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NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

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CURRICULUM VITAE ATUALIZADO

Nasci, como todos, do amor dos pais e da dor de uma mãe. O crescimento foi diferente do de alguns. Não descendo de nobres e possidentes; o sangue não é, pois, azul. A casa, onde vi a luz do dia, já não existe; só restam as paredes esborralhadas. Aprendi, muito cedo, a perceber da terra dura, das pedras agudas, da chuva inclemente, do vento agreste, do sol escaldante e das trovoadas assustadoras. Destas só nos protegia a imagem de Santa Bárbara, exposta na porta da igreja. Ouvi histórias que metiam medo. Vivi funerais de meninos e meninas que morriam mal acabavam de nascer. E também tive lições sobre crenças, milagres e o céu estrelado. Era ainda criança, quando concluí (Maxima cum Laude!) o doutoramento na matéria e recebi o respetivo diploma. Tenho este encaixilhado numa moldura dourada e levo-o comigo para toda a parte. Fui obrigado a ser migrante. Percorri inúmeras etapas; não me lembro como venci a maioria, até porque não corri sozinho as mais importantes. A sorte do casamento com uma mulher extraordinária e os filhos exemplares, que vieram, conferiram coautoria à caminhada, renovada com a chegada da neta maravilhosa. Andei pelo mundo. Conheci árabes, afegãos, gregos, índios, mongóis, judeus, africanos, eslavos, turcos, chineses, japoneses, coreanos, indianos, cambojanos, vietnamitas, tailandeses, malaios, mauberes e todo o arco-íris do universo. Apenas sinto preconceito em relação à malvadez, ínsita e viva nas reencarnações atuais do fascismo, do nazismo e capitalismo selvagem, de Nero e Torquemada. Sou do tempo em que se consertava e não deitava fora o que, por vezes, quebrava. Hoje celebramos 50 anos de casamento. Canto a gratidão! Não olvido donde venho. Continuo a entender da terra dura e das pedras agudas, transformadas em palavras e voz para que a aspereza e a agrura se tornem gentileza e doçura. Sou Doutor Honoris Causa na vida sólida; não me seduz a líquida. Os meus olhos veem no espelho a imperfeição. Ah quanto há e sempre haverá por fazer!

DA MENTIRA E DA VERDADE

A mentira é ágil e ligeira como a lebre. Esta, apesar da perna curta, atinge 55 quilómetros por hora, o que lhe permite deslocar-se rapidamente de um ponto para o outro. Porém, tem pouca duração de vida, porquanto é facilmente apanhada pelos seus caçadores. A verdade assemelha-se à tartaruga. A marcha desta é lenta; demora, pois, muito tempo a chegar ao destino. Em contrapartida, a sua longevidade pode alcançar o marco dos 450 anos.

CONVERSANDO COM OS MEUS BOTÕES

Há idosos que possuem e usam vários óculos, uns visíveis, outros não, de diverso formato e com apurada visão. São capas e lombadas de livros e têm bibliotecas por dentro. Por isso veem mais longe e melhor, falam sobre as circunstâncias e os tempos, o sentido instrumental das coisas e o que é estar vivo. Conseguem assim enfrentar o vazio. Se muitos jovens prestassem atenção ao jeito de ser e agir daqueles idosos, deixariam de só reparar e ter interesse nas coisas, minariam, pouco a pouco, a imaturidade e suceder-lhes-ia o mesmo, quando entrassem na velhice. Haviam de gostar e o mundo seria um prado de sorrisos.

INTELIGÊNCIA E ESPERTEZA

A inteligência é alvíssima, clarividente, leve e transparente. Está casada com o fulgor da verdade; e dá-se bem com a bondade, a generosidade e a beleza. Quando se divorcia deste casamento, torna-se cinzenta, manhosa, pesada e soturna; muda de nome e passa a chamar-se esperteza. Partilha então cama e mesa com a fealdade e a maldade, com o oportunismo e a safadeza.

