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NERES PINTO
DESAFIO FEMININO: Mulheres de coragem no futebol maranhense
NERES PINTO O primeiro jogo de futebol feminino ocorreu em 1892 na cidade de Glascow, Escócia, no entanto, a prática desse tipo de esporte pelas mulheres não foi bem recepcionada em alguns países. Chegou a ser proibida no final de 1921 na Inglaterra. Até chegar aos dias atuais, foi longo o processo de evolução que culminou com a disputa da Copa do Mundo feminina, em 1991, na China, tendo a participação de 12 seleções. O tempo foi passando e as mulheres conquistando cada vez mais admiradores do futebol, por tudo o que vêm mostrando que são capazes dentro das quatro linhas. Criam jogadas e fazem gols de bela feitura. Por isso, é imensa a quantidade de craques espalhadas pelo mundo. O crescimento do futebol feminino é uma realidade, assim como também é a visível falta de apoio, mesmo tendo a CBF, em 2018, determinado a obrigatoriedade de que cada clube da séria A do Brasileiro tivesse que manter um time de mulheres (adulto e de base), estabelecido no Licenciamento de Clubes. Os problemas estruturais existentes são um enorme desafio, principalmente, nos menores centros esportivos, onde as mulheres, na grande maioria dos clubes, enfrentam inúmeras dificuldades. Usam apenas “a bola e a coragem” para satisfazer o desejo de também mostrarem seus talentos, como mostra essa reportagem local.
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William: “Pandemia atrapalhou”
Um dos maiores incentivadores do futebol feminino em São Luís é o desportista William Ribeiro, patrono da equipe do Cefama (Centro de Formação de Atletas do Maranhão), que acaba de conquistar o Campeonato Maranhense, categoria adulto. Ele conta que se a situação já era difícil antes da pandemia, agora ficou pior.
“Já chegamos a ter até oito equipes disputando o campeonato, em 2019, mas este ano foram apenas três Cefama, Juventude Timonense e Viana. Se conseguir patrocinadores era difícil antes da pandemia, agora mesmo é que a situação piorou. O futebol feminino, assim como o masculino, tem suas despesas. A gente reconhece o esforço e a dedicação das meninas, mas realmente, temos que ter muita coragem para continuar esse trabalho”, afirma Ribeiro. O clube tem como presidente Hugo André, filho de Batista Oliveira, ex-diretor do Sampaio Corrêa, recémfalecido.
Para formar uma equipe competitiva, o Cefama teve de contar com várias atletas do Boa Vontade, clube que foi administrado pelo ex-tesoureiro da Federação Maranhense de Futebol, Emanuel Santos. O Viana, equipe do futebol feminino na Baixada Maranhense, é outro exemplo de superação. Comandado por Vitorino Santos, o grupo já representou o estado em várias competições nacionais nos últimos anos. A Juventude Timonense vinha sendo apoiada pela prefeitura da cidade, mas nem sempre esse incentivo continua, porque depende muito do sucessor na administração municipal.
Para participar da equipe feminina do Cefama, as mulheres enfrentam dificuldades que vão desde o deslocamento para o local de treinamento até a falta de tempo para os exercícios que o esporte exige. A preparação é de apenas duas vezes por semana, no campo do Fecurão, no bairro da Cohab. Elas gastam do próprio bolso, mas não reclamam. Sabem que estão investindo na carreira e que poderão ser ressarcidas quando estiverem fora do estado. Muitas dessas jovens são empregadas domésticas, que só conseguem liberação dos patrões nos fins de semana. Por isso, geralmente os treinos ocorrem na terça-feira e aos domingos à noite.
Jovens talentosas de olho no futuro
O Maranhão é também um celeiro de craques no futebol feminino. Aqui, foram reveladas atletas para grandes clubes do país. Mais recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol convocou a maranhense Marta Cintra, destaque das categorias de base do Grêmio-RS, para a Seleção Brasileira Sub-20. Um dos maiores exemplos de talentosas atletas que nasceram em São Luís é Tânia Maranhão, zagueira e capitã do Vasco-RJ, com passagens por São Paulo e Rayo Vallecano, Espanha e Seleção Brasileira, disputante de uma Olimpíada
“Posso citar aqui, por exemplo, no Cefama, Sebá (lateral-direita) e Mika (meia), que jogam muito bem e certamente farão sucesso em qualquer clube fora do estado. Lívia (volante), de 14 anos, é outro destaque. A tendência é serem transferidas mais tarde para outros grandes centros esportivos que investem no futebol feminino”, acrescenta William. Outros destaques são Daniele (meia), Rafinha (atacante) e Ingrid (zagueira).
Juventude e experiência no time campeão
A equipe do Cefama é treinada por Simone Campos, 38 anos, formada em Educação Física desde 2009.
Desportista, ela conta que gosta do que faz, mesmo não tendo nenhum retorno financeiro no momento. Antes, ela já havia tido uma experiência como atleta e mais tarde foi orientar a equipe do Tutela, do futebol society, formada por advogadas. Gostou tanto que resolveu aceitar o convite para dirigir o time que hoje é campeão maranhense. Valeu a pena, pois o Cefama agora vai disputar o Campeonato Brasileiro A-2, promovido pela Confederação Brasileira de Futebol. Esta é a única divisão do futebol brasileiro em disputa. A média de idade do grupo campeão é de 19 anos. A mais experiente é a capitã Patrícia, de 35 anos. Mika e Lívia, 14 anos, são as mais jovens. “Não recebemos salários, mas as atletas fazem parte do grupo com enorme dedicação. Para que se tenha uma ideia, temos uma atleta que vem de Rosário, paga sua passagem para vir treinar com a gente aqui em São Luís. Outras se deslocam dos bairros vizinhos, mas fazem de tudo para cumprir com o compromisso de se preparar e bem representar a equipe”, declara Simone, bastante entusiasmada. O time titular campeão é formado por Mary; Sebá, Luana, Ingrid e Sabrina; Patrícia, Sirlane, Dani e Lia; Hyasmin e Rafinha. O título foi conquistado na vitória por 6 a 1 sobre a Juventude Timonense.
O futebol feminino também está presente nos bairros Cohab, Cohatrac e Trizidela, onde as equipes disputam torneios amadores. De lá, vão surgindo alguns destaques que mais tarde ingressam nas equipes maiores. Simone diz que para montar o time titular apenas observa o rendimento das mulheres durante os treinamentos e lembra que todas são selecionadas sem as tradicionais “peneiras”, pois logo ela observa quem leva jeito. “Ao contrário dos grandes clubes de outros centros, que possuem divisões de base e ministram fundamentos básicos, nós não temos esse trabalho. A gente chega, olha, orienta e depois escolhe a melhor formação. Tem dado certo até o momento. É claro, também, que foi importante utilizarmos a base deixada pelo Boa Vontade”.
Em São Luís, apenas a Escolinha do Cruzeiro tem algumas meninas nas divisões de base, que participam de treinos até com equipes masculinas. Sem estrutura suficiente para contratação de pessoal para assistência médica, o Cefama cuida das suas atletas quando estas sofrem qualquer contusão mais séria, dando o devido apoio na compra de medicamentos. “Não tivemos até agora nenhum caso grave, esperamos que continue assim”, sintetiza.
Preconceito
Se existe algo que não tem gerado preocupação das mulheres, no momento, é o preconceito. “Não temos esse tipo de problema. Desconheço qualquer discriminação pelo fato de praticarmos um esporte que até então era privilégio dos homens. Eles estão bem mais conscientes e aceitam nossa escolha como ocorre com qualquer outro tipo de esporte praticado neste país. Sinceramente, sem problemas”, enfatiza Simone.
Futebol feminino no Brasil começou no Século XIX
Segundo o livro "Futebol, Carnaval e Capoeira - Entre as gingas do corpo brasileiro", de Heloísa Bruhns, enquanto os homens da elite brasileira começaram a praticá-lo no final do século XIX no Rio de Janeiro e em São Paulo, o grupo feminino que aderiu à prática do futebol era pertencente às classes menos favorecidas. Por conta disso, as mulheres que jogavam futebol eram consideradas "grosseiras, sem classe e malcheirosas". Às mulheres da elite cabia o papel de torcedoras. "As partidas de futebol masculinas eram um evento da alta sociedade e as mulheres se arrumavam para ir assistir aos jogos", afirma o livro. Seguindo a Wikipédia, os primeiros registros de partidas mistas no país, com homens e mulheres juntos, datam de 1908 e 1909. Em 1913, houve um evento beneficente, que foi considerado por muitos anos como a primeira partida de futebol feminino no Brasil. Anos depois, porém, foi descoberto que, na verdade, o time “feminino” era formado por jogadores do Sport Club Americano, campeão paulista daquele ano, vestidos de mulher, misturados a “senhoritas da sociedade”. Desta forma, considera-se que a primeira partida de futebol feminino no Brasil ocorreu em 1921, entre senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo, conforme noticiado pelo jornal A Gazeta. Em 14 de Abril de 1941, durante a presidência de Getúlio Vargas, foi-se criado o Decreto-Lei 3199, proibindo a “prática de esportes incompatíveis com a natureza feminina”, entre eles o futebol. Este decreto-lei só seria revogado em 1979. O Araguari Atlético Clube é considerado o primeiro clube do Brasil a formar um time feminino, que em meados de 1958, selecionou 22 meninas para um jogo beneficente em dezembro deste mesmo ano. O sucesso desta partida foi tão grande, que a revista "O Cruzeiro", dos Diários Associados, fez matéria de capa sobre o acontecimento, pois até então, partidas femininas só ocorriam em circos ou em quadras de futsal. Com esta divulgação, houve, nos meses seguintes, vários jogos do time feminino do Araguari em cidades de Minas Gerais (Belo Horizonte inclusive) e também em Goiânia e Salvador.
DO EDITOR
Caxiense Marta Cintra reforça futebol do Benfica, de Portugal No Brasil, Marta Cintra representou o Menina Olímpica, o Rio Preto, o Ceará, o Foz Cataratas e o Grémio, clube no qual jogava desde 2018. Caxiense Marta Cintra reforça futebol do Benfica, de Portugal - NOCA - O portal da credibilidade
O Futebol de Caxias teve a Honra de entrevistar a Caxiense Marta Cintra jogadora de Futebol. CAXIAS : ENTREVISTA COM A MARTA CINTRA (futeboldecaxiasma.blogspot.com)
Marta Naizia da Silva Cintra 17 anos 1,77 m de altura, 60 quilos, é filha de Marly da Silva Cintra, residente no centro Caxias (MA).
Futebol de caxias : Como começou a jogar futebol?
-Marta: Eu sempre joguei no meio de meninos, aproveitava para me divertir e jogar bola com eles, na rua nas praças onde tinha futebol estava no meio.
Futebol de caxias : Qual escolinha ou clube que abriram as portas?
-Marta: surgiu a oportunidade de jogar em uma escolinha de Futsal chamada de Meninas super poderosas dono se chamava Tom&Jerry.
Futebol de Caxias : quem foi o maior incentivador?
- Marta : Minha família , minha mãe e meu irmão que sempre me apoiaram e me incentivara a acreditar em meus sonhos.
Futebol de Caxias : Quais os clubes que já passou?
- Marta : Meninas Super Poderosas Caxias, Borboleta Caxias, Nova geração Caxias, São José de São Luis, Menina Olímpica.
Futebol de Caxias : Atualmente você esta em qual clube?
- Marta : São Jose do Rio Preto São Paulo
Futebol de Caxias : Qual foi a sensação de ser convocada pela Seleção Brasileira?
- Marta : é uma sensação sem explicação! foi o que sempre sonhei foi um dia bater lá! é eu consegui graças a Deus e agradeço a todos que me apoiaram desde inicio.
Futebol de Caxias : Quais suas expectativas para temporada 2018?
Futebol de Caxias : Espera um dia voltar para Caxias?
- Marta : Provavelmente não, vou adquirir confiança no clube que estou atualmente até conseguir ter condições melhores.
Futebol de Caxias : Marta, Agradecemos sua atenção e desejamos sucesso na sua carreira, nós que fazemos o futebol de Caxias estamos torcendo por você.
- Marta : Eu que agradeço estou a disposição.
Tânia Maranhão - Tânia Maria Pereira Ribeiro
(São Luís, 3 de outubro de 1974) é uma futebolista brasileira, que atualmente é zagueira da equipe Flamengo/Marinha do Brasil. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Iniciou sua carreira como jogadora de futsal, porém, em 1993, atuando pelo Eurosport da Bahia, começou a participar do futebol de campo. Atuou também pelo Saad, São Paulo, Grêmio Rayo Vallecano e Vasco. Com o Flamengo/Marinha, conquistou um Campeonato Carioca e o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, ambos em 2016. Pela Seleção Brasileira de Futebol Feminino disputou os Jogos Pan-americanos de 2003 e de 2007, sendo campeã em 2007 ao vencer os Estados Unidos da América. Participou dos Jogos Olímpicos de 1996, 2000, 2004 e 2008. Conquistou a medalha de prata nas duas últimas ocasiões, perdendo as finais para os Estados Unidos[3] . Disputou também as Copas do Mundo de 1999, 2003 e 2007, sendo que desta última foi vice-campeã, a melhor colocação da seleção brasileira feminina em mundiais. Na partida final o Brasil perdeu para a Alemanha.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Professor de Educação Física / Mestre em Ciência da Informação
De uns anos para cá, têm-se buscado o resgate das práticas esportivas praticadas pelas mulheres, sendo que, atualmente, a memória do futebol feminino vem recebendo atenção, através do trabalho da pesquisadora Silvana Goellner1. Nossa contribuição: encontramos uma primeira referencia sobre o futebol feminino no ano de 1943, publicada em O Combate, edição de 26 de maio, mas não se refere ao futebol maranhense:
Em A Pacotilha, de 18 de fevereiro de 1954, era anunciado a realização de uma partida de “Futebol Feminino na Fabril”; porém trata-se de uma partida amistosa, entre as equipes do Girassol e do Sultão, dois clubes carnavalescos, que seria disputada entre os membros da diretoria e alguns simpatizantes torcedores, em que os “brotinhos” deveriam participar vestidos com trajes femininos, sendo proibido retirar as máscaras... não se tratava, evidentemente, de um jogo entre mulheres...
