corrida de revezamento, de “forma pendular”, das correntes e movimentos literários, onde uma escola ou estética rígida, formal, algo cerebral, sempre tem sido substituída por uma mais libertária, mais objetiva, como foi a passagem do classicismo para o romantismo, voltando à rigidez com o parnasianismo: Cronologicamente, a geração de poetas maranhenses que está viva no começo da primeira e segunda décadas do século, e que já experimentara as mudanças romântico-parnasian, enfrentará, mais uma vez, a mudança daquele pendulo estético (p. 21). Durans (2012) 36 servindo-se de Moisés (2004) 37 estabelece um critério cronológico para distinguir os termos geração, era, época, período e fase: [...] Para o autor, era designa um lapso de tempo maior em que se fragmenta a história de um povo; época designa a subdivisão de uma era; período, por sua vez, é a subdivisão de uma época; e finalmente fase constitui uma subdivisão do período ou da biografia de autores. Geração poderia, então, ser identificada com período ou fase, enquanto era e época designariam sucessões de gerações irmanadas pelos mesmos ideais. O uso do termo geração pode se dar ainda no sentido biossociológico, ou seja, de faixa etária. Esse é, portanto, um conceito polissêmico, frequentemente empregado, ainda, em sentido políticoideológico (de engajamento político ou militância política), ou em alusão a uma determinada concepção estética, artística ou cultural (escolas). O termo geração no sentido de mesma faixa etária tem sido amplamente usado pela historiografia, frequentemente 34 BRASIL, Assis, obra citada 35 BRASIL, Assis, obra citada. 36 DURANS, 2012, Obra citada. 37 MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, citado por DURANS, 2012


associado à intelectualidade, à noção de herança, de grupo de intelectuais que dão continuidade a certos referenciais de outros que viveram em épocas anteriores, figurando como patrimônio dos mais velhos. Rodrigues (2008) 38 afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. A poesia do Século XX é, então, dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luis Augusto Cassas. No Maranhão, segundo Castro (2008) 39, a criação de uma academia de letras destinava-se ao cultivo das letras pela ação coletiva ou individual dos seus membros, que buscavam resgatar as glórias intelectuais perdidas durante o suposto Decadentismo40. Para os literatos maranhenses do início do século XX, urgia salvaguardar esse passado de glórias que, segundo eles, suplantava o de todas as outras províncias. Domingos Barbosa afirmava: Somos uma terra de gramáticos... pelo menos, é assim que todos, a uma voz, nos apelidam [...] Não sei, assim de terra que tenha origem mais fidalga, nem seja mais nobre pela velha e pura linhagem da inteligência e do saber. E, desde os seus princípios até hoje – haveis de perdoar ao maranhense a imodéstia da afirmação – não sei qual possa arrolar maior número de nomes famozos do que os daquêles que entre nós têm cintilado, assim nas ciências como nas letras. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 53, citado por Castro, 2008). Para Meireles (1955) 41, a Academia Maranhense de Letras foi uma transformação da Oficina dos Novos, pelo fato de alguns operários42 terem participado como membros fundadores da Academia, entre eles: Godofredo Viana, Vieira da Silva e Astolfo Marques; no entanto, Jomar Morais discorda e observa que a relação destes intelectuais com a Oficina dos Novos já não ia além do apoio e da simpatia. Jomar Morais faz esta afirmação baseado no registro de atividades concomitantes das entidades nos jornais da época. Um jantar de confraternização foi registrado entre as duas confrarias no Hotel Central em 15 de novembro de 1908, ou seja, as duas instituições existiram ao mesmo tempo, mesmo que por um curto período em razão do término da Oficina (CASTRO, 2008) 43. Essa autora considera que, talvez, a maior particularidade dessa instituição (AML) tenha sido a oficialização de uma história da literatura maranhense e com ela a construção de um passado para as nossas letras, elaborando uma história oficial das obras e dos autores mais importantes do Estado.

38 RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 39 CASTRO, Ana Caroline Neres. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: UM SÉCULO INVENTANDO TRADIÇÕES (19082008). Outros Tempos, Volume 5, número 5, junho de 2008-Dossiê História da América 40 Na literatura clássica maranhense, esse período situado entre os anos de 1894 a 1932, foi marcado pelo “marasmo” e “letargia” na produção local, ocasionada pela ausência dos literatos que foram para outras regiões do país em busca de melhores oportunidades. Também pode ser caracteriza do pela tentativa de reação dos intelectuais que permaneceram na capital maranhense, autointitulados “Novos Atenienses”. (CASTRO, 2008, obra citada). 41 MEIRELES, Mário Martins. Panorama da Literatura Maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955. 42 Assim eram denominados os membros da Oficina dos Novos. 43 Convém ressaltar, que no ano de 1917, a Oficina dos Novos passou por uma reorganização e definiu como membros honorários os sócios da Academia Maranhense de Letras, outrora a ela ligados. Pelo quadro de membros efetivos que àquela data compunham o corpo social da Oficina, não é possível encontrar nenhum dos nomes daqueles pertencentes à Academia Maranhense de Letras. CASTRO, 2008, obra citada.


[...] No próprio culto que rendemos aos nomes dos que nos engrandeceram e nobilitaram os dias idos, não vizâmos somente a homenagem que o dever nos reclama de cada um de nós, e a todos nos ordena. Evocâmo-los tanto para maior glória sua como para exemplo aos de hoje, de modo que possamos bem preparar os dias de amanhã. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 37, in CASTRO, 2008) 44. Continua: Para tanto, além de reunir dados biográficos e literários, adotaram patronos para cada uma das cadeiras da Academia. Esses patronos deviam ser intelectuais maranhenses, já falecidos que marcaram a história literária do Estado, ou seja, na ausência de um passado literário estruturado, organizar-se-ia uma genealogia elevando alguns nomes para que formassem, de repente, o capital simbólico da instituição. [...] Sem história, não pode haver tradição, nem nacionalidade, assim como sem memória não pode haver individualidade. [...] esse movimento, porém, limitar-se-á a um surto de imperialismo ou de militaria, se não for inspirado, idealizado pelo culto das glórias [...]. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1916-1919, p. 101 in CASTRO, 2008) 45. Silva (2013) 46 afirma ser exemplar a forma como se estrutura a AML e o IHGM em sua relação com os Patronos, Fundadores de Cadeiras e Ocupantes, cuja genealogia funciona à espécie de um sistema de parentesco, conforme descreve Alfredo Wagner (2008) 47: Tem-se um conjunto de autores, representados como personalidades e figuras tutelares da historiografia regional, que ampara a criação das cadeiras e seus respectivos fundadores e demais ocupantes. Por disposições estatuárias a cada cadeira corresponde um patrono, uma figura como “autoridade em história, ou geografia e ciências afins”, e um fundador, que representa aquele que evoca o patrono ao criar um assento na instituição. O nome dos patronos jamais poderá ser substituído pelos vindouros ocupantes das cadeiras conforme reza o art. 31, § Segundo[Regimento Interno da AML]. Seus nomes mantêm vivas e encarnam os fundamentos das tradições letradas, permitindo aos que aspiram lugares nos panteons e galerias de “vultos maranhenses” uma relação em linha direta com os seus protetores. Castro (2008) coloca que entre 1916 e 1918, houve intensa movimentação no sentido de traçar uma memória literária para o Estado. As principais medidas tomadas foram: · Inauguração da estátua de João Lisboa e confecção de uma obra literária sobre a vida do jornalista; · Reimpressão de inéditos de Sotero dos Reis e de trabalhos de Nina Rodrigues; · Comemoração do primeiro centenário do nascimento de Cândido Mendes; · Estudos realizados em sessões públicas sobre Celso Magalhães e Gonçalves Dias; · Discursos homenageando Sotero dos Reis, Maranhão Sobrinho, Almeida Oliveira; · Autorização do Congresso Estadual para publicação da Seleta Maranhense de Astolfo Marques.

44 CASTRO, 2008, obra citada. 45 CASTRO, 2008, obra citada. 46 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013 47 ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. A Ideologia da Decadência: leitura antropológica a uma história da agricultura no Maranhão. Rio de Janeiro: Editora Casa 8/FUA, 2008.


Na visão de Martins (2006) 48, [...] o problema fundamental para esses novos atenienses era dar conta da montagem dessa trajetória intelectual. Com efeito, remontar uma continuidade das teias evolutivas da produção intelectual maranhense não indicava constituir-se uma tarefa cuja consecução fosse produzida pelo voluntarismo evidente na postura de muitos desses intelectuais. Ao contrário, definir as linhas mestras da formação cultural do Maranhão significava identificar com clareza meridiana a ausência de vida cultural orgânica (ARANTES, 1997, p. 17), a falta de seriação de ideias, a ausência de uma genética. (ANDRADE Apud SODRE, 1984, p. 65). Corrêa (2001) 49 informa que na Ilha de São Luis, em agosto de 1922, surge a antologia Sonetos Maranhenses, lançado pela Távola do Bom Humor, contando com: José Augusto Vieira dos Reis, Cypriano Marques da Silva, Chrysostomo de Souza, Joaquim de Souza Martins, Carlos de Castro Martins, e J. Ribamar Teixeira Leite, todos de escassa memória na história da literatura maranhense. O surgimento dessa antologia visava comemorar o centenário da Independência do Brasil. Noticia do Diário de S. Luiz50, edição de 10 de outubro de 1921, informa que a Távola do Bom Humor, em reunião do dia anterior resolvera publicar uma coletânea de “sonetos maranhenses”, divulgando a nossa literatura. Pretendiam reunir num volume mais de cem sonetos de autores maranhenses, dividida em duas partes, de poetas mortos e de poetas vivos, desde Gonçalves Dias e Odorico Mendes, até os novíssimos bardos. A comissão organizadora era composta dos cavalheiros Guimarães Neto, De Castro Martins, Cryzostomo de Souza, J. Souza Martins, e J. Teixeira Leite. Em nota51 de A Pacotilha de 30 de dezembro de 1921, era informado que a Távola estaria organizando sua antologia, e que Graça Aranha deveria escrever a introdução. Em nova nota, desta vez de 02 de março de 1922, era informado ao grande público que estava indo à gráfica, e contava com mais de cem sonetos de poetas nascidos no Maranhão, desde Odorico Mendes até a geração atual52. Em O Jornal, edição de 3 de fevereiro de 1922, era confirmada a elaboração da obra, com mais de cem poemas, graças aos esforços de Crizostomo de Sousa 53. Em nova nota, em O Jornal, edição de 10 de agosto de 192254, era informada que já encontrava disponível as subscrições para aquisição da obra. Compilados pela Távola do Bom Humor, conteria cento e cinquenta e seis sonetos de autores nascidos no Maranhão, contemplando desde Odorico Mendes até o ultimo aedo presente, revelando nomes ainda desconhecidos. Dedicados a nossa terra, e em homenagem a Antonio Lobo. Novamente, o Jornal de 5 de setembro em propaganda informa que já se encontrava à venda, com mais de 160 autores55. A Pacotilha de 5 de setembro de 1922 também informa que já se encontrava a venda na casa Laureta; informa o jornal, ao agradecer o exemplar enviado à redação, que continha mais de cem sonetos, de Odorico Mendes até os vates atuais 56. Em 2009, em postagem no meu Blog57 trago um dos autores publicado nos “Sonetos Maranhenses”:

48 MARTINS, Manoel de Jesus Barros. Operários da Saudade: os novos atenienses e a invenção do Maranhão. São Luís: Edufma, 2006. 49 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 50 SONETOS MARANHENSES, Diário de São Luis, 10 de outubro de 1921, p. 3 51 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, São Luis, sexta-feira, 21 de dezembro de 1921, 52 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, São Luis, quinta-feira, 02 de março de 1922, p. 53 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 3 de março de 1922, p. 54 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 10 de agosto de 1922, p. 4 55 SONETOS MARANHENSES, O Jornal, São Luis, 5 de setembro de 1922, p. 4 56 SONETOS MARANHENSES. A Pacotilha, 6 de setembro de 1922, p. 1 57 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. NUNES PEREIRA e o DISCÓBOLO. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ. Disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/12/24/nunes-pereira/, acessado em 18 de maio de 2014


A literatura tem se constituída importante fonte de informação para buscar a memória dos esportes, no Maranhão. Terra de escritores, de poetas, de jornalistas, os tivemos interessados no esporte: desde Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Dunshee de Abranches (meu Patrono no IHGM), Coelho Neto, Nascimento de Moraes, até Dejard Ramos Martins… descobri outro poeta, que se dedicou a escrever sobre o esporte; um poema: NUNES PEREIRA - Manuel Nunes Pereira – (1892 — 1985), nascido no Estado do Maranhão, foi um antropólogo ictiólogo que viveu grande parte de sua vida em Manaus, e, posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro. Coelho Netto – transformado em uma, nem sempre bem sucedida, agencia de empregos, solicitou a um amigo uma colocação a Nunes Pereira: “Prestes amigo, O portador, Manuel Nunes Pereira, é poeta e do Maranhão, já se vê, filho da oliveira e da cigarra. Dá-lhe tu que o tens, um lugarzinho no posto que és defensor perpétuo e escracha contrabandistas. Se deferires este meu pedido, saberei cantar-te o favor em rimas de ouro, as quais já levam o selo e o coração do teu, Coelho Netto”. Nunes Pereira foi veterinário do Ministério da Agricultura até a sua aposentadoria e teve alguns de seus opúsculos científicos editados pela Div. de Caça e Pesca do M.A. (O pirarucu, A tartaruga verdadeira do Amazonas e O peixe-boi da Amazônia, tendo sido este último artigo científico publicado, em 1944, no Boletim do Ministério da Agricultura). Escreveu diversos livros, sendo a sua obra mais conhecida Moronguetá – um decameron indígena, conjunto monumental de pesquisas, apresentado por Thiago de Mello (dois tomos), onde constam reproduções de páginas de cartas a Nunes Pereira emanadas de cientistas sociais como Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss. Com esses estudiosos o antropólogo maranhense-amazonense travou contato pessoal, quando da passagem deles pelo Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu, no Jornal do Brasil, uma crônica sobre o autor de Os índios maués, um dos primeiros pesquisadores mestiços brasileiros – era cafuzo, descendente de índios, negros e brancos – a obter reconhecimento científico internacional89. Informa Côrrea90 ser o “Prestes amigo” burocrata aduaneiro, que despachou o jovem Nunes Pereira, sem dar-lhe o emprego. Não atendido em sua pretensão, Nunes Pereira pediu o bilhete de Coelho Netto de volta. O “Prestes amigo” mandou-o bater em retirada, afirmando que jamais devolveria um bilhete de Coelho Netto! Desafiado o poeta, havendo perdido o emprego e a oportunidade de ficar no Rio de Janeiro – sonho multicor dos maranhenses no passado – decide que, sem o bilhete, jamais ficaria! E o toma de assalto; o “Prestes amigo” fica atônito, em face da força titânica e hercúlea do poeta na vida prática… Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, Nunes Pereira era um Atlas a arremessar o seu: “DISCÓBOLO:” Lembra Antnoud, perante os meus olhos de artista, Na graça e robustez da plástica espartana, Se, ao sol, que adusta a gleba e os píncaros conquista, Pisa o fulgido pó do estádio que se aplana. Vai, de um lado – e o outro lado, ao término da pista, A ovação que de um coro uníssono espadana, Lança o disco primeiro… e ei-lo, trepido, à vista, Fulge, dentro da luz como uma oblata humana. Arremessa outro disco… e mais outro… e outros muitos, Numa hercúlea impulsão de braços de granito, Sobem, no ar descrevendo intérminos circuitos.


E a alma sonha, a seguir de áureos discos os rastros, Um Titan, que atirasse à mudez do Infinito. Os discos de crystal polychrono doa astros Conforme Corrêa (2010) 58 afirma: De geração em geração a poesia maranhense vai construindo/percorrendo seu itinerário histórico-literário – de Gonçalves Dias a Sousândrade, remontando ao Grupo Maranhense, passando pelos Novos Athenienses, pela Oficina dos Novos (1900), por Corrêa de Araújo (que, transitando do parnasiano ao pré-moderno, antecipa a geração de 30/40)... Lembrando Bandeira Tribuzi (que, com Alguma Existência, descortina novos horizontes estéticos), o grupo Antroponautico (1972)... Chegando a Luís Augusto Cassas, no transe do século XX/XXI. Barros (?) 59 considera ser importante destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o fenômeno de aliciamento de poetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional. Com Paulo Ramos, a máquina do Estado foi expandida. Houve um crescimento das instituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais. Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e do jornalismo provinciano” passaram a “compartilhar das responsabilidades administrativas do Estado” (CORRÊA, 1993): Paulo Ramos foi encontrar os intelectuais do Maranhão na Academia Maranhense de Letras (AML), “instituição concentradora da inteligência e dos mecanismos regulares e legitimados de um hipotético reconhecimento das qualidades literárias”. No contexto estado-novista, vários foram os intelectuais maranhenses que se destacaram no exercício da atividade pública, entre os quais, Agnello Costa, Clodoaldo Cardoso, Ribamar Pinheiro, Astolfo Serra, Luso Torres, Oliveira Roma e Nascimento Moraes. Tais intelectuais justificavam o Estado Novo enumerando suas consequências positivas (CORRÊA, 1993, p. 209-219) 60.

A jovem Geração de 30 vai congregar-se no Cenáculo Graça Aranha, estimulada que foram pelo Mestre Antonio Lopes da Cunha, professor do Liceu Maranhense. Josué Montello foi o orador na solene fundação do Cenáculo: De minha geração literária, em São Luis, eu era o primeiro a sair da província. Antônio Lopes, mestre de literatura do Liceu Maranhense, professor de Faculdade de Direito e grande jornalista, havia-nos reunido à sua volta, sob a invocação do nome de Graça Aranha, num grêmio literário que tinha por sede o Largo do Carmo. [...] Do mestre de Canaã, Lopes não ensinara a insurreição exemplar, que o impelira a romper com a Academia e a tradição literária; ensinara-nos o seu lado acadêmico, que o levara a escrever pouco antes desse rompimento, o primoroso confronto de Nabuco e Machado de Assis, na introdução à correspondência epistolar dos dois escritores. (CORREA, 2001, p. 212) 61. Para Corrêa (2001), talentos ressalvados, Edmo Leda e Sebastião Corrêa morreram precocemente, e Erasmo Dias e Paulo Nascimento Moraes não construíram, de maneira organizada, obras 58 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembrodezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 59 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 60 CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luis: SIOGE, 1993. 61 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001


literárias. Cedo também desapareceu Viana Guará. E alguns, como costumeiro, não confirmaram a vocação matinal, não deixando vestígio na história da literatura maranhense. Terminada a década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectual maranhense estavam radicados no Rio de Janeiro, onde acreditavam ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores e estudiosos: Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Antonio de Oliveira e Manoel Caetano Bandeira de Mello. Outros, como Erasmo Dias, Mário Meireles e Nascimento Moraes, permaneceram no Maranhão. (CORRÊA, 1993). Rossini Corrêa (1989) 62 vai identificá-los como a Geração de 30. Foi Corrêa da Silva quem sustentou o fogo do combate - afirma Corrêa (2001) 63 – minimizadas as fileiras da falange erguida por Antonio Lopes, nas páginas do Diário do Norte, com o suplemento “Renovação”, que substitui tanto o Cenáculo Graça Aranha, quanto o Centro Maranhense de Artes e Letras. “Renovação” extingue-se com a debandada de quase todos os seus fundadores para fora da ilha, não deixando maiores frutos, mas deve ser lembrado pelo que representou para um punhado de jovens talentosos. Antonio Oliveira, diz que nos últimos trinta anos (1953, quando fala): Antonio Lopes da Cunha esteve sempre à frente de quase todos os movimentos literários promovidos pelos moços do Maranhão. Portanto, sua influencia na formação literária desses moços constituirá, sem dúvidas, um capitulo interessante da história da literatura maranhense. (p. 215). Prossegue Corrêa (2001), dizendo que, daquela geração de 30, ninguém foi mais pranteado do que Sebastião Corrêa, que deixou inédito o livro de poemas Reminiscências. Barros (2005, 2013?) 64, ao analisar a literatura maranhense num recorte temporal de 1930 a 1960, afirma que, politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos: Primeiro, entre fins da década de 30 e metade da década de 40, quando Paulo Ramos foi Interventor (15/08/1936 – 23/3/1945). Paulo Ramos, nomeado por Getúlio Vargas em 1937 para Interventor Federal no Maranhão traça uma estratégia política, segundo Corrêa (1993, grifo do autor) 65 - foi “a da produção e consolidação de uma convincente autonomia administrativa, que promovesse o distanciamento gradativo dos tradicionais litigantes oligárquicos da máquina do Estado”. E os soldados que foram seus combatentes “outros não foram, senão os intelectuais”. Com a renúncia militar de Getúlio Vargas, a máquina protetora dos intelectuais maranhenses foi desmontada. Em 1939 aparece o primeiro número da “Revista Athenas”, e, nas palavras de Nascimento Moraes (1939) 66, tratar-se-ia de “uma arrancada” comprovadora de que “A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental”. Este é um momento em que a noção de cultura – e tradição – indicada pelo desejo da afirmação do termo “Atenas” ainda continua a apontar, sobretudo para uma tradição que valoriza a Europa, um texto velho, mas continuamente revitalizado.

62 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 63 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 64 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014 65 CORRÊA, Rossini. Formação social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luis: SIOGE, 1993. 66 MORAES, José Nascimento de. Uma arrancada. Revista Athenas, São Luís, p. 1-2, jan. 1939, citado ,por BARROS (S.D.).


Nesse período, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 67, organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, Reginaldo Telles de Sousa, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro: Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso, fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras. Outro dos fundadores declara que, teoricamente, o Centro já estava fundado, pois se reuniam no Bar Paulista, e à noite, na Galeria do Carmo, para declarar poesias e discutir literatura. Não era um movimento de escola literária, declara outro integrante a Corrêa (1989): o movimento era cultural, portanto, global. Envolvia tudo – não havendo nunca antes no Maranhão, um movimento neste sentido. Os encontros centristas aconteciam, então, já, no Casino Maranhense, no Clube Litero Recreativo Português, e na Escola Benedito Leite e, as solenidades mais representativas, no teatro Artur Azevedo. A publicação de revistas, enquanto veículos culturais foram duas, barcando os ângulos histórico – Caderno Histórico – e literário – Caderno Literário. A deferência de Sebastião Archer da Silva, possibilitando a publicação das revistas, significou um passaporte para a chegada ao aparelho de comunicação de Victorino de Britto Freire, então já senador da república. Assim foi que o Diário de São Luís, do extinto Partido Social Trabalhista, começou a circular seu suplemento literário, sob a direção de Nascimento Morais Filho. O suplemento cultural já estava com 40 números publicados quando Lago Burnett e Ferreira Gullar assumiram a sua direção. E diferentemente de Nascimento Morais Filho, passam a exercer censura, decidindo que “Toda a matéria que não for solicitada deverá passar pela nossa censura” (CORRÊA, 1989, p. 89): Refletiam, decerto, o contexto do CCGD, relacionado com as exigências da redação do Diário de São Luis. Entretanto, sob disfarce, o sarcasmo da história se processava, e José Sarney, polemicando sobre o poético com os centristas, começava a escrever para o publico, sob beneplácito do Senador Victorino Freire, o qual na década seguinte, o lançaria na política e a quem viria a combater e suceder historicamente. Depois, de meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinista68 que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965. Informa Barros (2005) 69:

67 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 68 Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensão política de Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do General Dutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido que tinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado em mandonismos locais e no uso sistemático da “Universidade da Fraude” nos processos eleitorais (in COSTA, Wagner Cabral da. O salto do canguru: ditadura militar e reestruturação oligárquica no Maranhão pós-1964. Ciências Humanas em Revista, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004. 69 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181


Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra Serrão Cardoso (23/3/1945 – 7/11/1945), Saturnino Belo (16/2/1946 – 10/04/1947) e João Pires Ferreira (10-14/4/1947). Os governadores no período vitorinista: Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (1951-1956), José de Matos Carvalho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966). Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos, vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas. Importante lembrar que “Alvorada”, jornal do Colégio de 2º Grau “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias. Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! [...]. Em 1948, Lilah Lisboa de Araujo funda a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, mais um dentre tantas sociedades culturais surgidas nesse período. Quanto ao “Gonçalves Dias” recebeu total apoio do então Governador Sebastião Archer da Silva, patrocinando, o Governo, algumas publicações através do sistema oficial do Estado, assim como cedendo espaço, Teatro, para as jornadas semanais, difusão através da rádio oficial, e espaço na Revista da Academia Maranhense de Letras. Lago Burnett e Ferreira Gullar, agindo como autônomos em relação ao CCGD partem para a publicação da revista Saci – ilustrada por Cadmo Silva e o próprio Lago Burnett, com tiragem de 3.000 exemplares, aceitava colaboração: [...] O Saci é a figura mais importante da História do Brasil... folclórico. Saci está em toda parte, dá cabo de tudo, remexe com tudo e provoca todo mundo. Mas Saci não é mau. Ele quer apenas se divertir. Ele sempre aparece assim, de repente, sem ser esperado. Não é de cerimônias. O Saci é o tipo mais simples que existe: não tem preconceitos, nem preferências e muito menos tabu. Não tem idade, não teve principio e nem terá fim. Ele é eterno como tudo que é bom e que é belo. Finalmente, como não bebe água encanada de outras fontes, de lagoas estagnadas ou de poços obsoletos, não sofre do fígado e vive sempre sorrindo, com a consciência tranquila de quem faz o bem. O Saci é muito feliz, podem crer! Na sua humildade, é o ente mais feliz do mundo.

Tinha como mérito a abertura à congregação pluralista de colaboradores - no entender de Corrêa (1989) – haja vista a diversificação do conteúdo, reunindo desde antigos cantares de trovador até poemas sem rima e métrica. A revista, bastante satírica, foi um excelente instrumento de critica ao ambiente literário de São Luis: [...] provocando, destacadamente, Corrêa de Araujo, Assis Garrido e Clodoaldo Cardoso. Não dispensava, também, a Academia Maranhense de Letras, para onde a maioria migraria, logo a partir da década seguinte, com José Sarney, Lago Burnett e Domingos Vieira Filho. O sodalício se apresentava ao trocadilho “só-dá-lixo”, com os candidatos a acadêmicos denominados de substitutos de “ilustres mortos” e chamados por uma hipotética “ordem analfabética [...] (CORRÊA, 1989, p. 112-113) 70. Ambos, Ferreira Gullar e Lago Burnett – e tão efêmera quando a Saci – fundam o jornal Letras da Província – periódico de artes e letras da cidade de São Luis do Maranhão, aberto a colaboradores de todo o Brasil, com dois endereços para correspondência; divulgavam os livros recebidos também no Suplemento Cultual do Diário de São Luis. Informa ainda Corrêa (1989) o surgimento 70 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989


de outra revista, a Afluente, sob a direção de José Carlos e José de Ribamar – Burnett e Gullar. Essa revista teve como particularidade, uma preocupação inédita com a pesquisa, questionando a preferência literária e o problema do livro no Maranhão (CORRÊA, 1989). A geração seguinte foi a “geração de 45”. Para Rego (2010) “Movimento da Movelaria Guanabara”, onde:

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, também denominada de

O contexto literário da capital maranhense vai-se dinamizar a partir de encontros realizados na Movelaria Guanabara, de propriedade do artista plástico Pedro Paiva. A Movelaria Guanabara servia como espaço para a realização de encontros e debates que, segundo Rossini Corrêa, ali eram traçados caminhos imediatos de intervenção intelectual na realidade maranhense. Silva (2011; 2013?) 72, ao investigar as diferentes estratégias, espaços e modalidades de atuação em que se insere um conjunto de agentes que ingressaram na carreira literária entre os anos de 1945 e 1964 no Maranhão, identificou sete movimentos culturais, citando – em quadro – os seguintes: Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Movelaria, Grupo Ilha, Afluente, Opinião, Apolônia Pinto, e dentre os intelectuais analisados em seu trabalho, alguns não participaram de qualquer movimento (seria o sétimo, de seu quadro): [...] superado o chamado Estado Novo, que no Maranhão transcorre sob a interventoria de Paulo Ramos, destacam-se entre os “intelectuais” expoentes e os “movimentos” em que se engajavam, nomes como os de José do Nascimento Morais Filho, José Sarney e Bandeira Tribuzi (todos contidos entre os casos aqui analisados), reconhecidamente lideranças do Centro Cultural Gonçalves Dias, Grupo Ilha e Grupo Movelaria Guanabara, respectivamente. No interior destes “movimentos” destacam-se, vinculados ao Centro, Bernardo Coelho de Almeida, Nascimento Moraes Filho, Vera-Cruz Santana, Manuel Sobrinho, Tobias Pinheiro, Dagmar Desterro, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Bandeira Tribuzi – deslocando-se logo depois para o Grupo Ilha. Em torno deste último transitavam José Sarney, Bello Parga, Carlos Madeira e Lucy Teixeira. Quanto ao Movelaria Guanabara, uniram-se Antonio Almeida e Lago Burnett, que até então compunha o Centro Cultural Gonçalves Dias. Moraes (1993) 73, ao analisar a obra de Bello Parga, poeta modernista, fala da existência do Grupo Ilha, de São Luis, liderado por José Sarney e Bandeiras Tribuzzi, e da qual o biografado fazia parte, chegando a integrar o conselho editorial da revista Ilha - no começo da década de 195074 - porta-voz do grupo, que pregava as ideias pós-modernistas da geração de 1945. O Grupo Ilha é uma dissidência do CCGD, formalizado com a presença e influencia de Bandeira Tribuzzi que fora afastado do Centro por faltas – faltara três sessões seguidas, contrariando o seu regulamento, que previa a participação obrigatória em todas as sessões; todos são úteis, ninguém é necessário... Trouxe consigo José Sarney, Erasmo Dias, Luis Carlos Belo Parga, Lago Burnett... Publicam, em 1948, o mensário de cultura “Malasarte”, dirigido por José Brasil (teatrólogo), J. Figueiredo (pintor), e pelos poetas Corrêa da Silva e Bandeira Tribuzi. Em seu editorial – aos 71 REGO, Rosemary. A “geração de 45” - (Ou o Movimento da Movelaria Guanabara), In GUESA ERRANTE, edição 221, publicado em 10 de setembro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 72 SILVA, Franklin L. A Literatura Como Condição: apontamentos para a análise das entradas na carreira literária no Maranhão contemporâneo (1945-1964). Revista Outros Tempos, V. 8, número 11, 2011 – Dossiê História e Literatura. SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Polícia e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese da monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão. 2013?, disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 73 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 74 https://br.noticias.yahoo.com/interior-maranh-o-para-bras-lia-154800961.html


leitores – é informado que era formado por um pequeno grupo de alguns dos modernos artistas e escritores do Maranhão atual (1948...). Seus colaboradores foram: Corrêa da Silva, Erasmo Dias, Franklin de Oliveira e Oswaldino Marques, contrapostos a Bandeira Tribuzi e seu circulo, integrado por José Sarney, Lucy Teixeira, Belo Parga, Carlos Madeira, e Domingos Vieira Filho, e temperados por figuras atomizadas, àquela altura, como José Brasil e Lago Burnett (CORRÊA, 1989) 75: De onde transparece a conclusão de que muito embora aqueles rapazes tenham ficado rotulados como o Grupo Ilha ou Grupo da Movelaria, o pioneirismo do Modernismo maranhense está radicado no mensário de cultura Malazarte, cujos responsáveis diretos e compósitos foram Corrêa da Silva e J. Figueiredo / José Brasil e Bandeira Tribuzi. A experiência de A Ilha, revista mensal de arte dirigida por José Sarney e Bandeira Tribuzi, representou, portanto, um desdobramento das atividades do poeta luso-maranhense enquanto organizador da cultura. A publicação contava com um conselho de redação integrado por Lucy Teixeira, Erasmo Dias, Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho e Luis Carlos Bello Parga. A Ilha nasceu só E sempre será Mas não hermética E inacessível Pode-se chegar a ela Por qualquer ponta Da Estrela Cardeal Não é preciso bussola Basta atravessar a água Mas não vão se afogar Com o peso da roupa Para alcançar a Ilha É Preciso que dispam As roupas que ainda vestem. Rossini Corrêa (1993) 76 considera que a “Geração de 45” foi um momento de maior embate literário e resistência política. Ferreira Gullar, jovem intelectual, travou um embate literário com Corrêa de Araújo, que resultou em grande polêmica. A relação dos jovens intelectuais com os escritores de contexto literário diferente foi marcada por discordâncias e contendas. Foi na verdade o maior período de irreverência literária vivido no Maranhão, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “De modo geral, havia de parte dos velhos simpatia por nós, mas nós éramos realmente insubmissos, atacávamos, atacávamos, atacávamos”: Voltando-se à Movelaria Guanabara, as discussões ali travadas não se limitavam apenas às discussões literárias, mas passando pelas artes plásticas, entre outros assuntos. O Centro Cultural Gonçalves Dias tinha como meio de divulgação de seu pensamento crítico, um suplemento cultural publicado no jornal Diário de São Luiz, de propriedade do senador Vitorino Freire. Devido o posicionamento questionante dos jovens intelectuais, este teve a sua concessão cancelada. Era o momento de repressão política vivida pelos intelectuais da Geração de 45 e o Maranhão dominado pela oligarquia vitorinista. (REGO, 2010) 77

75 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. 76 Corrêa, Rossini. Formação Social do Maranhão: O Presente de uma Arqueologia. São Luis, SECMA, 1993, p.226. 77 REGO, 2010, obra citada, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm


Como já mostrou Gonçalves (2000) 78, analisando processos de (re) invenção do Maranhão, a partir do estudo da trajetória (fabricada, deliberadamente construída, que se apresenta como natural) de Sarney no campo político e no campo intelectual, a “geração de 50” (geração de 45) idealizou o Maranhão propondo um projeto coletivo para o mesmo, tal projeto foi convertido em projeto pessoal pelo próprio Sarney. Longe de romper com o “estado dinástico”, com o velho e o retrógrado (do vitorinismo) 79, Sarney, com seu projeto “Maranhão Novo”, reinstala e reabilita aquele estado de dinastia. Longe de ser natural, “o Maranhão foi inventado e reinventado, tantas vezes quanto puderam ser construídas estratégias para tal”. Para Silva (2013) 80, a historiografia e crítica literária local passou a denominar de “modernismo literário” no Maranhão o período de 1945 e 1950 - período etiquetado por “oligarquia vitorinista”. Tais epígrafes consagradas pela historiografia local às diversas fases da política maranhense não têm por fortuitas suas origens e podem nos fornecer importantes elementos para compreendermos os usos estratégicos da memória e das referências ao passado como forma de coesão dos grupos em torno de um passado comum reivindicado: Envoltos pela atmosfera de disputas faccionais entre “vitorinistas” e “oposicionistas” que (de)marcaria a historiografia maranhense, os “intelectuais” da segunda metade do século XX não hesitaram em se posicionar fazendo uso de suas “vocações literárias”, dando prosseguimento à tarefa herdada dos protagonistas políticos de outrora nas lutas pela libertação do Maranhão, em direção à retomada do seu mítico passado glorioso, de exuberância econômica, política e cultural, cujo significado é constantemente reinventado conforme se rearranjam os grupos em disputa. Esta observação ganha relevância para este estudo ao percebermos que, no universo analisado, as principais posições dentre os cargos eletivos e da administração pública são ocupados por figuras proeminentes nas disputas faccionais, aliadas ao grupo dos oposicionistas, que se impôs na posição de dominante no espaço do poder político maranhense. Menezes (2010) 81 ao traçar o perfil literário e político de dois maranhenses – de nome Ribamar: Gullar e Sarney, afirma:

Antes de receber a alcunha de intelectual, vanguardista, crítico e memorialista, Ribamar já era conhecido no meio acadêmico ludovicense antes mesmo de escrever o seu primeiro livro 78 GONÇALVES, Fátima. A Invenção do Maranhão Dinástico. São Luís: EDUFMA-PROIN-CS. 2000 79 O vitorinismo (1945-1966) caracteriza-se pelo domínio, da cena política estadual, de Victorino Freire, da Ocupação, contestado pelas Oposições Coligadas, que ascenderiam ao poder em meados dos anos 60, tendo início o sarneísmo; a Ocupação era acusada pelas Oposições de consolidar um projeto contrário às verdadeiras tradições maranhenses; trata-se do período de invenção da mística “Ilha Rebelde” na Greve de 1951 e de forte reatualização do mito da Atenas Brasileira. In COSTA, Wagner Cabral da. Sob o Signo da Morte: Decadência, Violência e Tradição em terras do Maranhão. 2000. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. 80 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 81 MENEZES, Flaviano. Os dois filhos do Mará - Primeira Parte. In Encontrando as Pedras XLI, Blog MARANHARTE, sábado, 10 de abril de 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xlios-filhos-do.html, acessado em 08/05/2014


de poesia, pois era apadrinhado por Manuel Sobrinho (na foto, ao lado do jovem Ribamar e do jornalista Lago Burnett) que fora um dos organizadores do Centro Cultural Gonçalves Dias, uma sociedade cultural que agremiava experientes e jovens escritores de São Luís e que fora presidida por Nascimento Moraes (pai). Em 1946/7, outro Ribamar (então estudante de direito) também tentou entrar para esse clube de intelectuais, não conseguiu. Segundo Nascimento Moraes, sua produção textual foi considerada medíocre pelos mestres literários, entretanto, no mesmo ano o jovem Bandeira Tribuzi (recém-chegado de Portugal) conseguiu entrar e torna-se amigo tanto dos gonçalvinianos (que incluía também Nascimento Moraes Filhos e Lago Burnett e o primeiro Ribamar), quantos daqueles que frequentavam a Movelaria Guanabara (Belo Parga, Murilo Ferreira, Lucy Teixeira e o segundo Ribamar). E assim partem Ferreira Gullar, Lago Burnett, Lucy Teixeira, entre outros. Ferreira Gullar quando se despede dos seus familiares, dos amigos e dos mestres, afirmando para os novos companheiros de ofício que no Maranhão não havia artes plásticas e que vivera uma fase pré-poética. Ou, como ainda confessou para a Folha de São Paulo em 200582: Nasci em São Luís. Era uma cidade à qual as coisas chegavam cem anos depois. Para mim, os poetas estavam todos mortos. Essa era uma profissão de defuntos. Então, comecei como poeta parnasiano, com decassílabos e dodecassílabos. Só mais tarde tomei conhecimento de que havia outra poesia que não era rimada e metrificada: nenhum princípio a priori, nenhuma norma. Mais tarde, em outra entrevista, agora para a revista E (nº 77, SESC) 83, ao ser lembrado sobre uma afirmativa de Mário Faustino na qual dizia que o maranhense havia saído de São Luís e chegado ao Rio sabendo tudo de poesia e de artes plásticas, Ribamar/Gullar arrisca ser mais humilde: [...] A cidade de São Luís continua a ser uma terra de poetas, de pessoas estudiosas e apaixonadas pela literatura, especificamente pela poesia. Quando saí de lá, eu não tinha o conhecimento sobre arte que adquiri um tempo depois. Um dos motivos de ter saído de lá foi exatamente esse. Eu era apaixonado pelas artes plásticas, e lá não havia praticamente nada de artes plásticas. Não tinha museu, salão, galeria de arte, não havia nada. Sequer havia livro sobre arte nas livrarias. O primeiro livro de arte que li era do pai de um amigo meu. [...] Ao que confirma o outro Ribamar/Sarney, em comentário de Menezes (2010) 84, quando fala de sua mágoa com os escritores do CCGD, em sua Coluna no jornal O Estado do Maranhão de 24/06/2007: Mas me angustiava o atraso do Maranhão, sua mentalidade romântica e desalentada. Já, então, lera tudo sobre nosso estado, tinha a cabeça feita sobre as origens dos seus problemas. Mas não tinha com quem conversar sobre isso. Minha geração era só, como sempre acontece no Maranhão, prisioneira do brilho literário. E era para isso e por isso que nos reuníamos todas as tardes na Movelaria Guanabara, de Pedro Paiva, local também dos pintores modernos. O CCGD, cultor do beletrismo, o outro grupo de jovens literatos, não nos aceitava.

82 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhosdo.html, acessado em 08/05/2014 83 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhosdo.html, acessado em 08/05/2014 84 MENEZES, 2010, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2010/04/encontrando-as-pedras-xli-os-filhosdo.html, acessado em 08/05/2014


Aqui permanecendo Bandeira Tribuzi no seu labor literário e no desempenho de suas atividades como economista e Nascimento Morais Filho. Para Rego (2010): A Geração de 45 foi a mais dinâmica e determinada de todas as gerações pós-anos quarenta, como se pode observar na afirmação de Lago Burnett: “Até hoje, no Maranhão, têm surgido, depois de nós, apenas tentativas isoladas de valores autônomos. Desapareceu o espírito de equipe que, embora tenha mérito apenas episódio, facilita a deflagração de movimentos, sobretudo quando se quer mudar alguma coisa. Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 85 refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97). É nesta mesma época que aparece o Suplemento Literário do Jornal do Maranhão – por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex. Surgem o Plano Editorial SECMA86 e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” 87, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão 85 CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006 86 PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009 87 Instituído pela Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC, atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso.


(2008) 88, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”: [...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros. O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC). Bruno Azevedo (2012) 89 expõe sua revolta com os diversos concursos literários que eram realizados à época, afirmando: Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto. Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra! Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros. Silva (2013)90 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)91, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas:

88 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 89 AZEVEDO, Bruno. ...pra não vomitar. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014 90 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 91 REIS, Eliana T. dos. Juventude, Intelectualidade e Política: espaços de atuação e repertórios de mobilização no MDB gaúcho dos anos 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014


[...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. A exemplo da importância desses espaços de afirmação temos a Tipografia São José, da Arquidiocese de São Luís. Gerenciada por Bernardo Coelho de Almeida – entrementes incluído entre importantes estreias como as de José Chagas, Nauro Machado, Macedo Neto, Manuel Lopes e Nascimento Moraes Filho –, fundador da revista Legenda e também publica várias obras de colaboradores desta revista no período analisado, além de lançar outros livros de estreia, como o de José Chagas, Canção da Expectativa (1955). Pelo Centro Cultural Gonçalves Dias Lago Burnett lançou sua primeira obra, Estrela do Céu Perdido (1949) e através da revista Afluente edita alguns livros de sua autoria, como O Ballet das Palavras (1951) e Os Elementos do Mito (1953). Além destas, Voz no Silêncio, de Manuel Lopes (1953); Canção Inicial, de José Sarney (1954) e Iceberg de Macedo Neto (1955). Há também os que não chegaram a publicar, mas participavam dos conselhos editoriais organizados por estes espaços, é o caso de Luís Carlos Bello Parga, que integrava o conselho editorial da revista Ilha, Fundada pelo Grupo Ilha, sob as lideranças de José Sarney e Bandeira Tribuzi, da qual também participava Lucy Teixeira. No entanto, as vinculações destes agentes a determinados lugares e “movimentos culturais” devem ser analisadas relacionando-se os demais posicionamentos tomados em domínios diferenciados e considerados estrategicamente como oportunidades para o estabelecimento de alianças que retroalimentam suas variadas formas de atuação – facilidades de publicação, nomeação para cargos públicos etc. Desta forma a ocupação de cargos públicos vinculados a atividades culturais como a Secretaria de Cultura, FUNC, SIOGE, Conselho Estadual de Cultura e o IPHAN, constituem-se em estratégias privilegiadas para as relações de aliança faccional, que implicam em relações de trocas e retribuições entre estes “intelectuais”, no trânsito entre os domínios político e literário. Assim considerados, justifica-se o percentual elevado dos agentes que ocuparam tais funções administrativas, buscando através do granjeamento das instâncias culturais do estado, condições de sobrevivência, econômica e principalmente literária, que um contexto como o maranhense, sem uma relativa autonomia deste espaço, não lhes poderia ofertar. Bruno Azevedo (2012) 92 ao referir-se à revista/editora Pitomba, criada por ele, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha assim se posiciona: A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora. Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões Norte-Nordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poeme-se e do Chico Discos. Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com 92 AZEVEDO, Bruno. ...pra não vomitar. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014


trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa. Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas: [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 93. O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu94 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)95; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)96. Dinacy Corrêa (2010) 97 diz ser intergrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 98, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 99, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato 93 CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembrodezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 94 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 95 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 96 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 97 CORRÊA, 2010, obra citada 98 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 99 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.


estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Em outro contato, Corrêa 100confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’.

100 CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014.


Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 101. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). Concordamos que se deva ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011) 102; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. Seria uma 10ª fase? A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 103 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).104. Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 105:

Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente, 101 ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 102 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 103 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesiada-sao-luis-contemporanea-4400.htm 104 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luiscontemporanea-4400.htm 105 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”.


quanto em Corrêa (2014) 106, a explicação necessária sobre esse “movimento”:

Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão. O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero107. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília.

FONTE: Lima, 2003, ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, p 9; 100 “Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 108. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponautica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo 106 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 107 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. 108 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.


Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira. 1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. Lima (2003) 109 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson brito, Aldo Leite, e muitos outros. Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas. Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim.

Marcelo Chalvinski, Fernando Abreu, Garrone, Joe Rosa, de óculos escuros, Zé Maria Medeiros

109 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003


Também denominada Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano - 92/93, uma das fotos para matéria do oitavo lançamento da revista 'Uns & Outros’, o "Oitavo Andar” 110. Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê... Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide. Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)111; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio da ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.

110 Informações de Marcelo Chalvisnki, e de Paulo Melo, através de correspondência eletrônica, em 30/04/2014. 111 LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003


Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 112 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Perguntase Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem113.

112 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. 113 LIMA e Outros, 2003, obra citada..


A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.

Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da


poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 114. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos:

Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEMESE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. [...] Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”115 O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! Zeca Baleiro116, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e 114 LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 115 CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 116 Sobre o apelido de Zeca Baleiro: “Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARARI ? Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de


Outros (2003) 117. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.

E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)118 Aparecem, assim, novos grupos organizados, como o caso do Poeisis, ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com chocolate…), degustando-as, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro! Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos…”. In CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/, publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 117 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 118 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luiscontemporanea-4400.htm


uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde119. Sobre esse movimento, Antonio Aílton120 deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale121, o maior e mais importante deles122, o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª Felis, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento. Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A 119 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 120 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 121 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 122 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome...


participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense123. Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca124: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais - determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta. Leão (2008) 125 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: [...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações. Para Dyl Pires126, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. 123 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 124 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico 125 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 126 Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254


Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito127 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta. Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Em 1995, segundo Leão (2008) 128, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. [...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008). Antonio Aílton Santos Silva (2014) 129, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: 127 Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 128 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 129 SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.


As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). [...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... [...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego. [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). [...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/ UFMA/ Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o


espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). [...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007. Dilercy Adler (1995) 130 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade131. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 2004132. Atualmente, Dilercy

130 ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 131 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998. 132 ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004.

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dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções... Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros: [...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poeme-se, ex-integrante da Akademia dos Párias. 133 As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego134.

Alberico Carneiro135 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno: O Guesa Errante136. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores: Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na 133 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 134 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 135 ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html 136Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/


dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.137 Também de 2002 é o movimento denominado Poesia Maloqueirista, nascida em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 2014138. A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão – SOBRAMES-MA – lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética139. EM 2011, É REALIZADA A EXPOSIÇÃO TREZEATRAVÉSTREZE140, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 141, em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro142, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores143. E um quarto volume...144

137 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm 138 Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 139 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009 140 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-nagaleria-hum/ 141 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2; 142 CARNEIRO, Alberico. Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia. in ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ 143 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; 144 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’.


A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, Itapecuru-Mirim, Viana, Barra do Corda, Vargem Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro. De acordo com Teixeira (2014) 145, um novo grupo se forma: “Marcha pela poesia”, movimento que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de Criatividade “Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea. E tem-se conhecimento de um “Catálogo dos Cafés Literários do Odylo”, sendo organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, que será editado por Jomar Moraes. Certamente será mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís146... Quando da constituição da ALL, o Membro Fundador Wilson Pires Ferro, juntamente com a Confreira Ana Luíza Almeida Ferro constituíram comissão para elaborar uma lista de literatos para comporem o quadro de Patronos das Cadeiras a serem fundadas: “SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 A 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)” 147. ELABORAM DOIS QUADROS: NASCIDOS EM SÃO LUIS – LUDOVICENSES; E LITERATOS NÃO-LUDOVICENSES, MAS QUE TIVERAM SUA OBRA LIGADA À CIDADE E/OU AO MARANHÃO, CONSIDERANDO DOS MAIS ANTIGOS AOS CONTEMPORÂNEOS, TODOS FALECIDOS: I – LUDOVICENSES 1) MANUEL ODORICO MENDES - (24.01.1799 – 17.08.1864). OBRAS: MEROPE, DE VOLTAIRE – HINO À TARDE (POESIA) – TANCREDO, DE VOLTAIRE – ENEIDA BRASILEIRA, DE VIRGÍLIO – OPÚSCULO ACERCA DO PALMEIRIM DE INGLATERRA – ILÍADA DE HOMERO – ODISSÉIA DE HOMERO. 2) FRANCISCO SOTERO DOS REIS - (22.04.1800 – 10.03.1871). OBRAS: POSTILAS DE GRAMÁTICA GERAL; APLICADA À LÍNGUA PORTUGUESA PELA ANÁLISE DOS CLÁSSICOS: OU GUIA PARA A CONSTRUÇÃO PORTUGUESA – GRAMÁTICA Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - diário de viagem. São Luis, 2014, no prelo. 145 TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa. 146 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico. 147 ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL. Livro de Atas. ATA DE REUNIÃO no. 03/2013 - 05 de outubro de 2013 - ATA DA REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, realizada no dia 05 de outubro de 2013, na Sala de Multimídias do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.


PORTUGUESA: ACOMODADA AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA PALAVRA SEGUIDOS DE IMEDIATA APLICAÇÃO PRÁTICA – COMENTÁRIOS DE CAIO JULIO CESAR, TRADUZIDOS EM PORTUGUÊS – CURSO DE LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA. 3) JOAQUIM MARIA SERRA SOBRINHO/(20.07.1838 – 29.10.1888)/OBRAS: MOSAICO – O SALTO DE LÊUCADE – UM CORAÇÃO DE MULHER – VERSOS – QUADROS – A IMPRENSA NO MARANHÃO – 1820-1880 (SESSENTA ANOS DE JORNALISMO). 4) MARIA FIRMINA DOS REIS/(11.10.1825 – 11.11.1917)/OBRAS: ÚRSULA, GUPEVA (ROMANCES) E CANTOS À BEIRA-MAR. 5) ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO/(07.07.1855 – 22.10.1908)/OBRAS: CARAPUÇAS – HORAS DE HUMOR – O DIA DE FINADOS – RIMAS DE ARTUR AZEVEDO (POESIAS) – CONTOS FORA DE MODA – CONTOS EFÊMEROS – CONTOS EM VERSO – CONTOS CARIOCAS – VIDA ALHEIA. 6) ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO (14.04.1857 – 21.01.1913) OBRAS: UMA LÁGRIMA DE MULHER – O MULATO – MEMÓRIAS DE UM CONDENADO – A GAZETINHA – A CONDESSA VÉSPER (MISTÉRIO DA TIJUCA) – CASA DE PENSÃO – FILOMENA BORGES – O CORUJA – O PAÍS – O HOMEM – O CORTIÇO – A MORTALHA DE ALZIRA – LIVRO DE UMA SOGRA (ROMANCE) – DEMÔNIOS (CONTOS) – PEGADAS (CONTOS). 7) RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA/(NASCEU A BORDO DO VAPOR SÃO LUÍS, NA BAÍA DE MOGUNÇA, VIAJANDO COM SEUS PAIS DE TURIAÇU PARA A CAPITAL SÃO LUÍS)/(13.05.1859 – 13.09.1911)/OBRAS: PRIMEIROS SONHOS – SINFONIAS – VERSOS E VERSÕES – ALELUIAS – POESIAS. 8) JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA/(21.06.1868 – 26.01.1931)/OBRAS: CANAÃ – MALAZARTE – A ESTÉTICA DA VIDA – MACHADO DE ASSIS E JOAQUIM NABUCO – O ESPÍRITO MODERNO – A VIAGEM MARAVILHOSA. 9) EUCLIDES FARIA (26.03.1846 – 11.10.1911)/OBRAS: DIVERSOS – ARABESCOS – CARTAS AO COMPADRE TIBÚRCIO (NOTÍCIAS DA CAPITAL POR LOURENÇO GOMES FURTADO – MISCELÂNEA – CARTAS A PAI TOBIAS – RETRATOS A GIZ – OBRAS – BRISAS DA AMAZÔNIA – O TACACÁ – CARTAS AO COMPADRE TIBÚRCIO. 10) JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL (03.05.1853 – 30.04.1927)/OBRAS – APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA REVOLUÇÃO DA BALAIADA – FUNDAÇÃO DO MARANHÃO – LIMITES DO MARANHÃO COM O PIAUÍ OU A QUESTÃO DE TUTÓIA – EFEMÉRIDES MARANHENSES – O ESTADO DO MARANHÃO EM 1896. 11) HUGO VIEIRA LEAL (21.07. 1857 – 16.03.1893)/OBRAS: ROSA BRANCA – LAURITA (ROMANCES) – ROSAS DE MAIO –LUCRÉZIA – CAMÕES E O SÉCULO XIX. 12) ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS/(10.11.1860 – 04.09.1923)/OBRAS: HISTÓRIA DO MARANHÃO – O MESTRE E A ESCOLA – OS RAMOS DA EDUCAÇÃO NA ESCOLA PRIMÁRIA – HIGIENE PEDAGÓGICA. 13) MÁRIO MARTINS MEIRELES (08.03.1915 – 10.05.2003)/OBRAS: O IMORTAL MARABÁ – GONÇALVES DIAS E ANA AMÉLIA – JOSÉ DO PATROCÍNIO – PANORAMA DA LITERATURA MARANHENSE - VERITAS LIBERABIT NOS – PEQUENA HISTÓRIA DO MARANHÃO – O 5º. CENTENÁRIO DO INFANTE D. HENRIQUE NO MARANHÃO – HISTÓRIA DO MARANHÃO – FRANÇA EQUINOCIAL – GUIA TURÍSTICO – SÃO LUÍS DO MARANHÃO – GLORIFICAÇÃO DE GONÇALVES DIAS – CATULO, SERESTEIRO E POETA – SÃO LUÍS – CIDADE DOS AZULEJOS – HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA DO MARANHÃO – SANTOS DUMONT E A CONQUISTA DOS CÉUS – MELO E POVOAS – GOVERNADOR E CAPITÃO-GENERAL DO MARANHÃO – DISCURSOS NA ACADEMIA – HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO – DOM DIOGO DE SOUSA – GOVERNADOR E CAPITÃO-GENERAL DO MARANHÃO E PIAUÍ – O ENSINO SUPERIOR NO MARANHÃO; ESBOÇO HISTÓRICO – APONTAMENTOS PARA A


HISTÓRIA DA FARMÁCIA NO MARANHÃO – OS NEGROS NO MARANHÃO – O BRASÃO D’ARMAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO – O MARANHÃO E A REPÚBLICA – OS HOLANDESES NO MARANHÃO – HISTÓRIA DO COMÉRCIO DO MARANHÃO (V. 4) – APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DA MEDICINA NO MARANHÃO – ROSÁRIO DO ITAPECURU-GRANDE – DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS – A SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO MARANHÃO; SUBSÍDIOS PARA A SUA HISTÓRIA – VINTE E OITO OU VINTE DE JULHO? – JOÃO DE BARROS, PRIMEIRO DONATÁRIO DO MARANHÃO – O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR-OCEANO. 14) MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD/(10.07.1925 - ?)/OBRAS: A CIRANDA DA VIDA – GRADES E AZULEJOS – RIO VIVO – TEIAS DO TEMPO – O PREÇO – CINZA E ROSA – UM AMOR DE PSIQUIATRA. 15) DAGMAR DESTÊRRO E SILVA (09.09.1925 - ?)/OBRAS: RECORDANDO SÃO LUÍS – SEGREDOS DISPERSOS – PARÁBOLA DO SONHO QUASE VIDA – PEDRA-VIDA – POEMAS PARA SÃO LUÍS – CANTO AO ENTARDECER – SELETA POÉTICA. 16) JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO/(21.08.1917 - ?)/OBRAS: (ROMANCES) JANELAS FECHADAS - A LUZ DA ESTRELA MORTA – LABIRINTO DE ESPELHOS – A DÉCIMA NOITE – OS DEGRAUS DO PARAÍSO – CAIS DA SAGRAÇÃO – OS TAMBORES DE SÃO LUÍS – NOITE SOBRE ALCÂNTARA – A COROA DE AREIA – O SILÊNCIO DA CONFISSÃO – LARGO DO DESTERRO – ALELUIA – PEDRA VIVA – UMA VARANDA SOBRE O SILÊNCIO – PERTO DA MEIA-NOITE – ANTES QUE OS PÁSSAROS ACORDEM – A ÚLTIMA CONVIDADA – UM BEIRAL PARA OS BENTIVIS – O CAMAROTE VAZIO – O BAILE DE DESPEDIDA – A VIAGEM SEM REGRESSO – UMA SOMBRA NA PAREDE - MULHER PROIBIDA – ENQUANTO O TEMPO NÃO PASSA – (NOVELA) – O FIO DA MEADA - DUAS VEZES PERDIDA – NUMA VÉSPERA DE NATAL – UMA TARDE, OUTRA TARDE – A INDESEJADA APOSENTADORIA – GLORINHA – UM ROSTO DE MENINA E OUTRAS NOVELAS REAIS. 17) JOSÉ DO NASCIMENTO MORAIS FILHO/(15.07.1922 - ?)/OBRAS: CLAMOR DA HORA PRESENTE – GUARNICÊ – PÉ DE CONVERSA – AZULEJOS – O QUE É O QUE É? ESFINGE DO AZUL – ESPERANDO A MISSA DO GALO – MARIA DILERMINA; FRAGMENTOS DE UMA VIDA – CANCIONEIRO GERAL DO MARANHÃO. 18) JOSÉ DO NASCIMENTO MORAES (19.03.1882 – 21.02.1958) OBRAS: PUXOS E REPUXOS – VENCIDOS E DEGENERADOS – NEUROSE DO MEDO. 19) FRANKLIN DE OLIVEIRA/(12.0.1916 - ?)/OBRAS: SETE DIAS – A FANTASIA EXATA – RIO GRANDE DO SUL: UM NOVO NORDESTE – REVOLUÇÃO E CONTRAREVOLUÇÃO NO BRASIL - QUE É A REVOLUÇÃO BRASILEIRA? – VIOLA D’AMORE – MORTE DA MEMÓRIA NACIONAL – A TRAGÉDIA DA RENOVAÇÃO BRASILEIRA – LITERATURA E CIVILIZAÇÃO – EUCLYDES; A ESPADA E A LETRA – A SEMANA DE ARTE MODERNA NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA E OUTROS ENSAIOS. 20) JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA (02.09.1867 – CRIMES DE GRAJAÚ – A REPÚBLICA EM MARANHÃO HISTÓRICO – LITERATURA MARANHENSE – ATAS E PROVISÓRIO – GARCIA DE ABRANCHES, O CENSOR – CATIVEIRO - A ESFINGE DE GRAJAÚ.