NO DIA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Na trajetória da Civilização e da Humanidade há um ‘antes’ e um ‘depois’ da criação da figura do ‘pedagogo’, da ‘paideia’ e da ‘escola’. Ergue-se então a fronteira que pretendia fechar as portas à besta e cegueira da ignorância e abri-las à curiosidade e luz do saber e à instrumentalização deste para um mundo melhor. Professor, tens a devida noção do que significou a tua origem e a da educação escolar, e do que recebeste em herança? Fazes ideia da barbárie de outrora e da que está viva agora? Percebes a finalidade cimeira da tua ação? Laboras no aprimoramento do corpo e da criatura, para edificar a Pessoa como síntese harmoniosa da natura e cultura. Não apagues a memória, nem deixes fenecer aquela esperança!

PRIMO LEVI: MURRO NA CONSCIÊNCIA

Em Wannsee, nos arredores de Berlim, há uma casa onde, no dia 20 de janeiro de 1942, se reuniram dirigentes nazis para ultimar os pormenores do extermínio total dos judeus, sob a orientação de Reinhard Heydrich. Oito dos 15 facínoras presentes possuíam o grau de Doutor, ornamento que evidencia bem o teor ético da instrução dita ‘superior’, então como agora! As salas do edifício estão decoradas com imagens e frases das vítimas. Uma das citações é de Primo Levi: “Aconteceu contra todas as previsões; (…) aconteceu que um povo inteiro civilizado (…) seguisse um histrião cuja figura hoje provoca o riso; e, no entanto, Adolf Hitler foi obedecido e adulado até à catástrofe. Aconteceu, logo pode acontecer de novo; é este o cerne do que temos para dizer.” Sim, pode e está a acontecer. Olhem para o nosso querido Brasil, para outras paragens e para dentro de portas: são altas as labaredas das fogueiras atiçadas pelos feiticeiros neofascistas. Não as vedes?! Sofreis de grave doença, não nos olhos, mas na alma.

PARALÍMPICOS

Partiram para Tóquio, com o rosto iluminado por um sol que não se mostra na maioria das pessoas. A alma e o corpo transbordavam de entusiasmo e fogo. E de uma fé que arrasa as assustadoras montanhas da impossibilidade. Aprenderam a ser assim ao longo dos anos. Carregados de ilusões, o doce alimento da felicidade, nunca deixam de recomeçar e sonhar que amanhã será outro dia: promissor, belo e resplandecente. Com razão, porquanto a Humanidade encontra sempre maneira de se reerguer e exaltar. Não devíamos, pois, cansarnos de dar provas disso. Mas, nos dias transatos, quase não houve notícia dos Jogos Paralímpicos que conhecem hoje o seu termo. Afinal, é assaz apertado e fatigante o caminho dos princípios e ideais; custa muito andar nele. Ficamos, demasiadas vezes, aquém de nós.

DA MALDADE DE ÉOLO

No Panteão grego há deuses bons e maus, olímpicos e grotescos. Éolo, o guardião dos ventos, não possui um carácter claramente definido. Tem o poder de enviar cada tipo de vento para a direção que lhe aprouver. Por isso está ligado tanto à bondade como à maldade, havendo provas suficientes (por exemplo, as tempestades desencadeadas no mar, causadoras de terror e morte a muita gente) de que a segunda é predominante. A ruindade de Éolo ficou, mais uma vez, à vista. Deslocou a ilha flutuante, em que mora, para o Oceano Atlântico, perto da costa do Brasil. Este devia celebrar amanhã 199 anos de independência; mas o deus da perfídia conseguiu, com uma nuvem de poeira, cegar muitos cidadãos e levá-los a eleger para presidente e rotular de ‘mito’ um ser horrendo e execrável. Ademais, tirou-lhes a inteligência e lucidez e transformou-os numa súcia de aberrantes fascistoides. Em vez de cantarem a alegria, as cores e a

DA ABSURDIDADE E SEM-VERGONHICE

Parece não haver volta a dar! Para aumentar os ganhos de notoriedade, galgar degraus e passar a perna a outros na escalada da carreira política ou profissional, temos que, doravante, fazer declarações públicas acerca da nossa orientação sexual. Tornar-se-á isto rubrica obrigatória do curriculum vitae? O que é que temos a ver com a orientação sexual do outro? Isso é um não-assunto. Haja Deus e, sobretudo, uma potente onda de indignação perante a sem-vergonhice dos descarados oportunistas! Afinal, não lhes basta ser pequeninos; também são o resto.

