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A PRIMEIRA ESCRITORA MARANHENSE: ALGUMAS DÚVIDAS E ELUCIDAÇÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

A PRIMEIRA ESCRITORA MARANHENSE: ALGUMAS DÚVIDAS E ELUCIDAÇÕES

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Licenciado em Educação Física;. Mestre em Ciência da Informação Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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Quem foi a primeira escritora maranhense? Para Nascimento Morais Filho e Dilercy Aragão Adler, Maria Firmina dos Reis. Antônio Lopes diz ser Leonete Oliveira180, cujo pseudônimo foi Ângela Grassi. Mas por que essa dúvida? Porque Antonio Lopes publicou artigo, em 1909, identificando a poetisa Angela Grassi como sendo Leonete Oliveira, e a chamou de primeira poetisa maranhense!

Título: Leonete OliveiraAutor/ Colaborador:Garnier, M.J. Data:[189-?] Descrição:bico de pena Assuntos:Authors, Brazilian - Portraits Oliveira, Leonete de Portraits B869.8 Oliveira, Leonete de, n.1888 - RetratosEscritores brasileiros - RetratosT ipo: Desenho Idioma: Português Antonio Aílton, em seu ensaio, repetiu o título que eu dera no material que publicara em minha revista – A Revista do Léo181 – quando trouxe os “recortes & memórias” sobre essa poetisa maranhense. Dilercy nos traz alguns dados sobre Maria Firmina, para contestar a temporalidade de ambas: Maria Firmina nasceu em 11 de março de 1822. Em 1859 publicou o Romance Ursula, Em 1861 publicou o romance Gupeva. Em 1871 publicou um livro de poemas “Cantos à beiramar (completará 150 anos de publicação em 2021). Em 1887 publicou o conto A escrava. Em 1861 Participou da Antologia Poética Parnaso

180 LEONETE OLIVEIRA Lima Rocha nascida em São Luís, Maranhão, em 17 de julho de 1888, filha de Gentil Homem de Oliveira e

Luiza Fernandes de Oliveira. Foi Professora e Bibliotecária. Ingressou na Academia Maranhense de Letras. Residia no Rio de

Janeiro, aonde veio a falecer. Publicou "Flocos", "Folhas de Outono" e muitos outros. Leonete Oliveira virou nome de rua em

São Luís, no bairro Cohab Anil II. http://falandodetrova.com.br/leonete; https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=2941; https://www.literaturamaranhense.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=222031&locale=en 181 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019

Maranhense. Tem uma extensa relação de publicações de poemas e inclusive dos próprios contos (por capítulos como as novelas de hoje) em jornais literários. Na orelha do meu Elogio a ela (2014) tem a relação desses jornais também a relação de poemas avulsos. FONTE: O Livro de José Nascimento Morais Filho - Maria Firmina: fragmentos de uma vida Nesse mesmo livro tem a relação dos trabalhos de MFR publicados em jornais com as datas: jornal literário foi 1860 - o Jornal A Imprensa publica um poema, ainda com as iniciais MFR e a última publicação citada data de 1903 no Jornal Pacotilha. Então, de acordo com essa data, ela tinha 71 anos de idade. Teriam outras publicações que talvez Nascimento Morais Filho não tinha tido acesso? Aos 71 anos ainda colaborava com jornais e já estava esquecida? Poderia ainda não ter reconhecimento, à altura de uma primeira romancista, mas continuava publicando em jornais? Por exemplo: eu vi nas citações de José Nascimento Morais Filho colaborações de MFR em jornais em vários anos a partir de 1860. Os últimos anos são: 1889, 1897, 1900, e essa última citação de 1903. Ou seja, ela publicou em jornais de 1860 a 1903 (segundo as pesquisas de NMF). Acho estranho que fosse desconhecido todo esse trabalho de Maria Firmina por Antônio Lopes. Sem contar que eu acho muito tardio encontrar uma primeira poeta Maranhense já nos anos de 1910. Acho interessante esse tipo de troca que resulta em soma. No “I Encontro Maranhense de Pesquisadoras e pesquisadores de Maria Firmina dos Reis” lancei oficialmente a ideia de formamos um grupo para concretizarmos a apresentação e análise desses estudos.

Pois bem, após os “protestos” da Dilercy sobre a primazia de MFR, voltei ao artigo que havia escrito – e mandado ao Antônio Aílton para análise – e reescrevi, indo buscar o que ela havia escrito antes, com o seu pseudônimo – Ângela Grassi. Vamos ao texto de Antônio Lopes – repito-o! - artigo publicado no “Diário do Maranhão” edição de 05 de junho de 1909, onde referia-se sobre a inexistência de poetas mulheres no Maranhão e, então traz-nos alguns nomes, pseudônimos, e identificando quem escreveu algumas belas poesias que apareciam, então.

