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JOSÉ NÉRES
JOSÉ NÉRES
Quase sempre, quando se fala em ser (ou às vezes estar) professor, vem à mente de muitas pessoas a ideia de um profissional humilde, com baixíssimo salário, pouca perspectiva de melhorar de vida, etc. Talvez um mendigo graduado com curso superior. Mas não é desse tipo de mendicância de que trato aqui nestas linhas que possivelmente serão lidas por uma quantidade mínima de bons e de boas amigas. Mesmo merecendo bem mais do que recebe, o professor tem peregrinado constantemente por outro tipo de mendicância tão incômoda quanto a de esticar a mão em uma esquina na esperança de receber uns trocados, com a garantia de muitos "nãos". Em muitos casos, o professor, em plena consciência de seu ofício tem pedido, clamado e até mesmo implorado para que seus alunos estudem, prestem atenção para as aulas, peguem um livro, faça suas anotações, exponham suas dúvidas... etc... etc... etc... Seja em aulas presenciais, seja em aulas por mediação de computadores, tablets, celulares e demais aparatos tecnológicos, o professor tem vivido em uma espécie de solilóquio na qual muitas vezes nem mesmo o eco rouco e soturno das paredes tem chegado até ele. Diante de microfones silenciados, câmeras desativadas, ouvidos e olhos vedados, cadernos quase virgens, livros sem marcas de uso e cobranças de todas as partes possíveis, o professor reza, ora, clama e suplica para que um de seus alunos saia da caverna metaforizada por Platão e faça pelo menos uma pergunta que o faça sentir vivo diante da frieza das máquinas. Ele sonha com o dia em que haja o tão esperado encontro entre pelo menos dois mendigos: um que mendigue o direito de ensinar e outro que mendigue o direito de aprender. Quando será que esse encontro ocorrerá? Será que tem ocorrido e não temos notado? Ou será que tudo não passa de uma quimera? Enquanto isso, na dúvida, o professor tenta curar suas necessidades mergulhando na ilusão de que tudo está bem neste tal de "novo normal", em que é tão normal um rico mendigo oferecer seu bem mais preciso e notar que conhecimento é um produto aparentemente descartável e fora de moda. Os valores são outros. As necessidades parece que são outras. E a sociedade empobrece a cada dia. Mas o bom professor continuará mendigando por ouvidos e olhos que
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queiram ver além das aparências.
Filho de José Furtado da Costa e de Maria Raimunda Neres Silva, José Neres nasceu em São José de Ribamar em 17 de fevereiro de 1970 fez estudos iniciais em Brasília e Goiás (Luziânia), locais onde passou a infância. De volta ao Maranhão, cursou Letras Português e Espanhol (UFMA), especializou-se em Literatura Brasileira (PUC-MG) e depois fez mestrado em Educação (UCB). Trabalha ou já trabalhou como professor de língua (portuguesa e espanhola) e literatura (brasileira, espanhola, hispano-americana e maranhense) nas seguintes instituições de ensino: Colégio Brasil, Centro de Ensino Universitário José Maria do Amaral, Faculdade Atenas Maranhense, Faculdade Pitágoras, Faculdade Santa Fé e Universidade Federal do Maranhão, além de haver prestado serviços para a Universidade Estadual do Maranhão, Instituto Superior Franciscano e Centro Sul Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação. José Neres é detentor dos seguintes prêmios e honrarias: Menção Honrosa e Honra ao Mérito, ambos concedidos pelo Instituto da Poesia Internacional; Prêmio Odylo Costa, filho, concedido pela Prefeitura de São Luís pelo livro Resto de Vidas Perdidas; Prêmio A Importância do Livro no Brasil do Século XX. Concedido pela Academia Brasileira de Letras em parceria com o jornal Folha Dirigida e Medalha do Bicentenário de João Lisboa, concedida pela Academia Maranhense de Letras, além de ser patrono e paraninfo de diversas turmas de formandos em cursos superiores. Como pesquisador, José Neres sempre teve interesse por assuntos ligados à literatura, principalmente a maranhense, à Educação e aos estudos linguísticos. No mestrado, orientado pelo professor Afonso Celso Tanus Galvão, desenvolveu pesquisa sobre os processos metacognitivos e autorregulativos na aprendizagem de estudantes de pré-vestibulares e sobre estudo deliberado. Em 2014, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira 36, deixada vaga pelo falecimento do grande intelectual Ubiratan Teixeira, e recebido pela professora e acadêmica Ceres Costa Fernandes em 20 de março de 2015.