Lori Foster - Homens que andam a beira da honra 03 – Sabor do perigo ™
SINOPSE A única mulher que não poderia ser sua, era a única que ele queria ... Talvez ela fosse distante e mais bonita do que espetacular, mas Alani Rivers era o tipo de mulher que o ardente e apaixonado mercenário Jackson Savor não podia esquecer mesmo que tentasse. Então, quando ela acordou ao seu lado, nua e em sua cama, e ele, sem se lembrar do que tinha acontecido, percebeu que alguém o tinha drogado. Depois de ser sequestrada, Alani jurou nunca mais confiar nos homens. Mas Jackson, um homem forte e irresistível, com um toque de ternura, a fez desejar que as coisas fossem diferentes. Enquanto seguiam o rastro de um estranho misterioso, Jackson prometeu mover céus e terra para manter Alani saudável e sã. Mas o que realmente aconteceu naquela primeira noite? E a verdade vai uni-los mais do que pensou ser possível ou Alani estaria em perigo mortal? Lori Foster nunca decepciona.
Capítulo 1 Ao acordar, uma dor cada vez mais intensa atravessou seu cérebro. Ele tentou engolir, mas sua garganta estava tão seca como o deserto ao meio-dia. Que diabos estava acontecendo? Dolorido e desorientado, Jackson Savor abriu um olho. A origem de sua dor mais aguda era um raio ofuscante de luz solar entrando pela fresta entre as cortinas de seu quarto. Suas cortinas. Ele estava em seu apartamento. Depois de eliminar essa dúvida, ele fechou seus olhos e ele se esforçou para recapitular. Se ele tivesse sido capturado? Torturado? Ele se moveu lentamente sua mão direita. Seu braço pesava como chumbo, mas conseguiu levantá-lo. Estava inchado e um pouco fraco, mas não pacote, menos mal. Tentou mover a mão esquerda e se deu conta de que algo quente e suave a mantinha aprisionada. Respirou fundo... e reconheceu imediatamente o aroma delicioso e inconfundível de uma mulher. Merda. Ficou muito quieto para não alertar a ninguém de que estava acordado, abriu a mão e... apalpou. Não precisou estar espaçoso nem ver com claridade para reconhecer ao tato um formoso traseiro de mulher. Caramba. O corpo que havia a seu lado se moveu. Uma perna magra e tersa se deslizou sobre a sua até chegar a seu entrepierna. Jackson se sobressaltou por dentro, mas permaneceu completamente quieto. —Está acordado? —ronronou a mulher. Ao reconhecer aquela voz, abriu os olhos de repente e girou a cabeça tão bruscamente que sentiu uma pontada de dor. O joelho que descansava sobre seu pênis se moveu quando a mulher trocou de postura para olhá-lo. —Passa algo? Merda, merda, merda. Jackson olhou a um lado com cautela, com as pálpebras ásperas como lixas, e viu ante si nada menos que ao Alani Rivers. Sonolenta, cálida e suave, olhava-o com seus olhos castanhos, com expressão satisfeita e o cabelo loiro desdobrado sobre... sobre seu travesseiro. Tinha o aspecto inconfundível de uma mulher que aconteceu uma noite satisfatória entregue à luxúria. Com ele? Embora tinha a garganta tão ressecada que não lhe saíam as palavras, contraiu a mão que tinha estalagem sobre o traseiro do Alani. Possivelmente seu cérebro não partisse de tudo bem, mas seus reflexos funcionavam às mil maravilhas. Alani se ruborizou, baixou a cara e se incorporou apoiando-se no cotovelo. O lençol se deslizou até sua cintura e Jackson pôde ver de perto seus preciosos peitos e seus mamilos rosados. Lhe amontoaram as idéias. E notou uma cãibra nos ovos. —O que calado está esta manhã —murmurou ela ao inclinar-se para beijá-lo na boca—. Sobre tudo, depois do de ontem à noite. O que queria dizer? Que tinha feito muito ruído? Que tinha conversado pelos cotovelos? Alani se mordiscou o lábio.
—Dão-lhe tanta vergonha como a mim as coisas que fizemos? Vergonha? Não, isso alguma vez. Mas que diabos tinham feito? Tentou recordá-lo, mas tinha a mente em branco. Só era consciente da dor, de sua própria confusão e do fato de que Alani Rivers estava em sua cama. Nua. Carinhosa. Saciada. E ele não sabia como tinha ocorrido. A bílis lhe amontoou nas tripas e lhe subiu pela garganta, lhe revolvendo o estômago. Soltou um grunhido e apartou os lençóis. Embora fora quão último fizesse, não vomitaria diante dela. Em um par de pernadas chegou ao quarto de banho e se fincou de joelhos diante do váter com o tempo justo. Sentia-se fatal. Que demônios tinha ocorrido? —Jackson? Levantou a vista e viu o Alani na porta. Nua. Grunhiu outra vez. —Vete. —Mas... quer que lhe...? —Fora! —deu uma patada tão forte à porta que ricocheteou e voltou a abrir-se. Viu sua cara de surpresa e de tristeza, mas por nada do mundo ia permitir que o visse assim. Por sorte para ambos, deu meia volta e se afastou. Quando por fim lhe aconteceram as náuseas, atirou da cadeia e, como se sentia tão fraco como um recém-nascido, agarrou-se ao bordo do lavabo para incorporar-se. Tremiam-lhe as pernas. Estalava-lhe a cabeça. Abriu o grifo da água fria, lavou-se a cara, enxaguou-se a boca e depois de rebuscar em sua memória sem resultado, voltou-se para sair. Alani estava de novo ali. Seguia nua. Jackson se cambaleou. Tentou-o, mas não pôde deixar de olhá-la. Fazia muitíssimo tempo que a desejava. Agora estava ali, mas... como? por que? Fixou um olhar ardente no triângulo bem recortado de seu púbis castanho dourado. Outra dúvida limpa, embora não tivesse nada que ver com o apuro em que se encontrava. Alani cruzou os braços por debaixo dos peitos, com o que só conseguiu que Jackson cravasse a vista neles. «Maldita seja, que bonitos som». Os havia meio doido? Tinha beijado aqueles mamilos? Voltou a sentir-se enjoado. Estava a ponto de deprimir-se, ou de vomitar outra vez. Ela, em troca, tinha um aspecto esplêndido. Melhor que esplêndido. Parecia dela. Pôs-se tinta. —Muito bonito, Jackson —lhe espetou com voz aguda. Jackson captou seu tom amargo e conseguiu olhá-la aos olhos por entre uma neblina de emoções. OH, OH. Parecia com o mesmo tempo doída e zangada. Esticou os lábios. Lançou um olhar fugaz a seu corpo, mas ao ver que ficava calado entreabriu as pálpebras e sacudiu a cabeça para tornar-se para trás o comprido cabelo loiro, que se deslizou sobre sua pele tersa como um líquido de cor suave. Sobre seu peito ficou uma só mecha. Jackson, que estava como hipnotizado, demorou um momento em dar-se conta de que lhe estava falando. —Disse-te que não era boa idéia —disse ela—. Te disse que não funcionaria.
Pois lhe parecia que tinha funcionado como a seda. Mas, para assegurar-se de que estavam falando do mesmo, perguntou com voz rouca: —Que não funcionaria o que? —agarrou-se com uma mão ao marco da porta e com a outra se apertou a ponte do nariz—. Verá, o caso é que não me lembro de... —De ter falado disso? «De nada». —Isto... —Não sente saudades —percorreu seu corpo com o olhar e voltou a fixá-la em sua cara—. Estava muito ocupado me despindo para concientizar com a razões. Parecia muito próprio dele, tinha que reconhecê-lo. —Tinha tanta pressa por chegar à cama —se queixou ela— que nem sequer pensou no que me preocupava, no que te estava dizendo. As palavras ressonaram dentro de sua cabeça uma e outra vez: tinha-a tido na cama, nua. E logo o que? Não lhe ocorreu nada lógico, assim meneou a cabeça enquanto voltava a olhar seu corpo. teria se cansado de bruces de não ser porque estava apoiado no marco da porta, mas mesmo assim não podia deixar de olhá-la. Doída e enojada, Alani deu meia volta e se dirigiu à cama. Ao ver o coice de seu traseiro arredondado, Jackson lamentou ter a vista tão imprecisa. —Alani... —como não sabia o que dizer, fez ameaça de segui-la, mas um só passo bastou para lhe fazer compreender que não era boa idéia sair do banho. Seu estômago deu outro salto mortal e em um abrir e fechar de olhos voltou a fincar-se de joelhos diante do vaso. Esta vez, quando acabou, doíam-lhe os músculos do estômago, mas se sentia um pouco melhor, como se tivesse conseguido expulsar um veneno de seu organismo. Por desgraça, Alani se tinha vestido e se dirigia com decisão para a porta. Jackson foi atrás dela cambaleando-se, fraco como um recém nascido. —Espera. Alani se deteve, olhou-o... e voltou a olhá-lo. Jackson caiu de repente na conta de que ele estava completamente nu. agarrou-se à parede. Tinha a sensação de que ia estalar lhe a cabeça. —Vamos... vamos falar. —Para que volte a te enjoar de... má consciência? Não, obrigado. Má consciência? Havia algo mais que tivesse que lamentar, além do fato de não recordar nada? Alani abriu bruscamente a porta, mas não partiu. De costas a ele, disse com voz tremente: —Não se preocupe, Jackson. Pode que seja uma ingênua, mas não sou tola, sabe? Entendo o que passou. —O que? —Não vou dizer uma palavra a ninguém e, como não vai voltar a passar, pode te esquecer do assunto. Estiveram a ponto suas pernas falharem quando ouviu a portada. deslizou-se lentamente até o fresco chão de soalho do corredor. Fechou os olhos, mas seguiu vendo o Alani nua. Não queria esquecer nada. Queria recordar. Alani se manteve ocupada todo o tempo que pôde. Tinha saído à compras, tinha lavado o carro, tinha tomado um café da manhã ligeiro, tinha visto um filme em uma sessão matinal, e entretanto não tinha conseguido distrair-se. Seguia notando uma opressão no peito.
Uma mescla de humilhação e de arrependimento. por que tinha acreditado no Jackson? por que se tinha deixado convencer tão facilmente? Idiota! O que poderia ter sido a noite mais alucinante de sua vida lhe parecia de repente a mais degradante. Mas a culpa não era toda do Jackson. Fazia tanto tempo que estava apaixonada por ele que tinha tido que esforçar-se muito pouco para seduzi-la. Umas quantas palavras e... Deixou escapar um gemido intenso, triste e furioso. Fazia coisas com o Jackson que nunca lhe tinham passado pela cabeça. Ele a tinha animado a dizer o que pensava, a abrir-se por completo e a dizer com sinceridade o que desejava, o que a fazia desfrutar... e o mesmo tinha feito ele. Com ele, tinha desfrutado plenamente de sua sexualidade. E logo, à luz da manhã, Jackson lhe tinha jogado uma só olhada e tinha saído correndo a vomitar. ficou vermelha. Todo aquele tempo, desde dia em que tinha conhecido ao Jackson Savor, tinha sabido que não lhe convinha. resistiu a ele uma e outra vez porque lhe parecia impensável atar-se com um homem que trabalhava com seu irmão, e mais ainda com um que se parecia tanto a seu irmão. Soou seu móvel e olhou a tela. Falando do rei de Roma... Seu irmão a tinha chamado já várias vezes, mas não gostava de falar com ele. Esperou a que deixasse de soar o telefone. Logo escutou a rolha de voz. —Onde está, Alani? —dizia Trace—. Te chamei já três vezes. Quero falar contigo. me chame. Sabia que Trace esperava que fizesse o que mandava, mas nesse momento não podia falar com ele. Se o tentava me emocionaria, possivelmente inclusive me poria a chorar. Trace sempre tinha sido muito protetor com ela, mas desde seu seqüestro, fazia mais de um ano, estava obcecado com o perigo. Se se inteirava de que estava triste, subiria pelas paredes. Não tinha intenção de lhe contar o engano que tinha cometido ao atar-me com o Jackson, assim era absurdo envolvê-lo em meu pequeno drama pessoal. Trace era autoritário por natureza, em sua profissão não ficava remédio, e às vezes resultava cansativo. E Jackson era igual. E também Dare, o amigo de Trace que trabalhava com meu irmão desde que ele tinha montado o negócio. Tinham a personalidade típica dos mercenários curtidos. Como, se não, foram ter tanto êxito em seu afã por ajudar a outros? Naturalmente, Trace, Dare e Jackson eram os únicos mercenários que conhecia. E embora os três eram distintos, no essencial eram iguais. Eram homens que sorriam enquanto confrontavam o perigo, homens que não se alteravam quando se enfrentavam a uma prova, homens capazes de proteger a outros com sua própria vida sem vacilar um instante. Eram homens bons. Eram homens que davam medo. A maioria da gente temia a seu irmão embora não soubesse a que se dedicava, e era lógico: Trace exsudava eficiência, notava-se à légua que era um homem perigoso. Conhecê-lo era recear dele, de modo que ao Alani nunca tinha sido fácil ter namorados. Os meninos davam uma olhada em meu irmão e chegavam em seguida à conclusão de que era preferível manter as distâncias. Mas... Jackson não era como a maioria dos meninos. Era igual a Trace, assim não se deixava intimidar por ele. De fato, brincava com Trace como se tal coisa, inclusive o provocava de vez em quando com suas brincadeiras. Consciente de que Trace e Dare contavam com ele nas situações
mais perigosas, Jackson tinha prometido a Alani que seu trabalho não se veria afetado por sua aventura amorosa. Claro que também tinha jurado que não seria humilhante. E agora estava sozinha e se sentia tão humilhada que seguia lhe ardendo a cara. Por desgraça Trace chamou outra vez quando estava estacionando frente a sua casa. O telefone soou quatro vezes. Logo saltou a rolha de voz. Alani sabia que seu irmão se apresentaria em sua casa se não contatava com ele. Odiava mentir, mas tinha a impressão de que não ficava outro remédio, assim que lhe enviou uma mensagem de texto que dizia sozinho: Estou no cinema. Logo te chamo. Depois apagou o telefone. Depois de tirar as bolsas do porta-malas, pôs-se a andar pelo caminho que levava da entrada de carros de sua casa pequena mas perfeita à porta principal. Parou-se em seco ao ver o Jackson recostado nos degraus do alpendre, com um chapéu de vaqueiro na cabeça e óculos de sol de espelho lhe ocultando os olhos. Ele não se moveu, nem ela tampouco. Esteve meio minuto ali, paralisada, sem saber o que fazer nem o que dizer. Jackson parecia completamente depravado. Claro que tinha aperfeiçoado uma pose indolente que ocultava seus rápidos reflexos. A noite anterior não se mostrou precisamente indolente. Alani o observou enquanto respirava agitadamente. Estava tão quieto que parecia dormido. Não se moveu nem sequer quando ela se trocou de mão as bolsas e se aproximou um pouco. O carvalho do jardim dianteiro dava bastante sombra, mas Jackson não se tirou o chapéu nem os óculos de sol. barbeou-se e uma camisa branca como a neve se esticava sobre seu largo peito e seus ombros e se atia a seus tensos abdominais. O passado do tempo tinha descolorido seu jeans em certos sítios escolhidos, como os joelhos, os baixos e a entrepierna. Inclusive nesse instante, tão quieto, estava... impressionante. Alani ficou rígida, bombardeada pelas lembranças da noite anterior. Ao recordar como havia meio doido seu corpo, como tinha saboreado sua carne quente, uma quebra de onda de prazer percorreu suas veias. Recordou como tinha empunhado seu membro ereto, como tinha grunhido ele, as loucuras que lhe tinha sussurrado ao ouvido, como tinha posto sua mão sobre a dela para lhe ensinar como tinha que apertar e com que rapidez acariciá-lo... Sua falta total de inibições a tinha permitido desinibir-se. Tragou saliva audiblemente... e seguiu olhando-o. Jackson estava sentado com as largas pernas estiradas, um pé apoiado em um degrau e o outro estirado e os cotovelos jogados para trás. Sua respiração era profunda e constante. Alani se umedeceu os lábios e começou a retroceder lentamente, sem fazer ruído. —Não me faça te perseguir, carinho. Jogou os ombros para trás, sobressaltada. O muito farsante! Tinha estado observando como o olhava... «Uyyyyy». —Acreditava que estava dormido. —E pensaste que podia me violar com seus lindos olhos? Ou vai negar? Se tivesse tido uma pedra à mão, a teria atirado. —O que faz aqui? —perguntou a contra gosto. —O que faça falta —se incorporou com indolência. Seus músculos se moveram. Sua camisa se esticou. jogou-se o chapéu para trás com o polegar. Tinha as têmporas molhadas de suor e as pontas do cabelo loiro escuro lhe tinham encaracolado—. Onde estiveste, por certo? Levo horas te esperando. Falava em um tom... estranho. Era tão lhe exasperem como sempre, mas parecia menos presunçoso, quase como se estivesse doente ou preocupado, ou as duas coisas. «Dá-me igual».
—Isso não é teu assunto, Jackson. Esboçou um sorriso quase imperceptível e Alani se alarmou. —Está muito contestona esta tarde, não? Decidida a não deixar-se avassalar, Alani quadrou os ombros e pôs-se a andar para diante. —Estou enojada. A incerteza não lhe favorecia nada. —De mim mesma, em realidade —passou junto a ele contendo a respiração, mas não a tocou. Ao chegar à porta se trocou de braço as bolsas e tirou as chaves da bolsa—. Deveria ter sabido que era uma loucura... A boca do Jackson roçou sua nuca. —vamos falar do que fizemos —disse em voz baixa e sedutora. Alani sentiu que uma espécie de fogo lhe corria pelas costas e lhe afrouxaram as pernas. Recordou de repente como a tinha beijado ele na nuca enquanto a penetrava a maneira cachorrinho (assim o tinha chamado ele), por detrás, afundando-se nela profundamente enquanto a rodeava com os braços e agarrava seus peitos... —Basta! —abriu de um empurrão e tentou fechar a porta de novo, mas ricocheteou no ombro do Jackson. Apressou-se a entrar. Naturalmente, ele a seguiu. Enquanto ia direita à cozinha, disse com todo o desprezo que lhe permitiu o formigamento que notava no estômago: —Fora! As botas do Jackson ressonavam apenas dois passos detrás dela. Sujeitando os pacotes contra seu peito como um escudo, girou-se para olhá-lo. —Digo-o a sério, Jackson! —chiou, angustiada. Ele se deteve e a olhou fixamente. Entre eles chispava a tensão. Por uns instantes, pareceu que Jackson ia saltar sobre ela. Logo, entretanto, mordiscou-se o lábio e retrocedeu um passo, movendo-se como se não queria assustá-la. —te acalme, quer? —disse-lhe com voz suave. Tendo em conta o tumulto de emoções que se agitava dentro dela, dificilmente podia acalmar-se. —Não me diga que me acalme! Sem dizer uma palavra, Jackson deixou seu chapéu sobre a encimera e inclinou a cabeça. Esteve um momento observando-a com os punhos apoiados nos quadris e uma expressão enigmática. de repente, seu vestido cômodo e fresco lhe pareceu transparente. Quando estava com o Jackson, necessitava uma armadura. Seu olhar a pôs nervosa, fez-a sentir-se acalorada e vulnerável. Ele disse com voz baixa e rouca: —Por Deus, carinho, não quero que pense que não me importa o que sente, mas preciso voltar a ver-te —e antes de que ela pudesse reagir a seu tom ansioso, acrescentou—: Te importaria que deixássemos esta discussão para mais adiante e que primeiro satisfaça minha curiosidade? Sua curiosidade? Já a tinha visto com grande detalhe ao longo da noite. E não se cortou nem um cabelo ao olhar. Enquanto que Trace e Dare a tratavam com toda delicadeza, Jackson a tratava como se a desejasse. Estava bem em pequenas dose... quando não se passava da raia. Mas depois do que tinha passado aquela proposição estava de mais. Alani lhe lançou as bolsas da roupa que tinha comprado. Estrelaram-se contra seu peito e caíram ao chão. Ele apenas se alterou. —Devo tomar isso por um não?
—Não! Jackson inclinou uma sobrancelha e a agarrou quando tentou passar por seu lado. Era tão grande e musculoso que não lhe custou o mais mínimo rodeá-la com seus braços e apertá-la contra seu peito. —Shh, neném, não. Suas tórridas lembranças a envolveram igual à envolvia seu corpo. Frenética, quase aterrorizada, ordenou: —Me solte. Sentiu que ele dava um coice, mas não a soltou. —Perdoa, amor, mas não posso. «Amor». Como se atrevia a usar essa palavra? Sentiu um nó de angústia na garganta. —Jackson... —Me dê só um segundo, de acordo? —sussurrou-lhe ele ao ouvido. Alani sentiu uma nota de dor em sua voz e deixou de lutar. —Isso está melhor —murmurou ele, e afrouxou os braços. Preocupada de repente, Alani tentou girar-se para olhá-lo. —O que é o que acontece? A tensão se intensificou. Logo, Jackson disse: —Não me lembro de nada. —De nada? Balançou-a um pouco entre seus braços e respondeu em voz ainda mais baixa. —De nada. Estou... em branco. Alani não o entendia, mas notava sua angústia, assim deixou de tentar apartar-se. —Do que está falando? —Não sei o que aconteceu, carinho. Nem entre nós, nem com todo o resto —a abraçou apoiando o queixo em sua cabeça—. O dia de ontem se há... apagado. Alani se girou bruscamente para olhá-lo, incrédula. Rodeada por seus braços, com as mãos sobre seu peito, teve que jogar a cabeça para trás para lhe ver a cara. —O que quer dizer? Como que se apagou? Encolheu-se de ombros, incômodo. —Quão único recordo é que despertei com uma enxaqueca de três pares de narizes e feito uma confusão —trocou de postura, apertando-a contra seu corpo. Sua voz se voltou rouca—. E ali estava você, em couros, a meu lado. Quase lhe parou o coração. —Mas... —empurrou-o, zangada—. Me disse que não tinha bebido. —Disse-lhe isso? —passou-se uma mão pelo cabelo loiro escuro e se tirou os óculos de sol —. Porque disso tampouco me lembro. Que demônios, nem sequer me lembro de ter falado contigo. Alani se esforçava por respirar, atônita. —Meu deus, Jackson —nunca tinha visto uns olhos tão avermelhados. Sentiu lástima por ele —. Está... —Feito um asco, sei. Sinto-me assim, asseguro-lhe isso —se beliscou a ponte do nariz, fechou os olhos um segundo e voltou a abri-los, nos deitamos? Santo céu, não pensava em outra coisa. Claro que isso Alani já o tinha descoberto a noite anterior. Deu um coice ao fixar-se em sua expressão. Tinha o branco dos olhos tão avermelhado que o verde das pupilas parecia mais vivo. —Seriamente espera que me cria que não te lembra? Jackson a agarrou pela nuca e a fez ficar nas pontas dos pés para beijá-la com força, rapidamente. —Despertei com a vista imprecisa, o cérebro em chamas e o estômago revolto. E então te vi na cama, a meu lado —se excitou de repente—. Estava tão incrível que não sei como consegui me
refrear. —Mas se não te refreou, recorda? —aproximou seu nariz a dele e acrescentou—: Vomitou. Em lugar de apartar-se, Jackson pareceu envolvê-la por completo com seu tamanho e sua determinação. —Mulher, não pensará que foi por ti. Alani deveria ter posto distância entre eles, mas se sentia tão a gosto a seu lado... Pelo visto o acontecido a noite anterior lhe tinha provocado um vício: passou-se toda a manhã sentindo falta de seu aroma, o calor de seu contato. —Não? —perguntou com menos convicção da que pretendia. —Pois não —acariciou suas costas—. Estava tão irresistível que oxalá te tivesse feito uma foto. Oxalá te tivesse grafite no teto. Ver sua bunda no ar poderia me reanimar, e certamente me poria duro, mas jamais me repugnaria... Alani lhe tampou a boca com a mão, sobressaltada por sua linguagem. —Para. Sentiu seu sorriso de alívio. E logo sua língua. Apartou rapidamente a mão. deu-se conta de seu engano quando ele a agarrou pelo braço e a sujeitou naquela posição vulnerável. —vamos fazer a prova —se inclinou para ela e seu fôlego quente lhe roçou a bochecha—. te Tire o vestido e veremos como reajo. —Por amor de... —Carinho, te asseguro que poderia implosionar —abriu a boca sobre seu ombro para lhe dar um mordisquito—. Mas não vomitaria. Disso nada. —Jackson, por favor —tentou dar dois passos atrás e ele a soltou a contra gosto—. Não entendo nada. Tem que me dar tempo para pensar. —Possivelmente pense melhor nua —tocou o desço de seu vestido e murmurou quase para seus adentros—: Seria muito fácil te tirar isto... Alani o separou de um tapa e o olhou com aborrecimento. —Está bem, está bem —Jackson enrugou o cenho e assentiu com a cabeça—. Pensa. Como era possível que não se lembrasse de nada? Pelo que havia dito, pelo que tinha feito... De todas as coisas que ela havia dito e feito, as coisas das que agora se arrependia. —Como é possível? —Não sei. —Então, esqueceste tudo o que passou ontem à noite assim, pelas boas? —perguntou com cepticismo. —Mais ou menos. Seguia sentindo-se humilhada, mas saber que Jackson não se lembrava de nada aliviava um pouco sua má consciência. O olhou de esguelha. —Parece muito oportuno. Ele meneou a cabeça. —Noto seu tom de suspeita, neném, mas hoje não me funcionam todos os cilindros, assim vais ter que me dizer isso muito claro. A mim nada disto me parece oportuno. Estaria-lhe dizendo a verdade, em lugar de tentar escorrer o vulto pelo que tinha feito a noite anterior? Possivelmente. A fim de contas, não lhe tinha pedido nada e tinha prometido não dizer-lhe a ninguém. Jackson não tinha motivos para fingir que o tinha esquecido tudo. Pensando em voz alta, disse: —É que parece tão irreal... Qual pode ser a explicação? —Me conte um pouco como foi —flexionou um pouco os joelhos para esquadrinhar sua cara—. Lhe coloquei isso, neném? Morro por sabê-lo. Alani o olhou com os olhos como pratos e se deu a volta para lhe dar as costas. Jackson
sortia tal efeito sobre ela que, apesar das muitas dúvidas que tinha, estava desejando voltar a meterse na cama com ele e fazê-lo todo outra vez. Mas isso seria uma tolice. Se voltavam a deitar-se, primeiro queria ter tempo de falar com ele e esclarecer situação. Além disso, naquele momento Jackson não parecia capaz de voltar a fazer todas aquelas coisas incríveis. Assim que o pensou, entretanto, ele se aproximou e ela notou uma potente ereção apertada contra seu traseiro. —Jackson! —alguma vez em sua vida tinha chiado tanto—. Se pode saber o que faz? —Sofrer. Tem que me dizer algo, Alani. Por favor. —É que não pode parar nem um segundo? —perguntou, exasperada—. Temos que falar. —Será uma brincadeira, não? —apesar de que tinha os olhos tintos e estava um pouco tremente, seguia querendo aproveitar a ocasião. Lhe notava na voz, na postura dos braços e no olhar penetrante—. Desde dia em que te vi pela primeira vez quis te tirar as calcinhas. Você sabe, não pode dizer-se que o tenha oculto, precisamente. —Certamente que não. Tinha sido absolutamente óbvio. —E agora que por fim parece que o consegui, não me lembro de nada. Se quiser que me concentre em outra coisa, primeiro tem que pôr fim a esta agonia. Alani franziu os lábios e se obrigou a olhá-lo de novo à cara. —Está bem, pode que não te lembre, mas mesmo assim sabe —não era idiota. despertou-se com ela nua na cama e abraçada a ele, sonriendo como uma boba: sobravam pistas. Jackson a acariciou com o olhar. —Suponho-o —fixou os olhos em sua boca—, espero-o, mas necessito detalhes —acariciou seus ombros—. Os necessito, neném, me acredite. Sim, certamente os necessitava até certo ponto. Era o justo. Mas Alani seria prudente. Só lhe contaria o básico. O resto, seus gemidos e suas súplicas, as coisas que lhe tinha feito e as coisas que lhe encantava que lhe fizesse... Isso não pensava contar-lhe. Tragou saliva e sussurrou: —Pois você... nós... —Deitamo-nos? Faziam muito mais que deitar-se, mas Alani assentiu com um gesto e tomou ar. —Sim. Jackson voltou a rodeá-la com seus braços e a apertou contra si posesivamente. —Esteve bem? Podia Jackson Savor ter dúvidas sobre sua atuação na cama? Mas era o lógico, se não se lembrava de nada. Alani assentiu com a cabeça. —Correu-te? —perguntou ele com voz baixa. Alani tentou apartar-se, mas tirou o chapéu pega a ele, com os peitos contra seu torso. Jackson a olhou com aqueles olhos sedutores e lânguidos, como se intuira a resposta. —Correu-te? Assentiu, muito tinta. —Pois... sim. Ele esboçou um sorriso e sussurrou: —Um orgasmo de nada, dos de gemer um pouco, ou um de verdade, dos de gritar? Assaltaram-na as lembranças e lhe ressecou a boca. Em lugar de confessar muito, conformou-se dizendo: —Né... dos de gemer, não. Jackson respirou fundo. —Comi sua vagina? Ai, Deus. Alani sentiu de novo aquela espiral de prazer, cada vez mais tensa, o contato de seu cabelo e de sua mandíbula áspera na parte interior das coxas, sua língua aveludada, a dentada
suave de seus dentes. O tironeo de sua boca ao chupar as dobras mais sensíveis de sua carne. Começou a ofegar um pouco... e disse que sim com a cabeça. Ao Jackson lhe marcaram os músculos, lhe incharam as aletas do nariz. —Também te correu assim, carinho? —perguntou com voz rouca—. Enquanto lhe chupava isso? Tinha sido um orgasmo tão incrível que tinha chorado. Mas não se atrevia a ser tão explícita. lambeu-se os lábios e murmurou: —Sim. Ele pegou sua frente à dela e grunhiu como se lhe doesse algo. Alani tocou seu peito. Forte, quente, sólido. Era todo isso e muito mais. Mas por que não se lembrava de nada? —Estava doente, Jackson? Por isso não te lembra? —ao pensar nessa manhã, deu-se conta de que parecia encontrar-se muito mal. E ela se partiu feita uma fúria, deixando-o sozinho. Tinta de vergonha, rodeou seu pescoço com uma mão. —Encontra-te melhor? —Melhor? meu deus, não. Tortura-me o que não posso recordar —cobriu a mão do Alani com a sua e a levou aos lábios para beijar sua palma—. Levava muito tempo te desejando e você não parava de me dar cabaças, assim que como demônios consegui te convencer? Capítulo 2
Foi duro para o Alani encaixar que não recordava nem um só detalhe. angustiou-se tanto pensando que era uma ingênua, atormentando-se pelo que tinha feito... E, em realidade, carecia de importância. Desde não ser porque queria voltar a fazê-lo. De todos os modos, como resistia a expor muito seu coração, sacudiu a cabeça. —Não sei. —Vamos, carinho. Por algo seria —Jackson tentou esboçar uma meia sorriso—. me Jogue um cabo. Como parecia tão preocupado, tentou lhe dizer a verdade pura e dura: —Já não importa, mas foram as coisas que disse, não só as que fez. —Ah, sim? —levantou-lhe o queixo e a obrigou a olhá-la aos olhos verdes—. Como o que? Seguia tocando-a como se desse por descontada sua intimidade, acariciava-a, esfregava a cara contra sua pele. Alani tinha passado horas tentando assumir que tinha sucumbido a uma aventura de uma noite. Ele, em troca, comportava-se como se tivessem iniciado uma relação a longo prazo. Não dava importância às coisas que lhe havia dito a noite anterior, mas mesmo assim... queria Jackson mais? E se assim era, quanto mais? Ele deslizou os dedos por sua bochecha, ao redor de seu pescoço, sobre seu ombro nu. Alani se estremeceu. Tinha perdido a memória e possivelmente estivesse doente, mas seguia sendo a quinta essência da virilidade, como sempre. Ao menos assim era sempre com ela. Era assim com todas? Certamente. Até as mulheres de Dare e de Trace se fixaram no físico e o atrativo sexual do Jackson. Sacudiu a cabeça e resistiu a pensá-lo.