11.03.1941)/OBRAS: OS – MEMÓRIAS DE UM ATOS DO GOVERNO A SETEMBRADA – O

21) ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LOBO/(04.07.1870 – 24.06.1916)/OBRAS: HENRIQUETA – DEBALDE – A CARTEIRA DE UM NEURASTÊNICO – (ROMANCES) – OS NOVOS ATENIENSES – PELA RAMA – A POLÍTICA MARANHENSE. 22) ODYLO COSTA, FILHO/(14.12.1914 - ?)/OBRAS: GRAÇA ARANHA E OUTROS ENSAIOS – LIVRO DE POEMAS DE 1935 – A FACA E O RIO – TEMPO DE LISBOA E OUTROS POEMAS – CANTIGA INCOMPLETA – OS BICHOS NO CÉU – NOTÍCIAS DE AMOR – A VIDA DE NOSSA SENHORA.


23) OSWALDINO RIBEIRO MARQUES/(17.10.1916 - ?)/(OBRAS: POEMAS QUASE DISSOLUTOS – SINTO QUE SOU UMA CIDADE – CRAVO BEM TEMPERADO – USINA DO SONHO. 24) LAURA ROSA/(01.10.1884 -14.11.1976)/OBRAS: PROMESSAS (CONTOS) – CASTELOS NO AR (POEMAS INÉDITOS). 25) JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI)/(02.02.1927 - ?)/(OBRAS: ALGUMA EXISTÊNCIA – SAFRA – SONETOS – PELE E OSSO – BREVE MEMORIAL DE LONGO TEMPO – LOUVAÇÃO DE SÃO LUÍS (HINO). 26) DOMINGOS VIEIRA FILHO/(25.09.1924 - ?)/OBRAS: SUPERSTIÇÕES LIGADAS AO PARTO E À VIDA INFANTIL – A LINGUAGEM POPULAR DO MARANHÃO – A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO – FOLCLORE SEMPRE – O NEGRO NA POESIA BRASILEIRA – NINA RODRIGUES – ESTUDOS GEOGRÁFICOS DO MARANHÃO – BREVE HISTÓRIA DAS RUAS DE SÃO LUÍS – BREVE HISTÓRIA DAS RUAS E PRAÇAS DE SÃO LUÍS – PANORAMA DA DIPLOMACIA – A POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO – FOLCLORE DO MARANHÃO. 27) JOSÉ CARLOS LAGO BURNETT (15.08.1929 - ?)/OBRAS: ESTRELA DO CÉU PERDIDO – O BALLET DAS PALAVRAS – OS ELEMENTOS DO MITO – 50 POEMAS DE LAGO BURNETT. 28) CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA/(14.03.1920 - ?)/OBRAS: BUMBA-MEU-BOI (FOLCLORE) – BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO (TOADAS) – HISTÓRIA DO MARANHÃO – RÉQUIEM PARA UM MENINO – A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO EM ALCÂNTARA – AS MINHAS E A DOS OUTROS – ESTÓRIAS MARANHENSES – CARTA AO COMPADRE TIBURTINO – ABC DO SEBRAE – LENDAS DO MARANHÃO – POESIAS ESPARSAS – ARQUIVO MORTO – TEMPESTADE NO LAGO – ARTIGOS E CRÔNICAS EM JORNAIS E REVISTAS – HISTÓRIA DO MARANHÃO (A COLÔNIA) – HISTÓRIA DO MARANHÃO (A MONARQUIA) – HISTÓRIA DO MARANHÃO (A REPÚBLICA). 29) CATULO DA PAIXÃO CEARENSE/(08.10.1863 – 10.05.1946)/OBRAS: CANCIONEIRO POPULAR DE MODINHAS BRASILEIRAS – LIRA BRASILEIRA – POESIAS POPULARES – NOVOS CANTARES – SERTÃO EM FLOR – MEU SERTÃO – POEMAS BRAVIOS - ALMA DO SERTÃO – MATA ILUMINADA – FÁBULAS E ALEGORIAS – O SOL E A LUA – UM BOÊMIO DO CÉU – MEU BRASIL – TESTAMENTO DA ÁRVORE – UM CABOCLO BRASILEIRO – O MILAGRE DE SÃO JOÃO – AOS PESCADORES – ORAÇÃO À BANDEIRA. II - NÃO NASCIDOS EM SÃO LUÍS, MAS QUE RESIDIRAM NA CIDADE POR ALGUM TEMPO 1) CLAUDE D’ABBEVILLE (FRANÇA)/(NÃO CONHECIDA)/OBRAS: A HISTÓRIA DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS (O MAIS COMPLETO RELATO SOBRE A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS) 2) YVES D’ÉVREUX (FRANÇA)/(1577 - DEPOIS DE 1629)/OBRA: VIAGEM AO NORTE DO BRASIL (CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA DAS COISAS MAS MEMORÁVEIS HAVIDAS NO MARANHÃO NOS ANOS DE 1613 E 1614) 3) DIOGO DE CAMPOS MORENO (PORTUGAL) (NÃO CONHECIDA)/OBRA: JORNADA DO MARANHÃO POR ORDEM DE S. MAJESTADE FEITA EM 1614. 4) MANOEL DE SOUSA SÁ (NÃO IDENTIFICADA)/(IGNORADA)/OBRA: BREVE RELAÇÃO DA CONQUISTA DO MARANHÃO. 5) SIMÃO ESTÁCIO DA SILVEIRA (PORTUGAL)/(NÃO CONHECIDA)/OBRA: RELAÇÃO SUMÁRIA DAS COISAS DO MARANHÃO.


6) PE. JOÃO FELIPE BETTENDORF (LUXEMBURGO)/(NÃO CONHECIDA)/OBRA: CRÔNICA DA MISSÃO DOS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS NO ESTADO DO MARANHÃO. 7) FRANCISCO TEIXEIRA DE MORAIS (PORTUGAL)/(NÃO CONHECIDA)/OBRA: RELAÇÃO HISTÓRICA DE POLÍTICA DO TUMULTO QUE SUCEDEU NA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. 8) FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA (PORTUGAL)/(25.7.1583 – 14.04.1652)/OBRAS: HISTÓRIA NATURAL E MORAL DO MARANHÃO – HISTÓRIA DOS ANIMAIS E ÁRVORES DO MARANHÃO. 9) BERNARDO PEREIRA DE BERREDO E CASTRO (PORTUGAL)/(IGNORADA)/OBRA: ANAIS HISTÓRICOS DO ESTADO DO MARANHÃO. 10) PE. JOSÉ XAVIER DE MORAES DA FONSECA PINTO (PORTUGAL)/(01.12.1708 ?)/OBRAS: HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E PARÁ. 11) PE. ANTÔNIO VIEIRA (PORTUGAL)/(06.02.1608 – 18.07.1697)/OBRAS: VOZES SAUDOSAS – SERMÕES VÁRIOS - OBRAS COMPLETAS (27 VOLUMES) - SERMÕES – SERMÕES NO BRASIL E EM PORTUGAL. 12) RAIMUNDO JOSÉ DE SOUSA GAIOSO (ARGENTINA)/(1747 – 1813)/OBRAS: COMPÊNDIO HISTÓRICO-POLÍTICO DOS PRINCÍPIOS DA LAVOURA DO MARANHÃO. 13) FRANCISCO DE PAULA RIBEIRO (PORTUGAL)/(IGNORADA)/OBRAS: ROTEIRO DE VIAGEM – MEMÓRIA SOBRE NAÇÕES GENTIAS QUE PRESENTEMENTE HABITAM O CONTINENTE DO MARANHÃO – MAPA GEOGRÁFICO DA CAPITANIA DO MARANHÃO. 14) FREI FRANCISCO DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES (PORTUGAL)/(1790 – 1852)/OBRA: PORANDUBA MARANHENSE.

MARANHÃO

15) ANTONIO BERNARDINO PEREIRA DO LAGO (PORTUGAL)/(IGNORADA)/OBRAS: ITINERÁRIO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO: 1820 – ROTEIRO DA COSTA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO DESDE JERICOACOARA ATÉ A ILHA DE SÃO JOÃO, DA ENTRADA E SAÍDA PELA BAIA DE SÃO MARCOS – ESTATÍSTICA HISTÓRICOGEOGRÁFICA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 16) MARTIUS (KARL FREDERICH PHILLIP VON) E SPIX (JOHANN BATIST VON) (ALEMANHA)MARTIUS/(17.04.1794 – 13.12.1888) E SPIX (1781 – 1827)/OBRA: VIAGEM PELO BRASIL (A GRANDE AVENTURA DE SPIX E MARTIUS./B) AUTORES DO GRUPO MARANHENSE: NEOCLÁSSICOS E ROMÂNTICOS 17) JOÃO FRANCISCO LISBOA (PIRAPEMAS)/(22.03.1812 - 26.04.1863)/OBRAS: OBRAS DE JOÃO FRANCISCO LISBOA (4 V.) – JORNAL DE TIMON (V. 1) – JORNAL DE TIMON (V. 2) – JORNAL DE TIMON (V. 3). 18) ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (CAXIAS)/(10.08.1823 – 03.11.1864)/OBRAS: PRIMEIROS CANTOS – SEGUNDOS CANTOS E SEXTILHAS DE FREI ANTÃO – ÚLTIMOS CANTOS – CANTOS – PRIMEIROS CANTOS, SEGUNDOS CANTOS, ÚLTIMOS CANTOS – NOVOS CANTOS – OS TIMBIRAS – DICIONÁRIO DA LÍNGUA TUPI – OBRAS PÓSTUMAS./ 19) JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE) (GUIMARÃES)/(09.07.1832 21.04.1902)/OBRAS: HARPAS SELVAGENS – IMPRESSOS – OBRAS POÉTICAS – GUESA ERRANTE – NOVO ÉDEN; POEMETO DA ADOLESCÊNCIA, 1888-1889. 20) CÉSAR AUGUSTO MARQUES (CAXIAS)/(12.12.1826 – 05.10.1900)/OBRAS: ALMANAQUE DE LEMBRANÇAS BRASILEIRAS – DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO.


21) ANTÔNIO HENRIQUES LEAL (CANTANHEDE)/(24.07.1828 -29.09.1885)/OBRAS: PANTEON MARANHENSE – APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DOS JESUÍTAS NO BRASIL – LUCUBRAÇÕES. 22) TRAJANO GALVÃO DE CARVALHO (VITÓRIA DO MEARIM)/(19.01.1930 – 14.07.1864)/OBRAS: SERTANEJAS – COLABOROU EM PARNASO MARANHENSE, A CASCA DA GAMELEIRA. 23) FRANCISCO DIAS CARNEIRO (PASSAGEM FRANCA)/(23.11.1837 – 17.01.1896)/OBRAS: POESIAS – POESIAS DIVERSAS – COLABOROU NO ROMANCE A CASCA DA GAMELEIRA. 24) CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA (BREJO DOS ANAPURUS)/(14.10.1818 – 01.03.1881)/OBRAS: CÓDIGO FILIPINO OU ORDENAÇÕES DO REINO DE PORTUGAL, ANOTADAS E SEGUIDAS DA LEGISLAÇÃO SUBSEQUENTE PORTUGUESA E BRASILEIRA ATÉ 1870 – MEMÓRIAS PARA A HISTÓRIA DO EXTINTO ESTADO DO MARANHÃO 25) LUÍS ANTÔNIO VIEIRA DA SILVA (VISCONDE DE VIEIRA DA SILVA) (FORTALEZACE)/(02.10.1828 – 03.11.1889)/OBRAS: HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. 26) CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES (VIANA)/(11.11.1849 – 09.06.1879)/OBRAS: ELA POR ELA (NOVELA) – VERSOS – UM ESTUDO DE TEMPERAMENTO (ROMANCE) – A POESIA POPULAR BRASILEIRA – O TRABALHO – O DOMINGO. 27) TEÓFILO ODORICO DIAS DE MESQUITA (CAXIAS)/(08.11.1854 – 29.03.1889)/OBRAS: FLORES E AMORES – LIRA DOS VERDES ANOS – CONTOS TROPICAIS – FANFARRAS – A COMÉDIA DOS DEUSES. 28) ADELINO FONTOURA CHAVES (AXIXÁ)/(30.03.1855 – 02.05.1884)/OBRAS: DISPERSOS – A FICHA DE ADELINO FONTOURA NA ACADEMIA 29) HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO (CAXIAS)/(21.02.1864 – 28.11.1934)/OBRAS: A CAPITAL FEDERAL (IMPRESSÕES DE UM SERTANEJO) – O PAÍS – MIRAGEM – O REI FANTASMA – INVERNO EM FLOR – O MORTO (MEMÓRIAS DE UM FUZILADO) – O PARAÍSO (EXCELSAS FANTASIAS) – O RAJÁ DE PENDJAB – A CONQUISTA – TORMENTA – INOCÊNCIO INOCENTE – O MALHO – O ARARA – TURBILHÃO – ESFINGE – REI NEGRO (ROMANCE BÁRBARO) – O MISTÉRIO – O POLVO – FOGOFÁTUO 30) JOÃO DE DEUS DO REGO (CAXIAS)/(22.11.1867 – 30.06.1902)/OBRAS: PRIMEIRAS RIMAS – ÚLTIMAS RIMAS 31) MANUEL FRANCISCO PACHECO (FRAN PACHECO)/(PORTUGAL)/09.03.874 – 17.09.1952)/OBRAS: O SR. SILVIO ROMERO E A LITERATURA PORTUGUESA - O MARANHÃO E SEUS RECURSOS – O COMÉRCIO MARANHENSE – A LITERATURA PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA – PORTUGAL E A RENASCENÇA – OS BRAGANÇAS E A RESTAURAÇÃO – ANGOLA E OS ALEMÃES – O TRABALHO MARANHENSE – PORTUGAL E O MARANHÃO – GEOGRAFIA DO MARANHÃO – TRABALHOS DO CONGRESSO PEDAGÓGICO DO MARANHÃO. 32) JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO (BARRA DO CORDA)/(20.12.1879 - 25.12.1915)/OBRAS: PAPÉIS VELHOS – ESTATUETAS – VITÓRIAS RÉGIAS. 33) DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES (SÃO BENTO)/(29.11.1880 – 26.12.1946)/OBRAS: MOSAICOS – O DOMINÓ VERMELHO – CONTOS DA MINHA TERRA – SILHUETAS. 34) MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO (PIRAPEMAS)/(23.01.1884 – 10.04.1967)/OBRAS: TERRA DE SANTA CRUZ – HISTÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA –


BRASIL DOS MEUS AVÓS – BAÚ VELHO – GAVETA DO SAPATEIRO – ALCOVAS DA HISTÓRIA – MATA GALEGO – CASA DE BELCHIOR – O PAÍS DO PAU DE TINTA – BALAIADA – ERA UMA VEZ – CONTOS DA HISTÓRIA DO BRASIL – VARINHA DE CONDÃO – ARCA DE NOÉ – NO REINO DA BICHARADA – QUANDO JESUS NASCEU – A MACACADA – OS MEUS BICHINHOS – HISTÓRIA DO BRASIL PARA CRIANÇAS – MEU TORRÃO – BICHOS E BICHINHOS – NO PAÍS DA BICHARADA – CAZUZA – A DESCOBERTA DO BRASIL – HISTÓRIA DE CARAMURU – A BANDEIRA DAS ESMERALDAS – AS BELAS HISTÓRIAS DA HISTÓRIA DO BRASIL – CURIOSIDADES DE HISTÓRIA DO BRASIL – HISTÓRIA DA LIBERDADE NO BRASIL. 35) JOAQUIM VESPASIANO RAMOS (CAXIAS)/(12.08.1884 – 26.12.1916)/OBRA: COUSA ALGUMA. 36) RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO (PEDREIRAS)/(29.05.1885 – 24.08.1951)/OBRAS: HARPAS DE FOGO – EVANGELHO DE MOÇO - PEDREIRAS – ACRÓPOLE – ODE A PORTUGAL - A TIRANIA – PELA PÁTRIA – A RELIGIÃO: FENÔMENO SOCIAL, ATRAVÉS DE POESIAS – ODE A GONÇALVES DIAS – O CANTO DAS CIGARRAS – O TIRANETE DE ATENAS. 37) HUMBERTO DE CAMPOS VERAS (MIRITIBA)/(25.10.1886 – 05.12.1934)/OBRAS: POEIRA – POESIAS COMPLETAS – DA SEARA DE BOOZ (COLHEITA DE RUTH) – MEALHEIRO DE AGRIPA – DESTINOS – OS PÁRIAS – LAGARTAS E LIBÉLULAS – SOMBRAS QUE SOFREM - SEPULTANDO OS MEUS MORTOS – NOTAS DE UM DIARISTA – REMINISCÊNCIAS – UM SONHO DE POBRE – CONTRASTE – ÚLTIMAS CRÔNICAS – VALE DE JOSAFÁ – TONEL DE DIÓGENES – SERPENTE DE BRONZE – GANSOS DO CAPITÓLIO – A BACIA DE PILATOS – A FUNDA DE DAVI – GRÃOS DE MOSTARDA – POMBOS DE MAOMÉ – O ARCO DE ESOPO – ANTOLOGIA DOS HUMORISTAS GALANTES – ALCOVA E SALÃO – MEMÓRIAS – MEMÓRIAS INACABADAS – FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO – CARVALHOS E ROSEIRAS – CRÍTICA – O MONSTRO E OUTROS CONTOS – HISTÓRIAS MARAVILHOSAS – À SOMBRA DAS TAMAREIRAS – O BRASIL ANEDÓTICO – O CONCEITO E A IMAGEM NA POESIA BRASILEIRA – ANTOLOGIA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. 38) JOÃO MIGUEL MOHANA (BACABAL)/(15.06.1925 - )/OBRAS: O OUTRO CAMINHO – MARIA DA TEMPESTADE – SOFRER E AMAR – A VIDA SEXUAL DOS SOLTEIROS E CASADOS – O MUNDO E EU – AMOR E RESPONSABILIDADE – PADRES E BISPOS AUTOANALISADOS – AJUSTAMENTO CONJUGAL – PREPARE SEUS FILHOS PARA O FUTURO – PAZ PELA ORAÇÃO – CÉU E CARNE NO CASAMENTO – O ENCONTRO – PLENITUDE HUMANA. 39) LUCY DE JESUS TEIXEIRA (CAXIAS)/(11.07 1922 - ?)/OBRAS: ELEGIA FUNDAMENTAL – PRIMEIRO PALIMOSESTO – NO TEMPO DOS ALAMARES E OUTROS SORTILÉGIOS. 40) MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER (DILÚ MELLO) (VIANA)/(25.09.1913 – 24.04.2000)/OBRAS: NÃO ENCONTREI NENHUM LIVRO PUBLICADO POR ELA. FOI, ENTRETANTO, UMA CANTORA, COMPOSITORA, FOLCLORISTA E MUSICISTA QUE MUITO HONROU O NOME DA TERRA NO PAÍS E NO EXTERIOR. ERA UMA MUSICISTA DE MÃO CHEIA, TOCAVA ACORDEON, VIOLÃO, PIANO, VIOLA CAIPIRA, HARPA PARAGUAIA, DENTRE OUTROS INSTRUMENTOS. DILÚ GRAVOU POUCO MAIS DE UMA DÚZIA DE DISCOS COMPACTOS 78 RMP, TRÊS LPS E DEIXOU UM LEGADO DE MAIS DE 100 COMPOSIÇÕES, CANÇÕES QUE ERAM VERDADEIRAS POESIAS. AQUELA JANELA, BOIUNA, BONECOS DE MARACATU, BRASIL EM TRÊS MINUTOS, CADA CRIANÇA É UMA CANÇÃO, A CANÇÃO DO BOLO, CANÇÃO PARA ADORMECER MAMÃE, CANÇÃO PARA FAZER MAMÃE FELIZ, CAXIAS – CIDADE PRINCESA, CIGARRA, COMPADRE JOSÉ, CRIANÇA, DANÇA DO ESQUINADO, DILUIU-SE, EU DEI, EU DEI, ESTRADA DE FERRO DA BAHIA, FESTINHA BOA, FOLE DE PANO, A HISTÓRIA DA ÁRVORE DE NATAL, JURA DE CABOCLO, HELOÍSA, HINO À BANDEIRA DO MARANHÃO, LOUVAÇÃO A SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, NOS BRAÇOS DA LIBERDADE, ORAÇÃO, POLICROMIA, RIO, AMOR, FANTASIA, SÃO LUÍS – CIDADE


SORRISO, SÓ QUERO LILI, NOITE DE SÃO JOÃO DO MARANHÃO E SAUDADES DO MARANHÃO, QUE POR MAIS DE UMA DÉCADA ERA A CARACTERÍSTICA SONORA COM QUE AS RÁDIOS DE SÃO LUÍS INICIAVAM O DIA: ‘MARANHÃO, QUE TERRA BOA/ONDE O POETA NASCEU/MARANHÃO É MINHA TERRA/BERÇO QUE DEUS ME DEU/A LINDA PRAIA...’ (E POR AÍ VAI). FEZ SUCESSO COM SUAS CANÇÕES EM PAÍSES DA AMÉRICA, COMO URUGUAI, PARAGUAI E ARGENTINA, PERU, PRINCIPALMENTE, E ATÉ NA EUROPA, NOTADAMENTE NA ESPANHA, PORTUGAL, ALEMANHA. POR SEUS MÉRITOS NA COMPOSIÇÃO E INTEPRETAÇÕES DE SUAS BELAS CANÇÕES ELA FOI ELEITA MEMBRO EFETIVO DA ACADEMIA CARIOCA DE LETRAS, TOMANDO POSSE EM 1978. 41) ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA (MATINHA)/(22.05.1900 - ?)/OBRAS: GLEBA QUE CANTA – PROFETAS DE FOGO – NOVENTA DIAS DE GOVERNO – ASPECTOS DE UMA CAMPANHA – DISCURSOS POLÍTICOS – GUESA ERRANTE (ESTUDO) – TERRA ENFEITADA E RICA – CAXIAS E SEU GOVERNO CIVIL NA PROVÍNCIA DO MARANHÃO – A VIDA SIMPLES DE UM PROFESSOR DE ALDEIA – A BALAIADA – A VIDA VALE UM SORRISO – UMA AVENTURA SENTIMENTAL – GONÇALVES DIAS E OS PROBLEMAS DA ECONOMIA NACIONAL – CELSO MAGALHÃES E O FOLCLORE NACIONAL – SOCIOLOGIA DOS MORROS CARIOCAS – O NEGRO NA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO MARANHÃO. FORAM ACRESCIDOS na lista de nomes de patronos disponíveis para votação, mais 03 (três) nomes: 42) José Ribamar Sousa Reis, 43) Erasmo Dias; e 44) Dom Luis Raimundo da Silva Brito. ALGUMAS PONDERAÇÕES: 1) NA ESCOLHA DOS PATRONOS, PRIORIZAR OS VULTOS LITERÁRIOS NASCIDOS EM SÃO LUÍS (NA PROPORÇÃO DE 50% NA COMPOSIÇÃO DA ALL), SEM, CLARO, IGNORAR OS NOTÁVEIS NASCIDOS NO ESTADO DO MARANHÃO E EM OUTROS ESTADOS QUE TENHAM HONRADO SÃO LUÍS. 2) FAZER CONSTAR DA RELAÇÃO DE PATRONOS AQUELE QUE FOI O EMITENTE DA CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE SÃO LUÍS: CLAUDE D’ABBEVILLE E, SE POSSÍVEL, TAMBÉM YVES D’ÉVREUX. Por votação, foram escolhidos como Patronos: LUDOVICENSES: 01) MANUEL ODORICO MENDES; 02) FRANCISCO SOTERO DOS REIS; 03) MARIA FIRMINA DOS REIS; 04) ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO; 05) ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO; 06) RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA; 07) JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA; 08) JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL; 09) ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS; 10) MÁRIO MARTINS MEIRELES; 11) MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD; 12) DAGMAR DESTÊRRO E SILVA; 13) JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO; 14) JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA; 15) ODYLO COSTA, FILHO; 16) LAURA ROSA; 17) JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI); 18) DOMINGOS VIEIRA FILHO; 19) CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA; 20) CATULO DA PAIXÃO CEARENSE; NÃO LUDOVICENSES: 21) CLAUDE D’ABBEVILLE (FRANÇA); 22) PE. ANTÔNIO VIEIRA (PORTUGAL); 23) JOÃO FRANCISCO LISBOA (PIRAPEMAS); 24) ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (CAXIAS); 25) JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE) (GUIMARÃES); 26) ANTÔNIO HENRIQUES LEAL (CANTANHEDE); 27) CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA (BREJO DOS ANAPURUS); 28) CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES (VIANA); 29) HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO (CAXIAS); 30) MANUEL FRANCISCO PACHECO (FRAN PACHECO) (PORTUGAL); 31) JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO (BARRA DO CORDA); 32) DOMINGOS


QUADROS BARBOSA ÁLVARES (SÃO BENTO); 33) MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO (PIRAPEMAS); 34) RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO (PEDREIRAS); 35) HUMBERTO DE CAMPOS VERAS (MIRITIBA); 36) JOÃO MIGUEL MOHANA (BACABAL); 37) LUCY DE JESUS TEIXEIRA (CAXIAS); 38) MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER (DILÚ MELLO) (VIANA); 39) ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA (MATINHA); 40) José Ribamar Sousa dos Reis. Para o Plano desta Antologia da Academia Ludovicense de Letras, serão incluídos os Patronos – ludovicenses ou não – e junto, os respectivos Fundadores de cada uma das 40 (quarenta) Cadeiras. A seguir, e em homenagem à participação feminina na construção da literatura ludovicense, estas estarão incluídas numa segunda sessão, caso não estejam, já, contempladas na primeira; por fim, os literatos... Buscamos a justificativa em destacar a presença feminina em Silva (2009) 148, que afirma: ao longo dos cem anos de existência da Academia Maranhense de Letras, dos cento e quarenta e dois (142) membros, apenas oito (8) são mulheres. São elas: Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud, Lucy Teixeira, Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida. Corrêa e Pinto (2011) 149, ao lançarem olhar sobre a poesia maranhense contemporânea de autoria feminina - a safra poética das últimas décadas do século XX, a partir dos anos 80 -, identificam: Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline. A Academia Ludovicense de Letras, dentre seus membros – Patronos e Fundadores – possui seis Patronas, das Cadeiras: 08: Maria Firmina dos Reis – também Patrona da Academia, por isso “Casa de Firmina dos Reis”; 25: Laura Rosa; 29: Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello); 34: Lucy de Jesus Teixeira; 37: Maria da Conceição Neves Aboud; e 38: Dagmar Destêrro e Silva. Dentre as Fundadoras: ocupam: Cadeira 8, Dilercy Adler; Cadeira 30, Clores Holanda Silva; e Cadeira 31, Ana Luiza Almeida Ferro. Em março, quando da eleição de novos membros da ALL, foram indicadas e aceitas: Ceres Costa Fernandes, cadeira 34 patroneada por Lucy de Jesus Teixeira, indicação de Álvaro Urubatam Melo; Maria Thereza de Azevedo Neves, indicada por Sanatiel de Jesus Pereira, para a cadeira 13 patroneada por Artur Azevedo; Eva Maria Nunes Chatel, indicação de Ana Luiza Almeida Ferro, para ocupar a Cadeira 29, patroneada por Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello). E como as Cadeiras estão ordenadas cronologicamente, dos mais antigos aos mais novos, não há necessidade de enquadramento a uma das fases, ou geração – acima já identificadas... 148 SILVA, RENATO KERLY MARQUES. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses. Dissertação de mestrado. Ufma, 2009. Disponivel em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_docman&task... 149 CORRÊA, Dinacy Mendonça; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE. Núcleo de Estudos Linguísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema.


ALVARO SERRA DE CASTRO150 8 de abril de 1911 # Formou-se em Medicina pela faculdade Nacional de Medicina, da Universidade do Brasil. Professor emétrito e clínico de largo conceito. É docente de Clínica Pediátrica Médica da Faculdade nacional de Medicina e da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Pertence a varias associações científicas, tais como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a American Academy of Pedriatries, a Societé de Pedisatrie de Paris. Há representado o Brasil em inúmeros congressos internacionais de pediatria. Serra de castro ocupa, na Academia Maranhense de letras, a cadeira 34, de que foi fundador, sob o patrocínio do poeta João de Deus do Rego. Bibliografia- A eritrofalcerria (1944); Penicilinoterapia da Sífilis (1946); Subsidios ao estudo do tratamento da sífilis congênita pela penicilina sódica (1947); Doenças do sangue na infância e adolescência (1955); Assistencia ao recém-nascido (1957); Doenças do recém-nascido (1957); Vida e obra de João de Deus do Rego (1951). O MÉDICO E O POETA Quis o destino, pois, que um doutor em Medicina, cuja vida tem sido dedicada quase inteiramente aos árduos afazeres da clínica e aos exaustivos labores do ensino médico, um militante se bem que modesto, das letras médicas, viesse a sentar-se, nesta casa, em uma cadeira cujo patrono é uma figura que teve como traço predominante de sua feição intelectual o ser poeta. Mas, eu não me incluo entre aqueles que pensam que as Musas fazem mal aos doutores. Pelo contrário, sou dos que sentem que muitas vezes os doutores é que fazem mal às Musas. [...] (Discurso de posse na Academia Maranhense de Letras)

150 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 240-242


ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LÔBO151

4 de julho de 1870 / 24 de junho de 1916 Nasceu em São Luís, aos 4 de julho de1870 e faleceu na mesma cidade, ao 24 de junho de 1916. Era filho dePolicarpo José da Costa Lobo e de D. Francisca Leal Lobo. Foi professor da Escola Normal e do Seminário das Mercês. Dirigiusuperiormente o antigo Liceu Maranhense, a Instrução Pública e a Biblioteca Pública, aí imprimindo administração moderna, com aintrodução de novos processos de biblioteconomia. Escritor elegante e jornalista combativo, lobo foi redator e colaborador de muitas folhas sanluisenses, merecendo destaque ‘’Pacotilha’’, ‘’A Tarde’’, ‘’O Jornal’’,‘’Diário do Maranhão’’, ‘’Federalista’’, ‘’Revista Elegante’’ e a ‘’Revistado Norte’’, fundada por ele e Alfredo Teixeira. Nesses periódicos fez política, ficção, crítica literária e ciência, pois que era versado em sociologia e biologia. Exemplo marcante de autodidata, exerceu poderosa influencia na geração de 1900, congregando-se à sua roda os jovens talentos esperançosos que formavam, então, as inúmeras sociedades literárias, surgidas do dia para a noite. Foi um dosfundadores da Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira n.14, patrocinada por Nina Rodrigues Como funcionário público, exerceu os cargos de Oficial de Gabinete do Governo do Estado, da Biblioteca Pública Benedito Leite, do Liceu Maranhense e da Instrução Pública. Juntamente com Fran Paxeco, Ribeiro do Amaral, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Astolfo Marques, Godofredo Viana, Clodoaldo de Freitas, Inácio Xavier de Carvalho, Domingos Barbosa, Alfredo de Assis e Armando Vieira da Silva, fundou, na noite de 10 de agosto de 1908, a Academia Maranhense de Letras, uma extensão da Oficina dos Novos. Congregou e aglutinou, em torno da projeção intelectual de seu nome, os escritores de expressão da época. Em virtude de perseguições políticas, moralmente traumatizado, no último ano de sua existência, recolheu-se a sua residência e, na madrugada de 24 de junho de 1916, enforcou-se com uma corrente. OBRAS MAIS EXPRESSIVAS A Carteira de um Neurastênico, romance publicado, inicialmente sob a forma de folhetim, na Revista do Norte, em São Luís, sob o pseudônimo de Jayme Avelar, em 1903; Pela Rama, crônicas, São Luís, 1912; Os Novos Atenienses, ensaio, São Luís, 1909. Traduziu as seguintes obras: Debalde, romance da autoria de Stenkiwicz, cuja publicação inicial foi sob a forma de folhetim na Revista do Norte, São Luís, 1901; em parceria com Fran Paxeco, O Juiz sem juízo, comédia da autoria de Bisson; Henriqueta, da autoria de François Coppée. 151http://pt.scribd.com/doc/425853/Aprentacao-de-Academico EDITORIAL. GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina394.htm ANTONIO LOBO E OS NOVOS ATENIENSES. In GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina395.htm


BIBLIOGRAFIA: ‘’Henriqueta’’, romance de François Copée, tradução. Folhetim do ‘’Diário do Maranhão’’ – São Luís 1893.•‘’As novas tendencias do romance ingles’’, idem. Ed. De 16-12-1901 – São Luís.•‘’Juiz sem juízo’’, comédia traduzida de A. Bisson, com Fran Paxeco – Rio, 1901•‘’A doutrina transformista e a variacao microbiana’’. Ed. Da ‘’Pacotilha’’ – SãoLuís,1909. 53p. VISÃO CRÍTICA O perfil intelectual de Antônio Lôbo, no panorama da Literatura Maranhense, tem como paradigma as próprias concepções que ele expressou no texto de uma obra que, sem vias de dúvida, é precursora, fundadora, mestra e pioneira, no campo da crítica e teoria literária maranhense, Os Novos Atenienses, editada em primeira edição pela Tipografia Teixeira, em São Luís do Maranhão, 1909; reeditada pelo SIOGE, sob os auspícios da Academia Maranhense de Letras, em 1970, quando da passagem do Centenário de Nascimento do Autor. Em Os Novos Atenienses, Antônio Lôbo analisa o renascimento da cultura e da literatura maranhense, procurando registrar e resgatar o momento literário de então, bem como a vida e a obra dos escritores que se destacaram na primeira década do século XX, apresentando em seu discurso uma leitura bem peculiar, que classificaríamos até de profética, dada a verdadeira atenção para as entrelinhas e os subentendidos usados por ele, com certeza para driblar a ditadura das letras da sociedade aristocrática da época, elitista, cartesiana, conservadora e puritana, sobretudo hipócrita, toda poderosa em seu círculo radicalmente fechado. Sem dúvida, para falar dessa fase imediatamente finissecular, ele se estrutura nos precedentes, um momento áureo e de apogeu da Literatura Maranhense, em razão do qual o Maranhão mereceu o epíteto de Atenas Brasileira. Momento marcante, representado por escritores, eruditos, intelectuais e homens cultos do porte de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa, Henriques Leal, Gonçalves Dias e poucos outros. Os marcos anunciadores desse renascimento, na prática, são a fundação da Oficina dos Novos, em 28 de julho de 1900, que teve, como idealizador e responsável, o próprio Antônio Lôbo, e da Renascença Literária, em 17 de março de 1901, movimento cultural dissidente, encabeçado por Nascimento Moraes. O principal mérito da obra Os Novos Atenienses, de Antônio Lôbo, está no caráter da novidade e autenticidade do documento para a época e para hoje, pelo fato de o texto ter vários olhares, leituras e diálogos, cujo descortino aponta para um universo semântico simultaneamente fixado no presente de então, na grande noite negra que o precedeu, num passado áureo e no futuro. Tempo esse sempre escasso e gasto por antecipação por quantos se equivocam sobre o que seja imortalidade. Inquestionavelmente, um manifesto, um documento referencial único, que funda, paralela e simultaneamente, uma teoria e uma crítica literária, portanto uma obra pioneira, no gênero, como referencial de visão crítica de uma época. Entre outros méritos está, também, o de registro e resgate dos movimentos, jornais e revistas literárias que cobrem o final do século XIX e o início do século XX. Lendo Os Novos Atenienses, tomamos conhecimento da cultura literária de um escritor e de toda uma congregação geracional, aglutinada em torno deste como mentor intelectual, que se impôs por mérito e por necessidade. Temos consciência do quanto esta obra é indispensável, para que se possa fazer justiça aos que, do passado, passaram ao tempo presente, literariamente. Travamos conhecimento com a seriedade de propósitos e comprometimento de um homem de firmeza de caráter admirável, como Antônio Lôbo, para com a literatura e a sociedade maranhense. Um homem que preferiu morrer a corromper-se em qualquer plano. Não houve nem há tantos maranhenses da sua estirpe, muito pelo contrário. Com ele, podemos viajar para o passado e conviver com uma visão preconceituosa e restritiva que a intelectualidade maranhense tinha sobre a criação literária. Lendo-se o texto de Antônio Lôbo, tem-se a antevisão de que, no Maranhão do início do século XX, ainda predominava a tacanha concepção parnasiana, equivocada, sobre o que seja a essência do poético ou da poesia. Portanto, poeta ainda era o doutor em se tratando de versificação e


metrificação. E ele próprio fez certas concessões a esse tipo de pensamento, creditando, na teoria, conceitos sobre os quais, na prática, não referendara. Felizmente, quando lemos Antônio Lôbo, percebemos, nas entrelinhas, que os seus verdadeiros eleitos não eram, senão, aqueles que a elite cultural da época considerava malditos, decadentes ou manquê, já que ele próprio, no mais belo poema que publicou, Por Amor de uns Olhos, paradoxal e contraditoriamente, se expressou como um legítimo simbolista, contrariando os cânones parnasianos, tão em voga, porém já retrógrados para poetas da estirpe de excêntricos como Maranhão Sobrinho, I. Xavier de Carvalho, Luís Carvalho e Alfredo de Assis, dentre poucos outros, que viveram o tempo cronológico de sua geração e muito além. POR AMOR DE UNS OLHOS152 ........................................................... Olhos que lembram preces e luares, Céus estrelados, vagas marulhantes, Guitarras a gemer, harpas cantantes, Noites de amor em flóridos pomares, ........................................................... Olhos que evocam, sugestivamente, Umas paisagens líricas de sonhos, Sob o clarão nostálgico e tristonho De um perene luar, saudoso e algente, Vagos queixumes, indecisas mágoas, Prantos convulsos, nalgum sítio ermo Harpejos tristes de alaúde enfermo, Cisnes boiando sobre claras águas, Velas que passam deslizando mansas, Por tardes tristes, invernosas, frias, Um desfilar de castas utopias, Todo um cortejo branco de esperanças; Olhos que a gente nunca mais esquece, Como eu vos amo e quero, saiba embora Que não se fez pra mim à luz da aurora Que nas vossas pupilas resplandece, Que as horas passem, que se volvam os dias, Que os anos se amontoem sobre os anos, Que um após outro cheguem os desenganos, Que uma após outra fujam as alegrias, Sempre na mente vos trarei brilhando, Sempre em minhalma vivereis luzindo, Olhos que um dia eu conheci sorrindo, Olhos que após abandonei chorando. 4 de Julho é a data natalícia do ilustre saudoso escritor maranhense, Antônio Lôbo, que nasceu, em 1870, e morreu em 24 de junho de 1916, em São Luís. Figura marcante, em sua época, cabeça de geração, Antônio Lôbo reunia os elementos essenciais de uma escala de valores ascendentes, que se destacaram pelo talento e caráter.

152 Moraes, Jomar. Vida e Obra de Antônio Lôbo. São Luís: Revista Legenda Editora, 1969. p.53-55.


A obra mais marcante de Antônio Lôbo, Os Novos Atenienses, sobressai pela autenticidade, originalidade e pioneirismo. Centrada em dois pilares da análise literária, a teoria e a crítica, a obra é pioneira no panorama da Literatura Maranhense. Lendo-se Os Novos Atenienses, tem-se a certeza da existência de um maranhense, cuja visão cultural reflete uma consciência sobre o papel que se impusera desempenhar perante seus pares e a sociedade ludovicense. Mentor intelectual de inúmeros jovens escritores, que militavam na imprensa maranhense entre 1900 e 1916, Antônio Lôbo, juntamente com Manoel de Béthencourt e Fran Paxeco, teve um papel decisivo, para que se processasse o clima efervescente de renascimento literário que ocorreu no espírito dos jovens maranhenses da Oficina dos Novos e da Renascença Literária.


ANTONIO MARQUES RODRIGUES153 15 de abril de 1826 # Avintes (Portugal) 14 de abril de 1873 Professor do Liceu Maranhense, deputado provinvial no Maranhão; abolicionista, entusiasta da agricultura; poeta, é um dos que figuram no livro Tres Liras. Autor do famoso Livro do Povo, que alcançou muitas reedições. Do que trata o Livro do Povo?154 O referido livro é composto por duas partes: a primeira - Vida de N. S. Jesus Christo está composta por cinco capítulos, a saber: Capítulo 1º - Nascimento de nosso Divino Salvador - Sua infância e vida occulta até seu ministerio publico Capítulo 2º - Pregação e baptismo de S. João - Jesus dispõe-se para o seu ministerio publico Capítulo 3º - Continuação do ministerio publico de Jesus Christo desde a segunda até a terceira páscoa Capítulo 4º - Paixão, morte e sepultura de Jesus Capítulo 5º - Depois da ressurreição de Jesus Christo até a sua ascenção; e vinda do Espírito Santo A segunda parte do Livro do Povo - ASSUMPTOS DIVERSOS - contém os seguintes itens: O VIGARIO FABULAS O BOM HOMEM RICARDO QUADRUPEDES UTEIS O PROFESSOR PRIMARIO Hymno do trabalho MORAL PRÁTICA EVANGELHO DE LAVRADORES QUADRUPEDES UTEIS II SIMÃO DE NANTUA MAXIMAS E SENTENÇAS DA HYGIENE RECEITAS NECESSARIAS O BRAZIL

153 MORAES, Jomar.APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976; http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/07/era-uma-vez/ 154 COSTA, Odaleia Alves da. INDÍCIOS DE CIRCULAÇÃO DO “LIVRO DO POVO“ DE ANTONIO MARQUES RODRIGUES. Disponível em http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem12/COLE_2038.pdf ; O livro do povo na expansão do ensino primário no Maranhão (1861 - 1881), http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-24042013-134450/pt-br.php


ANTÔNIO MARTINS155 ANTONIO MARTINS DE ARAUJO

Doutor em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira) pela UFRJ e professor aposentado de Língua Portuguesa também pela UFRJ; é graduado em letras neolatinas e em ciências jurídicas. Atualmente preside a Academia Brasileira de Filologia e é membro da Academia Maranhense de Letras, do Conselho Editorial da Revista do Centro de Estudos de Niterói, RJ; do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (seção do Rio de Janeiro) e do Núcleo Internacional de Estudos Camonianos (NIEC / RJ). É pesquisador da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística, ANPOLL, como coordenador do projeto Indexação das Revistas Brasileiras de Filologia do Século XIX, vinculado ao Grupo de Estudos em Historiografia da Linguística Brasileira, e elaborador dos Índices dos 35 números da Revista Filológica da Academia Brasileira de Filologia (RJ). Foi professor da Faculdade de Filosofia de São Luís; fundou o Colégio Getúlio Vargas e dirigiu o Colégio Estadual do Maranhão, antigo Liceu Maranhense. Na década de 1960, foi um dos pioneiros das aulas de português para o extinto exame do então chamado Artigo 99, na TV Continental e na TV Tupi, ambas do Rio de Janeiro (RJ). Entre suas principais obras estão: Arthur Azevedo – a Palavra e o Riso, Noel Rosa – Língua e Estilo (em parceria com Castelar de Carvalho) e A Herança de João de Barros e Outros Estudos. Pela Global Editora, selecionou e prefaciouMelhores Contos de Artur Azevedo. De Antônio Martins - chão de tempo. 2 ed. São Luis: Editora Instituto Geia, 2005. 154p. ISBN 8589786-10-2. Livro de poemas com traduções a treze línguas. Da ilha e o rio Volta o frio ao rio, enquanto aureola a ilha o perene calor. Viagem Sobre fuso horário o jato veio esgarçando nuvens e esperanças. (JAL, 9.000 pés, novembro 89) 155 www.filologia.org.br http://www.uema.br/noticia/2014/04/22/uema-concede-ttulo-de-doutor-honoris-causa-ao-professor-antniomartins http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/antonio_martins_de_araujo.html


Vazio Pegadas na areia, lembranças do que passou sem novas da amada. (Rio, dez. 89) Equador Noites tais quais dias, invernos tais quais verões, órfão de estações. (Rio, dez. 89) Do tempo Quis fazer dos dedos uma ampulheta, e a areia escorreu dos dedos. Do parado tempo Passaram-se já dezoito anos, e pareço não sair daqui. (São Luis, 1982) Do urubu Todo contra o azul o urubu desenha um ponto-de-interrogação. Provérbio – II São as carambolas, ácidas; mas, fatiadas, fazem-se estrelas. (Rio, dez. 89) Da cópula Espadas embainhadas reconstroem o amanhã de novos futuros. CANÇÃO DO EXÍLIO Ah mar! ei ave! oh ilha, partilha, repartida, fletida, sofrida, sentida e consentida, ilha que se quis a ilha de São Luis; se aqui em ti, um triz, eu fui feliz, a te te digo em mim vives — revives, ´té vir, dia após dia, o dia-dos-dias; e aí, ao retornar, qual ave, aos altos mastros de teus barcos plurais; ao ter de ser eu-mesmo, mesmo sem querer, tua poeira a esmo, tua tez;


ou as roxas flores de meus torpes humores retornarem às águas de teus mares bravos; eu-mar, hei de afagar-te, ah! mar de amar; eu-ave, hei de mirar-te, ave! oh ave; eu-ilha, hei de assumir-te, Ilha das ilhas; e comigo-em-ti, e contigo em mim, em mar-ave-ilha, redimir-me ao fim.


ARMANDO VIEIRA DA SILVA156

30 de agosto de 1887 # 9 de outrubro de 1940 Nasceu em São Luis. Formou-se em direito e exerceu vários cargos de destaque na na administração publica de sua terra. Dirigiu a Imprensa Oficial e o Sindicato Maranhense de Imprensa. Fundou, com Abelardo Rocha e outros, a Companhia Telefonica do Maranhão. Faleceu como Procurador regional da Republica neste Estado, cargo em que se houve com probidade e competncia. Vieira da Silva era poeta vibrante e escritor de forma colorida e castiça. Na juventude estampou cersos repassados de ternuta como o soneto “Cigana”, que anda em muitas antologias. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 8, patroneada por Gomes de Sousa. Bibliografia – Vibrações da noite (1907); Poesias (1908); Uma candidatura (1934); Portugal (1934); Henrique Coelho Neto (1935); Mussoline (1935); Consolação (1937); nascimento de Morais (1949). CARRO DE BOIS Velho carro de bois, pesado, aos solavancos, Em busca do sertão, sem ter uma pousada, De calhau em calhau, por cima dos barrancos Vagoroso lá vai... cantando pela estrada... Velho, vai se quebrando aos últimos arrancos. Não há sol, nem fadiga e nem mesmo invernada, Que lhe detenha o andar. Lento, caminha aos trancos, Pouco a pouco vencendo a penosa jornada. Há vinte anos atrás, viveu num piquizeiro. Cortaran-no sem dó. Sem paz e sem repouco Hoje vive a andar pelo sertão inteiro... Lento e triste a rolar naquelas soledades... Sempre, porém, cantando e cantando saudoso, Como quem canta só para matar saudades! ...

156 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 190-191


ARNALDO DE JESUS FERREIRA 157

6 de outubro de 1904 # 13 de outubro de 1958 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis a 6 de outubro de 1904. Fez seus estudos nessa cidade e ao mesmo tempo começou a trabalhar no comércio, na firma de seu pai. Ao lado das atividades comerciais não descuidava da literatura, sua princxipal fonte de leitura, o que o fez até os 54 anos, quando faleceu. Possuiu a maior biblioteca particular de São Luis. Exerceu a presidência da ACM em varuios mandatos, e ocupou divrsas diretorias. Concluiu ocurso de Contador e passou a sócio-proprietário de uma nova empresa de seu pai. Escreveu obras sobre economia política, publicadas em São Luis e em Paris, e sob o psudonimo de João Maranhense, militou na imprensa nos jornais O Imparcial, O Combare, Diário do Norte, Diário de São Luis, A Pátria, O Globo, Tribuna, Jornal do Povo e em revidstas, como a da AML e do IHGM, com temas literários, históricos, econômicos, geográficos e artistiscos; participou de entidades acadêmicas, artísticas, jornalísticas, e educacionais. Ocupou a cadeira 27 da AML; membro da Sociedade de Cultura Artistica do Maranhão – SCAM; e consultor tecnico do Diretorio Regional de Geografia. Na historiografuia maranhense deixou trabalhos de valor como: Jesuitas no Maranhão e Grão-Pará; Noticiais sobre frei Custodio de Lisboa; Os problemas maranhenses; Alcantarenses do século XVII na Companhia de Jesus; Dias Carneiro e Sousa Bispo; Atualidade de Vieira; Ravardiere e outros. Foi o primeiro presidente da Federasção do Comercio do Maranhão, criou o Conselho de Contribuintes do Estado; foi Secretário de Fazenda e Produção; Presidente do Banco do Estado em vários governos; participou da administração da Junta Comercial do Maranhão; da Legião Brasileira de Assistencia; da Justiça do Trabalho, do Centro Caixeiral, do Sindicato do Comercio Atacadista de Generos Alimenticios de São Luis, da Associação dos Empregados do Comercio de São Luis, do Asilo de Mendicidade, dos Conselhos Deliberativos do SESC e do SENAC, onde foi preasidente regional. Faleceu em 13 de outubro de 1958. Contribuição na Revista do IHGM: FERREIRA, A. NOTÍCIA SOBRE FREI CRISTÓVÃO DE LISBOA Ano IV, n. 4, junho de 1952 67-75 DIAS CARNEIRO158 157 OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 158 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 229-231


Fazendo parte de um parlamento em que a oratória era dom dos mais apreciados, Dias carneiro não tinha, no entanto, aquela retumbancia de frases tão ao sabor da época. Era, porém, sincero e seguro no falar e possuía bastante clareza na exposição do seu raciocínio. Seus dircursos visavam sempe assuntos práticos ou econômicos e servem, ainda hoje de subsidio aos estudos de historia pátria pelos ensinamntos que deles se podem tirar. Utilizando a tribuna, abordou”a tendência do governo para se tornar grande industrial e pleiteou a conservação do histórico quartel do Alecrim”, em Caxias. Ventilou outras questões de importância e, em 1887, tratou dos melhoramentos dos portos d São Luis, Caxias, e Codó e da desobstrução e navegabilidade dos rios do Maranhão. [...] Em Caxias, organizou e fundou a “Companhia Prosperidade Caxiense”, com o captal de 80 contos, para construção da ponte de madeira sobre o Itapecuru, no mPorto Grande, ligando os três distritos da cidadse, obra que ainda chegou aos nossos dias. Incorporou a “Compoanhia Industrial Caxiense”, primeira fabrica de tecidos construída na província, com capital de 400 contos, trabalhando, inicialment, com 50 e, mais tarde, aumentada para 125 tearres, a fim de atender às encomendas de outras províncias. E inaugurou a “Companhia União caxiense, outta fábrica de tecelagem, com capital de 850 contos. Foi, desse modo, o pioneiro da industria têxtil no Maranhão. (Dias Carneiro e Sousa Bispo)


ASSIS GARRIDO159 FRANCISCO DE ASSIS GARRIDO160, 161 14 de setembro de 1899 # NASCEU A 14.08.1899 EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO. FILHO DE FLORENTINO FERREIRA GARRIDO E ADÉLIA DA SILVA GARRIDO, DEIXOU VÁRIOS LIVROS DE POESIAS PUBLICADOS. Pertencia à Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira n.º 4. Jornalista, tetrologo e poeta; poeta, sobretudo, dono de uma lira de fácil inspiração e suave lirismo. Funcion´rio do Ministerio da fazenda, é oficial administrativo na alfândega de S. Luis e já foi Delegado do Serviço de Estatística Economica e Financeira do Maranhão, membro da sociedade Brasileira de Autores teatrais, do centro Cultural Humberto de Campos, do espírito Sanhto, da Associação de Intercambio Cultural de Mato Grosso, da Confraternité Universalle Balzacienne, do grupo Afro americanista de Intelectuales y Artistas, do Uruguai, e do Instituto de Cultura Americana, da Argentina. Na Academia Maranhense de letras é o terceiro ocupante da cadeira 3, patroneada por Artur Azevedo. Bibliografia – Publicou entre outros, os livros Oração materna (1920); Regina (1920); Dom João (1922); Sol glorioso (1922), O meu livro de mágoa e de ternura (1923), O livro da minha loucura (1923), A divina mentira (1944) e Crepúsculo (1969); A vergonha da família (s.d.). Esta vida é uma pomada162 da maciez de veludo... E eu já não sofro de nada, de tanto sofrer de tudo... Eu era um só. Tu surgiste e assim ficamos os dois: depois, eu vi que mentiste, e um só me tornei depois. Até hoje ainda não pude descobrir se bem me queres! - Vê como a gente se ilude com o coração das mulheres!... A castidade, criança, é um vaso fino demais: quebrado, uma vez - descansa! não se conserta jamais... Tic-tac... Ai, que saudade vai-se e aparece a velhice... Tic-tac... Ai, que saudade dos tempos da meninice!... A FRASE QUE MATOU O OPERÁRIO163 "Não precisamos mais do seu serviço", Disseram-lhe os patrões, há dois meses e pouco. E ele se foi, sob o calor abafadiço

159 Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/ ; http://nuhtaradahab.wordpress.com/category/maranhao/ 160 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 223 161 http://www.falandodetrova.com.br/assisgarrido 162 http://www.falandodetrova.com.br/assisgarrido 163 http://judoepoesia.blogspot.com.br/2007/09/frase-que-matou-o-operrio-assis-garrido.html


Daquela tarde, murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço". "Não precisamos mais do seu serviço..." De tantos anos de trabalho era esse o troco Que recebia. Em vez de lucro, apenas isso... E ele consigo murmurava como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." Tornou-se bruto e respondia, a praga e a soco, Aos filhos e à mulher, famintos no cortiço. E após, chorava murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." E ele saía a ver emprego, triste e mouco, Nada! Nenhum!... E cabisbaixo, o olhar mortiço, Ele voltava, murmurando como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..." "Não precisamos mais do seu serviço..." E cada vez sentia mais o cérebro oco. Enforcou-se. Morreu. "Foi o diabo ou feitiço..." E ele morreu murmurando, como um louco: "Não precisamos mais do seu serviço..."

(Vênus) Deusa, a teus pés a flor das minhas crenças, ponho! Mulher, eu te procuro, eu te amo, eu te desejo! Para a tua nudez, – a gaze do meu Sonho, Para a tua volúpia, o fogo do meu beijo. Divina e humana, impura e casta, o olhar tristonho, Cabelos soltos, corpo nu, como eu te vejo, Dás-me todo o calor dos versos que componho E enches-me de alegria a vida que pelejo. Glória a ti, que, do Amor, cantaste, aos evos, o hino, Que surgiste do mar, branca, leve, radiante, Para a herança pagã do meu sangue latino! Glória a ti, que ficaste, à alma dos homens, presa, Para a celebração rubra da carne estuante E a régia orquestração da Forma e da Beleza! (In Antologia da Academia Maranhense de Letras,1958) (A Frase que Matou o Operário) “Não precisamos mais do seu serviço”, Disseram-lhe os patrões, há dois meses e pouco. E ele se foi, sob o calor abafadiço


Daquela tarde, murmurando como um louco: ” Não precisamos mais do seu serviço” . ,. Não precisamos mais do seu serviço…” De tantos anos de trabalho era esse o troco Que recebia. Em vez de lucro, apenas isso… E ele consigo murmurava como um louco: ” Não precisamos mais do seu serviço..,” “Não precisamos mais do seu serviço…” Torou-se bruto e respondia, a praga e a soco, Aos filhos e à mulher, famintos no cortiço, E após, chorava murmurando como um louco: “Não precisamos mais do seu serviço…” “Não precisamos mais do seu serviço…” E ele saía a ver emprego, triste e mouco, Nada! Nenhum!… E cabisbaixo, o olhar mortiço, Ele voltava murmurando como um louco: “Não precisamos mais do seu serviço…” “Não precisamos mais do seu serviço…” E cada vez sentia mais o cérebro oco. Enforcou-se.Morreu. “Foi o diabo ou feitiço…” Ele murmurando, como um louco: “Não precisamos mais do seu serviço…” (O Livro da Minha Loucura,1926) TROVAS Tic-tac… E a mocidade vais-se e aparece a velhice… Tic-tac… Ai, que saudade Dos tempos da meninice!… O amor, que em sonhos espreito, em teu coração não medra: Será por acaso feito o teu coração de pedra? Eu era um só. Tu surgiste e assim ficamos os dois: Depois, eu vi que mentiste, e um só me tornei, depois! Foge-me a tua conquista, vou-me embora, – por que não? Quanto mais longe da vista, mais longe do coração… Minha filha, pobre rosa, vê quanto sofro, querida, ao pressentir ver trevosa a estrada de tua vida!