1 Silvana Vilodre Goellner - Licenciada em Educação Física pela UFSM, mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS, doutora em Educação pela UNICAMP e pós-doutora pela Faculdade do Desporto da Universidade do Porto (Portugal). Professora titular da UFRGS. Atua como professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (UFRGS). Foi coordenadora do Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRGS (03/2000 a 05/2019). Editora da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (2005-2007) e da Revista Movimento (2003-2005). Foi coordenadora do Grupo Temático Gênero e Ciências do Esporte, do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2013-2015) e do Simpósio Temático "Gênero e Praticas corporais e esportivas" do Seminário Internacional Fazendo Gênero. Integra o coletivo Guerreiras Project. Curadora das exposições "Futebol e Mulheres no País da Copa de 2014" e "Paisagens da memória: cidade e corpos em movimento" realizadas em Porto Alegre. Co-curadora das exposições "Visibilidade para o Futebol Feminino" e "Contra-Ataque: as mulheres do Futebol" realizadas no Museu do Futebol em 2015 e 2019 respectivamente. É vice-coordenadora do GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte,Cultura e História e Coordenadora, juntamente com David Wood (Inglaterra) e Verónica Moreira (Argentina) da Rede de Pesquisa sobre Futebol de Mulheres na América Latina. Tem experiência na área de educação física, com ênfase em história e gênero atuando principalmente nos seguintes temas: corpo, gênero, história do corpo e da educação física e esportes, futebol e mulheres, documentação e informação e memória.
A 02 de junho de 1959, em A Pacotilha, reportagem sobre uma esportista carioca, Marly Gomes, do Fluminense, onde jogava vôlei e basquete, de que gostaria de participar de um time de futebol feminino. Em entrevista, perguntada se era contra ou a favor da participação da mulher no futebol, respondeu que “tinha pena de quem pretenda liderar a participação da mulher no futebol”.2 Em seguida, disse ser favorável, desde que profissionalizado, lembrando das restrições à participação da mulher no Basquete, e hoje é um dos esportes favoritos do público, com ampla aceitação. No dia 28 de outubro de 1959 é anunciado o primeiro jogo de futebol feminino no estado do Maranhão, iniciativa de Rangel Cavalcanti e Pedro Santos, em benefício da Casa do Estudante do Maranhão. Vinham insistindo na realização desse jogo, até que finalmente foram atendidos, e autorizados. Os dois promotores do evento ficaram de apresentar as atletas na quinta-feira seguinte, recebendo total apoio da Federação Maranhense de Desportos; as equipes do América – presidida por Nagib Feres – e do Sampaio Correa –presidida por Ronald Carvalho – foram procuradas para enprestar suas cores, e tiveram ampla recepção. O chefe de policia garantiu total apoio e garantia de realização do evento. Em 02 de maio de 1960, reportagem sobre a realização de uma partida de futebol feminino entre o Esporte Clube Anilense e o Esporte Clube Aurora, no estádio São Geraldo, no Anil. A vitória, por 3x0, foi do E.C.A., orientado por Delgado, e os gols assinalados por Paula Cota e Norma. Em setembro de 1960, nova partida entre os dois clubes anilenses. A 16 de dezembro, novo confronto. Pacotilha : O Globo (MA) - 1949 a 1962 - DocReader Web (bn.br) O futebol feminino começou efetivamente, no Maranhão, no bairro do Anil, com o surgimento de duas equipes, o Anilense e o Aurora. Os confrontos registrados pela imprensa, nos anos seguintes, se referiam apenas à essas duas equipes. Quando outras equipes começaram a surgir, como a do America, foram formadas por jogadoras daquele bairro.
COMEÇA SÁBADO (2) A COPA DO BRASIL DE FUTEBOL FEMININO E O INTERNACIONAL DA CIDADE OPERÁRIA É O REPRESENTANTE MARANHENSE.
COPA DO BRASIL DE FUTEBOL FEMININO 2013.
Time do Internacional da Cidade Operária.
Começa sábado (2) no Estádio Municipal Nhozinho Santos a Copa do Brasil de Futebol Feminino, o nosso representante é o Internacional da Cidade operária (FOTO), que vem com força total, a equipe treino no ultimo sábado contra a equipe da Aclem e mostrou como vem a equipe para este ano. Assis Araujo (assisaraujoesporteamador.blogspot.com)
A PACOTILHA, 13 DE ABRIL DE 1918
HAMILTON RAPOSO
Escrevi este texto em 2017 e posto hoje como homenagem ao lutador da vida o REI ZULU. Não há como ficar indiferente a grave contusão de Anderson Silva. O cara representa ou tem o perfil do brasileiro simples, negro, pobre e vitorioso. Devo fazer uma ressalva, admirar o homem Anderson Silva é muito diferente do que admirar o lutador de MMA. Não gosto de MMA e não a considero como esporte. Sou do tempo do telecath Montilla. Meus ídolos não eram desfigurados e não transmitiam a sensação de violência. Ted Boy Marino era o galã do telecath, depois de lutador virou palhaço na primeira versão dos Trapalhões. Tinha o Verdugo e uma série de lutadores, todos muito bem caracterizados, representando o bem e o mal, mocinhos e malvados. As lutas eram exibidas no horário nobre da televisão, não tinha fratura, não tinha sangue. Todos se deliciavam com as tesouras voadoras, imobilizações e saltos acrobáticos. Tudo era diversão, alegria e fantasia. Um circo televisivo! O patrocinador do evento era o Rum Montilla, uma bebida alcoólica de péssima qualidade, capaz de provocar a pior das ressacas e induzir da alegria ou o inferno. Teve aqui em São Luís um pico máximo de consumo da bebida, o período de carnaval da década de 1960 a 1970, era a bebida que embalava as matinais carnavalescas do Grêmio Litero Recreativo Português e ninguém da minha geração ficou isento de um porre e de uma ressaca provocado pelo Rum Montilla. Pois bem, o excesso de testosterona nos jovens tupiniquins maranhenses, embalados na onda do telecath, repaginou o telecath com o nome de luta livre, e surgiu o maior e mais completo lutador de todos os tempos: O REI ZULU. Acho ou tenho quase que certeza que o Rei Zulu descenda diretamente de alguma realeza africana. Forte, corajoso, educado, carismático e invencível na arte de trocar socos e pontapés. Rei Zulu não tinha técnico, não tinha treinamento qualificado em nenhuma arte marcial, sabia apenas dá porrada, porém dizia ser especialista no agarra/agarra. Certa vez a TV Mirante exibiu um de seus treinamentos, quando puxava pelo pescoço um imenso pneu de trator. Duvido se Anderson Silva tinha a força suficiente para puxar um pneu de trator pelo pescoço. Outra vez apareceu puxando uma carroça pelas ruas do seu bairro cheia de crianças. Rei Zulu era temido e capaz de vencer qualquer adversário sem desferir qualquer golpe, bastava fazer uma de suas famosas caretas que desconcentrava qualquer um. Suas lutas lotavam ginásios e campos de futebol, tudo sem mídia, sem patrocínio e sem o glamour global. Ninguém sabia o que era MMA. Rei Zulu representa o brasileiro nordestino, o mais forte de todos os brasileiros, o maranhense mais pai d’egua que existe. Um lutador invencível, nada na vida o abateu. Rei Zulu merece o respeito e admiração de todos. O Maranhão deve um imenso favor a este bravo guerreiro da luta pela vida e pela sobrevivência!
EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA
Realizava-se um Festival de Capoeira. Eles, adeptos, ali se conheceram. Depois do primeiro encontro, vieram outros sucessivamente. Começaram um namoro, onde, mais à frente, no centro de uma roda de capoeira, ele, de joelhos, pediu-lhe em casamento. Agora, comemorava-se novo festival. O mestre distribuía camisetas contendo frases positivas alusivas à capoeira e, inclusive, em homenagem à sua amada. Tudo era muita festa naquele grupo de amigos capoeiristas, que sempre se apoiavam, se solidarizando entre si, valorizando a amizade e a harmonia. Um episódio interessante a ser registrado é que duas frases dessas camisetas refletiam o título de duas crônicas que o mestre houvera lido e gostara muito. Isto despertou o interesse de todo o grupo, que quis saber a que se referia, quando ele então contou, e daí por diante os presentes passaram a ler as crônicas do autor, por terem se identificado também com a sua forma de escrita e respectivas abordagens. Na capoeira, a extraordinária movimentação dos corpos, girando dentro da roda, dando suas cambalhotas e outros saltos, com leveza e elegância é digna de muitos aplausos. Os capoeiristas, ao fazerem sempre os seus jogos, apresentam tudo com a maior elegância, disciplina, alegria e, assim, seguem felizes e levam contentamento a todos os que os assistem. Foi nesse contexto, que o nosso jovem casal entrou na roda e, ajoelhado, ele a pediu em casamento, declarando a sua paixão no ritmo musical da capoeira, prendendo a atenção de todos. Ela ficou muito emocionada com a surpresa e deu o tão sonhado “sim”. Então, um amigo da roda entregou ao pretenso noivo uma caixinha que ele abriu, ainda ajoelhado e lhe mostrou as alianças, colocando uma delas no dedo anelar da noiva. Ela, com lágrimas rolando, fez o mesmo, colocando-lhe a outra aliança. Ele continuava a cantar, comparando a sua noiva a uma ninfa que cantava e o encantava. A música, ele entendia que mexia muito com todos que a ouviam, lembrando que as noivas capoeiristas geralmente cantam e encantam ao sabor do ritmo da dança e se transformam em ninfas na mente dos seus amados. Os presentes, na roda de capoeira que a tudo assistiam, estavam emocionados com o momento. A alegria tomou conta do recinto contagiando a todos; e o espetáculo de capoeira, nesse dia, foi inesquecível. Empolgados, os noivos começaram a trocar ideias de como poderiam realizar o casamento. Certamente teria que ter uma roda de capoeira, com eles ao centro em uma apresentação muito bem ensaiada. Quando ela comentou isso em casa, super animada, a sua avó lhe perguntou: - Filha, como vai dançar capoeira de vestido de noiva? No primeiro pulo todo mundo vai ver o que está por baixo do vestido. - E ela respondeu para a avó, cheia de amor: - A senhora tem toda razão, minha avó. Vou produzir duas roupas e ele também: uma, vestida de noiva, para o SIM, e a outra apropriada para o momento da capoeira. A avó ficou aliviada, pois amava muito essa neta e respeitou a sua opção por um casamento diferente do modelo tradicional. Eis que decidiram casar no cartório e depois iriam se dirigir para um salão de festa em que promoveriam uma bela recepção. Entrariam de forma tradicional no recinto, ao som de berimbaus e violinos. A decoração do salão seria toda de flores brancas e muitas folhagens, retratando a PAZ que o mundo precisa e que tanto os noivos pregavam e valorizavam. Outro ponto importante para eles seria o bolo, que queriam grande e muito belo com um casal de capoeiristas em cima, simulando passos de capoeira. E assim ocorreu, conforme tudo planejado. A entrada dos noivos ficou lindíssima, ele com sua mãe, e ela com um tio muito querido, haja vista que o seu pai já havia falecido, bem como sua mãe. Um mestre capoeirista, muito admirado, se prontificou a dizer algumas palavras, quando os noivos estariam à frente dos convidados e trocariam as alianças de mãos. E assim aconteceu. Durante a cerimônia, esse amigo, citando o Mestre Pastinha, disse a eles: - Não esqueçam que capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo e, sim, aquele que se deixa movimentar pela alma. E lembrem também das palavras do Mestre Bimba: - "Os valentões são inúteis. Numa guerra não duram muito. Nos lugares realmente perigosos, os verdadeiros duros são os homens cautelosos, que respeitam todo e qualquer ser, desde
um animal, e que levam a sério os seus próprios medos". E continuando, citava: - Nunca esqueçam que sem humildade não serão jamais capoeiristas, mas apenas lutadores de capoeira. Portanto, unam as suas almas, sejam humildes e guerreiros da paz, e apliquem tudo de maravilhoso que a capoeira prega, como a humildade já citada, mas também respeito, união, equilíbrio, disciplina, companheirismo e lealdade. No salão, se encontravam amigos e familiares católicos, protestantes, espíritas, adeptos do candomblé, mas as palavras proferidas pelo Mestre da Capoeira eram universais, de amor e paz, portanto, bem recebidas por todos os adeptos das diferentes religiões presentes no recinto. Representavam, assim, a citação Bíblica de I Pedro 2:17: - Respeitem todas as pessoas, amem os seus irmãos na fé, temam a Deus e respeitem o Imperador. Eis que depois da solenidade, os noivos trocaram de roupa e voltaram vestidos de capoeiristas. E acompanhando a noiva, seguia a sua avó, que também havia trocado a roupa para entrar no ritmo da noiva, sendo a maior surpresa da noite. A avó havia dito a neta que gostaria muito de homenageá-la nesse dia. E, secretamente, a treinaram para tocar o berimbau. E a avozinha foi super disciplinada nos treinos e os colegas ficaram impressionados com a sua evolução. Portanto, quando a avó entrou tocando o berimbau, ocorreu uma sonora salva de palmas. Antes do início da apresentação, a noiva proferiu algumas palavras aos presentes: - Amo a capoeira e tudo que ela proporcionou na minha vida. Eu era muito tímida e ela me ajudou na interação social, desenvolveu a minha força corporal, mantendo-me em forma, aumentando a minha autoestima e melhorando a minha confiança. E, certamente, se apresenta para mim como um verdadeiro antídoto no combate ao estresse e ansiedade, além de ter me estimulado a desenvolver valores muito especiais. E o mais importante, é que foi na capoeira que encontrei o meu grande amor, em que espero fazê-lo feliz pelo resto de nossas vidas. - O noivo a levantou e lhe deu um beijo apaixonado em que demonstrava que gestos, às vezes, podem falar mais que palavras. Todos aplaudiram muito e os berimbaus, atabaques e palmas começaram a soar com uma animação jamais vista naquele salão. A vovó estava em um momento de felicidade plena com o berimbau na mão, cheia de orgulho da neta que já se apresentava na roda com o seu amado. Mas a surpresa não parava por aí. Um sobrinho de sete anos do noivo também treinou muito antes do casamento, para lindamente e cheio de empolgação, se apresentar. Quando entrou, teve um coro de “Ohhh, que lindo’!!, e ele, muito entusiasmado, deu o seu melhor, outro ponto áureo da festa. Virou ídolo das crianças presentes, onde várias diziam aos pais: - Mãe, me matricula na capoeira??; - Pai, quero aprender capoeira para ser melhor do que ele. Ahh, a inocente competição das crianças já ali se apresentava. Mas o melhor foi outra senhora de 77 anos que disse ao marido: - vou aprender a tocar berimbau, pois achei o máximo a avó da noiva. E o marido: vamos ver, ok?? E ela: - ver o quê?? Na 2a-feira irei iniciar. E o marido resignado diz: -como sei que quando você mete uma coisa na cabeça ninguém tira, então lhe apoiarei e irei com você. Quem sabe aprendo o atabaque-?? E assim, a festa entrou pela noite. Muito astral, alegria e respeito às diferenças religiosas. Após a roda de capoeira, uma banda excelente iniciou tocando músicas dos anos 60, 70, 80 e 90. Ninguém conseguia ficar parado muito tempo em suas cadeiras, pois o som estimulava os convidados a irem para o salão. A vovó não parava de dançar, deixando todos impressionados com o seu condicionamento físico. Sabe aquele casal da melhor idade, cuja mulher queria aprender a tocar berimbau? Deu um show de dança e foi imensamente aplaudido. E eis que ela se vira para o marido: - Mas na dança sou melhor que a avó da noiva, né?? Ahh novamente a competição inerente ao ser humano!!. E ela recebeu, como resposta, um beijo apaixonado do marido dizendo ao seu ouvido: Para mim, você é a melhor dançarina do mundo-!! E continuavam a flutuar pelo salão. Passou-se muito e muitos anos, mas o casamento dos capoeiristas que construíram uma família muito linda de três filhos, continuava a ser lembrado como um feliz e respeitoso acontecimento. Invoca-se aqui o Salmos
118: 1 – Dai graças ao Senhor porque ele é bom e sua benignidade dura para sempre.