—Foram sozinho... algumas costure que disse. Nada mais —coisas que lhe tinha prometido, compromissos que tinha deixado cair—. Suponho que são as coisas que dizem os tios quando querem convencer a uma mulher para deitar-se com ela. Jackson franziu o cenho. —Quais, por exemplo? Galanteios? Vá coisa. Quando não te elogiei eu? Sim, Jackson sempre era muito lisonjeador... quando queria algo. —Não, foi distinto —lhe tinha divulgado mais autêntico, como se lhe saísse do coração. —Distinto como? —olhou seu peito—. Arrumado a que te disse o sexy que é. Era certo, havia-lhe dito que era muito sexy, mas, quando foram já caminho da cama, e para então ela se sentia sexy. Não sabia se podia assinalar o momento exato em que tinha sabido que ia deitar se com ele, mas esse dia tinha sido distinto. Mais intenso não, porque isso era impossível. Com o Jackson sempre era tudo muito intenso. Mas do instante em que ela tinha entrado em sua casa, tinha-a cuidadoso, havia-a meio doido e lhe tinha falado de maneira distinta. Tinha falado de coração... ou isso tinha pensado ela. Envergonhada de novo, ficou à defensiva. —A verdade é que disse que sou muito bonita —o qual era ao mesmo tempo mais doce e mais comovedor que chamá-la «sexy» ou dizer que estava «muito bom». Isso era o que haviam dito os homens que a tinham seqüestrado, os homens que a tinham maltratado, que a tinham atacado e meio doido e que pensavam... —Ouça —como se intuira o que estava pensando, Jackson lhe deu um beijo na frente e logo na ponte do nariz. No mesmo tom que a noite anterior acrescentou—: É muito bonita, Alani. É preciosa —roçou sua orelha com a boca—. Por toda parte. Com a cara vermelha, sacudiu-se as vontades de chorar, o medo e a angústia de seu seqüestro, e seu mal-estar por quão ingênua tinha sido a noite anterior. —Obrigado —Dare tinha matado a seu seqüestradores e seu irmão estava centrado em destruir a todos os traficantes de pessoas. Já não estava com aqueles homens. Estava com o Jackson —. Também disse que era muito doce. Jackson cravou seu olhar ardente em seu entrepierna. —Arrumado a que sim. Tremeram-lhe os joelhos, assim que se separou dele e disse: —Temos que esclarecer isto, Jackson, assim te refreie. Ele levantou o queixo e a olhou. —Pede-me o impossível, neném. —Pois faz-o de todos os modos! Suspirando, levantou as mãos como se se rendesse e retrocedeu. —Já o tento. —O que crie que ocorreu? —perguntou Alani—. Bebeu? —Duvido-o —sacudiu a cabeça—. Não me lembro, mas não estou acostumado a beber —se encolheu de ombros—. Nunca bebi muito. Alani sabia. Era uma questão de controle. Seu irmão e Dare desdenhavam o álcool porque embotava os reflexos e a percepção, e precisavam sentir-se donos de si mesmos e da situação em todo momento. Se Jackson tivesse bebido muito, não se teriam fiado nele. Não conhecia com detalhe como se uniu Jackson à equipe, mas tinha começado a trabalhar com eles pouco depois de seu resgate em Tijuana. Estava claro que confiavam nele, e portanto ela podia fazer o mesmo... ao menos em certos aspectos. Em questões mais pessoais, como uma relação amorosa, já não estava tão segura. Jackson vigiava cada um de seus movimentos. —registrei meu apartamento de cima abaixo, até o lixo, mas não vi garrafas vazias. Por
minha parte não há indícios de bebedeira. Alani começou a suspeitar algo, mas de momento preferiu evitar suas suspeitas. —Não te terá cansado e te terá dado um golpe na cabeça? Pareceu ofendido. —Não —soltou um bufido—. Claro que não. —Mas não te lembra, verdade? Assim que como sabe? Revolveu-se o cabelo e disse: —Vê-o? Nem golpes, nem galos —se aproximou de novo—. De fato, só tenho uns quantos arranhões, mas confio em que me fizesse isso você ontem à noite. Além disso não tenho mais marcas. Nem hematomas, nem corte, nem nada. —Arranhões? Desenhou um sorriso sensual. —Nos ombros. Pequenas meia luas justo onde uma mulher está acostumada agarrar-se quando se está... —Bom —disse Alani, interrompendo-o—, então tampouco te meteu em uma briga. Jackson negou com a cabeça. —por que não falamos do que aconteceu... depois? —depois do que? Assinalou-a com um dedo. —Pode que não entenda o que isto significa para mim, o que significaria para qualquer tio, mas sobre tudo para mim porque faz muito tempo que põe a mil. As coisas que dizia e como as dizia eram ao mesmo tempo ofensivas e de algum modo... aduladoras. —Jackson... —Para que não haja mal-entendidos, me permita te dar uma pista, de acordo? Estou caído por ti. —Sim, eu sei. Química sexual e todo isso. Há-me isso dito —a noite anterior tinha parecido algo mais, mas para ele não existia a noite anterior. —Chama-o como quer, me dá igual. Por desgraça, sim lhe importava. —Entendo. —Não me interprete mal, de acordo? —tirou o queixo—. O caso é que preciso saber o que fizemos. Tudo o que fizemos. —Já lhe hei isso dito. —Deitamo-nos, sim. Isso o pilhei. Mas poderia significar um montão de coisas. Necessito detalhes, como se foi lento e agradável, ou rápido e furioso. Ah. Alani o olhou. —As duas coisas? ficou quieto, logo se levou as mãos à cabeça e grunhiu outra vez. —Na postura do missionário ou um pouco de tudo? No dormitório ou no corredor? A primeira vez tinha sido na cama. Logo na ducha. E depois no corredor, contra a parede. —Todo o anterior. Lhe incharam as aletas do nariz. —Quantas vezes o fizemos, por certo? Alani se mordeu os lábios e respondeu vacilante: —Toda a noite? Ele se separou de um salto, deu três passos e voltou a toda pressa para ela. —Com a luz apagada ou acesa? —Acesa —se tinha empenhado ele, mas naquele momento não lhe tinha importado. Tinhalhe gostado da concentração com que a olhava, e ela também tinha querido vê-lo.
Não só se esqueceu de seu acanhamento, também se tinha esquecido do passado, dos homens que a tinham seqüestrado, que a tinham cuidadoso e manuseado como se fora um objeto. Com o Jackson tinha superado muitos traumas pendentes. Ele a agarrou pelos ombros, entre exigente e suplicante. —Maldita seja, neném, preciso verte outra vez. Inteira. Preciso saber que ruídos faz quando está excitada e quando te corre —tocou quase distraídamente um dos suspensórios de seu vestido, brincou com ele como se lhe tentasse—. Preciso te saborear, te cheirar... Assombrada, sufocada e um pouco excitada, Alani o agarrou pela boneca. Sabia-lhe mal decepcioná-lo, mas não ficava outro remédio. —Jackson —disse com suavidade—, não esperará a sério que me esqueça do que aconteceu e... —E o retomemos onde o deixamos? Pois sim —esquadrinhou seu olhar—. meu Deus, sim. —Isso não pode ser —mas seu desejo era tão enternecedor... Ninguém a tinha desejado nunca como a desejava Jackson Savor. Além disso, parecia a ponto de desabar-se. Preocupada com ele, tocou sua mandíbula e se obrigou a concentrar-se no mais urgente. —comeste? Enrugou o cenho. —Não. A merda com isso —se ergueu—. É que acreditava que ia seguir como se tal costure depois de despertar contigo nua na cama e de que um momento depois te largasse de meu apartamento feita uma fúria, sem ter nem idéia de por que nem de como tinham acontecido as coisas? Sim, bom, a verdade era que soava absurdo. —Perdoa. —Quando foi, dava-me uma ducha fria, tomei uma aspirina e rezei por recuperar a memória. Mas nada. Não me lembro de nada. E, entretanto, apesar de que deveria estar descansando na cama, desejava-a. Alani se enterneceu e suas reservas se desvaneceram. —por que crie que perdeste a memória? Apertou a mandíbula, frustrado. Jogou a cabeça para trás e fechou os olhos. —Não vais deixar passar, verdade? Como ia deixar passar, sobre tudo quando parecia encontrar-se tão mal? —Claro que não. Ele entreabriu os olhos e, como isso também pareceu lhe fazer danifico, Alani procurou trocar de tática. —Isto é ridículo. Tem que lhe sentar —o agarrou pela mão e o levou a sua sala de estar. deteve-se diante do sofá e empurrou seu peito—. Sente-se. Jackson duvidou um momento. Logo se deixou cair sobre as almofadas e se relaxou. Parecia destroçado. Alani começou a preocupar-se de verdade. Até os homens mais fortes tinham momentos de debilidade. Mas Jackson sempre parecia tão indomável, tão seguro de si mesmo... Nesse momento, entretanto, necessitava-a. E não em um só sentido. Sentou-se a seu lado e tocou sua frente. Ele ficou muito quieto, como se lhe surpreendesse seu gesto. —Não tem febre —tocou sua mandíbula e a sentiu firme—, embora esteja quente. Jackson a observou com receio. Alani alisou seu cabelo loiro e agreste. Tinha-o um pouco comprido e descolorido pelo sol. Fresco e sedoso. Contrastava tanto com sua fortaleza interior, com a dureza que aparentava... Alani tomou uma decisão. —vamos falar disto, Jackson, pode estar seguro. Mas primeiro vou trazer te algo de beber e
logo algo de comer. A que hora te tomaste a aspirina? —Não te comporte como se fosse minha mãe, Alani. Não é isso o que quero de ti. Ela sorriu. —Tome o como a preocupação própria de uma amiga, de acordo? —Chama-o como quer, mas preferiria que te subisse o vestido, tirasse-te as calcinhas e se sentasse em cima de mim. Alani ficou sem respiração. —Nem o sonhe. —Pois então não me toque. —A culpa não a tenho eu por lhe tocar —lhe deu um empurrãozinho brincalhão com o ombro—. A tem você por dizer essas coisas tão provocadoras. Jackson negou com a cabeça lentamente. —Não, neném, é por ti. Por falar contigo, por pensar em ti —fechou os olhos um momento e sussurrou—: Por te recordar nua —posou sua mão grande e quente sobre a coxa do Alani, justo por debaixo do desço do vestido. —Tem que te concentrar, Jackson. —Estou concentrado, me acredite. Vá se o estava. —Em algo que não seja o sexo. —Estou concentrado em ti, e automaticamente me ponho a pensar em sexo —a atraiu para si —. Mas estaria muito mais disposto a cooperar se primeiro me ajudasse a me tranqüilizar um pouco, sabe? E como pensava fazê-lo, exatamente? Deslizou a mão por sua coxa enquanto acrescentava em voz baixa: —Me deixe te tocar só um pouco... Alani o agarrou pelo braço. Uma quebra de onda de desejo debilitou sua resistência. —Não podemos. —claro que sim. Já o temos feito. Verdade? Alani sacudiu a cabeça, nervosa e excitada. —Eu não posso, agora mesmo não. Assim me diga, a que hora te tomaste a aspirina? Jackson ficou olhando sua boca e seus dedos se contraíram. —antes de vir aqui, fará umas três horas. Aliviada porque por fim se deu por vencido, Alani soltou um suspiro. —De acordo. vou trazer te outra mais. Quer tirar as botas? Ele assentiu devagar. —E a camisa —cravou os olhos nas suas—. E possivelmente também as calças. Era a proposição mais tentadora que lhe tinha feito esse dia. Alani não tinha tido tempo de vê-lo bem a noite anterior, e essa manhã... Enfim, ele se encontrava mal e ela se havia sentido tão ofendida que... —Esquece-o, Jackson —disse—. Não está em condições. —Equivoca-te —deslizou a mão até detrás de seu joelho e atirou de sua perna para passá-la por cima de sua coxa—. Estou preparada, asseguro-lhe isso. «Não olhe, não olhe». Incrível. Uma ereção completa esticava o tecido desgastado de seu jeans. —Jackson... —antes de que as coisas lhes escapassem completamente das mãos, levantou-se e se separou dele—. Volto em seguida. Ouviu-o grunhir ao sair correndo da habitação. Uns minutos depois, quando retornou com a aspirina, um refresco e um sanduiche, Jackson parecia dormido outra vez. Tinha a cabeça arremesso para trás, um braço sobre os olhos e o corpo depravado.
Mas Alani não se deixou enganar: seguia tendo uma ereção, assim compreendeu que estava acordado. —Aqui tem. Ele baixou o braço e a seguiu com o olhar enquanto deixava o prato sobre a mesa baixa e se sentava a seu lado para lhe dar a aspirina. Olhou o copo de espumosa Coca-cola com gelo? —Tem aberto uma lata? —Sim. Não aceitou a aspirina. Ensinando os dentes como se tentasse sorrir, disse: —vamos fazer um trato. Alani intuiu por seu olhar o que ia propor lhe. Tinha tentado aproveitar o tempo que tinha passado na cozinha para recompor-se. Mas tinha bastado ver Jackson para perder de novo o prumo. —Que classe de trato? Agarrou-a pelo braço e atirou dela. —Me beije e tomo a aspirina. —Só um beijo? —perguntou, indecisa. —por agora. Alani titubeou. Ele não. Tomando sua vacilação por um sim, aproximou-a um pouco mais a ele. —Vamos —disse—, é o menos que pode me dar. —Mas... —acaso podia resistir a ele? Não estava muito segura—. De acordo. Tão logo acabou de falar, Jackson se apoderou de sua boca em um beijo suave e ardente. E profundo. Um momento depois a tinha convexo de costas no sofá. Sem soltar sua boneca, colocou-se entre suas pernas e a sujeitou com seu corpachón. Girou a cabeça para seguir beijando-a e deslizou a língua além de seus dentes. Alani se deu por vencida em seguida. Desejava-o, necessitava-o. Então ele soltou sua boca e, mantendo-se em equilíbrio sobre ela, respirou entrecortadamente. —Parece-me que vou muito rápido. —Sim —embora a verdade era que gostava. Jackson chiou os dentes. —Só para que saiba, carinho. De mim pode confiar. Para mim um não é um não. Se o disser... —De acordo. Ofegando, incorporou-se e disse: —Me dê a ditosa aspirina —mas não esperou a que a desse. Agarrou-a por sua mão, a tragou e tomou o copo. depois de esvaziá-lo na metade, voltou a deixá-lo sobre a mesa baixa e a olhou—: Passamos ao segundo assalto? —O segundo assalto? Assentiu com firmeza. —Se quiser que vírgula, tem que me beijar outra vez. «Te esqueça de pactos». Sua evidente necessidade fazia que todo o resto carecesse de importância. lhe tendendo os braços, Alani respondeu: —De acordo. Seus olhos brilharam. inclinou-se sobre ela. Então bateram na porta. Alani ficou rígida. Jackson resmungou uma maldição. Chamaram outra vez com mais insistência. Logo, Alani ouviu o ruído inconfundível de uma chave na fechadura. «Ai, Deus». Tinha que ser seu irmão. Era o único que tinha chave de sua casa. Empurrou frenética os ombros do Jackson.
—te mova, Jackson! Soltando um grunhido, começou a apartar-se... e então se abriu a porta. Giraram os duas a cabeça. Não só estava ali seu irmão. Também estava Dare. ficaram os dois de pedra. Ao Alani deu um tombo o coração. Estava tentando pensar em algo que dizer quando Jackson se incorporou, atirou dela e disse como se tal coisa: —Pegaria-lhes um tiro por ser tão oportunos, mas suponho que é melhor que esclareçamos isto quanto antes. Com os olhos entreabridos e uma expressão atônita, Trace fechou de uma portada. —Sim —disse, e pôs-se a andar por volta deles—. vamos esclarecer o agora mesmo. Jackson ficou pasmado ao ver que, antes de que lhe desse tempo a decidir se queria enfrentar-se a Trace ou não, Alani ficava de um salto diante dele. Pôs seus magros braços em cruz e separou as pernas. —Parte, Trace. Agora mesmo. Seu irmão se deteve, furioso. —Sabia que estava mentindo quando me disse que estava no cinema. —Sinto-o —disse Alani, envergonhada—. É que... necessitava um pouco de tempo. —Isso já o vejo. Dare se inclinou para olhar ao Jackson por detrás de Trace. —Está-te defendendo? Jackson, que seguia atônito, voltou a sentar-se no sofá. —Isso parece. Dare o olhou com atenção e disse: —Minha mãe, parece uma... —Uma merda, sei —agarrou ao Alani pela cintura e atirou dela, sentando-a em seu regaço. Ela ficou rígida pela surpresa. Dirigindo-se a seu irmão, Jackson acrescentou: —te controle, Trace. Temos que falar. Trace apertou os dentes e se conteve. —Isto não requer explicação. —Temo-me que sim. Alani ficou ainda mais rígida e se voltou bruscamente para olhá-lo. —Não te atreverá —disse Alani. Seu tom indignado fez que a curiosidade de Trace e Dare se centuplicasse. —Que não se atreva a que? —perguntou Trace. Jackson, que não queria envergonhá-la, disse em tom pesaroso embora razoável: —Têm que sabê-lo, carinho. —Jackson... —repôs ela em tom de advertência. —Mais vale que o soltem de uma vez —disse Dare—. Minha imaginação pôs o turvo. —Acredito que ontem alguém me drogou. Dare e Trace se tornaram para trás, surpreendidos. —Vá —disse Dare—. Isso sim que não me esperava isso. Alani tentou levantar-se, mas Jackson a sujeitou e, como não queria armar uma cena, ficou ali sentada. Trace, que se dava conta de tudo, olhou-a com aborrecimento. Dare se sentou no bordo de uma cadeira. Parecia a paciência personificada. —Está bem, nos conte. Alani lutou de novo e Trace já não pôde refrear-se. Ordenou em tom cortante:
—Solta-a. Mas ao Jackson não impressionava seu tom. —Disso nada. Trace avançou para ele. E nesse instante Alani deixou de lutar e começou outra vez a defendê-lo. —Alto aí, Trace! Digo-o a sério. Trace se deteve. Tremia-lhe o olho esquerdo. Era absurdo prolongar aquilo, decidiu Jackson. —Esta manhã despertei com... —Jackson! —Com o Alani na cama, comigo. Trace, Alani e Dare contiveram a respiração ao mesmo tempo. Havia tanto silêncio que ao Jackson quase pareceu ouvir como pulsavam seus corações. Olhou a Dare e logo a Trace. Estreitou um pouco entre seus braços ao Alani e acrescentou: —O caso é que não me lembro de como chegou ali. Dare e Trace não reagiram. Seguiram com a boca aberta. Jackson se encolheu de ombros. —Esta manhã estive umas horas muito enjoado, via dobro, estava aturdido e sem forças. Alani pôs cara de sentir-se culpado, certamente porque se partiu de sua casa feita uma fúria. Mas Jackson entendia sua reação. Sempre que tinha pensado em deitar-se com ela, imaginou-se a si mesmo tratando-a como muita delicadeza, com muita ternura, por respeito a sua inexperiência e ao trauma de seu passado. Mas tinha sido tenro com ela? Deus, esperava que sim, porque o «dia depois» tinha sido um asco. Memorável, sim, mas por quão horroroso tinha sido. Abraçou-a outra vez. Dare e Trace, como não, notaram-no. —O único que me ocorre é que alguém me drogou, mas não sei quem pôde ser, nem como, nem por que. Que eu recorde, passei o dia trabalhando em casa —sua casa era habitável mas ainda não estava acabada, por isso preferia seguir no apartamento que tinha alugado. No dia anterior tinha previsto pedir ajuda ao Alani, que era decoradora profissional. Não sabia se ela tinha aceito ou não, mas sabia desde o começo que entre eles havia atração física e que passar algum tempo juntos, a sós, jogaria a seu favor. —Viu alguém enquanto estava trabalhando? Jackson negou com a cabeça. —Não, que eu recorde. Fez-se um silêncio. —Se lhe drogaram —disse por fim Dare—, pode que fora com o Rohypnol. É fácil pô-lo em uma bebida. É um sedativo, assim causa enjôos e atordoamento e pode produzir amnésia temporária. Ao Jackson doeu mais ainda a cabeça. —Uma droga das que usam os violadores para sedar a suas vítimas? Sério? Alani se alarmou. —Temos que levá-lo a hospital! —Não —Jackson a sujeitou quando ia levantar se. Não queria avisar a ninguém. Quando descobrisse quem tinha feito aquilo, ocuparia-se do assunto ele mesmo, sem a intervenção da polícia. —Não seja idiota —disse Alani com veemência. —Muito tarde —comentou Trace. Jackson fez caso omisso do insulto. Sabia o que sentia Trace. Ao irmão do Alani não gostava de pensar que seu irmã tinha uma relação sexual. Era compreensível. Mas oxalá se lembrasse da relação sexual.
Dare intercedeu outra vez: —Não acredito que servisse de muito levá-lo a hospital, céu. O Rohypnol não se detecta em uma análise de urina. Seria preferível uma análise de sangue, mas normalmente os laboratórios dos hospitais não têm o equipamento necessário para fazê-los, assim teriam que mandar a amostra fora e... isso leva tempo. —E para então eu já estaria bem —adicionou Jackson. Passou as mãos pelos braços do Alani, confiando em tranqüilizá-la—. Já me sinto melhor, de fato —muito melhor, tendo em conta como o tinha beijado ela e a rapidez com que se derreteu em seus braços. Assim que se livrasse de Dare e Trace, demonstraria-lhe o bem que se encontrava. Precisava ter sexo com ela, claro. Não podia seguir naquele estado. Mas talvez Alani tomasse como uma falta de respeito. Possivelmente pensasse que só queria uma coisa dela, quando em realidade não estava seguro do que era o que queria. Sexo, certamente. E conversação, claro. Queria protegê-la e queria que confiasse nele. Mas não sabia o que significava todo aquilo. Assim que se tivesse deitado com ela, voltaria a ser dono de si mesmo e a comportar-se como um cavalheiro. Possivelmente. Claro que tendo em conta como o punha Alani, não estava do todo seguro... —Não sei... —disse Alani, preocupada. —Se lhe deram uma dessas pastilhas, acontecerá —lhe disse Dare para tranqüilizá-la. —Bom... —Alani olhou de novo ao Jackson, cheia de preocupação—. Está bem. Trace sacudiu a cabeça, enojado. —A verdade é que não foi você quem tinha que decidi-lo, Alani. Não, não era ela. Jackson jamais permitiria que uma mulher lhe ditasse o que tinha que fazer. Ia contra seu caráter. Mas para suavizar as coisas disse: —Estou bem, Alani, sério. Ela os olhou às três com recriminação. —Como se algum de vós fosse capaz de reconhecer que necessita de ajuda. —Genial —disse Dare—, então tudo arrumado. Agora, passemos ao seguinte tema —lançou ao Alani um olhar inquisitivo—. aconteceste a noite com ele? Ela levantou o queixo. —Sim. —A que hora chegou a sua casa? A seriedade com que fez a pergunta tranqüilizou um pouco ao Alani. —Ontem, sobre a hora do jantar. —Estava bem quando chegou? —Estava... —olhou ao Jackson e levantou um ombro—. Suponho que sim. Estava um pouco estranho, mas mesmo assim... Trace perdeu de repente a paciência e disse com incredulidade: —Com o Jackson, Alani? De verdade? —Pois sim, de verdade! —replicou ela gritando. —Sem ter saído antes? Sem uma só encontro? Ou é que me estavam ocultando isso? —Não! —ruborizou-se e olhou angustiada ao Jackson—. É sozinho que... —Seu irmão entende perfeitamente, carinho —Jackson, que não estava disposto a permitir que Trace a pressionasse para que cortasse com ele antes de que lhe desse tempo a decidir o que era o que queria, enrugou o cenho—. Vê te fazendo à idéia, Trace. Dare levantou uma mão. —Crêem que vamos guardar as formas até que saibamos o que ocorreu? Jackson se encolheu de ombros. —Por mim tudo bem —apesar de que certamente o tinham drogado, de que ainda lhe doía a cabeça e não tinha recuperado do todo as forças, notava vivamente o quente peso do Alani sentada
em seu regaço. Cada vez que respirava inalava o perfume único de seu corpo. Pela primeira vez em sua vida pôde acariciar seu cabelo comprido e loiro. Podia tocar sua pele, beijá-la... E isso fez: levou-se sua mão delicada à boca e beijou seus nódulos. Alani se estremeceu, mas procurou fingir que aquele beijo não significava nada absolutamente. Parecia que a Trace estava a ponto de ter um ataque, mas que demônios? Jackson não pôde remediá-lo. Trace tinha sorte de que não o tivesse jogado a patadas para que Alani e ele pudessem voltar a ficar mãos à obra. Claro que, para que ia jogar a Trace, se obrigado a que estava ali Alani mostrava seus verdadeiros sentimentos? Em qualquer outra circunstância se haveria sentido ofendido por que uma mulher saísse em sua defesa. Ele podia confrontar qualquer problema sem ajuda de ninguém. Levava fazendo-o toda a vida. Não necessitava que ninguém o protegesse. Mas Alani não era qualquer mulher. Era especial. assim, Jackson decidiu desfrutar daquela novidade. Dare lhe disse a Trace: —E bem? —De acordo. Mas que seja rápido. —Deixa de lhe colocar pressa. Por bastante aconteceu já. Jackson dissimulou um sorriso. Do momento em que tinha conhecido ao Alani se deu conta de que não era uma lânguida florzinha, como a pintava seu irmão. Sua figura era delicada, sim, sobre tudo comparada com seu corpo grande. Mas tinha a mesma fortaleza de caráter, as mesmas determinação, teima e independência que Trace. Devia ter sido muito duro para ela perder seus pais tão jovem. Mas Trace se esforçou ao máximo, inclusive se tinha passado da raia. Tinha protegido ao Alani mais do devido, tinha-a mimada em excesso. E depois a tinham seqüestrado uns traficantes de pessoas e... Jackson a rodeou com os braços e apertou a cara contra seu pescoço. Naquele tempo, ainda não a conhecia, mas cada vez que se lembrava daquilo lhe dava vontade de matar a seus seqüestradores, apesar de que estavam todos mortos. Alani, que confundiu sua reação com um pouco completamente distinto, acariciou-lhe o cabelo. —Está bem, Jackson? Outra vez está enjoado? Podemos deixar o interrogatório para depois se o necessitar. Trace grunhiu, mal-humorado. —Está bem, Alani —Dare olhou ao Jackson com intenção e Jackson voltou a ficar direito—, mas logo deixará de está-lo se não começar a nos explicar o que passou. —Não posso —Jackson se encolheu de ombros—. Quão único recordo é que despertei com o Alani na cama. Parecia pó, Alani partiu zangada e já não sei mais. Se querem saber o que passou ontem à noite, ides ter que perguntar-lhe a ela —e assim, de passagem, ele também se inteiraria de um par de coisas. Alani lhe soltou uma cotovelada nas costelas. «acabou-se a preocupação». Trace ficou avermelhado. Jackson compreendeu que tinha vontades de ficar a amaldiçoar e que estava fazendo um esforço por mordê-la língua diante de sua irmã. —Então de ti depende, céu —lhe disse Dare ao Alani—. Notou algo estranho, algo distinto quando esteve em sua casa? Alani se umedeceu os lábios. —Pois sim —olhou ao Jackson furtivamente. —Estava distinto? Parecia drogado? —perguntou Trace—. E mesmo assim te deitou com
ele? Ela o olhou com aborrecimento. —Não. Bom, além de parecer mais... mais sincero... —Alguma vez fui mentiroso? —perguntou Jackson. —Quer deixar de me interromper? —Continua, Alani —a insistiu Dare. Ela procurou acalmar-se. —Jackson parecia o de sempre. Presunçoso, coquete, usando seu encanto para tentar lhe tirar as calcinhas a uma... —Não quero ouvir isto —disse Trace. —Não me refiro —mas acrescentou um pouco envergonhada—: Bom, sim, a mim também... suponho. Jackson a apertou outra vez. —Mas eu referia a sua vizinha —acrescentou ela. Todos falaram de uma vez. Dare perguntou: —Que vizinha? E Trace disse: —Viu-o paquerando com ela e mesmo assim ficou? Jackson declarou: —Eu não ligo com minhas vizinhas. Alani, que seguia sentada sobre seus joelhos, levantou uma mão para lhes fazer calar e se girou para olhar ao Jackson. —Ia contar isso mas queria que comesse primeiro. —Não necessita uma babá —resmungou Trace. —Te cale! Trace pareceu perplexo por seu estalo... e se calou. Confiando em acalmá-la e em ganhar pontos com ela atuando como contraponto de seu irmão, Jackson acrescentou: —Tem razão, carinho. Já te hei dito que estou bem. Alani se voltou para ele. —Encontrava-te muito mal. —Sim —a atraiu para si e sussurrou—: Se não, ainda estaríamos na cama. Dare, embora não podia lhe haver ouvido, disse: —Curta o cilindro, Jackson. Está perdendo um tempo muito valioso. Jackson ficou sério e disse: —A única vizinha com a que falo é a senhora Guthrie, mas deve ter uns sessenta anos. Alani sacudiu a cabeça. —Supus que era uma vizinha porque ia descalça. Olharam-se uns aos outros. Se ia descalça, possivelmente fora para não fazer ruído. —Mas não a vi partir —explicou Alani—, assim não sei onde foi quando saiu de sua casa. Possivelmente não fora uma vizinha. Possivelmente fora um... um encontro. Jackson, que não se lembrava de ter convidado a nenhuma mulher a seu apartamento, disse: —Descreva-me isso. Alani se encolheu de ombros. —Tinha algo mais de trinta anos, diria eu. —Não pode ser. Ela enrugou o cenho. —É que se tiver mais de trinta anos fica descartada automaticamente? Desde que conhecia Alani não tinha tido nenhuma relação de casal mais ou menos estável. ocupava-se de seu trabalho e nada mais. Nunca convidava mulheres a sua casa, mas não pensava
dizer a Alani, e muito menos diante de Trace e Dare. —Só digo que não me vejo com nenhuma mulher de mais de trinta anos. —Cabelo curto e castanho. —Como de curto? Alani pôs cara de chateio. —Muito curto. Jackson sacudiu a cabeça e levantou um comprido mecha do cabelo do Alani para admirá-lo. Era muito mais liso, mais loiro e muitíssimo mais suave que o seu. —Não. Alani não permitiu que a distraíra. —Vestia como uma fulana. —Com mais de trinta anos? Não —estava aquela que... Mas não. Disso fazia séculos e nem sequer podia considerar uma aventura de uma noite. De uma hora, possivelmente. Soltou um bufido —. Não me soa de nada. —E suponho que conhece todas as mulheres que vivem por aqui perto e que poderiam entrar em sua casa. —Eu não disse isso —mas, como qualquer homem com sangue nas veias, fixou-se nas mais atrativas do bairro—. Que diabos! Não ficaria com uma vizinha nem que alguma fosse boa e estava gastando todas minhas energias em ti. Dare assentiu com a cabeça. —Muito perto. —Exato. Alani enrugou o cenho. —Não entendo. —Complicações —explicou Trace enquanto se passeava pela habitação. Ela entreabriu os olhos, desconfiada. —Que classe de complicações? —Dessas que se dão quando, depois de te enrolar com uma tia, quando perde o interesse, encontra-te com uma mulher muito cheia de ódio, que vive justo ao lado de sua casa. Alani se girou lentamente para o Jackson, enrugando o cenho. Ele disse: —Né... —Trace tinha razão, mas não tinha por que dizê-lo tão claramente. —Isso não importa agora —disse Trace ao tempo que se passava uma mão pelo cabelo—. Recorda ter estado com uma mulher assim? Jackson negou com a cabeça. —Não. —Falou com ela? —perguntou-lhe Trace a sua irmã. —Pois... sim —olhou ao Jackson outra vez, zangada—. Abriu a porta de sua casa. Jackson levantou bruscamente as sobrancelhas. —E onde diabos estava eu? —No sofá —lhe cravou um dedo no peito—. Estava ajeitado, tão tranqüilo, com os pés em cima da mesa baixa. Como parecia estar ocupado ia partir, mas quando viu que era eu, você levantou e essa mulher disse que de todas formas tinha que ir, assim... —Por Deus, Alani. —Não use esse tom comigo —voltou a cravar o olhar em seu irmão—. É que Jackson fez algo que não tenha feito você? —Estava com outra mulher! Alani fez ameaça de levantar-se dos joelhos do Jackson, mas ele a sujeitou e ela se deu por vencida em seguida, muito desejosa de replicar a seu irmão para preocupar-se por isso. —E o que? Entre nós não havia nada...