(In Minha Terra Tem Palmeiras/Clóvis Ramos/1970) ============================


AUGUSTO TASSO FRAGOSO164

28 de agosto de 1869 / 20 de setembro de 1945 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Historiador e militar, chefe da Junta Governativa Provisória em 1930, cuja atuação foi decisiva na deposição de Washington Luís. Diplomado em artilharia pela Escola Militar (1885-1889), depois cursou a Escola Superior de Guerra, onde foi discípulo de Benjamin Constant. Ainda moço participou como alferes-aluno da operação militar pela proclamação da República. Em 1890 foi escolhido, contra a vontade, deputado à Assembléia Nacional Constituinte pelo Maranhão, renunciou ao mandato sem tomar parte de qualquer sessão parlamentar. Recusou o convite do presidente Floriano Peixoto para assumir a Prefeitura do Distrito Federal, no entanto, após insistência do Marechal, aceitou a intendência do Departamento de Obras e Viação Geral daquela prefeitura, exercendo o cargo até o mês de abril do ano seguinte. Durante a revolta da armada que pretendia derrubar o governo de Floriano Peixoto, foi gravemente ferido no combate da Ponta de Armação, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro (1894), recuperando-se em seguida. Viajou à Europa em 1908 como membro do estado-maior do ministro da Guerra, Hermes da Fonseca, a fim de comprar armamentos para o Exército. Foi nomeado chefe da Casa Militar (1914) pelo presidente Venceslau Brás, permanecendo nessa função nos três anos seguintes. Nesse período, desempenhou papel importante na implantação do serviço militar obrigatório e na remodelação do Exército. Alcançou o generalato em 1918 e exerceu o cargo de chefe do Estado-Maior do Exército (19221929), onde se destacou no processo de remodelação do Exército orientada por uma missão militar francesa e saiu por discordar de pontos de vista do governo sobre a reestruturação do ensino militar no país.

164 NOBERTO DA SILVA, Antonio. DISCURSO DE POSSE DO ESCRITOR ANTONIO NOBERTO NA CADEIRA DE Nº 43 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, PATRONEADA POR TASSO FRAGOSO. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 94 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 SARAIVA, José Cloves Verde. ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA NO. 43 DO IHGM No. 27, julho de 2007 78-87 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso/biografia http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Tasso_Fragoso http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/tasso_fragoso http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso


Na chamada Revolução de 30, integrou, a comissão que se dirigiu à residência de Washington Luís para forçar seu afastamento do poder central. Depois que Washington Luís foi deposto em 24 de outubro de 1930, assumiu o governo do Brasil com os generais João de Deus Mena Barreto e Alfredo Malan d'Angrogne. O golpe de estado liderado por ele foi desenvolvido para impedir que o presidente eleito Júlio Prestes assumisse a presidência da república. Garantindo o chamado movimento getulista, dez dias depois a presidência foi entregue a Getúlio Vargas, que contava com o apoio popular e de movimentos militares de Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Com Vargas no poder voltou novamente à chefia do Estado-Maior do Exército e, depois, tornou-se ministro do Supremo Tribunal Militar (1933) onde ficou até se aposentar compulsoriamente por limite de idade (1939). Destacado historiador militar, escreveu História da guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai (1934), A revolução farroupilha (1938) e Franceses no Rio de Janeiro. Casado com a prima Josefa Graça Aranha. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 76 anos. É filho do bem sucedido comerciante português Joaquim Coelho Fragoso e da paraense Maria Custódia de Sousa Fragoso. Morou até aos quinze anos na terra natal onde aprendeu as primeiras letras. Há de lembrar ainda o seu parentesco com o escritor e jornalista Temistocles Aranha, pai de Graça Aranha. Junta governativa 165 Com a eclosão do movimento revolucionário de 1930, a junta governativa composta pelos generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e pelo almirante Isaías de Noronha depôs o presidente Washington Luís, e assumiu o controle do país. Em meio a pressão de manifestações populares, dos movimentos militares como o de Minas Gerais, revolucionários gaúchos chegam ao Rio de Janeiro, obrigando a junta a entregar a chefia do governo a Getúlio Vargas em 3 de novembro de 1930. Obras publicadas166 Determinação da hora por alturas iguais de estrelas diversas (1904); A Batalha do Passo do Rosário (1922); A Revolução Farroupilha; História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai (1934); Os Franceses no Rio de Janeiro Senhor presidente, venho mais uma vez patentear-lhe a minha lealdade, assegurandolhe a vida, e desejo comunicar-lhe que a junta governativa já está formada e pede a vossa excelência sua renúncia, a fim de evitar mais derramamento de sangue (...) Então não há mais nada a fazer." - O Último Tenente, de Juracy Magalhães em depoimento a J. Gueiros — editora Record - antes de prender o presidente, diante de uma resposta negativa.Washington Luís.167

165 Fonte: Arquivo Nacional - Centro de Informação dos Acervos dos Presidentes da República. http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/ex-presidentes/augusto-fragoso/biografia 166 os-franceses-no-rio-de-janeiro-augusto-tasso-fragoso. http://lista.mercadolivre.com.br/os-franceses-no-rio-dejaneiro-augusto-tasso-fragoso 167 http://pt.wikiquote.org/wiki/Augusto_Tasso_Fragoso


BENEDITO DE BARROS E VASCONCELOS (1880-1955): Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Maranhense, nascido em São Luís, formado em Direito pela Faculdade do Rio de Janeiro; atuou como magistrado, jornalista e escritor. Profissionalmente foi Secretário da Fazenda, Consultor Jurídico do Estado e Presidente do Conselho do Estado. E quando da fundação do IGHM, era desembargador e membro do superior tribunal de justiça do estado do Maranhão. Sócio fundador efetivo da academia maranhense de letras. Historiador e Geógrafo autodidata, seus trabalhos e publicações versavam desde temáticas ligadas a História até estudos geográficos sobre as áreas fronteiriças do Maranhão. 168 Seus principais trabalhos publicados foram: “A Tutoia e a Delta do Parnaíba,” de 1919, e “O Parnaíba no Maranhão”, de 1926. Redenção (1917); Trajano Galvão (1926); A independência e o nacionalismo (1922); O Maranhão fabuloso (1926) Mediações de ano bom (1944); São Luis, a antiga (1948); Catulo e os sertões do norte (1950).

A INDEPENDENCIA DO BRASIL Pode-se, pois, afirmar que a agitação emancip0adora no Brasil foi obra do povo e com o povo triunfou. As vozes de comando limitaram-se a registar o avanço das tropas heterogêneas, tomando medidas de cautela para garantir os resultados alcançados. Nenhum plano preconcebido, nenhuma operação concertada; só uma diretriz – a ideia, única disciplina – o patriotismo hostil a qualquer predomínio estrangeiro. Onde uma voz gritasse o nome da pátria ligado ao de independência, ai se improvisavam tropas e o mais ardoroso se arvorava em chefe. Não houve revolução propriamente; protestos, sim, à mão armada contra todos que pretenderam estorvar a posse de uma conquista pacifica e incontestáve. Encerrava-se o ultimo ato de um drama de enredo suave e confortante. Faltava apens o levantar de um pano, de uma bandeira, e por isso desavieram-se os atores inconvenientes. Fechado o cico da independência serenaram os arrufos pouco a pouco, e dentro de alguns anos eram todos filhos da mesma pátria, na glorios tarefa d faze-la grande e propera.

168 Cf. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, pp. 55-59. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma dos Santos Bonifácio. PERFIL DOS SÓCIOS – PATRONOS E OCUPANTES. IHGM, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu


CARLOS ALBERTO MADEIRA169

16 de março de 1920 # São Paulo, 4 de junho de 1998) Filho de José Francisco Madeira e de D. Juliana da Conceição Madeira. Era casado com a Sra. Maria da Paz Domingues Abreu Madeira. Fez o curso primário no Grupo Escolar Antonio Lobo, curso secundário no Liceu Maranhense, curso de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Centro Caixeiral, concluído em 1950, todos em sua cidade natal. Ingressou posteriormente na Faculdade de Direito de São Luís, conquistando o título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no ano de 1956. Desde muito jovem, aos 14 anos, começou a trabalhar como funcionário (telegrafista) da Estrada de Ferro São Luis - Teresina (de 1935 a 1943) e depois no Departamento de Correios e Telégrafos, a partir de 15 de dezembro de 1943, permanecendo durante um ano. A seguir, em 15 de dezembro de 1944, ingressou na Panair do Brasil, onde desenvolveu suas atividades até 15 de fevereiro de 1965. Durante o período de abril de 1961 a abril de 1963, integrou o Conselho Consultivo da Fábrica Nacional de Motores. Exerceu a advocacia no Rio de Janeiro, de 1957 a 1965, quando retornou ao Maranhão para assumir o cargo de Assessor Jurídico do Governador, em 1966. Ainda em 1966 ingressou na Magistratura, como Juiz Auditor da Justiça Militar do Estado do Maranhão, sendo, no ano seguinte, nomeado Juiz Federal da Seção Judiciária do Maranhão, da qual foi Juiz Fundador, permanecendo no cargo até 1977. No período compreendido entre abril de 1967 e junho de 1972, atuou como Membro do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Em 1967 foi Membro da Comissão Redatora e Relator do Anteprojeto da Constituição Estadual do Maranhão e da Lei Orgânica dos Municípios, sendo Relator do Anteprojeto da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, do Estado do Maranhão. Foi Professor Fundador e Titular da Cadeira de Direito Administrativo da Escola de Administração do Estado do Maranhão, Professor Emérito da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Maranhão. Como Professor convidado, ministrou aulas de Direito Administrativo, em 1982, na Escola Superior de Administração Fazendária, participando do Curso de Especialização em Direito Civil, para o corpo docente do Ceub, igualmente em Brasília. Por decreto de 6 de dezembro de 1977, foi nomeado para o cargo de Ministro do Tribunal Federal de Recursos, sendo empossado aos 19 dias desse mesmo mês e ano. Escolhido pelo Tribunal Federal de Recursos, participou como Juiz Substituto do Tribunal Superior Eleitoral, a partir de outubro de 1979, passando a Efetivo no biênio 1981-1983. Foi Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral, em exercício, de 25 de setembro de 1981 a 17 de dezembro do mesmo ano, e, como titular, de 18 de dezembro de 1981 a 25 de agosto de 1982. Presidiu a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos, de junho de 1980 a junho de 1985, sendo eleito Vice-Presidente da Corte em 169 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Madeira http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=24


junho de 1985, função que desempenhou até setembro do mesmo ano. Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por decreto de 4 de setembro de 1985, do Presidente José Sarney, na vaga decorrente da aposentadoria do Ministro Décio Miranda, tomou posse em 19 do mesmo mês. A partir de 1991, passou a desempenhar as funções de Consultor Jurídico do Banco do Estado do Maranhão. Realizou conferências abordando os seguintes temas: “O Supremo Tribunal Federal”, na Universidade Federal do Maranhão (setembro de 1978); “Aspectos da Lei de Execuções Fiscais”, na Associação dos Juízes Federais, em São Paulo (dezembro de 1980), “Direito Civil e Direito Público”, no Centro de Ensino Unificado de Brasília — CEUB (1982) e “Problemas do Mandado de Segurança”, na Associação dos Magistrados do Maranhão (1983). Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 34. Faleceu em São Paulo, em 4 de junho de 1998. Publicou os seguintes trabalhos jurídicos: Conversão dos Atos Jurídicos (1963), Efeitos da Falência nos Contratos de Trabalho (1965) e A Cláusula Escalar e a Segurança dos Contratos.


CLODOMIR SERRA SERRÃO CARDOSO

29 de dezembro de 1879 /31 de julho de 1953170

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis em 29 de dezembro de 1879; faleceu no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1953); foi um jurista, político e escritor. Filho de José Pereira Serrão Cardoso e de Maria Benjamim Serra Cardoso. Estudou no Liceu Maranhense e na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou com distinção em 1904. Depois de formado retornou à terra natal, onde se estabeleceu como advogado e passou a atuar como jornalista, havendo, nesse período, atuado como promotor público na comarca de Maracanã, no Pará, Ingressa na política no grupo liderado pelo senador Manuel da Costa Rodrigues, que fazia oposição ao governador do Maranhão, Benedito Leite. Em 1908 foi eleito deputado estadual e, depois, foi secretário estadual de fazenda. Em 1917 foi eleito prefeito de São Luís, tendo sido sua maior realização a substituição dos lampiões de gás por iluminação elétrica. Este fato está registrado no romance Degraus do Paraíso, de Josué Montello. Em Coroa de Areia, romance de Josué Montello, Clodomir Cardoso aparece como personagem da história, quando recebe, no Senado, Aglaia, personagem de ficcção, que vai pedir a intercesseção do Senador pela soltura de seu marido, que estava preso como participante dos movimentos políticos da década de 30. Nesta parte do livro, o romancista transfere para sua personagem a descrição física do Senador, baseada na imagem que o autor guardava de Clodomir Cardoso caminhando pelas ruas de São Luis, capital do Maranhão. Foi membro fundador da Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a cadeira que tem Joaquim Serra como patrono. Seu sucessor foi o poeta Odilo Costa Filho. Foi professor fundador da Faculdade de Direito do Maranhão. Participou como redator e diretor do jornal A Pacotilha, sob a liderança de Fran Paxeco. Em 1925 foi eleito deputado federal pelo Maranhão, e como deputado participa dos debates sobre o mandado de segurança e apresentou projeto de lei sobre o assunto, após a reforma constitucional de 1926, que pôs fim à doutrina do habeas corpus, que consistia na ampliação do habeas corpus para amparar direitos que não o de ir e vir. O mandado de segurança foi incorporado à Constituição de 1934. Apresentou projeto de lei sobre sociedades anônimas, que foi aproveitado pelo jurista que mais tarde redigiu o texto, que foi outorgado como decreto-lei. Em 1936, foi eleito senador, havendo sido, nessa ocasião, vice-presidente do Senado Federal. Governou o Maranhão em 1945, como interventor federal, e em 1946 foi eleito senador, quando participou ativamente dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição de 1946. No Senado pronunciou muitos discursos, entre os quais o discurso de orador 170 http://pt.wikipedia.org/wiki/Clodomir_Cardoso


oficial no centenário de Rui Barbosa e o discurso que fez contra a cassação dos mandatos dos deputados e do senador comunista em 1947. Escreveu numerosos trabalhos jurídicos e literários, dos quais destaca-se o ensaio que publicou em 1926 sobre Rui Barbosa. Casou-se em 1908 com Cecília Ribeiro, filha do industrial Cândido Ribeiro, e com quem teve cinco filhos. Faleceu no Rio de Janeiro e foi sepultado no Cemitério São João Batista, naquela cidade. Bibliografia Repertório Biográfico dos Senadores (1828-1988), Senado Federal (4 volumes); Dicionário Histórico-Biográfico da Fundação Getúlio Vargas; Jornal do Comércio, Rio de Janeiro 1º de agosto 1953; O Globo, Rio de Janeiro, 1º de agosto de 1953 Trabalhos Publicados Antônio Lobo. In pacotilha. 04/07/1916. São luiz. A municipalidade de São Luiz. Tip. Teixeira, MA, 1916. A debênture num concurso de credores. J. Pires, 1917. Jubileu de r. Barbosa. Tip. Teixeira, MA, 1918. A defesa de um casamento arguido de inexistente. J. Pires, MA, 1919. Liberdade e profissão. J. Pires, MA, 1920. Dois discursos. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. O dr. Pedro lessa. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. A condição política da mulher em face constituição. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1925. Habeas corpus. Tip. Do \'Jornal do Commércio\', RJ, 1925. Os amores de Gonçalves Dias. Correio da manhã, RJ, 27/05/1927. Joaquim serra. Correio da manhã, RJ, 27/05/1938. Ao Maranhão (O São Luiz). São Luiz, 4/12/1945. RUI BARBOSA Rui Barbosa falava em nome de leis inelutáveis, pelas quais se rege o destino das instituições. Mas, ao passo que o país acolhia e conservava, na atmosfera dos ideais coletivos, a palavra quente de animação do propagandista imcomparável, o governo, estranho a esses ideais, insulado no seu egoísmo, irritava-se com o ardor das advertências que lhe chegavam e, mal as acabava de ouvir, já delas se deslembrava. No seio de certos governos, a verdade tem a sorte dos raios do sol na aridez da superfície lunar, onde a atmosfera que a envolve, se é que existe ali alguma atmosfera, não tem a virtude de os temperar, no rigor da sua atuação, e de obstar, na sua ausência, pela retenção do calor absorvido, à dureza de um contrate entre duas temperaturas extremas. A fatalidade da sua situação afundava o governo imperial nesse erro selenocentrico, de que todos os governos acabam por ser vitimas, imaginando-se capazes de levar os povos a gravitarem em torno do seu poder. E a federação veio contra a coroa e sem ela...


FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO 171 05 de janeiro de 1908 # 1990 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luís, em 1908 e faleceu no Rio de janeiro, em 1990. Sucedeu seu pai no IHGM, Domingos de Castro Perdigão. Estudou Primário e Secundário no Liceu Maranhense, formando-se na Faculdade de Direito do Maranhão, onde depois se tornou Catedrático de sua sucessora, a Faculdade de Direito de São Luís. Participou ativamente dos movimentos revolucionários de 1922,1924 e 1930. Como jornalista teve atuação destacada escrevendo editoriais para O Imparcial. Em 1951, aprovado no concurso para ministrar a disciplina Economia Politica vincula-se ao quadro de docentes da Faculdade de Direito da Fundação Paulo Ramos e no mesmo ano é nomeado por decreto do presidente Getúlio Vargas. Exerceu vários cargos públicos durante sua vida, tanto em São Luís, como no Rio de Janeiro, onde foi diretor jurídico dos Diários Associados. Foi também jornalista e escreveu em vários jornais de São Luís, inclusive o Imparcial. Escreveu o livro “Contribuição do Maranhão à Cultura Jurídica Brasileira” e pertenceu a Academia Maranhense de Letras. Em São Luís, há uma escola publica estadual de ensino médio, localizada à Avenida Castelo Branco no bairro do Monte Castelo batizada com seu nome. CEMITÉRIO DO GAVIÃO172 Os meus olhos pasmados de menino tímido abriam-se, curiosos e inquietos, para aquele mundo triste, de que eu tinha vaga e aterrorizada noção. Levantavam-se para a ramagem entrelaçada das altas árvores e perdiam-se na brancura dos mármores, na sucessão infindável das cruzes, que apontavam, piedosas, para o céu. Era a minha primeira visita à casa dos mortos. Ali stavam, bem perto de mim, as casuarinas, que só de longe até então eu vira, acinzentando o horizonte para os lados de São Pantaleão. Naqueles túmulos, cuja alvura espalhava, por todo o ambiente, o tom pálido e baço das coisas sem vida, moravam os defuntos temerosos. Dali é que saiam, à meia-noite, as almas do outro mundo... Quartel general de duendes!... Reduto da assombração!... [...]

171 LIMA, Euges Silva. DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA DE N.º 22, COMO SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO; Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 94 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 172 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 239-240


GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA

25 de Março de 1835 / 25 de Julho de 1876 GENTIL BRAGA ou Flávio Reimar (pseudônimo) nasceu em São Luis, (1834173 ou 1835, conforme a fonte)174 - nasceu a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876175. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. Promotor Público (entre 1855 e 1858) de Codó, Caxias e Alto Mearim (São Luís Gonzaga)176. Trabalhou com folhetins o que o tornou bastante popular. Entre suas obras literárias destacam-se o “`Parnaso Maranhense”, “Três Liras” e “Entre o Céu e a Terra”, o poema conhecido como Clara Verbana. Em sua residência, Gentil Braga movimentava a sociedade da época com o talento de artistas, poetas e intelectuais da época. É um dos patronos da Academia Maranhense de Letras. OBRAS Sonidos - livro de poemas. Entre o Céu e a Terra - folhetim. A Casca da Caneleira: (steeplechase) romance por uma boa dúzia de Esperanças2 . O ORVALHO177 Nas flores mimosas, nas folhas virentes Da planta, do arbusto, que surge do chão, Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes, Tombadas à noite da aérea solidão. . Provindas dos ares, dos astros caídas Em globos argentos de um puro brilhar, Descansam nas flores, às folhas dão vida, Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar. . A luz das estrelas, do vidro mais fino O trêmulo, incerto, brilhante luzir, Não tem maior beleza, fulgor mais divino, Nem pode mais claro, mais belo fulgir. .

173 http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentil_Homem_de_Almeida_Braga 174 http://www.cultura.ufma.br/paginas.php?cod=5 175 http://expressoespoeticasuniversais.blogspot.com.br/2013/07/o-orvalho-por-gentil-homem-de-almeida.html http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=12593 176 http://www2.mp.ma.gov.br/memorial/indememorialgaleriapromotpublicoimperio_gentil.asp 177 http://www.jornaldepoesia.jor.br/gbraga01.html http://www.escritas.org/pt/poemas/gentil-braga


E o sol, que rutila no manto dourado, Feitura sublime das nuvens do céu, Beijando estas gotas com um beijo inflamado, Desfaz tais prodígios nos beijos que deu. . Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara, Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou? Quem pôs sobre a terra beleza tão rara? Quem foi que nos ares o orvalho formou? . Dos anjos, que outrora baixaram da esfera, Morada longínqua dos anjos de Deus, São prantos o orvalho, que amor os vertera, Depois que perdidos volveram-se aos céus. . Baixados à terra, sedentos de amores, Gozaram delícias de um breve durar. Depois em lembrança dos tempos melhores Os anjos à noite costumam chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val. . E os anjos sozinhos vagueiam no espaço, Buscando as imagens, que o céu lhes roubou, Seguidos das nuvens, do lúcido traço, Que o brilho das asas trás eles deixou. . E a voz que dos lábios lhes sai suspirante Semelha um queixume pungente de dor. E o ar, que circula girando incessante, Repete os suspiros só filhos do amor. . Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas, Pesares tão fundos são todos em vão. Ninguém os escuta; carpidos ou queixas Vai tudo sumido na etérea solidão. . E os anjos, que outrora viveram de amores, Gozaram delícias de extremos sem par, Saudosos relembram seus tempos melhores E tem por consolo seu triste chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val.


GODOFREDO MENDES VIANA178

14 de junho de 1878 / 12 de agosto de 1944

Nasceu em São Luís a 14 de junho de 1878, e fleceu em 12 de agosto de 1934. Político, escritor, professor, advogado, senador e juiz federal brasileiro. Filho de Torquato Mendes Viana e Joaquina de Pinho Lima Mendes Viana. Fez seus estudos secundários no Liceu Maranhenses. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Recife. Foi o autor do projeto de Código de Processo Civil do Estado do Maranhão, que uma vez convertido em lei vigorou até 1939, quando foi editado O Código de Processo Civil pela União e os Códigos estaduais foram revogados. Foi um dos membros fundadores da Academia Maranhense de Letras. Foi governador do Maranhão, de 20 de janeiro de 1923 a 1 de março de 1926. Cargos Públicos - Promotor Público de Alcântara. Juiz Federal. Juiz Municipal de Alcântara. Profissões – Advogado; Promotor; Professor. Mandatos - Senador - 1921 a 1922. Governador - 1923 a 1926. Senador - 1926 a 1927. Senador - 1927 a 1930. Escritor castiço, deu a público discursos, conferências e obras de Direito: A constituição brasileira. Imprensa oficial, 1909. Formas e processos. Tip. Teixeira, 1908. - A paz e a guerra segundo espírito da constituição brasileira pacotilha, 1917. - Prática do processo criminal, tip. R. D\'almeida, 1918. Filho do Juiz de Direito Torquato Mendes Viana, completou sua formação na Faculdade de Direito da Bahia em 1899, concluindo o curso em 1903. Ao regressar ao Maranhão em 1904, foi nomeado promotor público e no ano seguinte juiz de direito da comarca de Alcântara. Em 1906 foi nomeado juiz federal da seccional Maranhão. Podemos considerar a indicação para esse cargo como demonstrativo das relações sociais que Godofredo Viana mantinha com as estruturas do poder local, uma vez que neste período esses cargos federais tinham importância estratégica para os grupos políticos dominantes em cada Estado. O recrutamento de Godofredo Viana pelo Estado deu-se em função da rede de relações sociais que estava em condições de mobilizar no âmbito político local.179 Em seu primeiro livro, Formas Processuais (1908), Godofredo Viana fazia críticas às leis processuais vigentes no Estado. O livro apontava para o "problema" de o estado não possuir suas 178 http://pt.wikipedia.org/wiki/Godofredo_Mendes_Viana http://manuscritosintimistas.blogspot.com.br/2010/08/godofredo-viana-o-crisostomo-maranhense.html http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=1722&li=35&lcab=1930-1930&lf=35 179 BARROS FILHO, José. CONTRA OS "INDIGNOS" E EM NOME DO JULGAR BEM: UMA ANÁLISE DOS ATOS DE CLASSIFICAÇÃO ACERCA DO TRIBUNAL DO JúRI NO MARANHÃO DO INÍCIO DO SÉCULO XX. Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010, disponível em http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/fortaleza/4161.pdf


próprias leis processuais, o que acarretava a vigência da "atrasada" legislação do Império, anterior à promulgação da Constituição de 1891, quais sejam, no processo criminal, o Código de Processo Criminal de 1832, e processo civil, a Consolidação das Leis de Processo Civil, de 1876. No que concerne ao processo criminal, as críticas se voltavam para as disposições Código de Processo Criminal de 1832, alterado pela reforma processual de 1871, legislação que Godofredo Viana considerava "excessivamente liberal". Deixando explícito sua disposição reformadora, Godofredo Viana qualificava a legislação vigente como "atrasada" diante dos "avanços científicos" no campo do direito processual penal. BIBLIOGRAFIA: Timidez e Orgulho, Poemas Bárbaros, ambos de poesias, inéditos. (S. Luís, Ma, 14 de Julho (Junho, segundo Luiz Otávio, in “Meus Irmãos…, p. 233) de 1878 — Rio de Janeiro, Gb, 12 de Agosto de 1944.)180 Formas processuais (1908); A Constituição rasileira (1909); Código de processo civil e comercial do Maranhão (1911); No país do Direito (1914); Codigo de processo criminal do Estado do Maranhçao (1917); Prática de Processo Civil (1918); A cadeira de filosofia do Direito (1922); Terra de ouro – evocações históricas (s.d.); Ao povo do Maranhão (1926); Na tribuna (1926); Ocasião de pecar (1930); Paixão de caboclo (1941); Por onde Deus não andou (1946).181 POR ONDE DEUS NÃO ANDOU (trecho)182 Os folguedos de S. João, cuja data vai se aproximando, acham-se ameaçados de um contratempo sério. Faltam apenas duas semanas para que tenha início, e as chuvas (greandes p0ancadas d´água, com relâmpagos violentos incendiando o céu e trovões ribombantes fazendo vibrar o solo e estremecer os jequetibás da mata), estão a inundar tudo, desbordados os ribeiros e obstruidos os caminhos. Velhos piquizeiros, onde as tataíras e as sanharrós escondem avaras o seu mel, são lascados d´alto a baixo pelos raios. Palmeiras-buritits, de raízes à mosta nas ribanceiras a pique dos riachos que o verão secou, caem fragorosamente, scudidas e derribadas pela ventania agreste. O Itapecuru, para os lados de “Santa Emília”, começa a encher de modo assustador; sinal de que chove também em suas cabeceiras. A água de ordinário limpa e clara, toma agora um tom barrento, e a corrente, de seu natural preguiçosa, a espelhar o céu, como se parada e inerte, dsce entumescida, meio encachoeirada com os detritos que vai carregando – árvores tombadas das margens altas, balsas desarticuladas, porque apoderecidos os cipós que as amarrravam, grandes toiceiras de folas de fumo, de pés de melancia e de abóbora, arrancados às vazantes; corpos de animais que a enxurrada asfixiou. O tempo, nos intervalos dos aguaceiros, mantem-se feio, sombrio, triste. Nuvens escuras, cor de chumbo, rolando espessas, lentamente. Entretanto, mesmo assim, a vida, mal se abrem esses hiatos da bátega diluvioana, movimenta-se logo. Bandos de jandaias, de maravanãs, surgem,não se sabe ded onde, sacudindo as penas encharcadas e fazendo algazarra no alto das sapucaias, de cuja folhagem densa pingam ainda grossas gotas da chuva que cessou. Os bem-te-vis, excitados, dão voos altyos, e dexam-se cair, como flexas desamparadas, vindo pousar, numa ginástica complicada, no mesmo galho seco deonde se erguera. As galinhas correm, adoidadamente, de asas abertas, raspando o chão, rumo ao terreiro, para catarem na terra úmida e fofa. As crianças arriscam subidas às goiabeiras, cujos frutos ficam rapidamente de vez e amaduram, como por encanto, na invernia. Os araçás, as mangabas, as pitombas, têm um sabor especial e uma frescura suavissima, nesses dias. A plumagem das aves, lavada pela chuva, incessante e de açoite que as persegue, mesmo nos ninhos, tem um colorido vivo e brilhante. As plantas um viço novo; as folhas agomadas, o cauoloe lustroso. Mas, dentro em pouco, recomeça a chover. E todos – homens e animais – recolhem-se novamente aos seus refúgios. Debalde a meninanda, aos primeiros chuviscos, reúnem-se no pátio das palhoças e imploram, em côro: Santa Clara, clariai, 180 http://bibliadocaminho.com/ocaminho/Tematica/BI/G/GodofredoViana.htm 181 MEIRELES, FERREIRA, VIERIA FILHO, 2008 182 VIANA, Godofredo Mendes. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1946


São Domingos alumiai; São Jerono abri o sol, Pra secá nosso lençol. Os santos permanecem mudos, e a água continua a cair, enervante. Passado, porém, o quarto da lua, o tempo entrou a melhorar. Borrifava, é certo, o ar uma garoa fina, de quando em quando. Entretanto, não havia ainda esta cessado e já o sol abruu no alto amarelo e quente. A garotada, comentava, alegre: Chuva com sol... Casa a raposa com o rouxinol. Quando chegou Santo Antonio, a terra – já seca e tratável retomara o seu ritmo normal. O arcoda-velha tinha chupado toda a água do céu.


I. XAVIER DE CARVALHO183 -

26 de agosto de 1872

-1944

I. Xavier de Carvalho é o nome literário de Inácio Xavier de Carvalho, que nasceu em São Luís, Maranhão, em 26 de agosto de 1872. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife, após o que retornou ao Maranhão, onde ingressou na magistratura, exercendo sucessivamente os cargos de promotor público e juiz municipal, acumulando-os com a cátedra de Literatura, no Liceu Maranhense. Transferindo-se para Minas Gerais, ali foi nomeado para Abaeté, como juiz municipal. Chamado ao Amazonas, exerceu ali o cargo de procurador-geral do Estado. Em 1917, foi nomeado juiz federal substituto da Seção do Pará. Extinta a magistratura federal nos Estados, foi aposentado. Tomou parte ativa no movimento literário de sua terra natal, liderado pela “Oficina dos Novos”. No seu livro Subsídios para a história Literária do Maranhão, Antônio Lôbo refere-se ao “transviamento” do promissor talento de Inácio Xavier de Carvalho que, com suas Missas Negras se tinha incorporado ao movimento dos decadentistas e nefelibatas; e citava, dentre as suas produções, o soneto que lhe pareceu mais aproximado do parnasianismo, para fundamentar o elogio que fazia dos dons naturais do jovem poeta... Xavier de Carvalho deixou numerosa colaboração nos jornais e revistas do Maranhão, do Pará e do Amazonas. Era membro das Academias Maranhense e Paraense de Letras. Residia nos seus últimos tempos no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 17 de maio de 1944. Obras Poéticas: Frutos Selvagens (1892-1894), São Luís Maranhão; Missas Negras, Manaus,1902; Parábolas; Caixa de Fósforos, versos satíricos. 184 CHEGANDO... II D’onde venho não sei... Venho de faina em faina Misterioso a correr desolado e tristonho... Venho talvez de um céu onde a dor não se amaina Ou, quem sabe? Talvez dos infernos do Sonho! Fica a terra queimada onde meus pés eu ponho... - De entre as dobras cruéis desta minha sotaina 183 Muricy, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro. 2.ed. Brasília: Ministério da Educação e Cultura/Conselho Federal de Cultura/Instituto Nacional do Livro, 1973. v.1, p.553-555. http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina388.htm 184 De Carvalho, I. Xavier. Missas Negras. Manaus: Livraria Universal de M. Silva & C. 21, 1902. p.05-40.)


Jorro poemas sem luz de Extremismo medonho... D’onde venho não sei...Venho de faina em faina... O gemido fatal que do meu lábio escapa Faz tremerem os reis...e até tu mesmo, ó Papa, Deixas rolar da mão o báculo que trazes... E ao fulgor infernal de meus olhos à tona Sinto que ao meu olhar tudo se desmorona, Que a sociedade atual estremece nas bases! III Venho, em nome do Céu, atroando pelo espaço A busina da Dor, sombria e merencórea... - Venho quase a morrer, de fracasso em fracasso, Para depois viver de Vitória em Vitória! Meu peito não é mais que uma tumba marmórea A destilar o Mal e o Bem por onde eu passo... -Trago repleto o olhar de pedaços de Glória, -Tudo morre e sucumbe ao poder do meu braço... Sou Lusbel e sou Deus! Nasci do mar na espuma Ou da terra no chão! Sou tudo e nada em suma... -Sobre mim do Universo a atenção se concentra, Pois desejo afinal, com as palavras em Jogo, Envolver a mulher em círculos de fogo Para, em nome do Céu, infecundar-lhe o ventre! AGOSTO (Em meu aniversário) Quem acaso nascer nas desoladas Segundas-Feiras d’este mês odioso Matará, entre as pálpebras inchadas, Em dilúvios de Lágrimas, o Gozo... E, entre destroços de Ilusões Fanadas, No alto do céu do coração choroso Terá mágoas de pássaros seu pouso, Constelações de Crenças Apagadas Terá, nos olhos, sombras de esqueletos E Ironias fatais de Risos Pretos, Em contrações de boca pelo rosto... E morrerá sem ter vivido em suma! Por isso, poeta, é que nasceste numa Segunda-Feira fúnebre de Agosto! TÍSICAS (A um amigo cuja noiva a tuberculose matou)


Não sei por que, sob as pestanas pretas Dos tristes olhos das tuberculosas, Em vez de lírios e em lugar de rosas, Deus plantou dois canteiros de violetas... Por que as prendeu em mórbidas grilhetas, Cheias de tosse débeis e queixosas... Por que as fez tão franzinas e nervosas, Fracas e frágeis como as borboletas! Porque às faces sem cor dessas vencidas Pôs o traço das noites mal dormidas Entre olheiras de anêmonas e goivos! Por que as leva, por fim, de olhos risonhos, Em suplícios tantálicos de Sonhos De entre as almas agônicas dos Noivos! CRENÇAS Meu coração é um campo santo cheio De céus sem luz e músicas sem claves, É um cemitério vasto em cujo seio Vê-se uma Igreja de alvacentas naves... De sobre as amplas cruzes que há no meio Do chão, por entre as catacumbas graves O fogo-fátuo trêmulo do Anseio Matou as flores e espantou as Aves... Ali, quando alta noite o som das onze Chora magoado no saudoso bronze Em vibrações nostálgicas e imensas, Abrem-se as covas e, em montões de escombros, Alvas mortalhas carregando aos ombros, Passa um bando esquelético de Crenças! A UM RICO Das nuvens cor de rosa da opulência Tentas em vão bater a Desventura, E, no entretanto, quanta noite escura, Em vez de auroras, veste-te a existência! Quantos desses que vivem na indigência Dos restos do que comes à procura, Mais do que tu não vivem na Ventura -Da pobreza na pálida aparência? Quantos desses que dentro dos farrapos De uns, em pedaços, miseráveis trapos Que lhes servem de capa ao corpo nu, Quantos desses que míseros, sem nome, Se revolvem no pélago da fome Não são mais venturosos do que tu?


A UM JOGADOR Tu’alma, essa infeliz de vícios farta, Num baralho, a correr, toda se encerra. Teu pão é o trunfo, teu futuro é a carta, Numa marcha de escândalos que aterra! O pano verde: - eis tudo! – Sobre a terra Chovam raios de fogo e o céu se parta! Tua idéia, quem pode emocionar-t’a Embora o mundo se arrebente em guerra? No az, no rei, na dama, no valete, Dois e três, quatro e cinco, seis e sete, E nas mais cartas teu porvir se perde! Tens a honra escondida nas cartadas, Nos ouros e nos paus, copas e espadas, Na atração infernal do pano verde! A UM COVEIRO Constantemente o sino a ouvir terrível Em por defuntos, prolongar os dobres, Tu que colocas todos num só nível: - Fidalgos e plebeus, ricos e pobres; E em pás de terra tristemente encobres Os vis despojos da existência horrível Dando todo o vigor dessas mãos nobres Em prol do sono último e infalível; Tu que roubas o morto à luz e ao mundo Ao cavar-lhe o jazigo – faze-o fundo, O mais fundo, o mais fundo que puderes! Se a carne após o túmulo inda sonha Livrá-la-ás ao menos da vergonha De ouvir missas, latins e misereres. A UM CARRASCO Quando da forca, tristemente à borda Fores executar um condenado - Nunca tragas o peito contristado, Nunca tremas a mão – puxando a corda!... Mal o infeliz tu tenhas enfrentado Das misérias da Vida te recordas! Dos pulsos teus todo o vigor acorda E quanto antes enforca o desgraçado... Não tens a maldição, como alguns pensam Pelo contrário, fazes jus à bênção Do executado a quem tiraste a vida...


Se a cabeça que cai do cadafaldo Pudesse, acaso, te correr no encalço Te beijaria as mãos, agradecida! NOIVAS MORTAS Essas que assim se vão, fugindo prestes De ao pé dos noivos, carregando-os n’alma, Amortalhadas de capela e palma Em demanda dos páramos celestes; Essas que, sob o horror que a morte espalma, Vão dormitar à sombra dos ciprestes Em demanda dos páramos celestes Amortalhadas de capela e palma; Essas irão aos céus, de olhos risonhos, Por entre os Anjos, pela mão dos sonhos, De asas flaflando em trêmulos arrancos, De Alvas Grinaldas pelas tranças frouxas, De olhos pisados e de olheiras roxas, Todas cobertas de Pecados Brancos. POETA Sobre o largo portal do castelo onde mora Meu grande coração de escritor insubmisso, Inundada na luz de um resplendor de aurora, Há uma lira de Rei feita de ouro maciço. Ao meu trono enfrentar, trono de ouro inteiriço, Curvam-se as vibrações da Palavra Sonora... -E, embora seja o aplauso obrigado e postiço, As mãos de muitos reis batem-me palma, embora! Um soneto ao fazer, cheio de versos lautos, Partem do meu palácio uma porção de arautos, Lembrando o meu poder pela voz de cem trompas! E os vendilhões, então, do amplo templo do Metro Fogem em debandada ao fulgor de meu cetro Feridos pelo Estilo e embriagados de Pompas!


IVAN CELSO FURTADO SARNEY COSTA 185 IVAN SARNEY

13 de maio de 1945. Geração Cassas Antroponáutica O ensino fundamental e médio cursou-os no Liceu Maranhense. Formou-se em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal do Maranhão. Na Escola de Administração Pública do Estado, fez o curso de Administração de Empresas. Homem culto, versátil, cuja ordenação do conhecimento, nas décadas de 70 e 80, lhe permitiu acesso a leituras de poetas de primeira linha, como Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, T.S. Eliot, Maiakovski, Manuel Bandeira, dentre outros. Afora isso, há a carga de vivência pessoal que, para os escritores, é sempre o lastro definidor, diferenciador e decisivo da marca do estilo, que imprimirá à sua poética. Ivan Sarney transitou por vários caminhos da arte, passando pela ficção e pelo teatro, cinema e poesia. Essa experiência pessoal é significativa e, literariamente, tem-se em conta o pretexto que o escritor usará para compor o seu discurso, exercitando aí sua criatividade ou o poder de manipular a alegoria em vários níveis: metafórico, metonímico, sinestésico, sinedóquico, aliterativo, paradoxal, ambíguo, enfim mimético. Jornalista militante, assina há vários anos, no jornal O Estado do Maranhão, a seção Hoje é Dia De, uma crônica semanal, na qual se inscreve sempre com o toque poético. Um dos fundadores e primeiro presidente da Sociedade dos Amigos de São Luís e Alcântara, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi também diretor regional da Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tendo atuado na Fundação Pró-Memória. O poeta Ivan Sarney, segundo a palavra autorizada do eminente ensaísta e escritor Assis Brasil, cuja obra repercute a nível nacional, “pertence, histórica e esteticamente, à terceira geração modernista do Maranhão, ao lado dos estreantes dessa fase, como Francisco Tribuzi, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Rossini Corrêa, e mais alguns que ficaram apenas na colaboração esparsa dos jornais, sem terem chegado ao livro. Bastante elogiado como contista e cineasta, tendo sido premiado em festivais de cinema, a poesia de Ivan Sarney Costa tem também a sua importância. É mais um bom poeta lírico, já livre das formas, principalmente do contumaz soneto e que, entre o eu nostálgico e o passado de sua cidade, cria os seus poemas com certo gosto e linguagem pessoais. Sempre num tom elegíaco, a sua linguagem poética se mantém no nível da norma, sem complicações ou invencionices. 185 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. Ivan Sarney: Da releitura moderna da poesia lírico-amorosa à poesia social. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina326.htm , acessado em 04/05/2014 Brasil, Assis. A Poesia Maranhense no Século XX. São Luís: SIOGE; Rio de Janeiro: IMAGO, 1994. p.277.) http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=34038 http://vimeo.com/14671739


Além de detentor da Medalha do Mérito Timbira, do Governo do Maranhão, e João Lisboa, do Conselho Estadual de Cultura, Ivan Sarney Costa foi eleito vereador à Câmara Municipal de São Luís, em 1992. Entrou para a Academia Maranhense de Letras em 1982, tomando posse no ano seguinte.” Vereador por várias legislaturas, Ivan Sarney é, atualmente, Presidente da Câmara de Vereadores de São Luís. Poema inspirado numa canção dos beatles Quando eu for bastante idoso, quando eu já for velho, meus cabelos se tornarem brancos e meu rosto se cobrir de rugas, você ainda me amará, como hoje? Você ainda precisará de mim, querida? Você dormirá ainda nos meus braços e, ansiosa, desejará ouvir minhas estórias: (– as estórias que só eu sei contar) Ou não? Você também estará velha, eu sei disso. Será que ainda amarei você, como hoje? Que ainda lhe direi meus versos e me orgulharei de você, como me orgulho agora? Ou será que apenas nos suportaremos pelo que somos e pelo que fomos, quando seus cabelos já forem brancos? Hoje, nós passeamos pelas tardes e tudo é verão. Eu sou seu poeta preferido e tudo o que eu escrevo é você. Como será quando já formos velhos? Será que, de manhãzinha, desejarei passear com você, pelos jardins, e você irá pelos meus braços, sorridente, com alegrias de hoje? Ou não? Talvez você se torne ranzinza. Talvez eu fique louco! Quem sabe? Como será quando formos velhos, querida? Hein? Sempre que for domingo, nós iremos à igreja, à tardinha. Você toda empoada, os cabelos alinhados e brancos, e um véu ainda mais branco na cabeça. Eu irei todo importante ao seu lado, e toda a gente nos comentará. Será mesmo assim quando já formos velhos? Ou não? Ou você fará tricô e não quererá sair de casa? Você usará óculos?! Eu apenas amarei minha biblioteca?! Ou amaremos somente nossos filhos?! Será que nossos filhos serão lindos? Será que serão bons? Você olhará, às vezes, seus álbuns de retratos, e chorará saudades do passado. Será que minha dor ainda será sua dor? Ou não? O futuro é distante e não traz a certeza de nós dois, portanto, amemo-nos agora, querida, enquanto nosso amor é carne e osso, e espírito, na soma dos nossos sentidos; enquanto eu te amo e tu me amas, e tua pele é macia e morna,


e tua alma branca é única no mundo. Aumentemos o fogo de nossos beijos, hoje, querida. Eu não sei como será mais tarde, quando já formos velhos, e nossos cabelos se tornarem brancos. (São Luís, novembro de 1969, p.15-16) Como na tarde em que estivemos juntos Como na tarde em que estivemos juntos. O vento varre o bosque e sacode os meus cabelos. Os barqueiros retornam da pescaria. As velas desfraldadas. Um após outro os barcos se estreitam no canal. Como na tarde em que estivemos juntos. Ligeiros pássaros, cantantes. Já não estás comigo. O silêncio das coisas me sugere teu nome, brandamente, e apesar da melancolia das horas cai sobre mim, como uma sombra, e me faz triste. Entardece, e eu sinto te buscar, meu pensamento. Como adejavam teus risos e a tímida candura de tua voz! Como era intensa a paz de tua companhia, a meiguice dos teus gestos. E a doce serenidade dos teus olhos. E eu fui me envolvendo em teus encantos, até não poder mais encontrar-me; até não poder mais te encontrar. Como pudeste fugir depois de tanto encontro! Eu bem sei. Como pude emudecer, depois de tantas frases! Tu bem sabes. (...) Muitas verdades eu guardo que tua boca não disse. Por isso, eu amei teu silêncio, como na noite em que dançamos e eu parecia me encontrar num país distante, composto de sonhos guiado pelo toque mágico de tuas mãos e a densa nuvem de teu perfume. (São José de Ribamar, julho de 1971, p.21-22.) Sou apenas um homem186 (...) É necessário que acreditem no que digo. Não direi muito porque não conheço muito. Na verdade, eu sei tão pouco. Tudo o que aprendi foi me extrair das coisas e me integrar às coisas. Nesse processo, sou poeira, limo, sujo, folhas, frutos, pétalas, pau e pedra. Sou fonte do passado e daquilo que há de vir. Me confundo com o anônimo das faces. Me escureço com o asfalto do chão. Às vezes, brilho e resplandeço como as paredes de azulejos e as luzes da noite. Me recolho, às vezes, e nada me toca. Não sou nada além disso. Nem vim de longe. Eu sempre estive aqui. Trago os olhos da rua no sangue. Tenho o sangue das ruas nas veias. Pés descalços, suor e sofrimento 186 http://www.jornaldepoesia.jor.br/ivs02.html


fazem parte de mim. Caminhei pelos bairros. Joguei damas com homens, nas calçadas. Entrei nos becos e nas palafitas. Vi dançar o bêbado ridículo, a fome gemer nas bocas das crianças, mulheres chorando a gravidez, meninas novas se prostituindo. Vi miséria e crueldade. No entanto, não vivi tais coisas. Como não ter vivido coisas? Não sei se seria mais importante viver ou aprendê-las. Acredito que as aprendi. Tenho muitas estórias para contar. Talvez eu saiba contar estórias. Me deixem penetrar em vosso abrigo e acordar vosso sono, porque as horas dormem e a noite é profunda como um suspiro, e parece não ter fim. (São Luís, março de 1977, p. 58-59) Tempo compulsório Compulsoriamente as pessoas viverão agora. Deixarão seus carros nas garagens, sem gás, sem apego, sem esperanças, e sairão pelas calçadas, respirando a rua. Sorrirão um sorriso compulsório, porque o riso, o doce riso, o riso fácil, espontâneo e feliz, se escondeu amargurado no desespero, não há como mostrar-se ao dia. Compulsoriamente haverá sol sobre os telhados aplacando as feridas; áurea de luz crepuscular e santa, colorando a tarde. A noite virá de forma compulsória, com a mesma escuridão e os mesmos crimes. Sequestros, seduções, homicídios de todas as classes, maconha, ladrões, vadios e meretrizes. Tudo será compulsório dentro da noite, o assalto, a promiscuidade, o bêbado, a indigestão, a emergência dos hospitais e os suicidas, porque os olhos da polícia estão vazados de escuridão e a sociedade adoece de fome, miséria e vícios. Os impostos de todos os gêneros. As filas intermináveis da previdência. A velhice e a angústia das horas. O que não será compulsório? Compulsoriamente também haverá o medo. O medo de ser, de confiar, o medo de parir que habitará as consciências, tolhendo as ações. O homem será um ser medroso, mudo, e viverá de olhos espantados


aderindo às idéias, às omissões, à fantasia e ao pesadelo, de forma compulsória. Porque já não é possível eleger. O espaço, o tempo, os homens se tornaram inelegíveis. Haja morte então para calar as bocas, terra para cobrir os mortos, vazio para afogar as consciências. Haja chão para os passos do homem e caminhos a percorrer, sem ter sossego. A morte será então o fim compulsório, de toda a compulsoriedade. (São Luís, maio de 1978, p.60-61.) Vozes da noite Apagaram-se as luzes da cidade. Longa e densa se compôs a noite. Onde está o homem de ontem, o verdureiro, o vendedor de carvão? Anônimos polichinelos das ruas, alegria de todas as manhãs. (A noite os consumiu no tempo). Os sepultou no tempo. Laje fria de horror e mistério sobre os risos efêmeros da vida. Há pouco piou uma rasga-mortalha. – Sinal de agouro!, diria meu avô. No entanto, o vôo da rasga-mortalha é a única esperança dentro da noite. Há sonhos aqui de amores reprimidos, acenos de mãos desencontradas, vozes caladas, corações ausentes, um peito só que quer conter o mundo. De que me vale, às vezes, fazer versos, se meus versos são cheios de egoísmo e não tocam a boca do homem da rua, não cantam o desespero, nem são armas de combate? Farei um grande e verdadeiro poema, com lágrimas, suor e revolta, um dia. Poderia sair para olhar as estrelas. Que esforço esse das estrelas para brilharem na escuridão da noite! Que esforço o da alma para suportar o corpo! O corpo mergulha na materialidade, a alma quer éter divinizado. Não haverá corpo, nem sofrimento amanhã. Haverá espaço vazio, recordações de rumos palmilhados, lembranças perdidas, amargura e solidão. Nada mais. (...)


JERONIMO JOSÉ DE VIVEIROS187

11 de agosto de 1884 # Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luís do Maranhão, a 11 de agosto de 1884, um dos cinco filhos de Maria Francisca e Jerônimo José Viveiros. Seus antepassados, de origem espanhola, chegaram ao Maranhão por volta de 1780, e se estabeleceram em Alcântara, em cujo meio se tornaram uma família das mais influentes. Seu bisavô (1789-1857), que tinha o seu mesmo nome, foi senador do Império. Seu avô, Francisco Mariano de Viveiros Sobrinho (1819-1860), Barão de São Bento, foi deputado provincial e geral (10ª Legislatura, 1857-1860), chefe do Partido Conservador, também fidalgo e cavaleiro da Casa Imperial. Órfão de pai aos dois anos iniciou o caminho das letras através de professores particulares, em São Luís. Passou depois ao Colégio Nossa senhora da Glória e ao Liceu Maranhense. Decidindo-se, na juventude, pelo estudo das Ciências Jurídicas, viajou ao Rio de Janeiro, mas, à altura do terceiro ano, teve que abandonar o curso e retornar ao Maranhão, devido à fragilidade da saúde de sua mãe. Aos 22 anos, mediante processo seletivo em que foi sabatinado pelo próprio presidente do Estado, Benedito Leite, iniciava carreira no magistério, como lente de História Universal e do Brasil, no Liceu Maranhense. Esteve depois à frente da Imprensa Oficial do Estado e foi diretor da Instrução Pública, além de fundar e dirigir o Instituto Viveiros, que deixou fama na História da Educação maranhense. No dia 6 de outubro de 1937, quando a Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão votava o orçamento para o ano vindouro, os deputados que faziam oposição ao Governo Paulo Ramos se mobilizou para boicotar a sessão. O professor Jerônimo de Viveiros, funcionário público estadual e do município de São Luís, há esse tempo liderou uma grande manifestação nas galerias da Casa. A Polícia Militar teve que intervir por ordem da Presidência da Assembléia, que suspendeu a sessão e evacuou as galerias. Por essa ocasião, o professor Jerônimo de Viveiros era catedrático de História Universal do Liceu Maranhense e ajudante de Inspetor do Ensino Municipal de São Luís. Por conta desse episódio Jerônimo de Viveiros foi submetido a um inquérito administrativo e a outro policial, que culminou com seu afastamento, a bem do serviço público, em 29 de dezembro de 1937, conforme publicado no Diário Oficial do dia seguinte. A perseguição política estendeu-se 187 Bittencourt, Joana. DISCURSO DE POSSE - CADEIRA Nº 56, PATRONEADA POR JERÔNIMO DE VIVEIROS. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p.120 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 JORGE, José. BLOG. Disponível em https://www.google.com.br/#q=JERONIMO+JOS%C3%89+DE+VIVEIROS+%2B+textos


a ponto de o prefeito municipal de São Luís, Dr. Pedro Neiva de Santana, também exonerá-lo pelo mesmo motivo, do quadro de servidores do município, conforme ato publicado no Diário Oficial de 30 de dezembro de 1937. Viveiros foi obrigado a transferir-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor do Colégio Pedro II, passando cerca de dez anos naquela cidade, ocasião em que escreveu a biografia de Gonçalves Dias e de Celso Magalhães, e mais 48 artigos sobre a indústria açucareira do País, além de colaborar no preparo da obra A Balaiada, de Astolfo Serra. Sua obstinada vocação de pesquisador teve continuidade no Maranhão, para onde retornou em 1949. Foi ainda consultor técnico do Diretório Regional de Geografia do Maranhão e professor da Faculdade de Filosofia de São Luís. Dentre as suas obras a mais extensa e quiçá a de maior importância é “A História do Comércio do Maranhão”, escrita em três volumes, dividindo-a em ordem cronológica dos acontecimentos. O quarto volume foi escrito pelo renomado historiador professor Mário Martins Meireles, ninguém melhor em competência de conhecimento para dar continuidade à grande obra de Viveiros Em 1950 tomou posse na Academia de Letras do Maranhão na Cadeira nº 08, patroneada por Gomes de Sousa. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira nº 56, da qual é patrono. BIBLIOGRAFIA – O centenario de Temistocles Aranha (1937); O Coronel Luis Alves de Lima e Silva no Maranhão (1940); Alcantara por seu passado econômico, sociel e político (1950); História do Comércio do Maranhão (1954); A vida de um apostolo (1956); Historia do Municipio de Pinheiro (1956); Benedito leite, um verdadeiro republicano (1957); além desses trabalhos tem uma s´perie de artigos para revistas e jornais, destacando-se sua colaboração para “O Combare”, “Diário de São Luis”, (O Imparcial”, “Jornal do Dia”, e “Brasil Açucareiro”. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM O JORNAL “O PAÍS” EM FACE DA GUERRA DA TRÍPLICE-ALIANÇA Ano 28, n. 3, agosto de 1951 79-87 UMA LUTA POLÍTICA DO SEGUNDO REINADO Ano IV, n. 4, junho de 1952 13-39 A FAMÍLIA MORAIS RÊGO Ano IV, n. 5, dezembro de 1952 03-24 SANTO ANTONIO Historiadores e cronistas porfiam em criar lendas que expliquem a razão de ser Santo Antonio advogado dos casamentos. Correm por ai uma porção delas, umas lindamente poéticas, outras grosseiramente ajeitadas. Afigura-se-me a mim que não há necessidade de lendas para explicar o caso. O oficio de casamenteiro está dentro das atribuições do miraculoso Santo, pois é certo que as moças, vaidosas como são, só lhe pedem um noivo quando perdem as esperanças de consegui-lo por força dos seus prioprios atrativos, e fazer achar essa esperança perdida, faze-la aos corações donde fugiram é, como já vimos, um dos atrubutos que Deus lhe conferiu. O mais foi economia de tempo: transformar a esperança em realidade, achando logo o “burro de carga” desejado pela suplicante, para o serviço da vida conjugal. O que surpreende no oficio em apreço é a paciência e a bondade com que o Taumaturgo o exerce. Santo de incontestável sizudez, cuja castidade é pura como o lírio que traz nos braços, recebe ele, entretanto, com infinita bonomia as suplicas de todas as mariposas que lhe esvoaçam em torno d altar, permite que ela lhe falem em namoro, consente confidencias, ouve segredinhos, e quando demora em satisfaze-las, não se zanga com os maus tratos com que ingratamente lhe flagelam, pelo contrario, apressa-se em servi-las. [...] Até 1624 a cidade de S. Luis não se apercebeu da presença do miraculoso Santo, se bem que já tivesse passado por aqui vários frades de sua Ordem, como frei Manuel da Piedade, frei Cosme de São Damião, frei Antonio de Merciana e outros. Foi só naquele ano, com a chegada de frei Cristovão de Lisboa (6 de agosto) chefiando um grupo de religisos, que ele se revelou, justamente


quando estes frades lhe erigiram a igreja para o seu culto e o hospício para moradia dos seus irmãos. E revelou-se por um extraordinário milagre, fazneod que a cal de vinte e cinco pipas chegassem para aquelas obras, que exigiam sessenta pipas e ainda sobrassem dezessste. Decorridos vinte anos, Santo Antonio de novo manifesta o seu poder miraculoso de maneira assonbrosa. O caso maconteceu quando sitiamos os holandeses na cidade de Sã Luis, que eles nos haviam tomado de maneira tão traiçoeira. Contamo-lo tal como narram os cronistas: Os holandeses tinham um fortim, situado nas cercanias do local onde é hoje o edifício do IAPTEC, um canhão quem era visado de preferência pelos sitiantes, tais os estragos que lhes causa às trincheiras. Desesperados, os batavos colocaram a imagem de Santo Antonio sobre o canhão, alvejado pelos lusos e brasileiros. Pois uma bala nossa desmontou-o, pegando-o em cheio, e a imagem ficou ilesa, em cima do parapeito. (História e romance de Santo Antonio)


JOAQUIM MARIA SERRA SOBRINHO –

20 de julho de 1838 / 29 de outubro de 1888 JOAQUIM SERRA (J. Maria S. Sobrinho), jornalista, professor, político, teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, em 20 de julho de 1838, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 29 de outubro de 1888. É o patrono da Cadeira n. 21 da ABL, por escolha de José do Patrocínio. Seu pai, Leonel Joaquim Serra, militava na política e no jornalismo, redigindo O Cometa (1835) e a Crônica dos Cronistas (1838), em São Luís. Estudou humanidades na província natal. Entre 1854 e 1858 esteve no Rio de Janeiro para ingresso na antiga Escola Militar, carreira que abandonou, voltando a São Luís. Sem mais a preocupação de ir em busca de um diploma de faculdade, iniciou-se muito moço no jornalismo e na poesia. Seus primeiros escritos (1858-60) saíram no Publicador Maranhense, dirigido então por Sotero dos Reis. Em 1862, com alguns amigos, fundou o jornal Coalisão, que advogava em política o Partido Liberal. Em 1867, fundou o Semanário Maranhense. Foi professor de gramática e literatura, por concurso, no Liceu Maranhense, deputado provincial (1864-67), secretário do Governo da Paraíba (1864-67). Ainda residia na província quando foi apresentado literariamente à corte por Machado de Assis numa de suas crônicas do Diário do Rio de Janeiro (24.10.1864). Em 1868, fixou residência no Rio de Janeiro. Fez parte das redações da Reforma da Gazeta de Notícias, da Folha Nova e do País, foi diretor do Diário Oficial (1878-82), de que, com dignidade, se exonerou por divergir do gabinete de 15 de janeiro de 82. Deputado geral (1878-81) pelo Maranhão, foi um combatente tenaz na campanha abolicionista, "o publicista brasileiro que mais escreveu contra os escravocratas", no dizer de André Rebouças. Escreveu também para o teatro, como autor e tradutor. Suas peças, entretanto, ao que parece, nunca foram impressas. Adotou vários pseudônimos: Amigo Ausente, Ignotus, Max Sedlitz, Pietro de Castellamare, Tragaldabas. Alguns dias após seu sepultamento, Machado de Assis enalteceu, numa página, o amigo, o poeta e o jornalista combatente: "Quando chegou o dia da vitória abolicionista, todos os seus valentes companheiros de batalha citaram gloriosamente o nome de Joaquim Serra entre os discípulos da primera hora, entre os mais estrênuos, fortes e devotados."188 Obras: Julieta e Cecília, contos (1863); Mosaico, poesia traduzida (1865); O salto de Leucade (1866); A casca da caneleira, romance de autoria coletiva, cabendo a J.S. a coordenação (1866); Versos (trad.), de Pietro de Castellamare (1868); Um coração de mulher, poema-romance (1867); Quadros, poesias (1873); Sessenta anos de jornalismo, a imprensa no Maranhão, 1820-80, por Ignotus (1883).