Leonete utilizava o pseudônimo de Angela Grassi, que foi uma escritora romântica espanhola, do século XIX182 . A Pacotilha, de 11 de junho de 1908 publica um seu poema:

Em A Pacotilha de 14 de agosto de 1908 é publicado um poema dedicado à Angela Grassi, assinado por “H”:

E a 25 de agosto, Correa de Araújo lhe dedica outro poema:

Em 1908, no Diário do Maranhão de 09 de outubro sai a seguinte nota:

A Pacotilha de 30 de outubro de 1908 traz a seguinte carta aberta destinada à Vieira da Silva:

Conforme notas publicadas nos diversos jornais de São Luis, no ano de 1909 Leonete de Oliveira participava de eventos acontecidos, cívicos e religiosos, tanto em São Luis como no interior, como uma festa em Cajapió em honra ao Menino Jesus. Nova critica literária publicada, em A Pacotilha, desta vez sobre a obra de Maranhão Sobrinho (1º julho de 1909)

A 25 de agosto, em A Pacotilha, é publicada um poema

Chegou a dar conferencias na Universidade Popular Maranhense, abordando o tema “A Mulher”: A 1º de novembro de 1909:

Vou, agora, colocar o texto de Aílton, com base naquilo que levantei, sobre a autora ora em estudo, e publicado no sítio de ‘Os integrantes da noite”, disponível no Facebook183:

LEONETE OLIVEIRA ou Ângela Grassi brasileira – A PRIMEIRA POETA MARANHENSE - ANTONIO AÍLTON

A grande maioria dos que estudaram o Parnasianismo, desde a escola já ouviram falar, pelo menos, em uma mulher entre os austeros parnasianos, de poemas esculpidos e canção marmórea: a poeta paulista de “Musa Impassível”, Francisca Júlia. Porém, entre os grandes nomes maranhenses que brilham na poesia brasileira na passagem entre o século XIX e o século XX, bem poucos ouviram o nome de Leonete Oliveira (São Luís, 1888 Rio de Janeiro, 1969). Esta, segundo um dos importantes registros daquele momento, do escritor e crítico Antônio Lobo (Diário do Maranhão, 05/06/1898) (sic), foi, por sua vez, a primeira poeta maranhense. Leonete Oliveira ou, conforme assinava em suas primeiras publicações nos jornais maranhenses, Ângela Grassi (escritora romântica espanhola), ganhou o título de “a maior e mais brilhante poetisa maranhense” (M. Nogueira da Silva, Jornal das Moças, 1917, p. 12¹). Leonete Oliveira era também professora e bibliotecária. Há realmente vários registros naqueles jornais finisseculares e de entre-séculos. Mas quem resgata ultimamente esse nome tão importante, um tanto quanto apagado ou silenciado nas atuais matérias sobre a poesia daquele momento, é o incansável pesquisador Leopoldo Vaz, inconformado enquanto não alcança os últimos registros sobre o assunto que busca. Leopoldo publicou esse “apanhado” na sua Revista do Léo², onde pode ser pesquisado. É somente através das espessuras e cortinas do tempo que podemos ver essa mulher, vivendo num contexto de poetas grandiosos, mas também de uma sociedade que de um modo ou de outro reprimia a voz feminina nos papeis intelectuais e culturais. O próprio Antônio Lobo levanta essa questão e relata que, infelizmente, e apesar de mesmo escassamente algumas vozes femininas ainda se sobressaírem nos grandes centros, na sociedade arcaica do Maranhão isso era muito mais difícil. A mulher, quando muito, dedicava (ou era lançada) aos conventos. Era a educação familiar e religiosa, e haveria muito mais beatas que poetisas – na linguagem da época. Mesmo através dessas cortinas do tempo, o que podemos encontrar nela é uma mulher forte, que penetrou aos poucos nos meios literários e intelectuais, participava de eventos cívicos e religiosos, viajou bastante (São Paulo, Lisboa, Fortaleza, Rio de Janeiro...), fez-se considerar pelos poetas e críticos até sua morte, inclusive poetas conhecidos no séculos XX que lhe submetiam os textos; deu palestras sobre a condição da mulher na Biblioteca Pública do Estado e na Universidade Popular, deu voz à mulher em seus poemas, e era membro correspondente da Academia Maranhense de Letras. Publicou, além de muitos poemas esparsos, pelo menos três livros de poesia: “Flocos” (1910), “Cambiantes” e “Folhas de outono” (1914-1917[?]). A intenção aqui, obviamente não é fazer um tratado sobre a autora, sua vida e as questões complexas que envolvem seu contexto e obscurecimento. Não é tampouco levantar disputas de se ela foi a primeira, a segunda, ou a terceira poeta maranhense etc, já que há também na pauta o nome de Maria Firmina dos Reis, que tem sido bastante pesquisado. São coisas e questões que exigem uma pesquisa madura e aprofundada. Creio que ela deve ser valorizada pelo que ela é, pelo seu papel, pela sua figura de poeta do momento, inclusive dentro de um sistema da história da literatura brasileira, que relega tantos autores importantes à marginalidade. Podemos entender a poética de Leonete Oliveira fundamentalmente dentro do espírito do Parnaso, como assim compreendemos, por exemplo, Raimundo Corrêa. Porém, mais acentuadamente que este, a poeta pratica ainda uma experiência romântica patente e se estende até o simbolismo. Seus poemas de tom e teor simbolistas são, a meu ver, os melhores. Ela não deixa também de extravasar em alguns momentos forte erotismo ou de, noutro registro, ironizar a questão masculina. Enfim, uma poeta de alto domínio formal que foi colocando ali, nas chaves parnasianas o seu espírito e sua força. E a força de um poeta pode ser medida pela desejo que outros têm de imitá-lo(a) ou até plagiálo(la). Isto é, do impacto que sua poesia causa sobre outros. Foi o que aconteceu com um poema do Flocos, de 1910, de Leonete Oliveira, que foi descaradamente plagiada por Carlos Porto