—Mas agora sim há o anunciou Jackson, no caso dela não se inteirou. —E Jackson disse que o me queria muitíssimo. Vá. Jackson lamentou visceralmente ter empregado essa expressão. —Que lhe queria muitíssimo? —seguro que queria, claro, mas seriamente o havia dito tão às claras? Dare sorriu, sacudiu a cabeça e repetiu em tom zombador: —Muitíssimo. —E só teve que dizer isso para que te deitasse com ele? —perguntou Trace. Alani respirou fundo. —Está dizendo que me deito com qualquer um? —Não! —Trace pareceu envergonhado—. Não ponha palavras em minha boca. —A sinceridade do Jackson bastou para que ficasse. E logo... enfim... Esperaram os três. —Esqueçam! —apartou-se bruscamente do Jackson—. Passou, de acordo? Esqueçam o de uma vez para que possamos nos concentrar no fato de que o drogaram. —Isso ninguém o esquece, céu. Ela olhou a Dare com aborrecimento. —Temos que descobrir quem era essa mulher. —E se trabalhava sozinha —acrescentou Jackson. —Parece pouco provável —ofuscado ainda, Trace se aproximou dela e a olhou com o cenho franzido—. E o que há do economista? Ai, Deus. Jackson se tinha esquecido por completo do Marc Tobin. Tornando-se para diante, afirmou: —Isso se acabou —ou mais valia que se acabou, pelo menos. Alani disse ao mesmo tempo: —Desmanchei com ele. Jackson relaxou os ombros e sentiu uma espécie de felicidade. A dor persistente que notava nas têmporas se esfumou. Trace os olhou aos dois. —Quando? —Recentemente mais de uma semana. Uma semana inteira? E não tinha ido a ele em seguida? Maldição, acaso tinha sofrido pela ruptura? —Deu-lhe algum motivo? —quis saber Dare. —Isso não é seu assunto. Trace a agarrou pelo queixo e a obrigou a olhá-lo. —Perdoa, carinho. Possivelmente não saiba como funciona isto, mas dadas as circunstâncias têm que sabê-lo tudo. É o único modo de analisar o perigo potencial. —Seriamente crie que Marc pode ter algo que ver com isto? —Possivelmente tenha motivos para estar furioso com o Jackson. Ou contigo. ficou calada um momento pela surpresa. Logo disse em tom zombador: —Crie que eu estou em perigo? Isso é absurdo. É ao Jackson a quem drogaram. Trace não pôde dissimular um sorriso ao dizer: —O único modo de proteger ao Jackson é conhecer todos os dados. Jackson deu um coice, indignado. —Eu não necessito que ninguém me... Mas antes de que pudesse acabar a frase Alani gaguejou: —Mas Marc não pode ter nada que ver com... —Com que tenham drogado ao Jackson? Certamente não, assim não te alarme. Mas de todos os modos quero que me conte isso tudo. Jackson notou que ao Alani tremiam os lábios, que ficava pálida e começava a respirar
agitadamente. —Trace —disse em voz baixa—, lhe dê uma pausa, quer? —terei que protegê-la, claro, mas assustando-a não conseguiriam nada. Trace entreabriu os olhos e agarrou por ombro a sua irmã. —Não vai passar te nada, carinho. É sozinho por precaução. Ela tragou saliva com esforço e esquivou seus olhares. —Disse-lhe que estava pensando em... em estar com outra pessoa. Dare apoiou os cotovelos sobre os joelhos. —Mencionou o nome do Jackson? —Não, claro que não —sacudiu a cabeça—. Teria sido um gesto muito feio. Trace aceitou sua explicação: sabia que ninguém tinha mais tato que sua irmã. —Sabia alguém que ontem pensava ver Jackson? —Sabia Jackson. Jackson a olhou sentido saudades e perguntou: —Sim? —Chamei-te —esboçou um sorriso triste—. Mas suponho que isso também o esqueceste. Chamei-te antes de sair do trabalho. —Alguém te ouviu chamá-lo? —perguntou Dare. —Estava em meu escritório, assim que o duvido —depois se voltou para sair da habitação com a cabeça muito alta—. vou fazer café. —Alani... —Jackson fez ameaça de levantar-se, consciente de que a possibilidade de estar em perigo a tinha afetado. —Não —levantou uma mão com gesto firme. Assinalou a comida que lhe tinha levado e ordenou que—: Come. A ele ninguém dava ordens. Jackson ficou olhando-a. Tinha deixado plantado a seu noivo o ricaço. Tinha-o defendido frente seu irmão. deitou-se com ele, embora ele não se lembrasse. Em resumidas contas, estava muito contente com ela. Assim fez uma saudação militar e disse: —Sim, meu carinho. O que você diga. Capítulo 3
Na cozinha, Alani pôs a rádio. Bem alto. Queria deixar que falassem tranqüilos? Ou preferia não ouvi-los? Dava igual. Jackson se tornou para diante em seu assento. —Para que saibam, sim que conheço esse bode. Dare levantou uma sobrancelha. —A seu noivo? —A seu ex novio. E sim. Conhece-me, sabe como me chamo e conhece minha cara. —E isso por que, se se pode saber? Jackson meneou uma mão. —Eu andava atrás dela, mas isso não é nenhuma novidade. —E coincidiu com ele? —grunhiu Trace. —Sim. E ou é mais parvo do que acredito, ou teve que dar-se conta de que entre o Alani e eu havia química —olhou a Trace com expressão desafiante—. A há e você sabe. Trace cruzou os braços e olhou a Dare. —Jackson leva muito tempo detrás dela. Dare os olhou aos dois.
—Você sabia? —Sim —soltou um suspiro e se esfregou a nuca—. Sabia. —Não era nenhum secreto —acrescentou Jackson—. Eu disse. Mas agora é distinto. —Você cre? —perguntou Dare, muito sério. Baixaram todos a voz. —Queria que me decorasse o apartamento para poder estar mais perto dela —explicou Jackson, fazendo caso omisso da cara de surpresa de Dare e a expressão de chateio de Trace—, mas não deu resultado, assim pensava que teria que começar de zero e agora... Trace lhe cortou: —Jackson também se dedicava a vigiá-la. Aquilo soava fatal, assim Jackson explicou: —depois do que tinha passado, não queria que esse economista fizesse nada que pudesse incomodá-la. —Como persegui-la, por exemplo? Jackson se encrespou para ouvir aquele sarcasmo. —Como pressioná-la. E podem estar seguros de que a pressionava. —por que está tão convencido? —perguntou Dare. —Olha-a! —Jackson assinalou para a cozinha, onde por sorte Alani não podia lhes ouvir—. Está tão boa que virtualmente nenhum tio poderia resistir. Dare se engasgou. —É como Trace, mas em versão mais pequena e feminina. Que idéia tão desconcertante. —Disso nada —respondeu Jackson—. Você a vê como uma irmã pequena, igual a Trace — tinha o mesmo cabelo loiro e os mesmos olhos castanhos que Trace, isso era certo. Em Trace, essa combinação era chamativa, mas no Alani era diretamente espantoso e fascinava a todos os homens que a conheciam—. Eu a vejo de maneira distinta. Trace pôs cara de chateio. —Mas é o bastante nobre para deixá-la tranqüila? —Né... —tinha acreditado que sim o era. Ao ver que Alani preferia manter-se afastada dele, tinha decidido deixá-la em paz em lugar de atormentar-se a si mesmo. E entretanto essa manhã se despertou com ela nua na cama. Trace e Dare esperaram. Enojado consigo mesmo, Jackson respondeu: —Deixem já, maldita seja. —Deveria te matar aqui mesmo e acabar de uma vez —resmungou Trace. Jackson se passou uma mão pela cara. —Sim, pode ser. Dare tossiu para lhe ouvir. —Você confia nele, Trace, e sabe. —Confiaria-lhe minha vida —replicou Trace—, não a de minha irmã. Dare sacudiu a cabeça e acrescentou: —Me fale de seu encontro com esse economista. —Chama-se Marc Tobin —disse Trace. Jackson esboçou um sorriso desdenhoso. Até o nome daquele tipo lhe incomodava. —Fui na casa de Alani, mas ela tinha um encontro com esse imbecil e não me parti a tempo. —De propósito, certamente —disse Trace em tom de recriminação. Jackson se encolheu de ombros. Sim, ficou-se mais da conta a propósito. E o que? —Chegou e já sabem como é Alani, sempre tão educada. —Apresentou-lhes? —perguntou Dare com voz afogada. Jackson assentiu com a cabeça.
—Sim. —Levou-te como um troglodita? —perguntou Trace. —Quer dizer que se o amassei? Não —embora lhe tinham dado vontade—. Me coloquei um pouco com ele, mas é tão... lambido que costa refrear-se, compreendem? Dare alargou o braço e lhe deu um palmada no ombro. —Com algo terá que consolar-se, verdade? Jackson tinha pensado consolar-se com Alani... uma e outra vez. Mas agora... necessitava ela mais tempo? Espaço para respirar? Deus, esperava que não. Olhou para a cozinha e viu que ela estava pondo taças em uma bandeja. Lhe retorceram as tripas. Sim, estava louco por ela. Com nenhuma outra mulher se havia sentido assim. E não gostava. Queria possui-la. Ou, melhor dizendo, possui-la outra vez para poder recordá-lo. —E agora o que? Não pode estar sozinha —disse. —Estou de acordo —Dare se esfregou o queixo—. Fez averiguações sobre esse tal Tobin? —Desde o começo —Trace se recostou na parede—. Parece um tipo bastante decente. Rico e privilegiado, claro, mas sem antecedentes além de umas quantas multas por excesso de velocidade. Ao Jackson não gostou de sua valoração. —Cada investimento que faz se converte em ouro. Não confio nele. —foi Alani quem o deixou —lhe recordou Dare ao Jackson. E acrescentou—: Mas, se cre que o deixou por ti, possivelmente deveríamos investigar um pouco mais. —Parece-me o mais lógico —disse Jackson, que queria que o culpado fora Tobin. Seria a solução mais fácil e rápida, e assim se tiraria de cima a um competidor de uma vez por todas. —Cre que mandou a uma mulher para que drogasse ao Jackson? —disse Trace—. Mas por que? Para que se deitassem e Alani perdesse o interesse por ele? Bom, Jackson sempre se atirou a tudo o que se meneia, e mesmo assim Alani foi atrás dele. Jackson se ofendeu outra vez. —Equivoca-te —sexualmente, não era mais ativo que qualquer outro homem adulto e são. E desde que conheceu Alani... Enfim, nenhuma outra mulher havia tornado a interessá-lo, por muito boa ou disposta que estivesse. Ele queria a Alani. Tinha-a tido, maldita seja, e pelo que ela contava tinha sido tão alucinante como sempre tinha acreditado que seria. —Já sabe como são estas coisas, Trace —disse Dare—. Isso lhe faz mais atrativo para algumas mulheres. —Pode ser —Trace lançou ao Jackson um sorriso malévolo—. Mas não para o Alani. Jackson, que sabia que certamente tinha razão, agarrou o sanduiche e deu uma boa dentada. Ela queria que comesse, assim comeria. Trace começou a passear outra vez pela habitação. —De todos os modos, isso não importa agora. É muito provável que quem o drogou tivesse visto o Alani em sua casa. —Assim também está metida nisto —disse Dare—, olhe-se por onde se olhe. Jackson disse com a boca enche: —Não quero assustá-la, sobre tudo porque cabe a possibilidade de que esteja em perigo — tragou enquanto começava a formar um plano em sua cabeça—. Se deixar que fique a seu lado, pode seguir com sua vida mais ou menos como sempre. —Você pode vigiar a de perto —disse Dare— enquanto Trace e eu começamos a investigar. —Deveria nos haver chamado em seguida, Jackson —Trace voltou a zangar-se—. meu Deus, hoje ficou sozinha em algum momento? Jackson fez uma careta. —Toda a manhã. Graças às drogas, ao princípio não pude pensar com claridade. Quão único
sabia era que me tinha perdido... —olhou a Trace e acrescentou—: algumas coisas importantes. Assim que pude, vim aqui. Justo quando começava a me limpar e a me dar conta do que podia ter passado, voltou Alani. —E mesmo assim não nos chamaste? —Sim, bom, respeito a isso... —titubeou um pouco—. ia chamar lhes... nada mais esclarecer coisas com ela. Trace sentiu saudades. —O que terei que esclarecer? Jackson olhou outra vez para a cozinha e viu que Alani estava diante da pia, com os braços cruzados, olhando pela janela. Como se sentisse seu olhar, voltou a cabeça para ele. Seus olhares se encontraram e Jackson sentiu uma espécie de conexão física. Inclusive de longe viu que sua respiração se agitava, que suas bochechas se ruborizavam e seus lábios carnudos se entreabriam. Entreabriu os olhos... e Alani se deu a volta para agarrar a cafeteira cheia. Jackson respirou fundo. —Está bem, escutem —disse, dirigindo-se a seus dois amigos—. Em circunstâncias normais não falaria disto com ninguém, nem sequer com vós. Sabia-lhe mal falar disso, mas a segurança do Alani estava em jogo e tinham que sabê-lo tudo. Nisso Trace tinha razão. —Já lhes hei dito que despertei com uma dor de cabeça espantosa e que me passei uma hora no quarto de banho vomitando. Esperaram. —Sim, bom... —nunca, nem que vivesse cem anos, esqueceria o momento alucinante em que se despertou e a tinha visto acurrucada na cama, a seu lado—. Sabem tão bem como eu que Alani viveu muito protegida. Não estou seguro do que é o que esperava, mas quando despertou as coisas não saíram como ela queria. O... o interpretou mal tudo. Dare franziu o cenho, confuso. —Explicou-lhe o que acontecia? —Nesse momento não. Demônios, não sabia o que tinha passado —bebeu um grande gole de refresco enquanto tentava organizar suas idéias—. O caso é que tinha a sensação de que ia estalar me a cabeça e Alani estava ali, nua —tomou ar outra vez, mas seguiu sentindo uma opressão no peito—. Me custou assumir as duas coisas de uma vez. Parecia uma confusão, mas não me fez falta ter o cérebro intacto para me dar conta de que certamente me tinha deitado com ela. Não soube o que fazer a respeito. Trace olhou para o teto. —Deixa-o já, quer? —Dare lhe deu um empurrão—. É maior. Jackson assentiu com a cabeça. Alani era jovem, mas muito amadurecida. A mescla perfeita de ingenuidade e sensualidade. Independente e entretanto incrivelmente doce... O problema era que Trace levava muito tempo protegendo-a. Fixou o olhar no Jackson. —Não sei se quiser que siga te vendo com ela. Jackson respondeu em claro tom de advertência: —Não te meta nisto, Trace. Seu amigo separou as pernas e sorriu. —Ou o que? —Ou terá que se ver comigo —Alani voltou a entrar levando uma bandeja que pôs sobre a mesa. Jackson fez ameaça de levantar-se, mas lhe pôs uma mão no peito e o empurrou para que voltasse a sentar-se. Jackson se levou tal surpresa que não soube reagir. Com os braços cruzados, Alani olhou a seu irmão. —Verei o Jackson se eu quiser.
Jackson sustentou o olhar furioso de Trace... e encolheu de ombros. Supôs que aquilo resolvia a questão. Desse modo seria muito mais fácil protegê-la, e ele teria muitas mais oportunidades de esclarecer seus sentimentos. Dare sacudiu a cabeça. —Não ponha essa cara de satisfação, Jackson, ou pode ser que Trace ainda lhe mate. —Não —disse Alani ao sentar-se a seu lado—. Trace não vai matar a ninguém. Embora a Trace lhe tremia outra vez o olho esquerdo, não se lançou para o Jackson. Tinha muito domínio sobre si mesmo. Se queria atacar ao Jackson, faria-o com a velocidade do raio, sem prévio aviso. Mas ao Jackson não preocupava isso. Trace podia ser um aporrinho, mas queria o melhor para o Alani, e nesse momento o melhor para ela era que alguém tão capaz como ele a vigiasse vinte e quatro horas ao dia, até que averiguassem o que tinha passado. Disso não podiam encarregar-se nem Trace nem Dare. Não só estavam os dois casados, mas sim sua presença constante só conseguiria alarmá-la mais ainda. Não haveria forma de explicar-lhe sem lhe dizer quão perigosa podia ser a situação. Assim teria que encarregar-se ele, o qual lhe vinha de pérolas. Trace se passou uma mão pelo cabelo. —Alani, a sério... Está segura disto? Ela olhou muito séria a seu irmão e a Dare. —Agradeceria-lhes que tomassem o café e lhes partissem para que Jackson e eu possamos falar. Sua resposta os afetou de maneira muito distinta. Trace, que não pensava ir a nenhum sítio, soltou um bufido. Dare se limitou a dizer: —Não pode ser, céu. E Jackson a rodeou com um braço. —Primeiro temos que fazer planos. —Eu já tenho um plano —com as costas muito rígida e os ombros erguidos, separou-se dele —. vou terminar de falar disto com vós e logo irão para que possa me dar uma ducha e me colocar na cama cedo. Jackson abriu a boca e ela acrescentou com ênfase: —Sozinha. Maldição. Parecia fria e distante. Tinha-lhes ouvido falar? Tinham baixado a voz, mas a casa era pequena e, embora tinha a rádio muito alta, possivelmente tivesse ouvido algo. Para assegurarse, Jackson perguntou: —Passa-te algo? Alani, Dare e Trace o olharam com incredulidade. Jackson, que já estava farto, levantou-se e a tirou da mão. —Em seguida voltamos —começou a levar Alani para a cozinha. Ela resistiu. —Jackson... Ele se inclinou até que seus narizes quase ficaram unidas. —Aqui ou em privado. Você decide. Trace deu um passo adiante... e Alani tomou uma decisão. Disse a seu irmão e a Dare: —Bebam o café! Não demoraremos muito. Uma vez na cozinha, Jackson se separou da porta e se pegou à parede para ter um pouco de intimidade. Encurralou ao Alani apoiando os braços na parede, a ambos os lados de sua cabeça. Ela o olhou fixamente. Parecia muito pequena, muito frágil e muito atrativa. Tinha que saboreá-la. Murmurou: —Te sentia falta de —e beijou primeiro seu lábio de abaixo e logo o de acima. Finalmente,
suas bocas se uniram em um beijo suave, mas profundo. Os peitos do Alani se apertaram contra suas costelas. Suas mãos se apoiaram sobre seu peito e se deslizaram até seus ombros. Deixando escapar um gemido ansioso, flexionou os dedos e se aferrou a ele. Sim, ao Jackson gostou daquilo. Um montão. Sentiu que sua respiração se acelerava, que começava a tremer... —Deus, Alani —fazendo um esforço se separou de sua boca, mas teve que voltar para lhe dar vários beijos mais, rápidos e tenros—. Não quero te pressionar. Alani apoiou a frente sobre seu peito e se Rio brandamente. —Tem graça, porque é quão único faz. —Sim, sei. Perdoa —lhe fez levantar a cara—. O que ocorre? Além disso da confusão desta manhã, quero dizer. Quando saíste da cozinha parecia trocada. No que estiveste pensando? —Em tudo. Aquilo não soava muito prometedor. —Começa por uma coisa e já chegaremos às demais. —Está bem —passou uma mão pelo peito do Jackson—. Quer que as coisas sigam como se o de ontem tivesse passado. —Mas é que aconteceu. —Mas você não te lembra —o olhou com uma mescla de incerteza e súplica—. Quero ser sincera contigo. —Isso é bom —porque sabia que ela também o desejava. —Para mim é muito desconcertante que eu não possa pensar em outra coisa e que você nem sequer te lembre —baixou o olhar e acrescentou com um sussurro rouco—: Ainda te sinto, Jackson. Uma avalanche de emoções o deixou sem fôlego. —Sim? —Agora sinto partes de meu corpo nas que antes nem sequer me tinha fixado. Vá. Jackson voltou a excitar-se. Esfregou o nariz contra sua orelha. —Quais, por exemplo? —Você sabe quais. Seus músculos se esticaram. Quase grunhindo, insistiu: —Diga-me isso de todos os modos. Ela titubeou. Logo assentiu com a cabeça. —Tremem-me as coxas. —Fui bruto contigo? —Não. Esteve... magnífico. Jackson estava cada vez mais excitado. —Onde mais? Ela baixou a voz e disse timidamente: —Ainda noto os peitos carregados e os... Jackson se inclinou para lhe ver a cara. —Os mamilos? —o só feito de falar com ela era muito mais excitante que praticar o sexo com outras mulheres. Estava desejando tocar seus peitos, acariciá-los, meter-lhe na boca e provar quão tenros eram. Tornou-se um pouco para trás e olhou os promontórios suaves e brancos que apareciam pelo decote do vestido. Tentando refrear seu desejo, passou a ponta de um dedo por eles. Ao Alani lhe acelerou a respiração. Lentamente, Jackson deslizou a mão pela parte dianteira de seu vestido, cobriu um de seus peitos com a mão e começou a rodear o mamilo arrepiado com o polegar. Ela sufocou um gemido. aferrou-se a ele. Jackson esquadrinhou seu olhar. —Estão sensíveis? Ela fechou os olhos e respirou fundo, trêmula.
—Muito. Seria tão fácil tomá-la ali mesmo... Embora seu irmão e Dare estavam na habitação do lado, derretia-se por ele. Podia lhe colocar a mão por debaixo da saia e sob as calcinhas, podia acariciar seu sexo quente e molhado e ela se correria em questão de minutos. Lutou por refrear-se. Alani confiava nele. E já tinha sofrido o bastante. Entretanto, não pôde conter-se: tomou seu mamilo e atirou ligeiramente dele. Alani se estremeceu e se mordeu o lábio. —Jackson... —Sei —a rodeou com o braço e a atraiu para si. Estava tão excitado que seu pênis ameaçava rasgando o cinto de suas calças—. Melhor? Alani deixou escapar um gemido. —Nunca me tinha passado isto. Ontem à noite foi uma revelação para mim —agarrou com força sua camiseta—. E você nem sequer sabe o que aconteceu. —Sei que vais ser minha outra vez. Sei que vou te penetrar, que vou te sentir toda úmida e quente e que vais agarrar-te a mim enquanto corre... Para lhe fazer calar, tocou sua boca e logo se tomou uns segundos para acalmar-se. —Para ti o que fizemos, o que passou, poderia não ser sequer real. Era muito real. Agarrou-a pela mão, beijou a palma de sua mão e voltou a posá-la sobre seu peito. —Não pode negar o que há entre nós. —Não, não vou negar o. Mas os dois sabemos que às vezes o sexo não significa nada —se tornou para trás para olhá-lo—. Às vezes, os homens dizem certas coisas só porque querem lhes deitar com uma mulher. ficou olhando-o enquanto esperava uma resposta. «Que demônios lhe disse ontem à noite?». Jackson ficou pensando. Ao final, deu-se por vencido e se encolheu de ombros. —Às vezes sim, pode ser. Ela se olhou as mãos. —Quando acreditam que o sexo é da maior importância. —Que é o que acontece comigo quando estou contigo, porque assim que te vejo me dá vontade de te penetrar e... —Jackson... —Estou obcecado —reconheceu, muito sério. Se só quisesse sexo, podia o ter. Não lhe tinham faltado cuidados femininas desde que era um adolescente. Que demônios, se queria uma orgia podia tê-la. Mas queria a Alani. —É que não o vê? —disse ela—. Possivelmente, se soubesse o que disse, se... se recordasse tudo o que fizemos, nem sequer gostaria... —Voltar a me deitar contigo? —colocou os dedos entre seu cabelo fino como o de um bebê e lhe fez levantar a cara para olhá-la aos olhos—. Nem em sonhos, carinho. Não me saciaria nem que me deitasse contigo uma dúzia de vezes. Contigo, não. Ela esboçou um sorriso. —Bom, você parece bastante seguro, mas eu não o estou tanto —se lambeu os lábios e deixou de sorrir—. Assim... acredito que deveríamos começar de novo. Jackson conteve um grunhido e procurou não pôr cara de depredador à espreita. —Começar... por onde? —se se referia a começar de zero, ficaria a sós com ela o antes possível e lhe demonstraria que com uma vez não era suficiente, e ao diabo com o que pensassem seu irmão e Dare. Alani brincou com o peitilho de sua camiseta, acariciando-o de passagem. Os músculos do Jackson se esticaram.