188 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=900&sid=225


A MISSA DO GALO189 Repica o sino da aldeia, Troa o foguete no ar! O rio geme na areia, Na areia brilha o luar. Quantas vozes, que alegria! O povo da freguesia Corre em chusma, folgazão. No caminho arcos de flores, Por toda parte cantores, Folguedos e agitação! Ali no largo da ermida O tambor toca festeiro, Se apinha o povo em redor; E a igrejinha garrida, Tendo defronte um cruzeiro, É toda luz e fulgor! Vêm do monte umas devotas, Trazem o rosário na mão; Uns camponeses janotas, Calças por dentro das botas, Seguindo o grupo lá vão! Que raparigas formosas, Cheias de rendas e rosas A ladeira vão subir! Falam cousas tão suaves, Parece gorjeio de aves O que elas dizem a sorrir! A brisa sopra fagueira, Brincando na juçareira E vai o rio enrugar; Chegam de longe canoas, Os barqueiros cessam as loas, Que modulavam a remar! O sino da freguesia, Da branca igreja da aldeia, Cada vez repica mais; O povo corre à porfia, A capela já está cheia, Soam trenos festivais! Porque produz tanto abalo Esta festa sem rival? É hoje a missa do galo, Santa missa do Natal! ..................................................... Este festejo tão lindo Que grande mistério encerra! Poema de amor infindo Que o céu ensinou à terra! Faz-se humano o ente divino, O Eterno se faz menino, Vem viver entre os mortais! Lei cristã, santa e formosa, 189 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=901&sid=225


Salve crença majestosa, Que eu recebi de meus pais! .................................................... (Quadros, 1873) A MINHA MADONA Alva, mais alva do que o branco cisne, Que além mergulha e a penugem lava; Alva como um vestido de noivado, Mais alva, inda mais alva! Loira, mais loira do que a nuvem linda Que o sol à tarde no poente doira; Loira como uma virgem ossianesca, Mais loira, inda mais loira! Bela, mais bela que o raiar da aurora Após noite hibernal, negra procela; Bela como a açucena rociada Mais bela, inda mais bela! Doce, mais doce que o gemer da brisa; Como se deste mundo ela não fosse... Doce como os cantares dos arcanjos, Mais doce, inda mais doce! Casta, mais casta que a mimosa folha Que se constringe, que da mão se afasta, Assim como a Madona imaculada Ela era assim tão casta!...


JOSÉ AUGUSTO CORREIA

3 de agosto de 1854 / 16 de fevereiro de 1919 Nasceu em São Luis do Maranhão, aos 3 de agosto de 1854 e faleceu na mesma cidde aos 16 de fevereiro de 1919. Filho de Frederico José Correia e Inês Pessoa Correia. Lecionou no Seminário das Mercês, e nos famosos colégios de José Ribeiro do Amaral, de Rosa Parga, de Raimundo Tolentino Lisboa Coqueiro, e de Luiza Messina Sá Correia. Funcionário publico exemplar, desempenhou comi9ssões importantes como as da Delegacia Fiscal e Inspetor da Alfnadega.Colaborou na imprensa local, notadamente na “Pacotilha” e no “Jornal” e em várias folhas literárias. Na Acdemia Maranhense de Letras foi fuindador da Csadeira 17, que tem como patrono Sotero dos Reis.190 Bibliografia: Estudinhos de Ligua Portuguesa (1883); Graziela (s.d.); Pontos de aritmética escritos e compilados (1885); Resumo de Ágebra (1886); inclui-se um sem numero de artigos sobre filologia e outros assuntos publicdos em jornais e revistas locais. GRAZIELLA191 Ouvi-me, pois, vós, que sabeis o que é a desdita; vós, que sabeis o que é o infortúnio. Era em s. Luis do Maranhão. De mãe carinhosa, de paiextremoso nascera Graziella aos 24 de julho de 1880. Como si, depois de viagem longa e tormentosa, houvesse avistado a terra desejada, suspirando pelo repouso qie ias encontrar, e recordando ainda com horror os trabalhos, por que passaras; assim, pobre mãe, ficaste, quando livre de perigo, pudeste pela vez primeira beijar, abraçrar, ver e rever o entezinho adorado, que acabaste de dar à luz. Ontem eras uma descuidosa donzela; não te preocupavam senão teus adornos. Ontem a música, o piano, a que com gosto te entregavas, era teu recreio, era teu entretenimento habitual. Ontem o futuro para ti era o presente; e se uma vez ou outra te lembravas dele, era que pensavas num dia aprazado d´alegria, onde ias fruir algumas horas felizes.

190 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 2008, obra ciatada, p. 71-73 191 Graziella. Romance. Tip. De A. P. Ramos d´Almeida & Cia. Maranhão, s.d., 60 p.


Hoje teus olhares se contram com os de um mancebo, estremeces, ficas confusa. A que pena é dado descrever a sensação, que expedimentas? A qual o reproduzir o que se passa em ti nesse momento? Ele solicita tua mão; tu lha concedes – eis-te noiva. Algum tempo depois, és conduzida à presenã de um sacerdote. Celebrada a cerimônia, esi-te esposa. Desse momento em diante contraíste novos deveres: tua vida é outra. Ao nome de donzela sucedeu o de esposa, e a este se vem brevemente juntar o de mãe. És mãe, tens teu tesouro junto de ti, velas por ele dia e noite.


JOSÉ CARLOS LAGO BURNETT

LAGO BURNETT192 15 de agosto de 1929 # Rio de Janeiro - 2 de janeiro de 1995. Centro Cultural Gonçalves Dias Ilha Malasarte Jornalista de grandes e admiráveis recursos, exerceu, praticamente, todas as funções de sua profissão, em que se fez mestre, escrevendo livros que se tornaram clássicos em seu gênero, além de proferir, a convite de cursos de Comunicação Social, palestras que eram verdadeiras aulas magnas sobre como escrever na imprensa. A par de numerosa bibliografia em prosa, na qual se destacam dois livros de crônicas, publicou os livros de poesia Estrela do céu perdido (1949), O ballet das palavras (1951), Os elementos do mito (1953) e O amor e seus derivados (1984). Adeus Quando partiste, qualquer cousa havia de estranho em mim... não sei que força aquela à minha alma corria paralela e os meus olhos de pranto, umedecia. Toda a rua chorou naquele dia: - as árvores, as pedras, a janela... o poste, ao canto, como negra vela, se derreteu em luz só de agonia... Tinhas calmo o semblante. Vi, no entanto, que bem no fundo de tua alma uma asa de dor revoava sobre um mar de pranto... Quando sumiste, à esquina da saudade, a rua toda, como a tua casa, fechou as portas à felicidade... ( Do livro Estrela do céu perdido )

192 http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm , acessado em 24/04/2014


JOSÉ DE ALMEIDA NUNES193 20 de feverieo de 1882 # Rio de Janeiro / 27 de agosto de 1940 Nasceu em São Luis aos 20 de fevereiro de 1882. Fez o curso de humanidades no antigo Liceu Maranhense, destacando-se como um dos alunos mais aplicados. Formou-se em Medicina pela faculdade de Medicina do Rio de janeiro. Foi secretário particular do dr. Luis Domingues quando este eminente maranhense governou o Estado. Médico culto, Almeida Nunes não se estritou nas especialidades de sua ciência. Teve a alma sempre escancarada para as solicitações estéticas e soube cimentar variada ilustração literária. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 13, patrocinada por José Candidos de Morais e Silva. Faleceu no Rio em 27 de de agosto de 1940. Bibliografia: A cesariana conservadora (s.d.); A moléstia de Haine-Medin (s.d.); A alimentalçao infantil (s.d.); José Candido de Morais e Silva (1919 – discurso de posse na AML); escreveu estudos críticos sobre Luis Domingues, Odorico Mendes, e Francisco de Castro. JOSÉ CANDIDO MORAIS E SILVA [...] Mas, de qualquer modo, eis em São Luis o mais vibrante jornalista que ainda possuímos e o mais correto; o tribuno mais eletrizante que nunca tivemos, assim pela sinceridade e correção da sua palavra como pelo poder maghnetico de sua pessoa; o patriota mais insigne, mais intrépido, mais audaz que suscitou, entre nós a independencia. Bem poucos havia do seu tope, por então, no país todo, onde eram uma legião.

193 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 171-172


JOSÉ DE JESUS LOUZEIRO194, 195,196

19 de setembro de 1932 Iniciou sua carreira como estagiário em revisão gráfica no jornal O Imparcial em 1948 aos dezesseis anos de idade. Em 1953, aos 21 anos, se transfere para o Rio de Janeiro onde foi trabalhar no semanário: A Revista da Semana e no grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, mais especificamente como "Foca" em O Jornal e daí foi deixando suas marcas através de suas redações nos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Folha e Diário do Grande ABC e nas revistas Manchete e Diário Carioca. Por mais de vinte anos atuou também como repórter policial. Na literatura, estreou com o conto Depois da Luta, em 1958, no cinema escreveu os diálogos do filme: Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, baseado no romance de sua autoria lançado em 1976 pela editora Civilização Brasileira. Escreveu outros livros sobre casos policiais famosos como "O caso Aracelli" e "O assassinato de Cláudia Lessin Rodrigues". Em Carne Viva (1988) traz personagens e situações que lembram as mortes de Zuzu Angel e seu filho, Stuart.[1] Seus livros são, na maioria, contos biográficos, narrados como romance-reportagem, chegando perto de quarenta publicações. A ele se atribui a introdução no Brasil do gênero literário romance-reportagem, que no exterior tivera como representante Truman Capote, que escreveu A Sangue Frio. Assinou também o roteiro de dez filmes, sendo quatro deles já populares como Pixote, a Lei do Mais Fraco, Os Amores da Pantera de Jece Valadão, O Homem da Capa Preta e Amor Bandido, com Paulo Gracindo. Escreveu telenovelas como Corpo Santo e Guerra sem Fim. Mas sua telenovela O Marajá, uma comédia baseada no governo de Fernando Collor de Melo, foi proibida de ir ao ar, numa época em que não havia mais censura no Brasil. Depois desse episódio, o autor conta que começou a enfrentar dificuldades para realizar novos projetos na televisão. Os livros mais conhecidos de José Louzeiro, são197: Infância dos Mortos, argumento do filme Pixote; Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (título homônimo no cinema); Aracelli, Meu Amor; Em Carne Viva, lembrando o drama de Zuzu Angel e de seu filho Stuart Angel, morto na tortura, na década de 60. Entre os infanto-juvenis: A Gang do Beijo, Praça das Dores (um remember dos meninos assassinados na Candelária, em 1993), A Hora do Morcego (Ritinha Temporal) e Gugu Mania. Em outubro de 97, em São Paulo, lançou a biografia de Elza Soares - Cantanto Para Não Enlouquecer - a "intérprete guerreira" da música popular brasileira. Antes do livro de Elza havia

194 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 195 http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Louzeiro 196 http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2006/05/biografia-entrevista-jos-louzeiro.html http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2014/04/louzeiro-repassa-suas-memorias.html 197 http://www.louzeiro.com.br/bio.html http://www.criacaodoslivros.com.br/tag/jose-louzeiro/


escrito sobre outro negro genial: André Rebouças. Logo depois escreveu O Anjo da Fidelidade, um estudo da trajetória do negro Gregório Fortunato, o guarda-costas de Getúlio Vargas. José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos quatro se tornaram populares: Lúcio Flávio, o Passsageiro da Agonia, Pixote, O Caso Cláudia e O Homem da Capa Preta. Ano passado lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade. Trata-se da história de Gregório Fortunato, o Anjo Negro de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" ( memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, Ana Neri, a brasileira que venceu a guerra (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos enfermeiros brasileiros. Atualmente coordena a coleção de romances policiais para a Editora Nova Fronteira (Primeira Página) já com cinco livros impressos e três lançados: No fio da noite, de Ana Teresa Jardim, Juízo final, de Nani e A fina Flor da Sedução de José Louzeiro. José de Jesus Louzeiro198 - Nasceu em São Luís, no dia 19 de setembro de 1932. Aos 16 anos, ainda estudante, começou a trabalhar em jornais da capital maranhense, nas funções de revisor e repórter. Mudou-se em 1954 para o Rio de Janeiro, passando, no ano seguinte, a trabalhar nestes órgãos de imprensa: copidesque dos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Luta Democrática, Jornal dos Sports, O Globo e da revista PN (Publicidade & Negócios), sendo, ainda, secretário gráfico e subsecretário de redação do Correio da Manhã. De 1964 a 1968 foi editor fotográfico da Enciclopédia Barsa; de 1969 a 1971 dirigiu a circulação do Jornal do Escritor, órgão decisivo para a fundação do sindicato da classe no Rio de Janeiro, o primeiro a ser criado no Brasil. Nesse mesmo períodom, regeu, como professor contratado, as cadeiras de Editoração e Técnicas Gráficas da Escola de Comunicação da UFRJ. Viveu em São Paulo de 1972 a 1975, período em que exerceu as funções de copidesque da Folha de S. Paulo, secretário do Diário do Grande ABC e editor dos Diários Associados (Diário da Noite e Diário de São Paulo). De volta ao Rio de Janeiro em 1975, escreveu reportagens para a Última Hora, jornal de que a seguir foi redator e secretário de redação. De sua vastíssima produção como jornalista e escritor, constam artigos, reportagens, verbetes e outros textos para: Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Caderno do Livro do Jornal do Brasil; suplemento literário de O Globo; Correio da Manhã; Diário Carioca; Diário de Notícias (de Lisboa); Jornal de Letras; Revista da Semana; Revista Nacional e ainda as revistas Eu Sei Tudo, Leitura, Mundo Ilustrado, Vida Infantil, Planeta, Manchete, Fatos & Fotos, Ele & Ela, Panorama (do México), Enciclopédia Delta-Larousse; guias turísticos da Editora Abril; Livro de cabeceira do homem etc. Foi presidente do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro (1984-87), membro do Conselho Nacional do Direito Autoral (1985-86), do Conselho Superior de Censura (1987) e do Conselho de Direitos Humanos e Liberdade de Expressão da ABI (1987). Agraciado com a Medalha do Mérito Timbira. Obras publicadas - primeiras edições199 Conto - Depois da Luta – 1958; Judas Arrependido - 1968 Romance - Acusado de Homicídio – 1960; Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia – 1975; Aracelli, Meu Amor – 1975; O Estrangulador da Lapa – 1976; Inimigos Mortais – 1976; Sociedade Secreta – 1976; Moedas de Sangue – 1976; O Internato da Morte – 1976; Infância dos Mortos – 1977; O Estranho Hábito de Viver – 1978; Em Carne Viva – 1980; 20º Axioma – 1980; M - 20, a Morte do Líder – 1981; O Verão dos Perseguidos – 1983; Devotos do Ódio: Uma

198 http://imirante.globo.com/saoluis400anos/autores/ http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/definicoes/verbete_imp.cfm?cd_verbete=8889&imp= N 199 Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira, disponível em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/definicoes/verbete_imp.cfm?cd_verbete=8889&imp= N


Profecia Camponesa – 1987; Pixote: A Lei do Mais Forte – 1993; Mito em Chamas: A Lenda do Justiceiro da Mão Branca – 1997; A Fina Flor da Sedução - 2001 Biografia - André Rebouças – 1968; JK: O Otimismo em Pessoa – 1986; Elza Soares: Cantando; para Não Enlouquecer – 1997; Villa-Lobos: O Aprendiz de Feiticeiro – 1998; O Anjo da Fidelidade: A História Sincera de Gregório Fortunato – 2000; Ana Neri: A Brasileira que Venceu a Guerra - 2002 Memória - Isto Não Deu no Jornal - 2001 Infantil e juvenil - A Gang do Beijo – 1984; Ritinha Temporal – 1991; Praça das Dores – 1994; Pink: Viagem ao Submundo Mágico – 1995; Beija-Flor, o Amigo Especial – 1995; Gugu Mania – 1996; O Bezerro de Ouro – 1997; A Hora H do Padre G – 1998; Detetive Fora de Série - 1998 Traduções e edições estrangeiras Espanhol - La Infancia de los Muertos [Infância dos Mortos]. Tradução Antonio Samons. Barcelona: Argos, 1978; El Pasajero de la Agonia [Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia]. Tradução Antonio; Samons. Barcelona: Argos: Vergara, 1979. Francês - Pixote: La Loi du Plus Faible: Roman [Infância dos Mortos]. Tradução Janine Houard et Katherine de Lorgeril. Paris: Éditions Karthala, 1982. Inglês - Childhood of the Dead [Infância dos Mortos]. Tradução Ladyce Pompeo de Barros. Los Angeles: Boson Books, 1977; Land of Black Clay [Infância dos Mortos]. Tradução Ted Stroll. Los Angeles: Boson Books, 1997. Adaptação Cinema - Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia - Direção Hector Babenco; baseado em obra homônima, 1978. Pixote, a Lei do Mais Fraco: Informações Técnicas200 Título no Brasil: Pixote - A Lei do Mais Fraco Título Original: Pixote - A Lei do Mais Fraco País de Origem: Brasil Gênero: Drama Tempo de Duração: 127 minutos Ano de Lançamento: 1981 Site Oficial: Estúdio/Distrib.: Direção: Hector Babenco Sinopse Pixote (Fernando Ramos da Silva) foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia201 “Era assim o Noquinha. Um menino sonhador. Queria ir a lugares distantes, desses que agente vê nas revistas. - Vovô então acha que esse bandido é um bom cara? – pergunta o policial. - Não tou falando de bandido, moço – respondeu Dondinho. - Falo do garoto que veio pra cá com certa idade e aqui terminou de se criar. Se deu no que deu, foi culpa nossa. Ou mais nossa do que dele. É esse mundo aí fora que ta transformando as pessoas e as próprias coisas. É a Zona Sul, afundada aos vícios. É a pobreza, que nem todos podem suportar “.(p.30). [...]

200 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_uenp_portugues_md _sonia_maria_ovcar_endo.pdf 201 http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2598516.pdf ; http://www.recantodasletras.com.br/trabalhosacademicos/2598516


- É um filho da puta esse Bechara. Tudo mentira. Não fugi de delegacia porra nenhuma. O sacana mandou me meter numa privada, na baixada fluminense. Queria acabar comigo, mas a coisa saiu errada. Agora tá inventando essa história. Mas vai se foder, porque vou mandar uma carta pros jornais, contando a verdadeira versão dos fatos. (LOUZEIRO, José. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 63)·. 202

202 http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2598516.pdf ;


JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA

FRANKLIN DE OLIVEIRA203, 204 12 de março de 1916 # Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000 Figura das de maior realce em sua geração, poeta, crítico, jornalista e sobretudo, elegante cronista, cedo fixou residência no Distrito Federal, em cuja imprensa milita com brilho, depois de te-lo feito na sua terra natal. Pertenceu, em São Luis, ao Cenáculo Graça Aranha e ocupou na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 38, patroneada por Adelino Fontoura. Começou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário da Tarde, e em 1938 já estava no diário A Notícia, do Rio de Janeiro. Na década de 1930 trabalhou na revista Pif-Paf e, em 1944, foi para O Cruzeiro, onde tornou célebre sua coluna "Sete Dias", que escreveu por 12 anos. Em 1956, tornou-se editorialista e crítico do Correio da Manhã. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde, no governo de Leonel Brizola, foi secretário-geral do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul e delegado desse estado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobrás até que o governo militar instalado em 1964 cassou seus direitos políticos com base no AI-1. De volta ao jornalismo, foi redator n'O Globo e, na década de 1970, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo, assinando artigos políticos. Em 1983, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, quatro anos depois de conquistar o prêmio Golfinho de Ouro de Literatura do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Bibliografia – Ad Imortalitatem (1935), Sete dias (1948), A fantasia exata (1959), Rio Grande do Sul, um novo Nordeste (1962), Revolução e contra-revolução no Brasil (1963), Viola d’amore (1965), Morte da memória nacional (1967), A tragédia da renovação brasileira (1971), Literatura e civilização (1978), Euclides: a espada e a letra (1983), A dança das letras (antologia crítica, 1991), A Semana da Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios (1993). Buzar (2013)205 escreve em seu Blog, sob o titulo Franklin de Oliveira - um Nome Nacional, traçando a trajetória desse que foi um dos maiores cronistas do país: No dia 31 de março de 1938, o Franklin de Oliveira, com 22 anos, decidiu mudar de residência. Trocou São Luis pelo Rio de Janeiro, a então capital da República. 203 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245 204 http://pt.wikipedia.org/wiki/Franklin_de_Oliveira http://www.academia.org.br/abl/media/Texto%20sobre%20Franklin%20de%20Oliveira.pdf http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/aluisio-azevedo--franklin-de-oliveira-5455.htm 205 BUZAR, Benedito. Blog do Buzar. FRANKLIN DE OLIVEIRA: UM NOME NACIONAL, 8 de abril de 2013, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2013/04/08/franklin-de-oliveira-um-nome-nacional/, acessado em 02/05/2014


Nessa época, o Brasil vivia sob o domínio da ditadura de Getúlio Vargas, mas o jovem jornalista já estava com a cabeça politicamente organizada pelo convívio com militantes políticos e revolucionários, que atuavam na imprensa maranhense, a exemplo de José Maria dos Reis Perdigão. Com este trabalhou nos jornais A Pacotilha e Diário da Tarde e participou de embates ideológicos em favor dos trabalhadores. Seu primeiro emprego no Rio de Janeiro foi no jornal A Notícia, na função de redator. Com o decorrer dos anos, passou a desenvolver intensa atividade política e literária, colaborando em diversos jornais e revistas de circulação nacional, ressaltando-se a revista O Cruzeiro, onde ele criou a coluna Sete Dias, uma página de lirismo e voltada para assuntos do cotidiano. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial e do Estado Novo, restabeleceu-se no país o regime democrático, que trouxe no seu bojo as eleições diretas, para os cargos majoritários e proporcionais. Franklin de Oliveira, pelo seu destacado desempenho na imprensa carioca, recebeu convite dos partidos de esquerda para ser candidato a deputado federal. Desejava atuar na cena política, mas não mostrou interesse em disputar cargo eletivo no Rio de Janeiro. O seu objetivo era participar da vida pública do seu estado de origem. Por isso, quando os partidos e os políticos começaram a desenvolver ações com vistas às eleições de 1950, Franklin de Oliveira veio a São Luís conversar com as lideranças partidárias e sondar o quadro político maranhense. Em vez de procurar os partidos oposicionistas, o jornalista de O Cruzeiro bateu nas portas do Palácio dos Leões, onde teve uma conversa amistosa com o senador Vitorino Freire, do qual recebeu convite para filiar-se ao Partido Social Trabalhista. Pela legenda que Vitorino criara – o PST, Franklin de Oliveira concorreu às eleições de 1950, para conquistar uma cadeira no Congresso Nacional. Como estava distanciado do Maranhão há bom tempo, ele tomou algumas iniciativas para tornarse conhecido e conquistar o eleitorado maranhense. Duas merecem destaque. Primeira, convocou os novos intelectuais para se integrarem à sua campanha eleitoral. O estudante José Sarney Costa foi um dos que participou ativamente do processo eleitoral, na capital e no interior do Estado. Segunda, trouxe do Rio de Janeiro para o Maranhão uma gigantesca estrutura publicitária e um grupo de marqueteiros políticos, deixando os concorrentes perplexos e intimidados. Com recursos abundantes, instalou em São Luis e nas principais cidades, onde pontuava o eleitorado mais esclarecido, poderosos comitês políticos, dotados de modernos equipamentos de comunicação social, através dos quais os marqueteiros produziam e veiculavam peças publicitárias de bom gosto e de forte apelo popular. Nenhum candidato a qualquer cargo eletivo no Maranhão, até então, tivera a competência, a ousadia e o dinheiro para se apresentar ao eleitorado como o fizera Franklin de Oliveira. Cartazes de todos os tipos e tamanhos, coloridos ou em preto e branco, foram usados em profusão em jornais e colocados em pontos estratégicos da cidade. O que mais chamou a atenção do eleitorado foram os discos em vinil, com a música que funcionava como carro-chefe de sua campanha política. Como não havia ainda legislação restritiva à propaganda eleitoral, nada impedia o candidato de usar e abusar dos meios de comunicação. Em São Luis, ao longo do dia, só se ouvia o disco de Franklin de Oliveira, que tocava insistentemente em emissoras de rádio, serviços de alto-falantes e carros de som, novidades tecnológicas, que percorriam as ruas e os bairros, divulgando o nome do candidato e conclamando o povo a votar. A música, aliás, de boa qualidade, caiu de tal modo no gosto do povo, que passou a ser cantada por todos, fossem ou não seus eleitores. Quem lembrar a música, que solte a voz: “Eis aí um nome nacional Sempre a serviço do Maranhão


Franklin de Oliveira cristaliza um ideal De manter viva essa terra-tradição Jornalista e escritor, homem capaz, trabalhador Indicado pela cidade de Caxias Faz jus à glória de Gonçalves Dias Nós e também você Votaremos no PST Para eleger Franklin de Oliveira Que tudo fará pela Atenas brasileira Como deputado federal ”. Mesmo com todo o aparato publicitário, de fazer inveja a qualquer candidato, Franklin de Oliveira não se deu bem nas eleições de outubro de l950. O seu marketing político, ainda que inovador, não funcionou. Resultado: sofreu impiedosa derrota, que pode ser atribuída a três fatores. 1) recebeu intensa e aguerrida campanha dos oposicionistas, que não o perdoaram pelo fato de, como escritor de esquerda, aderir ao grupo vitorinista, pelo qual sua candidatura foi homologada. 2) seu nome não foi priorizado e nem assimilado pelo esquema palaciano para ser um dos eleitos. Dos noves candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados, cinco formavam no time dos governistas e quatro pertenciam aos quadros das Oposições Coligadas. Ele ficou numa suplência e sem nenhuma chance de ser convocado para assumir o mandato. 3) as eleições de 1950, tanto para os cargos majoritários como para os proporcionais, foram realizadas sob o beneplácito de escandalosa fraude eleitoral. O escritor maranhense não se beneficiou dos votos fraudulentos e muito menos dos votos válidos. Um final melancólico para quem lutou bravamente e empenhou-se, física e financeiramente, para ser um dos representantes do povo maranhense no Congresso Nacional. Se, por um lado, a música que Franklin de Oliveira usou na campanha eleitoral virou um tremendo sucesso popular, pois até hoje é lembrada e cantada por gerações que viveram aqueles tempos, por outro lado, proporcionou ao candidato do PST uma terrível herança política: o apelido de “Nome Nacional”, epíteto que virou galhofa popular e chegou até mesmo a irritá-lo. Nem depois de morto, conseguiu livrar-se dessa alcunha. MISTERIOSA É A VIDA DOS LIVROS206 Misteriosa é a vida dos livros. Seu tempo não é o dos relógios e das folhinhas. Há romances que envelhecem em 24 horas e, depois, se tornam inúteis como um jornal atrasado. E não deixa de ser mágica, poética, essa faculdade de envelhecer em horas. Outros livros, porém, nasceram com a vocação da eternidade. Transmitem sempre a impressão, a surpresa, o frêmito inefável de uma primeira leitura. Nós já os conhecemos e, no entanto, eles parecem novos; cada pagina dá a sensação de um descobrimento. Assim o “Amanuense Belmiro”, de Ciro dos Anjos. Tem seus dez anos de vida bem vivida. Mas resiste heroicamente a essa experiência dramática no destino de um livro, que é a releitura. Bom livro é o livro que a gente relê dez, vinte, trinta vezes, e com que atento e apaixonado interesse. O livro é como sempre o foi. O autor não lhe alterou uma virgula, não lhe acrescentou uma frase. Mas sentimos, desde o primeiro período, que a obra-prima não será jamais a mesma. Algo se renova nas suas profundezas. O “Amanuense Belmiro” sugere essa impressão de coisas infinitamente mutável. Por quê sempre o lemos como se o fizéssemos póla primeira vez? Não há nessa obra uma página velha. Irei mais longe: não há uma frase que tenha apodrecido. Pois sabemos que, mesmo nas melhores criações, há valores que se desgastam, que se decompõem e que se tornam fétidos. O mistério do “Amanuense Belmiro”, da sua fascinação incessante, está, segundo me parece, na sua alta qualidade estilistica. A chamada língua “inculta e bela”, de soneto preconceituoso, se culturaliza. A grande lição liter´ria do “Amanuense Belmiro” pode ser resumida assim: os defeitos não são do idioma mas de nós mesmos, de nossa impotência verbal. Livros assim, deviam ser distribuídos, não às crianças de escolas, mas aos escritores que tornam inculta a nossa língua. (in SETE DIAS). 206 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245


JOSÉ DE RIBAMAR SANTOS PEREIRA – RIBAMAR PEREIRA207 17 de setembro de 1897 # Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nascido em São Luís em 17 de setembro de 1897, filho do Dr. Alcides Jansen Serra Lima Pereira (advogado) e da poetisa Cristina dos Santos Pereira. Fez seus estudos primários no Instituto Nina Rodrigues, passando depois para o Instituto Maranhense, dirigido pelo Professor Oscar de Barros e, em seguida para o Colégio dos Maristas, realizando exames de preparatórios no Colégio Pedro II da Bahia de Salvador. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará em 1925, tendo sido orador de sua escola em todas as solenidades, inclusive nas comemorações do 11 de Agosto (instituição dos Cursos Jurídicos no Brasil). Como orador da Liga Nacionalista falava todos os domingos em praça pública. Em maio de 1920, como sorteado, serviu no 26º. Batalhão de Caçadores, acantonado em Belém, passando a trabalhar na Escola Regimental, que organizou e dirigiu. Fez, na terra guajarina, sua formação espiritual, colaborando intensamente na ‘Folha do Norte’, com Paulo Maranhão; no ‘Estado do Pará’, com Santana Marques e Arnaldo Lobo; no ‘Imparcial’ com Djard de Mendonça e Adamastor Lopes; na “Evolução” com o senador Fulgêncio Simões; e na Revista ‘Guajarina’. Regressando a São Luís, passou a advogar com seu pai, sendo sucessivamente nomeado Colaborador, Praticante e Terceiro Escriturário do Congresso do Estado; Assistente Judiciário ao Proletariado; 2º. Promotor Público da Comarca da Capital. Por treze anos foi consultor jurídico da Caixa de Aposentadoria e Pensões de Serviços 29 IHGM – livro de anotações de Sócios Efetivos, p. 39-39v, (s.d). Públicos dos estados do Maranhão e Piauí; exerceu o cargo de 1º. Promotor Público da Comarca de São Luís. Em 1924, quando acadêmico, exerceu o cargo de professor de Geografia e História do Brasil, do Curso Ginasial do Liceu Maranhense e, em 1926, de abril a outubro, o cargo de professor de Literatura Brasileira do mesmo estabelecimento. Já formado, lecionou História do Brasil no Ateneu Teixeira Mendes, no Colégio São Luís de Gonzaga, na Academia de Comércio do Maranhão e na Escola de Agronomia, tendo sido um dos fundadores destes dois últimos estabelecimentos. Foi redator da ‘Folha do Norte’ e colaborou em ‘O Dia’, “Correio da Tarde’, ‘Tribuna’, e ‘Revista do Norte’, assim como no ‘Jornal Pequeno’, de Recife, ‘A Tarde’, da Bahia, e ‘Tribuna’, de Santos. Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, OAB-MA, e Associação Maranhense de Imprensa. Publicou: Discursos Acadêmicos (Faculdade de Direito do Pará); Os dez mandamentos do Operário; Duas Teses (concorrendo a cadeira de literatura do Liceu Maranhense); Alma – livro de versos, com a qual entrou para a Casa de Antonio Lobo. Autor de 214 produções musicais escreveu o Hino a Bandeira Maranhense. Foi presidente de honra da União Artística Operária Caxiense. A UMA CAVEIRA208 A quem pertencerias tu, na vida, Horripilante e esquálida caveira, Que, hoje, deparo pela primeira vez, Nessa expressão risonha e indefinida? E´s o ponto final da fementida 207 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. HOMENAGEM AO PATRONO DA CADEIRA Nº 40. REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 157 208 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 222


Existencia, que é dúbia e passageira: Mudaste as galas em serapilheira Na sequencia fatal da despedida. Como tu, eu serei assim, um dia... No leito imundo desta terra fria, De mim ninguém se lembrará... ninguém! E então, nas sombras deste Cemitério, Envolta no silencio e no mistério, Minha caveira há de sorrir também


JOSÉ JOAQUIM RAMOS FILGUEIRAS209 20 de abril de 1928 # 03 de novembro de 2011 Phelipe Andrès210, em seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras em 23 de maio de 2013, assim se pronunciou acerca de seu antecessor: Iniciarei referindo-me ao meu antecessor imediato, José Joaquim Ramos Filgueiras, jornalista, orador fluente, professor, poeta, escritor, magistrado. Segundo Dona Zelinda Lima que o conheceu de perto e privou de sua amizade, cada passo de sua brilhante carreira fora conquistado com persistência nos estudos e dedicação incondicional ao trabalho. Nasceu o Dr. Filgueiras nesta cidade de São Luís, a 20 de abril de 1928. Seus pais, Isac Joaquim Filgueiras e Marieta Perdigão Ramos Filgueiras. Casado com Dona Magnólia Branco da Costa Fontoura Filgueiras, tornou-se Bacharel pela Faculdade de Direito de São Luís em dezembro de 1950. Foi promotor público entre os anos de 1952 e 1955, das Comarcas de Pastos Bons, Vitória do Mearim, Viana e Itapecuru-Mirim. Nestas sendas conheceu o Maranhão da frente pastoril, nas rotas de ocupação e conquista dos sertões, seguindo os caminhos do gado e das missões jesuíticas que aqui deixaram o rastro de sua missão evangelizadora. Um dia confessou ao acadêmico José Chagas, que o recebeu nesta Casa, haver adquirido desde menino, um grande fascínio pela leitura. Na infância morou em Teresina onde continuou estudos com professores particulares, desenvolvendo em seu precoce aprendizado o gosto pela leitura, e a vocação para escrever e falar fluentemente. Aos dez anos foi orador de sua turma por ser o que melhor se expressava verbalmente. Ainda em Teresina integrou o Grêmio Literário Da Costa e Silva e divulgava entre os piauienses, o grande bardo maranhense Gonçalves Dias, declamando de cor todo o I-Juca Pirama e o Canto do Piaga. “Sempre me perdi nas páginas dos livros” confessava ele. Das leituras juvenis dos contos dos Irmãos Grimm e do Almanaque do Reco-Reco, das aventuras do Tarzan, que povoaram as infâncias de muitos de nós, foi um salto para que, em plena adolescência passasse aos clássicos da literatura portuguesa, francesa e russa, impregnando-se de Eça de Queiroz, Emile Zola, Tosltoi e Dostoieviski. Anos depois já como Juiz em Grajaú, ele teria oportunidade de ler de uma só empreitada, os 36 volumes da obra de Balzac traduzida no Brasil. Teve ainda uma forte influência de Emile Zola através da obra Germinal que fala do drama terrível da exploração dos trabalhadores das minas de carvão na França. Segundo depoimento dele ao poeta Chagas: Daí lhe veio a ternura que passou a sentir pelos “trabalhadores nas minas subterrâneas, mas também pelos que estão em cima da terra, sem terra e passando fome.” Ao voltar de Teresina, terminado o ginásio, em plenos anos de 1940, fazia aqui o curso científico e foi convidado por um grupo de jovens maranhenses a participar da fundação de um centro literário. Vivia-se um período conturbado da história, com os abalos e as consequências da segunda guerra mundial. O impacto da primeira bomba atômica, revelando a apocalíptica força de destruição nas mãos do ser humano a um simples apertar de botões, causou profundos efeitos, em curto e longo prazo, nos corações e mentes. Para melhor entendermos o valor da obra de um homem são necessários a compreensão e conhecimento do contexto da sociedade e do tempo histórico em que viveu. Wassili Kandinski, advogado, poeta e sobretudo, artista plástico russo, expoente do movimento abstracionista do qual se tornara um dos grandes teóricos, tendo sido também um dos principais professores da Bauhauss, dizia que toda arte é filha de seu tempo.

209 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. 210 210 http://www.linomoreira.com/2013/05/posse-de-phelipe-andres-na-acade3mia.html


E no tempo em que José Joaquim Filgueiras viveu os momentos de sua formação, grandes verdades e certezas eternas haviam sido demolidas e se tornaram pó, em segundos, como as cidades de Hiroshima e Nagasaki. No Brasil vivia-se o fim da era Vargas, o fim da ditadura getulista. Organizava-se a assembleia constituinte. Tudo contribuindo para que antigas convicções filosóficas e políticas caíssem por terra deixando um vazio. A São Luís, onde o então jovem Filgueiras arriscava seus primeiros passos na área do Direito e como intelectual, encontrava-se igualmente mergulhada em agudo período de crise. O clímax de uma longa fase de depressão econômica que se abatera sobre toda a região do meio-norte brasileiro trouxe como consequência a falência do pensamento crítico e o esvaziamento cultural. Filgueiras e sua geração viviam assim as terríveis desvantagens e o desafio de iniciar carreira e dar sentido a suas vidas em um dos momentos mais difíceis de nossa história. No plano cultural as atividades artísticas e literárias estavam igualmente imersas em marasmo, e o centro que fora a Atenas Brasileira dos meados do século dezenove tinha uma pulsação próxima da frequência zero, da estagnação, afetando inclusive o desempenho desta casa, presa que estava do imobilismo reinante. Pois foi como reação a esse ambiente desfavorável que surgiu o Grêmio Cultural Gonçalves Dias, liderado por Nascimento Morais Filho, recriando-se um ambiente para a realização de debates conferências e palestras. Abrindo-se novo púlpito para o exercício da oratória e palco para acaloradas e proveitosas discussões, declamações e apresentação de peças teatrais. Na mesma época outro grupo de jovens se reunia na famosa Movelaria Guanabara, na Rua do Sol. Este segundo grupo então era tido como mais avançado ainda. Criado com mais liberdade e franqueza para as novidades e transformações que começavam a surgir, ocupando vazios e preenchendo a carência de movimentos intelectuais. O fato é que, estes movimentos se constituíram em capítulo importante da história local de nossa literatura. Filgueiras se movimentava bem entre os dois grupos e deles participava indistintamente, tendo sido, como já vimos, um dos principais líderes e fundadores do primeiro. Este protagonismo, certamente contribuiu decisivamente para a sua formação já em andamento na faculdade de Direito. Ao mesmo tempo escrevia seus ensaios e poemas, exercitando à surdina sua vocação literária, pois não lhes creditando valor, ele mesmo a escondia de todos. Tempos depois se tornou professor de Direito da Universidade Estadual do Maranhão e alto dignitário das Cortes Maçônicas do Maranhão e do País. Suas qualidades de liderança, competência e inteireza no trato das causas públicas o levaram a ocupar por duas vezes a presidência da Associação dos Magistrados do Estado. Em 1965 foi promovido para a comarca de São Luís, quando assumiu a 7ª Vara Criminal da Capital. Elevado ao cargo de Desembargador atingiu o ápice de sua carreira ao ser eleito presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão. Após sua passagem pelo comando, foi reconhecido por seus pares como competente e profícuo administrador daquela casa e honrado chefe do Poder Judiciário do Maranhão. Sob sua liderança, o Poder Judiciário experimentou sensíveis melhoras, e se modernizou. Realizaram-se obras de restauração de suas sedes espalhadas em todo o Estado. Houve sensível aumento da eficiência, atribuído às suas qualidades de liderança, baseadas no rigor da ética e do trabalho, que foram postas em prática com o vigor que caracterizava seu comportamento e também pelos mecanismos que criou, de premiação aos bons juízes, estimulando a meritocracia na carreira. O desembargador Filgueiras passou à história na relação dos homens de bem por seu caráter sem jaça e por isto foi detentor das mais altas comendas do Maranhão e do País. Foi por sua produção especificamente no campo das letras jurídicas um gigante, mas nunca deixou de lançar ao ser humano um olhar poético no cotidiano de suas experiências profissionais. Sem que ele próprio atribuísse relevância às suas letras poéticas, a Academia lhe reconheceu este mérito, que se manifesta com eloquência em seus livros publicados, Caminhantes e Pedra de


toque. Sabemos que outros três livros ficaram inéditos. E todos são testemunhos de sua sensibilidade e valor literário. Assim José Joaquim Ramos Filgueiras foi uma expressão dos homens que compartilham das letras jurídicas e literárias e bem representam uma tradição nesta casa, na mesma linha dos desembargadores que o precederam, Alfredo de Assis Castro, por sinal um dos fundadores da Academia e Barros e Vasconcelos, Henrique Costa Fernandes, Isac Ferreira, e estes que nos alegram e enriquecem com seu convívio fraternal: Milson Coutinho, Lourival Serejo, Alberto Tavares e nosso Juiz Federal Ney Bello Filho. Do manejo das leis e da convivência com os homens em seus momentos de maior fragilidade retirou o barro com que moldou as delicadas porcelanas do seu lirismo, com as quais plasmou estrofes vazadas em preocupações com a injustiça, que, como ele o sabia bem de perto e de dentro, muitas vezes se abate sobre os mais fracos e desprovidos. Deixemos pois que se cumpra neste momento a finalidade do ritual acadêmico e que o Desembargador José Filgueiras, meu brilhante antecessor imediato, volte a falar entre nós como imortal que se faz agora na minha voz hesitante. De seu próprio discurso de posse nesta casa retirei as palavras com as quais encerro esta parte de minha fala, neste texto apenas tangencialmente apologético. Aqui, no pretexto de registrar o impacto do momento em que recebeu a proposta de se candidatar, acaba por nos lançar uma reflexão bastante atual, em texto crítico sobre as contradições e dificuldades do ofício de julgar o próximo com a busca da verdade e total isenção. [...] Assim até hoje reverberam as palavras daquele a quem tenho, pela vossa vontade senhores acadêmicos a imensa responsabilidade de suceder. Parafraseando o Papa Francisco, direi: - Que Deus vos perdoe por isto meus confrades. Publicou em jornais e revistas maranhenses diversos trabalhos em prosa. Publicou o livro “Caminhantes” (Sioge 1986). Tem inéditos mais três livros de cunho poético. Ocupava a Cadeira de Nº 23 da Academia Maranhense de Letras.211 DISCURSO DE POSSE212 Na lida incessante com leis e códigos: nos dias sempre tormentosos de julgar semelhantes, às vezes iguais e pares: no manuseio de processos que, como diria Von Ihering, não passam de organismos destinados a multiplicar dificuldades na defesa dos direitos pleiteados; na dúvida cruciante sobre se somos nós juízes árbitros inúteis no combate inescrupuloso entre a competência e a ignorância; nas amargas reflexões sobre a lei ruim que é ótima quando a magistratura é boa e a lei ótima que é péssima quando a magistratura é má; no suspiro por aquele dolce far niente do ócio com dignidade, após 34 anos de autos empoeirados, de conflitos que toldam a alma, de esgotos por onde fluem dores e misérias incalculáveis, enodoando escritórios e gabinetes, esfumaçando audiências e às vezes, até tisnando decisões; escrevendo, vez por outra, versos despretensiosos, e sentenças, onde o que transborda da análise do factual e do legal, perece, quase sempre, nos limites da pedanteria, eis que subitamente o choque do desafio jamais esperado, sequer sonhado, para o ingresso no mais alto sodalício intelectual de minha terra.

211 http://jornalpequeno.com.br/2011/11/03/morre-o-desembargador-jose-joaquim-ramos-filgueiras/ http://www.1cn.com.br/2011/11/3/morre-o-desembargador-jose-joaquim-ramos-filgueiras-17849.htm 212 http://www.linomoreira.com/2013/05/posse-de-phelipe-andres-na-acade3mia.html


JOSÉ NASCIMENTO MORAES 213

São Luis / 19 de março de 1882 # 22 de fevereiro de 1958 José do Nascimento Moraes nasceu em São Luis do Maranhão, no dia 19 de março de 1882 e faleceu em 22 de fevereiro de 1958, aos 76 anos. Foi poeta, romancista, cronista, ensaísta e jornalista. Além disso, alcançou os cargos de presidente da Academia Maranhense de Letras e professor do tradicional Liceu Maranhense. Descendente de escravos, Nascimento Moraes lutou, por meio de artigos jornalísticos, muitas vezes publicados sob pseudônimo, contra o mesmo preconceito de cor que precisou superar para obter o reconhecimento profissional e literário. Também em sua literatura, o escritor abordou de maneira crítica a temática do preconceito racial, sendo que seu livro de maior destaque, Vencidos e degenerados, primeiramente publicado no Maranhão em 1915, discute as consequências do 13 de Maio de 1888. Sobre a obra, afirma Manoel de Jesus Barros Martins: O cotidiano de São Luis, subsequente à abolição da escravatura, foi por ele mapeado anatomicamente, analisado sociologicamente e narrado com sagacidade e rigor dialético. Isso permitiu-lhe a montagem de um retrato multifacetado da vida ludovicense, no qual foram gravados com tinta naturalista (...) suas tensões sócioculturais subjacentes, nuances da atmosfera abafadiça da decadência, reveladoras do desequilíbrio vigente em todo o corpo social tomado como objeto da narrativa. (MARTINS: 2002, 36). José do Nascimento Moraes casou-se com Ana Augusta Mendes Moraes, com quem teve sete filhos: Nadir, Raimundo, João José, Ápio Cláudio, Talita, Paulo e José Os dois últimos, Paulo Nascimento Moraes e José do Nascimento Moraes Filho, obtiveram reconhecimento como importantes poetas e jornalistas. José do Nascimento Moraes Filho foi, inclusive, responsável pela descoberta e publicação de Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, provavelmente o primeiro romance escrito por uma afrodescendente no Brasil. O autor foi uma grande figura do cenário maranhense do início do século XX, destacando-se por suas obras jornalísticas e literárias, que focavam, sobretudo, a contraposição das questões elitistas e abolicionistas. Lutou contra os conceitos racistas da época, atraindo aliados e inimigos à sua causa. NASCIMENTO DE MORAES em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem214: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com 213 http://pt.wikipedia.org/wiki/Nascimento_Moraes http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/109/dados.pdf 214 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO.


indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (2000, p. 95); em outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, em que é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”.


JOSÉ RIBAMAR PINHEIRO215

13 de junho de 1900 # 12 de setembro de 1947 Nasceu em São Luis a 13 de junho de 1900 e faleceu na mesma cidade em 12 de setembro de 1947; Jornalista e poeta, foi figura das mais expressivas de sua geração no meio intelectual provinciano, tanto que ao desaparecer ocupava a presidência da Academia Maranhense de Letras, em que fundara a cadeira 22, patroneada por Humberto de Campos. Foi diretor do Departamento Estadual de Imprensa e propaganda e Secretário Geral do Estado do Maranhão, e primeiro diretor artístico da Rádio Ribamar, de São Luis. Bibliografia - Catecismo Civico (19?); Discursos e conferencias (19?); Luar na estrada longa (1946); deixou inéditos: As mentiras da Felicidade; e em colaboração com Guimarães Martins, Verdi de Carvalho – o Franz Lehar brasileiro. GEMENDO E SONHANDO Embora viva o sofrimento afeito, Tenho, entanto, apesar da vida incalma, Orquestrações estéticas no peito E belezas latentes dentro dalma. Seja o mal, do meu corpo, sem remédio, Tragando fel, comendo amargo pão, Como Verlaine, inspiro-me no Tédio, Em remigios, buscnado a Perfeição. E esta ânsia, que me impele para Cima, Na tortura da intérmina escalada, Faz-me, ainda, mais, ao lavorar a Rima, A sensibilidade requintada. Mas, bendigo essa Dor, se o sofrimento Constela de Emoções a Estrofe clara E esmalta de harmonia o Sentimento Para Firmar uma Estesia rara. E gemo. E sonho. E é assim o meu viver. Mas, por Deus, abençoo este Penar Que me dá, entre a mágua de Gemer, A sensação divina de Sonhar. (in Luar da estrada longa...) 215 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 226-227


JUSTO JANSEN FERREIRA 216

16 DE MARÇO DE 1864 / 8 DE NOVEMBRO DE 1930 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão NASCEU EM SÃO LUIS EM 16 DE MARÇO DE 1864. FILHO DE TRADICIONAL FAMILIA MARANHENSE, SENDO SEU PAI O MÉDICO JOSÉ JANSEN FERREIRA: RESIDIA NA RUA RIO BRANCO. Formou-se em Medicina na Bahia, onde foi contemporâneo de Nina Rodrigues. Geógrafo, publicista, professor catedrático de Geografia Geral e Corografia do Brasil do Liceu Maranhense e de Física e Química, e Mineralogia da Escola Normal do Maranhão. Lecionou também no Instituto de Humanidades. Fundador da cadeira n. 4 da AML, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e da Sociedade de Medicina do Paraná. Doutor em Medicina, era socio correspondente de varias sociedades cientificas estrangeiras, como a Sociedade Astronomica de Paris e de Geogrfia de Lisboa. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e seu primeiro presidente (12926-1927. Teve assento na cadeira 19 por ele fundada. Com o aumento das casdeiras deste Sodalicio, foi escolhido patrono da cadeuira 30. Na âmbito da geografia, implantou o ensino intuitivo de Geografia Física, administrativa e econômica através de conhecimentos diretos de determinada região habitada pelos alunos, o que orientaria na compreensão geral da geografia. Elaborou Carta Geográfica do Maranhão, Planta geográfica da Ilha de São Luis e Planta da Cidade de São Luis, todas publicadas em Paris em 1903, e nesta caputal em 1912. No governo de Luis Domingues adaptou-as ao ensino do Liceu Maranhense. Foi o sistematizador da cartografia maranhense. Foi um dos fundadores da Escola Onze de Agosto – Socioedade Promotora da Instrução Pública.

216 Por Joseth Coutinho Martins de Freitas. IN OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012


Com o livro ‘A barra de Tutoia”, estabaleceu os fundamentos teóricos que puseram fim as duvidas sobre os limites a leste entre o Maranhão e o Piaui. Publicou artigos em revistas especalizadas sobre o ensino da Geografia, e a Barra de Tutoia em revista do Norte, de 1901 a 1903. Faleceu em 8 de novembro de 1930, nesta Capital. Bibiografia217 Fragmentos para a Corografia do Maranhão (1901); A Tuberculose (in Revista do Norte, 1902); O ensino da geografia (in Revista do Norte, 1903); a barra da Tutóia (in Revista do Norte, 1903); a proposito da carta geogr´sfica do Maranhão (1904); Breve noticias sobre o ensino da Física, Química e Mineralogia no Maranhão (1907); a viação ferrea no Maranhão (1927); A mulher e o ensino primário (1910); Discurso à professora normalista (1910); Pelo Maranhão (1916); Discurso proferido na sessão inaugural da Academia Maranhense de Letras (1917); A divisória pelo Parnaiba (1921). CANDIDO MENDES Para patentear o apanágio de Candido Mendes na política, vou relatar um significativo e nobre gesto, em que, conjuntamente, se lhe delineou a feição moral, austera e até sublime! Discutindose, em 1880, no Senado, a cessão que o Piauí fizera ao ceará de dois municípios, em troca do território da amarração, e vindo a ponto a barra da Tutóia, Candido Mendes, baseado a história, no direito e na confiança da da inteireza de caráter e do espírito de justiça do leal adversário, respondendo ao aprte, asseverou que não vacilaria, se surgisse tal pleito em escolher pelo arbítrio o venerando Marques de Paranaguá, eminente estadista do segundo império, à data Senador pelo Piauí. A este eloquente passo, honroso tanto ao nosso representante quanto ao do Piauí, perfeitamente se ajusta a judiciosa observação do notável professor de direito, da faculdade Livre do Rio, o Dr. Lacerda de Almeida, contida nestas palavras: “Candido Mendes foi uma das mais fulgentes glórias do Império, pelo saber, pelo caráter, que era então menos raro do que o saber”. Nesse inolvidável dia, em que, no prélio, se empenharam luminares do senado, ouvido com a costumada atenção, elustrou Candido Mendes o assunto, revelando uma vasta e profunda sabedoria. [...].

217 http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://books.google.com.br/books/about/A_barra_da_Tutoya.html?id=L7oEAAAAYAAJ&redir_esc=y


LUIS CARLOS BELLO PARGA

GRUPO ILHA Luís Carlos Bello Parga, mais conhecido como Bello Parga (São Luís, 20 de dezembro de 1928 – São Luís, 13 de maio de 2008) foi um contabilista, bancário, jornalista e político brasileiro que foi senador pelo Maranhão. Filho de Lauro Nina Parga e de Gilda Belo Parga, formouse contabilista pelo Instituto Federal do Maranhão em 1946 e ingressou no Banco do Brasil em 1951. Membro do Conselho de Cultura do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras, foi jornalista e diretor de O Estado do Maranhão, jornal pertencente à família Sarney. Em 1948 filiou-se à UDN onde militou até a outorga do bipartidarismo em 1965 pelos militares quando optou pela ARENA. Em Brasília foi assistente do secretário particular da presidência no governo Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) até retornar ao Maranhão para assumir a presidência do banco do estado por nomeação do governador José Sarney. Ainda em seu estado presidiu a Companhia de Desenvolvimento Mineral e depois foi diretor do Banco do Nordeste do Brasil e superintendente regional do Banco do Brasil. Eleito segundo suplente na chapa de José Sarney em 1978, optou pelo PDS no retorno ao pluripartidarismo e integrou o diretório estadual da legenda. Presidente do Conselho de Ética e Disciplina Partidária, apoiou a chapa Tancredo-Sarney na sucessão de Figueiredo. Com a renúncia de José Sarney para assumir o Palácio do Planalto e a de Américo de Souza para ocupar uma cadeira no Tribunal Superior do Trabalho, foi efetivado. Filiado ao PFL foi eleito suplente de Alexandre Costa em 1986 e 1994, exercendo o mandato quando o titular foi Ministro da Integração Regional no governo Itamar Franco e quando o mesmo se afastou para tratamento de saúde. Após a morte de Costa foi efetivado em 1998 abandonando a política ao final do mandato. Neto de Herculano Parga, governador do Maranhão (1914-1917). (https://pt.wikipedia.org/wiki/Bello_Parga). Além de ter feito poesia na juventude, criou a revista Ilha, era apaixonado por William Shakespeare e, também, impecável tradutor de inglês, "um brasileiro cidadão do mundo, pacífico e conciliador". Sabia ter firmeza para não ceder a abusos de qualquer ordem, e sua morte deixou mais pobre o universo político brasileiro. Fonte: Agência Senado. Viveu, portanto, quase 80 anos. No que escrevia e falava deixava marcas de ser, sem dúvida, um profundo conhecedor da língua portuguesa. Era intransigente defensor da importância do ensino rigoroso das regras gramaticais. Ele sempre foi elogiado como poeta com estilo modernista. Foi um dos integrantes do Grupo Ilha, de São Luís, do qual faziam parte José Sarney e Bandeira Tribuzi. Teve uma atuação muito elogiada também como integrante do Conselho Editorial da Revista Ilha, considerada porta-voz do seu grupo, que divulgava, pregava as idéias do pósmodernismo. A sua produção literária, em grande parte, foi publicada em jornais e revistas literárias de São Luís e de Fortaleza. É autor do livro de poesia Lira Destemperada e da peça teatral Auto dos Pastores de Belém. Deixou, por último, Lira Alheia, traduções de poetas da língua inglesa, obra esta que merece ser divulgada, posta à disposição de todos nós e em especial das novas gerações de estudiosos, para que tenham a dimensão exata da inteligência e da cultura de


Luís Carlos Bello Parga, que permanece, pelo que foi e é, entre todos nós aqui, na Academia. http://www.academiamaranhense.org.br/blog/revendo-o-passado/


MAGSON GOMES DA SILVA218

26 de maio de 1933 Ingressou no Banco do Brasil em 1953, e ali fez toda sua carreira, vindo a aposentar-se em 1983. Temperamento retraído, e até mesmo esquisito, nuncapertenceu a grupos ou movimentos literários, contando-se, entre suas raras amizades de motivação intelectual, o poeta Assis Garrido, que muito o estimou e assistiu. Poeta de filiação romântica, também dá a muitos de seus versos a roupagem parnasiana, sendo autor de elegantes e perfeitos sonetos. Parte de sua produção em prosa – contos, principalmente – permanece inédita. Bibliografia: Inspirações / Magson Gomes da Silva. [S.l. : s.n.], 1957 ( S. Luís-Maranhão : -- Tip. Teixeira), http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp#focus; Magnólia (1984); Albores e luares (1991); Poemas galantes (1992); Serões da fantasia (1988). Tem os seguintes btrabalhos inéditos – Seiva (poesias); Fantasias românticas (poesias escolhidas);Dias Carneiro Arnaldo Ferreira (discurso de posse na AML); O poeta Antonio da Costa Gomes e O prosador João da Costa Gomes (conferencias na AML).