COM QUE ENTÃO GOSTAM DE MEDALHAS OLÍMPICAS!

Desceu o pano sobre os Jogos de Tóquio. É tempo de rescaldo e de avaliar a coerência e a consistência das proclamações. Por isso aqui vai, sem rodriguinhos e falas mansas. São hipócritas muitos dos que tanto apreciam as medalhas olímpicas, gostam de felicitar os vencedores e tirar selfies com eles, e dos que tecem críticas à falta de condições para chegar ao pódio. Porquê? Querem sol na eira e chuva no nabal! Não basta gostar; é preciso querer de verdade. E isso implica dar passos nessa direção, porque as medalhas não caem do céu como maná gratuito. Desejarão os 'medalheiros' que haja um sólido investimento na educação física, lúdica e motora dos portugueses? Defendem um desporto escolar a sério? Vão abrir mão de uma escola orientada para os rankings e a obtenção das classificações tão desejadas para entrar no ensino superior? Têm coragem e lucidez para romper com a ideologia que se apoderou da vida e só valora positivamente o que é da ordem do utilitário? Provem isso com atitudes! Não acredito na maioria dos políticos, cidadãos, pais, comentadores e ‘achadores’, nem tampouco na maioria dos professores! Sim, não acredito que estejam disponíveis para exigir e apoiar uma profunda reforma da educação, apostada na realização do talento das crianças, dos adolescentes e jovens, nas diversas áreas. O que vós apreciais, insisto, é a oficina das notas, não a escola axiológica, cultural e pluridimensional. Pactuais com o desperdício do potencial dos alunos e com uma visão ‘educativa’ exaurida, que nada mais contém para melhorar a Humanidade. Estou a ofender-vos? Fico à espera de razões para me penitenciar! No entretanto, leiam o “Mandado de despejo aos mandarins do mundo” e a todos que sejam como eles, de Fernando Pessoa (Álvaro Campos). Vivemos no podre.

‘NÓS-OUTROS’

O castelhano tem a palavra ‘nosotros’ para significar o que em português dizemos com a junção de duas. ‘Nós-outros’ subentende que existimos, nos formamos e prolongamos na mistura e alteridade; estamos ligados uns aos outros por uma linha de pertença à mesma entidade. Somos, pois, ramos de um tronco comum. Todos são nós e outros em simultâneo. Em cada ‘eu’ há um ‘outro’; em cada ‘outro’ habita um ‘eu’. A diferença é constituinte da identidade, dá sentido, finalidade e valia à 'comunidade'. Não é fácil este entendimento, mas não estamos desobrigados da sua compreensão e aplicação, por mais difícil que se apresente o empreendimento.

BRASIL: UMA UTOPIA LUSITANA

Somos originários da Mesopotâmia; talvez não seja esta a designação mais apropriada, porquanto são muitos os rios, todos eles com águas caudalosas e férteis, em que fomos batizados e nos inundaram de messianismo. Ao passar por Jerusalém aprendemos a apreciar e a ter saudade das terras do leite e do mel que lá não havia. Conhecemos o Deus de Israel, as figuras bíblicas, os descendentes de Abraão, os profetas, a Lei de Moisés, a justiça de Salomão. Ainda não tinha chegado o Messias e a promessa da ressurreição. Fomos até à Grécia, pátria de mitólogos, filósofos e vates criadores da Divindade e da Humanidade. Ensinaram-nos que a perda da memória acarreta a da consciência e leva à nossa degradação em porcos.