E também seu verga. Ela o olhou com aqueles grandes olhos dourados, e lhe acelerou o coração. —Sinto muito, Jackson, mas não posso voltar a me colocar na cama contigo de qualquer jeito. Ele soltou um grunhido. —Não posso —acrescentou, e explicou apressadamente—. Nem sequer te lembra de como chegamos à cama. Mas ele queria sabê-lo. Queria recordar como tinha sido, os ruídos que fazia Alani cada vez que se rendia a suas carícias, queria vê-la cada vez mais excitada, até perder o controle, até que alcançasse o clímax gritando. Assim... —Temos que começar de zero outra vez? Refere a isso? —Sim. Vá. Bom, podia ser divertido. adorava os desafios, e saber que já a tinha conquistado uma vez lhe facilitaria as coisas. Enquanto lhe desse uma oportunidade, enquanto Tobin seguisse fora de cena, não lhe importava ter que seduzi-la outra vez. Mas, para assegurar-se, fez-lhe levantar a cara para ele e perguntou: —Só tenho que te compensar por um dia, verdade? Não pelos últimos meses? Ela assentiu com a cabeça, olhou seu pescoço e seu queixo e levantou uma mão para tocá-lo. —Esta manhã, quando despertei, desejava-te, e não deixei de te desejar após. Jackson teve uma ereção imediata, e lhe custou seguir falando. Trocou de postura, tentando aliviar a pressão de suas calças, mas nada serviria, exceto tocá-la. inclinou-se para ela para que notasse sua ereção. Beijou sua garganta e grunhiu em voz baixa: —Parece-me perfeito. —Não é muito pedir? —O que vai —poderia concentrar-se, teria que aliviar-se quanto antes. ia ser difícil, porque não pensava apartar-se de seu lado, mas já lhe ocorreria algo—. Mas te advirto que me vou passar isso em grande te seduzindo outra vez. —Jackson! —disse Trace da outra habitação—. Vou te matar! Alani se ruborizou. —Ai, Deus —e acrescentou com um sussurro angustiado—. Nos terá ouvido? Jackson não pôde evitar sorrir ao ver que ficava tão vermelha. —Não, não pode ter ouvido nada —acariciou seu cabelo e tocou sua bochecha—. Mas imagina o que está passando. Ela deixou escapar um gemido. —Isso é pior ainda. Possivelmente. Como Trace o conhecia, certamente tinha uma idéia muito precisa do que acontecia. Elevando um pouco a voz para que o ouvisse, disse: —Não é assunto dele, replicou. Ela sufocou uma gargalhada. —Não acreditará que isso vai dete-lo? —Certamente não —sabia ao que se expor. Entretanto, o que ela não parecia saber era que seu irmão jamais se conformaria vendo sua irmã com um homem que não fora seu igual. Mas ele dava a talha. E apesar do que dissesse, Trace não estava cego: sabia que sua irmã era uma mulher adulta, capaz de decidir por si mesmo. Nesse momento estava mais segura com ele que sem ele. —Que mais, agora que isso está esclarecido? Ela se mordeu o lábio e sacudiu a cabeça. —Há dito que havia outras coisas que lhe incomodavam. —Sei —o rodeou com os braços e o abraçou um momento—. Mas já levamos aqui muito
momento. Logo falaremos do resto, quando não houver ninguém nos esperando. Nesse momento Trace disse: —vou contar até dez. —Não lhe faça caso —disse Jackson enquanto desfrutava notando o batimento do coração misturado de seus corações. —Não se preocupa sua reação? Ele soltou um sopro. —O que vai. por que ia preocupar me? Depois de espremê-lo um pouco, Alani se apartou com um sorriso. —Meu deus, Jackson, o que vou fazer contigo? —Isso é o mais divertido, carinho. Exceto me apartar de seu lado, pode fazer o que quiser. Capítulo 4
Foi quase doloroso voltar para encarar-se com Dare e com seu irmão. Não a estavam julgando, mas Dare a observava com essa intensidade tão dela, afiada pela curiosidade. A teria consiDareado alguma vez um ser sexuado? Certamente não. Nem sequer ela mesma se via como tal, e menos ainda desde seu seqüestro em Tijuana. Isso era o que mais problemas lhe tinha exposto com o Marc. Ele queria o que não podia lhe dar... ou, melhor dizendo, o que não tinha podido dar até a noite anterior, com o Jackson. Até que tinha descoberto sua própria natureza carnal. Seu irmão... Em qualquer outra circunstância, a atitude de Trace lhe teria feito graça. Poucas vezes o via tão desconcertado. Trace sempre tinha sido um macho alfa, inclusive antes de que morreram seus pais: ocupava-se de tudo e de todos, conservava sempre a calma e era sólido como uma rocha. Agora, entretanto, ao pensar que podia voltar a estar em perigo, Alani perdeu de repente seu senso de humor. Jackson se sentou e atirou dela para que se mantivera a seu lado. Era reconfortante que a abraçasse, mas seu abraço tinha também um lado possessivo. Significaria algo? Deu-lhe um golpecito com o cotovelo e lhe disse em voz baixa: —Preferiria um pouco mais de discrição, por favor. Lhe beijou a orelha. —Perdoa —afrouxou os braços, mas não a soltou de tudo. E ela se alegrou. Dare e Trace vigiavam cada um de seus movimentos. Alani nunca teria imaginado que sua vida privada pudesse voltar-se tão pública. Ao Jackson não parecia lhe incomodar, mas a tirava de gonzo. —Isto é ridículo —queria que partissem os dois para poderia voltar para a cama com o Jackson... a dormir. Precisava recuperar-se, e queria ser ela quem cuidasse dele. Normalmente era tão capaz, tão forte... Talvez aquela fora sua única oportunidade de cuidá-lo, sua única desculpa para ficar a seu lado. Mas estando ali os três, não conseguia dominar suas emoções. Por um lado desejava ardentemente ao Jackson, e por outro sentia um medo atroz ao perigo. Tentou olhá-los com firmeza, mas fracassou. —Se lhes terminastes o café... Dare esboçou um sorriso e levantou sua taça para beber outro gole. Trace nem sequer se incomodou em provar o café. Cruzou os braços. —vais jogar nos aos três ou só a Dare e a mim? O que podia fazer a não ser protestar, além de reconhecer que queria aproveitar do apuro em
que se achava Jackson? —Está-te passando da raia, Trace. —Não é a primeira vez. ficou olhando-o e seu irmão recuou o suficiente para dizer: —Até que esclareçamos isto, não acredito que seja boa idéia que esteja sozinha. Jackson lhe aconteceu os dedos pelas costas. —Tranqüiliza a seu irmão, neném. lhe diga que posso ficar a passar a noite. A passar a noite? Pelo amor de Deus! Aquilo sim que era passar-se da raia. Em lugar de reconhecer que queria que Jackson ficasse, respondeu: —Prometo que terei muitíssimo cuidado. —Não basta com isso —Dare deixou a um lado seu café—. Você não tem a preparação necessária para te dar conta se surgir um problema. Sorriu forçadamente. —me acredite, isso ficou muito claro quando me seqüestraram. Para ouvir seu tom humilde, ficaram os três um pouco parados, como se não soubessem o que fazer. Era quase divertido, tendo em conta o capazes e expeditos que podiam ser. Alani, que sabia como pensavam, acrescentou: —É absurdo que alguém queira me fazer danifico. Foi ao Jackson a quem drogaram — levantou uma mão—. Mas sim, dou-me conta de que, se essa mulher tiver algo que ver com isso, viu-me a cara e me ouviu tutear ao Jackson. —É uma possibilidade remota —lhe disse Jackson—, mas para que correr riscos? Trace se aproximou dela. —Também cabe a possibilidade de que alguém soubesse que foste estar em sua casa e que o drogassem por isso. Santo céu. Nem sequer o tinha pensado. Tinham drogado ao Jackson para apanhá-la a ela? Tinha posto ao Jackson em perigo inadvertidamente? Pensando em voz alta, disse: —Chamei-o desde meu móvel... —Não do telefone de seu escritório? —perguntou Trace. —Não. Dare se levantou. —Onde está? —Em minha bolsa —assinalou para a cozinha—. Ali. Dare foi buscá-lo. Jackson estava muito calado. Alani o olhou e ficou apanhada por seu olhar intenso. Ele estirou o braço para lhe pôr uma mecha detrás da orelha. —Não quero que se preocupe, Alani. Ninguém vai fazer te danifico. Alani sentiu que um punho invisível lhe espremia o coração. Fazia falta tão pouco para alarmá-la... Mas isso não era uma novidade. Desde que tinha escapado de Tijuana, não tinha deixado de ter medo. Às vezes conseguia ocultar-lhe a si mesmo e outras... outras despertava em plena noite com um grito lhe ardendo na garganta e a cara molhada pelas lágrimas. Assentiu com a cabeça, envergonhada de sua própria covardia. —Sei —logo acrescentou com mais firmeza—. E agora o que? Trace e Jackson cruzaram um olhar. Jackson a tirou da mão. —Confio em que deixe que fique contigo, por muitas razões. Se Trace não levasse postos os grilhões... —Os grilhões? —Alani soltou uma risada que soou forçada—. Priss te jogaria um bom rapapolvo se te ouvisse. Jackson ensinou os dentes em um sorriso malévolo. —Sim, certamente o tentaria —levantou rapidamente uma mão em direção a Trace—. Não
me pegue, Trace. Não estou aos cem por cem, não seria justo. Além disso, você sabe que Priss está sempre tentando decidir se gosta ou não gosta. Trace chiou os dentes. —Te cale de uma vez. Seu irmão era quase sempre a personificação mesma da calma. Mas no referente a sua mulher, Priscilla... nem tanto. Claro que, tendo em conta que Jackson, ao resgatar a de uns intrusos, tinha-a tirado nua da ducha, Alani entendia perfeitamente o aborrecimento de seu irmão. depois de um tenso silêncio, Trace conseguiu refrear sua ira e lhe disse: —Há alguma entrevista que tenha que cancelar? —Normalmente trabalho todos os dias —disse ela para evitar lhe dar uma resposta direta. Não suportava a idéia de que sua vida voltasse a deslocar-se por completo. Jackson a fez voltar-se para ele. —Pode manter suas entrevistas, mas o que te parece se for contigo? Só por precaução. —Mas... Dare voltou a entrar, levando ainda na mão seu telefone móvel. —Precisa apontar algum número antes de que o apague? —por que vai A...? —Os telefones móveis podem rastrear-se. por agora, Jackson pode te conseguir um de prepago. Utiliza-o se tiver que fazer uma chamada. Se não, utiliza o fixo. —por agora —repetiu Trace—. Sozinho até que descartemos algumas possibilidades. Alani se desanimou. Sem dúvida estavam exagerando. Mas não queria que soubessem quão assustada estava. —Sei-me de cor os números aos que chamo mais freqüentemente, e os de meus clientes os tenho em meus arquivos. Trace se deteve ante ela e lhe tendeu uma mão. —Agora me toca . Jackson a agarrou por braço com desconfiança para detê-la. —Toca a ti o que? Deus santo, Jackson parecia disposto a enfrentar-se a Trace. Talvez não lhe preocupasse o mau gênio de seu irmão, e Alani confiava em que pudesse se defender sozinho, mas seria horrível que brigassem. Separou-se dele e se deteve junto a seu irmão. —Em seguida volto —disse enquanto Trace atirava dela. Conduziu-a até a porta de atrás e a fez sair ao pátio. Através da janela da cozinha, Alani viu que Jackson estirava o pescoço para olhá-los com expressão sombria. Acreditava acaso que Trace ia levar se a às escondidas? De sua própria casa? Era tão protetor como seu irmão, estava claro, e, como não sabia se isso gostava ou não, Alani suspirou. —Acredito que vou vomitar —disse Trace. Lhe deu um golpe no ombro. —Jackson te cai bem, assim pára de uma vez. —Eu gosto de como trabalha, mas eu não gosto desta situação, e menos ainda eu gosto de verte tão caramelada. Alani esticou as pernas. —Tão caramelada? Trace ficou olhando-a. Logo deu meia volta, resmungou algo e se voltou de novo para ela. —Está apaixonada por ele, verdade? Ela se umedeceu os lábios ressecados. —Eu não hei dito que... —Não faz falta que o diga. Conheço-te, Alani. Vejo-o —seu semblante se suavizou—. E
Dare provavelmente também. Aquela idéia a horrorizou. —Crie que...? —Que Jackson sabe? —Trace meneou a cabeça—. Não, a não ser que o haja dito. As mulheres sempre o confundem a um, embora tenha intuição. Nestes momentos, parece uma confusão. Se não o tivessem drogado, pode inclusive que me parecesse divertido. —Não sei do que está falando. Jackson parecia tão dono de si mesmo como sempre. —me acredite, saber o que pensam as mulheres é muito mais difícil que enfrentar-se a um assassino louco. Que encantador. Em tom de falsa doçura comentou: —Deduzo que as irmãs estão excluídas dessa analogia. —Não é o mesmo —pôs uma mão sobre seu ombro e só duvidou um momento antes de acrescentar—: Não vai ser fácil, sabe? Ela exalou outro comprido suspiro. —Sei. —Jackson se... —Parece-se muito a ti? —ao ver sua surpresa, sacudiu a cabeça—. E também a Dare. Mas o digo no melhor sentido possível. Trace esboçou um sorriso fugaz antes de lhe revolver o cabelo. —Pequeñaja —em seguida ficou sério—. Nosso trabalho complica muito as relações de casal. —Sim, sei. —Pode que passe fora largas temporadas quando está trabalhando em um caso. Assim Jackson tinha razão: Trace estava mais disposto do que ela acreditava em aceitar sua relação. —Sei. —E também sabe que vais preocupar-se. Assentiu com a cabeça. —Mas você é meu irmão, Trace, assim a isso estou acostumada. Às vezes, Trace passava fora várias semanas, mas nessas ocasiões Dare sempre estava disponível para o que necessitasse. E Alani sabia que seu irmão deixaria qualquer missão se ela o necessitava. —Será distinto, carinho. me acredite. —Certamente —se tinha perguntado freqüentemente como as arrumavam Priss e Molly—. Mas ainda nem sequer sei se for ter esse problema —porque não sabia o que sentia Jackson por ela —. Agora mesmo está tudo no ar. As confissões que lhe tinha feito Jackson a noite anterior já não contavam. —Vai lhe dar a oportunidade de esclarecer problemas? —Se referir a se for deixar que fique, sim —de todos os modos queria que ficasse, e aquela era tão boa desculpa como qualquer. Trace observou seu semblante com preocupação. —Sabe no que te está colocando? —Não, a verdade é que não —lhe lançou um sorriso—. Crie que Priss sabia? Para ouvir mencionar a sua esposa, Trace enrugou o cenho e se esfregou a orelha. —Certamente sim —baixou a mão e se Rio—. Ao menos mais que eu, porque sempre parecia estar um passo por diante de mim. Alani certamente conhecia a versão censurada de sua história, mas sabia que tinham trabalhado como agentes infiltrados os dois de uma vez, em busca da mesma pessoa, e que cada um deles tinha seus próprios fins, que não sempre chocavam. Pelo caminho, Priss havia tornado do
reverso a seu irmão, aquele controlador nato. —E o que me diz do Molly? —perguntou. O sorriso de Trace se desvaneceu. —Molly, não. depois do que aconteceu, estava muito traumatizada. Sempre foi muito prática, mas nesse momento não tinha nem idéia de como retomar sua vida. Alani se lembrava muito bem: ao Molly e a ela as tinham seqüestrado as mesmas pessoas. Tinham compartilhado o mesmo recinto pequeno e lotado com outras mulheres. Ar rarefeito, cadeias, sujeira, medo e desolação... Ela tinha estado tão aterrorizada que apenas se atrevia a respirar. Molly, em troca, sempre se tinha mostrado valorosa, discutia com seus carcereiros e os desafiava a cada passo. Alani se estremecia ainda ao pensá-lo. —Era tão valente... Trace a estreitou com força. —Molly e você o encararam cada a uma a sua maneira, nada mais. E Dare sempre sabe o que se faz, assim que a ajudou a superá-lo. Alani não queria pensar no horrível seqüestro nem no novo perigo que lhe apresentava, de modo que se concentrou no Jackson. —Não sei o que vai passar agora, mas não sou parva —já não. o da noite anterior tinha sido... loucura transitiva? Como desculpa, valia-lhe—. Não quero que se preocupe por mim. Jackson jamais me faria mal fisicamente, e a única responsável por meus sentimentos sou eu. Trace lhe deu um beijo no cocuruto. —Está bem. Mas, se em algum momento quer que lhe dê uma surra, me avise. —Jackson não é um caipira, sabe? Surpreenderia-te. —Não. Já sei que Jackson sabe controlar-se. Se não, não trabalharia com Dare e comigo, e nem em sonhos lhe confiaria sua segurança. Ela evitou aquele tema e perguntou: —Então, reconhece que se parece muito a ti? Trace lhe aconteceu um braço pelos ombros. —por que crie que estou tão preocupado? —sem lhe dar ocasião de responder, voltou a levar a à casa. Alani confiou em que se acabaram as discussões para poderia ficar a sós com o Jackson. Enquanto Alani e Trace estavam fora, Dare se dedicou a observar fixamente ao Jackson até que seu amigo deixou de olhar ao Alani e grunhiu: —Pode-se saber o que te passa? Dare assinalou seu entrepierna com uma inclinação de cabeça. —Deveria tentar controlar isso. Jackson baixou o olhar e viu que ainda estava excitado e lhe notava. —É uma situação única —porque Alani era uma mulher única. ficou uma almofada sobre o regaço—. Não pode te levar a Trace? —Duvido-o, mas nem sequer vou tentar o. Ao menos, até que esteja tudo arrumado. —Estão-a pondo mais nervosa da conta —disse Jackson entre dentes—. Eu posso me ocupar disto. Dare o olhou fixamente, muito sério. —por que será que tenho a sensação de que nestes momentos não pensa com muita claridade? —Maldita seja, não tenho o cérebro no pênis —o desejo o punha tenso, claro. Mas a segurança do Alani seria sempre sua prioridade número um—. Não permitirei que lhe aconteça nada.
Dare se encolheu de ombros. —Trace é seu irmão. E eu sou como um irmão adotivo. Até que saibamos o que está passando, ninguém vai mover se daqui. Então entraram Trace e Alani e Dare também se levantou. —Tudo arrumado? —Sim —respondeu Alani, e fez ameaça de voltar a sentar-se junto ao Jackson, mas Dare a agarrou por cotovelo. —Genial. Agora me toca . Jackson se levantou de um salto, exasperado. —Mas que imbecilidade é esta! —não queria que Dare e Trace lhe enchessem a cabeça de razões para fugir dele—. Já está bem. Trace ficou tenso. —Tome cuidado com sua linguagem diante de minha irmã. —Não é uma muñequita de porcelana. Alani foi dizer algo, mas Trace não lhe deu oportunidade. —vais tratar a com respeito. Jackson ficou rígido. Não pensava dar explicações a seu irmão. O que havia entre eles era privado... e queria recuperá-lo, maldição. Mas não pensava seguir suportando a hostilidade de Trace. —Crie que não a trato com respeito? Dare atirou do Alani. —vamos deixar que o arrumem entre eles, de acordo, céu? E Alani, que não podia fazer grande coisa a respeito, voltou a sair ao pátio. —Isso é uma loucura —Jackson se deixou cair no sofá e olhou a Trace com zango—. Entre os dois ides fazê-la uma confusão com tanto bate-papo e tanta tolice. —Sobreviverão os dois. Jackson não estava muito seguro. Se convenciam ao Alani de que se mantivera afastada dele, estalaria. Tentando dissimular sua tensão, disse com mais calma: —Que demônios lhe há dito? E por que não podia dizer-lhe aqui, em sua sala de estar? Trace se apoiou contra a parede, pensativo. Jackson seguiu ruminando seu aborrecimento até que não pôde suportá-lo mais. —E, além disso, que demônios pinta Dare nisto? Nem sequer é seu irmão! Trace entreabriu os olhos e seguiu calado. Como não tinha nada mais que fazer e Trace não dizia nada, Jackson se serve outra taça de café. Acabava de beber um sorvo quando Riscar disse: —Imagino que não o contaste tudo. Que diabos podia lhe contar se nem sequer se lembrava do que tinha passado essa noite? —A que te refere? Trace se separou da parede e se deteve junto à cadeira que tinha deixado vazia Dare. —Há coisas sobre ti, Jackson, responsabilidades acrescentadas que Alani desconhece. Ou lhe contaste o do Arizona? Ah, isso. «Merda». —Não, ainda não. —Isso me parecia. como sempre que falavam do Arizona, Jackson sentiu que uma espécie de calorcillo lhe subia pelo pescoço. Em voz baixa disse: —Em realidade não tivemos muita ocasião de falar. Apresentaste-lhes aqui de repente e agora lhe estão fazendo acreditar que vai acabar se o mundo ou algo assim... —e, além disso, que mulher entenDareia o do Arizona? Não queria perder todas suas oportunidades com ela tão logo,
isso o deixava muito claro. —Se o que tenta dizer é que estou exagerando, Alani já sabe quão precavido sou. preocuparia-se mais se atuasse de outro modo. Talvez tivesse razão. —Se você o disser. —Lhe diga o do Arizona ou o direi eu. Aquele desafio não podia deixá-lo passar. Deixou a taça sobre a mesa com estrépito. —Isso não é teu assunto, Trace —e, além disso, Trace podia acreditar que sabia tudo a respeito, mas não era certo. Nem muito menos. —É-o do momento em que te deita com minha irmã. Jackson chiou os dentes. Nunca se tinha tomado bem os ultimatos. —o do Arizona não tem nada que ver com ela. —Se Alani te importar, o do Arizona tem muito que ver com ela —cruzou os braços e separou as pernas—. E se não te importar, digo-te desde já que a deixe em paz. Alani se inquietou para ouvir gritos na sala de estar. Tentou voltar a entrar, mas Dare o impediu. Tomou uma de suas mãos nas suas. —te relaxe, tesouro. Estão bem. A ela não o parecia. mordiscou-se o lábio. —Acredito que estão discutindo. Dare se encolheu de ombros. —E o que? Os dois são bastante razoáveis. Não chegarão às mãos. Oxalá ela estivesse tão segura. Sabia que, no que respeitava a ela, Trace podia ser muito pouco razoável. —Está bem, mas vamos nos dar pressa —tentou lhe emprestar atenção, mas seguiu esforçando-se por escutar o que diziam seu irmão e Jackson. —Você sabe que te considero uma irmã pequena. —Sim —e para ela Dare era como um irmão. Dare e Trace se conheciam desde fazia muito tempo. Depois da morte de seus pais, Dare lhes tinha ajudado a ambos a sair adiante. Tinha estado sempre a seu lado nos momentos mais importantes de suas vidas. Alani deu um coice para ouvir que Jackson gritava ao soltar uma maldição. Dare a fez voltar a cara para ele. —Sinto ter que fazer isto, mas Jackson está muito meio doido e Trace não responde de seus atos, assim pelo visto me toca fazê-lo . Alani quase deixou escapar um gemido para ouvir seu tom sério. —Seriamente tenho que ouvi-lo? —Trouxe-te aqui por que não queria te envergonhar. —É muito tarde para isso, não crie? Tendo em conta o que passou, não acredito que possa sentir mais vergonha da que já sinto. Dare perguntou em tom de desculpa: —usastes anticoncepcionais? Alani ficou tão surpreendida que deu um passo atrás. Obviamente, ainda podia sentir muita mais vergonha. Anticoncepcionais? Lhe deu vontade de grunhir. —Eu... —tinham-nos usado? A primeira vez, sim. ficou tinta ao recordar que tinha cuidadoso ao Jackson com intensidade enquanto ficava um preservativo. Mas depois... Dare deixou cair a cabeça para diante e resmungou: —Não me diga isso. Não é meu assunto. Mas estando Jackson drogado, possivelmente não
pensasse com muita claridade —lhe sustentou o olhar—. Para isso servem certas drogas, compreende? Falta de inibição total. —Entendo —ficou uma mão sobre a boca enquanto rebuscava em sua memória. depois da primeira vez Jackson tinha seguido sendo insaciável, e os dois estavam frenéticos. Não recordava concretamente que tivessem usado mais preservativos. —Suponho que não toma a pílula. Ela negou com a cabeça. —Não faz falta —e logo se tampou a boca com a mão, mas já era muito tarde. Dare já tinha tirado suas conclusões. —De acordo, então —lhe esfregou o ombro—. Não é que queira te pedir detalhes, mas suponho que, nas circunstâncias adequadas, possivelmente tenha pouca experiência para emprestar atenção a essas coisas. —Nas circunstâncias adequadas? Dare lhe esfregou um pouco mais o ombro. —Se te deixa levar e todo isso. Ao Alani ardiam as bochechas. Como podia falar Dare tão tranqüilamente de um pouco tão íntimo? Se seguiam assim, ficaria traumatizada de por vida. —A verdade é que foi tudo tão... rápido. Dare esticou a boca. —Acredito que Jackson preferiria que isso não o conte a ninguém. —Não me referia a que...! —ficou ainda mais tinta—. Me referia à decisão de... e logo A... A verdade é que me esqueceu que... —Entendo-o —Dare procurou dissimular um sorriso—. Mas, só no caso de, acredito que é algo do que deveriam falar, não te parece? Ela se tampou a cara com as mãos. —Isto vai de mal em pior. —Não te angustie, de acordo? O mais provável é que Jackson se ocupasse disso e, embora não seja assim, é possível que não passe nada. Alani confiava em que assim fora, porque depois da primeira vez se limitou a aceitar tudo o que tinha querido fazer Jackson sem perguntar. —Mas para um futuro... —acrescentou Dare—. Imagino que não tem preservativos em casa, verdade? por que ia ter os? Fazia pouco que tinha completo vinte e quatro anos, e a sua idade quase todas as mulheres tinham uma vida sexual ativa. Mas depois do seqüestro... Não, não tinha tido nenhum interesse. Até que tinha aparecido Jackson. —Não, não tenho —o que faria se queria voltar para a cama com o Jackson? lhe pedir que primeiro se passasse por uma farmácia? Já sabia que não ia apartar se de seu lado e ela, certamente, não pensava acompanhá-lo a comprar preservativos. Jogou os ombros para trás e olhou a Dare de frente. —Já está, então? —não acreditava que pudesse suportar aquilo muito mais tempo. Ele a observou com atenção. —Jackson sabe que lhe seqüestraram —era uma afirmação, não uma pergunta. —Sim —se tinham conhecido quando Trace e Dare lhe tinham encarregado que cuidasse dela enquanto eles estavam ocupados com uma missão. —Conhece os detalhes? Porque acredito que possivelmente seja a pessoa mais indicada para falar desse assunto. A só idéia de falar com detalhe de seu seqüestro... Não. Não podia. Lhe dava vontade de vomitar e lhe acelerava a respiração, a pele ficava fria e seu coração se trastabillaba. Desejava mais que nada no mundo esquecer-se daquilo.
Cruzou os braços e procurou dominar-se. Esboçou um sorriso patético. —Isso é água passada, Dare. Não há por que falar disso. —Sabe, céu? A mim Molly me contou isso todo —se inclinou para olhá-la aos olhos—. É importante falar disso. Sei que agora está bem, e sei que o superaste. Trace e eu estamos muito orgulhosos de ti. Que absurdo. Não lhes tinha dado motivos para está-lo. —Mas essas coisas ficam aqui —tocou com um dedo seu esterno por cima dos peitos—. E aqui —roçou sua frente com o dedo—. Até que falas disso. —Já falei que seqüestro —disse, muito séria—. Contigo e com Trace. Dare meneou a cabeça. —Eu te tirei dali. Entendo que falar comigo seria muito. E tendo em conta como reagiu Trace, sei que não quiseste jogar também essa carrega sobre seus ombros. E teria sido uma carga. Em certos sentidos, seu seqüestro tinha sido ainda mais duro para Trace que para ela. —Estava tão angustiado que teve que ir você para me buscar. —A verdade é que queria ocupar-se ele, e o teria feito se esses porcos que lhe seqüestraram não tivessem sabido quem era. Enviar a Dare tinha aumentado suas possibilidades de ser resgatada, mas tinha suposto um enorme perigo para ele. Alani tragou saliva. —Se aquele dia na praia tivesse estado mais atenta... —Talvez não lhe teriam seqüestrado. E só Deus sabe o que teria sido do Molly. Alani levantou a cabeça bruscamente para olhá-lo. Dare lhe sustentou o olhar, muito sério. —Não o tinha pensado. Ele assentiu levemente com a cabeça. —Não quisesse por nada do mundo que voltasse a passar por esse inferno, tesouro. Já sabe. Mas às vezes as coisas ocorrem por uma razão. Eu gosto de pensar que fui resgatar te para poder tirar também ao Molly. Ao Alani arderam os olhos. Rodeou-o com os braços e o apertou com força. —Obrigado, Dare —a sua maneira ligeira e singela, Dare acabava de aliviar sua consciência. Ele a levantou em volandas, beijou-a na cabeça e disse: —Não há de que, céu —a deixou no chão, sorriu de repente e logo soltou uma gargalhada. um pouco ofendida, Alani o olhou com o cenho franzido. —Do que te ri? —Da cara que pôs Jackson. Uf! Alani se girou... e ali estava Jackson, com os olhos tintos ardendo de fúria, os ombros quadrados e a mandíbula tensa. Trace estava detrás dele, com uma careta irônica. —Hei-lhe dito que se estivesse quieto, mas não me fez conta. Capítulo 5
O ciúmes eram um asco. Não gostava nem pingo. E menos ainda gostava de senti-los ali, com o Alani pondo cara de chateio e Dare e Trace rendo-se dele. Vê-la em braços de Dare o tinha tirado de gonzo, até sabendo que eram virtualmente irmãos. Ao lado de Dare parecia tão pequena e delicada... E além disso notava em seus olhos dourados quanto confiava em Dare. Jackson não duvidava de suas próprias capacidades, mas e Alani? Era muito distinto. de Dare e Trace. Seus amigos se metiam com ele freqüentemente por sua aparência, diziam que era
como um vagabundo e faziam brincadeiras sobre sua predileção pela comodidade, mais que pelo estilo. Dare levava um pulôver caro e uns jeans impecáveis. Trace, que tinha um estilo mais clássico, vestia camisa e calças chineses de pinzas. Essa manhã, Jackson se tinha vestido a toda pressa, ansioso por ver o Alani. Mas, embora não tivesse sido assim, teria se posto os jeans velhos que levava anos usando e que se amoldaram perfeitamente a seu corpo. As botas arranhadas lhe ajudavam a esconder a faca. E seu sortido de camisetas, algumas de uma só cor e outras com chamativas lendas, sempre lhe resultavam mais cômodas que qualquer outro objeto. Mas desmerecia ao lado dos homens aos que admirava Alani? Ela era muito clássica, sempre ia bem vestida, da cabeça aos pés. Inclusive nesse momento, enquanto o sol da tarde esquentava sua pele, tinha um aspecto pulcro, fresco e doce. Uma brisa agitou o ar úmido e lhe levou seu aroma único. Jackson respirou fundo, enchendo-os pulmões com seu perfume a mulher. Sua mulher. Queria estreitá-la entre seus braços, fazer entender a todo mundo que era dela. E Dare e Trace sabiam e pareciam provocá-lo com sua só presença. Tragou saliva com esforço, tentou relaxar-se e perguntou: —Já está tudo falado? acabou-se este cilindro das confidências? Bem. Acompanho-lhes à porta. Dare soltou um bufido. —Ainda temos que idear um plano. Alani se aproximou do Jackson e tomou o mando da situação. —Deveria estar sentado —o rodeou com o braço como se tentasse sustentá-lo e tentou leválo para o sofá, apesar de que pesava muito mais que ela e era quase trinta centímetros mais alto. Ele ficou rígido. —Não necessito que... Trace passou a seu lado. —Se não puder caminhar sozinho, que fique fora. —Quer que te dê a mão? —perguntou-lhe Dare. —Ignora-os —disse Alani a Isso Jackson vou fazer eu. Jackson se esfregou a nuca. —Está bem? —acariciou brandamente um lado de sua cara—. Te dói a cabeça? Aquela sua tendência a tratá-lo como a um menino o fazia sentir-se muito incômodo. Embora não se ruborizava desde sua adolescência, notou que lhe ardiam as orelhas. —Está acalorado —continuou ela—. Não terá febre? —Pobre bebê —resmungou Dare, e soltou um bufo. Jackson perdeu a paciência. Queria cuidar do Alani, não ao reverso. Para lhe demonstrar que estava perfeitamente, levantou-a em braços. —Jackson! Beijou-a com força e a estreitou entre seus braços, inclinando a cabeça. Seguiu beijando-a até que deixou de lutar. Logo disse junto a seus lábios: —A não ser que queira que te dê mais provas de que estou bem, deixa de me tratar como se fora um bebê —se dirigiu ao interior da casa. Dare soprou outra vez, mas fechou a porta atrás deles. De volta na sala de estar, Jackson deixou ao Alani em pé. —Agora necessitamos... Ai! O cotovelo bicudo do Alani deu no branco com absoluta precisão. Jackson não o esperava. Levando uma mão à tripa, ergueu-se e ficou olhando-a. Alani tinha uma expressão angélica. Não parecia sentir nenhum remorso.
—A menos que queira mais provas de que eu não gosto que me tratem como a um saco de batatas, deixa de me chatear. O cenho do Jackson se converteu pouco a pouco em um sorriso. —De modo que quer jogar, carinho. eu adoro jogar. Mas que saiba que a revanche será terrível. Ela abriu os olhos de par em par. —Mas se tiver sido você quem começou ao... —Meninos, por favor —disse Trace—. O recreio terminou. Jackson, que queria que se fossem, anunciou sem preâmbulos: —vou levar a minha casa. Dare rechaçou a idéia: —Em sua casa foi onde começou tudo isto. —Não, a meu apartamento não. A minha casa —e acrescentou dirigindo-se ao Alani—: Não está acabada ainda, mas está habitável. Assim poderá pensar na decoração e todo isso. Há água corrente e o sistema de segurança já está instalado. Alani sacudiu a cabeça. —Está dando muitas coisas por supostas. Jackson não lhe fez caso e acrescentou olhando a Dare e Trace: —Além disso, está bastante apartada. Não teremos que nos preocupar com os transeuntes, nem pelas visitas. Dare ficou pensando. —Utilizou um nome falso ao contratar aos pedreiros? —Uma identidade alternativa —em um à parte explicou ao Alani—: Sempre utilizo um aliás. É mais seguro. —Curta o cilindro, Jackson. Trace é meu irmão: sei que têm que manter o segredo. —Ah, sim? Por isso não lhe disse meu sobrenome ao bom do Marc o dia que o conheci? —Claro. —A inteligência é tão sexy... —e enquanto Alani balbuciava tentando encontrar uma resposta, acrescentou dirigindo-se a Dare—: O paguei tudo em metálico. Ninguém pode ter seguido meu rastro até ali. Trace lhe deu voltas à idéia. —A que distância está? A uma hora ou assim de onde vivo? —Mais ou menos —o bastante perto para tranqüilizar a Trace, e o bastante longe para poDare estar a sós com o Alani. Estariam os dois sozinhos, o sol, a água, a natureza... O cenário perfeito para um idílio. Alani sacudiu a cabeça outra vez. —Não. —Está bastante isolado —disse Dare—. Tem um bote? Jackson pôs uma mão sobre os rins do Alani. Queria que compreendesse que podia confiar em que se ocupasse de tudo. —Um à vista e outro escondido. —Não penso ir —Alani cruzou os braços. Jackson a abraçou, convencido de que de um modo ou outro a levaria a sua casa. —Tudo vai sair bem, carinho, já o verá. Não é mais que uma medida preventiva, assim não te zangue, de acordo? —Não estou zangada. —Genial. me dê um minuto e em seguida te ajudo a fazer a mala —voltou a dirigir-se a Trace—: No imóvel não pode entrar ninguém sem que eu me inteire. Podemos ficar ali enquanto vós fazem averiguações. —Não penso...