218 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993


MANUEL ÁLVARO DE SOUSA SÁ VIANA219 14 de agosto de 1860 / 1922 Nasceu em São Luis aos 14 de agosto de 1860 e faleceu em 1922 (?). Homem de profundo saber juridico, uma das glorias do rireito brasileiro. Internacionalista acatado pela erudição e senso jurídico demonstrados no curso de longa existência dedicada ao estudo e ao ensino. Catedrático da faculdade Livre de Direito do Rio de janeiro e sócio da Associação de Advogados de Lisboa e dos Col´gios de Advogados de Lima e la mPaz. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio correspondente da Academia Maranhense de Letras, patrocinando, posteriormente, a Cadeira n. 25, fundada por Oliveira Roma. Bibliografia Esboços críticos da faculdade de Direito de S. Paulo (1880); Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1894); Traços vbiográficos de Augusto Teixeira Mendes (1895); Trabalhos forenses (1899); Arbitragem internacional (1901); Congresso jurídico americano (1902); Das falências (1907); elementos de Direito Internacional (1908); De la non existence d´um droit international americain (1912); Discursos e conferencias (1916); L´Arbritage nu Bresil (1917); Discurso de paraninfo (1920); O trafico e a diplomacia. A LEI MORAL220 Por mais profundo que seja o salutar trabalho das mães, a sobra desse amor que Victor Hugo chamou – “pain merveilleux que Dieu partage et multiplie”, - ele pode perecer, pode diminuir, pode vacilar, porque, reconheçamos a dura realidade, quando o meio social começa a fluir sobre o moral dos atos humanos, não raramente, pessoas e coisas, leis e costumes, se mosntram dúbios, fracos, confusos, indefenidos, bamboleados, sacudidos, num imenso torvelinho por não estarem perfeitamente firmes em seus pedestais – o Bem, a Moral e a Justiça, tanto vale dizer – o Direito – que é a suprema garantia de qualquer organização social.

219 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 2008, obra ciatada, p. 92-94 http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=1WP67203566J9.81665&profile=bn&uri=link=3100018~!445 418~!3100024~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Viana%2C+Manuel+%C3 %81lvaro+de+Sousa+S%C3%A1&index=AUTHOR 220 Discurso de Paraninfo; Rio, 1920, 42 p.


NONNATO MASSON RAIMUNDO NONATO DA SILVA SANTOS221 28 de fevereiro de 1924222 # São Luis 08 de março de 1998 No Perfis Academicos, Jomar Moraes o dá como nascido em São Luis, a 28 de fevereiro de 1924, tendo militado na imprensa de São Luis até 1950, transferindo-se para o Rio de Janeiro, neste ano, onde permaneceu até 1980, quando se aposentou. Mas Buzar (2014)223 publica em seu Blog o seguinte: Nesta sexta-feira, 28 de fevereiro de 1924, há noventa anos, nascia na praia da Mamuna, no município de Icatu, uma criança que recebeu o nome de Raimundo Nonnato, o qual, tempos depois, o Maranhão e o Brasil passariam a conhecer por Nonnato Masson, sobrenome de origem controversa. Alguns dizem ser homenagem ao repórter-fotográfico da revista O Cruzeiro, Jean Mazon; outros atribuem à simpatia pela maçonaria. Os dois ss eram usados para disfarçar. Criado pelos avós, que lhe deram boa formação moral e educacional, fez o primário no colégio Sotero dos Reis, onde a professora Zila Paes descobriu a sua vocação para a escrita. Seus textos eram aproveitados no jornalzinho e no teatrinho da escola. O ginásio cursou no Liceu Maranhense. Quando não estava em sala de aula, aprendeu a tocar violino, telegrafia e tipografia. O primeiro emprego foi na Tipografia Teixeira, depois no cinema Eden, como operador. Para ganhar uma profissão definida, matriculou-se na Escola de Aprendizes Artífices, depois transformada em Escola Técnica Federal do Maranhão. Nessa época, o cine Rex, no bairro do João Paulo, oferecia o seu palco para quem gostava da arte cênica. Ali se apresentou como ator e autor de pequenas peças e constitui um grupo teatral que fez sucesso nos bairros da cidade. Como o teatro não lhe dava nenhum rendimento, procurou emprego em jornal. Foi parar no Correio da Tarde, onde o poeta Fernando Viana, dono da situação, aprovou um texto de sua lavra e lhe garantiu um lugar na redação. Depois foi levado pelo próprio Fernando Viana para o jornal O Combate. Deste, transferiu-se para A Pacotilha, dirigido por Miécio Jorge, graças a um concurso de reportagem em que tirou o primeiro lugar com a matéria “Fila para os mortos”. As excelentes reportagens publicadas em A Pacotilha chamaram a atenção do jornalista Pires de Saboia, vindo do Ceará para pilotar O Imparcial, que o convocou para com ele trabalhar. Com a instalação, em 1950, do Jornal do Povo em São Luis, montado pelo governador Ademar Barros para instrumentalizar o Partido Social Progressista, Nonnato recebeu convite de Neiva Moreira para fazer parte da equipe redacional. No Jornal do Povo não se deu bem e retornou aos quadros dos Diários Associados, onde chefiou a redação de A Pacotilha, mas sem deixar de produzir reportagens e textos teatrais, veiculadas pelas emissoras Timbira e Ribamar. Em 1956, São Luís recebe a visita da condessa Pereira Carneiro, proprietária do Jornal do Brasil. Masson entrevista-a e ela encanta-se com a sua matéria. Ela convida-o a trabalhar no matutino carioca. Topou a parada e no JB atuou como repórter, pauteiro, editor do Caderno B e correspondente em Brasília até a sua inauguração. Como repórter, fez parte da equipe que cobriu a participação do Brasil na Copa do Mundo, em que se sagrou como campeão na Suécia, bicampeão no Chile e tri-campeão no México. Também prestou serviços na revista Fatos e Fotos, onde publicou a reportagem “Aventura Sangrenta do Cangaço”, que lhe valeu o Prêmio Esso de Reportagem, em 1961.

221 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. 222 MASSON, Nonnato. DEPOIMENTO, enviado ao autor via correio eletrônico em 05/05/2014, acerca das duvidas do local de nascimento de seu pai, o jornalista Nonnato Masson, confirma que ele – Nonnato pai, nasceu na praia da Mamuna, no município de Icatu, em 29.02.1924, falecendo em São Luis em 08.03.1998; morou no RJ trabalhando no Jornal do Brasil de 1957a1977; publicou livros de cronicas ines e morta e corpo de moça. 223 BUZAR, Benedito. NONNATO MASSON: UM JORNALISTA INESQUECÍVEL. BLOG DO BUZAR, domingo, 14 de fevereiro de 2014, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2014/02/23/nonnato-masson-um-jornalistainesquecivel/, acessado em 04/05/2014.


Em maio de 1976 casou com a maranhense, de Anajatuba, Maria Elenir, com quem teve cinco filhos. Como desejava que os filhos nascessem em São Luis, retornou às origens, depois de uma bem-sucedida trajetória na imprensa carioca, época em que por ela passaram os maiores ícones do jornalismo brasileiro. Na volta às plagas maranhenses, em 1977, como o correspondente do Jornal do Brasil em São Luis, o conheci pessoalmente. À época, eu escrevia a coluna política Roda Viva, em O Imparcial. Procurou-me para saber sobre uma crise política deflagrada no governo de João Castelo. Depois dessa conversa, os nossos encontros passaram a ser rotineiros e a amizade entre nós consolidouse de modo firme e irreversível. Ao aposentar-se do Jornal do Brasil, mostrava-se disposto a abandonar definitivamente a imprensa. Aos poucos, consegui demovê-lo desse propósito e voltou a escrever crônicas no Caderno PH e, a convite de Antônio Carlos Lima, no “Hoje é Dia de”, em o Estado do Maranhão. Com a morte do médico e membro da Academia Maranhense de Letras, Salomão Fiquene, com o aval de Jomar Moraes, eu, PH e Antônio Carlos Lima fizemos um movimento para levá-lo à Casa de Antônio Lobo. Quebramos a sua resistência e a 24 de janeiro de 1986 ele tomou posse. Seu ingresso na vida acadêmica resultou na preparação de dois livros de crônicas – Inês é morta e Corpo de moça, publicados pelo Sioge. Por nunca haver exercido atividade na vida pública, recebeu convite de Joaquim Itapary para dirigir o Museu de Artes Gráficas da Secretaria da Cultura. No governo de João Alberto, eu, no exercício do cargo de Secretário da Cultura, o indiquei para integrar o Conselho de Cultura do Estado do Maranhão. Mas o coroamento da vida profissional de Masson deu-se quando José Sarney, na Presidência da República, o nomeou chefe da sucursal da Empresa Brasileira de Notícias. Com a extinção da EBN, seus problemas de saúde, sobretudo o diabetes, começaram a perturbálo, fazendo-o afastar-se de tudo e de todos. A perda parcial da visão e uma fratura do fêmur o impediram de movimentar-se e de ler e escrever. Para tentar recuperar a sua saúde, eu e Jomar conseguimos, pela ação de José Sarney, interná-lo no Hospital Sara, mas como tinha fobia a hospital, abandonou o tratamento e dali fugiu. Na noite de um sábado, 7 de março de 1998, o filho Elenato telefona-me para avisar que o pai fora internado no Socorrão. No dia seguinte, enquanto eu e Jomar tentávamos transferi-lo para o Hospital Universitário, somos informados de que ele não resistira à gravidade de uma implacável insuficiência respiratória. Naquele domingo, aos 74 anos, Nonnato Masson cumpria o que havia solenemente proclamado no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras: “Vim para São Luis para morar, viver e até morrer”. O PÃO ROUBADO224 (Jornal Pequeno, 11/08/1957) Toma-se o pulso do mundo e sente-se, apesar de não sermos médico, que ele está a precisar de coramina, tal qual o governador do Estado receitou ao Maranhão, após fazer-lhe um diagnóstico de aniversário de um aninho de mando. Agente que trabalha em jornal quase não percebe, de chofre, que Washington Luís morreu no sanatório, depois de ter sido presidente da República, depois de ter sido exilado, depois de ter tido a rara vergonha do nosso século de não se meter mais em política, refugiando-se em si mesmo e renunciando, em testamento, toda e qualquer honraria que lhe devesse o Estado. Estado, aliás, que, quando vivo era o “de cujos”, nada mais fez do que humilhá-lo e espezinhá-lo. Quase não se nota que Oliver Hardy, aquele fabuloso cômico (“o Gordo”), que vivia em constantes encrencas com Stan Laurel (“o Magro”), dos filmes mudos que nos alegraram a infância, faleceu vítima de paralisia. Assim como chega à redação do jornal, nos pontos e traços nervosos da 224 JORNALISTAS MARANHENSES NONNATO MASSON. Disponível http://sobrinhoeducacaotecnologia.blogspot.com.br/2012/04/jornalistas-maranhenses-nonnato-masson.html

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telegrafia sem fio, desaparece dos nossos pensamentos a notícia de que foi assassinado o presidente da Guatemala e o seu matador suicidou-se após o magnicídio. Quase não se tem tempo para sentir a morte desse poeta brejeiro que foi Bastos Tigre e que nos acostumamos a ler as suas trovas no Almanaque de Bristol. Sabe-se que Zé Lins do Rêgo, de tantos romances que nos plasmaram a formação literária, está entre a vida e a morte, o pensamento não demora (é justo confessar) no seu drama agônico. Tem-se a certeza de que a gripe asiática paira, ameaçadora, sobre a cabeça do mundo, como se fora uma nova espada de Dámocles, e o fato não nos faz sair da rotina. Acontece, porém, que a gente sabe que uma menina de 11 anos tenta o suicídio e o episódio nos assalta o sentimento e nos surpreende em todos os sentidos. Amenina se chama Sônia. Sônia é nome de fada, está nos contos da caronchinha e com essa criança, que dorme em cada um de nós, configura-se o nosso desejo de saber de maiores detalhes acerca do caso de Sônia, pois Sônia poderia ser a nossa irmã caçula, os quindins da mamãe, a alegria da casa, de perninhas grossas, vestidinho curto, fazendo beicinho de malcriação, tão cheia de encanto e malcriação, e despertava depois os risos escondidos dos mais velhos. Procurando saber, descobrimos que Sônia (Soninha), tendo a mãe viúva e irmãzinha passando fome, num subúrbio do Rio de Janeiro (na faixa da capital da República dos Estados Unidos do Brasil), entrou em uma venda e pediu um pão fiado. O pão com a graça de Deus mataria a fome de sua mãe e de sua irmãzinha. Não sendo atendida, Sônia, réplica menina de Jean VaIjean, que Vitor Hugo fixou nas páginas de Os Miseráveis, roubou o pão. Foi descoberta e a sua situação tornou-se mais terrível do que a do menino Humberto de Campos quando roubou um brinquedo. No Brasil, um pão roubado é coisa mais séria do que um brinquedo roubado. E a dona da venda prendeu Sônia. Envergonhada (e foi isso que nos comoveu, pois Sônia com 11 anos teve vergonha e muita gente barbada não tem nestes brasis imensos), como íamos dizendo, envergonhada Sônia (Soninha) atirou-se da janela do cômodo. Atirou-se à rua, no gesto desesperado, para morrer, para evitar o escândalo, pois ela teve vergonha de ser presa, como ladra, pela Rádio Patrulha, que a vendeira já havia chamado pelo telefone, Depois de tudo isso, depois desse tremendo drama, o “fantasma voador”, que gere o nosso destino republicano, com uma bateria de fotógrafos, apresenta-se no seu terno mais impecável, com a barriga cheia, os bolsos transbordando, em casa da pobre viúva e da menininha, cuja miséria impulsionara Soninha ao duplo gesto do crime e da morte voluntária, com a promessa de ajudar aquelas criaturas a ter uma vida menos desgraçada. Étarde! Tarde demais, presidente. Devera Vossa Excelência ter compreendido antes que muito mais importante do que Brasília é o destino dessa multidão de Sônias que existem do Oiapoque ao Chuí, se nos permitem o lugar comum. Depois do caldo derramado, nada mais adianta. E a vida de Sônia, símbolo da desamparada infância brasileira, está marcada por estigmas indeléveis que toda vossa ajuda não conseguirá remediar. E é pena. sabe?


PEDRO BRAGA FILHO225 16 de abril de 1918 Meireles, Ferreira e Vieira Filho (1958; 2008) trazem que Pedro Braga Filho nasceu em São Luis a 18 de abril de 1918. Formou-se em Medicina e tem exercido cargos de destaque na administração local. Foi Diretor da Colonia Nina Rodrigues, do Serviço de Assistencia aos Menores, Conselheiro dfo IPEM, e diretor de divisão da LBA. Atualmente (1958) representa o Maranhão na camara dos Deputados. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 39, patrocinada pelo Conselheiro Gomes de Castro. Porém Barros (2005?) 226 traz em sua obra que Pedro Braga Filho teria nascido em Barra do Corda/MA, em 1918. Médico diplomado em 1945. Exerceu a profissão em diversos órgãos municipais, estaduais e federais. Deputado federal pelo Maranhão. Jornalista, diretor dos jornais O Norte, de Barra do Corda, e Diário da Manhã, de São Luís (FARIA, 2005, p. 599)227. Empossado na AML em 1948. Bibliografia – Discurso de recepção do acadêmico Arnaldo Ferreira in Dias carneiro e Sousa brito (1954); Discurso de recepção do acadêmico Paulo de Freitas (s.d.); Morfologia do homem maranhense (Inédito). NOVOS RUMOS À NOSSA EDUCAÇÃO Ninguém melhor que o moço, aluno de uma Escola Superior, pode dizer das condições em que se encontram os que sonharam um dia com a vitória pela Inteligência!!! A velha Escolástica, embora prestes a exalar o ultimo suspiro, ainda se debate no cérebro cansado dos velhos. O dogma ainda se impõe ao espírito que parou, extasiado, assistindo à vertiginosa marcha da humanidade. O espírito do sistema persegue, nos nossos dias, aos que, tímidos e imbeles, não se afastaram da costa dos arcaicos ensinamentos, temendo os vagalhões que há lá por fora, em pleno oceano do Pensamento. Os métodos arcaicos que, na hora que passa, têm apenas valor histórico, ainda são seguidos pelos conservadores, pelos rotineiros, que permanecem alheios à evolução, querendo fazer ciência sem ciência. Só isso era suficiente para fazer desanimar ao mais vontadoso estudante de qualquer dos nossos cursos superiores, se avalanchas outras de preocupações não lhe viessem martirizar diáriamente! O universitário brasileiro anda sempre às voltas com vários e complexos problemas. E, o primeiro e o principal dles é o problema econômico, pois ao lado do preço exorbitante dos livros e da subsistência, vem o preço da Escola, que esgota todas as verbas que, com esforço inaudito, lhe foram reservadas no orçamento do estudante medianamente abastado. A instrução jamais deve ser privilegio do rico. Deve ela estar ao alcance de todos pois só assim poderemos contar com aquela aristocracia de valores de que nos fala Nordau! 225 http://www.academiamaranhense.org.br/blog/centenario-de-pedro-braga-filho/ MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 251-252 226 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014 227 FARIA, Regina Helena Martins de; BUZAR, Benedito Bogéa. Apêndice C: Índice de verbetes de pessoas citadas nas entrevistas. In.: FARIA, Regina Helena M. de; MONTENEGRO, Antonio Torres (Orgs.). Memória de professores: histórias da UFMA e outras histórias. São Luís: UFMA; Dep. de História; Brasília: CNPq, p. 559-611, 2005.


Necessitamos não de declamadores fantasistas que pelas colunas dos jornais lançam projetos monstros! Não precisamos de demagogos, sempre dispostos a batalhar pela instrução técnica, enquanto as coisas lhe andarem bem pelo estomago. Não construirão coisa alguma os que se batem pela educação profissional, nacional e pratica, sem que antes trabalhem, de maneira eficiente, para tornar estável a vida do Estudante! Gratuita será a instrução e o Estudante logo saberá escolher, com segurança, a estrada a seguir, consoante vocação!


RAIMUNDO CLARINDO SANTIAGO228

12 de agosto de 1893 # novembro de 1941 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis do Maranhão em 12 de agosto de 1893, e faleceu ainda novo, de morte trágica, em novembro de 1941, nas águas to Tocantins. Foi membro efetivo do IHGM, onde fundou a cadeira 4, tendo como Patrono Simão Estácio da Silveira; na AML ocupou a cadeira 13, patroneada pelo jornalista José Candido de Moraes e Silva, proprietário e redator principal do “Farol Maranhense”, o primeiro jornal liberal de nosso Estado. Graduou-se em Medicina, exercendo a profissão com sucesso, optando também pelo Magistério, literatura, jornalismo e poesia. Tinha forte inclinação de ensaísta, sentindo prazer em elevar o nome daqueles de sua terra que se destacavam culturalmente. O nome que mais lhe despertava interesse era Sousandrade, autor d´ O Guesa Errante; fez um estudo sobre ele que despertou interesse de modo geral e foi pioneiro dentro do que se chamou ‘mundo sousandradino’. Escreveu O Solitário da Vitória. Ensaio critico. In Revista da ABL, Rio de janeiro, 1932; e Comemorações do 1º Centenario do nascimento do poeta Sousa Andrade. Grafica Renascença, Paraíba, 1937; O poeta nacional. A escola mineira e suas fases; Rumo ao sertão; João Lisboa; Neto Guterres – o medico dos pobres. No Magisterio, além de professor, foi diretor do tradicional Liceu Marenhense e da Instrução Publica. Bibliografia – O poeta nacional (1926); A escola mineira. Suas fases (1926); Rumo ao sertão (1929); João Lisboa (1929); Sousa Andrade, o Solitário da Vitória (1932);omemoração ao 1º centenário do poeta Sousa Andrade (1937); Neto Guterres – o medico dos pobres (1937). TU229 Não encontrei, aqui, a minha companheira. Onde soltas, agora, o teu trinado, ó Ave? Quero ouvir-te cantar nessa expressão suave Que me faz prouvir a melodia inteira... Não te perdi, meu bem... que a estrada verdadeira Fazemos dois a dois... em que celeste nave 228 OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu 229 DINO, Salvio. CLARINDO SANTIAGO “o poeta maranhense desaparecido no Rio Tocantins”. (s.l.): Verano, (s.d.), p. 38-41


Sôa agora essa voz que me foi sempre e chave De toda a lus e paz na vida passageira? Ficaste para traz ou já passaste adiante? Só agora compreendi a inquietação de Dante. Ansia humana a buscar o ser que nos condiz... Outro Eu, que nos completa a divina Harmonia, A Alma Irmã que se busca e que se encontra um dia E que é Laura, é Marília, é Nercia, é Beatriz!... DUAS IRMÃS Também peito de moça há muoto é dado o nome A dois morros irmãos unidos na base, Duas pomas iguais que o tempo não consome, Dois seios vistos como através de uma gaze. Em baixo o mar feroz, sem que outro institnto dome Investe como um fauno. Antes o sol abrase Do que não tentar saciar aquela fome Ou sede que o devora, antes um raio o arrase. Velho lobo do mar, guiador de veleiros, Ao passra por ali, dizia aos marinheiros: -“Aqui neste lugar se cumprem dois destinos; Em luta secular, sol a sol, mar e vento Porfiam em beijar, de momento a momento, as curvas sensuais dos dois seios divinos”...


RAUL ASTOLFO MARQUES230

11 de Abril de 1876 / 20 de maio de 1918 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luís-MA no dia 11 de Abril de 1876 e faleceu na mesma cidade, aos 20 de maio de 1918. Contista, folhetinista, ensaísta, jornalista e tradutor, iniciou sua vida profissional como contínuo da Biblioteca Pública do Maranhão. Autodidata, fundou, juntamente com Antônio Lobo, a Oficina dos Novos, cujo patrono e inspirador fora Gonçalves Dias e que acabaria por fornecer, em seguida, muitos membros à Academia Maranhense de Letras. Entre eles, figurou Astolfo Marques, instituindo a cadeira de nº 10 e ocupando o cargo de secretário geral. Esteve à frente da Secretaria da Instrução Pública e do Liceu Maranhense, além de ter trabalhado como redator do Diário Oficial e Diretor da Imprensa Oficial. Colaborou, ainda, através de contos e artigos, com outros periódicos, tais como Pacotilha, A Imprensa, O Jornal, A Avenida, Os novos (boletim oficial da Academia dos Novos), e Diário do Maranhão, além das revistas Ateneida (fundada em conjunto com Domingos Barbosa e Antônio Lobo) e Revista do Norte. Fruto da geração de ex-escravos nascida sobre a égide da Lei do Ventre Livre (1871) e as transformações que levaram ao fim do trabalho servil e a capitulação da monarquia, o escritor logrou grande expressão pública no Maranhão da República Velha e conta entre os fundadores da Academia Maranhense de Letras. Na primeira parte desta dissertação intitulada Um Ilustre Desconhecido, tentamos compor a trajetória intelectual do escritor a partir de uma sociologia crítica das fontes na qual o autor é representado. Na segunda, As Cores da Aurora: história e contra-história da república, focaliza-se exclusivamente o romance A Nova Aurora no qual o autor expõe literariamente os significados da transformação política de novembro de 1889 para o povo brasileiro.231 A produção intelectual conhecida do autor envolve estudos bibliográficos, traduções, contos, crônicas, estudos folclóricos, um romance, afora sua extensa colaboração para os principais jornais e revistas de São Luís como O Diário do Maranhão, A Pacotilha, Diário Oficial, O Jornal, Boletim dos Novos, A Revista do Norte e Revista da Associação Comercial. O escritor também consta entre os fundadores das mais importantes agremiações literárias de seu tempo como aOficina dos Novos(1900) e a Academia Maranhense de Letras (1908). Seus principais trabalhos publicados são: a tradução do francês para o português do romance Por amor,de Paul Bertnay (1901); a coletânea de contos intitulada A vida maranhense (1905); o relato de viagem De S. Luiz 230 http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/118/dados1.pdf http://www.afroasia.ufba.br/pdf/AA_48_MGJesus.pdf JESUS, Matheus Gato de.Tempo e melancolia: república, modernidade e cidadania negra nos contos de Astolfo Marques (1876-1918), IN Lua Nova no.85 São Paulo 2012 http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64452012000100005, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010264452012000100005&script=sci_arttext 231 JESUS, Matheus Gato de. Negro, porém republicano: investigações sobre a trajetória intelectual de Raul Astolfo Marques (1876-1918) http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-25022011-123156/pt-br.php


a Therezina (1906); a peça teatral O Maranhão por dentro (1907); a coletânea de contos Natal (1908); a biografia O Dr. Luiz Domingues (1910); o romance A nova aurora (1913).232 A FESTA DE S. BENEDICTO233 (Capitulo dum livro em preparação – AS FESTAS POPULARES MARANHENSES). O culto É simples e tocante a historia de S. Benedicto, o milagrozo santo que dá orijem a uma das mais populares e pompozas festas do Maranhão. Ha na dioceze da cidade italiana de Messana uma aldeia denominada S. Filadelfo e posteriormente apelidada San Fratello. Foi nella que teve o bêrço S. Benedicto, o Santo prêto, assim chamado por cauza de sua côr parecida com a dos etiópios. Os seus pais professavam a relijião católica, embora fosse [sic] oriundos de familias mouras e, portanto, impias. Desde tenra idade Benedicto mostrava o mais fervoroso culto pelas coizas santas e, chegando á idade preciza para poder entrar a viver em comunidade, vendeu todos os seus haveres, distribuiu o produto pelos necessitados e foi rezidir com uns varões que, competentemente autorizados, viviam reunidos, sob a regra de S. Francisco de Assiz. Aí levou uma vida de santidade e fervor, até aos quarenta anos. O papa Pio IV reuniu os solitarios, aos quais Benedicto acompanhava, a uma das ordens anteriormente aprovadas. Em Palermo, a capital da Sicilia, domiciliou se Benedicto, que entrou para o convento de Santa Maria de Jesus e nelle, como na solidão, foi venerado por todos os relijiozos, pela sua doçura e inimitavel santidade. E o influxo de sua virtude era tal que, sendo ainda leigo, foi elle eleito prelado do mesmo convento. O santo varão siciliano, com os seus saudaveis exemplos, plantou a reforma, que então começava a insinuar se, encaminhado-a para a completa perfeição. Benedicto morreu a 4 de abril de 1589, na idade de setenta e trez anos, deixando os mais irrefragaveis exemplos de merecimentos e virtudes. O seu corpo "permanece ainda completo em Palermo e exala delicado cheiro". Estende se muitissimo o culto de S. Benedicto com a aprovação da Santa Sé, outorgada em 1774, fixando se, a sua festa em 3 de abril. O gloriozo santo foi canonizado no ano de 1807234. A devoção no Maranhão Remonta a mais de século a devoção de S. Benedicto, no Maranhão, precedendo de muitos anos a data da sua canonização o que nada tem de estranhavel, pois, como acima ficou dito, a veneração pelo popular santo vem dos tempos em que elle praticava toda a sorte de virtudes e distribuia milagres ás mancheias, na capital siciliana. A lei provincial n. 405 – de 27 de agosto de 1856, aprovou o compromisso por que ainda se reje a irmandade do gloriozo S. Benedicto, eréta na igreja do antigo convento dos relijiozos de Santo Antonio, em S. Luíz. Havendo sido decretada pela Assembléa Provincial e sancionada, nos termos do art. 19 da carta de lei [de] 12 de agosto de 1834, não foi publicada no tempo legal a lei, pelo que o Barão de Coroatá a promulgou, na qualidade de prezidente daquella camara dos representantes. 232 JESUS, Matheus Gato de. Astolfo Marques e as festas populares maranhenses. In AfroÁsia no.48 Salvador, 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0002-05912013000200010, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0002-05912013000200010&script=sci_arttext 233 Diário do Maranhão, 02/04/1910, p. 2. 234 N. do A.: Esta narrativa foi escrita resumidamente, para ser publicada no 1.º centenário da canonização de S. Benedicto (3 de abril de 1907). Tendo, porém, rezolvido completa-la para formar parte integrante do livro acima citado, conservamo-la inédita. A. M.


Esse compromisso fôra aprovado pelo bispo D. Manuel. É este o respetivo termo de Provizão: "D. Manuel Joaquim da Silveira, por mercê de Deus, e da Santa Sé Apostolica, Bispo do Maranhão, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, comendador da Ordem de Christo, etc. etc, etc. – Aos que a prezente Nossa Provizão virem saúde e bençam – Fazemos saber que sendo – Nos aprezentado, em conformidade da lei de 27 de setembro de 1828, o prezente compromisso da irmandade de S. Benedicto desta cidade, e constando-nos que não se continha nos onze capitulos, oitenta e nove artigos e oitenta e um paragrafos, de que elle se compõe, couza alguma contra os bons costumes, doutrina da Santa Igreja, sua sagrada disciplina, e direito episcopais e paroquiais; havemos por bem de aprova lo, como pela prezente nossa Provizão o aprovamos, na parte que nos pertence, afim de só poder executar e praticar publicamente na egreja do convento dos relijiozos de Santo Antonio desta cidade, para honra e gloria de Deus Nosso Senhor, que tão louvavelmente se propõem e se devem propor com todo o zêlo os irmãos da referida irmandade. Dada nesta cidade de São Luiz do Maranhão, sob nosso sinal, chancelaria, e sêlo de nossas armas, aos 7 de julho de 1854. E eu, o conego arcipreste Candido Pereira de Lemos, secretario do bispado e da camara episcopal que a subscrevi (Assinado) † Manuel, Bispo da [sic] Maranhão". A irmandade instituida para o serviço e culto do gloriozo S. Benedicto tem como confrades pessoas de ambos os sexos, de qualquer condição que, sendo de costumes relijiozos e honestos, queiram, por sua devoção, concorrer com os seus bons serviços para maior esplendor do culto do seu patrono, e possúe prezentemente não pequeno patrimonio, honestamente zelado. A joia de admissão é de um mil rèis, e a anuidade, primitivamente de duzentos reis, está hoje fixada em quinhentos. Tem a irmandade a seu encargo festejar o santo, com toda a pompa e explendor, no Domingo da Pascoèla, precedendo se de triduo o dia da festa. Os festejos são internos e externos e a elles acorre toda a população. A missa da festa tem a mais estupenda assistencia e a igreja de Santo Antonio, eréta na sua elegancia gotica, apezar de ser uma das maiores da capital maranhense é pequena para contê-la. Mas o que constitue a nota primaria dos festejos é, sem dúvida, a procissão, para a qual desde o alvorecer começa a movimentação. Nesse dia, a cidade amanhece toda alvorotada. S. Luiz canta na voz, nas epopéas dos sinos de Santo Antonio, feridos num resoamento santo e evocador. No campanario, o longo e alegre bimbalhar da sinarada sôa incessantemente, enquanto o foguetório estalida com fragor. As carruajens rodam celeres pela cidade e os bondes tranzitam apinhados. Os melhores trajes sáem dos guarda-roupas e são cerimoniozamente envergados pela burguezia. Tudo nesse dia se move, se alinda e rejuvenece. Aproximando-se as horas da saída da procissão, sempre ás cinco da tarde, começa a aglomerar se, no templo e no largo, a multidão, avolumando-se á proporção que o cortêjo se vai organizando. É uma rumoroza turba – homens e mulheres, velhos e crianças, familias inteiras com petizes e criados, tudo a formar um quadro pinturesco. Vestes de todas as côres, claras e escuras, a cintilação do oiro dos agalobados, as velas enfeitadas a fumegar numa crepitação incessante, o reluzir dos enfeites, formando, no conjunto um aspéto feérico. Os irmãos sucedendo se, com as suas opas pardas, o alarido que parte daquelle dezordenamento, pela aglomeração, é, numa toada sagrada e imponente, sublime e primitiva, o sentir do coração popular. Empurrões, acotovelamentos, pizadas, todo esse clangor se caza em glorioza harmonia. Astolfo Marques. (A seguir).


A FESTA DE S. BENEDICTO235 (Capitulo dum livro em preparação - AS FESTAS POPULARES MARANHENSES). (Continuação) A procissão segue. De todos os cantos de ruas e praças surje gente em numero elevado, incorporando se a ella, de modo que, dado o giro respetivo, ao recolher se, já ao cair da tarde, a compata massa popular que constitue a imponente procissão não é inferior a uma dezena de milhar de pessoas. E, ao recolher-se o cortejo, o largo ilumina-se fartamente. A decoração com que o revestem resalta galharda e é atravéz essa ornamentação cheia de esmero que a população se distende até o momento da queima dos fogos, o elemento mais predominante nas festas de arraial, no Maranhão. No dia seguinte ao da procissão, "segunda-feira de S. Benedicto", ainda ha festa. Esse dia dos frios ou lava-pratos, é ainda relijiozamente guardado como o anterior. Os operarios fazem suéto e, em traje domingueiro, passeiam e embrenham-se nos folguedos pela cidade. É também um dia muito escolhido pelas familias para vizitas, fazendo as quaze sempre ao regressar da missa que se celebra no andor do santo, ás 7 horas, com uma assistencia espantoza. As promessas Dificilimo torna-se de calcular o numero de promessas que os fieis pagam, na prosissão. Uns fazem-se acompanhar de crianças, vestidas de anjos, em numero que excede de um milhar, sem exajero; outros conduzem á cabeça, durante o giro do cortejo, pedras, pedaços de madeira, potes ou canecos com agua ou quaes quer outros objétos de variados tamanho.[sic] Ha tambem prometentes que comparecem caprichozamente trajados, porém descalços. São sem conta os que se incorporam á procissão, levando velas de cêra, enfeitadas ou não, as quais, acezas, confundem-se com os cirios conduzidos pelos irmãos. Existe um costume de promessa algo curiozo, muito arraigado entre a população. É crença geral de que as mulheres, tendo consecutivamente filhos nati-mortos, os nascidos ulteriormente vingarão, se se lhes puzer o nome de Benedicto ou Benedicta, conforme o sexo, dando os pais, na primeira procissão apoz o nascimento da criança, um anjo para acompanha la. Esse voto só é concluido, em definitivo, quando a criança se encontra em idade de de [sic] comparecer ella propria trajada de anjo. O mercador, o carroceiro, o carregador ambulante, os caboclos, que habitam no interior da Ilha, o barqueiro, o pescador, podem não possuir um real para quasquer gastos, mas é muito duvidozo que não o obtenham, apoz o mais insano e esfalfante trabalho, para entonar-se e adquirir uma vela de cêra, de uma libra que seja, e ir depozita-la aos pés do Santo varão, no seu altar ou, ainda, vestir de anjo (cativo ou fôrro) uma criança e leva-la a tomar parte entre a multidão que acorre a formar a suntuoza procissão. E, assim, todos pagam a sua promessa, todos cumprem o seu voto. As alforrias Foi a festividade de S. Benedicto um dos primeiros campos em que teve ação, na provincia, o movimento abolicionista. A irmandade, composta primitivamente, na sua maioria, de gente de côr e escravizada, instituiu, no ano de 1867, por feliz lembrança e bela iniciativa do poeta maranhense dr. ANTONIO MARQUES RODRIGUES, as "alforrias de S. Benedicto", as quais consistiam na libertação de crianças do sexo feminino, todos os anos, no dia da festa. Aquelle pranteado abolicionista e fervorozo cantor do escravo, aceitando o juizado da festa, no citado ano fê-lo com a condição de tornar a sua meritoria idéa uma bandeira, pela qual a

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irmandade se batesse ardorozamente, o que foi cumprido com rara pertinacia, sem o menor dezanimo. E nos anos subsequente [sic] o beneficio repetia-se, cada vez mais aproveitando a [sic] maior numero de crianças. Era aproximar-se a época da festividade, e lá o condoreiro saía com os irmãos do popular e milagrozo Santo, para angariar os meios de promover a libertação dos pequeninos, deparando-se-lhe nessa bendita romaria não diminuta soma pecuniaria, com que se alforriavam dezenas de crianças. Adoecendo gravemente, MARQUES RODRIGUES teve de partir para a Europa; deixou, porém, o seu sogro e tio Joaquim Marques Rodrigues encarregado de proseguir na sua filantropica e arrojada tarefa. E isso se cumpriu atè 1871, quando se promulgou a Lei Rio Branco ou do Ventre Livre. Na festa do ano seguinte, [a] irmandade numa homenajem sincera e enobrecedora, inaugurou pompozamente no seu consistorio, o retrato a oleo de diréto instituidor dos "alferrias [sic] de S. Benedicto", retrato que ali tem sido relijiozamente conservado. Os milagres Inumeros são os milagres atribuidos ao gloriozo Santo, no Maranhão, correndo de bôca em bôca com esse amor sincero e transbordante ao tradicionalismo, que se entranha indestrutivelmente na alma popular, num culto cujo fervor não decresce, ao contrario aumenta de ano para ano. Dentre esses milagres, o que mais se avulta traspassando de geração em geração, é o que deu orijem á interessante historia da Capa nova, sem dúvida um dos élos que mais fortemente prendem essa corrente una de devoção e amor acrizolado com que a população maranhense se apega a S. Benedicto, historia que é amiudamente contada nos serões, maximé entre a população inferior de certo a possuidora de maior crença e em cujo seio mais ardentes e vivos se aninham os sentimentos de Fé. Astôlfo Marques. A FESTA DE S. BENEDICTO236 (Capitulo dum livro em preparação - AS FESTAS POPULARES MARANHENSES). (Concluzão) Um capitão-general, governador do Maranhão, fôra assistir, da janela duma caza no antigo largo do Carmo, a passajem da Procissão de Cinzas, com a qual se iniciavam, na capital maranhense, as ceremonias quaresmais. Nesse cortejo, que saía da mesma igreja conventual de Santo Antonio, na Quarta-feira de Cinzas, e era composto de uma dezena de santos, figurava em primeiro escalão o andor com a imajem de S. Benedicto. Estranhou o general que o santo varão de Palermo, sendo de côr prêta, precedêsse na ordem procissional os demais santos, que eram brancos, e determinou o colocassem em ultimo logar, resolução que se cumpriu incontinenti, proseguindo a procissão no seu giro. Ao regressar ao palacio do governo, o general foi acometido de fortissima febre e, no dia seguinte, surgiu-lhe um antraz. Os facultativos, que acudiram ás pressas, responderam que a vida do governador corria sério perigo. A noticia propalou se celeremente. Esperava-se a todo o momento o dezenlade fatal. O povo, atemorizado, via na repentina enfermidade do chefe do governo um castigo do céu, uma reprenmida ao seu procedimento, á sua descrença das coizas santas, alterando, sem razão plauzivel, o que já era consagrado pelo sentimento relijiozo.

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E a grita estendeu-se por toda a cidade, a incriminação crescendo de instante a instante. A esse tempo, o ajudante d'ordens do capitão-general, dando-lhe conta do dezagrado em que elle incorrêra entre o povo, induziu-o a pedir perdão ao santo ultrajado. O enfermo, querendo dezenvencilhar-se dos tormentos que, pela sua gravidade, o impeliam já para as portas da morte e receiando, tambem, um levante da população catolica, não só pediu de boa vontade o perdão como fez mais ainda: Prometeu, que, se se restabelecesse, faria vir da Europa uma capa riquissima, afim de que S. Benedicto se revestisse para com ella saír na proxima procissão, a qual seria feita ás suas expensas. O milagre não se fez esperar. A saúde tornou ao organismo do governador, na sua plenitude e, tempos depois, da Europa chegava a riquissima capa. Mas nem elle nem os seus parentes lograram ver o santo saír com a capa que, conforme a promessa, lhe fôra ofertada; pois, todas as vezes que o revestiam com a capa-nova, a chuva se desprendia grossa e torrencial, e a procissão não se realizava. Então, a irmandade rezolveu arquivar o prezente, tacitamente recuzado pelo seu patrono. Mas a crença de que a condenada capa faz chover perdura ainda. Basta ameaçar chuva no dia da procissão para que, entre o povo se murmure logo, com certa convicção: "S. Benedicto está com a capa nova"! A criança que ouve essa narrativa, tão freqüente nos serões, é também informada de outros milagres que, numa corrente interminavel são feitos pela crendice popular. Sabe o quanto era prodijioza a distribuição de milagres que consecutivamente o santo ciciliano operava em Palermo, principalmente no exercicio de suas funções culinárias. Entré elles, conta-se com especial destaque, que Benedicto, enviando clandestinamente, aos pobres, viveres do mosteiro, foi surpreendido pelo superior que, indagando do conteúdo do volume, o leigo respondeu-lhe: São flôres, senhor ! E a comida surjiu transformada efetivamente em finissimas e odoriferas flores. A santidade de que se revestiu a existencia do milagrozo santo e cujo èco se distendeu por todo o orbe terrestre, repercutiu portanto, vivamente no Maranhão. A ramificação cultural Sem pretendermos afirmar que a mór parte dos fieis católicos tenha como real o epizodio que motivou a promessa do capitão general e o seu cumprimento, á risca, o que se não póde negar absolutamente é que, de ano para ano se comprova, cada vez mais crescente, o mais penetrante e fervorozo devotamento por S. Benedicto. E esse ardente culto se não restrinje á capital. Não é sómente nella que é lindo e consolador contemplar, no dia da festividade, a cidade engalamada e toda alacre, extasiando se a gente em vê la, por entre aquelle gozo do prezente, parecerem olvidadas as agruras e desprezados os cuidados do porvir, mostrando-se todos felizes e contentes, unificados na entonação desse hino dulcissimo ao santo siciliano, ao milagrozo, ao popular, ao incessantemente venerado. No interior maranhense é prodijioza a ramificação do culto, no seu entuziasmo vibrante e comunicativo. Em Caxias, a cidade mais importante do Maranhão, depois da capital, a festa beneditina é a mais imponente e popular que ali se efetua, a ella afluindo devotos dos sitios circunvizinhos e até do proximo Estado do Piauhy. Nas cidades de Alcantara, Vianna e Tury-assú, nas vilas do Rosario e das Pedreiras, e em outras muitas localidades do interior do Maranhão, o sentimento relijiozo pelo santo, popular, amparado pelas gerações que se sucedem, aumenta carinhozo e sincero, sempre firme e inabalavel.


Por todos esses recantos da terra maranhense encontra-se, sob a invocação beneditina uma capela, com a silhouette de sua esguia torre a apontar para o céu o simbolo da devoção dos habitantes locais pelo milagrozo Santo. A festa de S. Benedicto permanece, pois cada vez mais ruidoza e cheia de ponpa, a resaltar aos olhos dos crentes e descrentes o poder vigorozo imensuravel e indestrutivel antes das coizas tradicionais do que dum povo fanatizado. Astôlfo Marques. 4-4-1910.


RAUL DE AZEVEDO237

3 de fevereiro de 1875 / 27 de abril de 1957 Nasceu a 3 de fevereiro de 1875, na cidade de S. Luiz do Maranhão, falecendo a 27 de abril de 1957, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista. Foram seus pais Belmiro Paes de Azevedo e Francisca Rosa de Brito. Fez seus estudos na cidade natal, não chegando, porém, a realizar nenhum curso de ensino superior. Sua aguda inteligência e contÍnua leitura, baseada em ótima inclinação filosófica, lhe deram uma cultura bem larga e profunda, nos objetivos de sua vida burocrática e literária. Viu, no Amazonas, a estrela polar do seu destino de homem de Sociedade. Para lá se dirigiu, na qualidade de jornalista, procurando um lugar ao sol. Foi festivamente recebido e, logo, é convidado pelo governo do Capitão Fileto Pires Ferreira para exercer a alta função de Secretário Geral do Estado, cargo esse que lhe permitiu ficar em contacto com o mundo oficial e com a elite da população. Foi o seu ponto de partida numa estrada que teria de per lustrar por mais de 65 anos, ora transitando por cima de flores, ora de espinhos. Uma das características da compleição moral de Raul de Aze vedo, foi a lealdade posta a prova de fogo nos entrechoques do partidarismo, quando os cameleões da política aproveitam a oportunidade para mudar de cor, procurando saber para onde se inclina o fiel da balança. Convém realçar esse procedimento das almas nobres, hoje raro, reportando-nos a um episódio de antanho com o qual se concretizou a renúncia de Fileto Pires Ferreira, alijando-o do governo para o qual fora eleito. Fileto que se achava fora do Estado, uma vez em Belém, sabedor do que se passava em Manaus freta um navio para imediatamente regressar. No meio da viagem é cientificado de que Manaus estava em pé de guerra e ali não desembarcaria. O cabo telegráfico sub-fluvial estava interrompido, no momento. Sabe-se naquela que o navio em que viajava S. Excia. partira para aportar em dia certo, pela manhã. Com receio da aventura, volta a Belém, enquanto que na outra capital, de nada se informa. Raul de Azevedo, Redator-Chefe do “Rio Negro”, órgão do seu Partido e do governo alijado, prepara um número especial para a recepção em “hora-certa”. Nesse número, havia um noticiário bombástico em que se avisava haver S. Excia. chegado e que girândolas de foguetes estrugiram nos ares, o povo se apinhava no litoral dando vivas a S. Excia. e que o Sr. Dr. F. proferiu um empolgante e comovido discurso de agradecimento, bem assim que o Coronel Ramalho Júnior ainda no Poder fugiu com seus amigos. O “Rio Negro” já havia sido distribuído pela madrugada e pela manhã do “dia certo”. Corre o dia todo e nada de S. Excia. Somente à noite é que realmente Manaus foi informada, pela chegada de outra embarcação, do que 237 Agnello Bittencourt. Dicionário amazonense de biografias. Rio de Janeiro, Ed. Conquista, 1973. pp.421-423). In Blog do Rogel Samuel, publicado em 16 de fevereiro de 2008, disponível em http://literaturarogelsamuel.blogspot.com.br/2008/02/raul-de-azevedo.html, http://www.portalentretextos.com.br/colunas/cronica-de-sempre/raul-de-azevedo,189,396.html


acontecera. A antecipação do noticiário do órgão oficioso foi um grande “tableau”; gargalhadas se davam na cidade. E Raul de Azevedo, vexadíssimo, teria de conjecturar uma explicação. E achoua, dizendo, no dia seguinte, em outro jornal, que tudo resultou de um erro dos revisores (como esses auxiliares da imprensa têm as costas largas...); que todos os verbos do noticiário estavam no futuro e que eles, por um descuido, passaram-no para o pretérito perfeito... Esse “dia certo” foi fatídico por ser o último para aquele jornal e para o Partido de Raul. Foi o “canto de cisne” de uma situação do “consumatum est”, da qual Campos Salles, então Presidente da República não quiz tomar conhecimento. Esta explicação de um fato escandaloso e deprimente para o Amazonas parece uma pertinência pueril, no meio de uma biografia. Passou para a História e da geração atual, pouca gente a conhece. Raul de Azevedo caíra de pé. Aparentemente derrotado, para quem o jornalismo não era apenas um ofício, mas um sacerdócio, não ficou desempregado pois sua lealdade ao amigo, foi-lhe uma recomendação. Entrado na política e no apreço dos homens, fez-se Deputado à Assembléia Legislativa por várias vezes como em cargos de importância e de confiança dos altos Poderes do Estado. Serviu de Chefe de Gabinete de vários governadores, destacadamente de Silvério Nery e Antônio Bittencourt. Foi Cônsul do Chile por muitos anos e exerceu o desempenho de Comissões importantes do Estado e Federal. Fundou vários jornais. Concorreu para criar algumas associações culturais e científicas, entre outras a Academia Amazonense de Letras e o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Sua função permanente foi a de Diretor do Departamento dos Correios e Telégrafos no Amazonas, em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, servindo de Diretor Geral por algumas vezes. Não conheci melhor burocrata, sob o ponto de vista de dinamismo e probidade. Com ele, tudo andava na linha. Os seus Relatórios constituem atestados de quanto pode um homem na direção de um serviço imenso, complexo e de enorme pessoal. Raul de Azevedo aposentou-se nesse Departamento do Serviço Público Federal. Aproveitava suas férias em viagens pela Europa. Era um grande admirador de Paris, onde esteve creio que por três vezes. Como jornalista e publicista foi dos mais ativos. Sua bibliografia conta cerca de 30 obras, fora os folhetos e numerosos artigos de jornais. Vejamos, dentre outros livros, os seguintes: “Doutor Renato”, “Tríplice Aliança”, “Amores de Gente Nova”, “Onde está a felicidade?” “Roseiral”, “Aquela Mulher”, “Amigos e Amigas”, “Senhores e Senhoritas”, “Homens e Livros”, “Alma inquieta das mulheres”, “Aspectos e Sensações”, “Louras do Sul, Morenas do Norte”, “Meu livro de Saudades”. Os livros do escritor, com exceção de dois, pararam na primeira edição. A Raul de Azevedo não faltavam qualidades para realizar sempre e sempre um bom livro. Não seja por isso que devamos menosprezar um homem que teve, na sua psiquê, a mania absurda, em plena velhice, amor às jovens, ainda que em retrato desnudo, diante de sua banca de trabalho, para achar inspiração para novos romances. Raul de Azevedo foi casado, por duas vezes. No primeiro casamento com a Sta. Julieta Lessa, de cujo enlace nasceram o Dr. Herbert Lessa de Azevedo, assassinado tragicamente em Coari e a Sta. Marilda Lessa de Azevedo, alta funcionária do Ministério da Fazenda. E no segundo matrimônio com a Sta. Camélia Cruz, com quem teve duas filhas. Devo reafirmar que o Coronel Raul de Azevedo — assim o chamavam — honesto, culto, trabalhador, morreu pobre, jamais possuindo uma casa própria. Também não foi um perdulário. Amou as jovens, louras e morenas, como amou as flores, os perfumes, o teatro, a música. E partiu para o Oriente Eterno, com saudade desta vida, como se estivesse nos seus vinte anos. Bibliografia238 Artigos e crônicas. 1896; Ternuras. 1896 (contos); Na rua. 1902 (crôn.); A esmo. 1903 (crôn.); Doutor Renato. 1903 (rom.); Homens e livros. 1903 (crít.); Tríplice aliança. 1907 (rom.); Aspectos e sensações. 1909 (crôn.); Terra a terra. 1909 (crôn.); D’além mar. 1913 (viag.); Vida elegante. 1913 (contos); Amores de gente nova. 1916 (rom.); Confabulações. 1919 (ens.); Onde está a felicidade. 1919 (rom.); Amigos e amigos. 1920 (misc.); A alma inquieta das mulheres. 1924 (confer.); Senhoras e senhorinhas. 1924 (contos); Roseiral. 1932 (rom.); Hora de sol. 1933 (misc.); 238 ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA (A.COUTINHO & J.GALANTE DE SOUSA):


Aquela mulher 1934 (rom.); Bazar de livros. 1934 (crít.); Meu livro de saudades. 1938 (crôn.); Vida dos outros. 1938; Vida e morte de Stefan Zweig. 1942 (biogr.); Louras do sul, morenas do norte. 1947 (rom.); Terras e homens. 1948 (ens.); Brancos e pretos. 1955 (rom.); Elisabete. 1955 (contos e teatro); Dona Beija. 1957 (ens.). Fundou e dirigiu a rev. Aspectos, Rio de Janeiro. Colab. em periódicos de Manaus, AM, Fortaleza, CE, e Rio de Janeiro. REF.: Albuquerque, Medeiros e. Páginas de crítica. 1920. p. 169-76; Blake Dic., VII, 101; Coutinho Brasil, 1, 118; Ferreira, Carlos. Feituras e feições. 1905. p. 260-3; Inocêncio Dic. XVIII, 341; Lima Estudos, 1, 292; Meneses Dic. , 78; Ribeiro Crítica, III, 289-91; Souza Teatro, II, 93. ICON.: Confabulações. 1919 (do autor); Ilust. Bras., maio/jun. 1957. AZEVEDO, Raul de (São Luís MA, 3 fev. 1875 — Rio de Janeiro, RJ, 29 abr. 1957), romancista, contista, teatrólogo, crítico, ensaísta, conferencista, político, da Acad. Amaz. Letr., Acad. Maranh. Letr., Acad. Cear. Letr., Mina Literária (Belém, PA, 1895- 1899). Pseud.: Iberê, Raulim. BRANCOS E PRETOS Aquela mulher loura e alta, muita clara, a pele duma limpeza integral, apaixonara-se pelo homm forte, másculo, inteligente, culto – negro. Já o leitor ou a leitora, nste momento, sente uma vaga repulsa pelos dois... Haverá decerto raras exceções. Mas serão exceções. Ela – chamava-se Clara Maria dos Santos Guedes e ele Lauro Gomes da Silva. Clara era de família distinta, cheia de tradições. Quando os pais, irmãos e irmãs, noataram a preferência de Clara Maria, chamaram a sua atenção, recriminando-a. Não podia ser, não consentiriam. - Mas, respondia a moça, ele é um medico distinto, um cientista, cirurgião notável, bem educado, honesto, de maneiras distintas, rico. - Sim, mas é preto... Clara sentia-se revoltada com aquele preconceito racial. Ela pensava – o amor não tem cor; este não é preto nem branco, quando muito poderá ser azul, na imaginação dos poetas líricos. Lauro vestia-se muito bem, e discretamente. Era um encanto a sua conversa, pontilhada de graça e de anedotas leves, que faziam sorrir. Tinha trinta e oito oun quarenta anos. Uma boa clinica geral dava-lhe conforto. Viajara, fizera um curso em Paris. Mas no intimo, sentia que os brancos, inclusive diversos de seus colegas, faziam-lhe restrições. Consultavam-no, ,chamavam-no para conferencias medicas. E a sua opinião era geralmente a vencedora. Mas, quando davam recepções, em suas casas, com suas famílias, ele não era convidado... O doutor Lauro Gomes da Silva não podeia compreender aquelas restrições. O Brasil, há quase quinhentos anos, vinha gritando que não tinha problema racial. Mas o certo é que ele, e os outrtos, há séculos, sofriam moral e materialmente as consequências desse pigmento luzidio. Passava vezames. Torturava-se. Era vitima de afrontas. Na classe popular, sentia-se bem, não o desconsideravam. Mas na media, ou na sociedade chamada alta, não podia penetrar – era sumariamente alijado. A ultima humilhação que sofrera em publico deixara-o indignado. Os seus colegas de turma festejavam o décimo aniversario de formatura. \convidaram-no, para o jantar num hotel em Copacabana. Concorrera com sua quota. E na noite marcada comparecera à hora determinada, de smoking, como os outros. Quando penetrava no salão, observatram-lhe que não podia entrar, nem sentar-se à mesa. Diversos de seus colegas se revoltaram, e reagiram. Ele observou: - Não. Fiquem todos. Agradeço a distinção de vocês. E ao champanha lembrem-se do colega que não tem a culpa de ter nascido preto... Ele retirou-se.


O jantar não foi alegre. Pairava no ar aquele mal-estar de alma que não passa nem com a musica, nem com as danças, nem com os vinhos...., Havia uma tristeza em tudo.


RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA

RUBEM ALMEIDA239 09 de maio de 1896 # 09 de abril de 1979 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis a 09 de maio de 1896; fez todos os estudos nesta Capital, do Colegio são Francisco (primário) ao Liceu Maranhense e à faculdade de Direito. Verdadeira enhciclopedia ambulante, poliglota, falava fluentemente Frances, espanhol, italiano, inglês e, evidentemente, português, além de saber o latim e noções de grego e de alemão. Escritor, jornalista, historiador, poeta, e professor,sendo o Magisterio sua verdadeira profissão. Catedratico do liceu Maranhense, através de concurso puiblico para a cadeira de Lingua Portuguesa, onde defendeu a tese “Verbos fundamentais da Lingua Portuguesa e raízes e radicais gregos existentes no Portugues” (1930). Lecionou ainda em todos os colégios de seu tempo: São Francisco (onde estudou), Nossa Senhora auxiliadora, Oscar barros, sinhá Nina, Rosa castro, São Luis, Liceu Maranhense, Centro Caixeiral, Cisne, Minerva, Instituto Vieiros, e Escola Técnica Federal. Foi um dos fundadores (1952) e professor da antiga Faculdade de Filoosofia de São Luis do Maranhão, que dentre seus cursos de Licenciatura ministrava o de letras neo-Latinas. Foitambém professor da faculdade de Direito, por concurso publico, onde apresentou duas teses: “O Indio brasileiro em fase do Codigo Civil”, e “Investigação na Paternidade – argumentos que a justificam e repelem, para a Cátedra de Direito Civil” (1934); e mais “Presidencialismo e Parlamentarismo”. Não se preocupou com a publicação de livros. Nos anos de 1912 a 1951 há artigos seus nos jornais “Diário do Maranhão”; “A Pacotilha”; “O Jornal”; “O Combate”; “Folha do Povo”; “Tribuna”; “Diário de São Luis”; e “O Imparcial”. Há, ainda, publicações em revistas especialoizadas, como os textos “A Constituição dos Antonimos para a História do Maranhão” (1947 – Revista de Geografia e História). Interessante seu trabalho intitulado “Panteon das Selvas”, onde traça biogtrafia dos mais extraordinários índios do Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul; muito bonito “Glorificação de Gonçalves Dias”, discurso laudatório, publicado em 1962; seu único livro publicado, postumamente, ‘Prosa, poesia, e Icnografia”. Não constituiu família e nem deixou descendente. Foi membhro do Conselho Estadual de Cultura; AML, fundador da cadeira 29; sócio efetivo do IHGM, cadeira 9 e posteriormente patrono da cadeira 51; membro da Subcomissão nacional de 239 OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005


Folclore; Consultor técnico do Diretorio Regional de geografia. Integrou por 17 anos a Sociedade Literaria Barão do Rio Branco; e a Legião dos Atenienses. Palestrante de valor, memória privilegiada. Detentos das medalhas do Merito Timbira, do Sesquicentenario da Independencia, e Cidade de São Luis; pela Academia maranhense de letras; as de Graça Aranha, e de Gonçalves Dias. A UFMA conferiu-lhe o titulo de professor Emerito; foi duas vezes Diretor do Liceu Maranhense e da Biblioteca Publica Benedito leite; Presidente do IHGM no período de 1967 a 1972. Faleceu em São Luis em 09 de abril de 1979. A ÁGUIA E O ROUXINOL (ELEGIA AO PROF. RUBEM ALMEIDA) 240 RUBEN ALMEIDA, O JORNALISTA O Mestre Ruben Almeida, não foi somente Professor. No período de 1912 a 1951, exerceu com raro brilhantismo as nobres funções de jornalista, tendo militado em quase todos os jornais de São Luis, vez que a sua verve o fazia disputado por aqueles que administravam os jornais locais à época. Além de artigos em jornais, teve ainda, publicações em revistas especializadas e algumas obras, dentre as quais destacamos: “Panteon das Selvas”, “Glorificação de Gonçalves Dias” e “Prosa, Poesia e Iconografia”. Aos 17 anos de idade Ruben Almeida integrou a Sociedade Literária “Barão do Rio Branco” e a Legião dos Atenienses. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura, da Subcomissão Nacional de Folclore, Consultor Técnico do Diretório Regional de Geografia e Diretor do Liceu Maranhense por dois mandatos. Junto à Academia Maranhense de Letras, foi fundador da cadeira nº 29, e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi patrono da cadeira nº 51, por nós atualmente ocupada, chegando a ser Presidente, entre os anos de 1967 a 1972, secundado pelo brilhante Promotor de Justiça, Dr. José Ribamar Seguins, seu vice. A extraordinária vida intelectual do Professor Ruben Almeida foi sempre meteórica. O brilho da sua invulgar inteligência galgou-o à Academia Maranhense de Letras241. Como Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão sempre se houve com desembaraço, levando a bom termo as metas que se propôs realizar. Não pode concluir seu mandato por motivo de saúde. Infelizmente, a saúde precária não lhe permitiu chegar até o fim do ano acadêmico de 1972. O vice-presidente, Dr. José Ribamar Seguins completou seu mandato, tendo sido eleito inicialmente para o biênio 1972/1974. A dinâmica do seu trabalho levou os confrades a reconhecerem seus méritos e elegerem-no para sucessivos mandatos, que só foram concluídos em 1994, sendo o único acadêmico a permanecer 22 anos no exercício da Presidência. E saiu porque entendeu que era hora de ceder lugar a outro. Pelos confrades ainda continuaria mais tempo na presidência. Hoje, aliás, não são poucos os que pensam no seu retorno à presidência da Casa de Antonio Lopes. RUBEN ALMEIDA VISITANDO LIVRARIAS Peço permissão aos leitores para contemplá-los com um episódio que vivenciei em uma livraria desta Capital, ao lado do Prof. Ruben Almeida. Quem conhece São Luis, bem haverá de lembrar-se da Livraria “A Colegial”, que outrora foi parada obrigatória de estudantes e professores. A Livraria era localizada no Centro de São Luís, bem à praça João Lisboa. O Prof. Ruben Almeida era um visitante assíduo daquela fonte de saber que mantinha um considerável acervo de livros a oferecer aos estudiosos. 240 OLIVEIRA, Edomir Martins de. A Águia e o Rouxinol (eLEGIA AO pROF. rUBEM aLMEIDA). São Luis: Orlimar Grafica e Editora, 2011. 241 O imortal poeta Carlos Cunha, em seu livro “Poesia Maranhense de Hoje”, traçou um perfil biográfico do Prof. Ruben Almeida, digno da melhor das atenções, onde se refere a ele como um mestre que engrandece qualquer Instituição à qual esteja vinculado.


Estava eu a folhear um livro sobre discursos do grande Tribuno Romano Marco Túlio Cícero, quando ao meu lado escutei uma voz muito minha conhecida de sala de aula. Cumprimentei-o. Tratava-se do Prof. Ruben Almeida que pedia ao livreiro que por gentileza, lhe trouxesse um exemplar da mais recente obra que versasse sobre a língua pátria. Sendo Ruben Almeida um estudioso da língua portuguesa, nenhuma novidade havia na procura do último lançamento sobre o assunto. O que surpreendeu a todos que presenciaram o pedido foi a repentina tomada de posição do Professor Ruben. Depois de rápido manuseio do volume pedido, arrancou algumas páginas, pagou o valor do livro e pediu ao livreiro que jogasse o resto fora, vez que o livro de aproveitável só tinha as folhas que arrancara. Virando-se para mim, acrescentou: jovem leia de tudo, mas saiba escolher o que convém e só guarde o que interessa e possa lhe enriquecer. Era assim o Prof. Ruben Almeida. De certa feita, mandara que minha turma do Liceu Maranhense que ele tinha ao seu encargo, fizesse uma dissertação sobre o tema “Viagem Marítima”. Surpreendentemente, foi às raias da indignação quando um aluno menos avisado escreveu na abordagem do tema, que seria bom que a embarcação parasse no meio do mar para que os passageiros pudessem fazer outro passeio, saltando e empurrando a embarcação. O Prof. Ruben Almeida entendeu a dissertação em tela como um acinte à língua pátria e oriunda de uma imaginação doentia, acrescentando ironicamente que só faltou o autor dizer que seria bom e que os passageiros saltassem para empurrar a embarcação no próprio mar, cuja houvera parado o motor. Aí sim, completou o Mestre. A comicidade estaria completa. DEPOIMENTOS SOBRE O PROFESSOR RUBEN ALMEIDA Contou-me o Professor Tácito da Silveira Caldas, que de certa feita indo o Prof. Rubem Almeida assistir a uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, quando era então Presidente o Dr. Seguins, foi convidado por este para compor a mesa diretora dos trabalhos, ao que o Prof. Ruben teria pedido permissão para assistir a reunião do plenário, pois gostava de ouvir olhando o orador. Em vão, o convite foi reiterado. De nada adiantaram as palavras do Dr. Seguins que tentava convencê-lo, dizendo-lhe que sua presença à mesa era uma honra das maiores. “Obrigado Presidente”, mas insisto em ficar aqui no Plenário. Despido de toda vaidade foi assim o Prof. Ruben Almeida. A sua única honra, consistia no reconhecimento da sociedade pelo que ele era, pelo que ele foi, e neste particular em tudo superior ao que ele teve. Morador da Rua dos Afogados, em um histórico Mirante, bem próximo à Rua da Cruz, quem nos conta é o Dr. Seguins, ex-presidente do IHGM, vivia, nesta segunda moradia, entre livros, estantes e escrivaninha. Ambiente de estudo nunca bem arrumado, dizia ele que arrumação necessária era somente a que residia no seu intelecto. Na sua desarrumação de livros, sabia contudo, onde estava o livro de que precisava. Havia mesmo quem dissesse que com autores já falecidos conversava ele durante o sono. De vida familiar muito restrita, teve em a Sra. Justina, conhecida na intimidade por Da. Juju, sua inestimável colaboradora e companheira. Dessa convivência nasceu ao casal um filho que os amigos próximos chamavam de Rubinho, não sendo ele na verdade batizado sequer com o nome de Ruben, antes se chamava Silvio. Acredita-se que o diminutivo Rubinho era uma forma carinhosa de contrastar com o Rubão, tão temido Prof. de Português. A criança teve vida curta. O Pai Celestial chamou-o para o seu seio, ainda no albor da juventude, ele que parecia uma promessa intelectual. É preciso ainda ressaltar que o Prof. Ruben Almeida foi Diretor da Biblioteca Pública Estadual Benedito Leite, nomeado para substituir a confreira Aryceia Moreira Lima, que mourejava também no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ela que fora designada para exercer outra função importante no Estado.


Como Diretor da Biblioteca Pública iniciou uma campanha memorável de estímulo aos jovens, incentivando-os à leitura. Emprestou inúmeros livros da Biblioteca a todos que estavam interessados em ler. O leitor podia ou não ser cadastrado na Biblioteca para estar habilitado ao empréstimo. O leitor tendo cadastro já feito, o empréstimo do livro saía mais rápido. Se não tinha cadastro precisava preencher uma ficha, dizia dos seus dados básicos, tais como nome completo, pais, endereço, sexo, escola onde estudava. Era o bastante. O leitor saía com o livro desejado debaixo do braço com um prazo estipulado para devolução. Perguntei-lhe certa vez: “Professor, esses jovens que levam livros por empréstimo o devolvem depois?” Ao que ele me responde que os poucos que não devolviam eram tão insignificantes que sequer deveriam ser lembrados. Desprovido de toda e qualquer vaidade, trajava-se, com roupas sempre limpas e sem rasgões. Sua vasta cabeleira era o seu ponto marcante. A sua identificação era, principalmente vasta cabeleira sempre cheia, onde os cabelos eram penteados no passar entre os dedos, servindo estes como se um pente fosse. Estava assim, a cabeleira era muito bem arrumada. Os últimos anos de sua vida foram vividos em uma residência à Rua das Hortas, nesta Capital. Várias vezes ali fui visitá-lo, ansioso por tirar dúvidas e aprender um pouco mais. Sempre fui por ele atendido com alegria e prazer, respondendo aos meus questionamentos e orientando-me. Para um estudante sempre foi momento de glória aquele em que conseguia conversar com o Mestre Ruben. Um fato pitoresco da vida do Prof. Ruben Almeida merece ser registrado: morreu sem nunca acreditar que o homem pisara na lua. Dizia sempre que aquela foi a mais fantástica história de que tomara conhecimento. Nunca pode ele se convencer do feito dos astronautas que revolucionaram o mundo morreu dizendo: “foi uma farsa”. Curioso é que hoje existem pesquisadores que põem sob suspeita a certeza que se tem. Missão cumprida na terra, ajudando a formar gerações, que logo ocuparam lugar de destaque quer no cenário estadual, nacional ou internacional, o Senhor Deus o chamou em 09/04/79, aqui mesmo nesta cidade, que foi do seu nascimento, contando ele com 82 anos e onze meses de idade. O Professor Ruben não morreu. Nós que fazemos o IHGM preferimos dizer que Deus, o Pai por Excelência, fez com ele o que fazemos com nossos filhos quando adormecem: Tomamos as crianças em nossos braços quando o sono as alcança, em qualquer parte e levamos para um lugar seguro, com todo conforto. Quando o Prof. Ruben Almeida adormeceu, entendemos não ter sido diferente. O Pai Celestial tomou-o nos seus braços e levou-o para o lugar seguro que lhe estava reservado na Mansão Celestial. Graças à proposta do Historiador e Confrade Luiz Alfredo Netto Guterres Soares, que na gestão do Presidente do IHGM, José Ribamar Seguins, propusera a criação de mais dez cadeiras, com as quais pretendia homenagear nomes ilustres que haviam partido, maranhenses de escol, que precisavam ser lembrados constantemente, foi que foram abertas mais 10 vagas no Sodalício, passando o Instituto de 50 para 60 sócios, cabendo à cadeira de nº 51 ser patroneada por Ruben Ribeiro de Almeida, “o último grande gênio da língua pátria”, no dizer daquele confrade. É esta cadeira que ocupo com indizível alegria, sendo enorme a responsabilidade de substituir o seu titular, de tão saudosa memória, a quem nos habituamos a render homenagens e a cultuá-lo pela enorme contribuição à cultura da nossa terra e da nossa gente. A grandiosidade dos serviços do Prof. Ruben Almeida prestados ao Maranhão foi indescritível, quem nos acrescenta é a “Biografia Resumida de Maranhenses Ilustres”, contida na Revista nº 11 do IHGM, às fls. 41, dissertada pelo confrade Joaquim Elias Filho, em parceria com a confreira Maria dos Remédios Buna Costa Magalhães.


Dessa biografia, obtivemos as informações de que ele recebeu “Medalha Cidade de São Luís”, “Medalha do Mérito Timbira” e “Medalha Maranhense do Sesquicentenário da Independência”, todas concedidas pelo Governo do Estado do Maranhão; que a Academia Maranhense de Letras, pelos seus elevados dotes intelectuais sobejamente reconhecidos, concedeu-lhe a “Medalha Graça Aranha” e a “Medalha Gonçalves Dias”; que a Universidade Federal do Maranhão, considerando os seus elevados méritos, conferiu-lhe a comenda de “Professor Emérito”; que O Imparcial, matutino desta cidade, vinculado aos Diários Associados, rendeu-lhe também homenagens, concedendo-lhe o título “Quem é Quem”; que do Ministério da Aeronáutica, recebeu o “Medalhão do Centenário de Nascimento de Santos Dumont”; que mourejou o Prof. Rubem Almeida como jornalista nos seguintes jornais desta capital: “Diário do Maranhão”, “A Pacotilha”, “O Jornal”, “O Combate”, “A Folha do Povo”, “O Diário de São Luís”, sobressaindo-se pela sua pena brilhante, a serviço do Maranhão, em todos eles, com destaque para “O Imparcial”, matutino que ainda circula até hoje em nossa cidade. Haurimos, ainda, da Revista nº 11, já referida, que o nome do Prof. Ruben Almeida saiu da esfera local, chegou à nacional e estendeu-se à internacional, haja vista o título de membro da “Member of That Society: The National Geographic Society – Washington District of Columbia in the United States”. Do livro “Cultura em Quadros” do poeta e historiador Luiz Alfredo Neto Guterres Soares colhi sobre o Prof. Ruben Ribeiro de Almeida as seguintes pérolas acerca do mestre que aqui estamos a prestar homenagens: “Ruben Almeida – estudioso, fez História com História, profundo e meticuloso – um prodígio de memória”. Luiz Alfredo nosso confrade no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, com estas palavras sintetizou uma vida. O exemplo do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida ficou. Que Deus nos ajude a entende-lo e a reverenciar sua memória. Ele, pelo muito que fez, eternizou-se. Nunca morrerá. POPULÁRIO MARANHENSE A Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Série Inéditos”, cuja série foi iniciada com a publicação do livro “Populário Maranhense, legado que nos doou o saudoso Prof. Domingos Vieira Filho, trouxe a lume o lançamento da obra “Prosa, Poesia e Iconografia”, de autoria do Prof. Ruben Almeida. Nossa pesquisa tornou-se fácil com o manuseio da obra em referência, onde fomos buscar farto material para homenagear o Prof. Ruben Almeida. Neste oportuno trabalho vamos encontrar produções dispersas do Prof. Ruben Almeida, que estavam direcionadas para plaquetas, revistas e jornais e que sem dúvida, se perderiam no tempo e no espaço, não houvesse sido feito este trabalho. Ter-se-ia perdido também a sua inestimável colaboração a temas relacionados com a etnolinguística, etnologia, problemas indígenas, folclore, antropogeografia. Com a publicação de prosa, poesia e iconografia tem-se reunido os fragmentos dos seus valiosos trabalhos, registrando-se assim, para a posteridade, um pouco da inestimável contribuição de Ruben Almeida aos estudiosos maranhenses. Se nada tivesse nos legado o autor, os seus “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa” já o teriam imortalizado. Chagas Val comentando sobre o trabalho de Ruben Almeida, diz-nos que “é um sábio na última acepção da palavra, e os sábios preferem o silêncio à publicidade gratuita dos que escrevem. Aqui viveu os melhores dias de sua juventude e sofreu a infame perseguição dos tiranetes obtusos. Só porque convicto da verdade, e na mesma linha germânica de Tobias Barreto, sempre defendeu a Alemanha como país grandioso e eterno”. Registram os anais da História, que inimigos do mestre Ruben entendiam ser ele nazista e o prenderam.


Seus inimigos estão mortos, deles não se fala senão como verdugos que o tempo fez esquecer. O nome do Prof. Ruben Almeida sobreviveu às intempéries do tempo, sendo até hoje admirado e lembrado com muito respeito. O saudoso Prof. Mário Martins Meireles, imortal da Academia Maranhense de Letras, encarregado de traçar perfil necrológio do Prof. Ruben, em sessão do dia 09.05.1979 naquele Sodalício, refere-se ao Prof. Ruben dizendo que conquistou cargos, títulos e que executou serviços de valor inestimável para o Maranhão, ressaltando que “por três gerações consecutivas, todos vós o sabeis porque não há em São Luís, e no Maranhão por certo, quem não saiba o que foi e o que era, o que fez e o que fazia, o que sabia e o que ensinava”. Enfatiza ainda o Prof. Mário Meireles que merecem ser lembrados, pelo seu grande valor, “Uma palestra sobre Henrique Leal”, datada de 1928, “Raízes e radicais gregos existentes no português”, “O índio brasileiro em face da legislação”, e um trabalho versando sobre doutrina política, intitulado “Presidencialismo e Parlamentarismo”, estes dois últimos datados de 1934. Pelos idos de 1962, juntamente com o autor desse seu necrológio, pronunciou um “discurso laudatório” à memória do autor dos Timbiras, publicado pelo Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Glorificação de Gonçalves Dias”. Também o Prof. Sá Vale, que formava ao lado do Prof. Ruben Almeida o exercício do magistério no Liceu Maranhense, dizia sobre ele que se tratava “de um dos maiores maranhenses vivos pelo seu belo talento e enciclopédica cultura e denuncia que tinha então pronto para o prelo uma obra magnífica – “Panteon das Selvas”. O Prof. Ruben Almeida, inegavelmente, dominava a língua pátria com segurança, era um pesquisador e estudioso por excelência, acrescentando o Prof. Mário Meireles, “além do muito ou do pouco que sabia de tudo, ele era, sobretudo, como que a história viva desta terra”. PROFESSOR RUBEN ALMEIDA – DIGNO REPRESENTANTE DO ESTADO DO MARANHÃO Consta do Diário Oficial do Estado do Maranhão de 26.12.1932, Decreto que foi assinado pelo Senhor Francisco Lisboa Viana, Diretor, respondendo pela Secretaria de Estado do Maranhão, a designação do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida para, sem prejuízo dos vencimentos do seu cargo e com o direito apenas à indenização pelos cofres públicos do Estado, das despesas que fizer com a viagem, proceder na zona compreendida entre os rios Turiaçú e Gurupi, aos estudos e investigações indicados nas instruções que lhe serão fornecidas pelo Secretário de Estado”. Recebidas essas instruções, o Prof. Ruben partiu para o cumprimento do Decreto, externando no seu relatório ter “o maior interesse de parte do Governo em reaver uma documentação cartográfica”, sendo de se ressaltar que tal documentação era portada pelo Prof. Ludovico Schwennagen, “insigne homem de ciência que veio a falecer, lamentavelmente aos 71 anos de idade” e que “se entregara com todo o ardor da sua atividade a passar a limpo os esboços dos rios, furos, ilhas, cidades, povoados e minas” que visitou com o Prof. Ruben. Desse magnífico trabalho do Prof. Ruben teve-se uma visão geográfica dos limites dos Municípios de Turiaçú e Carutapera, passando-se por Maracassumé, Rio Tromaí, Rio Iriri-Assu, Iriri-Mirim e Gurupi. Significativo também foi o registro de que não havia lagos de importância e a descrição de cidades e povoados que pertenciam à época aos Municípios de Turiaçú e Carutapera. Importante participação teve o Prof. Ruben no estudo que procedeu sobre a geologia, quando deixou patente que o “litoral maranhense fez parte na época do cretáceo superior e do oceano chamado Tetis, um dos dois (o outro era Nereis), em que dividia o Atlântico fechado na sua parte equatorial pelo istmo da Arqueamazônia e na meridional, pelo da Arqueplata (prosa, poesia e iconografia), fls.33”. Semelhante participação teve no estudo da mineralogia, donde se foi buscar a afirmativa de que “a crença geralmente aceita é que todo ouro do noroeste maranhense é ouro de aluvião, ou seja, descoberto pelo trabalho de erosão das águas pluviais ou fluviais, e por elas carreado”. Sem perder de vista a sua designação pelo Governo do Estado para proceder estudos no interior do Maranhão, teve também as suas atenções concentradas na Botânica, na Zoologia, tendo feito um profundo estudo da navegabilidade dos rios maranhenses, valendo-se no ensejo de um


respeitável estudo sobre o povoamento dos municípios do Maranhão, e destacando as vias de comunicação existentes, entre elas as vias terrestres, marítimas e fluviais. Entre as vias de comunicação pessoal havia as estações telegráficas em Turiaçú e Carutapera, destacando um uso de telefone de Maracassumé para Engenho Central e Imperatriz, que embora precariamente era o que se dispunha àquela época. Ao apresentar o seu relatório, destaca o Prof. Ruben que nas diversas palestras que teve com o Exmo. Sr. Capitão Lourival Seroa da Mota este mostrava o seu desejo de visitar a afamada região maranhense, acrescentando o Prof. Ruben na parte final do seu relatório: ”passo a lembrar a V.Exa., as exeqüíveis medidas que acho necessárias e urgentes para que o Estado do Maranhão usufruindo inteligentemente os inomináveis tesouros que jazem no seu noroeste, logre enriquecer a sua economia, libertando-se de uma vez e quiçá para sempre, da dolorosa crise em que agoniza”. Do seu relatório destaca-se: Quanto à Geografia – “sob esse ponto de vista, o primeiro trabalho do meu relatório,, a medida de maior alcance a tomar é o levantamento cartográfico maranhense”. Quanto à Geologia – “incidentemente figura o Maranhão nas apoucadas e imperfeitíssimas cartas geológicas da América do Sul e ainda nas menos apoucadas do Brasil”, o que levou pela imperfeição dos estudos existentes, a concluir que é preciso “reintegrarmos o Maranhão no seu verdadeiro e orgulhoso título de Atenas Brasileira, que soa como o vibrar de clarins nas alvoradas festivas”. Quanto à Mineralogia: - “...nada mais vem a ser do que um simples capítulo da Geologia... lembro a V. Exa., que do mesmo passo se realizasse os trabalhos geológicos também o fossem os mineralógicos, para economia de tempo e norte do Governo”. Quanto à Botânica – “... chega a ser um verdadeiro crime deixar-se ao abandono tão inestimável tesouro..., sobretudo na margem maranhense do Gurupi, para o que poderiam ser aproveitadas as grandiosas cachoeiras no fornecimento de energia”. Quanto à Zoologia - “...sugiro a V. Exa., na dificuldade de organizar-se um Jardim Zoológico, o empalhamento por um especialista dos mais importantes tipos de nossa fauna, acompanhado o trabalho de um catálogo e fotografias”. Quanto à navegabilidade dos rios, vias de comunicação e povoamento – “... a destruição de cachoeiras por explosivo... poderia permitir a navegação do Gurupi, no que poderia ser auxiliado pelo vizinho Estado do Pará”. No tocante às vias de comunicação, “necessidade de novas estradas e melhoramento das antigas”, e no tocante ao povoamento, chamemos “os nossos irmãos cearenses... para colonização das nossas terras, dando todo o necessário em roupas, remédios, mantimentos para sua fixação, auxiliado pela Saúde Publica”. Conclui o relatório do Prof. Ruben Almeida lembrando que não podem ser esquecidas as melhores atenções aos índios, entre eles os Guajás, Guajajaras, Gaviões, Iaaes, Manajós, Tembés, Timbiras, Urubus, e traduzindo textualmente suas próprias palavras, acrescentou o Prof Ruben Almeida: “julgando assim desobrigar-me da incumbência que me confiou o Governo, sou Exmo. Sr. Interventor, de V. Exa., patrício e admirador”. A propósito do índio brasileiro, os cuidados do Prof. Ruben eram tão grandes que quando se submeteu a concurso de livre escolha para provimento da Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, a sua tese versou sobre “O índio brasileiro em face da legislação”. Na exploração do tema, direcionou seu trabalho preliminarmente para o que a propósito encerrava o Direito Canônico, lembrando que a Santa Sé desde os idos de 1537, 1639 e 1741 procedeu a intervenções sobre o tema, destacando que o Papa Paulo III revelou o seu interesse pelo assunto. À época no Governo de Portugal encontrava-se o Rei Dom João III e na Espanha o Rei Carlos V. Em 1639 a bula do Papa Urbano VIII confirmou o “Breve”, de Paulo III e duramente excomungava aqueles que vendessem ou escravizassem os índios.


Por outro lado, a bula papal de Benedito XIV, de 1741, intitulada “Immensa Pastorum Principis”, proibia terminantemente sob pena de excomunhão, “que qualquer pessoa, secular ou eclesiástica, possuísse índios como escravos e os reduzisse a cativeiro por qualquer forma e sob qualquer pretexto”. Na abordagem do tema, o Prof Ruben foi se abeberar também da legislação portuguesa, que no tocante aos índios tinha uma vasta preocupação com os silvícolas, daí porque inúmeros eram as leis, cartas-régias, provisões, alvarás, éditos, decretos, regimentos e diretório tudo emitido para proteger os índios. Lembra o Prof. Ruben que após a Proclamação da Independência, Lei de 20.10.1823 promulgada pela Assembléia Geral Constituinte, determinando que enquanto não fosse organizado um novo Código continuariam em vigor as Ordenações, Leis, Regimentos, Alvarás, Decretos e Resoluções promulgados pelo Rei de Portugal, no sentido de proteger os índios. Posteriormente, o Código Civil (Lei 3.071, de 01.01.1916), emendada pelo Decreto-legislativo nº 3.725, de 15.01.1919), incluiu os silvícolas, esclarecendo que ficariam sob o regime tutelar, cujo regime cessará na medida em que forem se adaptando à civilização do país. O espírito irrequieto e estudioso do Prof. Ruben levou-o a tratar de outro assunto que até hoje se constitui matéria de particular interesse no Direito da Família. Foi assim que apresentou uma segunda tese para provimento de uma Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, e que tomou o nome de “Investigação da Paternidade, argumentos que a justificam e repelem”, lançando ainda no momento a indagação: adotou o Código Civil as cautelas necessárias? Trabalho de grande vulto sobre a investigação da paternidade, onde o Prof. Ruben concentrou suas atenções no direito à vida, no direito à paternidade, no direito à sociabilidade, no direito à reparação e no direito à sucessão. No tocante aos argumentos que repelem a investigação, alinhou o Prof. Ruben o receio de escândalos, o perigo das explorações e as expectativas de abuso. Preocupado com as cautelas necessárias ao adotar o Código Civil, o Instituto chegou a afirmar que tendo em vista a elaboração do Código à época, houveram cautelas necessárias ante as idéias “altamente retrógradas, ainda dominantes”. Na exploração do tema Investigação de Paternidade, vale a pena registrar que se trata de um belíssimo trabalho em que foram concentrados os estudos no direito anterior, nos doutrinadores, nos projetos de código, na discussão dos projetos, no Código Civil Brasileiro em vigor à época e na legislação comparada. RUBEN ALMEIDA O CONFERENCISTA Os registros históricos estão a consignar brilhante conferência proferida pelo Prof. Ruben Almeida no “Grupo Escolar Henriques Leal”, por motivo da comemoração do 1º centenário de nascimento do grande intelectual maranhense que o Grupo Escolar leva o nome. No preâmbulo de sua conferência diz o Prof Ruben que “homenagear os grandes homens é dever tão sagrado, é tão belo dever, que por isso mesmo, pela sacrossantidade que encerra e pela beleza que contem, escapa habitualmente a atenção dos contemporâneos, de contínuo solicitada por tantos e tão variados atrativos”. No decorrer desta sua conferência, o Prof. Ruben referiu-se a Antonio Henriques Leal, destacando seu comportamento como cidadão, médico, político, jornalista, amigo, tradutor, romancista, historiador, crítico, patriota, concluindo nos seguintes termos: ”E a ti, Antonio Henriques Leal, de joelhos, as nossas escusas se o preito esteve aquém do teu merecimento. Não foi nossa a culpa. Tua somente, que te alçaste a culminâncias tais, onde não podem chegar os espíritos das crianças para depor-te aos pés as palmas, os sons e as flores, a que tens inconteste direito pelo vulto do teu caráter, pelo brilho do teu gênio e pelo esplendor da tua obra”. No Instituto dos Advogados do Maranhão foi igualmente brilhante o Prof. Ruben Almeida, quando discursou abordando “Presidencialismo e Parlamentarismo”, onde concluiu


direcionando seu voto pelo presidencialismo. Pungente foi o discurso no enterro de Antonio Lobo, maranhense ilustre, onde o Prof. Ruben levou às lágrimas tantos quantos o escutaram naquele momento. Nesse discurso traçou o Prof. Ruben o perfil da vida de Antonio Francisco Leal Lobo (Antonio Lobo), fazendo referências ao magistério que ele tão bem exerceu e o destacando como Segundo Oficial da Secretaria de Governo e ainda por ter sido comissionado Oficial de Gabinete dos Governos Cazimiro Dias Vieira Junior, Manuel Belfort Vieira e Cunha Martins. Designado para prestar socorro à cidade de Codó, no interior do Maranhão, acometida que fora a cidade de uma grande enchente no Rio Itapecuru, para ali se deslocou, prestando relevantes serviços. Foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado, do Liceu Maranhense, do qual foi “abalizado lente” e para o qual foi nomeado vitaliciamente, em seguida a um brilhante concurso. Ao concluir seu discurso fúnebre, deixou-nos a seguinte palavra ”e o mestre acaba de morrer. Mas, como acaba de morrer o mestre? Triste, como nos foi dado assistir, majestoso como não o imaginamos. Hoje a pátria maranhense se reveste de luto pela perda do filho muito amado que sempre trabalhou pela sua grandeza, honra e prosperidade”. RUBEN ALMEIDA – UM CULTOR DA LÍNGUA PORTUGUESA Visando ocupar a 2ª Cadeira de Português junto ao Liceu Maranhense, apresentou o Prof. Ruben Almeida à congregação da Escola, tese de sua livre escolha que intitulou “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa”. Tratava-se de um trabalho inédito que viria simplificar o estudo das conjugações. Na abordagem do tema, preocupou-se com a etimologia da palavra verbo, continuando a exploração desse mesmo verbo sob o ponto de vista téo-filosófico, passando pela teoria do verbo na téo-filosofia hindu, estendendo-se pela Pérsia, indo até à Caldaica, analisando à luz da Filosofia Ophita (uma das mais interessantes “pelas profundezas de suas cogitações”), detendose na Filosofia grega, na cristã, na druítica e na tupi. Com essas abordagens situou-se na conjugação do verbo, onde nos ensinou que os modos do verbo serão as múltiplas maneiras de manifestar-se mais acertadamente, porque “o verbo é a palavra de afirmação antes – a sua própria afirmação”. PROF. RUBEN ALMEIDA – UM GRANDE ARTICULISTA Dentre os inúmeros artigos do Prof. Ruben Almeida destacaremos alguns para deleite dos leitores. O intitulado “Nossa Casinha”, que se tratava da própria residência do ilustre Professor, que assim a definia: “Que simpática se apresentava, vista com olhos do passado nossa casinha da Rua do Alecrim nº 10, hoje 54, entre as do Ribeirão e Cruz, lado direito de quem sobe!” Em outro artigo que intitulou “Palacete do Comendador Leite”, nos diz que não era do seu desejo, nem de leve, “arrogar-se à nobreza de solar o palacete, como o dos Belfort ou do Comendador Leite”, lembrando-se aqui que a sua casinha, citada anteriormente em outro artigo, era uma paupérrima porta e janela, porém por ele muito amada. Não se poderia olvidar o seu artigo sobre “Nossa São Luís Histórica”, onde diz textualmente:”talvez se mostre ainda São Luís, das Capitais e cidades brasileiras, a detentora dos melhores e mais profundos vestígios do passado e conclui:”ao visitante, sincero apreciador de velharias, acima do presente movimento da ruas, bancos, comércio, indústria, edifícios, automóveis, estradas – interessa sentir e viver o passado, porque dele e somente de suas glórias vivem os sanluisenses. Em outro artigo que intitulou “Festa do Divino Espírito Santo” (“na casa de Rosaguardamor”), deixa-nos informações sobre o desenvolvimento da festa e da dona da casa, assim chamada por ser de estatura mediana, gorda, de cara larga, em casa de quem valia a pena assistir aos festejos em honra do Divino).


“Rosaguardamor” tomou esse sobrenome por haver vivido com um guardamor do Estado. No artigo, o Prof. Ruben descreve a festa com a participação de caixeiras, muitas bebidas e comidas próprias da época, salientando que a festança era em homenagem ao Espírito Santo. Merece menção especial o artigo em comemoração ao 32º aniversário da Fundação de São Luís, onde faz uma descrição do descobrimento do Maranhão e do Brasil pelo ciclo espanhol, destacando a participação de Vicente Yañez Pinzon e sua segunda viagem. RUBEN ALMEIDA E A MARINHA Os registros históricos relacionados com a SOAMAR – Sociedade dos Amigos da Marinha nos dão conta de que o Capitão de Fragata Fernando Moreira Godinho convidou o Prof. Ruben de Almeida para discorrer sobre o assunto “Marinha e Independência do Maranhão”. Destaca-se aqui a luta empenhada para reconhecer o Maranhão à Independência, entre as províncias da Bahia, Cisplatina, Piauí e Pará. Destaca o Prof. Ruben neste colóquio, entre as figuras notáveis na causa da independência de nossa província, o nome de Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce e no cenário nacional, Joaquim Gonçalves Ledo, educados no exterior, um na Inglaterra e outro em Coimbra, patriotas, que foram perseguidos, vítimas de queixas infundadas, despojadas do poder, embora mais tarde reintegrados, mas que são vultos que passaram para a história, merecendo toda a admiração e respeito. RUBEN ALMEIDA – O HOMEM QUE RECONHECIA VALORES SUPERIORES E LHES PRESTAVA HOMENAGENS Aqui destacamos uma homenagem que foi prestada a Domingos Quadros Barbosa Álvares, ilustre Tabelião, além de jornalista e cronista, com prestação de serviços ao “Diário do Maranhão”, “Pacotilha”, “Revista do Norte”; festejado contista e novelista, com destaque para “Mosaicos” e “Contos de Minha Terra”. De igual modo deteve-se em atenções, também, na figura de Teixeira Mendes, que traz no “Ateneu” o seu nome, destacada Escola de 2º grau, desta Capital. Diz-nos o Prof. Ruben Almeida que a despeito de sua ranzinzice e vaidade, era de uma grandeza de alma e uma finura de espírito raríssima em nossos dias. Ainda a propósito de Teixeira Mendes, diz-nos o Prof. Ruben que em 22.01.1916, no Rio de Janeiro, ao visitá-lo, na sua grandeza de espírito, recebendo a visita de um obscuro estudante que trazia como título apenas o ser maranhense, Teixeira Mendes não lhe permitiu que o chamasse de doutor, professor ou mestre, dizendo tratar-se de entendimentos entre membros da mesma fraternidade. E conclui o Prof. Ruben, tratava-se de homem de “caráter impoluto, coração generosíssimo, o maior e melhor intérprete das teorias de Augusto Comte no Brasil”. Iguais atenções dedicou também no fino trato a Coelho Neto, destacando ser ele possuidor do mais rico vocabulário já empregado pelos escritores brasileiros e portugueses, acrescentando que na oratória residia a sua maior vocação. RUBEN ALMEIDA REVELANDO PREOCUPAÇÕES QUANTO À MEMÓRIA HISTÓRICA DA CIDADE DE SÃO LUÍS Cultor da língua pátria, estudioso da história do Maranhão e particularmente da cidade de São Luís, algumas curiosidades a título ilustrativo revelamos ao público leitor, destacando a Igreja do Carmo, a Rua do Sol, aspectos da vida de Gonçalves Dias, e de alguns vultos que nas áreas das suas atividades profissionais deixaram a marca de suas presenças na história do Maranhão. No tocante à Igreja do Carmo, registra o Prof. Ruben que lamentavelmente a igreja que mantinha torres de ornamentação foram arruinadas por falta de conservação. E no que diz respeito às escadarias hoje laterais, nem sempre foram assim. Anteriormente era apenas uma escada central e que as exigências sociais ante o crescente número de fiéis, indicava a necessidade de duas escadas para facilitar o acesso dos fiéis à nave do templo e a saída ao término das celebrações religiosas.


Essas mudanças ocorreram quando da famosa festa de Santa Filomena, que rivalizava com a festa dos Remédios. O acesso à praça da Igreja, entre outros meios de transporte, dava-se também através dos bondes, que lamentavelmente alguns anos depois seriam retirados de circulação. A retirada dos bondes ocasionou também, a retirada dos trilhos, aguçando a curiosidade dos estudiosos que apelaram a ilustres homens públicos engenheiros de obras, para que cavassem subterrâneos, tentando descobrir, por essa via, uma comunicação que se dizia existir, ligando a Praça do Carmo com a Fonte do Ribeirão. Para decepção do Prof. Ruben, o subterrâneo foi descoberto, mas fechado por ordens superiores, perdendo-se assim uma inestimável parte da história que os engenheiros o faziam “com inocência angelical e candidez voltaireana”. No que respeita à Rua do Sol, o historiador maranhense consigna assim ter sido batizada em virtude dos trabalhos desta rua terem sido executados em época equinocial, “em que o sol central a ilumina por inteiro como a todas as paralelas”.

UM EPISÓDIO A QUE SE REFERIA SEMPRE COM MUITA ALEGRIA Constituiu-se verdadeiro orgulho para o Prof. Ruben ter ficado de posse, por uma semana “do livro de almaço azul inglês, no qual Gonçalves Dias copiara na Torre do Tomo, os originais da história da Companhia de Jesus na Vice-Província do Maranhão e Pará”. Registra ainda o Prof. Ruben, da sua luta para fazer a doação de tal trabalho junto à Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, não tendo conseguido seu intento por falta de autoridades que estivessem interessadas na recepção do valoroso original, o qual acabou sendo entregue, por ordem superior, a pessoas pouco letradas, tomando então destino ignorado. Entre os vultos que mereceram destaques expressivos, está o farmacêutico Antonio Ferreira Garrido, já à época considerado o decano dos farmacêuticos maranhenses. Este farmacêutico de renomada, produzia ele mesmo, em seu laboratório, milagrosos produtos infalíveis quanto à malária, febre, queimaduras, vermífugos, pílulas intestinais de D. Lavínia, que ficou conhecida porque uma senhora de nome Lavínia apresentou-se a ele como portadora de verme e que os médicos não lograram resultado. O Dr. Garrido preparou uma fórmula com pílulas que 24 horas depois, chamado às pressas à casa de D. Lavínia se assombrou com o que viu: a expulsão, em enorme quantidade, de “ascáridas lombricóides e helmintos”. Os farmacêuticos à época de 1977 eram chamados também de boticários e apresentavam seus produtos a preços acessíveis. Com a mudança dos costumes, os farmacêuticos outrora tão prestigiados não se dão ao luxo ou trabalho de anunciar coisa alguma, vez que as receitas médicas agora prescritas são apenas atendidas pelos farmacêuticos que compram dos laboratórios para repassar os produtos aos clientes. INFORMES JORNALÍSTICOS SOBRE O PROF.RUBEN ALMEIDA (reproduzida pelo ´Correio Atividade” ) Registram os anais históricos que o Prof. Ruben Almeida, nascido a 09.05.1890, ainda aos 81 anos de idade era homem de robustez física e que mesmo nessa faixa etária mantinha um peso de 90 kg e que conservava por trás de um ar fleumático, muito de bom caboclo maranhense, apresentando-se com seus cabelos grisalhos e fartas sobrancelhas, guardando ainda nessa idade uma memória privilegiada, que lhe permitia conceder entrevistas e delas se sair muito bem. Foi assim que ao “Correio Atividade “ do Rio de Janeiro, prestou memorável recordação que serviu de base para que se soubesse que foi ele bacharel em direito e advogado, professor da língua portuguesa no Liceu Maranhense e no Instituto de Letras e Artes, além de ter exercido seu magistério, também como Catedrático de Direito Civil junto à Faculdade de Direito de São Luís, por onde se formou, isto sem falar que foi colaborador em todos os jornais da Capital maranhense, dele ressaltando o Dr.Pires de Sabóia no seu discurso de posse na Academia


Maranhense de Letras, ter sido colaborador permanente de “O Imparcial”, vinculado aos Diários Associados. Graças ainda a essa entrevista ficou esclarecido ter o Prof. Ruben Almeida publicado “O índio brasileiro perante o Código Civil”, “Investigação de Paternidade”, “Esforço biográfico de Antonio Henriques Leal”, “A vida do barão de Coroatá”, “O Palacete”, “Porque é grande e gloriosa a história do Maranhão”. Era o Prof. Ruben avesso à poesia moderna, dizendo ser intolerável, pois “é uma nebulosidade a toda prova”. Respondendo a uma indagação do porque de ser um solteirão inveterado, relatou na entrevista que tinha uma família numerosa para sustentar, daí porque a constituição de uma família legítima iria trazer sérios problemas domésticos, tendo por essa situação optado pelo celibatarismo. Dentre as suas entrevistas concedidas para inúmeros jornais no Rio de Janeiro, os entrevistadores, descobrindo nele o poeta que era, além de o cognominarem de “um sábio vivo”, um “sábio de Atenas”, fizeram publicar alguns sonetos, entre os quais, para deleite dos leitores, nos deteremos em um que versa poeticamente sobre os corvos e que por ser inédito, transcrevemos: VENDO PASSAR CORVOS Vendo o corvo passar, asas espalmas, Asas espalmas pelo espaço afora, Espaço níveo em que se agitam palmas, Saudando Apolo que anuncia a aurora; E vendo-o, mais subindo está agora Voando em meio às glaucas zonas calmas, Além das nuvens, onde o raio mora, Quase bem perto de onde moram as almas, -Dá vontade cismar (vai pontinho, lento, lento,assumir devagarinho, -mercê do vento, sem destino, ao léo), se melhor não seria, como corvo, ter feio o aspecto, negro, imundo e torvo, mas ser feliz como ele – andar no céu. Espero que estas anotações sirvam para relembrar alguns momentos da vida do intelectual maranhense, que sem a menor sombra de dúvidas, enriqueceu a língua pátria, a literatura maranhense, e continua ainda hoje sendo lembrado como uma águia e um rouxinol da nossa querida Atenas Brasileira. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM ALMEIDA, R. GASPAR DE SOUSA NO MARANHÃO Ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 0511


UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA242

14 de outubro de 1931 # 16 de junmho de 2014 Galeria dos Livros Professor, crítico de arte, jornalista, ficcionista, diretor e autor de textos teatrais. Integrante de importantes movimentos culturais de São Luís, nas décadas de 1950/60 participou da SCAM – Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, do Centro Cultural Graça Aranha, fundou grupos de teatro e ministrou cursos de corpo, voz e história do teatro. Trabalhou em diversos jornais de São Luís, entre os quais, Pacotilha/O Globo, Diário do Norte, Jornal do Dia, Jornal de Bolso. Atualmente trabalha em O Estado do Maranhão, onde publica uma crônica semanal. Foi por muitos anos funcionário da Televisão Educativa onde exerceu várias funções entre as quais produtor de programas culturais, professor de TV e diretor de programas. Na infância assiste a espetáculos de circo e operatas levado pelo pai de criação. Na adolescência descobre que seu pai biologico Ubiratan Filho dirigia um grupo de teatro na cidade, e incentivado pelo tio Floriano Teixeira passa a paricipar do grupo de teatro do pintor J. Figueiredo, chamado Teatrinho dos Novos onde ficou durante três anos, quando o grupo se desfez. No Teatrinho dos Novos, estréiou no espetáculo No Reino das Sombras de Kleber Fernandes, interpretando um velho ancião. Com o fim do Teatrinho dos Novos, o velho Bira, passa por vários grupos teatrais da cidade como ator, contrarregra, ponto, entre outras atividades até ser convidado pelo médico e escritor João Mohana para participar do Teatro de Ação Católica da Arquidiocese de São Luís, onde assume a função de diretor da peça A Comédia do Coração do pernambucano E. de Paula Gonçalves, cuja qualidade técnica leva o ministro Paschoal Carlos Magno doar para Ubiratan uma bolsa de estudo em direção teatral na Itália, em 1954, onde estuda com Frederico Fellini no Instituto de Arte Dramática Pro Dei, em Roma, e, com Sílvio D’ Amico no Piccolo Teatro di Millano, em Milão.

242 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 https://www.skoob.com.br/autor/1135-ubiratan-teixeira UBIRATAN TEIXEIRA - A poesia do cotidiano e a verve irônica de um cronista genial. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina635.htm, acessado9 em 08/05/2014 O abandono da vida boêmia e um casamento que já dura 100 anos. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina636.htm, acessado9 em 08/05/2014 Ubiratan Teixeira (II) - Um Mestre do Conto Moderno. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina634.htm, acessado9 em 08/05/2014 http://joseneres.blogspot.com.br/2011/10/ubiratan-teixeira.html http://historiadoteatromaranhense.blogspot.com.br/2011/10/ubiratan-teixeira.html http://maranharte.blogspot.com.br/2011/10/pedra-preciosa-ubiratan-teixeira.html


Na sua estad em Milão participa da montagem da peça Nostro Milano, dirigida por Giorgio Streller. De volta à São Luís retoma seus trabalhos Teatro de Ação Católica onde encena: - O Processo de Jesus de Diego Fabri; - A Via Sacra de Henri Ghéon; - Sibita e o Dragão de Lúcia Benedetti; - Os Inimigos não Mandam Flores de Pedro Bloch; - A Revolta dos Brinquedos de Pernambuco de Oliveira. Ao sair do Teatro de Ação Católica para continuar seus estudos de educação formal funda grupos pelos cursos onde passa e dar aulas de História do Teatro e de Interpretação no Teatro Experimental do Maranhão. Em 1995, após aposentadoria da TVE, junto com amigos funda a Associação Cultural e Beneficiente do Teatro Popular do Brasil que viabilizaria o grupo Ensaio Geral, produzindo as seguintes peças teatrais: 1995 – Natal na Praça de Henri Ghéon; 1997 – O Mistério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Michel Ghelderode; 1998 – Lisístrata de Aristófanes; 1999 – A Capital Federal de Arthur Azevedo; 2003 – Natal na Praça Henri Ghéon (com atores da cidade de Colinas). O grupo realizou ainda cursos e oficinas de corpo, voz e história do teatro e a leitura pública do texto de Oswald de Andrade “O Rei da Vela”. A novela Vela ao Crucificado em escrita em 1979, de sua autoria foi adaptada e encenada pelo escritor e diretor de teatro Wilson Martins com os grupos: Teatro Popular do Maranhão (1980) e Teatro Operário do Maranhão (1985). A novela também, foi adaptada para o cinema pelo cineasta Frederico Machado em 2009. Atualmente, além, de escrever diariamente no jornal O Estado do Maranhão é sempre convidado para participar de comissões de júri de festivais de teatro e cinema, seleção de obras e artistas em salões, mostras e encontros de arte e seleção de obras literárias em São Luís e no estado do Maranhão. O velho Bira não para, entre os seus projetos está uma coletânea sobre a obra do dramaturgo, novelista e romancista Fernando Moreira e duas coletâneas sobre suas crônicas em jornais uma sobre teatro e a outra sobre a vida cultural e política do estado. Obras sobre teatro publicadas: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1980 – Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. Tem a seguinte obra inédita em teatro: O Bequimão Prêmios: 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. Um dos principais ficcionistas maranhenses da atualidade, Ubiratan Teixeira é autor de obra contística que inclui algumas das melhores realizações desse gênero entre nós. Bibliografia: a) contos: Sol dos navegantes. São Luís: Func, 1975; Histórias de amar e morrer. São Luís: Sioge, 1978 (Prêmio Domingos Barbosa, da AML); Vela ao crucificado. São Luís: Sioge, 1979,Pessoas.Prêmio Cidade de São Luís, FUNC, 1998.


b) novelas: O banquete. São Luís: Sioge [1986]; A ilha. São Luís: Func, 1998 (Prêmio Graça Aranha, do XXIII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 1997). c) outros: Pequeno dicionário de teatro. São Luís: Dep. de Cultura do Estado, 1970 – ampliado e reeditado pelo Instituto GEIA em 2005 ; Educação artística para o 1º grau. São Luís: Secretaria de Educação, 1975; Caminho sem tempo (farsa tragédia musical). São Luís: Secma/Sioge, 1980 (Prêmio Artur Azevedo, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís-1979); Bento e o boi (teatro). São Luís: Sioge, 1987; O teatro que fiz; o espetáculo que vi (depoimento). São Luís: Edições AML, 1989; Búli-búli (história infantil). São Luís: Edições AML, 1992. Obras Publicadas243: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1975 – Sol dos Navegantes (contos). São Luís: FUNC. 1978 – Histórias de Amar e Morrer (contos). São Luís: SIOGE. 1979 – Vela ao Crucificado (novela). São Luís: SIOGE. 1980–Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Banquete (novela). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 1998 – Pessoas (conto). São Luís: FUNC. 1998 – A Ilha (novela). São Luís: FUNC. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. 2009 – Labirinto (romance). São Luís: Editorial SECMA. 2010 – Vela ao Crucificado (reedição acrescida de roteiro para teatro de Wilson Martins e para cinema de Frederico Machado. São Luís: SECMA. 2010 – Diário de Campo (crônicas). São Luís: Ética Editora. Tem as seguintes obras inéditas: O Bequimão (teatro), O Alçapão da Ilha (romance) e O Sônio (novela). Ao longo da sua carreira recebeu os prêmios: 1976 – Prêmio Academia Maranhense de Letras pela novela O Sônho. 1978 – Prêmio Domingos Barbosa da Academia Maranhense de Letras pelos contos Histórias de Amar e de Morrer. 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. 1997 – Prêmio Graça Aranha do XXIII Concurso Literário e Vida longa ao "Curta" - texto de Ubiratan Teixeira 244 "Passei o fin da ùltima semana respirando o ar menos contaminado dos Lençóis Maranhenses, no portal da região que é Barreirinhas - indo daqui pra là, bando de quizilhentos. Não fui mergulhar nas lagoas naturais nem me lambrecar de areia ou cavalgar de "toyota" pelas dunas (prática de outros lençóis de areia neste não permitida), mas participar do primeiro "Curta Lençóis", criação desse lírico desvairado que é Euclides Moreira Neto, Diretor do Departarnento de Assuntos Culturais - DAC - da Universidade Federal do Maranhão. Um rendez vous despido das tradicionais lantejoulas de brilho efêmero, aquele que faz o prato cheio dos paparazis da vida; neste presente, a fonte de luz brotava mesmo era da cabeça de cada participante que ancorou no encontro esbanjando idéias malinas de hlcidas linguagens, trazendo para 0 grupo ali reunido um Brasil que nao lula.

243 http://maranharte.blogspot.com.br/2011/10/pedra-preciosa-ubiratan-teixeira.html 244 Ubiratan Teixeira - O Estado do Maranhéao , página 6 do caderno Alternativo do dia 20 de junho de 2008. Disponível em http://delirioplaneta.blogspot.com.br/2008/06/vida-loga-ao-curta-ubiratan-teixeira.html


Nomes inteiramente desconhecidos para a imprensa do descartavel, personalidades que fazem a diferença e conferem sentido e dignidade à linguagem cinematogrâfica, criadores de fomo e fogao coma Marcio Cavalcante, May Waddington, Aurora Miranda, Euzébio Zloccowck, Mârcia Paraiso, Carlos Normando, Ana Paula, os mais diferentes e autênticos sotaques deste pais continental, dos pampas aos carrascais nordestino, responsáveis por esse magnífico encontro de pequenas obras-primas que nem o mais isento e frio analista pode deixar de vibrar e aplaudir, como o caso do delicado trisquinho de bom gosto que foi o A última gota, um minimal de um minuto e cinco segundos de duração sintetizando o que será a angùstia de todo um planeta quando o último pingo d'água se evaporar da face da terra. Por que instalar um evento dessa dimensão num sítio tão distante da última sala de projeção do planeta, onde a comunidade nunca viu um cinema, onde os jomais diários impressos nunca chegarn, afastada milhares de léguas da última banca de revistas, com apenas dois canais de televisão com imagem xué, devem questionar os ansiosos. É que Barreirinhas existe - e como! É como deve ter pensado corn lucidez o fofo diretor do DAC da Universidade Federal. E em termos universais tem o mesmo peso ecológico dos Alpes Suiços e das cataratas do Niágara ou dos Parques Temáticos do Kenya. Levando este lúcido grupo de realizadores até essa banda do litoral maranhense (hoje acuada por investidores sedentos de euros e dóIares), Euclides Moreira Neto tenta reunir preciosas parcerias que possarn discutir (de forma politicamente isenta e lúcida a região que já começou a ser violentada de diferentes maneiras; quer saber como e sentir uma beiradinha insignificante? Pela manhã não se toma mais café corn beiju, mas corn tapioca, a galinha caipira desapareceu das mesas de refeição, a "cozinha" vai se sulificando (se tem maranhensidade por que não haver sulificação?) 0 sorvete que se consome é da "Quibon", pouca gente sabe o que sarrabulho, rebuçado não existe mais, a linguagem perdendo o vocabulário nativo e até mesmo nosso bom sotaque - na terra onde o buriti abunda, você não encontra um doce de buriti decente e se quiser se deliciar corn um autêntico, legítimo e saboroso picolé de juçara, tem que vir na minha casa. Com tanta e poderosa manifestação nativa que certamente ainda persiste na comunidade e vizinha ao boi de Morros e ao de Axixá, o que foi trazido por um estabelecimento de ensino local para encerrarnento festivo do evento? Uma roda de capoeira. Instalando-se em Barreirinhas e enfocando questôes ambientais como as discutidas por Mârcio Sérgio no seu bem produzido Entre os lençois, Marilia de Laroche com um lùcido 0 Mundo em maus Lençóis, Weber Santana mostrando até onde vai nossa irracionalidade corn Rio ltapecuru, Aurora Miranda confirmando-se em Coraçâo Raiz, é possivel que o sistema ainda possa pora a mão na consciência (se é que exista algum político comprometido corn causas justas e tenham consciência racional) e repensar alguns dos prograrnas de palanque traçados à revelia do bom senso. Não estou entrando no mérito da discussão dos ecologistas que questionarn, com ira justa, a construçao da MA 402, talvez a rodovia mais confortável e mais bem conservada de toda a malha viária maranhense - mas o leitor já tentou enfiar um piercing infeccionado no lugar errado do seu corpo? Nem quero questionar o Ibama, impotente e acovardado diante da multidão de carteiradas de que deve ser vítima (ou mesmo pegando por baixo dos panos a sua "parte"), que se faz de cego e mouco diante das mansões que vão sendo construidas de forma inadequada às margens do rio Preguiças, as "avoadeiras" vomitando óleo desvairadamente na via fluvial (já não se consome o bom e saudável peixe da região, morto ou enxotado pela intervenção estranha), nem a inevitável instalação da plataforma de exploração de petróleo que a Petrobrâs fará dentro de mais algumas semanas para aproveitar a fartura do produto entranhado nas falésias por baixo da bacia sedimentar da região (eu trabalhava na Petrobrás nos anos 60 do século passado, e num certo fim de tarde, batendo corn os nós dos dedos sobre um mapa do litoral maranhense, mister Bus, chefe da Schluinberger no Maranhão me falava de modo profético: "Jomalista; dentro de poucos anos, quando o petróleo de em cima estiver se esgotando, os conterrâneos vão mudar a paisagem de vocês igualzinho como fizeram com a Venezuela." –


Não é agora que estão sacando que a bacia de Barreirinhas está afogada no ouro negro: Tio Sam já sabia, a empresa francesa de prospecção sísnica já sabia, os grandes cartéis sempre souberam. Donde devemos curtir Lençóis enquanto estiver curtível: inclusive corn o "Curta Lençóis", esta boa e saudável iniciativa desse brilhante produtor cultural que é Euclides Moreira Neto". Invocando o poeta245 Poeta e parceiro da Academia de Letras, José Sarney: quem vos fala não é o eleitor eternamente de plantão nem o operário de longas datas deste ofício sem relógio de ponto de sua empresa jornalística. Mas aquele parceiro de fins de tarde da Movelaria Guanabara onde nos encontrávamos para discutir arte em todos os gêneros e bulinar as operárias de Pedro Paiva; de onde saíamos nas badaladas das seis dos sinos da Sé e do Carmo, uns para os bares e outros para o aconchego da família, onde você era um destes. É o velho índio turrão, que de joelhos vem te implorar uma graça. Durante a celebração dos meus oitenta anos de vida, no aconchego daquela capela a cavaleiro no morro da Alemanha, abraçado pela família, mulher, filhos, netos, bisnetos e alguns dos vizinhos mais íntimos, no balanço do que fui e fiz concluí que não sou esse vencedor que muitos insistem propalar; escrevi alguns livros que não vendi, montei alguns espetáculos que raros viram, fui corpo, alma e engrenagem de um dos projetos de educação mais lúcido já montados neste país, que prometia colocar o Maranhão na vanguarda dos povos civilizados do planeta, mas isso incomodou os poderosos e mandaram a Televisão Educativa e de cambulhada o Centro Educacional do Maranhão, CEMA, para a lixeira mais infecta do planeta, considerando-se que hoje ninguém nem se lembra mais desse momento histórico de nossa cultura humanística. Sou um despido racional que ousa. Mesmo porque as pessoas estão me perguntando com muita insistência o que acho sobre o desmoronamento do nosso patrimônio arquitetônico. Não tem a lenda daquela criança que evitou a destruição da Holanda enfiando seu dedinho no buraco do dique? Pois é. É verdade que o outro, o bíblico, codinome David, tinha a benção de Deus quando enfrentou a arrogância belicosa de Golias, empunhando apenas uma frágil funda. Minha visão humanitária não chega nem na sola do chulé daquela criança holandesa e minha relação com o Criador está distante anos/luz da de Davi & o Senhor do Universo. Por isso, ouso pedir ao poeta; não ao Senador da República ou ao ex-presidente ou ex-governador ou ao arquiteto político todo poderoso deste país, mas ao homem de letras, ao poeta de rara sensibilidade, apreciador esmerado da boa arte: não permita, bom homem, que nossa cidade se dissolva, que sua rica arquitetura se transforme num monte de escombros, que sua memória cultural venha abaixo. Não importa a nós, pessoas comuns, mas de sensibilidade, que amamos apaixonadamente esta São Luís de históricos momentos, que os casarões do Centro Histórico e a riqueza cultural que eles encerram vire um documento cibernético, se transforme numa “semente digital” como está anunciando o Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Que essa preciosa ideia de nossa universidade Federal seja o instrumento que vá nos tornar ainda mais vivos em todos os recantos do planeta, e fora dele. Mas precisamos mesmo é que nosso Centro Histórico permaneça de pé em pedra e cal, com seus cheiros característicos, com o reflexo do por do sol e das noites de lua sobre os azulejos e nos beirais dos sobrados, as fachadas quatrocentonas deslumbrando os visitantes, nossas lendas descendo becos e subindo mirantes. Todos nós sabemos, do mais humilde gari ao empresário mais bem sucedido, que socorrer um desses tesouros arquitetônicos não é para qualquer conta bancária de mediano porte; mas, por outro lado, sabe-se por portas e travessas que existe uma ONG européia interessada em recuperar essas ruínas em troca de apenas três sobradões a escolha deles: o que querem fazer desse patrimônio? Só o tinhoso sabe. Mas penso que os três sobradões, no caso, terão o mesmo peso que os bois de piranha; três vacas magras em troca da manada inteira. Por outro lado, meu poeta, foi você mesmo que nos revelou, no seu artigo de domingo passado, 16, em “Crise, Brasil e Maranhão” que “no Maranhão, no balanço da economia dos estados, estamos numa fase extraordinária de crescimento e progresso”. E depois, sabemos que o agronegócio avança no Maranhão e que é público e notório que estamos caminhando muito bem para superar nossas 245 Fonte: Jornal: O Estado do Maranhão (21 de Outubro de 201) Hoje é dia de…Ubiratan Teixeira.


dificuldades econômicas. Ou é treta a instalação dos grandes projetos industriais em nosso Estado e o novo berço que a Petrobras abre no Itaqui é para ninar recursos? E depois, poeta, já pensou no tipo de julgamento que a história fará sobre nós? Que se essa derrocada acontecer justamente num período de tempo em que fomos reconhecidos pela UNESCO e que nosso bumba meu boi virou código de barra internacional? E no momento em que a obra de arte de Cosme Martins, Cordeiro e um punhados de outros excelentes artistas plásticos está sendo disputada pelo consumidor europeu e norte americano e outros dos nossos talentosos conterrâneos estão começando a integrar hora o coro de filarmônicas famosas na Polônia hora o elenco da maior companhia de dança do Ocidente, que é o Bolshoi de Moscou, ninguém nos perdoará. Ajude a nós em desespero poeta! Precisava estar presente à última reunião de nossa Academia de Letras para ter visto a cara desanimada e triste de seus confrades diante desse mural cruel que se desenha diante de todos nós. Sabemos que o que está acontecendo tem muito que ver com a maldição lançada por Vieira quando deixava o Maranhão em 1661 sob a pressão dos senhores de engenho: “Nessa terra que amaldiçoou não ficará pedra sobre pedra” – bradou o clérigo cuspindo fagulhas e segurando seu rosário de cima do batel que o conduziria de retorno a Portugal. Mas a estas alturas lembro ao poeta que esta cidade nunca se esquece de uma outra situação bem semelhante, quando um jovem governador, reuniu no Itaquí a nata dos Pais e Mães de Santo do Estado, nos anos 60 do século passado para negociar com Mãe Ina permissão para continuar a construção do porto; cujas estacas estariam prejudicando o teto do palácio da Entidade em razão do que ela estava sequestrando a alma dos mergulhadores. E que depois daquela desobriga magnífica os trabalhos seguiram com normalidade. Até hoje. Que a maldição de Vieira, meu poeta, não se concretize. As palavras do padre/profeta não devem ser mais poderosas que a ira da Entidade do mar; que você venceu. Reúna novamente seus orixás e solte sua palavra: que é poderosa. Mas não permita que o anunciado aconteça. O Poeta tem o poder.