CAPOEIRA NO/DO MARANHÃO: UMA HISTÓRIA/MEMÓRIA CONTRADITÓRIA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Poética Brasileira Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Licenciado em Educação Física / Mestre em Ciência da Informação
O Mestre Edomir, da Academia Poética Brasileira4, escreve artigo em que a Capoeira aparece como ‘pano de fundo’, descrevendo a beleza dessa importante manifestação cultural brasileira e, sobretudo, ludovicense/maranhense... Mhario me pede um artigo sobre a mesma Capoeira... em alguns dos comentários na postagem de Edomir, fizeram referencias a meu trabalho no resgate da “Capoeiragem Tradicional Maranhense”, como denomino a Capoeira praticada no Maranhão – a Capoeira do Maranhão!!!! Sim, a Capoeira no Brasil possui as suas vertentes, sendo a mais conhecida delas a bahiana, nas suas características, ou modalidades, de Angola e Regional; na Bahia, além dessas duas – e pouca (re)conhecida , existe a do Recôncavo... Mas temos também, como das mais antigas, em sua manifestação, a Capoeiragem carioca – tão bem descrita pelo Mestre do Quilombo do Leblon André Lacé Lopes – quando de seu resgate, em especial a Capoeira de Sinhozinho e de Mestre Zuma, e, para espanto dos maranhenses, tem como um de seus precursores nada menos que Coelho Neto: sim! O ‘nosso’ Coelho Neto, reconhecido, pela Federação Internacional da Capoeira – FICA – como um dos precursores, ao lado de Zuma, Sinhozinho, Bimba e Pastinha. No Recife, veio dar no frevo... E em São Luís? A Capoeiragem – prefiro esse termo: luta dramática de rua!!! Na definição de André Lacé –é tão, ou mais, antiga quanto a carioca, a bahiana, ou a pernambucana!!! Os primeiros registros a dão como surgida no Rio de Janeiro no final dos 1700, e aparecendo, a partir dos 1800 na Bahia (Salvador e Recôncavo), no próprio Rio de Janeiro, em Recife, e em São Luís... Existem registros de sua prática próximo ao Palácio do Governo nos anos 1820, conforme jornais da época, e o informe de que há muito era praticada no interior e na periferia. Abrindo um parênteses, num dos Congressos Brasileiros de História dos Esportes, Educação Física e Lazer, ainda no inicio dos anos 2000 – Ponta Grossa, 2004 – apresentei um trabalho sobre a Capoeiragem do Maranhão; na plateia, Lamartine da Costa e um outro professor, depois soube baiano. Logo mais à tarde, a abertura oficial, e a Palestra magna, de abertura, seria dada pelo Professor Catedrático de Capoeira da Universidade de Coimbra!!! Paulo Coelho – não ‘aquele’ Paulo Coelho... – e começou falando: minha tese de doutorado, na Universidade de Coimbra, que possibilitou meu ingresso como Catedrático naquela Universidade portuguesa foi colocada por terra agora pela manhã, na apresentação do professor maranhense!!! A capoeira no Maranhão é tão antiga quanto a da Bahia e a do Rio de Janeiro ou Pernambuco... A memória registra que a Capoeira no Maranhão teria surgido, ou implantada, no final dos anos 1950/60 por dois capoeiristas: o primeiro, maranhense, escafandrista da Marinha, que veio para a construção do Porto do Itaqui, procedente do Rio de Janeiro – Roberval Serejo; o outro, o nosso Mestre Sapo, chegado logo após. Só que aqui, ambos já encontraram as rodas do Mestre Diniz, acontecidas na Praça Deodoro... Mestre Diniz aprendera com um tio seu, e via os movimentos dos carregadores no Cais da Sagração, em seus momentos de folga, quando vinha ao centro da cidade: praticavam a ‘carioca’... “Carioca” é uma denominação que a Capoeira recebeu em São Luís e em algumas cidades do Maranhão, onde o tráfico negreiro foi intenso, em especial após o 1835. Encontramos essas referencias em cidades como Cururupu, e em quase toda a Baixada; em Rosário, em Codó, assim como encontramos, no Maranhão, em
1874, uma postura municipal proibindo o ‘jogo da capoeira ou carioca’ bem antes da legislação de 1890, que a criminalizou, em todo o território nacional. Quando se fala em tráfico negreiro imagina-se que seja a ‘diáspora forçada’ a partir da África; mas não, havia intenso tráfico interprovincial também; quando da expansão econômica do Maranhão naquelas primeiras décadas dos 1800, muitos escravos provenientes do Rio de Janeiro foram importados por latifundiários maranhenses, em especial para as plantações da Baixada; daí, talvez, aquela dança-luta que apresentavam ser chamada de ‘carioca1... Mas no Maranhão, dentre as ‘capoeiras primitivas’ – assim as denomino – encontramos a famosa ‘Punga” –registrada por Câmara Cascudo como originária do Maranhão e só aqui praticada; depois da criminalização no ano de 1890, passamos a conviver com a ‘punga’ praticada por mulheres, dentro do Tambor de Crioula. Mas a ‘punga dos homens’ ainda é tradição em regiões remanescentes quilombolas, como em Rosário e, mais recentemente, resgatada em São Luís, pelos Mestre Patinho, Marco Aurélio, dentro do Tambor de Mestre Felipe... a Punga dos Homens é uma capoeira primitiva!!! Além da ‘Angola”, da “Regional”, da “Contemporânea”, temos a “Tradicional Maranhense”!!! Parabéns, Edomir e Mhario, por essa bela crônica envolvendo a ‘nossa capoeiragem’: é assim mesmo, uma ‘luta dramática’ de vida...
HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO
“ARCHIDIOECESIS SANCTI LUDOVICI IN MARAGNANO”: ANOTAÇÕES PARA O SEU CENTENÁRIO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA. MESTRE EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
DELZUITE DANTAS BRITO VAZ
C.E.M. LICEU MARANHENSE LICENCIADA EM ESTUDOS SOCIAIS LICENCIADA EM HISTÓRIA ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DO ENSINO
Neste ano de 2021, no 02 de dezembro, se completará o centenário da Elevação da Diocese de São Luís do Maranhão à Arquidiocese, pelo decreto da Sagrada Congregação Consistorial; e, no ano de 2022, a 10 de fevereiro - pela bula Rationi congruit de Pio XI5 -, à sede metropolitana6 . Pertence ao Conselho Episcopal Regional Nordeste V da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
PARTE V
O ARCEBISPADO - 02 de dezembro de 1921/10 de fevereiro de 1922
Pela Bula “Rationi congruit”, de 10 de fevereiro de 1922, do Papa Pio XI, confirmativa do Secreto Consistorial de Bento XV, datado de 02 de dezembro de 1921, seria o Maranhão elevado a Arcebispado, tendo, como sufragâneos, no Piauí, o Bispado de Teresina e a prelazia de Bom Jesus da Gurgueia, criada por Bula de 18/06/1920, e mais, no Maranhão, a prelazia de S. José de Grajaú. E no futuro, mais dois outros bispados piauienses, criados em 1944: Oeiras e Parnaíba seriam sufragâneos da Metrópole de São Luís, até que passaram a sufragar a de Teresina, quando elevada, em 1952 à dignidade arquiepiscopal. A Prelazia de São José de Grajaú, criada em 1922, deve-se aos capuchinos lombardos, após o massacre de Alto Alegre, no Alto Sertão maranhense e vales dos rios Grajaú, Mearim, Pindaré, Turiaçu e Gurupi, e deu-se quando da elevação do Maranhão em Arcebispado. O Bispado do Maranhão já havia sido reduzido anteriormente, por duas vezes, sendo a primeira em 1719 com a criação d do Pará, e a segunda em 1901, com a do Piauí, esta seria a primeira vez que seria dentro dos limites do próprio Estado. Perderia praticamente a metade de sua extensão: as paróquias de N. do Bonfim de Grajaú, de Santa Cruz de Barra do Corda, de S. Pedro de Alcântara de Carolina, de S. Francisco Xavier de Turiaçu, e de Santa Teresa de Imperatriz e Porto Franco.
5 Pio XI, nascido Ambrogio Damiano Achille Ratti (em latim: Pius PP. XI); (Desio, 31 de maio de 1857 — Vaticano, 10 de fevereiro de 1939), foi o 259º bispo de Roma e Papa da Igreja católica de 1922 até à data da sua morte. A partir de 1929, data do Tratado de Latrão, foi o primeiro soberano do Estado da Cidade do Vaticano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_XI 6 http://www.vatican.va/archive/aas/documents/AAS-14-1922-ocr.pdf
D. OTAVIANO PEREIRA DE ALBUQUERQUE – 1923/1936 – só viria a tomar posse solene em São Luís a 28/06/1923. Em 1924 dá-se a instalação da União dos Moços Católicos; 1925, a peregrinação do ano santo a Roma; em 1927, o retorno dos jesuítas. E em 1930, ocorre a chamada revolução de 30, abrindo uma crise na igreja, quando da nomeação do Padre Astolfo Serra, em 1931, como interventor no estado. O Arcebispo se retira do Maranhão (13/04/1931), até sua remoção para Campos (16/12/1935). Felipe Conduru Pacheco governa em seu nome.
DOM CARLOS CARMELO DE VASCONCELOS MOTA – 1936/1944 – Em sua gestão são criadas mais duas circunscrições eclesiásticas dentro do próprio estado: o Bispado de Caxias e a Prelazia de Pinheiro, ambas em 1939.
DOM ADALBERTO SOBRAL – 1947/1951 -; a 08/09/1944 o Cabido Metropolitano provia-a interinamente com a eleição do Conego José Maria Lemercier, que exerceria a função por dois anos e meio. Morre a 24 de maio de 1951.
DOM JOSÉ DELGADO – 1952/1963 -, tomaria posse somente em 03/02/1952; o monsenhor Luis da Cunha Madureira responde pela cúria no período de 31/05/1951 até a posse do novo Arcebispo. Nomeado por ato de Pio XII a 04/09/1951, e tomado posse me 03/02/1952, só receberia o palio episcopal em agosto de 1953. O primeiro bispo auxiliar, D. Otavio Aguiar, é sagrado a 30/01/1956 e é transferido a 17/03/1956; o segundo foi D. Antônio Batista Fragoso efeito a 13/03/1957 e sagrado a 30/06. Realizada a I Conferencia Episcopal da Província Eclesiásticado Maranhão, 25 a 29 de junho de 1952, quando foi feita a proposta de elevação da Diocese de Teresina à dignidade de metrópole, sendo aprovada pela Santa Sé e efeito imediato através da bula ‘quamadmodum insignis’ de 09/08/1952, passando as dioceses e prelazias ao novo Arcebispado já existentes do Piauí: Parnaiba, Oeiras e Gurguéia. Atuou em todas as áreas, em especial na Educação Superior, criando escolas, e a universidade católica, que viria a se constituir o núcleo da atual Universidade Federal do Maranhão. No seu governo foram criadas dezessete novas paróquias, sendo quatro na sede: S. José e S. Pantaleão, N. S. de Fátima, divino Espirito Santo (Floresta) e S. Judas Tadeu (João Paulo); treze no interior: N. S. de Nazaré (D. Pedro), S. Sebastião (Peri Mirim), N. S. Fátima (Vitorino Freire), S. Sebastião (Codó), S. Benedito (do Rio Preto), N. s. da Conceição (Cantanhede), Natividade de \Nossa Senhora (Urbano Santos), São Francisco das Chagas (Bacabal), N. S. dos remédios (Timbiras), N. S. da Conceição (Pirapemas), S. José (Lago da Pedra), s. Sebastião (Matinha), e S. Antônio da Trizidela (Pedreiras). Propôs a criação de mais três dioceses no Maranhão, apenas uma efetivada, pela Bula ‘de Christi fidelium’, de 30/10/1962, do Papa João XXIII, criando a Diocese de Viana, que permaneceria sufragânea da de São Luís, e abrangeria doze municípios da baixada. Criadas as prelazias de S. Antonio de Balsas – 20/12/154, desmembrada do Bispado de Caxias, com quinze municípios -, Carolina –desmembrada da de Grajaú, instituída a 14/01/1958 - e a de Candido Mendes – desmembrada da de Pinheiro, a 16/10/1961, composta de seis municípios.