—Já tenho os dados básicos sobre o Tobin —disse Trace pensando em voz alta—. Deveria ser bastante fácil comprovar o que esteve fazendo ultimamente. Se tiver algo que ver com essa droga que lhe Daream, saberei ao final da semana. Alani sufocou um gemido de indignação. —Estava vigiando ao Marc? Jackson a olhou como se fora boba. —Acreditava que não ia fazer o? —acreditava que ele, Jackson, não ia fazer o? Alani ficou furiosa lentamente. —investigaste a todos os tios com os que saí? —É que houve mais? —perguntaram Trace e Jackson ao uníssono. Olhou-os a ambos com fúria e logo se desinflou. —Não, nenhum. Dare disse: —Eu vou passar me por seu apartamento para ver se descobrir algo. Sei que há dito que já o tinha registrado, mas não virá mal lhe jogar outra olhada. —Sobre tudo porque tinha o cérebro embotado —repôs Jackson. Notou que, sob a mão que apoiava em sua cintura, Alani se esticava. Gostava de senti-la, notar sua força elástica e sutil, a curva de sua cintura e o leve ondulação de seu quadril, o calor de seu tenro cuerpecillo. Queria vê-la nua outra vez. Queria percorrer seu corpo com o olhar tranqüilamente. —Quer que lhe tragamos algo, já que vamos? —perguntou Trace. —Enviarei-te uma mensagem com uma lista se me ocorre algo —Jackson não queria que ficassem mais do necessário. Alani estava cada vez mais tensa. quanto antes se livrasse dos meninos, antes poDareiam relaxar-se. —Molly é menos ciumenta que Priss, assim que talvez Dare possa falar com as mulheres solteiras da urbanização para ver se alguma sabe algo. —Com alguma em particular? Jackson se encolheu de ombros. —Com qualquer que seja atrativa, suponho. Poderia começar pela descrição que nos deu Alani, mas não limite a ela. Possivelmente poderia falar com o Brigit, a vizinha da porta do lado. É solteira e seus amigas vão ver a de vez em quando. —Entendido —disse Dare enquanto Alani voltava lentamente a cabeça para olhar ao Jackson. —E possivelmente com o Carly. ofereceu-se a me ajudar alguma vez. Uma vez entrou em casa, assim sabe como é o apartamento. E possivelmente com... Alani lhe deu um forte empurrão. Jackson a soltou e deu um passo atrás, cambaleando-se. ficaram os três olhando-a com cara de estupefação. Jackson foi o primeiro em falar: —por que diabos tem feito isso? —Esse vocabulário —lhe recordou Trace outra vez. Alani parecia ofuscada. —São os três insuportáveis. Não penso ir a nenhuma parte esta noite, já o ouvistes! —Te acalme —disse Dare. —Não, lhes acalme vós —o olhou com aborrecimento e ele levantou as mãos em gesto de rendição—. Sei que querem me proteger, meninos. E é genial. Obrigado, agradeço-lhes isso seriamente. —Então, que problema há? —perguntou-lhe Jackson. Alani se voltou para lhe dar outro empurrão. Agarrou-a pelas mãos e atirou dela tão forte que se chocou contra seu peito. Olhando-a fixamente aos olhos disse: —Te tranqüilize. —Não penso me deixar avassalar —afirmou ela contra seu peito—. Não vou permitir que me tratem como a uma idiota.
ficaram os três mudos outra vez. Jackson disse: —Ninguém acredita que seja idiota. Isso é uma tolice. Ela o olhou com incredulidade. —Que Deus nos ampare —resmungou Trace. Jackson, ansioso por acalmar as coisas, perguntou: —Não pode tomar uns dias livres? —Isto não tem nada que ver com o trabalho. —Então, está livre? Lhe lançou um olhar fulminante. —Agora mesmo não tenho nenhum encargo. Limpei minha agenda para trabalhar em sua casa, como me pediu. Ah. —Por isso veio para ver-me ontem? —perguntou Jackson, muito satisfeito. —Pode ser —olhou a Trace e a Dare, e se separou do Jackson—. Em parte. Então, possivelmente em parte tivesse sido também por um interesse mais pessoal. —Então isto é perfeito. Acredito que vai gostar de te minha casa. —Sim, bom... —alisou-se a saia do vestido puntillosamente—. Suponho que será melhor que seu apartamento. Mas não é isso o que... —Você não gosta de meu apartamento? O olhou de esguelha com expressão de aborrecimento extremo. —Há mulheres nuas por toda parte. Jackson sorriu ao imaginar-se como teria reagido ao ver a decoração. —Sim —e acrescentou encolhendo-se de ombros—: O corpo feminino é muito belo. Ela voltou a olhar a Trace e Dare. —Vós viram...? —É entretido —respondeu Dare. Trace sorriu. —Pois me parece absurdo! Cada foto, cada figurita, até um par de estátuas, todas de mulheres nuas! —Sou um perito no tema —lhe disse Jackson. —É um.... —deteve-se, recordando provavelmente que se deitou com ele a noite anterior e que todos os pressente sabiam. Cruzou os braços, zangada—. Se te decoro a casa, não haverá nenhuma sozinha. —A decoradora é você —dando o tema por resolvido, Jackson olhou a Trace e Dare—. Então, tudo arrumado? Trace assentiu. —PoDareão estar fora daqui antes da hora do jantar? —Por minha parte não há problema. Você necessita mais tempo? —perguntou ao Alani. —Não —respondeu com um sorriso—. Porque não vou a nenhuma parte esta noite. Que teimosa era! Mas conseguiria convencê-la. —Dare e Trace acabam de terminar uma missão. —Ah, sim? —Alani não ocultou seu desconcerto. Jackson assentiu. —Por pequeno que seja o perigo, seriamente quer que tenham que estar preocupados com ti em vez de desfrutar de seu tempo livre? Seu desconcerto se converteu em rancor. —Isso é um golpe baixo, Jackson. Ele se encolheu de ombros. Quando era necessário, recorria ao jogo sujo. —Os peritos são nós, não?
—Sim. —E preferimos que não esteja sozinha até que saibamos o que está passando, assim te decida. —Que me dita? —Eles —assinalou a Trace e Dare— ou eu. Alani entreabriu os olhos com expressão furiosa e por fim resmungou: —Então suponho que terá que ser... você. Jackson lhe acariciou a bochecha com o polegar, satisfeito. —Prometo-te que não será um suplício —não podia tocá-la sem voltar a sentir desejo, tão carnal como sentimental. Enquanto se olhavam, a fúria do Alani se desvaneceu. Ante suas palavras, ficou sem fôlego. Dare tossiu teatralmente. Trace disse: —Pelo amor de Deus, joga o freio, quer, Jackson? Temos que tomar decisões. Jackson sorriu ao Alani e se inclinou para beijá-la antes de que pudesse afastar-se. voltou-se para eles, lhe rodeando os ombros com o braço. Satisfazia-lhe que seus amigos se mantiveram à margem e tivessem deixado que a convencesse ele. A não ser que estivessem esperando a que fracassasse para intervir. Franziu o cenho ao pensá-lo. —Queria assinalar —disse Alani, abrangendo-os a tudo com um olhar— que nenhum dos três pensa com muita claridade. Jackson não se ofendeu. —Vai todo estupendamente —disse, e lhe deu um abraço reconfortante. —Vamos, por favor! A estas alturas, terei que ser idiota para não preocupar-se —olhou ao Jackson fixamente ao lhe lançar aquele dardo. —Assim, agora também sou idiota, além de um inútil? —Nunca hei dito que seja um inútil. —Mas crie que necessito que me mimem como se não soubesse cuidar de mim mesmo. —Bem, então perdoa por me preocupar com ti. Jackson ficou alerta. —É que te importo? —o que tinha querido dizer com aquilo? Queria ele que lhe importasse? À margem do sexual, claro, porque estava claro que queria que voltasse a deitar-se com ele. Uma e outra vez... —Por amor de...! —Alani pôs os braços em jarras—. É a ti a quem drogaram, assim é a ti quem não terei que deixar sozinho. Jackson apertou os dentes. —Eu posso me valer só perfeitamente. Ela fez um gesto desdenhoso. —Se eu não estivesse metida nisto, se não formasse parte da equação, o que estariam planejando? —Não sei, porque você forma parte disto —respondeu Jackson, e lhe levantou o queixo—. E te asseguro desde já que não vamos permitir que corra nem o mais mínimo perigo, custe o que custar. Alani afogou um gemido de estupefação. —Está-me ameaçando? —Para te proteger? —assentiu energicamente com a cabeça—. É claro que sim que sim, carinho. Faremos o que seja necessário. E não te incomode em olhar a seu irmão com essa cara de indignação porque ele pensa o mesmo. Trace se encolheu de ombros. —Já te hei dito que não seria fácil. Maldição! Jackson sabia que Trace tentaria apartar a dele, mas agora tinha a prova. —Seria muito fácil se deixassem de lhes colocar onde não lhes chamam.
Alani deu um passo atrás, mas não por medo. Parecia mas bem disposta a atacar. —São todos uns idiotas! Jackson a olhou, cruzou os braços e suspirou. —Suponho que em algum momento tinha que conhecer seu lado desagradável, não? Alani ficou calada sozinho um momento, ofuscada. —Se lhes parassem a pensar um momento, dariam-lhes conta de que Jackson tem que voltar para seu apartamento para que quem o está procurando voltem a encontrá-lo. Ardilosa, além de teimosa. Jackson tentou conter um sorriso. Pôs os braços em jarras e a olhou fixamente. —Você sabe que tenho razão. Ele abriu a boca para lhe esclarecer as coisas e disse: —Talvez. Alani pareceu acalmar-se um pouco. —A partir de agora deveria ter mais cuidado com o que bebe —disse—. Y... —desviou o olhar—. E não deveria te deitar com ninguém, posto que agora mesmo não sabe em quem pode confiar. Ah, estava um pouco ciumenta. Jackson sorriu. —Sei que posso confiar em ti. Ela se voltou para Trace e disse com voz um pouco aguda: —Se Jackson se esconder comigo, pode que quem o anda procurando desapareçam e nunca saibamos o que passou, nem o que queriam. Jackson olhou a seus amigos. Eles lhe sustentaram o olhar. Jackson viu em suas caras a mesma surpresa que sentia ele. Alani tinha dado no prego. Se ela não estivesse metida naquele assunto, ele se teria devotado como ceva para apanhar a quem foi atrás dele. —Vós sabem que é a verdade —acrescentou ela—. E embora Jackson não queira reconhecêlo, eu me nego a viver assim. —Perdoa —Trace cruzou os braços—. Mas o caso é que está metida nisto, e isso não podemos esquecê-lo. Alani se separou do Jackson e pôs uma mão sobre o braço de seu irmão. —Preferiria sair de dúvidas. Além disso, você sabe que, assim que averigüemos o que está passando, menos perigo correrei. Jackson odiava reconhecer que tinha razão, mas... —Proponho uma coisa —disse Dare—. Alani poderia colaborar conosco neste caso. —Como? —Deixando que Jackson faça de cão guardião esta noite. Isso supõe que fiquem os dois aqui até que Trace e eu registremos seu apartamento. Se estiver tudo bem, Jackson pode voltar para casa amanhã ou passado. Jackson ficou olhando-a. Assim que pudessem, esclareceriam um par de coisas. Por exemplo, como ia funcionar sua relação, se é que o sua era uma relação, algo do que ainda não estava seguro. —Alani pode ser muito razoável. Alani levantou o queixo. —Claro que posso, mas isso não significa... —Sim, claro que sim —não pensava ceder naquele ponto. Dare seguiu falando como se não o tivessem interrompido: —Quanto a isso, se essa gente lhes vir juntos e se dá conta de que Alani não está sozinha, é muito possível que não se atrevam a lhe fazer nada. —Ou pode que aconteça o contrário —repôs Jackson com acritud. Trace meneou a cabeça.
—Não poderiam contigo —disse. Jackson agradeceu sua confiança, posto que Alani não parecia compartilhá-la. —E posto que não queremos que saibam que andamos atrás deles, possivelmente convenha lhes fazer acreditar que são casal. É uma estratagema tão boa como outro qualquer. Alani se lambeu os lábios. —Se nos estão vigiando, pensarão que estamos juntos porque somos casal, não porque seja meu guarda-costas. —Exato. —Quando voltarmos a seu apartamento, assegurarão-lhes de que não corra nenhum perigo? —perguntou Alani. Jackson disse: —Venha já... Ela não se alterou para ouvir seu tom. —Se isto sair mau, será você a quem atacam. —Seremos duas babás esplêndidas, não o perderemos de vista —lhe prometeu Trace, cortando a réplica que se dispunha a lhe dar Jackson. Jackson sabia que foram passar se um ano metendo-se com ele pelos comentários do Alani. —Eu sei cuidar de mim mesmo, maldita seja. Dare sorriu. —Acredito que o que mais preocupa ao Alani é que te aproxime uma mulher. Alani pôs cara de querer estrangulá-lo, mas Dare pôs-se a rir. —Isso é verdade, carinho? —Jackson se fixou no brilho de ciúmes de seus olhos—. Está ciumenta? Esta vez, estava preparado quando lhe deu um empurrão, caminho da porta. Não se moveu nenhuma polegada. —Bom, tudo arrumado então —Alani agarrou o trinco e olhou a Dare e a Trace, esperando a que a seguissem—. E bem? Trace se voltou para Dare, que soltou um suspiro. —Sim, claro, por que não? Ofereço-me como elemento de distração —Dare se aproximou do Alani enquanto Trace se aproximava do Jackson. Alani tentou protestar, mas Dare conseguiu agarrar a das mãos, que ela agitava sem cessar. —vamos tomar um pouco o ar. Acredito que te sentará bem. Jackson viu que Dare a tirava virtualmente em volandas. Alani não protestou, mas olhou ao Jackson como se a culpa daquilo a tivesse ele. Trace se inclinou para ele com expressão dura. —Nada de visitas de amigos. —Sei —lhe deu um tombo o coração. Muito em breve a teria para ele sozinho—. Farei de porteiro se alguém vier a vê-la. —E vigia também suas chamadas telefônicas. —Já sei. Comprovarei-as todas. —Se decidem sair a por algo, te assegure de que... —Maldita seja, Trace, é que crie que é a primeira vez que faço isto? —Com minha irmã, sim —seu semblante se endureceu—. E até você te dá conta de que está distraído. Era certo, embora não importava. —Morreria por ela se fosse necessário. —E então não teria a ninguém que a protegesse —lhe pôs um dedo no peito—. Assim não morra. Jackson se Rio. —De acordo, entendido. De todas formas, não pensava morrer —lhe deu uma palmada no
ombro—. Lhes avisarei se passar algo. —Está armado? —Sim —tinha uma Glock na capa que levava no cinturão, à costas, uma faca na bota e imaginação suficiente para converter em uma arma uma dúzia de coisas das que havia na cozinha. Dare apareceu a cabeça. —Preparados? —Sim —Trace olhou de novo ao Jackson e baixou a voz ainda mais—: Não posso acreditar que vá dizer isto, mas... dorme perto dela, de acordo? Não deixe que te mande ao sofá. Não sei por que, mas tenho um mau pressentimento sobre este assunto. —Dormirei diante de sua porta se for necessário —em seu ofício, nunca terei que ignorar um pressentimento. Mas seria Alani quem decidisse onde podia dormir... e Trace sabia—. Podia ouvi-la respirar, dou-te minha palavra. Trace ficou olhando-a um segundo. Logo assentiu com a cabeça. —Está bem, então. Quando se afastou Trace, aproximou-se Dare. Jackson pôs os braços em jarras. —Deus santo, e agora o que? —Não te faria nenhum dano deixar que te mime um pouco. Jackson soltou um grunhido. —Sim, como faria você? —Pois sim, se desse modo estará o bastante ocupada para não preocupar-se, e além à mão. claro que sim. Ah. Não o tinha pensado. —Além disso —acrescentou Dare—, possivelmente inclusive você goste. Às vezes a carícia de uma mulher é justo o que alguém necessita. —Isso já sabia —Jackson sorriu ao ver sua reação. Sim, Dare também via o Alani como a uma irmã pequena. Alani estava junto à porta, e parecia esgotada. Jackson se manteve afastado, impaciente, enquanto Dare e Trace se despediam dela. Abraçaram ao Alani e os dois lhe deram instruções de última hora. Todas elas coisas que já sabia e das que pensava ocupar-se, mas entendia sua preocupação. Os dois eram muito dominantes por natureza, e lhes custava delegar, embora fora em alguém em quem confiavam. Quando partiram, Alani fechou a porta com chave. Ao ver que seguia diante da porta, de costas a ele, Jackson sorriu com determinação. Sim, Alani assegurava que não podia voltar a meter-se na cama com ele de qualquer jeito... mas desejava fazê-lo. A química sexual chispava entre eles como um cabo descascado e carregado de eletricidade. Mas Jackson queria que soubesse que podia confiar nele. Ela dizia que queria mais tempo, assim que o daria... embora fora um grande esforço. Para os dois. Capítulo 6
—Alani —disse brandamente. Ela baixou a cabeça um momento e logo se voltou com decisão. Seguia com a mão no trinco e tinha um olhar vigilante, mas tentava aparentar que estava relaxada. Por sua cara desfilaram tantas emoções que ao Jackson custou as decifrar. Sabia, entretanto, o que sentia ele. Sentia, acima de tudo, a necessidade de tranqüilizá-la, de lhe tirar o nervosismo. Respirou fundo. Tendeu-lhe uma mão. —Vêem aqui, carinho.
Ela deu um passo vacilante e se deteve. esfregou-se as Palmas das mãos contra as coxas. —Para que? Para que acreditava ela? —Crie que vou equilibrar me sobre ti? —esboçou um sorriso—. Que não vou poder me refrear? —Sim, mais ou menos. Que sincera. —Sinto te desiludir, mas não vou fazer o, prometo-lhe isso. Pelo menos, ainda —seguiu lhe tendendo a mão—. Há dito que queria tempo e lhe vou dar isso por agora só quero que falemos. —Falar? —passou-se a língua pelos lábios—. Do que? Deus, estava desejando sentir aquela lengüita suave sobre seu corpo. —Esta manhã disse que não tinha feito caso de nada do que me havia dito, verdade? —Lembra-te disso? Recordava perfeitamente havê-la visto nua, furiosa e triste. Sabia que, sem querer, tinha ferido seus sentimentos. —Sim, me lembro. Disse que tinha um montão de razões para não querer que nos deitássemos. Eu estava drogado nesse momento, mas agora não, assim que esta é sua oportunidade de me explicar todas essas razões... e minha oportunidade de te convencer do contrário. —Eu... —aproximou-se dele timidamente, passo a passo. Jackson tomou sua mão. Ela tinha os dedos frios, o qual delatava seu medo. Jackson sentiu de repente o impulso de protegê-la, de reconfortá-la. —vou cuidar muito bem de ti —na cama e fora dela. Ela entreabriu os lábios. Entrelaçou os dedos com os seus. —O que dissemos não importa agora —entrou precipitadamente na cozinha, atirando dele —. Já nos tínhamos deitado. Uma vez na cozinha, Jackson a fez voltar-se e a rodeou com seus braços. —Mas queria que começasse de zero, assim que isso vou fazer —se lhe dizia o que tinha passado, como ia equivocar se? Alani seria seu guia—. Sei que quer que o faça, carinho. Sei que desfrutou. Esperou e ela assentiu com a cabeça. —Então, qual é o problema? —perguntou, satisfeito—. Quais são essas razões? Alani titubeou. Olhou os pacotes que havia em cima da mesa, olhou a cafeteira médio vazia, olhou a todas partes menos a ele. —Não posso fazê-lo em meio da cozinha. A imaginação do Jackson se disparou imediatamente, e a atraiu para si. —Fazê-lo? —Falar. Destas coisas, quero dizer —olhou a mesa da cozinha—. Não referia a isso, ao que você está pensando. Sabia o que estava pensando? E por que o pensava ela? Acaso tinham usado a mesa de sua casa? O que divertido. —Bom, não sei —se inclinou para beijá-la no pescoço—. Em minha opinião seria todo um manjar. Alani se separou de um salto. —Preciso beber algo. Jackson apoiou um ombro contra a parede. —Crie que é boa idéia? —relaxava-a o álcool? Que o céu tivesse piedade dele. —Referia a algo frio —abriu a geladeira—. Um chá ou algo assim. —Nada que já esteja aberto —não queria arriscar-se a que tivessem posto alguma droga em quão bebidas havia em sua casa.
Ela enrugou o cenho, aproximou-se da pia e levantou uma jarra vazia. —Dare deve havê-lo atirado tudo. Claro. —por que não te bebe uma Coca-cola? Ou, melhor, sente-se e eu te preparo outra jarra de chá —separou uma cadeira da mesa. —Ah —se voltou para ele com a jarra vazia na mão—. Por isso me perguntaste pela lata da Coca-cola? —Terá que tomar cuidado. Ela voltou a deixar a jarra na pia. Respirou fundo e esquadrinhou sua cara. —Crie que alguém pôde entrar em minha casa. —Duvido-o —respondeu—, mas já sabe como são estas coisas. Para que arriscar-se? —ele nunca se arriscava, por norma. E com o Alani teria o dobro de cuidado. Ela pôs uma expressão estranha e assentiu com a cabeça. —Que cuidadosos são os três. Em seu ofício, tinham que sê-lo. —Tenho uma idéia —disse—. Em lugar de tomar banho e te pôr o pijama, o que te parece se formos comprar algo para jantar e a alugar um filme? —assim poderia relaxar-se um pouco, e ele poderia relaxar um pouco a tensão sexual. Os olhos do Alani brilharam. —Mas eu acreditava... Que se meteriam na cama em questão de minutos? Jackson refreou um sorriso e esperou a que o dissesse, mas Alani ficou uma mecha de cabelo detrás da orelha e se encolheu de ombros. —Muito bem —disse, e enxaguou a jarra com muito ímpeto—. Se não te importar, também me viria bem me passar pelo despacho. Jackson se aproximou dela e perguntou: —por que? Alani deu um coice para ouvi-lo suas costas. Sem voltar-se para olhá-lo, secou-se as mãos com um pano de cozinha. —Se não puder receber chamadas no móvel, tenho que desviar o número do despacho ao fixo de casa. —Claro, isso parece —atraindo-a contra seu peito, apoiou as mãos sobre sua tripa—. Podemos fazer o que quiser, sempre e quando não tentar ir a alguma parte sem mim. Ela apoiou um momento a cabeça em seu ombro e pôs as mãos sobre as suas. —Não te importa? —Não está prisioneira, carinho. De fato, por que não me considera um escolta contratado? A que manda é você. ficou quieta. —Uma idéia interessante —voltando-se em seus braços, sorriu pícaramente—. Machucaria seu ego masculino que te perguntasse se está preparado para algo assim? —Estou-o. Esticou os lábios. —Sabe?, possivelmente me aproveite de sua boa disposição. —Oxalá. Ela se Rio brandamente. —Muito bem, se estiver seguro de que te encontra bem. —Gosta de sair. —Então vou arrumar me um pouco e vamos. Quando começou a afastar-se, Jackson a seguiu. Alani se parou no corredor. —O que faz? —Qual é seu quarto?
—O último da esquerda. por que? Jackson a apartou e entrou diante dela na habitação. deteve-se junto à porta e lhe surpreendeu quanto se parecia a habitação a ela: era poda, ordenada, suave e fresca. E muito feminina. Mas não muito perfeita. Havia flores sobre a cômoda e de uma gaveta apareciam umas calcinhas azuis. Jackson sorriu. Alani soltou um gritito e entrou rapidamente na habitação. —O que faz? —perguntou enquanto percorria o quarto ordenando-o tudo, fechando gavetas e guardando o que estava fora de seu sítio. —Queria conhecer o plano da casa —Jackson abriu tranqüilamente o armário e jogou uma olhada dentro. Logo se aproximou da janela e comprovou a fechadura. —Fora daqui. —Sinto muito, mas não —abriu a porta do quarto de banho da habitação. Da barra da ducha pendurava um prendedor. Junto ao lavabo havia um copo com uma escova de dentes e um dispensador de sabão de mãos perfumado. A banheira era o bastante grande para duas pessoas, muito juntitas. —Jackson —lhe disse em tom de advertência. No estou acostumado a havia um catapora de cor azul claro e nata, a jogo com as cortinas da ducha e a janela. Jackson tocou o fino tecido da cortina. —Muito bonita. Enquanto ela seguia queixando, inspecionou também a fechadura da janela do banho. Logo se dispôs a sair . —Adiante, faz o que tenha que fazer enquanto eu inspeciono as outras habitações. Saiu do dormitório, mas em seguida o pensou melhor. Quando ela ia fechar a porta, detevea. —Tenha em conta uma coisa, Alani. Se fechar com chave e tenho que entrar, sua porta sofrerá as conseqüências —ao ver sua cara de chateio, acrescentou—. Anda, carinho. me facilite as coisas. —Já está outra vez me avassalando. Jackson ficou pensando. —Está bem —se guardou as mãos nos bolsos de atrás da calça—. Façamos um trato. Tenho que comprovar as outras habitações. Devo me assegurar de que as janelas são seguras. Tenho que conhecer todas as saídas e saber onde estão todos os telefones e os ordenadores. Preciso conhecer o plano da casa e de cada habitação. E não porque espere que passe algo. Faria o mesmo embora ontem à noite não me tivessem drogado. Alani olhou atentamente seus olhos e seu aborrecimento pareceu dissipar-se. —A sério vive assim? —Com tantas precauções? Pois claro —sempre, e mais ainda estando em jogo a segurança do Alani—. Se tanto te incomoda que veja sua casa, sinto muito. Pode vir comigo se quiser. Não me importa. Mas em qualquer caso tenho que jogar uma olhada. Alani se recostou no marco da porta. —Há uma habitação de convidados, outro quarto de banho e meu escritório —agitou uma mão—. Está em sua casa. Mas, por favor, não bisbilhote. —Crie-me capaz disso? —Ja! —olhou-o com cara de chateio—. Sei que o faria. Jackson sorriu. —Sim, pode ser —se pensava que ia encontrar algo interessante—. Mas respeitarei sua intimidade na medida do possível. Lhe advertiu com cara de dúvida: —Não toquetees as pastas que há em cima de minha mesa. Tenho-as muito bem ordenadas. —Toquetearlas? Não tem muito boa opinião de minhas capacidades, verdade? —para que
não lhe ardesse muito a regañina, atraiu-a para si e a beijou—. É assombroso que tenha sobrevivido tanto tempo sem ti. Boquiaberta, Alani o viu avançar pelo corredor e entrar em seu escritório. Seu passo seguro e suas largas pernas fizeram que lhe acelerasse o coração. Mas lhe desacelerou quando pensou que ia bisbilhotar entre suas coisas. Fechou a boca. Sua última réplica tinha sido uma crítica irônica, ou uma afirmação sincera, um reflexo do que tinham compartilhado, do vínculo que tinham forjado a noite anterior? Um vínculo que só recordava ela. Grunhindo, passou-se as mãos pela cara e retornou a seu quarto. Fechou a porta com sigilo e se apoiou contra ela. Se era sincera consigo mesma, tinha que reconhecer que no fundo tinha esperado tinha crédulo, inclusive que Jackson tentasse deitar-se com ela em seguida. Desejava-a de novo, o havia dito com toda claridade. Mas em lugar de fazê-lo tinha preferido render-se a seus desejos, a seu desejo de que fossem mais responsáveis. Mais razoáveis. ia ser uma noite muito larga. Asseou-se sem dar-se pressa, penteou-se, escovou-se os dentes e se maquiou um pouco. Depois foi em busca do Jackson. Ao abrir a porta de seu dormitório, o encontrou no corredor, apoiado tranqüilamente contra a parede, esperando-a. antes de que lhe desse tempo a desculpar-se por havê-lo feito esperar, ele se separou da parede e perguntou: —Lista? —Sim —saiu e ele apoiou a mão sobre seus rins. Alani sentiu seu contato em todo o corpo. Mas embora não a houvesse meio doido haveria sentido intensamente sua presença. Quando Jackson estava na habitação, monopolizava-o tudo: o espaço, o ar, a atenção de quem o rodeava. Lhe acelerou a respiração ao lembrar-se de que estavam sozinhos. —estacionei ao outro lado da esquina. Alani afrouxou o passo, mas, como Jackson seguiu andando, ela fez o mesmo. Não se tinha dado conta de que não tinha visto seu carro. Se tivesse estado estacionado frente a sua casa ou no caminho de entrada, o teria visto o chegar. E possivelmente tivesse evitado sua presença. —Não queria que soubesse que estava aqui? —Não queria que soubesse ninguém —deslizou a mão até seu quadril e a atraiu um pouco para si—. Não queria trazer para ninguém até aqui, se me estavam seguindo. Alani se lembrou outra vez do perigo que corriam. —Pois agora deveria trazer o carro e estacioná-lo diante da casa. —Pode que logo —se deteve a entrada de sua pequena sala de estar—. O que te parece se por agora usamos seu carro? —De acordo —não lhe importava. Certamente era melhor que não conduzisse Jackson, depois do que tinha passado. Ele, como não, tinha que fazer o macho e dizer que estava perfeitamente, mas como era possível? Ela ficava grogue quando tomava um xarope para o resfriado, e lhe tinham dado uma droga tão forte que lhe tinha apagado a memória. Entrou na cozinha para recolher sua bolsa, as chaves e o chapéu do Jackson, e se reuniu com ele na entrada. Jackson agarrou o chapéu, o pôs e lhe tendeu a mão. Alani o olhou inquisitivamente com uma sobrancelha levantada. —As chaves? —perguntou ele. Ela se pendurou a bolsa do ombro.