WALDEMIRO ANTONIO BACELAR VIANA246

24 de julho de 1943 Bacharel em Direito pela Universidde Federal do Maranhão. Advogado, militou no foro de São Luis. Entre as funções públicas que já exerceu, citam-se as de Assessor de Relações Públicas da CAEMA; Assessor Jurídico da CIMPARN; Diretor da Divisão de Serviços patrimoniais da UFMA; Diretor Técnico da COMARCO; Diretor Administrativo e Financeiro da COHAB/MA; Assessor da Presidencia do ITERMA; Advogado do INEB; Advogado da Comissão Executora do Projeto RADAM-Brasil. De volta a São Luis em 1985, aqui exerceu as funções de Diretor Executivo da Fundação Sousandrade, 1986-87; Diretor do DAC/UFMA, 1987-88; Assessor do Reitor da UFMA, 198882. Autor de numerosas colaborações publicadas na imprensa de São Luis, notadamente crônicas e artigos, e dos romances Grauna em roça de Arros (1978), A questio0navel amoralidade de Apolonio Proeza (1990); e O Mau samaritano (1991). A Tara e A Toga (2008); Passarela do Centenário & Outros Perfis (2008); O Pulha Fictício (2013). MEU VERBO AMAR247 Meu verbo amar habita, com certeza, uma cidade à moda portuguesa, de traço desconforme, à velha Alfama, de ladeiras pojadas de Poesia, a ecoar, pelos chãos de cantaria, o crepitar da lusitana chama. Meu verbo amar lhe perambula os becos, onde, em passo nostálgico, ouve os ecos das vozes de poetas singulares, que, traduzindo um mesmo sentimento, soltaram o estro seu à voz do vento, no tributo de amor de seus cantares. Meu verbo amar percorre-lhe os sobrados, onde azulejos, d'Além-mar chegados, 246 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. http://www.waldemiroviana.net.br/index.html 247 http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_meu_verbo_amar.html


emouriscam fachadas tropicais - de tão arquitetônica beleza, em arabescos, tais, de tal leveza que assemelham fantásticos murais. E as ruas onde o verbo amar vadia? Ao Sol, ouve cantar a Cotovia, aspirando Alecrim entre Craveiros... Ouvir-lhe os nomes, lírica emoção: Afogados... Passeio... Viração... Inveja... Paz... Desterro... dos Barqueiros... Meu verbo amar tem pouso firme e certo: por mais longe que eu vá, em rumo incerto, se eu deixo São Luís do Maranhão uma enorme tristeza me desterra e domina, se insisto noutra terra: - meu verbo amar só vive no meu Chão! Meu caro Presidente Zé Sarney:248 Me há de perdoar Vossa Excelência que, a par do orgulho e júbilo espontâneo que eu sinto, ao ver brilhar um conterrâneo no sagrado mister da Presidência, e, com semblante calmo e pulso forte, nestes momentos de incerteza e medo que nos causa a doença do Tancredo, saber traçar deste Brasil o Norte - que eu venha, num absurdo destempero, desviando-o de tão lídimos serviços, trazê-lo desses altos compromissos ao minimismo do meu desespero. Veja bem, Presidente, não é cobrança - que quem amigo é não cobra amigo. É o miserê nefando que eu persigo, à cata de um momento de bonança. Por falta de um emprego, Presidente, que me permita pôr a vida em trilhos, e devolva o sorriso dos meus filhos e a própria vida torne sorridente. Proventos regulares, que permitam que este poeta não conspurque o nome, e que possa aplacar a imensa fome dos credores que em torno a si gravitam. Um regular e digno salário, que dê para educar minhas crianças e dê para aumentar as esperanças de enfrentar o vulcão inflacionário. Meu ilustre Confrade, é natural (pois bem sabe Vossência que no Estado 248 http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_carta_ao_ze.html


o salário é pequeno e limitado) que eu almeje um emprego federal. Não só pelo salário (embora pese extraordinariamente na balança). É bem mais por questão de segurança que eu preciso de um cargo que se preze. Eu adoro o aconchego da família. Mas – se for sua maior comodidade - sacrifico os parentes e a Cidade e me ponho às suas ordens em Brasília. Amo São Luís. E, ilhéu apaixonado, respirar estes ares me renova. Mas farei sonhos novos, vida nova e ficarei a postos, a seu lado. E sei que me será gratificante (caso Vossência aprove o meu concurso) seguir no rastro do Poeta, ao curso de seus gloriosos passos de Gigante. Mas... amo São Luís de tal maneira que, se pra cá viesse a indicação, eu lhe juro: teria a sensação de estar ganhando uma loteca inteira. Eis meu pedido, amigo Presidente. Não fora a precisão que me fulmina, não viria o poeta que esta assina perturbá-lo em momento tão premente. ........... E demonstre, Sarney, ao mundo inteiro (como à miuçalha crítica e circense) o que pode fazer um maranhense pelo bem deste povo brasileiro! Por toda a dimensão dessa amizade pintada em nossa raça a forte traço, receba um grande e admirado abraço. Cantar da cidade de ontem249 Ladeiras, praias, efusão e história destilam pelos poros da cidade, transmudando mistérios em cimento do progresso integrado na Saudade. Salvador, Salvador! Cantos de ontem, enobrecidos no calor caetano, dos gis gilbertos que te mostram faces do sempiterno e secular humano. Requebros dáfrica, os nagôs batuques ferem-se ao choque do cimento armado, 249 http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_cantar_da_cidade_de_ontem.html


que escraviza a pureza do horizonte dos saveiros e mestres do passado. O amado jorge te cantou bravuras que os amanhãs de hoje sepultaram, e teus jubiabás de glória e garra estupros do Progresso transformaram. Templos e pelourinhos do passado capitalizam patuás, bentinhos, e codaques, de gringo a tiracolo roubaram-te o mistério dos caminhos. O sangue de cimento e cal e ferro naufraga os santos todos de teus mares, e às prenhes praias das manhãs diárias assinam ponto escóis e proletares. Resta-te o Humano: o riso e o trio elétrico da quente e folgazã baianidade, que transmuda cimentos em mistério do progresso integrado na Saudade.


OUTROS ATENIENSES...


AMERICO GARIBALDI DE AZEVEDO250 1860 # 1900 Jornalista, comediógrafo e poeta. Obras: Um par de comendaodres (1895); Os milagres de São José de Ribamar (1899); O(s viúvos (1893)

250 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976.


ANTONIO AUGUSTO D´AGUIAR

TONICO MERCADOR251 nasceu em São Luis do Maranhão, em 1948. Viveu a infância e a adolescência no interior de Minas, estudou Direito no Rio, morou na Europa na década de 70. Entre 84 e 86 tornou-se um ativo colaborador do Suplemento Literário de Minas Gerais. Publicou: “Itinerário da Era do Rock” (poemas, Edições Dazibao, 1988); “Iluminuras (poemas, Edições Giordano”, 1989). “ PER VER SOS” foi editado pela Giordano Editorial – Folio, 1998, 500 exemplares. O livro apresenta poemas textuais e uma série de páginas ilustradas, sem nenhuma informação sobre a sua composição.

251 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/tonico_mercador.html


ANTONIO LISBOA CARVALHO DE MIRANDA252

Maranhense nascido em 5 de agosto de 1940. Poeta, escritor, dramaturgo e escultor, já publicou romances, poesias e peças para teatro (gênero pelo qual é conhecido lá fora) em vários países. Em 1967, por decisão própria, exilou-se para viver intensamente um período de efervescente agitação cultural na América Latina, dedicando-se à produção literária e artística. Sua criatividade foi reconhecida com prêmios pela crítica internacional (Medellin - Colômbia, San Juan de Puerto Rico). Miranda viveu e publicou em Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Bogotá (Colômbia) e Londres (Inglaterra). Tu País Está Feliz, peça de teatro estreada em 1971, foi representada em mais de 20 países e só publicada no Brasil em 1979. Sobre a infância, juventude e a carreira do acadêmico e poeta Antonio Miranda: LILIANE BERNARDES apresentou uma versão do trabalho sobre Altas Habilidades e Superdotação, centrada na biografia do poeta Antonio Miranda (com destaque para a infância e juventude do autor) na 20th WORLD CONFERENCE – Louisville, KY, USA 10-13 August 2013 - WORLD COUNCIL FOR GIFTED AND TALENTED CHILDRENS, cujo texto e imagens estão disponíveis no repositório Prezi: http://prezi.com/eh9i5hynaffp/untitled-prezi/ Doutor em Ciência da Comunicação (Universidade de São Paulo, 1987), fez mestrado em Biblioteconomia na Loughborough University of Technology, LUT, Inglaterra, 1975. Sua formação em Bibliotecologia é da Universidad Central de Venezuela, UCV, Venezuela, 1970. Professor e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, Brasil, ministra aulas e cursos por todo o Brasil e países ibero-americanos. Também é consultor em planejamento e arquitetura de Bibliotecas e Centros de Documentação. Organizador e primeiro Diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, de fev. 2007 a out. de 2011. Membro da Academia de Letras do Distrito Federal, foi colaborador de revistas e suplementos literários como o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e também o La Nación (Buenos Aires, Argentina) e Imagen (Caracas, Venezuela). POEMAS DE ANTONIO MIRANDA

A DE US Para Pedro Almodóvar Que seja com um machado. Prefiro uma lâmina aguda 252 http://www.antoniomiranda.com.br/sobreoautor/sobre_autor_index.html http://prezi.com/eh9i5hynaffp/untitled-prezi/


um simples martelo num golpe de misericórdia. Com palavras, não. Elas ferem muito mais penetram mais ainda mais fundo. Nada de desculpas de explicações. De um só golpe certeiro definitivo. Se não, saia em silêncio. Apague a luz. ... (Laura P.) O FIM COMO PRINCÍPIO No Princípio era a Metafísica e a ela volveremos como Anti-Matéria aqui na Terra como no Céu. Entretanto rezamos versículos e comeremos e cagaremos montículos que logo serão montanhas de terra sobre terra. Nós, degredados degradados filhos da terra — maçã, matéria malsã —, nós despossuídos postergados aos Sete Círculos do Inferno eterno —recapitulemos: antes do Juízo terrenal porque


mortal. Afinal, vamos em busca do Prejuízo pré do pré do pré e pontificaremos — escrituras, constituições partituras em marcha-a-ré em procissões em canto em profissões de fé e desencanto. Após, apenas pó. Haja alívio, sortilégio haja paz neste vale de promessas inválidas como crisálidas jamais libertárias. Neste mundo —vasto mundo fim-do-mundo imundo, no fundo do poço. Nós, infames filhos de Eva filhos-da-Égua primeva — vexames!!! — exilados condenados a este mundo vil maravilhoso!

maravilhoso aravilhos ravilho avilh vil hliva ohlivar sohlivara


osohlivarem Extraído de PERVERSOS. Brasília: Thesaurus, 2003 A C A SA E M QUE NA S C I Visito a casa em que nasci mas detenho-me no umbral sem penetrá-la, sem querer profaná-la: o irreconhecível! Outras pessoas é que vivem nela e as tantas reformas e ampliações desfiguraram-na, tornaram-na invisível: só resta uma janela!!! Onde morreu meu irmão Hélio? Em que desvão as visões de menino? E as acres lágrimas de minha mãe e os sonhos acanhados de destino? Havia até mesmo um pátio, e flores e haveria nele rede e abano, e um quintal. A porta sempre aberta, visitas, licores, algum peixe frito no fogão a lenha. Os avós estavam na parede, bisonhos. E o meu desatino, meus desvios Pressentidos antes que manifestos? E os rios de chuva, em correria descendo a rua para, logo, gemendo, buscarem o Mearim, que seguiria seu curso ao mar. E eu achava que também me levava, e eu seguia... Chácara Irecê, 14.01.2006


BENEDITO JOSÉ MARTINS COSTA FERREIRA253 27 de novembro de 1950 (em registro) / data correta é 27 de novembro de 1949. Sou Ludovicence (nascido na ilha de São Luis Capital do Estado do Maranhão) e aqui continuo a residir. Em realidade não resolvi (ser escritor), apenas aconteceu. Sempre gostei de leituras diversas, escrever, tendo começado a leitura com romances e lia muito Machado de Assis, José de Alencar, Augusto dos Anjos e quando comecei a achar que o que lia não estava mais a interessar, (vejam só), parei e passei já em tenra idade a escrever o que achava que deveria ser escrito pelo que vivia isto já com mais ou menos 08(oito) anos. Chamava de “rabiscos” e depois que lia achava sempre que eram bobagens. Parecia-me muito “meloso”, ou seja, palavras muito carinhosas e entendia que as pessoas não gostariam e sempre guardava os escritos pensando que um dia ainda faria meu livro. Estou com o meu primeiro livro pronto, escrito em duas mãos, pois foi surpresa descobrir que minha filha mais nova também tem o dom da escrita e do romantismo.O título do meu primeiro livro chama-se PEDAÇOS DE VIDA.... MEUS,TEUS. Estou a fazer leitura com calma, as correções e antes do final deste ano com toda a certeza farei o lançamento. É uma satisfação pessoal. Enquanto não chega o viver pela arte, que é do que escrevo, continuo como cooperativista, a fazer parte do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Maranhão, representando o cooperativismo maranhense junto à JUCEMA(Junta Comercial do Estado do Maranhão),como Conselheiro Vogal, palestrante e consultor cooperativista, Empresário do ramo de prestação de serviços, Contador. Recanto(www.recantodasletras.com.br/autores/bjferrado. Não, ainda não (tem livro publicado, o meu primeiro será ainda este ano e o título PEDAÇOS DE VIDA.....MEUS, TEUS.

253 AUER, Eliane Queiroz. ENTREVISTA -Poeta ludovicense -Benedito C.Ferreira. quarta-feira, 16 de janeiro de 2013. Entrevista cedida à Diretora de Divulgação da Academia Mateense de Letras -AMALETRAS- São Mateus –ES, Eliane Queiroz Auer, disponível em http://amaletrasm.blogspot.com.br/2013/01/entrevista-poeta-ludovicensebenedito.html, acessado em 16/05/2014.


CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES254

19 de janeiro de 1897 # Sorocaba, 9 de outubro de 1990

Filho de José Tito da Costa Nunes e Cândida Amélia da Costa Moura, fez os seus estudos primário e secundário em São Luís do Maranhão. Em 1920, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Exerceu clinica no Acre, ainda em tempos da ferrovia Madeira-Mamoré. Passou a residir no Estado de São Paulo, onde exerceu medicina no vilarejo de Bom Sucesso (hoje cidade de Paranapanema), em Angatuba, Tatuí, Santa Cruz do Rio Pardo, Fartura e Guaratinguetá, para, depois, definitivamente estabelecer-se na capital paulista, onde trabalhou até a aposentadoria no Instituto Médico Legal. Esse cargo de médico legista, obteve por concurso. Quando de sua passagem por Angatuba, Carlos Alberto Nunes conheceu a jovem e viúva professora Filomena Turelli (18971983), filha de um paciente, o italiano Francesco Turelli. Como ele, o pai de sua futura esposa apreciava o estudo de história e literatura clássica. Após namoro, uniram-se Carlos e Filomena definitivamente em casamento realizado na cidade de Tatuí. Segundo depoimento de seu cunhado Ulisses: "Dr. Carlos era vindo de família de inteligentíssimos, porém todos padecentes de tuberculose. Naqueles tempos (início do século XX), quem morava em São Luís preferia ir fazer compras em Portugal do que vir até ao Rio de Janeiro, isso facilitado pela rota ser mais curta. Assim, numa dessas viagens feitas de navio ao velho continente, quando do percurso de retorno ao Brasil, seu pai já estava muito debilitado, veio falecer dessa doença. O funeral ocorreu em alto mar". Filomena teria sido a maior incentivadora em suas primeiras tentativas como tradutor. O casal era bem considerado nos meios literários de São Paulo e, ao final de suas vidas, doaram uma rica obra homeriana à Academia Paulista de Letras. Ele também pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Carlos Alberto Nunes veio a falecer em Sorocaba no dia 9 de outubro de 1990. Seus restos mortais foram levados ao local onde estão os de sua esposa, no cemitério municipal de Angatuba. No túmulo consta a frase: "UIXERUNTQUE MIRA CONCORDIA PERMUTUAM CARITATEM ET IN UIGEM SE ANTEPONENDO". Não deixou filhos. Obra - Em 1938 publicou pela editora Elvino Pocai o poema épico nacional "Os Brasileidas". Graças ao poema foi convidado a preencher a vaga na cadeira número cinco da Academia Paulista de Letras e isso se concretizou no dia 8 de março de 1956. Ali ele também viria trabalhar no quadro adminstrativo. Júlio Dantas comentou certa vez: "O poeta é simplesmente extraordinário. Que dignidade de

expressão, que nobreza de imagens, que alto sentido do estilo épico, que vigor e que movimento nas narrativas, que conhecimento substancial da língua, que domínio absoluto do verso branco, quase sempre escultural". Um dos maiores legados deixados pelo escritor foi o trabalho como tradutor de idiomas. Traduziu do alemão Clavigo e Stella de Goethe (1949), Judith de Christian Friedrich Hebbel (1969), do inglês o teatro completo de Shakespeare (1955), do latim a Eneida de Virgílio (1975) e do grego antigo a Ilíada e a Odisseia (1962), bem como as obras de Platão[7] . Trata-se de enorme patrimônio deixado à cultura nacional brasileira. Redigiu também os dramas Estácio (1971) e Moema (1950), além da obra Os Brasileidas. 254 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_da_Costa_Nunes


Corpus Platonicum - A sua tradução do grego do Corpus Platonicum (1973-1980) para a língua portuguesa é obra de referência nas universidades brasileiras. Na edição utilizou os textos em grego de Burnett (Platonis Opera, Oxford, 1892-1906), Friderici Hermann (Opera, Firmin Didot, 1891), Hirschigii (Platonis Opera, Firmin Didot, 1891) e da Société de Belles Lettres (Paris, 1920). Ademais, empregou a paginação de Stephanus/Burnet ao texto, o que explicitou à época o maior rigor de sua tradução. A tradução dos diálogos platônicos, editada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), tinha 14 volumes. O primeiro volume era introdutório, chamava-se Marginália Platônica. Entre 1986-1988 houve uma reedição de três desses volumes. Entre 2000 e 2007, houve uma reedição de outros sete volumes da Obra, coordenada pelo sobrinho do tradutor, o filósofo Benedito Nunes. Atualmente, a editora da UFPA resolveu re-editar em 18 volumes, numa edição bilíngue (grego-português), os diálogos completos de Platão traduzidos por Carlos Alberto Nunes. Os primeiros 3 volumes são: O Banquete, Fédon (ou "Fedão") e Fedro. Ilíada e Odisseia - No caso da tradução da Ilíada e da Odisseia de Homero, Nunes conseguiu estabelecer uma rima inédita, feita diretamente a partir do grego antigo. Suas traduções de Homero são consideradas um paradigma tanto por filólogos quanto por helenistas no Brasil. No prefácio da edição da Ilíada, Nunes lembra da famosa questão homérica, comenta a posição de autores como Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, Christian Gottlob Heyne e Heinrich Pestalozzi (no livro: "Die Achilleis als Quelle der Ilias") e, por fim, rejeita a unidade "intransigente" dos poemas (Ilíada e Odisseia), defendendo a Escola Analítica e o seu método. Ali ele explica: “O método analítico, fazendo ressaltar os temas e aprofundando os motivos poéticos, permite-nos surpreender o poeta, ou os poetas, no próprio ato de sua criação”. Teatro Completo de Shakespeare - Em 1954 Nunes termina a tradução da obra de Shakespeare, originalmente publicada pela editora "Melhoramentos". O tradutor certamente não é o primeiro a traduzir Shakespeare, mas é o primeiro a traduzir a obra completa em português. Para tanto, utilizou na tradução da prosa e de versos decassílabos heróicos. Em 2008, a editora Agir publica, agora em três volumes reunidos, o Teatro Completo de Shakespeare, totalizando 1.912 páginas. Obras Os Brasileidas (1938 - Editora Elvino Pokai e após, pela Melhoramentos) Beckmann (edição particular) Estácio (edição particular) Adamastor ou O Naufrágio de Sepúlveda (edição particular) Clávigo (traduzido de Goethe) Ifigênia em Tauride (ano 1964 Goethe-Instituto Hans Staden) Tragédias (traduzido de Friedrich Hebbel - Editora Melhoramentos) Shakespeare (tradução da obra completa - Editora Melhoramentos) Ilíada (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Odisseia (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Diálogos de Platão (tradução em 14 volumes, Editora da Universidade do Pará - Universidade Federal do Pará): Marginália Platônica: volume introdutório à edição completa dos diálogos Volume 1-2: Apologia de Sócrates - Critão - Menão - Hípias Maior Volume 3-4: Protágoras - Górgias - O Banquete - Fedão (2a. Ed. Belém: EDUFPA, 2002 - ISBN 85-247-0216-8) Volume 5: Fedro - Cartas - o Primeiro Alcibíades Volume 6-7: A República (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2000 Volume 8: Parmênides - Filebo Volume 9: Teeteto - Crátilo (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2001 Volume 10: Sofista - Político - Apócrifos duvidosos Volume 11: Timeu - Crítias - O segundo Alcibíades - Hípias Menor Volume 12-13: Leis e Epínomis Virgílio (tradução) História da Academia Paulista de Letras.


EDUARDO BORGES255 EDUARDO BORGES OLIVEIRA Nasceu em São Luis do Maranhão. “...Eduardo Borges, neste seu livro de estréia, indica e nos revela um percurso que haverá de leválo à plena realização dos seus versos: frutos verbais, a que ele, diga-se de passagem, imprime uma cor pessoal, sobretudo nos poemas curtos, de uma contenção ancorada pela imagística que lhe é própria e de sugestiva força criadora.” Nauro Machado De. SUSSURROS. São Luis: Chama Maré, 2008. SEM DESTINO Hoje ainda volto. Vou ali, andar, ou não sei o quê. Talvez deslizar ante o imanente acaso. E minha alma tão longe do pensamento...

TESTAMENTO Preparem-me lentamente o funeral, com desdém de tudo que sou e nunca fui. Cavem com pouco esforço e economia um buraco torto num ninho de vermes para que seja rápida a refeição. Depois, esqueçam-me. ACUADO Gosto de meus óculos escuros — nunca os tive: são marcas, cicatrizes no rosto, nada mais. Imagino tê-los e escondo minha vergonha. Assim, vejo o mundo negro como a lápide que esconde o labirinto perdido, cheio de ossos indigentes (como eu). Encosto-me na parede e espero. Sou um corpo nu qu ninguém percebe.

NO CENTRO DE MIM ESTE SENTIMENTO eu sou esse eu sou isso um cansaço um aviso tanto oculto como omisso

255 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/eduardo_borges.html


PERTO DE MINHA CASA O carnaubal queimado Calor de árvores contorcidas Uma estrada de barro vermelho Casa de pau-a-pique Enxadas carregando braços Animais secos comendo o chão Meninos grávidos Pais endividados e amargos Mulheres sofridas e secas — nenhum espaço para o romantismo no sertão

À QUEDA Quedei, como muitos, e veio a solidão uma senhora aproveitadora (velha matreira sem olhos), alma escondida entre os móveis.


EUCLIDES FARIAS EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA 23 de março de 1846256 # Belém, 11 de outubro de 1911 ou 26 de março de 1837257 # Belém, 19 de outubro de 1911 Poeta, sobretudo humorista. Colaborador do Jornal Civilização, onde manteve a seção “Secas e Mecas”, sob o psudonimo de Joaquim de Albuquerque. Famosa a polemica que sustentou com Aluisio Azevedo, sobre O Mulato. Obras: Diversos (1875); Arabescos (1875). Cartas ao comprade Tiburcio (1880); Miscelanea (1882); CVartas a Pai Tobias (1883); Retratos a giz (1866); Brisas da Amazonia (1897); O tacacá (1908). O JABUTI O jabuti mais velho e já caduco, Que não pode mexer-se de canseira, É mais veloz ainda na carreira, Que o paquete chamado Pernambuco. Quem viaja uma vrz nesta maluco Promete não cair mais noutra asneira, A fim de não levar a vida inteira Como siri pra trás, sobre o tijuco. Como se fosse invaliudo perneta, Nunca pode fazer jornada franca, Pela carga, que leva, da muleta. Quem faz uma viagem nesta tranca, Quando msai do Pará com barba preta, Chega ao Maranhgão com a barba branca!

256 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976. 257 RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.


FRANCISCO GAUDENCIO SABBAS DA COSTA258 05 de dezembro de 1829 # outubro de 1874 Jornalista, poeta, romancista, teatrólogo. Uma das glorias do Maranhão, que tanto se elevou nomteatro, antes de Artur Azevedo.nUm dos fundadores do Semamnário Maranhense, em 1867, jornal onde publicou novelas apreciadas, folhetins e a história do Teatro são Luis. Colaborou no romance Casca d caneleira com o psudonimo de Galondom de Bivar. Seu drama o anjo do Mal foi elogiado por Joaquim Serra, que o considerou “uma boa nova para a literatura dramática brasileira, com diálogos bem traçados, muita imaginação e finura”. Em sua casa se realizavam saraus litero-musicais que marcaram época. O escritor não teve vida longa, tendo perecido ainda jovem, aos 45 anos. Sobre a sua genealogia e biografia pessoal apresento (PALHANO, 2012)259 um rápido perfil, começando pelo fato conhecido de ter desposado a soprano italiana Margarida Pinelli Sachero, prima-donna da Companhia Lírica Marinangelli, da Itália. Nessa época, meados do século XIX, vinham da Europa para São Luís muitas companhias líricas, óperas, entre outras, com seus sopranos, prima-donnas e barítonos. Margarida era casada com Melchior Sachero, tenor italiano que faleceu em Belém, vítima de febre amarela, após temporada em São Luís, cidade onde Margarida conhecera Sabbas e fizera amizades, vindo então ali se radicar em decorrência do matrimônio com o teatrólogo maranhense. Sabe-se pouco sobre a trajetória profissional de Sabbas da Costa, além de suas atividades artísticas nas áreas da literatura e do jornalismo. Outro fato conhecido é que foi conferente nas Alfândegas de São Luís e Belém e que pertencera ao tronco familiar do português João Gualberto da Costa, conforme César Marques Outra atividade de Sabbas da Costa, no campo empresarial, refere-se à sua participação em Exposições mercantis. É conhecido o fato de o Maranhão ter se destacado na realização de Exposições. As primeiras Exposições Universais foram as de Londres(1851 e 1862) e Paris(1855 e 1867). A Exposição do Maranhão realizou-se em 1871, denominada Festa Popular do Trabalho. O Patrono figura como um dos promotores da Exposição maranhense. A primeira Exposição Nacional só viria a acontecer em 1896. Sabbas integrou o primeiro Grupo Maranhense, cujo recorte temporal correspondeu ao período de 1832-1868, tendo o Romantismo como princípio estético. Dele fizeram parte os principais ícones da nova elite cultural local: Gonçalves Dias, Odorico Mendes, João Lisboa, Sotero dos Reis, Trajano Galvão, Belarmino de Matos, Sousândrade, Gentil Braga, Gomes de Sousa, Henriques Leal, César Marques, Candido Mendes, entre outros. Levantamentos, ainda incompletos, sobre a produção intelectual de Sabbas da Costa revelam as seguintes obras, tidas como as principais de sua lavra: (1)Francisco II ou a Liberdade na Itália, drama em 5 atos, 1861(1881); (2)Pedro V ou o Moço Velho, drama em 5 atos, 1862; (3)A BuenaDicha, comédia em 2 atos, prólogo e epílogo, 1862; (4)O Escritor Público, comédia em 1 ato, 1862; (5)Garibaldi ou o seu Primeiro Amor(6)O Barão de Oyapock, drama em 3 atos e prólogo, 1863; (7)Beckman, drama histórico em 7 atos, 1866; (8)Anjo do Mal, drama, 1867; (9)Os Bacharéis, comédia em 3 atos, 1870; (10)O Amor Fatal, (11)Rosina, romance; (12)Revolta, romance histórico; (13)Os Amigos, romance, em 25 capítulos; (14)Jovita, novela, em 3 capítulos; (15)Jacy A Lenda Maranhense, esboço de romance, em 14 capítulos. Outras obras publicadas em jornais da época também podem ser destacadas: (a)O Encontro; (b)Teatro de São Luís; (c)Como Nasce o Amor; (d)Simão Oceano; (e)A Madrugada; (f)Maria do Coração de Jesus; (g)O Baile; (h)O Dote; (i)O Adeus; (j)Não Brinques; (k)Sinfrônio; (l)O Homem do Mal; e (m)Encontro de Ronda com a Justiça; entre as que foram possível mapear. 258 RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001. 259 PALHANO, Raimundo. ELOGIO AO PATRONO – SABBAS DA COSTA E AS CIRCUNSTÂNCIAS DA HISTÓRIA SOCIAL DO MARANHÃO, Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 25, http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012. DISCURSO DE POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO.


A produção literária de sua autoria mais conhecida destaca as obras Jacy, a respeito do extermínio de índios e suas lutas contra os opressores, principalmente os proprietários rurais; o romance Jovita, sobre uma jovem cearense que se inscreve no antigo Batalhão dos Voluntários do Piauí; o romance Os Amigos, que alguns também classificam como crônicas, nas quais aborda a situação do comércio, das casas de alimentação, suas leituras preferidas e aspectos da vida cultural maranhense. Foi colaborador em A Casca da Caneleira, figurando, sob o pseudônimo de Golodron de Bivac, como um dos onze autores da obra, em 13 capítulos, todos os autores vinculados à escola Romântica, que também recorreram a pseudônimos. Trata-se de uma novela coletiva maranhense, ou, para os autores, uma escrita para puro divertimento, um passatempo literário. Joaquim Serra e Gentil Braga, figuras respeitadas como folhetinistas, escreveram sob os pseudônimos de Pietro de Castellamares e Flávio Reimar, respectivamente. Boa parte da obra do Patrono foi publicada pelo Semanário Maranhense, periódico que, nos seus 54 números, divulgou a cultura maranhense, tendo como colaboradores quadros como Antonio Henriques Leal, Celso Magalhães, César Marques, Gentil Homem Almeida Braga, Joaquim Sousândrade, Joaquim Serra, Pedro Nunes Leal, Teófilo Dias, e outros tantos, todos notabilizados pela contribuição literária e cultural deixada para a posteridade. Para parte da crítica Sabbas foi um dos primeiros a introduzir o interesse pela literatura folhetinesca, como vinha acontecendo no Rio de Janeiro. Por isso, alguns epígonos o classificam como o fundador da novelística na Província, pois os outros prosadores de ficção virão somente após ele, sendo Gonçalves Dias a única exceção, posto que desde 1842 trabalhava na produção da sua Memórias de Agapito. Não há, todavia consenso sobre isso. Críticos há que não enxergam em Sabbas tal pioneirismo, pois consideram menor o valor de sua obra literária no aludido gênero. O romance Os Amigos, com 25 capítulos e a novela Jovita, com apenas 3 capítulos, são as obras que levaram Sabbas à condição de fundador da novelística e do folhetim na Província. Publicou novelas, folhetins e história do Teatro São Luís, mesmo dividindo opiniões entre os que apreciavam a sua arte e os que não o faziam. O drama de sua autoria Anjo do Mal foi elogiado por Joaquim Serra. Quem escrevia peças então eram Joaquim Serra, Gentil Homem, Celso Magalhães, Euclides Faria, Artur e Aluísio Azevedo, João Afonso Nascimento. Isto em meados do século XIX. Deve-se destacar, por oportuno, que Sabbas da Costa era também um dos que escreviam no Jornal de Timon (1852-1855), de João Francisco Lisboa, publicado pela Tipografia de Belarmino de Matos. A marca destacada de sua biografia intelectual liga-se ao teatro. Foi um dos precursores do teatro maranhense, antes de Artur Azevedo. Sua obra, no campo da dramaturgia, é das mais copiosas, incluindo-se aqui o seu trabalho de crítico teatral e animador cultural. JACY260 O Brasil é grande, é rico, imenso! Encerra verdadeiras maravilhas em sua vastidão ainda inabitada; como incalculável riquezas no seu abundante solo! Tem o belo e o sublimeentretecido com o prodigioso dessa poesia virgem, santa, imaculada como sebe ser a da natiureza em geral. Aprimavera aqui é eterna! O sol surge e oculta-se, raras vezes sendo embaciado do seu brilho; tm luz radiante e clara; livre de nuvens pejadas de tempestade e nevoeiros da terra! O céu é límpido.; o azul é claro de um actinado diáfano, encantador.Não há céu mais belo, nem amis cheio de fulgores. [...]

260 Semanário Maranhense, Ed. De 1º de setembro de 1867 – Lenda maranhense – esboço de um romance, apresentação.


FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR261 1º de fevereiro de 1833 # Poeta, jornalista, político. Um dos festejados poetas do romantismo no Maranhão. Figurou com a ‘A virgem do meu amor’, no Parnaso maranhense. Seus versos cantantes, repassados de ternura, falam de ‘tranças caídas, bem meigas tristeza trazendo ns faces’, num ritmo que denota influencia de Gonçalves Dias. Safir viu-o como autor de versos ligeiros. Colaborou no Semanário Maranhense e atestam seu valor ‘estar no ceu’ e ‘Deus’. Mário Meirelres diz que trocou ‘poesia a pelo magistério’. ESTAR NO CÉU Qaudno vejo, alegre e lindo, Sem rigort, o rosto teu, Não sei o que sinto n´alma, E sonho que estou no céu! Se acaso, ó bela piedosa, Teu olhar cruzas com o meu, Todo em gozo me desfaço, E sonho que estou no céu! Se mais terna ainda te mostras, E dás-me um sorriso teu, Desmaio de amor, deliro, E sonho que estou no céu! Mas, quando na face ardente Recebes um beijo meu, Olha, meu bem, tu me matas; E sonho que estou no céu!

261 RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.


FRUTUOSO FERREIRA262 1846 (?) # 10 de outubro de 1910 Tinha o mesmo nome que o pai, o livreiro Francisco Frutuoso Ferreira. Fez as Humanidades no Liceu Maranhense. Celebatário, misantropo de poucas amizades, tudo isso serviu para passar mais ou menos anônimo como poeta durante a vida. Não publicou livro em vida, desenvolvendo proveitosa e significativa atividade jornalística, época em que vieram à luz alguns de seus poemas. SOUSA ANDRADE263 Erguem brumas do mar do etéreo brilhantismo, Num faustoso Ocidente umas exéquias grandes... Loira tarde no céu. Desse cristal dos Andes Rola um Sol a cair nas vastidões do Abismo. E na augusta amplidão daquela tarde enorme Surge um vulto de azul de esplêndida safira: É a bela Guimarães... A Pátria que delira Na opala sideral do Ocaso que ali dorme. É que entra nos Panteons da cérula turquesa, O Gênio imorredoiro, escultural do Guesa, O Gênio que entre nós chamou-se Sousa Andrade. Como as que ele sonhara eternamente belas, Possam novas coroas desfolhar-lhe estrelas, Por sobre a noite azúlea da ampla Eternidade. (De Jornal Pacotilha -São Luís em 20-4-1902) 15 DE NOVEMBRO Repúblicas dos céus tão belas, tão faustosas... Oh! Quem vos concebera as formas grandiosas? - Quem fora esse Escultor dos vossos alabastros E o Fáon que acendera os fogos desses astros? Sereias ou vestais de uns esplendores lácteos, Em meio às amplidões de aéneos céus, eufráteus, Por entre o oiro e o azul de siderais Elêusis, Vossos seios, em flor, de apocalípticos deuses, Entre a pompa a escander, dos arrebóis ardentes E o deserto e o negror das noites arquialgentes: - Quem vos alcandorara as negridões nevosas, Repúblicas dos Céus... Valquírias... Nebulosas? ... Minhalma é vaga e loira assim como as Quimeras, Eu ouço a meIo pé ia ardente das esferas, Eu sigo no Infinito os grupos das visões .................................................................. Eu sou como Aassvero, eu venho de outras plaga Remotas, de outros céus azúleos como as vagas, Exausto e já cansado atrás das harmonias, Deixai banhar-me aí ao sol das Utopias, Nas vossas regiões adúleas, peregrinas, 262 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 263 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/frutuoso_ferreira.html


Quero beber a luz das vastidões divinas, Repúblicas do Azul... Valquírias... Nebulosas... (De Jornal Pacotilha -São Luís em j15-11-1904) NOITE BRAHMA Corre a Noite de Brahma... A Eternidade avulta... Aí junto à Porta de Oiro o grande Arcanjo exulta Na voragem sem fim dos êxtases deiformes; Estruge o vendaval dos céus pelagiformes E o Arcanjo vencedor enfrenta os temporais, Cheio desse esplendor das glórias eternais E Ele vibra da epopéia azul dos cataclismas, Nas lavas colossais dos Etnas das cismas. Corre a Noite de Brahma... O espírito da Flor Desdobra um madrigal - a apoteose do Amor, O Amor - Guerreiro audaz - Sol de inefável luz, Que se tornara um Deus, assim como Jesus: Pompeiam céus, a flux, chispantes de arrebóis E a Noite, em flor de Brahma acorda os seus Heróis; Este que vem fulgindo assim como os cristais, É um daqueles milhões de assinalados tais. (Jornal Verdade e Paz/São Luís/ 15-12-1906, completado nas edições de 21 de janeiro e 20 de abril de 1907.)


HUGO VIEIRA LEAL264 27 de julho de 1857 # Rio de Janeiro, 16 de março de 1893 Poeta, romancista e jornalista. Em Portugal colaborou CNA Revista dos estudos livres e na Vanguarda. Estudou em Paris e conheceu diversos países europeus, dentre eles Suiça, Itália, e Espanha. Fundou em Portugal o Barreto Frigio. Foi redfator da Gazeta da Tarde, do Rio de janeiro, e da Gazeta de Barbacena. Obras: Rosa branca (1874); Laurita (1876); Rosas de maio (1878); Lucrezia (1823); Camões e o século XIX (1887); deixou muitos trabalhos inéditos, entre eles uma História da literatura portuguesa e brasileira

264 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976.


INÁCIO RAPOSO265

(1875 - 1944) Poeta e jornalista e desenhista maranhense, formou-se em arquitetura pela antiga Academia Nacional de Belas-Artes. PAQUITA E COTINHA Eu tive uma irmãzinha, a que morreu criança, Mais loira e mais gentil que as loiras alvoradas; Nos olhos infantis a luz serena e mansa Tinha o brilho ideal das brancas madrugadas. E morreu a sorrir. Na lousa em que descansa Vão gemer, à tardinha, as rolas concentradas... Viveu como o brilhar da estrela da esperança; Morreu como o rubor das rosas perfumadas. Foi-se, alada, a primeira e resta-me a segunda, Alegre rapariga, olímpica, jocunda, Como os sonhos do amor e os risos da bonança. Qual será mais feliz? Não sei como decida... Se a virgem donairosa a despertar na vida, Se o loiro querubim que adormeceu criança.

A PÉROLA Nasci no mar. Num côncavo rosado, Serena apareci; Mas finou-se a idéia do passado, Da concha em que nasci... Sobre o nevado colo em que repousa, Longe do frio mar, Descubro a cada instante um novo gozo Que me leva a sonhar. Prefiro, assim, viver no colo dela, Todo feito de amor, Mas que não tem penhasco, nem procela, Nem ríspido furor! Tal murmurava a pérola sentida, 265 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/inacio_raposo.html


Quando uma gota cai, Uma lágrima triste como a vida, Sobre o colo de Aglae! - Líquida pérola, o que vens sozinha Neste mundo buscar? Perguntava-lhe a pérola que tinha Visto a jovem chorar. - Venho do amor, das tormentosas mágoas De um triste coração, Como surgiste, Ó pérola! das águas, Das águas da amplidão. - Sonha em meio seio, e transformada em breve, Qual Niobe a carpir, Numa pedra mais fria do que a neve, Poderás me sorrir... - Não n'o farei!... Mais tarde convertida Num ligeiro vapor, Irei, nas nuvens, procurando a vida, No espaço, recompor. Como és feliz! Em noite constelada, Sob o noturno véu, Brilharás como a estrela da alvorada Que cintila no céu. Responde a gota: - Invejo-te a ventura, Ventura que me atrai: Ficarás a dormir serena e pura Sobre o colo de Aglae!...

TÂNTALOS Não poderei ter de certo os olhos sempre enxutos Quem sofre qual, no Erebo, o Tântalo maldito: Sedento - vê debalde um córrego infinito; Faminto - vê debalde os floridos produtos!... Ante um castigo tal, que apiedava os brutos Leve talvez pareça um bárbaro delito!... Foge sempre a torrente ao mísero precito E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos! Há Tântalos também na vida transitória: Querem estes a lympha e os pomos do talento, E morrem no hospital para viver na história. Desditosos que são... no malogrado intento!... Longe de haverem ganho os loiros da vitória, Encontram no sepulcro o eterno esquecimento! (Cânticos, 1910)


JOSÉ JOAQUIM FERREIRA DO VALE266 15 de julho de 1823 # Genebra, 03 de fevereiro de 1863 Jornalista, poeta, orador, político, diplomta: cônsul geral do Brasil na Suiça, Visconde do Desterro. Formado em Ciencias Jurídicas e Sociais, é apontado como um espírito eminentemente culto, de ilustração variadíssima, jornalista brilhante. Seus estudos têm acentuada tendência filosófica: Canto do Indio brasileiro, e Prematura morte do príncipe Pedro mAfonhso. MARANHÃO São Luís! É esse o nome Da minha terra natal No mundo não tem igual Minha cidade gentil: Das águas nasce risonha Sempre alegre, e vicejante, A quem saúda o navegante Do seio de um mar de anil. É uma Ilha formosa De mansas águas cercada, De palmeiras é plantada Por toda a sua extensão: A natureza espontânea Nos dá os frutos da terra Mesmo por si ela gera Riqueza da Criação. A brisa é la perfumada, E sempre e sempre constante, E nossa extremosa amante Que nunca nos quer deixar: Festeja o nascer d´aurora, Os raios do sol modera, Da natureza tempera O rigor canicular. Aaurora quando desponta Vem cercada de primores: E harmoniosos cantores Festejam seu despontar; Tudo goza alma alegria Nessa terra abençoada. Quando a manhã desejada No mundo se vem mostrar O Progresso, 16/04/1850

266 RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.


LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO267 19 de dezembro de 1937 Estudou no Colegio São Luis Dedicou-se desde cedo ao jornalismo, tendo trabalhado ainda em Teresina, atuando como radialista. Em 1967, publicou Letra Fria / Sentir, livro de poesia, integrando a geração 60, posterior à de Nauro Machado e contemporânea de Déo Silva e de José Maria Nascimento. Em 1987, ao completar 50 anos de idade, publicou Os Filhos de Dom Quixote, e um texto dramatúrgico, Maslenitsa, instituído nesse ano pela Secretaria de Cultura do Maranhão. Trabalhou como Assessor de Comunicação da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão e recebeu premiação, em 1970, em concurso realizado pela Academia Maranhense de Letras. Mora em São Luís. Os tempos268 Tinha uma porção de anjos segurando o algodão daquela nuvem branca; e o que pintou de azul o fundo, manchou de cinza o fim dos nossos olhos e nos beijamos. Tinha um lago calmo e o vento sussurrava malícias, o peixe prata luar de agosto saltou e nos amamos. Tinha o fogo dos infernos, um Lucifer danado e homens se matando; eu tinha lágrimas nos olhos e tu também choravas quando nos deixamos. Ironia Lúcida Agora é tempo de sorrir e ser de novo o garoto das compras e dos recados Agora é tempo de fingir que nada valem os eternos fundilhos remendados. Agora é tempo de esquecer as lágrimas - engoli-las de uma vez! – e voltar à surdez da ignorância, pois já me afogo em tanta ironia, pois não suporto ter-me em consciência e já não quero amar-me em lucidez.

267 SOUSA, Paulo Melo. In ALÇA DE MIRA, ,11 de julho de 2008, Suplemento JP Turismo, disponível em http://jornalpequeno.com.br/edicao/2008/07/11/alca-de-mira-150/ , acessado em 13/05/2014. BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 268 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lauro_leite.html


MANOEL NUNES PEREIRA269

NUNES PEREIRA 1892 # 1985 Nascido no Estado do Maranhão, foi um antropólogo e ictiólogo que viveu grande parte de sua vida em Manaus, e, posteriormente, na cidade do Rio de Janeiro, tendo viajado seguidamente ao interior da Amazônia. Foi, ao lado de escritores como José Chevalier, Péricles de Moraes e Benjamin Lima , um dos fundadores da Academia Amazonense de Letras. Nunes Pereira foi veterinário do Ministério da Agricultura até a sua aposentadoria e teve alguns de seus opúsculos científicos editados pela Div. de Caça e Pesca do M.A. (O pirarucu, A tartaruga verdadeira do Amazonas e O peixe-boi da Amazônia, tendo sido este último artigo científico publicado, em 1944, no Boletim do Ministério da Agricultura). Escreveu diversos livros, sendo a sua obra mais conhecida Moronguetá - um decameron indígena, conjunto monumental de pesquisas, apresentado por Thiago de Mello (dois tomos), onde constam reproduções de páginas de cartas a Nunes Pereira emanadas de cientistas sociais como Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss. Com esses estudiosos o antropólogo maranhense-amazonense travou contato pessoal, quando da passagem deles pelo Brasil. Carlos Drummond de Andrade escreveu, no Jornal do Brasil, uma crônica sobre o autor de Os índios maués, um dos primeiros pesquisadores mestiços brasileiros - era cafuzo, descendente de índios, negros e brancos - a obter reconhecimento científico internacional. Em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, existe uma rua Nunes Pereira. No centenário de seu nascimento foi inaugurada, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, uma placa de bronze cuja confecção foi providenciada pelo último secretário do cientista, o pesquisador ítalobrasileiro Savério Roppa, sócio-correspondente do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas). Na ocasião, Savério Roppa proferiu um discurso ao grupo de intelectuais, em sua maioria amazonenses, presentes, como Ulysses Bittencourt, da Academia Amazonense de Letras e cronista de A Crítica, de Manaus, Cosme Alves Neto, então conservador da Cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro, além de membros da diretoria do Jardim Botânico. Posteriormente, a administração superior do Jardim Botânico conferiu a denominação Nunes Pereira à aléa onde se situa a placa. Foi casado com a Sra. Maria Nunes Pereira, de quem enviuvou quando estava com mais de 80 anos de idade, tendo o casal deixado numerosa prole, entre filhos, netos e bisnetos. Obras do autor A Casa das Minas: contribuição ao estudo das sobrevivências do culto dos voduns, do panteão Daomeano, no Estado do Maranhão. Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947 (2.ed Petrópolis: Vozes, Rio de Janeiro, 1979)

269 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Nunes_Pereira CORRÊA, Rossi. O MODERNIMSO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989.


Moronguetá - Um Decameron Indígena. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 2 vols. (Coleção Retratos do Brasil, nº 50) Panorama da alimentação indígena: comidas, bebidas e tóxicos na Amazônia Brasileira. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1974 Os índios maués. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954 Curt Nimuendaju, síntese de uma vida e de uma obra, 1946

O sahiré e o marabaixo: tradições da Amazônia. 2ª ed. Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Ed. Massangana, 1989 (Série Estudos e Pesquisa, nº 64). Apresentação de Savério Roppa A Ilha de Marajó: estudo econômico-social. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1956 (Série Estudos Brasileiros, n. 8) Barbosa Rodrigues: um naturalista brasileiro na Amazônia O pirarucu. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Divisão de Caça e Pesca (Opúsculo) A tartaruga verdadeira do Amazonas (resumo informativo). Reedição. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Divisão de Caça e Pesca, 1954 (Opúsculo) ["Este livreto [A tartaruga verdadeira do Amazonas] de 17 páginas foi elaborado pelo veterinário Nunes Pereira e trata-se uma obra bastante interessante e extremamente difícil de ser encontrada nas bibliotecas e acervos públicos".


RO NAL DO CO S T A FE RNA NDE S 270, 271

1952 É de São Luís, nascido aqui em 1952, tendo se transferido para o Rio de Janeiro ainda criança. Em 1983, foi viver em Brasília e, de 1985 a 1995, morou na Venezuela, dirigindo, naquele país, o Centro de Estudos Brasileiros. A partir de 1995, esteve à frente da FUNARTE - Fundação Nacional de Arte, em Brasília, permanecendo no cargo até 2003. Atualmente, trabalha no Conselho Editorial do Senado Federal. Ficcionista, ensaísta e poeta, é Doutor em Literatura pela UnB. Na premiada carreira literária, ganhou o Prêmio Casas de las Américas com o romance O Morto Solidário, traduzido e publicado em Havana, Cuba, pela mesma Casa de las Américas e, no Brasil, pela editora Revan. Ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA e o Guimarães Rosa. Na área do ensaio, publicou em 1996, pela editora Sette Letras, o livro O Narrador do romance, prêmio Austreségilo de Athayde, da UBE-RJ. No final de 97, Ronaldo publicou o romance Concerto para flauta e martelo, pela editora Revan, que foi finalista do prêmio Jabuti-98. No ano de 1998, saiu o livro de poesiasTerratreme livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Seus últimos livros de poesia ão: Terratreme (1998), Andarilho (2000) e Eterno Passageiro (2004). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 sai seu romance Um homem é muito pouco. Seu mais recente livro é Memória dos Porcos, de 2012. A IMAGINAÇÃO DOS BASTARDOS Como serão os anjos na velhice? Aqui onde a queda é ascensão 270http://www.guesaerrante.com.br/2007/6/26/Pagina890.htm http://ronaldocostafernandes.blogspot.com.br/ http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/ronaldo_costa_fernandes.html http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet263.htm http://blog.7letras.com.br/2010/06/maquina-das-maos-ganha-premio-abl-de.html http://maranharte.blogspot.com.br/2012/08/opiniao-de-pedra-jomar-moraes_21.html http://baque-blogdogeraldolima.blogspot.com.br/2010/04/ronaldo-costa-fernandes-escritor_10.html http://www.yasni.com.br/costa+fernandes/busca+pessoas/ronaldo 271 http://www.jornaldepoesia.jor.br/rcfernandes.html#bio http://www.mallarmargens.com/2013/11/5-poemas-de-ronaldo-costa-fernandes.html http://www.andregiusti.com.br/site/ronaldo-costa-fernandes-outro-grande-poeta-maranhense/


não duvido da existência do hálito de Deus. Somos as raízes mortas cheirando a ferro, respirando o incenso do monóxido de carbono. As putas recolhem entre as pernas a espécie sutil de réptil seco de Johntex: o pânico feito de elástico, músculo e noite. VESTIDO DE FERRO Tudo teu é de ferro: bolsa, armário e escova de dente. Teu vestido de betume brilha um céu de gesso e espessura. Os sapatos caminham léguas de carmim. As lixas de unha limam a aspereza dos amores fugidios, estes amores de lama e rosa, que enferrujam na lixa no tempo. Os carretéis de linha não bordam a vida, é de náilon tua costura do medo. E, por fim, teus perfumes amargam a beleza fescenina de nunca atingir o clímax ou preferir a rigidez do aroma.

ANIMAL BARBADO Este animal que se rasura como quem raspa a orelha do porco para a feijoada de fim de semana, este animal feroz e matutino, como um auto-retrato, como seus olhos 3 x 4, observa a paisagem da janela e do outro lado do vidro está ele mesmo, é ele a paisagem que envelhece cada vez que a freqüenta. Este homem ao espelho, gilete de martírios e angústias violáceas, barbeia seu minuto e sua morte, exasperada e afiada servidão, a consciência espumosa da pequena guilhotina.

OUTUBRO Odeio as geladeiras que conservam corpos esquartejados;


as agendas que escrevem à mão o futuro. Os cães daqui de casa latem para o sol como os lobos para a lua. Não são duas faces da mesma moeda, mas as duas moedas da mesma face da vida. Quero ser uno e dois, aprender com a disciplina dos becos, lá onde a saída é a entrada. Quero ser estático e andarilho, aprender com a disciplina dos rios que se movem sem sair do lugar. O DESERTO E vai o deserto comendo terra fértil alargando sua plantação de grãos, seu pasto de areia, sua colonização de secos, seu plantio de nada. Na vastidão igual do arenoso, erosão das águas e do vento, o deserto — qual mercúrio no rio — vai tomando o espírito e cobre de areia tudo: os móveis, a louça, as roupas — bate nas janelas com seu ô de casa farinheiro e, por fim, atinge o ânimo que se esmirra, granula-se, erode a avança a cada dia dois palmos de vazio que é a medida do pasmo e o metro dos absenteístas.