Carreiro em 1924 – talvez por um desses acasos que o autor publica e fica na obscuridade, enquanto outros se aproveitam. Mas a verdade apareceu. Abaixo, escolhi alguns de seus fortes e encantadores sonetos, entretanto há muito mais a ser visto: SÓ

Sempre tiveste um coração vazio ermo de sonhos como um deserdado; nunca um raio de amor, mesmo tardio, pôde dar vida ao teu olhar gelado.

Sempre viveste só, mudo e sombrio como quem traz no peito lacerado, em vez de um coração forte e sadio, um pedaço de mármore guardado.

Mas um dia virá em, que, tristonho, cheio de dor e em lágrimas desfeito, hás de correr em busca de outro sonhos...

Em vão! Que em cada coração, decerto, encontrarás o gelo do teu peito a aridez infinita de um deserto. (in: Flocos)

SUPLÍCIO DE TÂNTALO

Nasci de asas cortadas, no infinito dos meus sonhos de glória e de ventura, tentei em vão subir, no impulso aflito de quase desespero ou de loucura… Olhando o espaço, o coração contrito, das belezas da vida ando à procura, e penso, e sinto, e sofro, e choro, e grito , no anseio de vencer esta tortura… Diante de mim os pomos de ouro avisto e querendo alcançá-los fico inerme, sem saber se estou morta ou ainda existo… E vendo em tudo um luminoso véu, eu continuo qual se fora um verme, rastejando na terra e olhando o céu!

(in: Folhas de outono)

E este jocoso soneto, a nos lembrar o simbolismo irônico:

CASAR É BOM

- “Casar é bom - diz o burguês pacato, Por entre um riso de expressão brejeira - é muito bom ter-se uma companheira Que nos faça a pastinha e escove o fato”.

- “Casar é bom, não com mulher faceira que vive empoada e trescalando extrato; quem tiver senso, o homem que for sensato que procure uma boa cozinheira...

Essa que tem de todos os sentidos somente o paladar, é o que chamamos o lindo ideal de todos os maridos;

não vê, não ouve, indiferente e fria, não pergunta zangada porque vamos todas as noite à maçonaria...”

(O Jornal, de 26 de abril de 1921)

_________ ¹ http://memoria.bn.br/pdf/111031/per111031_1917_00110.pdf ² https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019

Como diz Antonio Aílton: A intenção aqui, obviamente não é fazer um tratado sobre a autora, sua vida e as questões complexas que envolvem seu contexto e obscurecimento. Não é tampouco levantar disputas de se ela foi a primeira, a segunda, ou a terceira poeta maranhense etc, já que há também na pauta o nome de Maria Firmina dos Reis, que tem sido bastante pesquisado. São coisas e questões que exigem uma pesquisa madura e aprofundada. Creio que ela deve ser valorizada pelo que ela é, pelo seu papel, pela sua figura de poeta do momento, inclusive dentro de um sistema da história da literatura brasileira, que relega tantos autores importantes à marginalidade.

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