—Não passa nada, conduzo eu. Jackson pôs cara de estupefação. —Vamos, por favor —Alani teve que rir—. Qualquer diria que te pedi levar uma arma. Ele se jogou o chapéu para trás e franziu o cenho. —A isso também negaria —a olhou atentamente—. Embora saiba disparar, verdade? —Sei o suficiente. Trace se empenhou em que aprendesse —depois de seu seqüestro, tinha praticado muito para assegurar-se de que podia dirigir uma arma. Ele jogou mão de sua bolsa. —Vai armada? —Claro que não! —apartou a bolsa bruscamente. —Então terá que te conseguir uma arma —declarou Jackson—. Não deveria ir por aí sem uma —olhou com desagrado seu bolsito de desenho—. Mas terá que levar uma bolsa maior. Alani não queria ir armada. —Para que necessito uma arma estando você aqui? Não te basta para me proteger? ficou tão quieto que Alani esteve a ponto de tornar-se a rir outra vez. Até que disse: —Está sugiriendo que deveria ficar as vinte e quatro horas do dia, todos os dias da semana? —O que? —ficou tinta—. Não, claro que não. Jackson lhe sustentou o olhar um momento. Logo, por fim, sorriu. —Sim, me basto para te proteger. Suponho que, enquanto esteja comigo, não necessita nada mais —lhe tirou as chaves da mão—. Vamos, saiamos daqui. Alani não pôde responder. Jackson a fez deter-se enquanto abria a porta e inspecionava a zona com um sozinho olhar que, se não tivesse estado familiarizada com os costumes de Trace, poDareia lhe haver acontecido desapercebida. Decidiu, ao parecer, que não havia perigo e saíram. O sol radiante estava já um pouco baixo e projetava as largas sombras das árvores sobre a calçada, mas não sobre seu carro. —Não estaciona na garagem? —Normalmente sim —do contrário o carro estaria ardendo, depois de passar tanto tempo ao sol—. Mas como não pensava passar muito tempo em casa, preferi não me incomodar em guardálo. Jackson lhe abriu a porta do co-piloto. —Pensava voltar a sair? Tinha tido intenção de manter-se ocupada para não pensar nele. —Só queria me trocar de sandálias, nada mais. Jackson fechou a porta, carrancudo, e rodeou o capô até o lado do condutor. Pôs em marcha o motor e logo apoiou as mãos sobre o volante e duvidou um momento. Alani se voltou pela metade em seu assento. —Jackson? —encontrava-se mal outra vez? Ele a olhou com expressão sombria. Logo disse em voz baixa, muito sério: —Não deixo de pensá-lo, preocupa-me te haver feito mal. Ah. Assim, aquele olhar sombrio era de preocupação por ela? Uma estranha felicidade invadiu ao Alani. —É um sol. Jackson pareceu a ponto de estalar. Ela sorriu e lhe tocou o ombro. —Mas não me fez mal —estava um pouco dolorida, sim, mas tinha merecido a pena—. Já lhe hei isso dito, esteve... —Glutão? —Incansável —repôs—. Sim. Mas eu gostei. Jackson a agarrou de repente pela nuca e a atraiu para si para beijá-la com ardor. Alani ficou sem respiração. Ele inclinou a cabeça, amoldou sua boca a dela e lambeu seu lábio inferior até que
ela o abriu. Depois começou a acariciar o interior de sua boca com a língua. Quando se apartou, passou o polegar pela comissura de sua boca. —Obrigado. Alegra-me sabê-lo. Mas referia a seus sentimentos. —A meus sentimentos? —Hoje estiveste horas fora de casa porque se sentia mal por minha culpa —esquadrinhou seu olhar—. Não é das que ficam chorando em casa, por isso saiu e te pôs a fazer coisas, verdade? Não pensava despir sua alma ante ele. —Não passa nada, Jackson. Agora o entendo. —Não, sim que passa —a beijou outra vez, um beijo rápido e ligeiro nos lábios, na mandíbula, e logo lhe deu um mordisquito em um lado do pescoço—. Te compensarei, carinho. Alani fechou os olhos e jogou a cabeça para trás para lhe facilitar as coisas. —De acordo. —Quero que se esqueça do que aconteceu esta manhã —seguiu depositando beijos quentes e úmidos sobre sua pele, do pescoço até a clavícula. Ela se estremecia cada vez que a beijava. —Sim. —Darei-te melhores lembranças, Alani —roçou sua pele com os dentes. Sem dar-se conta, ela afundou os dedos entre seu cabelo e, lhe atirando o chapéu, atraiu-o para si. —Tranqüila, tranqüila —beijou seu queixo, a ponta de seu nariz e, por último, com ternura, sua frente—. Não fique nervosa, mas acredito que temos companhia. Ela não o entendeu ao princípio. Tentou voltar a beijá-lo na boca. Sonriendo, Jackson murmurou: —Que doce é, carinho —levantou sua cara e esperou a que abrisse os olhos—. O caso é que estamos em seu carro, diante de sua casa, a plena luz do dia, e acredito que nos estão vigiando. Alani voltou de repente para presente. Sobressaltada, fez ameaça de olhar a seu redor, mas ele a sujeitou pelas mãos. —Não, não olhe. por agora não há perigo. Mas acredito que devemos ir. —Onde? —sussurrou, nervosa—. Onde está a gente que nos vigia, quero dizer? —Ninguém pode te ouvir, carinho —e para responder a sua pergunta acrescentou—: No cruzamento seguinte, um pouco além da esquina. Um carro cinza prata com os guichês tintos. parou e não se moveu desde que estamos aqui fora. Alani assentiu com a cabeça. separou-se dele, ficou o cabelo detrás da orelha e olhou para o carro como por acaso. Logo apartou o olhar. Pôs as mãos sobre as coxas e tentou parecer tão despreocupada como Jackson, apesar de que estava tensa. —E se nos seguem quando arrancarmos? Jackson voltou a ficar o chapéu. —Então teremos que despistá-los —arrancou marcha atrás. —Assim, sem mais? —Sim. —Não vais apontar o número de matrícula? —claro que sim. E Trace e Dare se encarregarão de checá-lo. Mas pode que não seja nada. —Mas você não o crie, verdade? —Acredito que está tudo sob controle —detrás sair ao meio-fio, olhou pelo espelho retrovisor e seguiu conduzindo—. E respeito a nós e ao que aconteceu esta manhã... Não podia falar a sério. —Estão-nos seguindo? —Não se preocupe por isso. Olhou para trás, consternada, e não se surpreendeu ao ver que, em efeito, seguiam-lhes. —Quantas vezes o fizemos? —perguntou Jackson.
Ela o olhou atônita. —Não sei. Ele soltou um grunhido. —Não me ofenda, mulher. Está dizendo que te impressionou tão pouco que não levou a conta? Alani resmungou: —Cinco vezes. —Cinco! Sério? —sorriu—. É meu recorde pessoal. —Já te hei dito que esteve muito entusiasta. —Acredito mas bem que é irresistível. —Isso é pouco provável —enquanto ela o observava, Jackson olhou várias vezes pelo retrovisor—. Ninguém pensou nunca que seja irresistível, mas pelo que tenho entendido você sempre foste insaciável em questão de sexo. —O que vai. Quem te há dito isso, por certo? —soltou um grunhido—. Insaciável —repetiu com chateio, como se lhe parecesse inconcebível—. Arrumado a que sempre estiveste para chupálos dedos, mas, como Risco te vigiava como um falcão, nenhum menino se atrevia a aproximar-se de ti. Para chupá-los dedos? —Faz que pareça um bolo. Quando dobraram a esquina, Alani olhou pelo retrovisor de seu lado e viu que o carro seguia reto. Sentiu um alívio tão grande que se afundou no assento. —Já não nos seguem. —Não —Jackson se tirou o chapéu e o jogou no assento de atrás. Mas Alani notou que seguia estando igual de alerta—. dentro de um momento retomaremos o tema —tirou seu móvel do bolso, apertou um botão e o aproximou da orelha. Depois de lhe lançar outro olhar, disse—: Acabo de despistar a um BMW prateado. De gama alta, quatro portas, guichês tintos. Número de matrícula eco-lima-quatro-e seis-delta-bravo —escutou um momento, olhou outra vez ao Alani e disse—: O duvido —assentiu com a cabeça—. Dá-o por feito. Depois de pendurar, voltou a guardar o telefone no bolso. —Era Trace? —Sim —seguiu olhando pelos espelhos e os arredores. —O que é o que dúvidas? —Que qualquer tio que te conheça não te deseje. Embora não lhe diga isso, me acredite: se for hetero, pensará em te tirar a roupa. O que dizia estava tão longe do que lhe tinha perguntado Alani que ficou estupefata. —Isso... —Tem um corpo precioso. Não lhe disse isso ontem à noite? Não exatamente, mas se tinha passado toda a noite lhe fazendo cumpridos. —Não tenho muitas curvas —respondeu, e olhou seu peito medíocre—. E comparada com o Priss e Molly... —Vamos, não siga por aí —levantou os ombros, incômodo—. Priss e Molly estão casadas com meus amigos, assim prefiro não falar de suas tetas. Está proibido. Parecia tão horrorizado que Alani sorriu. —Incomoda-te, não? —É que é uma falta de respeito, nada mais —tomou a estrada que os conduziria à zona comercial próxima—. Digamos que estão as três muito bons, mas cada uma a seu modo, de acordo? —Tem que reconhecer que as duas estão bem dotadas. —Suponho que sim —se encolheu de ombros—. Mas isso não importa, porque não são você. Ahhh... Deu-lhe um tombo o coração. Aquilo era o mais bonito que lhe havia dito um
homem. Alargou o braço e pôs uma mão sobre sua coxa. —Tem muita curiosidade por saber o que me fez. Jackson ficou imóvel. —Sim. Sua coxa se esticou sob os dedos acariciadores do Alani. —Não quer saber o que te fiz eu? —O que...? —respirou fundo e lhe lançou um olhar ardente... e então voltou a aparecer o BMW prateado, esta vez avançando para eles. —Como nos hão...? —Te agarre. O BMW se saltou a toda velocidade um semáforo em vermelho, trocou de sulco e avançou velozmente para eles. Alani sufocou um gemido. Chiaram os pneumáticos. Outros condutores apitaram. Para não chocar de frente, Jackson deu um rápido volantazo, subiu o carro à calçada e esquivou por pouco um poste de telefones e um carro estacionado. Voltou outra vez ao meio-fio e esteve a ponto de se chocar com uma caminhonete. Pisou no freio no borda. Deixou o carro em ponto morto, abriu a porta de repente e saiu para olhar ao carro que se afastava. Ao olhar para trás, Alani viu que o BMW derrapava e desaparecia dobrando uma esquina. O condutor de um caminhão se aproximou correndo. —Né, meninos, estão bem? Há alguém ferido? Dois jovens lhes perguntaram o mesmo entre maldições. Um deles perguntou ao Jackson: —Quem era? Viram como se saltou o semáforo esse mamão? Seu companheiro acrescentou: —pensei que ia investir lhes! Alani ouviu responder ao Jackson em tom parecido: furioso e veemente... como um homem corrente. Era tão bom ator... Porque Jackson não tinha nada de corrente. Enquanto o observava, ele estirou o braço para trás e atirou do desço de sua camiseta para ocultar uma pistola. Não deveria haver-se surpreso. Ia armado, claro. Certamente não ia a nenhuma parte sem levar em cima uma ou duas armas, igual a Trace e Dare. Seu coração começou a acalmar-se. por que não se fixou antes no vulto da pistola? Certamente porque estava muito interessada no resto de sua pessoa. Tinha que aprender a emprestar mais atenção. Acaso não tinha aprendido nada de seu seqüestro? Jackson apareceu a cabeça pela porta do carro. —Está bem, carinho? Os outros homens também a olharam. Alani se deu conta de que ainda sujeitava com força o atirador da porta. Afrouxou as mãos. Respirou fundo uma vez, dois... E se obrigou a sorrir. —Sim, estou bem. Os olhos do Jackson brilhavam como diamantes, cheios de decisão, mas seu tom seguiu sendo o de um homem corrente. —Está segura? —um pouco tremente, nada mais —abriu a porta e saiu. Por sorte ninguém tinha resultado ferido. Sentiu um sopro de brisa cálida na cara. A luz do sol poente se refletia no cimento. O tráfico começou a mover-se outra vez. Ao olhar a seu redor, viu tantos carros estacionados, postes, luzes e pessoas que lhe pareceu um milagre que não tivessem tido um acidente.
Porque essa era a intenção dos ocupantes do BMW, não ficava nenhuma dúvida. Alguém queria lhes fazer danifico. Era ela seu objetivo, ou era Jackson? Pouco importava. Nenhuma das duas coisas era aceitável. —Com esses guichês tintos, não pude ver o condutor —estava dizendo o homem maior. —Eu tenho parte do número de matrícula —comentou um dos jovens—. O tenho cotado na parte de atrás de um recibo —ansioso por ser de ajuda, o passou ao Jackson—. Esse tipo poDareia ter matado a alguém. —Obrigado —disse Jackson, e se guardou o recibo no bolso de atrás. Alani levantou uma mão para cobri-los olhos do sol. —Bom, esperemos que o condutor chegue a sua casa sem pôr em perigo a ninguém mais. Jackson ficou olhando-a. —Deveríamos ir —acrescentou ela. Jackson tinha que fazer... o que fizesse em momentos de emergência. Para apressar as coisas, disse aos transeuntes—: Muitíssimas obrigado por parar. —Queria me assegurar de que estavam bem —o condutor do caminhão se tirou a boina e voltou a ficar a exatamente do mesmo modo—. foi alucinante como o esquivaste. É um milagre que não tenham chocado. Era verdade. Mas teriam tanta sorte a próxima vez? Capítulo 7
Jackson apertou o volante. Não sabia o que pensar do estado de ânimo do Alani. —Seguro que está bem? —Sim —ela manteve a cara volta para o guichê. Ansioso por reconfortá-la, por tranqüilizá-la ou por fazer o que fora, Jackson insistiu: —Não está um pouco assustada? Alani o olhou. —Você sim? Ele soltou um bufido. —Não —ele não se assustava de nada—. Claro que não. Alani assentiu com a cabeça e voltou a desviar o olhar. —Eu tampouco. Maldição. Não queria que Alani pensasse que esperava que reagisse igual a ele. Ele era um profissional, e aquilo não era o mais perigoso que lhe tinha passado, nem muito menos. —Parecia muito impressionada. Ela se encolheu de ombros. —pensei que íamos chocar —ficou o cabelo detrás da orelha com nervosismo—. Mas não. —Você sabe que eu não deixaria que te passasse nada, verdade? Alani esboçou um sorriso triste e surpreendido que desapareceu tão rapidamente que Jackson apenas a viu. —Não é invencível, Jackson. —Não permitirei que te passe nada —repetiu com mais força. Quase como se queria reconfortá-lo, ela o olhou e disse com suavidade: —De acordo. Jackson chegou à conclusão de que teria que demonstrar-lhe e seguiu conduzindo em silêncio até que chegaram ao estacionamento da zona comercial. Ao apartar-se da estrada principal, Alani fixou seus grandes olhos dourados nele. —O que faz? —Íamos jantar e ver um filme, não?
—Sim? —olhou a seu redor, desconcertada—. Ainda, quero dizer? depois do que passou? —Não foi para tanto —estacionou o carro e o rodeou para lhe abrir a porta. Alani o olhou com dureza. —O que vamos fazer em realidade? Lhe tendeu uma mão. —vamos comprar algo para jantar e a alugar um filme. Mas nada de comédias românticas. Algo menos isso. Alani não tomou sua mão. —De acordo —disse ele—, que seja uma comédia romântica. Se tanto te importa, agüentarei-me. O comprido suspiro do Alani expressava sarcasmo, chateio e uma terminante negativa a mover-se. —Não vais convencer me de que não te importa que tenhamos sofrido um ataque direto, porque isso é o que foi. Esse carro queria que nos estrelássemos. Estou segura de que tem uma teoria e quero saber qual é. Jackson lhe havia dito a Trace que não era uma muñequita de porcelana. E tampouco era tola. Percorreu o estacionamento com o olhar, mas não sentiu que lhes estivessem vigiando. —Recorda o que disse a respeito de manter nossa rotina para lhes fazer sair à luz? Alani aceitou sua mão e saiu do carro. —Sim. —Pois isso é o que vamos fazer —a rodeou com o braço e se dirigiu primeiro ao videoclub —. Não acredito que agora mesmo nos estejam vigiando, mas, em caso de que não seja assim, pensarão que acreditamos que o que aconteceu se há devido a um condutor irresponsável. —Porque não quer ensinar suas cartas ainda. —É preferível ter em brasas a esses porcos. —Obrigado por me dizer isso. Entraram no videoclub e Jackson a levou para a seção de filmes de ação. —Não quero te assustar, por isso não lhe hei isso dito. —Crie que vou pôr me histérica? —perguntou, muito séria. O pensou, observou sua cara e sacudiu a cabeça. —Não, a verdade é que não. É muito delicada e tem esse ar de inocência —se inclinou para lhe falar com ouvido—. Que é do mais sexy, me permita que lhe diga isso. Ela se parou em seco no meio do corredor. Jackson se ergueu e a fez ficar em marcha outra vez. —Mas acredito que tem muitas mais guelra do que aparenta. Esta vez, seu «obrigado» soou muito mais sincero. —Trace me vai matar, mas, se de verdade quer saber qual é o plano, direi-lhe isso. —Então, não me contastes isso tudo? —O que vai —ficou diante de sua seção favorita e escolheu um filme de estréia protagonizada pelo Bruce Willis—. Olhe, esta está em venda. Podemos comprá-la, em vez de alugála. Alani lhe tirou o filme. —Que mais me ocultastes? OH, OH. Parecia outra vez zangada. Jackson se esfregou a orelha. —Lembra-te de quando o carro deixou de nos seguir? —Tomou outra rua e pensei que se acabou. —Sim, sei. O caso é que eu sabia que voltaria. Alani começou a compreender. —Quando falou com Trace, disse «o duvido». A um lado, duas mulheres olharam ao Jackson por cima de um expositor. Ele não fez conta.
Estavam falando em voz tão baixa que ninguém podia lhes ouvir, e aquelas mulheres, além de olhálo embevecidas, não podiam lhe fazer nenhum dano. —Seu irmão me perguntou se os tinha avoado. Mas deduzi que o carro tentava dar a volta e nos cortar o passo. —Como sabia? —Por instinto —tomou sua cara e a beijou sem que lhe importasse quem lhes visse—. Também me disse que te mantivera fora de perigo, e lhe disse que o faria. Alani ficou lhe olhando uns instantes antes de olhar com zango às duas mulheres, que seguiam observando-os. —Essas mulheres lhe estão olhando. Jackson se encolheu de ombros. —Mas eu a elas não, verdade? —lhe pondo um dedo sob o queixo, fez-lhe voltar a cara—. Faz como se não estivessem. —Mas você seguirá atento a elas. —Eu estou atento a tudo, tesouro. Incluídos seu ciúmes. —Meus...? Ja! —zangada e com o filme na mão, dirigiu-se à caixa. Jackson se apressou para segui-la. —Caray. Espera um pouco, quer? —um par de pessoas mais lhes olharam, mas quase todo mundo estava ocupado escolhendo um filme—. O que passa agora? Alani parecia furiosa, tinha o semblante tenso e a cara tinta. Jackson acreditou que ia negar que estivesse ciumenta, mas ela disse: —Sabia que esse carro voltaria e não me disse isso. —Suspeitava-o —particularizou ele—. E está montando uma cena, blandiendo ao besta a tocha de guerra. Alani ficou ainda mais tinta. Jackson teve que refrear um sorriso. Estava tão bonita quando se zangava... Fez gesto de lhe pôr uma mecha de cabelo detrás da orelha, mas ela se apartou bruscamente e Jackson baixou a mão. —Se não te acalmar um pouco, vai se inteirar todo mundo de que uns desconhecidos com muito más intenções nos estão seguindo e sabemos. E me permita que te diga que isso nos causará certos problemas com a polícia local. O semblante do Alani se suavizou milagrosamente enquanto a olhava. Embora seus olhos seguiam brilhando, cheios de aborrecimento, se Rio, deu-lhe uma palmada e ficou nas pontas dos pés para lhe dar um beijo na boca. Como se se tivessem brigado e estivessem fazendo as pazes. Apoiou uma mão sobre seu peito, voltou a apoiar os pés por completo no chão e perguntou com ar inocente: —Melhor? —OH, sim. Mas se quer pode me dar outro beijo de gorjeta. Ela sorriu e deslizou um dedo por seu peito, até a fivela de seu cinturão. Voltou a olhar às mulheres, que seguiam com o olhar fixo no Jackson, e baixou a mão com um sorriso satisfeito. —Vamos. «Sim», pensou Jackson. «Vamos ».estava desejando ficar com ela a sós para poderia falar de verdade. E para poderia beijá-la de verdade. E possivelmente para que Alani voltasse a posar a mão sobre a fivela de seu cinturão. Mas quinze minutos mais tarde, depois de comprar o filme, enquanto foram caminho do supermercado, Jackson se deu conta de que estava mais molesta do que tinha pensado. Alani jogou algumas costure no carro maquinalmente e foi todo o tempo uns passos por diante dele, empurrando o carro da compra. Havia tornado a fechar-se em banda para ele.
Ao Jackson não gostou daquilo. Preferia que brincasse, ou inclusive que se zangasse, porque ao menos então se abria a ele. Aquele silêncio, em troca, tirava-o de gonzo. Esperou até que estiveram diante da seção de frutas e verduras, longe de ouvidos curiosos, para perguntar: —Então, o que me fez? Delatou-a uma rigidez quase imperceptível dos ombros. Guardou silêncio enquanto colocava um grosso tomate no carro da compra. Jackson se inclinou tranqüilamente sobre a asa do carro e cruzou os braços. —Recorda que há dito que devia deixar de te perguntar o que te tinha feito eu e perguntar o que me tinha feito você . Isso estou fazendo: perguntar-lhe isso E minha imaginação se está desbocando. Alani não lhe fez caso enquanto punha no carro uma bolsa de batatas de três quilogramas. Significava isso que pensava lhe dar de comer mais de uma vez... ou sempre comprava tantas batatas? —Vamos, Alani —insistiu, confiando em tirar a de seu mau humor—. Se me fez uma mamada, eu adoraria sabê-lo... Ela jogou ao carro uma bolsa de cenouras, tão perto dele que Jackson teve que tornar-se para trás para esquivá-la. Fascinado por seu mau gênio, esperou enquanto a observava atentamente, tentando adivinhar o que ia fazer. Ela se deteve e respirou fundo. Entreabriu as pálpebras com expressão malévola. —Sim. Jackson se estirou, invadido por uma quebra de onda de desejo. —Sim o que? —Sim —sorriu satisfeita e paga de si mesmo—, fiz-te uma... mamada —ficou tinta ao dizêlo, mas mesmo assim olhou com descaramento sua braguilha—. E embora não tenho muita prática, ficou claro que você gostava. Ai, Deus! Ela também sabia jogar sujo. Quando passou a seu lado, convencida de que se cotado um tanto, Jackson deu meia volta ao carro e se apressou para alcançá-la. —Então... Em sua mente se amontoavam toda classe de imagens, algumas deliciosamente tenras, a maioria abrasadoras e umas quantas inclusive escandalosas. Lutando por refrear seu desejo, esclareceu-se garganta. —Lhe...? Já sabe, tive que te forçar para que o fizesse? —odiava aquela ideia tanto como gostava da contrária: que Alani tivesse querido saboreá-lo, que talvez inclusive tivesse sido ela quem tomou a iniciativa—. Ou você...? —procurou a palavra justa—. Te ofereceu voluntária? Ela olhou para trás e disse: —A mim não pode me forçar —sorriu de novo provocativamente—. Tinha curiosidade. E você esteve disposto —se encolheu de ombros como se isso o explicasse tudo. Sim, podia imaginar-se quão disposto teria estado. Não lhe importaria voltar a está-lo, e não demorando muito. Seguiu caminhando ao lado do Alani, embora não era fácil porque tinha que empurrar o carrinho pelos corredores cheios de gente. —Então... —maldição, nunca antes tinha duvidado na hora de falar de sexo. Teve que pigarrear outra vez—. você gostou? —Claro —nem sequer teve que pensar-lhe A verdade é que eu adorei. Tremeram-lhe as pernas. Seu coração ficou ao galope. imaginou a boca do Alani chupando seu verga, sua língua movendo-se sobre ela, suas bochechas cavadas quando... Deus! —Interessaria-te fazê-lo outra vez? —perguntou com voz rouca.
—Isso depende. OH, não. Não, não, não. Não pensava negociar com ela. Não permitiria que nenhuma mulher, nem sequer Alani, manipulasse-o servindo do sexo. Agarrando com força a asa do carro, com um nó no estômago, perguntou: —Do que depende? —De como progrida nossa relação, claro —soltou uma risada sincera ao deter-se para voltar-se para ele—. É que acreditava que ia pôr te condições? A te oferecer meus favores em troca de... o que? De que seja menos misterioso, mais aberto? —Não sei —jamais a entenderia, mas Por Deus que seguiria tentando-o—. Pode ser. Lenta e brandamente, como se falasse com um menino pequeno, disse-lhe: —Faz o que faz, Jackson. Profissionalmente, quero dizer —meneou uma mão—. Se for tão bom como meu irmão ou como Dare, quase tudo o que faz tem uma razão de ser, estou segura. Pode que não sempre eu goste de seus métodos, mas entendo sua intenção. Ele apertou as demola. —Sou igual de bom que eles, maldita seja. —E também incrivelmente modesto —fixou sua atenção nas estanterías e examinou umas quantas especiarias—. Mas isso não tem nada que ver com nossa relação íntima, não crie? E me temo que as duas coisas vão chocar. Ele agarrou um frasco de pimenta em grão e o jogou ao carro junto com uns filetes. —Chocar? por que? —Não pertenço a sua profissão, recorda? Não me cresço ante o perigo. Não penso em términos de objetivos, perigos e contragolpes. Sou uma desenhista de interiores corrente e moedor, do montão. Ele a olhou de cima abaixo. —Você não tem nada de corrente, neném. Alani se enterneceu um momento pelo completo, mas em seguida voltou a levantar suas barreiras defensivas. —A não ser que me explique de vez em quando quais são suas razões, como vou ou seja quando me mantém na ignorância por meu próprio bem e quando simplesmente não quer me contar nada? Ele se esfregou a orelha. —Não sei. —Eu tampouco. Mas isso faz impossível que tenha uma idéia clara das coisas —tocou sua mandíbula—. E isso é muito desconcertante. Uma mulher passou lhes roçando com seu carro. Embora tinha sentado diante a um menino de uns dois anos, olhou ao Jackson dos pés à cabeça e sorriu. Como se queria defendê-lo com seu corpo, Alani ficou diante dele e olhou com zango a pobre mulher. —te acalme, fera. —Imagino que você adora chamar tanto a atenção, não? —Eu... —Esquece-o, Jackson —assinalou as coisas que tinham posto no carro, os grossos filetes, os ingredientes para uma salada e as batatas—. O temos tudo? —Isso parece. —Genial. Então vamos —pôs-se a andar, esperando que ele a seguisse. —Sim, querida —disse Jackson em voz baixa. Observou o balanço de seus quadris enquanto a seguia para a entrada da loja. —Suponho que não pode evitá-lo. Levantou os olhos e perguntou com falsa doçura: —Fala-me ?
—Sim —Alani lhe lançou um olhar—. Estou sendo injusto e sei —e logo acrescentou a contra gosto—: Perdoa. —Não passa nada —a verdade era que gostava de vê-la ciumenta. depois de tanta indiferença, era como um bálsamo para seu orgulho. Ela se levou uma mão à frente e resmungou: —Não pode evitar ser tão bonito —o olhou outra vez—. Nem tão alto. Jackson se encolheu de ombros. —Nem tão... sexy. Ele sorriu lentamente, apesar de que sua mente era um torvelinho. —Já que me fala , posso te perguntar uma coisa? —O que? —Essa coisa tão desconcertante da que falava... Refere-te a que, quando é melhor que não saiba uma coisa, deveria te dizer que te estou ocultando algo? —meneou a cabeça. Maldição, até ele se fazia uma confusão. Mas ela assentiu com a cabeça. —Se souber que está sendo evasivo para preservar o objetivo final, por razões de segurança, então não pensarei que simplesmente não me conta isso porque me está dando de lado. —De todos os modos, eu não faria isso —que demônios, queria estar mais unido a ela. Ao menos, por agora. Até que saciasse o intenso desejo que sentia por ela. E para isso fariam falta... uma vintena de encontros sexuais, como mínimo. —Vamos, por favor —ficaram à cauda detrás de um casal de média idade. Baixando a voz, Alani perguntou—: Então, está disposto a te abrir e a me contar algo que queira saber? Temendo uma armadilha, Jackson respondeu com cautela: —Sim? —Não sabe se for sim ou não? —A verdade, não sei em que classe de rincão me está encurralando. —Não há nenhum rincão. Só intento esclarecer parâmetros de nossa... associação. —Relação, maldita seja. A senhora de cinqüenta e tantos anos que estava diante dela olhou para trás, voltou a olhar e esta vez não apartou o olhar. Jackson baixou um pouco mais a voz. —Deitamo-nos e vamos voltar a nos deitar —ao menos, isso esperava—, assim temos uma relação de casal —ainda não sabia até onde chegariam as coisas, mas não ia permitir que Alani negasse o que havia entre eles sozinho porque ele não o recordava. Merda. Alani sorriu. —vamos pôr a prova essa teoria. Jackson se preparou, ainda mais receoso. —De acordo —disse, e acrescentou—: Como? —Tenho muitas perguntas que te fazer sobre ti. Deus, odiava aquele cilindro introspectivo. Se tivesse sido qualquer outra mulher, teria brincado com ela, teriam tornado a deitar-se e a seguir teria feito o possível por esquivar a curiosidade dela. Mas não podia fazer isso. Não só tinha que ficar com o Alani para defendê-la, mas sim a desejava. —Possivelmente poderíamos deixá-lo para mais tarde. Alani disse com ironia: —Claro, Jackson. Em realidade, não preciso saber nada. —Maldita seja, eu não hei dito isso.