DOM JOÃO JOSÉ DA MOTA E ALBUQUERQUE - 1964/1984 - nomeado em 28 de abril de 1964, em substituição a Dom José de Medeiros Delgado, Dom Mota foi empossado em 19 de julho seguinte. O arcebispado de Dom Mota aconteceu paralelamente ao regime civil-militar. Em 20 de março de 1984, o Papa João Paulo II aceitou sua renúncia. Dom Mota faleceu aos 74 anos em São Luís. D. Helder Câmara havia sido nomeado Arcebispo do Maranhão e, sem tomar posse, três dias depois, prefere a de Olinda e Recife.
DOM PAULO EDUARDO ANDRADE PONTE - 1984/2005 - Durante o governo de Dom Paulo Ponte o número de paróquias da Arquidiocese aumentou de 19 para 40, e comunidades religiosas foram acolhidas ou reativadas. O Seminário Santo Antônio foi reativado e ampliado em sua área territorial. Para a formação do clero o sistema de ensino foi remodelado com a fundação do CETEMA (Centro Teológico do Maranhão) hoje, IESMA (Instituto de Estudos Superiores do Maranhão). Com recursos da ADVENIAT construiu o novo palácio episcopal. Com sua aceitação de ofertas ou côngruas oficiais do governo do Maranhão a Catedral passou por reformas consideráveis. Com a sugestão de Dom Xavier Gilles de Maupeou, Dom Paulo Ponte enviou para a Europa alguns padres do clero secular para estudar. Devido questões de saúde e, tendo completado 74 anos Dom Paulo Ponte renunciou ao múnus episcopal no dia 21 de setembro de 2005.
DOM JOSÉ BELISÁRIO DA SILVA –2005/2021 - elevado a Arcebispo em 21 de setembro de 2005 pelo Papa Bento XVI, para a sede metropolitana de São Luís no Maranhão. Tomou posse como Arcebispo de São Luís, no dia 19 de novembro do mesmo ano.
Abraão Marques Colins – Rosário - MA; Mestre em Filosofia; Diretor Geral do IESMA. Admilson Sousa de Jesus – São Luís - MA; Conselho Presbiteral; Pároco da Paróquia São João Calábria. Ailton César Alves de Souza – Vitória do Mearim - MA; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão. André Luís Martins Santos – Bacabeira - MA; Reitor do Seminário São João Maria Vianney; Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré; Coordenador da Pastoral Vocacional; Equipe de Formação Inicial. Antônio Carlos da Silva Baldez – Viana - MA; Especialização em Teologia Pastoral; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Antônio José Ferreira Soares – São Luís - MA; Mestre em Teologia Dogmática; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo; Professor no IESMA; Equipe de Formação Inicial. Antônio José Ramos Costa – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Cachoeira Grande. Ayrton Frank Castro Pinheiro – Viana - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Saúde e Santo Antônio –Axixá e Presidente Juscelino-MA Cláudio Mendes Corrêa – São Luís - MA; Mestre em Liturgia; Pároco da Paróquia Santa Terezinha; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão Cláudio Roberto Santos Cruz – Belém - PA; Doutor em Teologia Dogmática; Pároco Solidário da Paróquia de São José do Ribamar; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Professor do Curso de Teologia do IESMA; Diretor da Rádio Educadora e Presidente da Diretoria Executiva da Fundação Dom Delgado. Clemilton Luís Azevedo de Moraes – São Luís - MA; Mestre em Teologia Moral; Reitor do Seminário Santo Antônio; Vigário Paroquial da Paróquia São João Batista (Centro). Crizantonio da Conceição Silva – Imperatriz-MA; Coordenador Arquidiocesano de Pastoral; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Penha; Conselho Presbiteral e Capelão do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Maranhão. Edson Gusmão Nunes – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Santo Amaro - Santo Amaro do Maranhão. Enildo Cruz Dias – São Luís - MA; bacharel em Fonoaudiologia. Eudo Costa Ferreira Filho – Penalva - MA; Pároco Solidário da Paróquia São José do Ribamar. Everaldo Santos Araújo – Dom Pedro - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios; Conselho Presbiteral. Félix Inglez Filho – Em tratamento. Flávio Marques Colins – Rosário - MA; Mestre em Sagrada Escritura; Professor no IESMA; Administrador Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré; Equipe de Formação Inicial. Gutemberg de Sousa Feitosa – Codó - MA; bacharel em Jornalismo; Pároco Solidário da Paróquia de São José do Ribamar; Diretor da Rádio Educadora; Diretor do Jornal do Maranhão; Vice-presidente da Diretoria Executiva da Fundação Dom Delgado. Hamilton Sobreira Silva – Brasília - DF; Pároco da Paróquia do Espírito Santo do Alto Timbira; Conselho Presbiteral. Heitor Waldimir Franklin da Costa de Morais – São Luís - MA; Pároco da Paróquia São João Batista-Centro. Hélio de Jesus dos Anjos Pinto – Vitória do Mearim - MA; Vigário Paroquial da Paróquia de São José e São Pantaleão; Assessor da Pastoral dos Surdos. Irailson Dias Barbosa – Icatu - MA; Pároco Solidário de São José de Ribamar. Ivanildo Barros – Cajari - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Rosário; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores; Coordenador dos presbíteros da Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Jadson Borba e Silva – Garanhuns - PE; Pároco da Paróquia São João Batista de Vinhais; Professor do IESMA Jânio Carvalho dos Reis – Sítio Novo - MA; bacharel em Psicologia; Pároco da Paróquia Sant’Ana. João Alberto Gomes – Emérito. João Benedito Campos Abreu – Viana - MA; Pároco da Paróquia de Santo Antônio do Parque Vitória. João Dias Rezende Filho – São Luís - MA; Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Vila São Luís. José Bráulio Sousa Ayres – Penalva - MA; Doutor em Teologia; Pároco da Paróquia da Santíssima Trindade; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores. José Raimundo Trindade – Matinha - MA; Mestre em Comunicação; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil. José Ribamar dos Santos Vieira – Humberto de Campos - MA; Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré. José Ribamar Nascimento – São Luís - MA; Doutor em Teologia Moral; Pároco da Paróquia Divino Espírito Santo da Liberdade. Jozimar Pinheiro Guimarães – São Luís - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida do Munim. José Robério de Lima – Quixeramobim – CE; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição -Coroadinho
Leonardo Hellmann – SC; Administrador Paroquial da Paróquia Sagrada Família. Lindomar Lima Santos – Axixá - MA; Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição da Bem Aventurada Virgem, Bacabeira - MA Luís Carlos Andrade Macedo – Tufilândia - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Icatu. Luís Henrique Reis Costa – São Luís - MA; Pároco da Paróquia São Francisco e Santa Clara. Manoel Assunção Nunes Filho – Paço do Lumiar - MA; Pároco da Paróquia São José e São Pantaleão. Máxemo de Jesus dos Santos – Cachoeira Grande - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Marcos André dos Prazeres Lima – São Luís - MA. Pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, Raposa - MA Olívio Majdalani de Melo – Salvador-BA; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário do bairro João de Deus. Orlando Cunha Ramos – Humberto de Campos - MA; Pároco da Paróquia de São Cristóvão. Orlando Cutrim Moura – Viana - MA; Pároco da Paróquia Santa Rita, de Santa Rita. Osvaldo Marinho Fernandes – Vitória do Mearim – MA. Paulo Henrique Carvalho Santos – São Luís - MA; Capelão da Polícia Militar do Estado do Maranhão.. Paulo Sérgio Mendonça Cutrim –PiraíMatinha-MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz. Raimundo Gomes Meireles – Itapecuru-Mirim - MA; Doutor em Direito Canônico e Bacharel em Direito Civil; Chanceler da Cúria Arquidiocesana; Juiz da Câmara Eclesiática, Vigário Paroquial da Paróquia Santíssima Trindade; Capelão do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão; Conselho Presbiteral; Colégio de Consultores. Reginaldo da Costa Pereira – Bacabal - MA; Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, do bairro de Fátima. Ricardo João Cordeiro Moreira – Belém - PA; Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, do Bequimão. Roney Rocha Carvalho – São Luís - MA; bacharel em Arquitetura; Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, do Moropoia. Sérgio Henrique Garcia de Braga Mello – RJ; Mestre em Sagrada Escritura; Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem.
Presbíteros incardinados não residentes
Cláuber Pereira Lima – Pedreiras-MA; Mestre em Teologia; Diocese de CalgaryCanadá desde 18.06.1999. 4747- 30th Street S. E. Calgary, AB T2B 3K5 – Alberta Canadá E-mail: clauberlima@gmail.com José Ribamar Garcia de Sousa – Cachoeira/Morros-MA; Capelania do Exército desde abril de 2010. pejgarcia@bol.com.br Osvaldo de Freitas Lopes – Arquidiocese de Olinda-Recife desde outubro de 2013. 02.09.1969 22.12.2001 04 Osvaldo Marinho Fernandes – Vitória do Mearim – MA; Diocese de Viana - MA desde 26.12.2017
Presbíteros não incardinados, mas residentes
Auriélio Martins – Diocese de Bacabal; Reitor do Seminário Dom Pascásio André Nivaldo – Diocese de Brejo-MA Reitor do Seminário Divino Salvador Clédison Reis Lima – Comunidade Católica Shalom Edson Geraldo Pimenta – Diocese de Belo Horizonte; Administrador Paroquial da Paróquia São José do Bonfim. Francisco de Assis da Silva Lima – Diocese de Coroatá - MA; Reitor do Seminário Nossa Senhora da Piedade. Flávio Lazzarin – Presbítero Fidei Donum da Diocese de Mântua/Coroatá. Franco Ausania – Fidei Donum da Diocese de Balsas – MA Francisco Galdino Freire – Diocese de Sobral - CE; Capelão do Colégio São Vicente de Paulo. Giuseppe Luigi Spiga – Fidei Donum Cagliari/Viana; Reitor do Seminário São Bonifácio. Ivanildo Oliveira Almeida – Diocese de Imperatriz; Reitor do Seminário Bom Pastor.
EUGES LIMA
Era um sonho da França, colonizar terras no Novo Mundo, a América. Durante muito tempo, os franceses disputaram com Portugal o Brasil. Francisco I, rei da França, nunca reconheceu os termos do Tratado de Tordesilhas (1494), que dividia a América entre Portugal e Espanha. Nos séculos seguintes, vários súditos do rei da França, tentaram criar colônias no Brasil. A França Equinocial foi uma dessas tentativas no Maranhão, ocorrida nos primeiros decênios do século XVII. Claude d’Abbeville em sua “História da Missão dos Padres Capuchinhos e Terras Circunvizinhas”, publicada em Paris, dois anos depois do seu retorno do Maranhão, em 1614, chamou essas novas terras situadas na América de “França Equinocial” ou “Nova França Equinocial”, por estarem localizadas além da linha Equinocial (linha do equador), na região dos trópicos. Em 2014, o Blog “Brasiliana Heráldica”, editado por Leonardo Piccioni, fez um interessantíssimo achado, cujo teor passou despercebido durante todas essas décadas, diria, durante séculos por historiadores e estudiosos do assunto. Embora bem conhecida essa obra do Padre Capuchinho, tendo diversas reedições, traduções. Anotada, prefaciada, comentada e citada em inúmeros textos, este surpreendente achado, demonstra que esse livro, guarda ainda em seu bojo, vários “segredos” e “enigmas” a ser desvendados sobre a “Nova França Equinocial”. A descoberta que mencionamos acima é o “brasão da França Equinocial”, que foi publicado no frontispício da “História da Missão dos Padres Capuchinhos”, sendo feito referência a ele no prefácio dessa obra. De forma muito perspicaz, Piccioni, percebeu que no frontispício desse livro, havia dois brasões nos cantos superiores, um do lado direito e outro do lado esquerdo. O do lado esquerdo identificou facilmente, “bem óbvio, era o do Reino da França, à esquerda, timbrado com a coroa real da França e cercado pelos colares da Ordem de São Miguel e da Ordem do Espírito Santo”. Porém o outro brasão, do canto oposto, que ele chamou de “misterioso”, não conseguiu identificar a principio. Mas lendo atentamente o prefácio da obra, encontrou o que estava procurando, as referências e descrição dos elementos a respeito do misterioso brasão que estava estampado no canto direito, sendo atribuído à França Equinocial, o reino do sol, como podemos verificar claramente nesses fragmentos abaixo do livro “História da Missão dos padres Capuchinhos”: " Não és tu o Reino dos Lírios, ó França? E não adornam esses lírios o Reino de França? Do mesmo modo essa França Equinocial é, entre os demais, o Reino do Sol, e o sol o embeleza especialmente, pois daí não se retira jamais e aí se deita perpetuamente. Porque, pois, não colocar no frontispício deste livro: Indis sol splendet, splendescunt lilia Gallis [O Sol da Índia brilha, or lírios franceses brilham]"(ABBEVILLE, 1975, p. 72).