Tomamos boa nota do ensinamento e acompanhamos Homero na Odisseia. Não perdemos de vista Ulisses na sua errância à procura de Ítaca. Incitamo-lo a não temer os deuses Bóreas e Éolo e os ventos e tempestades que estes desencadeariam. Navegamos pelo Mediterrâneo e chegamos a Roma. Aí ficamos o tempo suficiente para aprender novos olhares e ofícios. Era chegado o tempo de sair do mar estreito e fechado e partir para outras paragens. Tínhamos por missão inventar mastros e velas para as caravelas da inquietude, e navegar pelo mar aberto, imenso, infinito e incógnito. Não conhecíamos essa arte, apenas a de cavar e lavrar. Mas largamos os arados e charruas, descemos das montanhas e atamo-nos a mastros, lemes e remos. Num rufo acordamos as técnicas prometeicas, adormecidas dentro de nós. Para bússola tomamos o astrolábio da fé, a capacidade de fitar o céu e as estrelas, de invocar a proteção de Deus, dos vários nomes de Santa Maria e de todos os santos. Entramos no Oceano Atlântico como quem apalpa o terreno que pisa. Cada viagem realizada tornou-nos mais afoitos e desafiou-nos a alongar a distância, a buscar novas paragens, a enfrentar o desconhecido, a descobrir o mundo por achar. E isto tornou-se tão viciante que nem os naufrágios e as mortes nos fizeram parar. Quantas mães em vão rezaram, quantas viúvas e filhos em desespero choraram, quantas noivas puseram luto e ficaram por casar, quantas procissões se realizaram, quantos cadáveres a sepultura em ti encontraram, para que fosses nosso, oh mar! Valeu a pena? Fomos além da dor, dobramos o Bojador e todos os cabos do medo, da desconfiança, das tormentas e da traição. Enfrentamos as fauces medonhas e grotescas do Adamastor. E a esperança foi ganhando forma desmedida. Pela porta dos nossos olhos a coragem e a ousadia entraram e tomaram posse da alma. Bastava haver chegado à Índia para termos muito para contar e encantar! Mas as ordens e a missão eram infinitas; não consentiam descanso. Era o Brasil que tanto queríamos! Era ele o rio subterrâneo do sebastianismo, antes de este emergir. Ele ficaria como testemunho indesmentível e transcendental da história de Portugal, justificá-la-ia e levá-la-ia para o futuro, sob o olhar e as palmas do Padre António Vieira, de Fernando Pessoa e, mais tardiamente, de Ariano Suassuna. O Brasil, saído da granítica pedra do reino lusitano, seria o Quinto Império, não da conquista e domínio do mundo pela força bruta, mas do espírito, da luz, do convívio e da fraternidade universais. Esse é o Brasil da utopia lusitana e concórdia humana e não da ‘pax norte-americana’. Tem tudo para a realizar, conquanto o queiram os seus cidadãos. Ora uma das melhores maneiras de começar a cumprir o seu destino é cuidar da Amazónia como uma criança que lhe foi posta nos braços, para pôr à prova a capacidade de ator e protagonista de um mundo doce, feito de harmonia e poesia, de canto e encanto. A Amazónia é a pauta em que o Brasil há de escrever uma sinfonia de arrebatadora e comovente beleza; redimirá assim os excessos e defeitos de quem o gerou. É nesta conformidade que saudamos a independência do Brasil e todos os que configuram a sua exaltante diáspora.

A RIMA DO SUCESSO GENUÍNO

A busca da realização não é alienação. É a nossa cimeira e incontornável obrigação. Mas, olha lá, não deturpes esta formulação! A vida cumpre-se num trânsito de constante superação. Ser bem-sucedido é dever muito exigente e comprido. O meu triunfo não pressupõe a destruição de ninguém. Percebes a implicação? Ele inclui o teu também. A vitória difícil e exaltante é não prejudicar alguém. O meu e o teu êxito constituem um modo de rimar; são

COMO SAIR DO ESCURO E VAZIO

"Um dia vazio, embora límpido e brilhante, é tão escuro como qualquer noite." (Anne Frank, O Diário, p. 321). Às vezes, parece que estamos no topo do mundo, mas jazemos na fundura do pasmo. Agir, falar e escrever com esmero e sentido de retidão ajuda a sair das profundezas e ver a luz. Juntar-se ao Outro e ser solidário com a sua dor também.