—Mas já me está dando largas. Ele lançou um olhar à senhora, cujo marido a levou mais ou menos a rastros, e a jovem cajera que não parava de olhá-lo às escondidas. —Em realidade o que intento é que não nos ouçam. Ela seguiu seu olhar e franziu o cenho. —É incrível. Chegou-lhes seu turno na caixa e enquanto Alani punha suas compras sobre a cinta e olhava com cara de poucos amigos às espectadoras, Jackson inspecionou o estacionamento através das enormes luas da loja. Os carros se reordenavam constantemente, em uma maré cambiante, uns se foram, outros estacionavam e os pedestres, enquanto isso, pululavam a seu redor. Não viu o BMW prateado, mas terei que ser muito estúpido, ou incrivelmente arrogante, para seguir utilizando o mesmo carro, sobre tudo sendo tão fácil de identificar. Não havia muitas pessoas que pudessem permitir um veículo de cem mil dólares. Era um carro ostentoso. A pessoa ou pessoas que lhes seguiam tinham necessidade de gabarse de sua riqueza. Ou o carro era roubado e o abandonariam muito em breve para apoderar-se de outro veículo. Quando Alani foi abrir sua bolsa para pagar, agarrou-a pela boneca e a olhou com aborrecimento. —Nem te ocorra —enquanto a jovem cajera mascava chiclete e os olhava, tirou um cartão de crédito de sua carteira. Alani se inclinou para olhar o nome que figurava no cartão e levantou a sobrancelha direita. Confiando em que não lhe perguntasse pelo aliás que figurava em todos seus documentos de identificação, passou o cartão, agarrou o tique e colocou as bolsas no carro. Em voz baixa disse: —Fica a minha esquerda e um pouco por detrás de mim. —Crie que haverá problemas? —Não, mas sempre estou preparado, no caso de —por sorte chegaram ao carro sem contratempos e sem que Jackson tivesse a sensação de que lhes estavam observando. O asfalto do estacionamento despedia quebras de onda de calor. Sentiu que a camiseta lhe pegava à costas e notou de novo aquele atrativo resplendor na cara do Alani. —Anda, sente-se enquanto eu coloco as bolsas no porta-malas. Ela abriu a porta do condutor para deixar sair parte do calor acumulado. —Obrigado —detrás ligou o ar condicionado, Jackson pôs em marcha o motor e seguiu esquadrinhando a zona enquanto saía do estacionamento. Alani o observou. —Necessita que me cale para poder te concentrar? Que Mona. E o que considerar. —Não, não passa nada, mas obrigado —a olhou o tempo justo para lhe sorrir. —Seguro? Não quero te distrair. —Posso fazer várias coisas de uma vez —e menos mal que o era, porque Alani não tinha deixado de distrai-lo desde dia em que a tinha conhecido. Havia vezes em que quase não podia pensar em outra costure—. Por sorte meu instinto toma o controle quando é necessário. —Então, posso te perguntar uma coisa? Jackson compreendeu muito tarde que talvez teria podido evitar o interrogatório se lhe houvesse dito que precisava concentrar-se. —Né.... claro —respondeu cansativamente enquanto se incorporava à estrada principal. Pelo caminho de volta, fixou-se nas marcas de pneumáticos que tinham deixado outros carros ao frear bruscamente por culpa do BMW prateado e os sulcos que suas rodas tinham deixado na grama quando se saiu do meio-fio. Não tinha perdido o controle do carro em nenhum momento, mas lhe zangava que alguém tivesse posto ao Alani em perigo. Quando encontrasse ao responsável, as pagaria todas juntas.
—Como te associou com Dare e Trace? OH, OH. Não se esperava essa pergunta. Para ganhar um pouco de tempo, parou frente a um semáforo e disse: —A que vem isso? O olhar do Alani deixou claro que sabia o que se propunha. —Sei que Trace não contrata a gente da maneira habitual. Para isso teria que anunciar-se e não pode fazê-lo, claro, sendo um mercenário que oferece seus serviços a particulares. Tiveram que lhes conhecer de algum jeito, mas nunca soube como. Assim conta-me. —Meteu-lhe isso na boca? Olharam-se e Jackson deu um coice para seus adentros. Alani o observou com desconcerto. Não tinha nem idéia da que se referia. Deus... Estava ansioso por trocar de tema, mas não tinha sido sua intenção lhe lançar essa pergunta assim, pelas boas, embora naturalmente, era algo que o reconcomía, que não ia da cabeça e que o fazia difícil controlar seu desejo. O único problema era que ela não parecia entendê-lo. Sacudiu a cabeça, confusa. —Se me meti na boca o que? Tinha que dizê-lo em voz alta? Enfim, pelo menos tinha conseguido trocar de tema. Pigarreou. —Já sabe... meu pênis. Alani levantou as sobrancelhas e entreabriu os lábios. O semáforo ficou em verde. Jackson arrancou e observou os arredores enquanto seguia pendente de sua reação. —Meteu-lhe isso na boca? —perguntou com voz rouca. Ela se lambeu os lábios. —Não me deixou eleição. Jackson agarrou sua mão e a posou sobre sua coxa, sujeitando-a ali. O contraste o voltava louco: o pequena e delicada que lhe parecia sua mão e em troca como o excitava seu contato, inclusive estalagem sobre sua coxa, em cima dos jeans. —Me diga como foi, quer? Alani flexionou os dedos, cravando-os em sua coxa. —Foi... enquanto te beijava... aí —assinalou seu entrepierna com a cabeça. —Mas lhe colocou isso até dentro? —Pô-me a... a mão na... —para demonstrar-lhe ficou a mão livre na nuca—. Suponho que me estava guiando. —Sim? —ao imaginar-lhe vibrou sua franga—. Assim? —agarrou sua nuca, fechou seu manaza sobre ela e começou a massageá-la com os dedos enredados entre seu cabelo sedoso. —Sim. —Estávamos na cama? —Não. Bom, você sim. Sentou-se ao bordo do colchão, mas eu estava... no chão, diante de ti. Excitado já, Jackson não posso deixar de atormentar-se. —De joelhos? Ela assentiu e voltou a lambê-los lábios. —Fazia uns ruídos muito sexis, não sei, como grunhidos. Quase como se te doesse, mas ao mesmo tempo você gostasse. —Sim —uma dor deliciosa. A mão que Alani tinha estalagem sobre sua coxa se deslizou mais acima e com a ponta dos dedos tocou seu testículo. Não se tinha deslocado nas calças desde que estava no instituto, mas se não se controlava um pouco talvez o fizesse. Soltou a nuca do Alani, apertou sua mão e a apartou, posando-a sobre o assento, entre os
dois. Dobrou uma esquina dirigindo o volante com uma mão, caminho da garagem privada no que tinha deixado seu carro. Ela não se fixou nesse detalhe. Jackson sabia que queria passar-se por seu escritório, mas não acreditava que pudesse suportá-lo, estando tão excitado. —Continua —disse. —de repente foi como se... estalasse —explicou quase ofegando, como se falar disso a estivesse excitando tanto como a ele—. Apartou e te tombou no chão comigo e então... —E então o que? —Penetrou-me com fúria, como se não pudesse te controlar Y... —deixou escapar um suspiro—. Foi maravilhoso. Capítulo 8
Muito bem, era hora de trocar de tema. Jackson se ajustou os jeans e se removeu no assento do carro. Consciente de que Alani vigiava cada um de seus movimentos com expressão ansiosa, agarrou de novo sua mão e a levou a boca. —Me vai encantar te penetrar outra vez —disse roncamente, e com um pouco de sorte seria essa mesma noite. Ou, melhor ainda, antes do jantar—. Mas temos que trocar de tema agora mesmo ou vou pôr me em ridículo. Alani apertou sua mão... até que Jackson entrou na garagem. —O que faz? —vamos trocar de veículo —baixou o guichê e introduziu um código no painel de segurança da entrada. levantou-se uma grade e entrou na garagem às escuras. Alani olhou a sua redor surpreendida. Logo cravou nele um olhar de recriminação. —Está bem, Jackson «Davidson», acredito que vai sendo hora de que comece a te explicar —disse pondo especial ênfase em seu nome fictício, e Jackson se centrou primeiro nesse tema. —te acalme, mulher. Já sabia que usava um aliás. —Jackson Davidson —repetiu com ironia—. De onde te tirou esse nome? —O que importa isso? —Importa porque estou pensando que possivelmente nem sequer sei como te chama de verdade —se recostou em seu assento e cruzou os braços com expressão de aborrecimento—. Me pergunto se algo do que sei de ti é real. Jackson se zangou. —Sabe que te desejo, e sabe que vou proteger te. É que isso não conta para nada? —Há alguma mulher a que não deseje? —cravou-lhe um dedo no peito—. E quanto a me proteger, disso poderiam se encarregar meu irmão ou Dare. Jackson baixou a voz, zangado. —Maldita seja, não desejei a nenhuma outra mulher desde que te conheço. Suas ásperas palavras ressonaram na garagem. Alani piscou. —Sério? Que Deus tivesse piedade dele, aquela mulher o voltava louco. —Dare e Trace não têm que preocupar-se com ti, para isso estou eu. Eu e só eu. Vete te fazendo à idéia —então a beijou com paixão, e se surpreendeu ao ver que lhe devolvia o beijo. Deixando escapar um suave gemido, Alani se rendeu a ele e Jackson teve que lutar de novo por dominar-se. —Tranqüila, carinho —beijou seu lábio inferior, a comissura de sua boca—. Vamos a sua
casa. Ali poderemos seguir. Dividida entre o alívio por que Jackson não tivesse notado que não tinha mencionado a questão do preservativo ao lhe contar como tinham feito o amor e o aborrecimento por que lhe tivesse mentido respeito aonde tinha estacionado, Alani não estava preparada para o impacto de seu beijo. Mas Jackson sempre sortia sobre ela um efeito puxador. Gostasse ou não, tinha que reconhecer que, no que respeitava ao Jackson Savor, carecia de vontade. Havia dito que não tinha desejado a nenhuma outra mulher desde que a conhecia. Alani se apartou o cabelo da cara e exalou um profundo suspiro. —Seriamente te apelida Savor ou isso também é um engano? Ele a olhou com surpresa, ao mesmo tempo ofendido, zangado e possivelmente um pouco perdido. Não, como lhe ocorria? Um homem do calibre do Jackson, um mercenário com suas capacidades, não se sentia perdido por culpa de um conflito romântico. —Sim, me apelido assim. Mas não vá dizendo-o por aí, de acordo? —irritado, agarrou seu chapéu do assento de atrás, abriu a porta do carro e saiu. Depois de impregnar o chapéu, voltou a ajustá-los jeans e Alani viu sua ereção. Ele se recostou no carro. Olhando-a fixamente, disse com energia: —Para sua informação, esta é uma dessas medidas preventivas das que, em seu momento, pareceu-me preferível não te avisar. —E agora? —Demônios, Alani, puseste a cem. Não estava pensando precisamente em onde tinha estacionado o carro. Alani o pensou e compreendeu que tinha razão. —De acordo. Ele começou a relaxar-se. —vais contar me como lhes conheceram Trace e você? Jackson não tentou dissimular seu grunhido de chateio. —Esquece que lhe perguntei —disse isso Alani—, não queira Deus que desenterre um segredo de Estado, ou que te tire de sua zona de conforto te perguntando por... —Está bem —com uma mão sobre o teto do carro e outra sobre a porta aberta, baixou a cabeça—. Lhe contarei isso quando chegarmos a sua casa, de acordo? Fez que se sentisse culpado, e ao Alani não gostou. —Não é necessário. —Sim, eu acredito que sim o é —escrutinou seu olhar—. Não vou desculpar me por ser como sou. Sempre fui uma pessoa muito hermética, e trabalhar para seu irmão tem feito que o seja ainda mais. —Eu não te pedi que te desculpe. —O caso é que eu não gosto de falar de como e por que nos conhecemos, mas prefiro que saiba por mim e não por seu irmão. Ele certamente distorceria as coisas para fazer ficar mau. —Se de verdade não quiser... —Não importa —sacudiu a cabeça—. Tinha que sair a reluzir cedo ou tarde. cedo ou tarde... Significava isso que pensava seguir com ela mais à frente do futuro imediato? Alani não sabia. —Está bem. —Bom, então sinta seu lindo traseiro atrás do volante para que possamos ir. Alani agarrou sua bolsa, saiu e rodeou o carro. A garagem não era tão grande e contou doze
carros dentro. —O que é isto? —Uma garagem privada. Utilizamo-los em zonas às que vamos freqüentemente. Assim que deveste viveu a esta zona, Trace alugou este. Ela se deslizou depois do volante. —Quem estaciona aqui? —Nós —lhe grampeou o cinto de segurança. Alani estava tão intrigada que o permitiu. —Mas de quem são estes carros? —por que? —observou a colorida coleção de veículos de distintos preços. Alguns estavam novos; outros logo que pareciam em situação de circular—. Você gosta de algum em especial? —Não é isso —nunca lhe tinham gostado de muito os carros. Queria que a levassem aonde queria ir, e ponto. —Se não ter preferências, acredito que vou levar me esse todoterreno negro. Parece bastante potente. Compreendendo que estava a ponto de conhecer outro secreto, Alani perguntou: —Como que lhe vais levar isso Suponho que não terá por costume roubar carros. —Claro que não. São todos nossos. Estão aqui se por acaso precisamos trocar de veículo — fechou a porta do carro e deu uma palmada sobre o capô—. Vê direita a casa. Não acredito que tenhamos problemas, mas você tranqüila: vou justo detrás de ti. Boquiaberta de assombro, Alani o viu aproximar-se do porta-malas e abrir a porta de atrás. Tirou duas mochilas e a seguir algo do porta-luvas. Fechou a porta e o porta-malas e se aproximou do todoterreno nuevecito, abriu-o e montou. Alani estava atônita. Ao parecer, a empresa de seu irmão escondia muito mais do que tinha imaginado. E tinha a sensação de que Jackson Savor também. Tudo nele a fascinava. Estava desejando saber mais. Enquanto Jackson preparava os filetes, Alani pôs as batatas no microondas e fez a salada. Ambos preferiram preparar a comida antes de embarcar-se em uma conversação que sem dúvida seria muito larga. Jackson tinha deixado suas mochilas junto à porta de entrada. Alani supôs que tinha esperanças de dormir com ela e ainda não queria levá-los a quarto de convidados. Ela também as tinha. Acenderam a churrasqueira no pátio. Pensavam comer fora e Alani já tinha carregado uma bandeja com toalhas individuais e guardanapos. Embora os dois estavam ocupados, não podia deixar de lançar olhadas furtivas ao Jackson. Até ver como se lavava as mãos na pia lhe fascinava. adorava suas mãos. Eram grandes e capazes, duas vezes do tamanho das suas. Haviam-na meio doido com delicadeza e com ternura. Jackson parecia saber sempre como tocá-la e onde para conseguir o efeito mais intenso. O chapéu de vaqueiro lhe tinha deixado o cabelo revolto. Alani recordou vivamente a imagem de sua cabeça entre suas pernas enquanto lhe lambia brandamente o sexo com a língua e sua barba áspera lhe roçava o interior das coxas. Deixou escapar um suspiro tremente e Jackson a olhou. De costas a ela, enquanto tirava os filetes, lançou-lhe um largo olhar, detendo-se em seus peitos e seu ventre. —Está bem, céu? —Sim —ali, na cozinha, a sós com o Jackson enquanto preparavam juntos o jantar, sentia-se mais a gosto que nunca desde seu seqüestro. Ele esboçou um sorriso torcido e se voltou com os filetes em um prato.
—Um centavo por seus pensamentos. —Estava pensando —respondeu ela— no muito que eu gosto de seu corpo. Não só que seja tão forte, mas também todo o resto. Ele se apoiou na encimera. —Como o que? —Suas mãos, seus pés, o modo em que lhe movem os ombros debaixo da camiseta... O movimento de sua noz quando traga... Até suas orelhas são bonitas. Jackson deixou escapar um som, entre divertido e envergonhado. —Acredito que você e eu temos um assunto pendente e que isso te está nublando o cérebro —assinalou com a cabeça e disse—: Vamos. me faça companhia fora enquanto faço os filetes. —De acordo —colocou a salada na geladeira, tirou as batatas do microondas, pô-las em uma fonte e o seguiu fora—. Pelo menos a esta hora do dia há sombra no alpendre. —Tem uma casa muito bonita. Eu gosto de —pôs os filetes sobre a churrasqueira quente e seu aroma impregnou o ar. Tomou a fonte com as batatas e lhe disse—: Sente-se e me fale. —Sobre o que? —alisou a saia de seu vestido e se sentou no banco da mesa de picnic. As flores de seu jardim atraíam às abelhas. Os carvoeiros se aproximavam do banho para pássaros e levantavam o vôo. Uma brisa ligeira fazia mover o ar quente e abafadiço. —No carro, quando esse BMW nos tirou da estrada... —amadureceu os filetes com sal e pimenta—. Só te assustou uns segundos. Alani se sentia tão a gosto que não lhe importou reconhecer sua debilidade ante o Jackson. tirou-se as sandálias e moveu os dedos dos pés. —A verdade é que quase me parou o coração. —Nada disso —enquanto deixava que se assassem os filetes, apartou-se e cruzou os braços —. Estava tão fresca como um pepino. As coisas que dizia eram entre hilariantes e escandalosas. —O que vai —enrugou o nariz e confessou—: Sou terrivelmente covarde. Jackson a assinalou com um garfo grande. —Se alguma vez tivesse tratado com um covarde de verdade, saberia que isso não é certo. —Suponho que você sim trataste com algum —o tinha imaginado enfrentando-se aos malfeitores mais cruéis e brigando a braço partido com assassinos, sempre triunfante. Mas nunca tinha pensado que tivesse que tratar com covardes. —Com muitos, sim. No fundo, a maioria dos tipos com os que tenho que lombriga as em meu trabalho com uns galinhas. Gostam de maltratar e abusar de outros porque assim se sentem mais poDareosos. Mas quando sabem que estão encurralados, em seguida começam a suplicar. —E isso os converte em covardes? —Da pior espécie. E te asseguro que você não é dessa classe de pessoas. Hoje conservaste a cabeça. depois de como nos veio em cima esse carro, muitas mulheres se teriam posto a tremer e choramingar —se encolheu de ombros—. E alguns homens também. Mas você dissimulou e me sorriu. —Não queria que outros vissem quão impressionada estava. Jackson sacudiu a cabeça. —Arrumado a que os deixou tão pasmados como a mim. Quando se voltou para a churrasqueira para ver como foram os filetes, Alani pensou no que lhe havia dito Dare. Devia confiar no Jackson? Não queria que se formasse uma idéia errônea dela. Ela também tinha tremido e choramingado muito. Às vezes, quando a escuridão se fechava a seu redor, ainda chorava. —Eu... Às vezes me assalta o pânico. Alertado por sua mudança de tom, Jackson deixou o garfo e fixou o olhar nela. —Do seqüestro, quer dizer?
Assentiu. —Vivi muitíssimo tempo como se minha vida fora um conto de fadas. Nada mau podia me ocorrer —tinha sido tão ingênua, tão boba... —Perdeu a seus pais —disse Jackson, muito sério—. Isso não tem nada de mágico. —Sei —esboçou um sorriso forçado. Ainda chorava a morte de seus pais, e falar deles sempre a punha melancólica—. depois de sua morte, Trace pareceu empenhado em me isolar de todo o negativo. Não só da tristeza, mas também de... da vida em geral. Não queria que me entristecesse, nem que me sentisse ofendida ou decepcionada por nada. —Sei que é muito protetor. —Isso é pouco —seu sorriso pareceu mais sincera—. Me vigiou sempre muito de perto, certamente muito mais do que o teriam feito meus pais. —Porque temia te perder a ti também. Alani assentiu. —Isso tem que ser muito duro para uma jovem. Como foste soltar te o cabelo se te vigiava como um falcão? —disse em são de brincadeira. —Exato —nunca tinha conseguido escapar à vigilância de seu irmão. Até que tinha ido à praia... e a tinham seqüestrado. Apertou os olhos com força. —Hey —Jackson pôs os filetes em um prato e apagou a churrasqueira. sentou-se escarranchado no banco, a seu lado, e a rodeou com seus braços. Alani disse com voz suave: —Deixei que Trace assumisse todas as responsabilidades. Era muito mais fácil que tomar as rédeas de minha vida. —E além seu irmão era quão único tinha. —Não queria defraudá-lo. Jackson lhe apartou umas mechas de cabelo da bochecha com o dedo mindinho. —Não acredito que isso seja possível. Alani se Rio pela metade. —Mas já conhece Trace. Ele destaca em tudo o que faz. Durante muitíssimo tempo, foi o homem mais forte, mais capaz e mais preparado que conheci. —Todo um super herói, né? —Jackson baixou o olhar; logo a fixou em seus olhos—. Imagino que outros nunca estavam a sua altura. —Comparados com ele me pareciam insossos, não me interessavam absolutamente. —Miúda merda. Alani refreou um sorriso e se recostou contra ele. A umidade tinha esquentado sua pele e seu cabelo, e cheirava ainda melhor que antes. adorava a suavidade de sua camisa de algodão em cima de seus músculos firmes e pronunciados. —Mas logo me raptaram Y... —E lhe resgataram —Jackson beijou sua têmpora. —E então te conheci ti. Ele deslizou a mão por suas costas, acariciando-a. —Então, eu sim estou à altura? Alani se levantou e disse tentando aliviar o tom da conversação: —Isso lhe direi isso quando provar meu filete. Jackson esperou a que seus olhos se fechassem de prazer e deixasse escapar um ronrono de satisfação. —Está bom? —perguntou. —Está delicioso. Para ele era um enorme estímulo que não fosse uma dessas garotas suscetíveis com a comida
que se alimentavam como coelhos. —É pela pimenta machismo —engoliu um pedaço de suculento filete. —Pode que também seja pela companhia —levantou as pálpebras e lhe lançou um olhar amoroso. Jackson se sentiu eufórico, apesar de que aquilo deveria ter feito sonar sinos de alarme em sua cabeça. —Então, estou aprovado? Ela se deteve com um grande bocado de salada a meio caminho da boca. —Eu diria que tem um sobressalente. —Não só assando carne? Ela baixou o garfo. —Não, não só —suspirou—. o de ontem à noite foi... foi assombroso. Voltaria a sê-lo assim que ela estivesse preparada. —Antes do seqüestro quase nunca saía com meninos. Parecia-me muito complicado, porque Trace sempre estava alerta e a maioria dos meninos desconfiavam dele, como é lógico. Jackson queria sabê-lo tudo sobre ela: o bom, o mau e as coisas que nunca deveriam ter ocorrido. —E depois do seqüestro? —Tinha medo —o disse com ar despreocupado e se encolheu de ombros. —Medo dos homens? —esperou e detrás comer uns poucos bocados mais ela voltou a olhálo. —Medo de tudo, em realidade. Quando algum menino me pedia sair, eu não deixava de me perguntar se de verdade só queria sair comigo ou se o que pretendia era me enrolar para me seqüestrar. —Isso foi o que aconteceu a praia? —perguntou Jackson. Alani começou a cortar uma batata pensativamente. —Pensei que estava sendo muito atrevida —sua risada soou envergonhada—. Tinha vinte e dois anos e por fim me tinha tomado umas autênticas férias, só para variar. Estava com umas amigas, mas todas tinham casal, seus noivos estavam ali e me sentia estranha, sendo a única sem casal. —Os meninos tonteaban contigo. —Alguns. —Indo você em biquíni? —comeu outro pedaço de carne para animá-la a fazer o mesmo—. Vamos, Alani. Seguro que tonteaban todos. Ela evitou sorrir por modéstia. —Era divertido que me fizessem tanto caso e brincar com eles —o olhou—. Inclusive nos dar uns beijos aqui e lá. Jackson sentiu que o ciúmes lhe ardiam nas veias, mas manteve um tom suave. Queria que Alani confiasse nele. —E algo mais? —Não. Então.. não —deixou seus talheres e escondeu a cara entre as mãos. Deixou escapar um som e Jackson se alarmou. Estava chorando? Normalmente, ouvir chorar a uma mulher disparava todos seus instintos de macho. Considerava que as lágrimas eram o mais feminino de uma mulher, e isso o fazia sentir-se condescendente, como um grande protetor. Freqüentemente, quando consolava a uma mulher chorosa, acabava... excitado. Mas para ouvir o Alani lhe deu um tombo o estômago e sentiu uma opressão no peito. Tomou sua mão. —Neném, está bem? Ela fez outra vez aquele ruído, uma risada seca que lhe doeu tanto como lhe teriam doído as
lágrimas. —Pensa-o, Jackson —baixou as mãos—. Quando Trace está perto, vê-o tudo. —E sempre estava perto. —Quase nunca me pediam sair, e me tinham beijado muito poucas vezes. E com o resto não tinha tido muito êxito. —Então... —era virgem quando a seqüestraram? —Arrumado a que era ainda mais ingênua do que imaginava. Jackson sentiu que um parafuso invisível lhe oprimia o coração. —Os bodes que lhe seqüestraram...? —Não —sacudiu a cabeça—. Não me violaram. Não... nesse sentido. Jackson a observou, furioso. —Estavam... enfim, estavam me reservando —esticou os lábios—. Tinha tanto medo que quase não entendia o que diziam, mas de todos os modos me fiz uma idéia bastante clara do que pretendiam. Jackson não podia mover-se. Que demônios, logo que podia respirar. —Sinto-o —ela pôs cara de chateio—. Aqui estou, nos amargurando o jantar. Ele tomou suas mãos. Precisava tocá-la. —Quanto tempo lhe tiveram seqüestrada, carinho? Como se se rompesse um dique, Alani começou a falar a toda pressa: —Quando está aterrorizada, o tempo se precipita ou se arrasta lentamente. Não distinguia o dia da noite. Pareceu-me que eram semanas, mas sei que não. Não dormia e não queria comer, mas eles insistiam. Estava tão suja que cheirava mal —apertou os dedos do Jackson—. Estávamos todas sujas. Fazia muito calor na habitação e não entrava ar fresco. E além não nos davam nada para nos limpar. Jackson sabia por suas conversações com outras vítimas de seqüestros que a perda da dignidade doía tanto como o mau trato físico. —Fazem-no a propósito. Para te derrubar —Jackson não estava seguro de que lhe estivesse escutando—. Mas você não lhes deixou. —Não sei que me derrubaram, mas me encontrava muito mal. Quando se aproximavam de mim, começava a respirar com um ruído seco e rouco, e riam de mim. Sentia tanta vergonha... Sobre tudo por como tratavam ao Molly. Molly, a esposa de Dare, tinha estado em uma situação completamente distinta. A ela não planejavam vendê-la. —Molly falava contigo? Alani assentiu. —Um dos homens me beliscava de vez em quando. Não o bastante forte para me deixar marcas, mas sim o justo para que me pusesse histérica outra vez —se mordiscou o lábio inferior—. Molly lhes gritava, insultava-lhes —fechou os olhos e sussurrou—: Não lhes importava tanto deixar marcas a ela. Jackson tragou saliva com esforço. Sabia que Dare ainda sofria pelo inferno pelo que tinha passado sua mulher. —Eu queria lhe suplicar que se calasse —o olhou fixamente com expressão se desesperada —. Mas temia dizer nada. Jackson se levou sua mão à boca e beijou seus nódulos brancos. —Me alegro de que Dare os matasse. —Sim —se recompôs pouco a pouco. Olhou seu prato meio vazio antes de esquadrinhar seu rosto—. Você também lhes teria matado? —Desde mil amores. —Há... mataste a gente? Jackson ficou imóvel e se perguntou o que devia lhe dizer, até que ponto podia ser sincero
com ela. Alani esboçou um sorriso fugaz. —Não importa. Sei que não pode me contar quase nada —começou a apartar as mãos, mas ele não a deixou. —Quando está justificado, não tenho nenhum problema em liquidar a alguém. —Em... matá-lo, quer dizer? —perguntou, indecisa. —Em matá-lo, sim. Sua resposta não pareceu afetá-la. —salvaste a alguma mulher das mãos de traficantes de pessoas? —perguntou, e acrescentou precipitadamente—: Não é que queira fofocar. Bom, suponho que em realidade sim, mas sei que o trabalho que fazem Trace e Dare agora mesmo se centra sobre tudo nisso. —Sim —vendo que estava tranqüila, soltou suas mãos e empurrou o prato para ela—. O que te parece se acabar de jantar enquanto falamos? Esperou a que dissesse que não tinha fome, mas Alani esteve de acordo e seguiu comendo o filete. —Por isso tenho entendido, Dare e Trace começaram fazendo tudo o que consideravam justo. Como salvar ao filho de um senador ao que tinham seqüestrado, resgatar a um empresário ao que tinham como refém em outro país, arrebentar uma seita —levantou uma sobrancelha— ou alguma que outra conspiração do governo. Essa classe de coisas. —Sério? Vá. Sabia que o trabalho de meu irmão era perigoso e que tinha contatos importantes, mas não que... —esteve te protegendo —e Jackson não podia reprovar-lhe Alguns dos assuntos nos que se viram envoltos não são tema de conversação apropriado para falá-lo com sua irmã pequena. —Como sabe? Tem alguma irmã? —Não, nem tampouco irmãos —não era momento de falar do Arizona, e tampouco queria entrar em comparações familiares—. Trace e Dare tiveram que as ver-se freqüentemente com negociantes de pessoas, às vezes fora do país e às vezes dentro. Logo raptaram a ti e Trace se envolveu pessoalmente no tema. —Mas para ti não é nada pessoal? Desde que a conhecia, sim. Entretanto, limitou-se a encolher-se de ombros. —Me dá bem o que faço. E eu gosto mais que qualquer outra coisa. Ela acabou de beber-se seu chá com gelo e empurrou seu prato quase vazio. —Tem muita confiança em ti mesmo, verdade? —Se se preocupar que vá manter te a salvo, deixa de preocupar-se. —Não é isso —baixou a cara com acanhamento—. Depois do seqüestro, deixaram de me interessar os homens. Mas o tentei de todos os modos. —Com o Marc Tobin —aquele nome lhe deixou um gosto desagradável na boca. —Foi por isso. A razão pela que cortamos, quero dizer. Eu queria que eu gostasse. E eu gostava como pessoa —se encolheu de ombros—. Mas como homem, nem tanto. Estava dizendo o que ele acreditava? —Não te deitou com ele? Alani duvidou um momento. Logo negou com a cabeça. —Não. Maldição. Seguro que ao Tobin aquilo o tinha tirado de gonzo. Jackson sabia por experiência. —E te cansou de que insistisse em lhe pedir isso perguntou. —Sim. Os últimos raios do sol poente pintaram o céu de vermelho aceso, projetando sombras misteriosas sobre a cara do Alani. —Mas te deitaste comigo! Ela respirou fundo e Jackson olhou seus peitos.