MECANICISMO Oh, as lavouras mecânicas, fábricas de trigos, usinas de legumes, máquinas de frutas, a lavoura artificial dos que plantam como que rega um lírio de plástico. AFOGADO O mar, em sua ressaca, vive em eterno vômito. Cheio de algas e fantasia devolve o que não lhe pertence. E guarda em si o peixe e o estômago embrulhado e não devolve o navio naufragado porque as embarcações são árvores de ferro


que a tragédia plantou. Em seus intestinos de água em ebulição só o náufrago ele rejeita porque o náufrago é uma outra caricatura mórbida de um peixe sem barbatana de um peixe sem guelra o afogado é um corpo estranho o afogado é, mesmo morto, a presen9a da terra na digestão salgada. Tudo cabe no estômago de água do oceano, mas feroz e decidido se recusa a digerir o que é da terra e não pertence ao desvario piscoso das mares. Assim também devolvo o afogado que não pertence á aquosa e uterina imaginação de ânfora plena de liquens e aflições de salitre nada que não faca parte do inconsciente marítimo dos meus prazeres submersos. AS PUTAS

E Deus disse e ganharás a vida com o suor do teu rosto. Depois ficou pensativo e concluiu: não bem com o suor do rosto, mas com outros suores que mais tarde entenderás. Suores e gemidos de tal sorte excretados não do fundo da vagina mas dos grandes lábios que nada pronunciam lá onde nada se ouve como o eco do vazio ou a cascata de um rio seco. CANTO DO CASTIGO Há dias que não consigo aprender minha pouca matéria. Só tenho um ano repetente, oclusivo, recorrente: o ano em que me reprovei. Já fui mais quando tinha menos corpo. Se o corpo se alonga, quem negará que a mente ganha gordura, extensão e músculos? Não soube me podar, meus braços já não germinam. Não tenho mais primaveras, conto apenas o castigo. Sou o último da sala vazia. Escrever no quadro cada vez mais negro: Meu erro é um zero ao quadrado. Quando me fui buscar na escola,


não havia mais menino. Um dia, quem sabe, aprenderei a matemática das horas, a geografia cheia de acidentes do meu corpo, e a geometria da mente fazendo do que sonhei e do que sou retas que nunca se encontraram. PROFISSÕES DO TEMPO Descobri cedo as profissões do tempo. De cara percebi ser ele ferreiro e na chapa quente molda-lhe o homem até tomá-lo frio e erro derradeiro. No mármore que usa como escultor, por um lado desenha a vida a lápis, esboço rude que pode desaparecer, talha enfim brusca a inesperada lápide. Calculei quem sabe ser marceneiro que gastasse as horas no entalhe, enquanto cupim e traça esculpissem na madeira o vazio que o bicho dá-lhe.


SALOMÃO ROVEDO272

1942 Nasceu em 1942, com formação cultural em São Luis (MA), reside no Rio de Janeiro. Escritor, participou dos movimentos culturais nas décadas 60/70/80, tempos do mimeógrafo, das bancas na Cinelândia, das manifestações em teatros, bares, praias e espaços públicos. Textos publicados em: Abertura Poética (Antologia), Editora CS, RJ, 1975; Tributo (Poesia)-Ed. do A., RJ, 1980; 12 Poetas Alternativos (Antologia), Trotte, RJ, 1981; Chuva Fina (Antologia), Trotte, RJ, 1982; Folguedos (Poesia/Folclore), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed.dos AA, RJ, 1983; Erótica (Poesia), c/Xilogravuras de Marcelo Soares-Ed. dos AA, RJ, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia)-Ed. do A., RJ, 1987. Além de muitos e-books disponíveis na Internet. Publicou folhetos de cordel com o pseudônimo de Sá de João Pessoa; editou o jornalzinho de poesia Poe/r/ta.

Amor a São Luís e Ódio (Um reencontro apaixonado) Rio de Janeiro 2007 Parte I CANTARES DO ILHÉU (Atracação, Encantamento, Feitiço) 5. Reconheci a mesma janela que teu rosto emoldurava: era na Rua da Paz, quando de manhã passava. Tua expressão arredia, quase louco me deixava. Tua boca carnuda pedia, eu mil beijos implorava. Os cabelos negros luzidios, 272 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/salomao_rovedo.html


o vento leve esvoaçava. Eu diminuía os passos, volta e meia até parava. Azulejo azul e branco, o portal da cor mais alva. Teu rosto pálido sorria, e louco me atarantava. Gardênia, Gardênia, Gardênia, teu nome mudo eu rezava... (Hoje o quadro está vazio, nem vi que o tempo passava...) 6. A chuva quando cai em São Luís é farta, ancha, definitiva, fatal.. 11. O cheiro de suor e do peixe seco e do peixe frito. O aroma picante do sururu ao leite-de-coco. O sal ardido do camarão seco com farinha d’água. O ardoroso sabor da pimenta de cheiro moída na calda do peixe cosido. A leveza e o azedinho do cuxá. A doçura da ata e da sapota. O agridoce bacuri e a pretinha juçara. O doce de buriti, a garapa, o mel de cana. O paladar adstringente, único, da tiquira. A singular coloração da pele, dos cabelos, das roxas de São Luís. O ardor, o sabor, a doçura, a saliva de mel da mulher... No mercado da Praia Grande, Ai de quem perder os sentidos!

24. Avermelhar à tarde, Quando o sol já posto, Não mais a pele arde, Não mais arde o rosto. Avermelhar o oposto, Quando o sol, à tarde, Não mais tosta o rosto, Não mais a face arde.


Já posto a avermelhar, Sem arder, sem queimar, Nem mais quando o sol, À tarde avermelhar, Sem pele arder, tostar, Na tarde, na Rua do Sol. Parte II ROMANCEIRO INSULAR (Travessia, Amor, Adeus) 2. Na Rua da Paz descia o bonde com a leve velocidade do vento. Era ali naquela rua bem aonde se me esvaía todo o pensamento. A veneziana branca esconde, a musa que já era meu tormento. A meu olhar ousado não responde, sem sequer mostrar arrependimento. Coração tonitruante de desejo (era isso mesmo o que ocorria) no corredor úmido do casarão. Hoje nem a musa nem o bonde vejo, aquele que a Rua da Paz descia, com a velocidade bruta da paixão... 8. A vida escorreita, sem qualquer cicatriz, pela Rua do Giz escorre, estreita. Pele de verniz: eis do que é feita a alma reeleita, morta por um triz. A paz que se deita, feito meretriz, a tudo afeita, pouco faz feliz a alma liqüefeita, viva por um triz. 13.


Eros, encachaçado, Leve se esgueira, À margem, na beira, Do mangue alagado. Eva, mel, brejeira, Ao sátiro alado, Oferece o lado Da sua esteira. Tango ou bolero, Ouve-se ao longe, Ao som do diaulo. Eis o outro clero: O perdido monge Vaga por João Paulo.

17. São Luís, São Luís, o que dizer de ti? De tantos lugares cativo, doutros me compadeci. Hoje que a ti regresso já tenho ciúmes daí. Noutras cidades vaguei, muita terra e pó bati. Lugares que pernoitei, avenidas que percorri. De tantas me amasiei, outras, mil traições sofri. Nenhuma, porém, mais bela, as emoções que senti, quando te reecontrei. Ruas que outrora corri, ninfas adulterinas amei, paixões que não preenchi. esconfortos do coração, até que em vão me perdi. São Luís, São Luís, — O que será de mim sem ti?


WELITON CARVALHO273

Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Maranhão. Especialista, Mestre e Doutor em Direito Público. Já publicou os seguintes livros de poesia: Travessia sem fim [São Luís (MA): Edição do autor, 1999]. Em seguida publicou em São Luís, todos pela Editora Sotaque Norte, os seguintes títulos: Descobrimento do explícito (2000), Sustos do silêncio (2001), Tempo em conserva (2006) e Geometria do Lúdico (2008). Publicou em 2009, o livro infantil: Pés no chão, cabeça nas nuvens. Imperatriz (MA): Editora Ática, 2009. NOTURNO Silêncio. Façamos silêncio: um mergulho profundo no silêncio infinito. Silêncio. Façamos silêncio: deixemos apenas o vento varrer, devagar, as folhas. Silêncio. Façamos silêncio: deixemos apenas os lagos e manhãs em mansidão. Silêncio. Façamos silêncio: tentemos ir além do silêncio e talvez encontremos Chopin. CARTA EM RESPOSTA A RILKE Não seria impossível deixar de escrever ou ler poesia Mas como suportar o sol, o mar, as nuvens e as estrelas como sendo apenas o sol, o mar, as nuvens e as estrelas? O QUE IMPORTA O MUNDO? São sonhos, lembranças, manhãs e tardes que se apagam. Somente as coisas fluidas morrem: o beijo, o abraço, um ingênuo roçar de mãos, o exato instante do olhar apaixonado pela vida. Mas as coisas concretas não morrem: o mundo continua a girar (...) E o que me importa? A morte é uma dor muito maior que o mundo. 273 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/weliton_carvalho.html


ALÉM-RAZÃO Alguma coisa me arrasta para o poema como uma flor que quer nascer por teimosia como o impulso involuntário do desejo do arrebatado e inconseqüente amor. ANDALUZIA Na Andaluzia os homens sonham o vórtice de indizível beleza. São mosaicos mouros em enigma tentando desvendar a sensualidade que traspassa os gestos para se fixar nos olhos de um povo. Homens e mulheres dançam um balé de cores e desejos. Na Andaluzia, o desejo move o tempo e faz girar toda Espanha. Na Andaluzia, cada cor é um arco-íris bailando na imaginação do tempo. MENINO DURANTE SEPULTAMENTO - Por que essas tumbas são grandiosas, pai? - A morte é onipotente, filho. - E por que aquelas são humildes, pai? - A morte não tem vaidades, filho. LIÇÃO DIÁRIA Por sobre o tempo as mesmas nuvens lapidam esculturas tendo ao fundo diversas tonalidades de azul. As nuvens trabalham o branco esculpindo pássaros voláteis que além de voar ficam parados no ar. Elefantes inteiros se postam em flocos durante a manhã. As nuvens são leves no seu desenhar: são figuras humanas, cavalo-marinho acompanhando o vento no seu deslocar. Trabalhando o branco, as nuvens ensinam o balé das formas. As nuvens bailando em branco constante dizem aos homens


que o cotidiano não precisa ser esse embrutecer. LAVADEIRA Naquele sol escaldante, naquele trabalho estafante, a lavadeira cantava e sorria sem nenhum motivo aparente: apenas o anil brilhante vazava entre seus dedos


ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA274

1975 Residente em Brasília. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (1999), mestrado em Ciências da Informação (2001) e especialização em Inteligência Organizacional e Competitiva (2006), pela mesma instituição. Atualmente Analista de Nível Superior da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Unidade Cerrados. Na área ambiental atua em Botânica (Taxonomia de Bromeliaceae e Orchidaceae), especialização pela Escola de Paisagismo de Brasília, e Desenvolvimento Sustentável e Direito Ambiental, Organização e Gestão da Informação Ambiental, com ênfase em Biodiversidade e Plantas Ornamentais. É ilustrador científico de espécies do cerrado e também de obras artísticas.

LÍRIOS Doem os teus lírios solitários Em casa Na mesa escura Nos jarros entretecidos Onde sufocam o colorido E o aroma é incerto As gotas sombrias, todas, Voltam-se perplexas A refletir o ar parado De vereda invernal De bosque úmido Nos olhos de antes Fuga e cristais Mas não somente os lírios e as varandas O ar A mesa e a casa plena de ócio Mais o duplo aquém, estático, Suspenso, Na plácida impressão Do ausente alarido dos lírios Das vozes dos lírios Que denunciam saudades geminais. VAZIO O vazio 274 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/zenilton_gayoso.html


que não o só É construto de partes Irreconciliáveis voltas No vasto escuro exposto Da que tensa Em mim debela: A parte que me cabe Do vazio renitente De outros vazios pares

AVES FORA ... Ave estreita Furtiva figura Em um dia cego Nesse ante vôo razoado Alinho, calado De pé ante pé descalço, E com uma réstia fria Pelo teu bico calvo Inconteste te laço. Sob castas de moscas vítreas Em festivo alvoroço Dou-te um véu sisudo E espumas largas Ao teu pescoço Para repousares salva desse tremendo escorço Das vagas e ventos funéreos Donde despencas vertida em tédio. Ave implume Moléstia do dia Veste teu manto Desce teu séqüito Trina no corte Dessa faca pífia Serena na noite em que vagando faltas Emplastro votivo Aves fora vasta.

CHUVA GRANULAR Na granularidade da chuva Vejo dardos hirsutos Arremeterem farpas Sobre meus músculos expostos. À parte de mim Adentram cartilagens flácidas Que empedernidas crescem Enquanto atônito durmo. Ferem essas agulhas comensais As delicadas pústulas Os passos e as sombras


Do caminho destro que sigo. Bravias, abstraídas de nexos e subcutâneos medos Avançam convexas Sobre minha carne puramente nervos. Absorto, A parte de mim, Esse corpo nu, corpo retrorso, Não é mais estípulas ou véus, Vive minimamente, Mas absorve, laivos de gotas.

TEUS OLHOS “Pois morro da vida que vivo E vivo da vida que morro”. Edgar Morin Sempre haverá beleza Enquanto puder tocar A face mais simples da vida E não duvidar Que mais suave que a brisa Tua face sempre há de estar No tempo Desperta e risonha Na íris desses olhos vazados Qual flor que às estações ignora. Enquanto houver primaveras Sempre viverão Floras de amores cingidas E flores no amor impressas Que teus olhos colherão, E mais que em sonhos Verdades Aos meus apascentarão. Mais dias, mais dores, mais vastos Eu sei, repousarão Nos braços dos teus socorros Os calos dos dias que levo Pois quanto mais vivo Mais calo “Pois morro da vida que vivo E vivo da vida que morro”. Em dias de brisas caladas E brumas no tempo caídas Meus pés caminharão A via da imagem impressa No verbo solidão. Estou fatigado, mas corro


Com os pés descalços plantados nesse vasto Deserto de cardos Que jorra, Em amenidades assíncronas, Um coração em cortes. (Letra musicada por Tiego)


GERAÇÃO DE 30


OSWALDINO RIBEIRO MARQUES275

17 de outubro de 1916 # Brasilia, 13 de maio de 2003 Em sua terra natal, Oswaldino Marques escreveu seu primeiro artigo para a imprensa (sobre futebol) e fundou o Cenáculo Graça Aranha, onde eram discutidas as idéias modernistas. Em 1936, mudou-se para o Distrito Federal. Um dos fundadores da UNE, trabalhou como bibliotecário e tradutor, tendo sido um dos responsáveis pela divulgação da poesia moderna estadunidense no Brasil. Em 1965, mudou-se para Brasília onde assumiu a cátedra de Teoria da Literatura na Universidade de Brasília (UnB). Todavia, com o agravamento da ditadura militar no Brasil, pediu demissão do cargo. Durante um período de cinco anos, chegou a dar aulas em Madson, Wisconsin, EUA. Reintegrado à UnB em 1991 pelo reitor Cristovam Buarque, Marques viveu os últimos anos praticamente isolado em seu apartamento em Brasília, onde dedicava seus dias à leitura e a audição de discos de música clássica. Em 1999, numa entrevista ao Correio Braziliense, afirmou que desconhecia "a Internet e essas coisas todas". Ateu, deixou registrado em cartório que não desejava qualquer tipo de cerimônia religiosa quando de seu sepultamento, o que foi seguido à risca por seus filhos..[1]

PARA ASSIS BRASIL (1994)276, NA DECADA DE 1930, ATRAVÉS DO CENÁCULO GRAÇA ARANHA:

275 http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswaldino_Ribeiro_Marques CARNEIRO, Alberico. O poeta Oswaldino Marques fundador do modernismo maranhense. In GUESSA ERRANTE, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/o-poeta-oswaldino-marques-fundador-do-modernismomaranhense-5453.htm http://severino-neto.blogspot.com.br/2012/03/poesia-segundo-oswaldino-marques.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/1omarques01c.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/O-sonho-ressonhado-na-poesia-de-Oswaldino-Marques/ 276 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; são Luis: SIOGE, 1994, p. 111-113 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/oswadino_marques.html


[...] TENTAVA INFUNDIR NA PROVINCIA AS NOVAS IDEIAS ESTETICAS DO MODERNISMO DE 1922. ESTREANDO COM POEMAS QUASE DISSOLUTOS, OS CRÍTICOS LITERÁRIOS VÃO SITUÁ-LO NA GERAÇÃO DE 45, QUE CORRESPONDERIA, NO MARANHÃO, EM COMPARAÇÃO LIGEIRA., À GERAÇÃO DE 50, A QUE DE FATO ESTABELECEU UMA DIMENSÃO NOVA PARA A POESIA. OBRAS: POEMAS QUASE DISSOLUTOS, 1946; CANTOS DE WALT WHITMAN, 1946; A DANÇARINA E O HORIZONTE (1977). LIED PERDIDO EM DEVANEIOS NO EXTENSO LITORAL, SÓ E TIMIDO SOB A AMPLA E CONCAVA TARDE, PLENA DO GRAVE CORAL DAS VAGAS ESTUANTES E DO RITMO VIOLENTO DAS AVIDAS GAIVOTAS, VOLTEI MEUS OLHOS ESPANTADOS PARA TI, Ó SOL, E ME DEIXEI BANHAR NAS TUAS CASCATAS CINTILANTES. LÁ PODERIA TER-ME ENVOLVIDO NA SOBRA VIOLÁCEA DAS MONTANHAS E À HORA DO POENTE CINGIR-ME COM UMA COROA DE ESTRELAS. LÁ PODERIA TER-ME DISSIPADO NA BRUMA DA RESSACA, OU INSENSIVELMENTE ACEITAR DOS ROCHEDOS O DOCE CONVITE À INCONCIENCIA. OU FRAGMENTAR-ME EM LIMPIDAS CONCHAS E REFLETIR TEUS RAIOS CRIADORES. TIVE FORÇAS, PORÉM, PARA TE ABANDONAR. PARTI – SOBRE A AREIA DEIXEI APENAS O NOME DE ALGUÉM ESCRITO. (POEMAS QUASE DISSOLUTOS/1946) POEMA OSCILANTE COM DELÍRIO No volátil abril Labaredas e espelho Oscilo no gume de lúcida viagem. Aderno, de chofre, Ao refugir-me o passo Ao fluido cardume De vôos altos pássaros Frechados para o azul Aos gritos sobre a espuma De uma mar paralisado Que se recrispa e espluma. É o doido tonteio Do sonho ressonhado Em pleno meio-fio Sob o céu rasgado


De onde jorra o êxtase Labareda e espelho Sobre o homem que sangra No abril delirante. Soneto Branco

SONETO BRANCO Esse rugir do mar não te transporta Para antes dos anjos, dos mitos ofuscados? Não te remete a paragens anteriores Nos rios de cinza, às chuvas de granizo? Esse longo rolar de vozes graves Não te despoja d’ódio convulsivo? Não te faz esquecer o desenlace Das fontes, da brancura das origens? Pois a mim me faz recuar a auroras De êxtases, cantigas e presságios Com violinos comovendo feras, E cruzeiros de aves, as redes se abrindo No alto, ameaçando peixes e estrelas, — Oh, penedos! Oh, ventos! Oh, nostalgia!


SEBASTIÃO CORRÊA 277, 278 SEBASTIÃO DE MACEDO CORRÊA 1911 # 1838 Detalhes sobre sua vida são poucos conhecidos. Autodidata, teria aprendido as primeiras letras na cidade onde nasceu, Rosário, e compôs os primeiros versos279. Empregado no comércio e na Estrada de Ferro, como telegrafista; e depois nos Correiros, com essa mesma função. Não fez a escola secundária, aprendendo através da leitura. Boemio, desfilava pelas ruas da cidade com um violino, que tocava bem. Foi membro de entidades culturais, como o Cenáculo Graça Aranha, e Renovação. HOMEM Quantos milhões de séculos viveste? A Atlântida esqueceste, e, hoje, andas triste, Comungando a ilusão que não pediste, Na sentença da dor que mereceste! Como aquele filósofo ateniense, Interrogas as tímidas estrelas... Para quê? - ninguém sabe compreendê-las. Vence a luz a distância; e o homem, que vence? Que me dirás das lâmpadas divinas? - Meu vendedor de lágrimas, das ruínas Do teu sonho forjaste um pensamento! E andas pálido e triste, procurando O que há milênios vem te acompanhando: A vida - abençoado sofrimento! SE ASSIM FOSSE... Se a dura sorte me apontasse, um dia, Outro destino, a mim, outra ventura, E me arrancasse desta vida escura, Outra seria, então, minha alegria. Se o coração de quem meus passos guia, Compreendesse a extensão desta amargura, Talvez sentisse a mesma desventura Que às vezes sinto, em transes de agonia. Se essa visão querida, que meus olhos Viram, tivesse o coração humano, Um coração que conhecesse o amor, Certo, me não teria entre os abrolhos, Nem eu padeceria o desengano,

277 http://www.patrimonioslz.com.br/pagina1054.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/sebastiao_correa.html 278 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 279 Embora Brasil saliente que essa informação fosse contraditória, e tenha a cidade de São Luis como local de seu nascimento (p. 93).


No exílio escuro a que me trouxe a dor. REMINISCÊNCIA À hora pensativa da tarde, Quando é quietude a terra e o céu miragem, Quando, na voz do vento, a alma de Schubert Soluça uma elegia, Irmã das sombras, solitária e fria, Vem a Saudade me falar de ti. Recordo... Era no outono... As folhas amarelas, Trêmulas e tímidas, bailando, Fugiam no amplo cenário da tristeza... Tuas mãos níveas Tive-as Entre as minhas mãos, Num triste adeus, quando a noite "Com seu cortejo de monstros", veio Nos separar, E ai de nós! nunca mais Nos pudemos encontrar! À hora pensativa da tarde, Quando, na voz do vento, a alma de Schubert Soluça uma elegia, Que embala a terra e os céus, Eu bendigo a Saudade Que me fala de ti, que me transporta Ao coração de Deus. (Reminiscências/Obra Póstuma/1990)


CENTRO DE CULTURA “GONÇALVES DIAS”


ERASMO DE FONTOURA ESTEVES DIAS 280,281

ERASMO DIAS 1916 # 15 de maio de 1981 Ilha Galeria de Livros Erasmo Dias foi o nome literário e jornalístico que Erasmo de Fontoura Esteves Dias escolheu para registrar a sua imagem no texto e, através dele, permanecer vivo, após a morte. Passou a infância e adolescência em Cururupu, MA. Erasmo foi um escritor de estilo fluente, destacando-se como romancista, contista, ensaísta e crítico literário. Neste campo de domínio de conhecimento literário, do que não se perdeu, Nauro Machado resgatou-o na obra Erasmo Dias e Noites. Boêmio, a sua casa dos Apicuns, tornou-se um ponto de encontro de jornalistas, intelectuais, escritores e aspirantes às Letras. Onde quer que estivesse, no bar, nas ruas, em restaurantes, na Academia Maranhense de Letras, em comícios, em casa, Erasmo era o mestre, capaz de transformar um simples bate-papo em verdadeira conferência, em aula sobre quaisquer assuntos em questão. Membros da Academia Maranhense de Letras, na simples leitura do texto do romance Maria Arcângela, pode-se perceber onde poderia haver chegado esse romancista, mestre de obra romanesca que se dizia tão vasta, roubada ao baú do Erasmo que não teve nem a sorte do Erasmo de Roterdam, nem de Fernando Pessoa. Do andar de cima, Erasmo acompanha a viagem dos seus textos adotados como filhos legítimos não se sabe por quem. ( Nauro Machado) Erasmo Dias era meu padrinho282 de consagração, mas, no dia do batismo ele estava tão embalado por Baco que sempre pensou que era padrinho de batismo. Era uma figura impar , incisivo e alcoólatra, por definição . Eu sempre soube pela minha família, que se tornaram amigos pela proximidade da Rua de São Pantaleão, que ele era filho adotivo.Que teria sido abandonado na porta da família que o acolheu como filho. Lembro perfeitamente dele sentado na SERTÃ ( era esse mesmo o nome do bar que ficava na esquina da João lisboa em frente ao hoje prédio do BEM?) a discutir literatura com seus pares. Quando eu vinha voltando do Santa Teresa, por volta dos meus 13 a 14 anos e ele me via, me chamava, apresentava aos amigos e me fazia muitas vezes sentar em seu colo enquanto me elogiava e tratava com carinho . Eu tinha vergonha porque ele sempre estava com duas doses a mais do que precisava a humanidade. 280 CARNEIRO, Alberico. JORNALISMO QUE FAZ HISTÓRIA. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 1 de julho de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/7/2/Pagina780.htm, acessado em 08/05/2014. 281 JORNALISTAS MARANHENSES - ERASMO DIAS. Blog Educação & Tecnologia, publicado em 1 de março de 2012, disponível em http://sobrinhoeducacaotecnologia.blogspot.com.br/2012/03/jornalistas-maranhenses-erasmodias.html, acessado em 08/09/2014 282 Marly Serejo - https://www.facebook.com/groups/saoluisdenoossaslembrancas/ , publicado em 07 de maio de 2014.


Na minha festa de 15 anos, meu pai não entregou o convite com receio que ele fizesse um discurso e quebrasse o clima da festa . Pois bem, no dia seguinte, ao ler a notícia nos jornais da época, ele amanheceu lá em casa, xingando meu pai por não te-lo convidado. E ninguém dormiu mais .. Já mais velha, mãe de filhos e já morando fora, fui algumas vezes em sua casa. Ele já estava muito doente. Ganhei livros de presente e lhe dei um a caneta tinteiro que gostaria muito de saber onde anda . Na parede da sala, havia um relógio que segundo ele me disse, parou na hora e que sua mãe faleceu. Ele nunca mais deu corda. Ficava ali como um marco de sua historia. Ele sempre foi segregado pela comunidade acadêmica, pela sua personalidade forte e destemida, sem rodeios. Foi difícil sua eleição como Membro da Academia de Letras do Maranhão. Pelo que sei, todos os candidatos retiraram seu nome para que ele pude se ser agraciado pela Comenda tão merecida e negada muitas vezes, pelo preconceito existente à época. Eu lamento muito porque não bebi mais na fonte de sua enorme e erudita sabedoria. Onde estiveres, um beijo e um forte abraço, meu padrinho, Erasmo Esteves Dias . SANTO DE PAU283 Quando o sr. Clodomir Cardoso subiu as escadas do Palácio dos Leões, sabia-se, efetivamente, que a sua tarefa, ali, era fazer política. Sabia-se, com certeza, que ele, em servindo a sua terra, vinha a mando de Getúlio Vargas e, portanto, como parcela integrante do seu regime, que infelicitou a ação, nos dias tormentosos de 37 a 45. Sabia-se que o então condutor dos destinos da terra maranhense era o mais moço dos delegados ditatoriais e, por conseguinte, o mais intrépido e o mais inescrupuloso dos brasileiros do Maranhão que, ao pisar na sua terra, pisou-a com máscara de Libertador, de supremo juiz das mais justas reivindicações. Sabia-se que o sr. Clodomir Cardoso era um enviado direto do Catete, um agente estadonovista, mas sabia-se que, no íntimo, Clodomir Cardoso era o grande defensor de tantas causas edificantes que quase sempre têm como marco simbólico grandes vultos da História. Não nos importava, a nós, que o ilustre jurista tivesse ascendido ao trono da política maranhense, alevantado pelos braços de bronze da Ditadura. Não nos importava porque Clodomir Cardoso estava firmado na consciência do seu povo e ninguém duvidaria da religião que lhe edificara, entre os que sempre admiraram o nome, o respeito a que faz juz um autêntico intérprete da Justiça e da Liberdade. Vimo-lo, muitas vezes, ameaçado pelo convívio perigoso do sr. Vitorino Freire. Vimo-lo, quantas vezes, seduzido pelo brilho do próprio guante que marcou, para sempre, a vergonha dos seus irmãos. Vimo-lo cheio de uma vaidade aberrante, entrelaçar-se nas mãos criminosas desse forasteiro ousado, mas, sempre que lhe abordávamos o nome, tínhamos a convicção de que a política, no seu caso, erro o mais ingrato dos recursos humanos, quando o homem, com um riso, dissimula a lágrima interior. Chegávamos, mesmo, por esta colunas, a confessar que Clodomir Cardoso de jornadas gloriosas, esse próprio Clodomir que fora ao Palácio dos Leões e, hoje, subterraneamente, expande, pouco e pouco, o despeito que lhe ficara da magnífica sucessão dos seus dias, - esse Clodomir, então, que seria o grito da incapacidade, concretizada na sua decadência moral, é o Clodomir que lança mãos do dinheiro público do seu Estado e, com rótulos mentirosos, monta uma oficina eleitoral para ascender ao trono do Pátria Brasileira, aquele de quem não negam grandes anseios de “continuar a obra getulitária”.

283 Erasmo Dias O Combate, 19/11/45, disponível em http://sobrinhoeducacaotecnologia.blogspot.com.br/2012/03/jornalistas-maranhenses-erasmo-dias.html, acessado em 08/09/2014


E esse Clodomir que subiu ao Céu, desceu ao Inferno e nunca mais ressurgirá dos mortos, é o Clodomir bilioso, enfermo, decadente, vencido que, no estertor da sua crise moral, demite prefeitos, admite agentes da sua confiança, faz das repartições públicas da sua terra um reduto da sua política e, ainda por fim, arranca, barbaramente, à boca de pobres e funcionários que não rezam por sua cartilha, o pão que seria a vaidade dos que endeusam a prática de tão astuto ensinamento. Mas Clodomir Cardoso há de por terra colear-se, um dia, na mais esmagadora de suas decepções. Ruem as primeiras colunas do edifício Ditatorial, no Brasil, e, um dia, a casa cai… O presidente Linhares sucede a Vargas, o ministro Dória a Agamenon e, no Maranhão, Eleazar Campos a Clodomir Cardoso. Tudo estava feito. A máquinha eleitoral, em nosso Estado, já havia sido montada por mecânicos de “fibra”. A vitória do general Dutra já estava garantida na consciência do povo maranhense, “porque, em cada canto da nossa terra, havia um delegado governista e, portanto, um autêntico senhor da situação”. Mas a que, enfim, viria o sr. Desembargador Eleazar ao Maranhão? Assistir, simplesmente, ao movimento dessa máquina, deixando-o seduzir pela potência dos seus motores? É isto, exatamente, o que ambiciona, ainda, o sr. Clodomir. É isto, sinceramente, o que leva, ainda, o infeliz decaído a recorrer às colunas do seu jornal, apontando o interventor Eleazar como um transgressor à Justiça e ao Direito, quando reconhece que não pode haver um pleito livre e honesto presidido por delegados comprados e, previamente, o que leva o sr. Clodomir a agitar-se, confuso, no seu subterrâneo político e moral, para atacar um magistrado que, atendendo a um dos momentos de forasteiro audazes e nem mesmo de políticos mirins, cuja “sublime obsessão” é a sublime tarefa de governar um povo! Eleazar Campos veio ao Maranhão em nome da Justiça e, em nome dela, há de se realizar, em dezembro, o maior anseio do povo maranhense que é escolher, nas urnas, livre e honestamente, o seu legítimo representante nacional. Eleazar Campos tem, igualmente, um passado brilhante, mas ainda não disse, como Clodomir Cardoso, que tem um nome a zelar… Todos, porém, o sabemos e ninguém duvida de que o ilustre maranhense não possa testemunhar, na sua terra, a dignidade dos magistrados brasileiros que o sr. Clodomir Cardoso afrontou com o mais vil dos seus sentimentos políticos. Todos sabemos que Eleazar Campos, na integridade dos seus sentimentos profissionais, é o cidadão a quem a Pátria recorre, neste momento perigoso da sua vida política para garantir, na sua terra, o legítimo direito de um povo. Fugir, portanto, a um apelo da Pátria seria, como o sr. Clodomir Cardoso, afundar-se no caos da repulsa pública, afastado da confiança do seu povo e do amor da sua terra. Clodomir Cardoso que, a medir pela maneira deselegante com que passara o governo do Maranhão ao seu sucessor, é a expressão mais dolorosa de uma velhice decadente, é, neste instante, a figura trágica de um desertor que desapercebe a lembrança dos próprios crimes que cometera. Todos bem lhe sabemos o complexo de que se reveste neste hora duvidosa de sua política. E tão bem lho sabemos que não lhe ocorre à lembrança a atitude desassombrada do interventor de S. Paulo que assina um telegrama como o que, há pouco, foi publicado na imprensa pessedista de São Luís. Se, para garantir a honestidade de um pleito, o sr. Eleazar Campos demite prefeitos e Clodomir Cardoso lhe atribui os mais graves erros de cidadão e juiz, ai do sr. Eleazar se chegasse, no Maranhão, a assinar um telegrama como o que o sr. Macedo Soares assinou em São Paulo!


Clodomir, então, não seria esse santo de pau, que joga a pedra e esconde a mão. Seria, noutra hipótese, o que o povo maranhense devia ser-lhe, quando lançou mão daquilo que lhe não pertencia para montar uma oficina de politicagem bárbara.


HAROLDO LISBOA OLIMPIO TAVARES284

1933 # 09 de julho de 2013 Nascido em São Luís, diplomou-se engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia de Minas Gerais, e em Engenharia Nuclear. Depois de formado, Haroldo retornou a São Luís; em 1961 foi nomeado secretário estadual da Viação e Obras Públicas, no governo Pedro Neiva de Santana; e no governo Sarney, em 1966. Foi um dos fundadores da primeira Escola de Engenharia do Maranhão. Em 1971, assumiu a Prefeitura de São Luís e fez nova concepção urbanística para a cidade. Ficou no cargo de prefeito até o fim do mandato, em 1975 Nesse período, esteve à frente de importantes obras para a cidade de São Luís, como: construção da Ponte José Sarney, do Anel Viário (Avenida Beira Mar que passa pelo entorno do Centro Histórico de São Luís), Barragem do Bacanga, Lagoa da Jansen, Avenida dos Holandeses, Avenida dos Franceses e Avenida Daniel de La Touche. Além disso, foi o engenheiro responsável por trazer a 1ª Escola de Engenharia para o Maranhão. Depois da carreira pública, decidiu investir em um negócio próprio, montou a empresa ITAL – fabricação de tratores; em seguida criou a MEC Engenharia e por último a Praia Marine (estaleiro Maramar). Haroldo Tavares era viúvo de Vera Martins Tavares, falecida em 2004. Ele deixa cinco filhos: Márcia Tavares Albarelli, Cristina Martins Tavares, Adriana Martins Tavares, Valéria Martins Tavares e Jaimy Tavares Neto. O ex-prefeito deixa ainda cinco netos e dois bisnetos. Ele residia na Avenida Beira-Mar, ao lado do Casino Maranhense, no Centro.

284 CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989, p. 67 http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2013/07/morre-aos-80-anos-ex-prefeito-de-sao-luis-haroldotavares.html http://jornalpequeno.com.br/edicao/2013/07/10/morre-aos-80-anos-o-ex-prefeito-de-sao-luis-haroldo-tavares/ http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/2013/07/14/projeto-holt-2/


JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO285, 286

15 de julho de 1922 # 22 de fevereiro de 2009 Ilha Galeria de Livros Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nascido em São Luís, aos 15 dias de julho de 1922, o autor de Clamor da Hora Presente, desde cedo, mostrou sua forte vocação de agitador de idéias. Assumiu a liderança de um grupo de jovens, e com eles fundou e dirigiu o Centro Cultural Gonçalves Dias, considerado o mais importante movimento cultural de São Luís, na década de 40. Auditor Fiscal aposentado pela Secretaria da Fazenda do Estado, Nascimento Morais Filho hoje preocupa-se com as novas gerações, que não contam mais com as tertúlias – as conversas noite adentro nos botecos do Largo do Carmo e na Praça Benedito Leite, nas quais jovens poetas e jornalistas falavam de literatura, amor e política. Recolhido às memórias, Nascimento Morais Filho não arquivou a paixão pela poesia, tampouco se esquiva da militância pública. Casado há 52 anos com a enfermeira Conceição Moraes, o poeta fala com orgulho de seus cinco filhos: o professor de Física José Nascimento Moraes Neto; a bacharel em Filosofia Ana Sofia Fernandes Nascimento Moraes; a enfermeira Eleuses Moraes Garrido; o médico veterinário Renan Fernandes Moraes e a professora Lourely Fernandes Nascimento Moraes. Enfermeira do trabalho, ex-funcionária da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e da Alumar, hoje trabalhando na Prefeitura de São Luís, Conceição Moraes encantou o poeta aos 20 anos de idade: “Era uma pepita, que eu roubei de lá, da cidade de Turiaçu, onde ela nasceu”, recorda o poeta.Seu primeiro livro, Clamor da Hora Presente, publicado em 1955, foi traduzido para o francês e para o inglês por uma freira dos Estados Unidos da América do Norte. Depois ele publicou Pé de conversa (1957); Azulejos (1963); O que é o que é? (1971); Esfinge do azul (1972); Esperando a missa do galo (1973); Maria Firmina – fragmentos de uma vida (1975) e Cancioneiro geral do Maranhão (1976). Nascimento Morais Filho também promoveu a reedição fac-similar do romance Úrsula (1975) e do livro de versos Cantos à beira-mar (1976). Com mais de 10 livros publicados, Nascimento Morais Filho é dono de uma obra que muitos quiseram condenar ao ostracismo, por conta das ousadas atitudes políticas que assumiu ao longo da vida. Cioso da ascendência africana da sua família e do exemplo de vida de seu pai, o jornalista e escritor Nascimento Moraes (1882-1958), que sofreu na pele o escancarado preconceito racial 285 SANTOS NETO, Manoel. Nascimento Morais Filho. in GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 28 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/28/Pagina63.htm, acessado em 29/04/2014. 286 CARNEIRO, Alberico. LER/DIALOGAR/SIGNIFICAR NASCIMENTO MORAIS FILHO: Um Poeta Além de seu Tempo. JORNAL PEQUENO, Publicado em: 01/03/2005, disponível em http://jornalpequeno.com.br/edicao/2005/03/01/lerdialogarsignificar-nascimento-morais-filho-um-poeta-alem-deseu-tempo/


que havia na sociedade maranhense, Nascimento Morais Filho, até hoje, trava uma luta à sua maneira pelo respeito e pela valorização dos negros. Como parte desse esforço, ele gosta de lembrar que ficou na Imprensa do Maranhão o exemplo do grande jornalista, que foi seu pai. Nascimento Morais Filho287 é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e é o titular da Cadeira Nº 37 da Academia Maranhense de Letras, instituição com a qual acabou travando uma briga memorável. O autor de Esfinge do azul rompeu com a Academia quando os seus pares reuniram-se, no dia 7 de junho de 1979, para eleger o ex-governador Pedro Neiva de Santana (1907-1984). Protestei porque Pedro Neiva nunca escreveu uma linha. Reagi, votei contra e nunca mais pus meus pés lá. Dessa sua atitude, Nascimento Morais Filho diz que nunca se arrependeu: Larguei a Academia, sim. É uma Casa que não imortaliza ninguém. Quem tem valor, quem tem talento mesmo, não precisa de Academia, assinala o poeta, lembrando que seu pai foi presidente dessa mesma Academia. Caso raro entre os literatos maranhenses, o autor de Clamor da hora presente faz duras críticas aos intelectuais da moda, como também tem uma avaliação bastante severa de sua obra e de si próprio. Porém ele enche o peito, deixando a modéstia de lado, quando começa a falar de seus próprios livros: Eu sou um escritor internacional. Minhas obras já foram para outros países e meu livro Azulejos, se fosse traduzido em francês ou inglês, seria um best-seller, porque é um livro originalíssimo, que resgata os meus tempos de menino. EVOCAÇÃO288 Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! - Eu sou o sofrimento dos sem nome! - Eu sou a voz dos oprimidos! Não tanjo a lira mágica de Orfeu De quem as aves se acercavam para ouvi-lo E lhe vinham lamber os pés as próprias feras! As láureas, meus irmãos, olímpicas não busco Com que cingis de gloria os vossos sonhos! - Cravaram-me a coroa dos crucificados! Minha Castália – são as lágrimas do povo; Meu Parnaso – a dor da minha gente! Meu instrumento é poliforme e rude! Não tem o aristocrático perfil das harpas nobres Nem as rutilações de sons das pedras raras. - Ele é clamor! Ruge nos seus trons O estrugir do povo em praça pública! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! Maldigo a resignação infame dos covardes! - Eu prego a rebeldia estóica dos heróis: - Meu evangelho é a liberdade! 287 O homem que renunciou à Academia in GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 28 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/28/Pagina62.htm , acessado em 29/04/2014 http://jornalpequeno.com.br/edicao/2009/02/22/nascimento-morais-filho-morre-aos-86-anos-vitima-de-edemapulmonar/ 288 Blog de Luiz Alberto Machado, disponível em http://varejosortido.blogspot.com.br/2010/10/poetas-domaranhao-nascimento-morais.html JOSÉ NASCIMENTO MORAIS FILHO – O poeta, professor, jornalista e folclorista maranhense, José Nascimento Morais Filho (1922-2009), foi um dos participantes do Modernismo no seu estado e ocupante da cadeira 37 da Academia Maranhense de Letras. Fundador do Comitê de Defesa da Ilha de São Luiz e militante ambiental, é autor dos livros Clamor da hora (1956), Azulejos (1963), Esfinge Azul (1972), Pé-de-conversa (1957), Um punhado de Rima (1959) e Clamor do Presente (1992). http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/nascimento_moraes_filho.html


A liberdade, meus irmãos, Tem a forma simbólica da cruz E a cor do sangue. - O sangue é o apanágio da conquista! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! Jesus, Se conquistou os céus com suas orações, Ele, o Redentor, Sobre a terra triunfou com o sangue do seu corpo! Sangue, flâmula bendita, E no Calvário – fé – aberta em cruz! Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! EGO SUM QUI SUM Corre sangue de heróis nas minhas veias; Descendo da nobreza dos gigantes; As flamas das batalhas conservei-as, Forjadas na bigorna dos atlantes! Atenas – meu brasão!... e das cadeias Olímpicas dos sonhos deslumbrantes, As vertigens azuis arrebatei-as Aureolando-as com os raios dos levantes! Legionário da glória, dos umbrais Da luz dardejarei coruscantes astas Contra o furor dos vis iconoclastas!... A ressoar as trompas aurorais Formarei novos mundos dos escombros - Carregarei os séculos nos ombros!... APOCALIPSE SOCIAL Ó vós que adorais o Bezerro de Ouro, Olhai para o levante! Vede a coluna incandescente Que fumega no horizonte! - É o sinal dos novos tempos! - É aquela mesma coluna de fogo Que desceu dos céus, Para guiar a humanidade para a Terra da promissão! - São os legionários da liberdade, Que marcham abalando o infinito, Qual terremoto de luz, Craterando as regiões das alvoradas! Tremei, ó potentados! Tremei! - É a sentença dos séculos!


Pesa pontiaguda sobre vossa cabeça, Como aquela espada sinistra do banquete!... Mas breve o fio se partirá, ó potentados!.... O juízo final vos espera... Contados, vossos dias! Pesados, vossos crimes! Divididos, vossos tesouros pelos clamores, Que rondam os muros de vossos Palácios e mansões! Não ouvis as vociferações Dos cartazes nas paredes? Não ledes as sentenças ameaçadoras Escritas por mãos misteriosas, Nos muros e nas calçadas? - É a voz do povo Clamando no muro das lamentações! - É a voz de Deus, Escrita com piche à vossa porta! - Quem ouvidos tiver que ouça! - Quem olhos tiver que veja! Ó rubro tonitroar de trombetas - explosões dos Andes aureolados de flamas! Clamarei, ó potentados: “o pesadelo dos céus”! - A liberdade destruindo as muralhas dos Presídios! Presídios, Quem tem como cúpula A toga dos magistrados consteladas de lágrimas! Lágrimas, Que tremem como bocas balbuciantes E acenam para a justiça Que vós, ó potentados, cegastes. Os arranha-céus - operários petrificados em revolta Desmoronando em cadeia! E dos escombros Falanges de fantasmas sinistros Com os punhos fechados para o alto Avançando sobre vós! Os verdes campos, ridentes de alegria verde, Há séculos, Transformados em campos de tortura da esperança, Despertando da letargia do sofrimento!... E das outrora dadivosas covas das seares, Cardos espectrais brotando agora! Ai de vós, industriais da miséria e da injustiça! Ai de vós Que desperdiçais em vossa lauta mesa A comida que roubais da boca dos meus irmãos! Ai de vós Que transformais em sons de long-play Os soluços e os ais de meus irmãos!


Ó vós Que os céus enegreceis de tantos crimes, Levantai-vos de vossa prostração! - É outra vossa crença! É outro vosso culto! - As vossas oblações ofendem a Deus, Ó vós Que celebrais a missa negra da miséria E da injustiça! Escutai, ó meus irmãos, Os trons estranhos de trombetas estranhas! - Eclosões de auroras! Não mais Os apitos enfumaçados das chaminés Açoitando a besta-humana para o trabalho-forçado! - ´W a marcha universal dos novos tempos! Erguei-vos, e vivei, ó meus irmãos! - A luz, o ar, a terra é para todos!... Vinde comigo! Eu vim da idade que virá, Para revelar-vos os dias que virão! Não mais, meus irmãs, fundireis nas oficinas A chave de vossa cadeia! Não mais tecereis nos teares O sudário moral dos vossos dias! Livres, Trareis os vossos pulsos Das algemas da escravidão E vosso rosto das rugas do ferro do senhor! - Não mais a vida de escravo, Não mais senhor o patrão! O suor não é mortalha Nem o labor opressão! Ao som do canto agreste dos campônios, Ó campos reflori! Ó campos reflori! Cantai na vos dos pássaros, cantai! Cantai na branca voz das cataratas, cantai! Na luz transfigurada das searas Ó campo exultai! Ó campo exultai! De novo cavalgai, homens do campo, Vosso corcel olímpico de auroras! ... Um riso faltava na sociedade... Uma lágrima... e uma idéia.... Inda uma cor faltava na paisagem E uma nota na harmonia universal! - Rides? Vossa alegria será por todos comemorada! - Chorais? Vossa dor será por todos compartilhada! - Pensais? Vossos pensamentos não precisarão esconder-se Nos subterrâneos da noite! - A liberdade é a pátria universal!


Vossa consciência é vossa. Consciência, Que não precisareis vender por um prato de Comida, Nos dias de eleição!... Vossa mulher agora terá leite, Para amamentar vossos filhos, E, nos seus fecundos seios, criará os novos homens! Homens, Que, ao contemplar o firmamento azul, Se lembrarão das suas origens... E, então, no êxtase de deuses redivivos, Exclamarão: - Eu vim também do infinito! Nasci naquela estrela!


JOSÉ VERA CRUZ SANTANA 289

Ilha Natural de Coelho Neto, do Maranhão, iniciou seus estudos na cidade de União, no Estado do Piauí. Cursou o ginasial no Liceu Piauiense, transferindo-se para São Luís em 1943, para cursar a Faculdade de Direito. Foi Redator e Chefe do Serviço de Debates da Assembléia Legislativa; graduou-se em Direito (1949) na Faculdade de Direito sendo orador da "Turma Rui Barbosa"; Professor de Legislação do Trabalho, da Escola de Administração Pública da Federação das Escolas Superiores do Maranhão; advogado de sindicatos; Conselheiro da Secional da OAB-MA, por vários mandatos, de onde também foi vicepresidente; membro do TRE do Maranhão, por três biênios; membro do Conselho Diretor da UFMA; membro da Academia Maranhense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; presidiu o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Maranhão. Condecorado pela Universidade Federal do Maranhão, Governo do Estado do Maranhão e Tribunal de Justiça do Maranhão; redator do Jornal "O Imparcial"; Chefe do Jurídico Estadual da Caixa Econômica Federal de 1951 a 1982, quando aposentou-se, vindo a falecer em 1988. São de sua autoria as obras FADIGA E ACUMULAÇÃO DE FÉRIAS, O PAPEL DO ADVOGADO NO MUNDO EM MUDANÇA, PRIVILÉGIOS DO ADVOGADO, DA NECESSIDADE DOS CURSOS DE FORMAÇÃO PATRONAL e A QUESTÃO DO ENGENHO D’ÁGUA. Além de farta contribuição à construção legislativa nacional, em especial ao CPC e CLT, e também, farta legislação ordinária, algumas delas ainda hoje vigentes.

Esta poesia foi escrita por J. Vera-Cruz Santana, membro do Centro Cultural Gonçalves Dias, empossado na AML em 1960290: BEBER CACHAÇA Ora (direis) beber cachaça ! Certo perdeste o senso !” E eu vos direi, no entanto, que, p’ra bebê-la, muita vez desperto e vou correndo ao botequim do canto... E ando depressa p’ra encontrá-lo aberto... Bebo cachaça toda a noite, enquanto um bebaço mais longe, outro mais perto, afogam nela dolorido pranto. Direis agora: “Tresloucado amigo ! Por que bebes assim ? Homem perdido ! ... 289 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Burnett 290 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005, disponível em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172&catid=54&Itemid=114, acessado em 08/05/2014.


Acaso tens mata-borrão contigo ?! E eu vos direi: Bebei, sorvei a taça ! Pois só quem bebe pode ter sentido Para entender as “manhas” da cachaça. (CRUZ, 1946)291.

291 CRUZ, J. Vera. Beber cachaça. Alvorada, São Luís, 31 maio 1946, disponível http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172&catid=54&Itemid=114

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REGINALDO TELLES DE SOUSA

15 de novembro de 1925 Galeria de Livros Estudou o Primário em Fortaleza e o Secundário no Liceu Maranhense, em São Luís, diplomou-se em Direito na capital do Maranhão em 1952. Foi vereador da Câmara Municipal de São Luís e chefe de assessoria jurídica da prefeitura da referida cidade (FARIA, 2005)292 Em 2013, Reginaldo Telles lançou um livro de poesias – Encontro necessário (Legenda), organizado por mim, e depois entregue a Jomar Moraes para editar. De sua apresentação escrevi293: UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA A Professora Denise Martins de Araújo chamou-me à sua sala, na Academia Viva Água: Leopoldo preciso que edite um livro de poesias. De meu sogro Reginaldo Telles. Você o conhece? - Sim, o pai do Osvaldo e da Regina; - Sim, o político, ligado ao Dr. Jackson e ao Neiva Moreira; já fomos apresentados, quando da ida do Dr. Jackson ao bairro onde moro, levados pelo Julião Amim, há muitos anos... - Sim, o jornalista brilhante, de uma geração em que se fazia um jornalismo sério, sem paixão – sem a paixão político-partidária, a soldo de quem paga mais para ‘criar’ verdades e macular biografias... - Não. Não conheço o poeta! Mas sei que todo maranhense nasce poeta. Que todo poeta busca no jornalismo um meio de sobrevivência, para poder poetar... Existem meios, hoje, fugindo às ‘panelinhas’ e ‘q-i´s” tão imperiosos de nossas letras e órgãos culturais, de que só os amigos (dos poderosos de plantão) têm acesso ao ‘jabá’ de publicar... Podemos buscar uma dessas editoras alternativas, e mediante alguns reais, publicar uma edição comemorativa, de apresentação, do novo poeta do Maranhão. Conhecendo a história de vida do novel menestrel, preferiria essa alternativa, a que se submeter aos perigos do ‘compadrio político’. Seus filhos bancariam, fraternalmente, a edição... Uma justa homenagem a quem lhes deu a vida, um nome honrado, um orgulho...

292 FARIA, Regina Helena Martins de; BUZAR, Benedito Bogéa. Apêndice C: Índice de verbetes de pessoas citadas nas entrevistas. In.: FARIA, Regina Helena M. de; MONTENEGRO, Antonio Torres (Orgs.). Memória de professores: histórias da UFMA e outras histórias. São Luís: UFMA; Dep. de História; Brasília: CNPq, 2005.p. 559-611. 293 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA. In TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013, p. 11-14.


Fui apresentado, novamente, ao Reginaldo Telles. Conversamos um pouco. Ele me confiou uma pasta, amarela, com seus poemas... Alguns, em papel já amarelados pelo tempo de vida, manuscritos; outros, datilografados; e outros ainda, já digitados... Numerados, em dada ordem... Perguntando sobre quando os fez, disse-me que desde os tempos de adolescência que canta suas musas. Dos tempos do velho Liceu Maranhense, e o surgimento dos primeiros jornais estudantis, em que ousou dar a público suas primeiras poesias. Os poemas aqui listados foram cantos às musas, ao longo de toda uma vida. Os havia dos tempos de estudante, como dos tempos de jornalista militante, dos tempos de advogado atuante, dos tempos atuais... Alguns, do tempo de solteiro, em que a pena buscava descrever os amores juvenis. Muitos não correspondidos. Outros, corridos... Mas a maioria, feitos depois do namoro, noivado, casamento com a mãe de seus filhos – a derradeira e verdadeira musa, que ao poeta encanta e a quem o poeta canta... Leu-me alguns. Emocionado. Aos do tempo da juventude, com lágrimas a rolar as faces marcadas pelo tempo. Mas as lembranças permanecem vivas, como se tivessem acontecendo naquele momento, o encantamento... Pergunto: - “quem foi Elis?” sorri, disfarça, olha para a nora e o neto... os olhos marejam... E em resposta diz: “como sabes de Elis?” Respondo: “já li seus poemas...” e fiquei intrigado: “quem foi Elis?” retomo... sorri, pega o calhamaço de poesias, e seleciona uma: fala de Elis; outra, que também fala de Elis... Mas não responde: “quem foi Elis?” ou “o que foi Elis...” Não precisa responder. Basta sentir a emoção em declamar “Agora, é a frustração [...] agora, é o fracasso [...] agora, é a sensação de viuvez [...] agora, é o sino sem som [...] agora, é a solidão...” ou ‘está dando cupim dentro de mim [...] é assim na “ausência de Elis...” Mar, sol, sal, solidão... Uma constante. Enquanto lê mais alguns, seu neto Vitor pega do celular, coloca no modo ‘gravar’ e o dispõe sobre a mesa... Quer guardar esse momento, do encontro do Neto com o (passado do) Avô, sabendo, agora, que além de tudo que construiu na vida, ainda é Poeta... Gostou do que ouviu - e disse ao Avô. Ambos se olharam, emocionados, com os olhos cheios d´água... Quebro esse clima de confraternização, e de cumplicidade: Vitor também queria saber quem era Elis... Faço algumas perguntas. Se não poderia colocá-los em ordem cronológica... Fala dos tempos do Liceu... Pergunto sobre Sarney e sua militância estudantil, os jornais; disfarça, muda de assunto. Fala de poesia. Percebo que o político e o jornalista ficam para outro momento. Este é o do Poeta. “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! / Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas, / Recorda o teu passado e, em teu presente, vence, / Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras [...] Acorda Mocidade! Acorda Maranhão! / E mostra que depois de sonhos, despertado / Sorrís, como um Gigante, um Gigante ateniense / Que vem haurir num templo imenso edificado”. (SOUSA, 1945)294 294 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005, disponível em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172&catid=54&Itemid=114, acessado em 08/05/2014.


VOCAÇÃO295 O poder de amar na mulher É muito maior do que em geral Se imagina Através dos seios ela se dá À espécie e ao mundo, E acolhe a mensagem da vida Na vagina.

A RETA A reta é linha monótona Fria, deserta, isenta de dons Nada impede que se acabe, E desabe no infinito sem fim Não te oásis, nem miragem, nem tempestade de areia a reta é negra seta, direta coisa incompleta, desumana Areta sem coração, não pulsa, não sente É invenção do homem triste, Inexistente, é coisa estática Abstração matemática.

CARTA AO TEMPO Saudade Dos tempos de Tupinambá: Minhas raízes São Luis 1612 Que nostalgia incontida Que vontade de viver 200 anos até E de te ter também aos noventa Amamentando um filho meu: Rebento de amor Nas horas de relógio Sem ponteiros Que não marcam o tempo Nem limitam o desejo de te amar. Comer juntos muitos quilos de peixe moqueado Raízes cruas Montes de ostras, sarnambis e sururus Mel de abelhas Frutas e frutos silvestres Almoço nos ninhos das emas E sobremesa de ovos 295 TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013


De pássaros E te ver Minha cunha Tomando 12 banhos por dia Nos riachos de água fria Ou comigo fazendo amor Nas espumas das praias Doces ou salgadas Do Muni Do Olho d´Água ou Araçagi Ai1 que saudades Dos tempos de Tupinambá São Luís, paraíso 1612

SOLIDÃO Agora, é a frustração do rio insatisfeito Que se infiltra e se acaba Nas areias do seu próprio leito E se esgota em si mesmo, vazio. Agora, é o fracasso da torrente, É o ímpeto que se ressente, Sem caudal, sem afluente Não tem força De chegar ao mar. Agora, é a sensação de viuvez, No estar sozinho É a dor da morte De quem enterra a própria sorte Afinal, sem vez. Agora, é o sino sem som, Torre sem campanário, Contida a vocação, Praia deserta, Rio sem estuário, Águas insossas E o verão sem fim. Agora, é a solidão Deixa-me ultrapassar Estes limites Dá-me tua mão, Elis, Vamos para o mar.

AUSÊNCIA DE ELIS Está dando cupim Dentro de mim.


Que dor aguda Esses minúsculos monstrinhos Causam aqui No coração, Roendo roendo Com suas trombas de aço Agudas, afiadas Incandescentes. É assim, Na ausência de Elis. Em vão busquei matar Esses bichinhos Em impulsos dispersivos Nos braços de mulheres indistintas Nas camas sem lençóis De sucessivos motéis Nos ais de gozo industrial Da insaciável carne Em momentos estéreis e incapazes de ajudar É assim Na ausência de Elis Estou cheio de cupim


NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 57 – MARÇO 2021 – ANTOLOGIA: OS ATENIENSES VOLUME 56 – MARÇO 2021 – ANTOLOGIA: MULHERES DE ATENAS https://issuu.com/home/published/maranhay_-_antologia_ludovicense_mulheres VOLUME 55 – MARÇO DE 2021 VOLUME 54 – FEVEREIRO DE 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_54_-_fevereiro_b VOLUME 53 – JANEIRO 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_53_-_janeiro_2021 VOLUME 52 –DEZEMBRO – 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maaranhay_-_revista_lazerenta_52__2020b VOLUME 51 –NOVEMBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maaranhay_-_revista_lazerenta_51__2020b/file VOLUME 50 – OUTUBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_50_-_2020b VOLUME 49– SETEMBRO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_49_-__2020_VOLUME 48– AGOSTO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_48_-__2020_bVOLUME 47– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_47_-__2020_VOLUME 46– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_46_-__2020_VOLUME 45– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_45_-__2020_-_julhob VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS: VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b


VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b REVISTA DO LÉO - NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/233ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019


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