" Esse grande Deus, ó França, honrou-te dando-te por armas de teu Reino três belos lírios em campo azul; portanto não lhe desagradará que se dê a esse reino da nova França Equinocial um sol de ouro fino em campo de azul, a fim de que a unidade da Essência Divina figure misteriosamente no escudo assim com a trindade das três pessoas divinas se representa em tuas armas. E assim como reconheces que o esplendor de teus lírios depende do esplender de Deus, verdadeiro sol de justiça, doravante terás também a alegria de veres o esplendor desse belo sol da França Equinocial brilhar em virtude da beleza de teus lírios. E terás a alegria não só de contemplar o teu rei como o rei do Sol, ele que já é o rei dos lírios, mas ainda como o verdadeiro hieróglifo da Majestade Divina." (ABBEVILLE,1975, p. 72).
CERES COSTA FERNANDES
Não sei há quantos anos começou essa incrível baboseira de as crianças passarem a chamar de tias primeiro às professoras do jardim da infância (o nome não é mais esse, mas acho mais poético assim), depois às outras professoras, por fim a todas as mulheres de variados graus de proximidade. O doce vocábulo tia perdeu o privilégio de nomear carinhosamente a irmã do pai ou da mãe e pessoas queridas, de mais idade, com um vago grau de parentesco na família ou, ainda, aquelas com a patente legitimamente adquirida por longa amizade. O uso desgastou a palavra, e o que era doce enjoou. De enjoado a pejorativo foi meio passo, hoje, serve até para flanelinhas nos darem irritantes e, quase sempre, errôneas instruções: Encosta mais pra direita, tia. De par com a cambulhada de tias, vieram os tios. E todo amigo do pai ou da mãe virou tio. E não acaba aí o infortúnio da palavrinha, agora, por efeito passageiro do sucesso de mais uma novela global, ser chamado de tio está ganhando uma conotação maliciosa, a do homem maduro que conquista, não a poder de dinheiro –que assim não tem graça – mas pelo poder da sedução, embora, na história em pauta, não se saiba bem quem seduz quem. Depois do desafortunado Tio da Sukita, o da propaganda de sucesso de um certo refrigerante – de novo a mídia! – em que o conquistador maduro, por mais que tente, é sempre rejeitado pela ninfeta –, surge na telinha um tio sedutor que anda enchendo de caraminholas o ego da turma masculina de meia idade para cima. Estão todos se achando “o tio”, aquele da novela, nada menos que o Edson Celulari, a quem rotular de coroa é pura maldade. E, conforme observo, o devaneio malicioso assola a faixa dos coroas, desde os jovens e bem apanhados até os gordos, magros, barrigudinhos ou caquéticos. Tem um ditado aí, por sinal antigo - ai meu Deus não lembro de nem um novo que diga o mesmo -, que reza, pretensão e água benta cada um toma o quanto quer, acho que é isso. Ou bonito e gostoso é quem se considera. Pronto, lembrei. Esse é mais novo. E isso me traz de volta à mente uma conversa com o poeta e cronista Affonso Romano de Sant’Anna, na época em que tive a sorte de tê-lo como meu professor, na PUC. Falávamos, então, sobre crônicas, e comentei a sua, já famosa, A Mulher Madura. Texto belíssimo, de pura prosa poética, que fez um tremendo sucesso entre o público leitor feminino no final dos anos oitenta, a ponto de tornar-se um ícone das mulheres ditas maduras. Affonso revelou, divertido, que escreveu a crônica pensando na mulher entre os trinta e quarenta anos de idade, quase a mulher de Balzac. E a descreve no texto: uma mulher, não mais uma jovenzinha, mas com todos os seus encantos preservados e burilados por uma suave aura de maturidade. Surpreendeu-se depois ao ser abordado seguidamente por mulheres de variadas idades, de jovens levemente senhoras a senhoras de verdade, de matronas a anciãs, a lhe agradecerem efusivamente pela defesa dos encantos da mulher madura que todas se consideravam. Assim é também com os tios de todas as idades e formas físicas que passaram a fazer caras e bocas para as ninfetas, achando-se páreo duro para o Edson Celulari. Ocorre-me agora que a xaroposa e confusa novela América, de rumo perdido como o pais homônimo, é capaz de, enquanto agride nosso discernimento, fazer um bem ao nosso léxico. Sabiam que já há mãe proibindo a filha mocinha de chamar de tio os amigos do pai? Que bom! Quem sabe assim, na defesa da moral e dos bons costumes, não morre esse modismo tolo e infantil de inventar parentesco. Um pedido a Glória Perez, crie também uma coroa devoradora de meninos chamada de tia pelos “sobrinhos”, pra ver se matamos dois coelhos de uma só cajadada ou no linguajar midiático: compre um e leve dois. (Texto publicado em 2005. Como vemos nada mudou, só o nome da novela)
VERGONHA E RENÚNCIA - (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?)
EDMILSON SANCHES
Há exatamente 54 anos, no dia 9 de maio de 1967, um prefeito imperatrizense renunciava ao cargo. Eurípedes Bernardino Bezerra, o Euripão, coronel da Polícia Militar, que assumira em 04 de fevereiro de 1967, entregou o cargo, depois de ter tentado mudar a Farra Velha (zona de meretrício) da rua Sousa Lima, no centro de Imperatriz, para o lugar chamado Cacau, nas proximidades do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens - DNER). Ao saberem disso, os vereadores foram contra. E deu no que deu. No lugar de Euripão, tomou posse no cargo de prefeito o vice, Raimundo Sousa e Silva, que governou até 31 de janeiro de 1970. A história poderia terminar aí, mas um depoimento do próprio Euripão, em 2001, ao professor e pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, revela que a prostituição verdadeira e vergonhosa não era aquela das mulheres de difícil vida da tradicional "escolinha" da Farra Velha. A prostituição -- dessa de caras cínicas, caras lavadas e almas sujas -- estava no Poder Legislativo. Vereadores souberam que foram destinados 42 milhões de cruzeiros novos para Imperatriz (o cruzeiro novo era a moeda que acabara de ser instituída no Brasil, em 13 de fevereiro de 1967). Aqueles milhões, claro, eram para o prefeito fazer as melhorias necessárias na Imperatriz daqueles tempos. Conta o prefeito Eurípedes Bernardino Bezerra em entrevista ao professor Leopoldo Gil: "[...] eles [os vereadores] vieram em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça. Aí eu disse: ' -- Esse dinheiro não é nosso, não pode ser.' [...]" Contabiliza e conta Euripão que, "no total", dos 42 milhões, os vereadores "queriam 24 milhões para eles". E qual foi a reação do prefeito: "Eu fiquei tão enojado com aquilo... Vocês sabem de uma coisa?" "Cansado" -continua Euripão --, "peguei a máquina de escrever"... ...e eis um pouco do que o prefeito escreveu em sua carta de renúncia: "Senhores vereadores, minha presença aqui [em Imperatriz; Euripão tinha vindo de São Luís] representou um cachorro fiel, encarregado de uma carniça gorda. Os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim [...]"
E, após mencionar os "instintos podres e imundos" dos vereadores", "cumprimento do dever" etc., assinou a carta e, encerra ele: " -- Adeus!...Vim embora." *
Será se hoje ainda existe "prostituição", "urubus atrás de carniça" e outros "instintos podres e imundos" nas excelsas casas legislativas local, municipais, estaduais e federais, em Imperatriz, no Maranhão, no Brasil? Será? Um resumo da biografia do ex-prefeito Euripão, que consta da "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi, lançada em março de 2003: EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA. Coronel da Polícia Militar do Maranhão e político. Prefeito de Imperatriz, renunciou pouco tempo depois da posse. Governou no período de 4 de fevereiro a 9 de maio de 1967. Nasceu em 17 de dezembro de 1915, no povoado Curador, antigo distrito de Barra do Corda (MA) e hoje Presidente Dutra (MA). Sucedeu ao interventor federal “Doutorzinho”*. Chegou a Imperatriz como delegado de polícia, em 9 de julho de 1962, nomeado pelo governador Newton Belo. Candidatou-se a prefeito de Imperatriz, em 1966, a convite de José Sarney, governador do Maranhão, e Henrique de La Rocque. O concorrente era Manoel Ribeiro*, que venceu a eleição mas morreu antes de assumir. Eurípedes recebeu 1.254 votos e perdeu o pleito para Manoel Ribeiro por uma diferença de 12 votos. Recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, depois, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dois dias do julgamento, Manoel Ribeiro morreu e o TRE decidiu diplomar Eurípedes, o segundo colocado, em 4 de fevereiro de 1967, quando tomou posse. Na sua administração, deu início à abertura do bairro Nova Imperatriz e construiu o primeiro meio-fio da avenida Getúlio Vargas, até o Entroncamento. Retornou a São Luís e assumiu, no governo José Sarney, o cargo de assistente militar de fronteiras. Foi nomeado auditor fiscal do Estado em 14 de dezembro de 1969. Passou a coronel da reserva não remunerada. Fotos: Eurípedes Bernardino Bezerra.
DA FUNDAÇÃO DO INSTITUTO GEOGRÁFICO, ANTROPOLÓGICO E HISTÓRICO DO MARANHÃO
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Licenciado em Educação Física / Mestre em Ciência da Informação
Aproxima-se o aniversário do IHGM e mais uma vez volto a discutir sobre sua fundação. Esta, que vamos comemorar, se refere àquele fundado em 1925 por Antônio Lopes7 :
Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha ideia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à ideia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a ideia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. (p. 110) A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutido e votado os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembleia geral. (p. 111) 8 .
Denominava-se “Instituto de História e Geografia do Maranhão” 9, e tinha como objetivos: (a)O estudo e difusão do conhecimento da história, da geografia, da etnografia, etnologia; e arqueologia, especialmente do Maranhão; (b)O incremento à comemoração dos vultos e fatos notáveis de seu passado; e (c)A conservação de seus monumentos 10 . Em agosto de 1926 surgia a “HISTÓRIA E GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, com 97 páginas, contendo ilustrações, e impressa na Typ. Teixeira - São Luiz11. Era seu Diretor Antonio Lopes (da Cunha):
Diretoria 1926-1927:
Dr. Justo Jansen Ferreira – presidente; Dr. José Domingues da Silva – vice-presidente; Dr. Antonio Lopes da Cunha – secretário-geral; Wilson da Silva Soares – tesoureiro;
7 ANTÔNIO LOPES DA CUNHA nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís a 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus
Sousa Lopes da Cunha. Foi o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. 8 LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. 9 Art. II do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 10 Art. I do Regimento Interno, publicado na REVISTA DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO MARANHÃO, ano I, no. 1, julho a setembro, 1926, p. 61; 11 HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926
de Geografia – José Domingues, Abranches de Moura, Justo Jansen; de História: Ribeiro do Amaral, B. Vasconcelos, Ferreira Gomes; de Bibliografia: Domingos Perdigão, Arias Cruz, José Pedro.
Não foram preenchidas 13 vagas de sócio e de 13 de correspondentes. Como se observa, foram criadas 30 cadeiras de sócios efetivos e 30 de correspondentes. Após a nominação de cada sócio efetivo, há uma pequena biografia de cada um com sua produção científico-literária. Dos sócios correspondentes, a indicação do estado onde residem e indicação daqueles que são maranhenses. 12
Já escrevi sobre duas outras entidades, semelhantes, que foram fundadas por aqui: em 186413, e 191814 .
Quando ainda morava em São Luis [o Visconde de Vieira da Silva] foi um dos fundadores do Partido Constitucional em 1863 (...) Foi nessa época que, juntamente com João da Matta de Moraes Rego, César Augusto Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego, fundou o primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e, em 1865, dessa vez ao lado de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Heráclito Graça, Antônio Henriques Leal, Antônio Rego, reunidos no colégio de Humanidades, dirigido por Pedro Nunes Leal, discutiam a formação de agremiações literárias e o futuro da vida cultural da província (...). (BORRALHO, 2010, p. 49; grifamos) 15 .
12 (in HISTÓRIA E GEOGRAFIA- REVISTA TRIMESTRAL DO INSTITUTO DE HISTÓRIA E GEOGRAPHIA DO MARANHÃO, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 55 a 59; Ver. Geo. E Hist., ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 148) 13 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. IHGM FUNDADO EM 1864? REVISTA IHGM No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 61 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011
BORRALHO, José Henrique de Paula. UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império
Brasileiro. São Luis: Edfunc, 2010.
VIERA DA SILVA, Luis Antonio. HISTÓRIA DA INDEPENDENCIA DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO – 1822/1828. 2 Ed. Rio de
Janeiro: Cia Editora Americana, 1972. Coleção São Luis – 4. Edição comemorativa ao Sesquicentenário da Independência do
Brasil patrocinada pela SUDEMA. COUTINHO, Milson. FIDALGOS E BARÕES – uma história da nobiliarquia luso-maranhense. São Luis: GEIA, 2005 COUTINHO, Milson. O MARANHÃO NO SENADO (notas bibliográficas). São Luis: SEFAZ/SECMAS/SIOGE, 1986
COUTINHO, Milson. MEMÓRIA DA ADVOCACIA NO MARANHÃO. São Luis: Clara, 2007. Edição comemorativa dos 75 anos da
OAB-MA, contendo elementos biográficos de notáveis advogados entre os anos 1650 a 1950
DINO, Nicolau. O VISCONDE DE VIEIRA DA SILVA. São Luis: (IHGM?), 1974
14 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. QUANTOS ANOS, MESMO, DO IHGM? REVISTA IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 81 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39__dezembro_2011 15 BORRALHO, José Henrique de Paula. UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império
Brasileiro. São Luis: Edfunc, 2010.