NO COMEÇO DE MAIS UM ANO LETIVO

Permito-me, caro professor, enviar-te uma curta mensagem. Se não for do teu agrado, atira-a para o caixote do lixo. Se a julgares pertinente, passa-a de mão em mão. Ninguém exige que mostres paisagens belas aos cegos, mas podes levá-los a pressentir e compreender a beleza, a distinguir esta da fealdade e a optar pela primeira. Ninguém espera que proclames a verdade aos surdos, mas não mintas aos que têm a capacidade de escutar. Desperta neles o sentido crítico da dúvida e interrogação, bem como a repulsa pela falsidade. Ninguém aguarda que atinjas a culminância das virtudes, mas apenas que a tua conduta não seja manhosa e oportunista, nem dececione os teus alunos e pares. Será pedir muito? Talvez, porquanto a situação comprova o lamento de William Yeats (1865-1939) num dos seus poemas: “A maré tingida de sangue foi libertada, e por toda a parte / A cerimónia da inocência submersa. / Aos melhores falta-lhes convicção, enquanto os piores / Ardem de paixão intensa.” Por favor, escolhe e pondera as consequências!

REFLEXÃO À MESA DO CAFÉ: DO ESTADO DA PÓLIS

No caminho de casa para o café cruzei-me com muitas pessoas. Não nos saudamos; se saudei alguma, não me lembro do seu rosto, nem sei o nome. Sentado numa mesa, olho as outras. Têm gente que conheço de vista; vejo-a aqui quase todos os dias. No entanto não há diálogo de uma mesa para a outra. Afinal, o que é que nos traz ao café? Creio que é a necessidade de conviver, de ver e ser visto, de falar e ser ouvido. Todavia, falta-nos a coragem para derrubar o muro que se instalou paulatinamente na vida urbana. Esta devia respirar urbanidade, cultivar o sentido de Pólis e Cidade, e não o possui. Deixamos de ser ‘concidadãos’. Somos entes ambulantes, que passam uns pelos outros como as formigas de um formigueiro, cumprindo a função natural e instrumental, sem chegar à convivência eticamente escolhida e configurada. Nunca fomos de todo civilizados, mas hoje estamos de regresso à barbárie. O ‘quê’ vai matando o ‘quem’. Ergamo-nos, reencontremo-nos e saudemo-nos, antes de ficarmos definitivamente mortos!

ENTRE O ALÉM E O AQUÉM

A sonolência não consente que nos levantemos cedo. Ademais, temos ciscos nos olhos e dificuldades em ver. Por isso andamos aos tropeções. Perdemo-nos muitas vezes no caminho. Quando damos conta, já o sol se pôs e caiu a noite. Nunca chegamos a tempo; gastamo-lo na hesitação, na demora e falta de decisão. Agora parece demasiado tarde e não dispomos de resposta certa para a interrogação: qual seria a melhor direção? Mas…vale sempre a pena a ousadia de recomeçar e tentar percorrer a distância entre o além da insatisfação e o aquém da plenitude.

NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: GREVE GERAL DOS ESTUDANTES

O país está atónito: Oitenta por cento (!) dos estudantes do ensino superior decidiram não iniciar as aulas, enquanto não virem satisfeito um caderno de reivindicações. Estas são muito simples. Em primeiro lugar, exigem uma reforma curricular que inclua disciplinas de cultura geral (tais como filosofia, história e literatura) habilitantes a estar à altura das exigências deste tempo, a compreender o curso do mundo e o seu papel de atores e modificadores das circunstâncias. Em segundo lugar, advogam a valorização de aulas presenciais, devidamente preparadas e lecionadas em português escorreito por professores com linguagem culta e edificante, que tenham muito para contar e encantar. Em terceiro lugar, requerem à Assembleia da República a elaboração urgente de uma lei, de cumprimento obrigatório para todos os governos, que fixe um ordenado mínimo para jovens possuidores de curso superior em qualquer área. O ordenado deve permitir-lhes a constituição de família e garantir aos seus membros um modo de vida decente. Trata-se de uma posição em defesa da regeneração social e do futuro de Portugal. O Presidente da República já recebeu uma comissão dos grevistas, testemunhou-lhes inteiro apoio e tirou selfies com eles. Gaudeamus igitur: Viva a Nação valente e imortal!

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