Encontramos, mais uma vez em Milson Coutinho (1986; 2007) 16 mais informações sobre essa fundação, desta vez dando a data em que ocorreu: Com amigos literatos da época, Vieira da Silva fundou, em 28.7.1864, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual fizeram parte, como sócios, entre outros luminares de nossas letras, João da Mata de Moraes Rego, Dr. César Marques, Dr. João Vito Vieira da Silva e Dr. Torquato Rego. Pertenceu, igualmente, à primeira Academia de Letras do Maranhão, fundada em 1865, em uma das salas do Instituto de Humanidades, colégio dirigido pelo Dr. Pedro Nunes Leal. Daquele silogeu foram sócios homens da estirpe cultural de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Herácito Graça, Henriques Leal, Antonio Rego e outros. (COUTINHO, 1986: 52; 2007: 277).
Em “Fidalgos e Barões”, Milson Coutinho faz referência a Nicolau Dino, em biografia do Visconde de Vieira da Silva17 de onde teria obtido as informações sobre a fundação do IHGM naqueles idos de 1863:
IX - NO SEIO DOS PRIMEIROS IMORTAID DA PROVINCIA PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
[...] em 28 de julho de 1864, Luiz Antonio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto
Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, Padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. Cesar Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Torquato Rego, Pedro Guimarães e Frei Caetano. O Dr. Cesar Marques leu um discurso relativo ao ato e o Padre Dr. Cunha apresentou o projeto dos estatutos da nova associação. (p 55-56). (grifamos).
Comprova-se sua existência e funcionamento naqueles idos, através da imprensa: Consta no jornal “A Situação”, edição de 04 de agosto de 1864 a seguinte notícia:
16 COUTINHO, Milson. O MARANHÃO NO SENADO (notas bibliográficas). São Luis: SEFAZ/SECMAS/SIOGE, 1986
COUTINHO, Milson. MEMÓRIA DA ADVOCACIA NO MARANHÃO. São Luis: Clara, 2007. Edição comemorativa dos 75 anos da
OAB-MA, contendo elementos biográficos de notáveis advogados entre os anos 1650 a 1950
Em “A Situação”, edição de 20 de outubro de 1864, apresentado o projeto do Estatuto:
Novo anúncio, convocando reunião, aparece em 27 de outubro de 1864:
E em 29 de outubro é lembrado aos sócios de que haveria a reunião já marcada:
O INSTITUTO HISTÓRICO
Um carteiro dos telégrafos andava ontem com um telegrama na mão, a procura do Instituto Histórico do Maranhão que se fundou aqui por iniciativa do Sr. Simões Silva. Ora, por mais que o estafeta batesse as ruas da cidade, a cata do cujo, não conseguiu notícias do seu paradeiro, chegando a conclusão de que se de fato existe, foi como as rosas de Moliere, ou se de fato nasceu, nasceu já defunto. Afinal depois de muito andar e muito escarafunchar, o homem teve uma idéia, foi depor o telegrama nas mãos do ilustre prof. Amaral, que o abriu e teve a gentileza de no-lo mostrar, a fim de que publicássemos o seu texto. É o seguinte: Cuiabá, 17 Instituto Histórico – Maranhão Tenho a satisfação de comunicar a esse Instituto que acaba de ser reconhecido por sentença proferida pelo tribunal arbitral, constituído pelos ministros Pires de Albuquerque, deputado Prudente de Moraes e o conde de Afonso Celso, o direito de Mato Grosso a toda região contestada pelo visinho estado de Goiás, terminando uma questão secular de limites entre os dos estados. Bispo de Aquino – Presidente
Chamo atenção para a data de publicação: 21 de dezembro de 1920. Vamos ao outro texto, publicado no dia seguinte – 21 de dezembro de 1920 – no mesmo A PACOTILHA19:
INSTITUTO HISTÓRICO
Meus caros amigos: É tão fácil fazer espírito a propósito de qualquer coisa, como falar mal, do próximo, sem propósito nenhum. Desculpem-me esta barata filosofia de algibeira, trasida por uma vossa noticia de ontem. Retrata-se nela um artefato boletineiro, naquele passo rápido que lhe conhecemos, a cata do Instituto Histórico do Maranhão. Economizaria canseiras, se chegasse ao visinho correio e perguntasse lá a quem devia dirigir-se. Responder-lhe-iam logo. Se a memória não nos falha, o Instituto (chasquea?) do fundou-o cá, em julho de 1918, o dr. Simõens da Silva20, que testemunhou aos presentes o seu “grande espanto” por não haver ainda aqui uma corporação dessa natureza. Sob o consenso dos mesmos presentes, leu-se e aclamou-se a lista da diretoria, em que figuravam os nomes dos senhores Dr. Viana Vaz, prof. José Ribeiro de Amaral, dr. Augusto Jansen, prof. Raimundo Lopes, Domingos Perdigão, etc. A nossa modesta pessoa foi escolhida para secretário geral. Mas assoberbadissimo por mil e uma ocupações e não nos tendo os eleitos expressos nenhum desejo de corresponder a gentil iniciativa do ilustre etnógrafo, houvemos por bem remeter-nos a uma presente silencio.
18 in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920. 19 in Jornal PACOTILHA, edição de 21 de dezembro de 1920) 20 Antônio Carlos Simões da Silva nasceu em 1871 e morreu em 1948. Era advogado, etnólogo e fundou o Museu Simões da Silva (RJ). Foi nomeado, em 1911, agente auxiliar do Arquivo Nacional no Rio de Janeiro. Foi, também, presidente do Instituto Histórico Geográfico Fluminense e membro do Conselho Diretor da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Publicou diversos opúsculos, entre eles, O continente americano propulsor da paz (1926). Silva, Antônio Carlos Simões da - Dibrarq (arquivonacional.gov.br)
O Sr. Simões da Silva – conforma noticia A PACOTILHA edição de 4 de abril de 1917, fora designado pelo IHGB a percorrer diversos estados para preparar o congresso americanista, providenciando a organização de comissões locais:
A ideia de fundar-se um Instituto Histórico parte de Fran Paxeco, em reunião da Academia Maranhense de Letras, conforme consta de nota publicada em 12 de agosto de 1918, em O Jornal:
Também se comprova seu funcionamento através de notas publicadas nos jornais da época, como segue: Em 1919, o Instituto indicou seus representantes para o Congresso de Geografia:
O Jornal, 23 de agosto de 1919
Em 1921, o Instituto estava em pleno funcionamento, com o Sr. Viana Vaz na sua Presidência, conforme consta de nota de 6 de julho de 1921, em “O Jornal”:
A posse da nova diretoria, com o Dr. Viana Vaz à frente, se dera em 25 de janeiro de 1921, conforme noticia o “Diário de São Luiz”:
O que trago, hoje, é o ato de fundação do IGAHM, publicado por A Pacotilha de 8 de julho de 1918: “Uma reunião útil”. Em reunião realizada no dia 07 de julho de 1918, às 16 horas, no Centro Português, prédio onde já funcionava a Faculdade de Direito, recém fundada, convocada por dr. Simões Silva; compareceram à reunião, além do ajudante de ordens do Governador, 1º Tenente Bessa Cunha, os senhores doutores Viana Vaz, Ribeiro do Amaral, Fran Paxeco, o Capitão de Fragata H. Graça Aranha, Major Artur Pinheiro da Silva, dr. Anibal de Pádua, Desembargador Pereira Junior, dr. Pires do Rio, dr. Miranda Carvalho, 1º Tenente José Valentim Durhan Filho, dr. Lopes da Cunha, dr. Adolfo Domingues da Silva, dr. Aquiles Lisboa, dr. J. Franco de Sá, prof. Raimundo Lopes, dr. Herbert Jansen Ferreira, Cel. Virgilio Domingues, dr. Lemos Viana, Domingos Perdigão, dr. Nogueira Coelho, J. Henrique Caldeira, dr. Antonio Lopes, Antonio Fernandes de Moura, A. Leonardo Gomes, Amadeu Aroso, Iedo Fiuza, etc. O representante do Governador, Tent. Bessa Cunha assumiu a presidência dos trabalho, tendo à mesa Raimundo Lopes e Simões Silva; tomando a palavra, Aquiles Lisboa, após apresentar o notável etnógrafo, este disse dos propósitos da reunião: fundar-se o INSTITUTO GEOGRÁFICO, ETNOGRÁFICO E HISTÓRICO DO MARANHÃO. E demonstrou sua estranheza em não haver, ainda, um por estes lados... Apresentou, então, o projeto do estatuto, o qual se procedeu à leitura, submetido e aprovado!!! Foi formada a primeira Diretoria: Presidente honorário: José Joaquim Marques Presidente: Viana Vaz 1º e 2º Vice Presidentes: Justo Jansen Ferreira e J. Ribeiro do Amaral Secretário Geral: Fran Paxeco 1º e 2º Secretários: Raimundo Lopes e Nascimento Morais 1º e 2º Tesoureiros: J. Henrique Caldeira e Cel. Virgilio Domingues Orador: Domingos Barbosa Bibliotecário: Domingos Perdigão.
Viana Vaz e Fran Paxeco assumiram a direção dos trabalho, e foi redigida a Ata de Fundação...
CERES COSTA FERNANDES
São Luís é uma cidade fértil na produção de loucos. Loucos reconhecidamente loucos e amados pela comunidade ludovicense e que fazem parte do nosso patrimônio cultural. Considerando a riqueza e variedade desse patrimônio, quero concentrar-me na plêiade de loucos que morava ou freqüentava a Beira-Mar entre o final da década de 60 e a década de 80. Explicado isto, justifico a omissão de figuras emblemáticas da loucura local, tais como o indefectível Bota-prá-Moer, que delegou, a outro mais louco que ele, o estandarte do exército de Brancaleone, ou Vassoura, o pacato cidadão rosariense, que se travestia todo em fúria quando chamado, pelos moleques de rua, por esse epíteto, ou do doce João Pessoa, que sonhava casar-se e investia contra a molecada (sempre eles!) que o provocava, dizendo :”João Pessoa , tu não casa!”. A lista é longa, mesmo sem contar os atuais, vamos, pois, ao xis do problema. Uma questão me intrigou muitos anos: a causa da inflação populacional de loucos na Avenida Beira-Mar e adjacências; fato observado por mim, nos anos que lá residi. Após teorizar bastante, optei por uma conclusão simples: doido também é gente, ou parafraseando Magri, “doido também é ser humano”; deve estar aí a explicação. A exemplo das pessoas “normais”, os loucos amam o belo, a magia, as coisas que agradam ao espírito e ao corpo; e nada era tão mágico, nesta São Luís, como a Beira-Mar daqueles anos. Nada havia do trânsito furioso de pesados e fumarentos ônibus; nada de automóveis a ver quem corre mais; nada de marginais a nos pôr em fuga e desassossego; nada da procissão de pedestres a se atropelarem pelas calçadas. Imaginem outro cenário: de vez em quando, um carro, nenhuma poluição sonora, navios ancorados no porto (sabíamos se a maré era enchente ou vazante pela posição da proa dos navios), crianças andando de bicicleta, crianças jogando bola nas ruas, crianças passeando em carrinhos, empurradas pelas mães e... loucos em profusão ( loucos mansos), a percorrer as ruas e calçadas com ar feliz. Aliás, um parêntesis: de que ou porque riem os loucos? Descobriram a eterna fonte de serotonina, ou detêm a verdadeira razão do universo e riem de nós, os ignorantes ? Vamos, então, aos doidos, que já tardam. A minha preferida era “Maria Pitó”, negra, de meia-idade, com os cabelos enrolados em dois “pitós” no alto da cabeça, vestida com indefiníveis trapos compostos de peças de roupas superpostas – como, hoje, está em moda nos grandes desfiles. Morava em um abrigo de madeira, lata e cofos, com vista para o mar, ao lado de uma carvoaria que existia perto do finado “Baixo Leblon”. De lá, só saía para mendigar. Mansa, doce até, jamais reagia às provocações da molecada. A sua peculiaridade era pedir apenas o que necessitava no momento, não aceitando nada, nem um pouco, a mais do solicitado: se pedia “ uma colher de café” e lha davam duas; ela, cuidadosamente, separava uma e devolvia a outra, dizendo, “só pedi uma”. O mesmo acontecia quando pedia “uma banda de pão”, ou meia banana; nada a convencia a aceitar o excedido nem a demovia da devolução. “Nhô”, era outro tipo interessante, branco, magro, de barba rala, cabelos encaracolados e idade indefinida. Não sei onde morava, mas vivia, da manhã à noite, na Beira-Mar, por vezes, sentado na amurada, olhando fixamente o mar por longas horas ou andando, perigosamente equilibrado na mesma amurada. O curioso é que, andando ou sentado na mesma, não parava de conferir nos dedos uma conta que não acabava nunca. Um dia, catando objetos do lixo jogado ao mar, na lama da maré seca, foi surpreendido pela maré enchente e, cercado pelas águas, viu-se impossibilitado de retornar à rampa da Praia do Caju, de onde alcançaria o cais. A sua reação foi de um autêntico louco: voltou-se contra as águas, invectivando-as em altos brados. Juntou gente e começaram as tentativas para tirá-lo do mar a encher; atiravam-lhe cordas, bóias e ele as ignorava, voltando-se para os que tentavam ajudá-lo, com o dedo em riste, dizia: “tu me conhece ? tu me conhece ?”. A operação-resgate deu-se quando um espectador desceu, em meio ao vivório da patuléia e amarrou-lhe uma corda à cintura. Esperneando e, já sem as calças, Nhô foi içado à calçada da Avenida. Kátia era, sem dúvida, uma mendiga diferente: muito alta, magra e morena, com traços de cigana, que, ao invés de pão ou dinheiro, pedia queijo. Agressiva, quando não atendida, enfurecia-se, quebrando jarros e plantas dos jardins; provocada, atirava pedras nos terríveis moleques. Ela me fazia, e faz pensar, sobre a
necessidade do supérfluo ( talvez, porque queijo, para mim, também, é gênero de primeira necessidade). Tenho medo de ficar doida, pedir e não ganhar queijo. Nào podemos esquecer “Seu Manoel”, que morava na “casinha da bosta”, da CAEMA, bem em frente ao mar, na descida da Rua Montanha Russa; mas esse movia-se no limiar da loucura/esperteza. Mulato claro e bemfalante, de cabelos longos e crespos, amarrados em um rabo-de-cavalo largo e chato, assemelhando-se a um cauda de castor, que lhe chegava aos calcanhares, vinte anos, segundo ele, sem ver tesoura, nem água. Escrevia uns cartazes proféticos de teor apocalíptico e os expunha na Praça Benedito Leite e adjacências. Consta que tinha admiradores, talvez seguidores, que esse negócio de loucura, já disse, é muito subjetivo. E mais falaríamos, “se não fora tão longa a lista para tão curta crônica”. Ainda restam, o zangado “Pato”, que não perdia uma missa na Igreja da Sé; ou o “Diabo”, que permanecia imóvel, por longas horas, de braços cruzados a fitar o mar, negro alto e forte, vestido de sacos amarrados com cordas, assim chamado pelos dois chifres que formavam seus cabelos, combinados com as sobrancelhas arqueadas à Dali “Risadinha”, protótipo do louco feliz, que conversava e ria, o tempo todo com alguém “lá em cima” e muitos mais... Nesse assunto de loucos, sempre podemos cometer injustiças, porque, como dizia o cartaz no portão do hospício: “são todos os que estão? estão todos os que são “ ? Uma pergunta, onde estão, na hodierna São Luís, nossos loucos de rua?
NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO
A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.
DESPORTO: TERRENO DA ‘DIALÉTICA’
Os pintores holandeses do século 17 criaram, pela primeira vez, uma arte inteiramente laica. Os seus quadros ilustram situações e criaturas da vida quotidiana, e não figuras bíblicas, deuses, heróis mitológicos ou santos. Isto é, as cenas profanas e os anónimos, banais, pequenos e mortais humanos tiram o lugar ao sagrado e teológico. Surgem, na mesma altura, visões humanistas em diversas áreas, postulando que tudo (ficções, narrativas, leis, religiões e mandamentos) é fabricado pelos humanos e para o seu usufruto. Hegel (1770-1831), com a genial noção da ‘dialética’, mostra que todas as ‘coisas’ contêm o seu contrário. Por exemplo, a liberdade, que permite escolher, sujeita-nos às escolhas feitas. Assim, a rotura epistemológica da modernidade com a religião, como fonte de explicação e referência, abre as portas ao aparecimento de novas formas de ‘religiosidade’ e relacionamento com o divino. É nesta quadratura dialética que o desporto se integra. Por um lado, os mais importantes eventos desportivos, como os Jogos Olímpicos, ‘religam’ milhões de pessoas de todo o mundo e dos diversos estratos sociais e culturais, atraídas pela vertigem das admiráveis prestações dos atletas. Por outro lado, a tapeçaria desportiva configura uma mistura de democracia e aristocracia. Com efeito, a competição decorre no areópago sacrossanto da ‘igualdade’, mas visa apurar a ‘desigualdade’. As regras valem para todos, porém os talentos não são iguais; a diferença é objetivamente fomentada, avaliada, mensurada e compensada. Ou seja, a igualdade formal (axioma da democracia) legitima e promove a desigualdade natural (bandeira da aristocracia). Em suma, a admiração e veneração (e até idolatria) dos campeões pelos adeptos têm ínsito o apreço de valores aristocráticos no universo democrático. O desporto comprova, pois, que a transcendência não é de ordem cosmológica ou divina; está enraizada nos humanos, quer nos extraordinários, quer nos mais simples.[1] [1] Luc Ferry, Sete Lições Para Ser Feliz ou os paradoxos da felicidade, p.122.128. Lisboa: Círculo de Leitores, 2017.
CAMINHADA
Venho de Bragada e da escola primária, a dos pais, a pública (de quatro paredes e sem banheiro) e a das circunstâncias. Venho da pedra e do vento, da chuva e da neve, do calor (escaldante no verão) e do frio (crestante no inverno), do chão duro e árido, da falta de calçado e roupa, da escassez de festa, da abundância de trabalho e pobreza, da imploração pelo pão-nosso de cada dia. Fiz e percorri caminhos íngremes, impossíveis de abrir e andar sem a ajuda de pessoas assaz generosas. À família do nascimento acresceu a do casamento, esta a maior realização. Cheguei à Universidade do Porto; hoje ainda não consigo compreender bem a ascensão. Aquele ponto de partida, originário do destino, é e será o meu lado; jamais o esquecerei e trairei, e deixarei de falar em nome daquela gente. Somos andarilhos e fotógrafos. Caminhamos apressadamente, procurando captar a luz e as sombras. Consumimos dias e noites e nem sequer chegamos ao meio do projeto e dos sonhos atrevidos. É pouco o que colhemos e temos para oferecer. Ao final, cumpre-nos redigir e apresentar o balanço: de tudo, o mais importante é a vida, nunca bastante, sempre escassa e fugidia, magra e minguante.
CONFISSÃO
Há precisamente 5 anos cheguei ao fim da carreira académica. Comigo ela decorreu, no essencial, assim: nunca possuí os conhecimentos suficientes, muito menos o saber, para corresponder às exigências da docência. Sucedeu-me algo semelhante ao que ocorre com um mineiro: farta-se de cavar no subterrâneo e só encontra algumas e pequenas pedras preciosas, após ter aberto um túnel deveras longo e profundo. Era igual o meu estado no final do trajeto profissional. Os tempos eram outros. Agora entramos na livraria de qualquer aeroporto e vemos uma resma de manuais de coaching, com estratégias de sucesso garantido e infalível nos mais diversos misteres, sobretudo nos de liderança. Outrora não havia esses comerciantes da felicidade. Tínhamos que lavrar as courelas ásperas e lançar nelas o grão da esperança, sem a promessa de que germinaria e daria frutos. Confiávamos na boa vontade e reta intenção; e a verdade é que o milagre se realizava e oferecia criaturas maravilhosas.
Olho para trás e recordo não poucas aulas sofridas pelos estudantes e também amargas para mim. Percebo hoje, através das janelas cristalinas da memória e das convicções acumuladas, que as maiores falhas surgiram no relacionamento, nas palavras e atitudes. A dimensão relacional é a pedra de toque do Ser Professor; é ela que decide asorte do ensino e da educação. Peço-lhes que acreditemna sinceridade desta confissão.
PRESSUPOSTOS PARA SER FELIZ
“Ser estúpido, egoísta e ter saúde: eis as três condições requeridas para ser feliz. Mas, se nos falta a primeira, tudo está perdido." - eis o veredicto de Gustave Flaubert (‘Carta a Louise Colet, 13 de agosto de 1846). Immanuel Kant (‘Fundamentação da Metafísica dos Costumes’) subscreve o postulado anterior: “Se a Providência tivesse querido que fôssemos felizes, não nos teria dado a inteligência.” Enfim, felicíssimo é o burro. Não o animal do campo, de carga e tração, do moleiro e do lavrador, mas o espécime urbano, orgulhoso do seu diploma, com espírito comprimido e o guarda-roupa atafulhado de albardas, antolhos e cenouras.
DO GENUÍNO ESPÍRITO LIBERAL
(Em louvor do Primeiro de Maio) Revejo-me no Estado secularizado, sem doutrina ou religião oficial, estruturado para organizar a convivência dos cidadãos. Ele não existe para fabricar e servir chefes, mas para ajudar os indivíduos a realizar o melhor de si como entes humanos. A esfera comum e pública não é anulada pela visão laica e liberal. Esta implica fixar os princípios gerais do direito, as garantias e condições para que possamos jogar, com o máximo de equidade, harmonia e paz, o jogo da vida. Ou seja, a laicidade sacraliza a beleza, a justiça, a ética e a verdade, os excelsos princípios da fraternidade, da proteção social, da solidariedade e providência do bem-estar. As circunstâncias atuais exigem que o modelo, de matriz europeia, seja renovado de modo a irradiar inspiração contagiante para esculpir as feições da Humanidade inteira. Este liberalismo amoroso e fraterno, do trânsito de nós para o Outro, para o que está próximo e distante, apela à concretização, num plano superior, do ideário humanista da modernidade. Chegou a hora de ser pósmetafísico, de se tornar corpo da cidadania universal. Temos que sair do egocentrismo; precisamos dos outros e da sua felicidade e liberdade, por mais frágeis e precárias que sejam, para compreendermos, cumprirmos e atingirmos a experiência existencial. A crítica à democracia do presente não advoga, pois, o regresso ao passado; as fragilidades democráticas convidam ao empenhamento na edificação de um melhor futuro. Ora, os embusteiros ditos ‘liberais’, que andam por aí, embalam o intento sórdido de repor as catacumbas da prémodernidade.
NOITE DE POESIA: CLARÃO DE MAGIA!
Já me sucedeu, várias vezes: ser convidado para assumir um papel que está acima da minha altura. Na última sexta-feira, a cena repetiu-se. Da Professora Patrícia Alexandra Dinis Poeta, ilustre catedrática da UTAD, tinha recebido a intimação de apresentar o livro de poemas ‘C’MÁSSIM’, da sua autoria. Subi o Marão e cheguei a Vila Real, num misto de ansiedade e júbilo. Após o sublime jantar, daqueles que soltam a inveja dos deuses do Olimpo, entramos no belíssimo átrio da Câmara Municipal. Mas… o que iria falar o aldeão transmontano, áspero e terroso, cujas arestas e esquinas não foram até hoje limadas por tantos anos passados na cidade e Universidade do Porto? Nada sei do ofício de escrever poemas e de os dissecar! Como Guerra Junqueiro, sou ‘macho de palavras que escouceiam’. O aperto era grande. Não podia então recuar. C’mássim atrevi-me a balbuciar uma série de dizeres. Comecei dizendo, na língua charra transmontana, que o livro era ‘do bô’ e do ‘de certo’. Que perfazia uma sinfonia de versos e imagens (estas elaboradas pelos filhos da autora). Que, em todo o tempo e lugar, precisamos de poesia, porque esta livra da queda no absurdo e evita a tentação da corrupção. Que ela é leve e sublime, e igualmente ato de resistência a tudo quanto deforma e desvirtua a vida. Que é uma porta fechada,
a sete chaves, para os imbecis, e franqueada aos inocentes. E, por isso, nas ruas, na escola e na universidade, necessitamos de muita poesia profunda e mágica. Necessitamos dos afagos e beijos luminosos e quentes, que ela contém, para clarear e encorajar o espírito, romper a neblina e o crepúsculo, e trazer de volta a manhã solar. Encontramos estas ‘coisas’ nos trinta e três poemas da obra em apreço. São poucos? Sim, porque aguçam a fome de mais! Os livros de poesia são pequenos, frágeis, singelos e elegantes, do tamanho e da forma da beleza. Cabem no bolso, na alma e no coração. São limpos das enxúndias e gorduras do supérfluo, despidos de máscaras e mentiras. São pássaros de palavras-asas, ágeis e leves, que voam e namoram as estrelas e galáxias, tocam o intangível, exprimem o inexprimível e arrebatam para o cume da sensibilidade. Se espremêssemos as páginas, encheríamos as mãos de lágrimas e mágoas contidas. São muito densos e espessos dos bens cruciais que redimem dos senãos e alimentam a ilusão da felicidade. Como, lembrou Robin Williams no filme ‘O Clube dos Poetas Mortos’, a medicina, o direito, a economia, a engenharia e as outras áreas são necessárias à vida; porém a poesia, a beleza, o romance, enfim tudo o que acorda o amor, a amabilidade, a convivialidade e a espiritualidade, são coisas pelas quais vale a pena viver. Bem haja, portanto e pelo muito mais e substancial que esta criatura não soube dizer, a Professora Patrícia Alexandra! Senhora ‘politécnica’ de saberes-fazeres performativos, magnífica ‘pontífice’ do inteligível e sensível, da ciência, da arte e da poesia, a Poeta de nome e de facto confecionou, com a esmerada bordadura dos poemas, um requintado manjar que oferece, generosamente, à nossa premiada degustação. Um lume contra a escuridão!
O MEU BRASIL
O meu Brasil não é o da Disney ou de Miami. É o d'A Pedra do Reino de Ariano Suassuna, de matriz indígena, portuguesa e africana, aberta e assimiladora de outros acréscimos. Não se envergonha da sua origem; antes a exibe como capa de honras. O meu Brasil não quer ser norte-americano, francês ou inglês. Quer ser quem é: vestido da singularidade brasileira e, por isso, merecedor da admiração universal. Não é pária no cenário internacional, mas bem-querido ator principal. Sabe que é dever de todos os países enfrentar a pandemia com responsabilidade. Não comete traição à saúde dos seus cidadãos e àda Humanidade. É civilizado e não tresloucado; segue a medicina e não a cloroquina. Tem um povo lúcido e culto como Ariano, e não rebanho fanático e miliciano. O meu Brasil é um país de doidos pelo canto e poesia, pela alegria e bonomia, pela vida e pelo amor, pela beleza da cor e empatia. Avesso à feiura, maldade e perversidade, não pariu e embala Mateus, nem a política da morte e crueldade. Celebra a arte do encontro, do corpo e do movimento, do jogo e da dança. Vai condenar os matadores e pôr fim à matança.
COMOÇÃO
Sabem o que é a comoção? É o que sucede quando alguém, a quem não concedeste qualquer privilégio, nem sequer fizeste um favor especial, mas apenas trataste corretamente, te envia uma mensagem assim: "Professor, temos tantas saudades suas!" Isto causa um abalo, por dentro e por fora, tão forte que abre uma fonte nos olhos. Não revelo o nome e estatuto do autor da mensagem. Porquê? A vingança pode andar à solta numa casa que deve ser local de cultivo aturado da liberdade. Não pasmem! Se adormecermos na desatenção, acordaremos na prisão.
O IMITADOR DO BUFO PIDESCO
Os jovens e a maioria dos adultos não fazem ideia do que foi a PIDE, a polícia do regime caído em 25 de abril de 1974. Servia-se das figuras sinistras do ‘agente’ e ‘informador’, este vulgarmente conhecido por ‘bufo’, para descobrir quem agia contra o regime, dizia mal dele ou dos governantes. A mais detestável das duas criaturas era o ‘bufo’, existente nos locais de trabalho e nas instituições, inclusive em escolas e universidades. Convinha ter cuidado com as conversas, pois o ‘bufo’ podia estar ao nosso lado, ser um professor, funcionário ou colega. Para mostrar serviço e denunciar alguém, ele não hesitava em inventar o quer que fosse.
Prestem atenção: anda por aí um imitador do bufo pidesco! Quando assistimos a um jogo de futebol, na televisão ou ao vivo, raramente descortinamos algo de anormal nos bancos das equipas. Mas é frequente ver o juiz principal parar a partida e correr para a linha lateral. Ocorre então um escarcéu danado: atletas, técnicos e dirigentes advertidos e expulsos. Porquê?! Devido à ânsia de protagonismo de um denunciante. Entende o zelador que ali ninguém pode tugir ou mugir; todos têm que comportar-se como num funeral. O estádio não é palco de emoções; estas devem ser engolidas! O tartufo causa problemas à arbitragem, estraga o prélio, danifica o futebol e sai de fininho com asas e cara de anjo papudo. Será este o papel essencial atribuído ao quarto árbitro, e o modo de o exercer? A falta de saber-estar, de bom senso e de sentido pedagógico é chocante; exige urgente reflexão. Estrela polar é o atleta, não aquele ou outro figurão.
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO: 'CRISE’ OU ‘PROJETO’?
O défice, que se aponta à educação e formação, tanto na escola como na universidade, deverá ser posto na conta de uma ‘crise’ ou será antes um ‘projeto’?! A quem interessa a proliferação de adolescentes e jovens incultos, sem pensamento crítico, sem capacidade e vontade de questionar a ordem social e existencial, mirrados de criatividade e imaginação, fechados na egolatria e miragem do sucesso, indiferentes aos males do contexto próximo e do mundo distante, conformistas e comodistas, com a voz hipotecada e avessos a tomadas de posição, desprovidos de asas para levantar voo e desfrutar as alturas da admiração, pobres de vocabulário e com a linguagem rente ao chão, sujeitos à liberdade de cordeiros para imolação? Quem não vê o esquecimento do simbolismo expresso no mito da caverna? Este ensina que, para deixar o antro das sombras bafientas e alcançar a verdade, o encarcerado tem que se evadir, enfrentar a luz que queima os olhos e seguir o caminho pedregoso que esfola os pés. Quem não se apercebe do decréscimo do gosto de aprender e do declínio nítido da mestria do nosso idioma, da civilidade, da cortesia, da doçura, da polidez e do aprumo e respeito, da progressão da grosseria, da intimidação, da rispidez e da violência física e verbal? Quem desvaloriza a perda da estesia (síntese do sensível e do inteligível) e do sentido da vida, ambos ligados ao apreço por obras de arte, que nos melhoram, por nos tornarem menos animais, menos materiais, mais espirituais? Quem fecha os olhos à brutal regressão da humanização dos humanos? Quem troca o deus da ampliação, da claridade, consonância e harmonia dos saberes pelo ‘diabolos’ do ludíbrio, da mentira, desagregação e desarmonia? Não quero ser definitivo ou perentório na resposta; pretendo só desinquietar e suscitar a reflexão. Os atingidos não são beneficiados, não. Não há instituições boas, se faltarem os obreiros dessa feição. Para formar Homens, precisamos de Homens. Onde é que eles estão? Não existe quem se omite ou esconde num desvão!
ATENAS OU ESPARTA - OU UMA SÍNTESE DE AMBAS?
Não sou ‘elogiator temporis acti’ (elogiador de tempos idos), mas considero os factos (‘amore fati’), tal como ensinou Nietzsche. E igualmente tenho em boa conta o conselho de Schopenhauer: quando o presente não abre portas a um futuro auspicioso, é altura de parar, olhar para trás, procurar no passado fontes de inspiração, em vez de continuar a caminhar para o abismo. Para justificar a necessidade de paragem e reflexão, podia invocar a obra de Lipovetski, por exemplo, ‘A Era do Vazio’ e ‘O Império do Efémero’. Ou os dados sobre a diminuição do QI médio da população mundial nos últimos 20 anos. Ou ainda o empobrecimento do pensamento, resultante da redução do número das palavras e dos seus significados no uso corrente. Georges Orwell, entre outros, mostrou como isso restringe a liberdade dos cidadãos e reforça o totalitarismo da ideologia dominante. Não é preciso discorrer muito acerca destes cenários. Qualquer professor, à altura da função, se apercebe de que é cada vez mais baixo o nível da linguagem e de raciocínio dos alunos. O léxico é magro, os erros de ortografia e gramática são obesos. O desprezo da regra linguística tem a alegre companhia do atropelo das normas da boa educação e do intelecto. Ou seja, a linguagem, a urbanidade e a lógica andam associadas; em todas, a situação é de calamidade. O saber ler, escrever, contar e expor, outrora pedra basilar da escola republicana, não merece hoje consideração; o cultivo da mente, da retórica, da argumentação e da oratória também não.
Não se trata de uma avaliação subjetiva. São evidências mensuráveis, que a maioria dos docentes vivencia no labor diário. Acresce a agressividade verbal e física, que não os atinge apenas a eles; igualmente os alunos frágeis são vítimas de violência no espaço da escola e no trajeto entre esta e a residência. O que fazer? Talvez começar por reconhecer a erosão dos marcos da capacidade de viver juntos (‘conviver’), da vontade de conhecer e saber e de dobrar a ignorância. Depois decidir se preferimos Atenas (a cidade de prevalência da cultura e ciência, dos oradores, pensadores e poetas, das artes performativas, da ética e estética, da sublimidade e virtude) ou Esparta (a praça dos jovens bélicos, fortes, musculados, destemidos, sem freios jurídicos, espirituais e outros afins). Ou uma síntese dialética de ambas.
DAS PAIXÕES
As paixões são inerentes ao humano. Quererá isto dizer que são positivas? Se formos capazes de as iluminar com algum raio da razão, sim. Caso contrário, ficam carregadas de uma positividade destrutiva; configuram um campo de aprisionamento, com muros e portões altos e espessos, donde não se sai. São assim as paixões ideológicas da mais variada ordem e também as nacionalistas, clubísticas e religiosas. Suscitam, pois, preocupação as declarações de indivíduos com instrução superior, inclusive professores, nas quais proclamam euforicamente a sujeição a uma entidade, sem nenhuma condição. As palavras criam estados de alma e vias de conduta. Uma coisa é afirmar identificações, preferências e opções, outra é enredar-se na teia e cegueira do fanatismo e tribalismo. Livres de freios éticos e da hierarquia de valorações, as paixões transformam o relativo em absoluto. Eis um atavismo que persiste em amarrar-nos à irracionalidade. Não é fácil a Hércules desacorrentar-nos, quando somos nós quem tece a corda e reforça os laços da amarração.
DA PANDEMIA, DOS RATOS E DA VACINA
Na obra clássica ‘A Peste’, Camus alerta-nos para a ameaça permanente dos tempos sombrios: “Os flagelos, na verdade, são uma coisa comum, mas é difícil acreditar neles quando se abatem sobre nós. Quando estoura uma guerra, as pessoas dizem ’não vai durar muito, seria estúpido’. Sem dúvida, uma guerra é uma tolice, o que não a impede de durar. A tolice insiste sempre…” A pandemia assume muitas variantes, age como um polvo, devora tudo quanto exalta o humano. É astuta, possui a artimanha do sorriso e dissemina a indiferença. Persegue, tortura e mata de várias maneiras, impunemente, porque as multidões ignoram o aviso dos livros, como o de Camus: “O bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada.” Para desgraça e ensinamento dos cidadãos, vem sempre o dia em que a peste acorda os seus ratos e espalha a morte na cidade distraída e imersa na euforia. A peste continua por aí. O mundo está cheio de ratos com dentes arreganhados e unhas afiadas. Muita gente prefere não os ver, não enxergar o seu número e o tamanho do focinho, e até vota neles, cuidando que assim escapa ao perigo. Aguarda que os outros sejam corajosos e resistentes, ajam em seu nome e acabem, cedo ou tarde, por derrotar o mal e trazer o bem. Entretanto os crimes, os sacrifícios e o sangue avolumam-se, a desigualdade, a injustiça e indignidade adensam-se. Afinal, os tormentos e os sonhos maus não passam; quem passa são as pessoas que sofrem e morrem. A vacina não deve, pois, induzir a anestesia; ao invés, tem que acordar a sensibilidade à ‘angústia muda’ e a recusa das certezas dos estúpidos, que dificultam o combate da pandemia. Não percamos a rara oportunidade de nos vacinarmos, de uma vez por todas. Contra o Covid-19, obviamente; e, sobretudo, contra o vírus do obscurantismo e do fanatismo, do totalitarismo ideológico, neoliberal e económico, que excede e gera o primeiro, ataca em diversas frentes, nomeadamente na cultura, saúde e educação, corta direitos e inverte o sentido da civilização e da vida. Sim, vacinemo-nos eficazmente contra a gravosa pandemia biológica e social, da qual somos criadores e propagadores!
GIORDANO BRUNO
A culpa de seres queimado na fogueira da inquisição foi toda tua, da ignorância abissal que persististe em propagar contra as evidências arrasadoras. Quem te mandou ignorar que a Terra é plana?! Como não conseguiste perceber que é à volta dela que giram todos os astros, atraídos pelas fulgurantes certezas dos inúmeros idiotas que a povoam?! Queria sentir pena de ti; não consigo. Tu não sabias, de certo, o que fazias: ir à luta sozinho é ato de destemor e imprudência! Arriscaste em demasia. Não podia haver perdão ou complacência para tamanhos excessos.
CONFIA EM TI, PROFESSOR!
Percebes o simbolismo da imagem do desacorrentamento de Prometeu? Ela configura a tua árdua missão! Não dispões de muitos meios, nem de receitas certas ou vias únicas para a cumprir. Isso não constitui razão para desânimo ou inação. Confia em ti, deixa-te guiar pela ousadia e a reta intenção. Mete mãos à obra, acorda e incendeia a admiração e o espanto, para que o aluno saia de si, levante voo da platitude, reconheça, exercite e aprecie a arte de tornar elevado, grandioso e sublime o baixo, o simples, o secular e o profano. Talvez assim enraízem e ganhem forma, na sua vontade, o extraordinário, o superior e o divino, o cume transcendente e imortal do normal e mortal homúnculo humano.
OBRIGAÇÃO DIÁRIA
Ler um pouco, todos os dias, por necessidade e como medicina! E é sempre insuficiente para proteger da ignorância e perceber quem somos, onde chegamos e quanto nos falta andar. Para aprender a alargar os horizontes, a admirar e amar, a compreender e ajudar, a viver e conviver, a respirar e não fugir da vida, a aumentar a liberdade, a alcançar a alegria e fruir a serenidade. Para avisar a consciência contra os rochedos das injustiças e desigualdades que esmagam o mundo, e não perder a esperança de diminuir o seu peso. Obviamente, corre-se o risco de virar ovelha negra; mas ser diferente e sair do rebanho é deveras gratificante!
OS RANKINGS E O ANOITECER ESPIRITUAL E MORAL
A perversidade dos rankings está amplamente denunciada pelos que usam a cabeça para pensar e não se limitam a sustê-la entre as orelhas. Porém os seus arautos teimam em vir a terreiro, tentando obnubilar a lucidez e conformar as consciências. Por isso é preciso dizer as coisas à martelada, à pedrada e à lapada. Os rankings são tributários da visão calculista e obsessivamente produtivista, utilitarista, mercantilista, comercial, contabilista, competitiva, elitista e segregacionista da vida e da educação, a tender para a barbárie. Como se o valor do humano residisse somente na laboração produtiva, tudo devesse ser submetido a ela e nada houvesse de valioso no que excede a produtividade! A insanidade é taxativa: todo o euro investido tem que dar lucro e ser rentabilizado com um produto palpável e quantificável. Logo, as disciplinas científicas e humanistas e os fins educativos, que não correspondam a tal exigência, suscitam um olhar de desqualificação. Aquele e aquilo que não compreende a valia do ‘inútil’ e só considera o sentido restrito da utilidade, o que pode ser medido, objetivado e pesado, tem em si o veneno e destino da ruína. Sim, as últimas décadas, as do império da religião dos rankings, trouxeram a regressão civilizacional, a veneração dos fortes e a execração pública dos frágeis, envenenaram e arruinaram o teor cultural e humanista da educação e formação, tanto na escola como na universidade. É notório o avanço da ignorância, da cegueira ética, do fanatismo, do obscurantismo, da corrupção, da exclusão e da marginalização, dos conflitos e das inimizades, da indiferença, da intolerância e do ódio. Como disse Victor Hugo, não basta que cuidemos de iluminar as praças e ruas da cidade; urge acender archotes para a mente, porquanto a escuridão espiritual e moral também se abate sobre nós. É, portanto, curial uma ‘instrução’ orientada pelo apreço do belo e do ético, da dádiva e da gratuidade, que não encare a existência como um jogo da bolsa, como uma loja de cambistas e mercadores, de competidores e concorrentes na busca desabalada do sucesso, com pressa de chegar vá lá saber-se onde. O aprimoramento das competências, das habilidades e dos conhecimentos, inerentes ao bom desempenho profissional, não pode ser menosprezado. Todavia, a educação e a formação devem privilegiar a cultura do intelecto. O saber é um bem não mercantil ou negociável, um dom, poder e tesouro que beneficia, em primeiro lugar, quem o possui; através deste, influi na sociedade.