—Contigo —respirou duas vezes mais— e só contigo. Jackson cravou os olhos nos seus. —Foi virgem? —perguntou roncamente. E ele o tinha perdido? Nunca tinha considerado que a virgindade de uma mulher fora um dom prezado, mas no caso do Alani... sim. adorava a idéia de que ninguém mais a houvesse meio doido. —E esteve incrível —inclinou a cabeça, tímida mas decidida—. O estive pensando após, e, se não te me importa ensinar isso tudo, tudo o que me perdi... —Claro que não me importa —se apressou a respondeu ele. Mas Alani não tinha acabado: —Se não te importar que tenhamos uma relação sem ataduras... —deixou a frase inacabada e o olhou com espera. Que demônios...? Jackson franziu o cenho, ofendido, sem saber o que responder a isso. Ela suspirou brandamente, quadrou os ombros e o olhou com fixidez. —Bem, então, eu gostaria... já sabe. Maldição, isso de «sem ataduras» ainda lhe ardia. Não estava preparado para diseccionar seus sentimentos, mas sentia algo por ela. Muitas coisas, em realidade, e não todas físicas. Tirava-o de gonzo que para o Alani ele não fora tão importante. —Quer experimentar comigo? É isso o que está dizendo? —perguntou-o com um sorriso de ironia, confiando em que ela retificasse, em que lhe dissesse que queria algo mais. Mas Alani assentiu com a cabeça. —Sim —e como se o pensasse melhor acrescentou—. Por favor. Deus, queria utilizá-lo. Sexualmente. Acabava de admiti-lo sem rodeios. Jackson se sentiu como um camundongo de laboratório: um camundongo de laboratório muito, muito excitado. Pensar em tudo o que Alani quereria provar, nas coisas que podiam fazer, o fazia abrasar-se de desejo. Empurrou a um lado tudo o que havia sobre a mesa e estirou os braços para ela. Sempre tinha sabido que tinha um ponto débil. E Alani (bento fora seu inocente coração) acabava de encontrá-lo. Capítulo 9
Jackson a agarrou pelos braços e devorou sua boca apaixonadamente. Um instante depois, estava a seu lado da mesa de picnic e se colocou diante dela como se queria protegê-la com seu corpo tenso. Mas proteger a do que? Empunhava uma faca de carne com a mão direita. Alani reconheceu a forma mortífera em que o agarrava pelas demonstrações que lhe tinha feito seu irmão. Tentou acostumar-se às novas circunstâncias. Nem sequer sabia como tinha chegado tão rapidamente a seu lado da mesa. E certamente ignorava por que empunhava uma faca. —Pode-se saber o que...? —Entra em casa. Aquela áspera ordem não admitia discussão, mas Alani se negava a partir sem saber por que. Olhou por cima de seu ombro mas só viu seu jardim. Ali não havia nenhum perigo. —Jackson, pode me dizer o que...? de repente Marc Tobin, seu exnovio, apareceu a cabeça pela esquina da casa. Ao vê-los ficou parado. olharam-se. Marc olhou primeiro ao Alani e logo ao Jackson, de cima abaixo. —Marc —Alani teve que falar desde detrás do Jackson, porque ele não deixava que o
rodeasse—, o que faz aqui? Não tinha tido notícias delas desde que lhe havia dito tajantemente que tinham terminado. Sua relação não tinha terminado bem, embora em realidade nunca tinha sido realmente uma relação de casal. Alani, em todo caso, não acreditava que Marc supusera nenhum perigo. Podia ser um chateio, sim, mas não lhe faria mal. —bati na porta —seus olhos escuros olharam ao Jackson e logo ao Alani, que aparecia por detrás dele, nas pontas dos pés. Jackson, que parecia mais depravado, deixou de empunhar a faca em atitude ameaçadora, mas seguiu retendo o Alani a suas costas. Marc deu outro passo para eles com expressão indignada. —O que está acontecendo aqui? Alani, está bem? Ela voltou a aparecer por detrás do Jackson... e viu que Marc parecia disposto a lutar por salvá-la. Se deixava que isso ocorresse, Jackson o aniquilaria. Não lhe cabia a menor duvida. —Estou bem —deu um beliscão ao Jackson no traseiro e disse energicamente—: Desculpa —logo o rodeou. Jackson, que seguia com o olhar fixo no Marc, deu um coice. —Ai! —alargou o braço e a agarrou pela boneca para que não se separasse de seu lado—. interrompeste nosso jantar —disse dirigindo-se ao Marc. Atônita por sua grosseria, Alani lhe deu uma cotovelada, mas esta vez Jackson não se alterou. ficou ali, inamovible, com o olhar cravado no Marc. —Por amor de... —não queria montar uma cena, assim compôs um sorriso—. O sinto, Marc, mas está claro que me pilha em mau momento. —Estava sendo estupendo até que apareceu ele —grunhiu Jackson. —Agora o entendo —Marc pôs os braços em jarras, furioso—. Me deixou por ele. —Nunca estive contigo —lhe recordou Alani—. Saímos umas quantas vezes, isso é tudo. —Eu queria mais. Sim, queria sexo. E quando não tinha aceito um não por resposta, ela o tinha deixado. —Isso não ia acontecer e você sabe. —Porque estava follando com ele, verdade? Alani ficou boquiaberta. —Está-te passando da raia. Foi quase um milagre que Jackson guardasse silêncio. Claro que talvez não lhe importava muito que Marc ficasse em evidencia diante dela. Vestido com um pulôver e umas calças de vestir negros que marcavam sua figura magra e musculosa, Marc ia tão impecável como sempre. Conseguiu passar uma mão pelo cabelo escuro e bem talhado sem despentear-lhe o mais mínimo. —Preciso falar contigo, carinho. A sós. Jackson respondeu: —Nem o sonhe —e quando Alani tentou passar a seu lado, acrescentou—: Não tem nada que te dizer, colega. É uma lástima, mas assim são as coisas. Alani o olhou com aborrecimento e disse: —Me deixe passar. Ele entreabriu os olhos, mas se encolheu de ombros com aparente indiferença e a soltou. Alani deu uns passos para o Marc. —Lembra-te do Jackson Davidson? —Sim, coincidimos uma vez —respondeu Marc sem apartar os olhos dela—. Não poderíamos falar a sós? Alani se desculpou. Sabia que era impossível, sendo Marc um possível suspeito, por ridícula que lhe parecesse com ela essa idéia. —Marc —disse em voz baixa—, o nosso se acabou. Não há nada mais que dizer.
Ele respirou fundo. —Então eu tinha razão. Agora está com ele? —assinalou com a cabeça ao Jackson. Para alívio do Alani, Jackson não disse nada. Quando o olhou, viu que estava esquadrinhando a zona que havia mais à frente do jardim traseiro. Enrugou o cenho e se voltou de novo para o Marc. —Estamos saindo, sim —disse. —Se está saindo com ele como saía comigo, então não te deitaste com ele? Já estava bem. Alani jogou os ombros para trás. —Isso não é teu assunto. Pinjente que se acabou e o disse a sério. Marc deu energicamente um passo para ela. Alani se sobressaltou, temendo que Jackson o atacasse. Olhou para trás a tempo de ver que se sentou à mesa com expressão aborrecida. Que estranho. E resultava quase insultante. —Quero que seja meu assunto —disse Marc sem fazer caso do Jackson—. Disso quero te falar. Sei que... que o chateei tudo. Alani não queria ter aquela conversação diante do Jackson. —A verdade é que não tem nada que ver contigo, Marc —ele não era Jackson, assim que o seu não teria podido funcionar por mais que fizesse ou dissesse. Marc negou com a cabeça. —Pressionei-te e o sinto muitíssimo. Deveria ter sido mais paciente. Jackson fez ranger seus nódulos e bocejou sonoramente. Consciente de que Jackson era imprevisível, Alani tentou pôr fim à conversação quanto antes. Tomou ao Marc das mãos. —Teria dado igual, Marc. Sinto muito, mas o nosso não podia funcionar. —Não me acredito —atirou dela e acrescentou em tom mais íntimo—: Nos passávamos isso bem. Estava começando a te apaixonar por mim, só necessitava mais tempo. Jackson deixou escapar um som de impaciência. Marc acrescentou em tom condescendente: —Não me dava conta de que tinha inibições sexuais. Os olhos do Alani brilharam para lhe ouvir dizer aquilo. —Mas o superaremos —baixou a voz e adicionou—: Tenho algumas ideia. —Tobin —disse Jackson com incredulidade—, é um autêntico troglodita, sabia? Um troglodita? Isso era quão único ia dizer lhe? Alani o olhou perplexa. Ele se encolheu de ombros. —Bom, o é —e acrescentou—: Você não tem nenhuma inibição. Isso era certo. Com o Jackson não as tinha, nem sexuais nem de nenhuma outra classe. Marc a beijou no pescoço. —Me dê outra oportunidade, Alani. Uma quebra de onda de repulsão fez que Alani voltasse para presente. —Não. Tentou separar-se dele, mas Marc o impediu. —Se me der outra oportunidade, posso te ajudar. Ajudá-la? —É um troglodita! —ai, Deus, agora falava como Jackson. —Quando quiser que intervenha —lhe disse Jackson perezosamente—, me avise. —Que lhe jodan! —gritou Marc. Jackson levantou uma sobrancelha. —O que me diz, céu? Não podereia amassá-lo só um pouco? Alani soltou um grunhido. Jackson estava deixando que fora ela quem dirigisse a situação, mas ela sabia que tinha que estar lhe custando um enorme esforço não intervir. Marc, que era um homem ardiloso, deveria haver-se dado conta do perigo que corria. Mas ao parecer não era assim.
Era hora de tomar as rédeas. —Não necessito... —Nos tomaremos com calma, neném, prometo-lhe isso —a beijou na frente enquanto ela tentava apartar—. Te facilitarei as coisas. E você adorará. —Quer te calar de uma vez? —replicou ela, muito tinta. Lhe revolveu o estômago. Marc nunca a tinha atraído sexualmente. Nenhum homem a tinha atraído, até conhecer o Jackson—. Eu não tenho nenhuma inibição. —Claro que não —arrebitou Jackson. —E não necessito sua ajuda —acrescentou Alani elevando a voz antes de que Marc pudesse reagir ao sarcasmo do Jackson. Ele acariciou seus antebraços. —Mas parecia sempre tão tímida... Lhe apartou as mãos bruscamente. —A ti o que te passa? Como te atreve a falar disto aqui, agora? —Estando eu presente, quer dizer —acrescentou Jackson—. O chateaste tudo, tio. Chateaste-o de verdade. —Não está ajudando, Jackson —Deus a protegesse do gênero masculino. —Não me deixa ajudar —respondeu ele. —Importaria-te entrar em casa? Ele soltou um bufido. —Posso fazer pedaços a este tio, isso é o que posso fazer —Jackson se levantou tranqüilamente e se ergueu diante deles, alto, largo de ombros e imponente. Pondo cara de súplica, acrescentou—: Anda, Alani. Deixa que lhe pegue. Está-o pedindo a gritos. Marc ficou tenso, grunhiu e apartou ao Alani. —por que não o tenta? Alani sentiu que devia ser justa. ficou diante dele. —Só para que saiba, destroçará-te. E tendo em conta como te está comportando, possivelmente deixe que o faça. —Não sou um covarde —Marc flexionou as mãos—. Sei me defender. —Nunca hei dito o contrário, mas não te deixe enganar pela atitude despreocupada do Jackson. Está desejando brigar contigo e a verdade é que não é rival para ele —em nenhum sentido —. Deveria me fazer caso. —Desmancha-prazeres —resmungou Jackson. Marc ficou nas pontas dos pés, deu um salto à direita, logo à esquerda e logo outra vez à direita. Jackson colocou o queixo. —Que demônios...? Marc saltou para ele lhe lançando um feroz murro. Jackson sorrio ao esquivar o golpe sem nenhum esforço. Raivoso, Marc tentou golpeá-lo de novo... e falhou outra vez. Jackson sorriu. —O que é isto? Um número cômico? Quando Marc voltou a equilibrar-se para ele, atirou-lhe um rápido murro na mandíbula. Marc pôs os olhos em branco, ficou rígido e caiu para trás com as pernas dobradas e os braços estendidos. Alani sufocou um grito. —Jackson! —O que? —ele olhou tranqüilamente ao Marc—. Se pôs a saltitar e a me tocar os narizes. foi um reflexo. —Não tinha que deixá-lo inconsciente.
—E o que queria que fizesse? Abraçá-lo? —fez uma careta—. Quase nem lhe hei meio doido. Como ia ou seja que tinha a mandíbula de cristal? Alani ficou de joelhos e deu umas palmadas na cara fofa do Marc. —Marc? Voltou em si e a olhou com expressão confusa e sonolenta. Tinha começado a amoratársele a mandíbula. —Não te peguei tão forte, nenaza —Jackson o moveu com o pé—. te Levante, pelo amor de Deus. Marc grunhiu. —O que passou? —Que te deixou inconsciente, isso é o que passou! —Alani se tornou para trás e acrescentou, furiosa—: Te disse que não te colocasse com ele, não? Disse-te que passaria isto. Com as mãos nos joelhos, Jackson olhou ao Marc. —Disse-lhe isso. Marc ficou olhando-o um momento. Depois, sentou-se fazendo uma careta. —Não queria te incomodar. —Pois já o tem feito —Alani se compadeceu dele—. O nosso se acabou, Marc. para sempre. Ele moveu a mandíbula e fez outra careta de dor. —Por culpa dele. —OH, por amor de... —levantou-se—. Jackson não tem nada que ver. por que não reconhece que você tampouco estava tão interessado? Não, não faz falta que diga nada, Marc. Não sou tola. Sei que feri seu ego masculino, e o lamento. Seriamente. Mas para ti não era mais que uma provocação. Em realidade não me deseja. Jackson soltou um bufido. —Se isso for certo, é um cretino, além de um troglodita e um bocazas. Alani se girou bruscamente para ele e Jackson levantou as duas mãos em um gesto de rendição. Ela o olhou, desafiando-o a dizer uma palavra mais, e esperou, mas Jackson se limitou a esboçar um sorriso inclinado. Alani assentiu com a cabeça, satisfeita. —Deveria ir, Marc —disse. Tinha a impressão de que aquele dia não ia acabar se nunca. Ele olhou ao Jackson com cautela e se levantou. —Não quero te deixar reveste com ele. É violento. Ela pôs cara de chateio. —A verdade é que demonstrou um grande controle sobre si mesmo. —Obrigado, carinho —disse Jackson em tom sexy. Ela não se voltou para olhá-lo. —Acabaram-se os dramas, Marc. Quero que vá. Ele vacilou. Logo a atraiu para si para lhe dar um abraço e lhe sussurrou ao ouvido: —Se me necessitar para o que seja, me chame. Arrumarei-o de algum modo, de acordo? —Claro, obrigado —respondeu, embora não pensava chamá-lo. Jackson se moveu detrás dela. —Dou-lhe dois segundos, Alani. Depois, voltarei a deixá-lo inconsciente e não me importa o que pense. Alani se largou dos braços do Marc e compôs um sorriso. —Adeus. Marc fechou os punhos, deu meia volta e por fim se foi com passo um pouco vacilante. Quando Alani começou a falar, Jackson levantou um dedo. Nos cinco minutos anteriores, Jackson tinha tido mais mudanças de humor que uma mulher menopáusica. Primeiro excitado, logo aborrecido, depois agressivo e agora alerta. ia voltar a louca. Jackson a agarrou pela mão para levá-la à casa. Alani o seguiu sem pigarrear. Notava que
algo lhe preocupava. Conduziu-a através da casa, até a janela dianteira, onde apartou a cortina com um dedo para olhar fora. Alani ficou atrás e cruzou os braços. —Pode-se saber o que está fazendo? —Me assegurar de que esse bode parte. Ela compreendeu que se referia ao Marc. —por que não ia partir? —E por que não chamou para te avisar de que vinha? —seu rosto se esticou enquanto observava a rua—. por que rodeou a casa sem fazer ruído? antes de que ela pudesse questionar seu argumento, acrescentou: —Tentava te surpreender, carinho. Se não, o teria ouvido muito antes. Assim, a diferença dela, ele não tinha perdido a noção do tempo e o espaço enquanto se beijavam? Genial. Tinha sido muito prudente ao lhe pedir uma relação sem ataduras. Não havia por que alertar o de que estava já meio apaixonada por ele. Desejava-o, disso não havia dúvida. Mas tinha seu orgulho. Não sabia o que sentia Jackson e enquanto não soubesse preferia não falar abertamente de seus sentimentos. —Tinha vindo outras vezes a casa, Jackson. Não tinha por que vir às escondidas. —Ah, não? Então, por que estacionou na rua, tão longe da casa? Impossível. Alani ficou diante do Jackson para olhar pela janela. —Esse é seu carro, verdade? —perguntou ele com o nariz pego a seu cabelo—. O Mercedes cinza metalizado? —Sim —murmurou Alani—, é seu carro. Jackson esfregou o nariz contra seu pescoço. —Não é tão luxuoso como o BMW, mas mesmo assim é bastante caro. Efetivamente, Marc tinha estacionado várias casas mais abaixo, apesar de que estava acostumado a estacionar no caminho de entrada. O que estava tramando? —Pode que tenha visto seu carro. Não sei. Tem suposto que estava com outro e quis... jogar uma olhada? Até lhe soou pouco convincente. —Crie que queria te espiar? —deslizou um braço em torno dela e abriu a mão sobre seu ventre—. Não me trago isso. Ao ver que Marc se metia no carro e se preparava para arrancar, Alani se separou da cortina. —O que você crie que estava fazendo? —Além de comportar-se como um troglodita? Não podia defenDare ao Marc: comportou-se fatal. —Não está acostumado a ser assim. —Dá-me igual como seja, não quero que te toque —Jackson a agarrou pelas bonecas e a fez voltar-se de modo que ficou de costas à parede, junto à janela—. E além te insultou. Embora seus gilipolleces não lhe tenham afetado, me dá vontade de apagar sua lembrança de sua memória. Não era necessário. Estando Jackson a seu lado, como ia pensar em outro homem? Vibrando de desejo, Alani se retorceu entre seus braços. —O que sugere? Seus olhos brilharam. Inclinou a cabeça para beijá-la, mas o beijo não durou muito. —Será muito em breve, carinho. Muito em breve? Mas o corpo e o cérebro do Alani já se anteciparam ao que foram fazer. quanto antes. O entardecer tingia de rosa, púrpura e laranja o céu cinzento. Tinha refrescado, mas não o
suficiente. Os mosquitos zumbiam sem descanso. Assim Jackson tinha uma nova noiva... Vá. Ou possivelmente, tendo em conta que a maioria das mulheres não lhe duravam mais de uma noite, aquela fora sua primeira noiva de verdade. A rubita, miúda e delicada, não só o tinha levado a sua casa, mas sim lhe tinha feito enfrentar-se com outro tio. Que interessante. Os prismáticos tinham sido um investimento estupendo. Faziam-lhe mais fácil vê-lo tudo, até desde muito longe. Era uma novidade ver o Jackson cozinhando ou sentado a uma mesa de picnic para comer. Naturalmente, não tinha durado muito: ao pouco momento tinha convexo a pobre mulher sobre a mesa para apoderar-se de sua boca. Jackson Savor não tinha sentido da moderação. Por sorte tinha aparecido o outro tipo e lhes tinha interrompido quando a cena começava a voltar-se nauseabunda. As vozes não chegavam tão longe, mas não fazia falta ser um gênio para interpretar os gestos. Embora tinha tentado dissimular, ao Jackson não tinha gostado que o outro falasse com ela, que a tocasse. Não estava sozinho protegendo-a. Não, estava deixando claro que era dela, custodiava-a como a sua posse mais apreciada. Estava apaixonado? O amor podia utilizar-se contra uma pessoa. Era uma arma muito poderosa. Jackson ia ter um montão de problemas. Logo se veria até que ponto estava preparado para enfrentar-se a eles. Maldição, que difícil era dar as costas ao Alani, sobre tudo estando tão... disposta. Por fim. Se todas aquelas interrupções lhe tivessem acontecido a outro, a situação lhe teria parecido hilariante. Mas não tinha tanta graça quando o que sofria uma ereção perpétua era ele. Sentia, não obstante, uma ameaça. Possivelmente fora Tobin, ou possivelmente não. E não podia arriscar a segurança do Alani. Tirou seu móvel. —A quem chamas? —perguntou Alani, ofegante. Jackson teve que fechar os olhos para controlar as vontades de mandar ao garete suas responsabilidades. —A seu irmão. Ela levantou as mãos. —Genial. É obvio, mantén informado a Trace. Eu vou recolher a mesa. Jackson lhe fez dá-la volta, deu-lhe um forte beijo e disse junto a sua boca: —Gosta de muitíssimo que estejamos juntos, quero que saiba —esquadrinhou seu olhar, desejando que o entendesse. Ao ver que assentia, beijou-a outra vez—. Farei que a espera valha a pena, prometo-lhe isso. Alani agarrou seu cinturão e lhe deu um pequeno puxão. —vou tomar te a palavra —disse. Jackson ficou ali, excitado, enquanto ela se afastava. Quando cruzou a porta traseira, se espabiló e foi atrás dela. Até que descobrisse o que estava passando, não queria perder de vista. Pulsou uma tecla para chamar a Trace. Seu amigo respondeu ao primeiro assobio. —Sim? Alani entrou levando uma bandeja cheia de coisas e ele a seguiu. —Estão em meu apartamento?
—Sim —Trace parecia distraído—. Mas não estamos encontrando grande coisa. —Temia-me isso, mas valia a pena tentá-lo. —Por isso chamaste? —Não —vigiou os movimentos do Alani enquanto começava a enxaguar os pratos e a colocá-los no friegaplatos—. Sei que estão ocupados, assim poderia encarregar-se Chris de fazer averiguações sobre o Tobin? —Chris, o amigo e ajudante de Dare, tinha acesso a toda classe de informação. —Já as temos feito. Supostamente está em excedencia. Seus empregados acreditam que está no estrangeiro e, segundo eles, foi mais ou menos na mesma data em que Alani cortou com ele. Custa-me acreditar que se esteja tomando tão a peito a ruptura, mas quem sabe? Posso indagar um pouco mais, mas... Jackson recuperou por fim a fala. —Acaba de estar aqui. Um silêncio. Logo: —Que interessante. —Sim —Jackson viu que Alani esboçava um sorriso tímido e curioso—. O deixei k.o. — acrescentou distraídamente. —Pode me dizer por que? —Sim, se... —Alani se aproximou dele e Jackson disse—: Espera um segundo —tampou o telefone. Ela juntou as mãos e se esclareceu garganta. —Vou me dar uma ducha —disse. Jackson ia oferecer se a tomar banho com ela, mas Alani o cortou: —E vou fechar a porta —adicionou. Tentou pôr cara de severidade, mas pareceu acalorada e um pouco nervosa—. Um homem prudente saberia que é melhor não interromper. Pela cabeça do Jackson começaram a desfilar imagens muito explícitas: Alani nua, molhada e coberta de espuma... Tragou saliva e conseguiu assentir com a cabeça. —Se demorar, entrarei. Só para que saiba. ficou tinta e entreabriu os lábios. —Assim que acabe, limparemos o ambiente. Limpar o ambiente? De tensão sexual? Por ele, estupendo. —Refere-te...? —A que vamos falar. Quer dizer, se seguir disposto a responderia a algumas pergunta. Lhe ocorriam um montão de coisas distintas que preferia fazer, mas se encolheu de ombros. —Claro, se não haver mais remédio... Ela fixou o olhar em sua boca e tocou seu peito. —E logo prometeste me ajudar a recuperar o tempo perdido. Ah, sim. Essa promessa sim pensava cumpri-la, e como. —Não te incomode em te vestir depois da ducha. —Jackson —lhe advertiu—, quero que falemos primeiro. —E vamos falar. Na cama. Nus —tocou sua bochecha—. Trato feito? O desejo obscureceu os olhos dourados do Alani. de repente parecia sonolenta. Assim imaginava Jackson depois de um orgasmo. Ela respirou fundo duas vezes, assentiu com um gesto e se afastou. Jackson observou o suave rebolado de seus quadris e o movimento de sua larga juba loira sobre suas costas. Aproximou-se o telefone à orelha e disse apressadamente: —Tobin o tinha merecido. comportou-se como um imbecil, ofendeu ao Alani, até me desafiou... —Não me diga.
—Pois sim —ainda lhe custava acreditar que aquele idiota tivesse tentado lhe golpear. Sacudiu a cabeça—. Deixei que tentasse me golpear duas vezes antes de lhe dar um murro. deprimiu-se e quando voltou em si Alani lhe disse que partisse. Trace-se Rio. —Te figure. E a que foi? —Ainda não sei —lhe explicou que tinha estacionado na rua—. O carro estava muito longe, não pude ver o número de matrícula, mas o anotei quando o conheci. —Já o tenho. Jackson imaginava. —Eu me encarrego de averiguar o que se traz entre mãos Tobin. Há- dito já ao Alani o do Arizona? Demônios, ainda não tinham tido tempo de falar comprido e tendido. Embora não queria reconhecê-lo nem sequer ante si mesmo, temia aquela conversação. Podia significar a ruptura, e não queria arriscar-se a isso. Ainda não. Olhou para o corredor por onde se foi Alani. —O contarei logo. —Mais te vale, porque lhe mandaram uma carta da escola. Merda. Não lhe tinha dado chave de sua rolha a Trace, mas isso não teria detido a seu amigo. Consciente de que tinha lido a carta, perguntou: —Me diga o que diz. —São muito discretos. Informam-lhe que é necessário que lhe reúnas com eles. Essa estava acostumado a ser a mensagem. O que tinha passado agora? Jackson exalou um suspiro. —Encarregarei-me disso —depois de encarregar-se do Alani. Mas de momento queria esquecer do assunto do Arizona—. me Avisem se averiguarem algo. —O mesmo digo —Trace cortou a chamada. Jackson passeou o olhar pela casa. Ouviu correr a água da ducha, de modo que calculou que ainda dispunha de uns minutos. Percorreu a casa fechando janelas e tomando algumas medidas de segurança extra para poder ocupar-se do Alani sem ter que preocupar-se com que entrasse algum intruso. Seguiria atento, claro, mas ao menos poderia relaxar-se um pouco. Ouviu que o grifo da ducha se fechava e lhe esticou a entrepierna. Começou a excitar-se com só pensar nela. antes de que Alani saísse do banho, tirou de sua mochila uma caixa de preservativos. Entrou no dormitório, abriu a cama, deixou os preservativos e fez espaço para suas armas. Alani entrou envolta em uma toalha, com o cabelo recolhido em um coque no cocuruto. ficou paralisada na porta ao vê-lo. Deus santo, era a coisa mais tentadora que Jackson tinha visto nunca. A toalha apenas lhe cobria dos peitos à parte alta das coxas. Tinha os joelhos juntos e seus pés nus se tocavam. Agarrando com força a toalha, umedeceu-se os lábios. —Estava me esperando? —Estava-me preparando —se tirou a camiseta e a jogou em uma cadeira. Logo se sentou na cama e se desatou os cordões das botas. Enquanto se tirava as botas e os meias três-quartos, disse —: Eu também vou me dar uma ducha rápida. Pode ficar aqui, na cama, até que acabe? Ela assentiu. —Sim —mas não se moveu. Jackson lhe sorriu... e se levantou. Com a vista fixa em seus olhos, desabotoou-se o grosso cinturão. Alani abriu os olhos de par em par. Jackson sujeitou a pistolera que levava a altura dos rins e deslizou a correia de couro negro pelas presilhas de seu jeans. Tirou a Beretta da capa para poder levá-la consigo, mas pôs sobre a
mesinha de noite a pistolera e o cinturão, junto com a faca que tinha tirado de sua bota. Alani o olhou de cima abaixo. —O que vais fazer com a pistola? —perguntou. —Nada, espero. Mas vai comigo a todas partes —descalço e com o peito nu, aproximou-se dela. Sentiu o aroma da nata corporal que tinha usado e a fragrância mais sutil e sensual de sua pele e seu cabelo. Deixou que seu olhar se deslizasse sobre ela, dos estreitos ombros até a parte de acima de seus peitos, ainda úmida da ducha. Mantendo a pistola afastada dela, levantou a mão livre e apartou umas mechas soltas de sua têmpora. Tremeu-lhe a mão. Com o cabelo recolhido para cima, via como palpitava a veia de seu pescoço. Tocou seus nódulos com um dedo. —Está bem, carinho? Tem cara de ir deprimir te —deslizou o dedo para cima para tocar seus peitos—. Preferiria que estivesse acordada e participasse, sabe? Ou inclusive que gemesse uma ou duas vezes. —Só estava... esqueci trazer a bata do quarto de banho, assim não... Pouco a pouco, lhe afrouxou os dedos. imaginou aqueles dedos suaves e delicados agarrando seu verga, apertando-a com força, e lhe deu um tombo o estômago. Tentando dominar-se, levou-se sua mão à boca e beijou seus nódulos. —vamos afrouxar a toalha, de acordo? —pôs a mão do Alani sobre seu antebraço e desenrolou lentamente a toalha, sujeitando-a junto a seus flancos. Logo contemplou sua nudez—. meu Deus, faz que me encha a boca de saliva. Alani se cambaleou para ele, mas Jackson retrocedeu para seguir olhando-a a prazer. —Ainda não. Alani queria proteger seu coração contra ele, não queria «ataduras». Bem. Conseguiria assumi-lo de algum modo, mas não lhe seria fácil porque sentia um impulso irrefreável de estreitála entre seus braços e lhe prometer coisas absurdas. O desejo corria por suas veias, mas não era isso principalmente o que sentia. Uma mescla estranha de emoções ameaçava embargando-o. Ela se estremeceu. —Tem frio? —perguntou Jackson. Alani baixou a cara e sacudiu a cabeça. —Tem os mamilos eretos —queria senti-los pegos a seu peito; queria meter-lhe na boca para chupá-los, atirar deles, lambê-los... Deixou cair a toalha e pôs as mãos sobre seus peitos, fechou os olhos um momento enquanto sentia seu tato sedoso. Alani se estremeceu. Ele tocou os mamilos arrepiados com os polegares, apertou-os brandamente entre seus dedos, atirou deles um pouco... e a ouviu gemer. Sujeitando-a assim murmurou: —Ainda está dolorida? Ela negou outra vez com a cabeça e voltou ainda mais a cara. Jackson se obrigou a apartar o olhar de seus peitos e a olhá-la à cara. —Alani? Ela cravou os dedos em seus bíceps. Não disse nada. Jackson tocou seus peitos uma última vez e os soltou. Ela deixou escapar outro gemido e se cambaleou outra vez. Excitava-se tão facilmente que Jackson se abrasava de desejo. Fez-lhe levantar a cara para obrigá-la a olhá-lo. Seus olhos tinham uma expressão suave, aveludada e sonolenta. —Preciso sabê-lo, neném. Isto te traz más lembranças ou é sozinho acanhamento? —Más lembranças, não. É sozinho que não estou... —passou-se a língua pelo lábio e respirou várias vezes—. Não estou acostumada a estar nua diante de ninguém. —Então, é acanhamento, mas não está incômoda? —Não.
—Bem —sorriu com decisão—. Te acostumará a que te olhe, porque vais estar muito tempo nua diante de mim —e como ainda lhe ardia que não quisesse «ataduras», acrescentou—: Forma parte da experimentação. Alani pareceu angustiada sozinho um instante. —vou empurrar te a fazer certas coisas, mas me assegurarei de que desfrutes de cada momento, e penso cumprir minha promessa. Ela assentiu com a cabeça e se apertou contra ele, rodeando suas costas nua com os braços. Seus mamilos duros se esmagaram contra o peito do Jackson. Consciente de que não podia lhe ver a cara, ele fechou os olhos e a envolveu com seus braços. O desejo de que fora sua se apoderou dele. Não podia ver o futuro, ignorava como reagiria ela quando soubesse o do Arizona, mas de momento era seu e só dela. —Se em algum momento lhe entram dúvidas, quero que me diga isso —depois do pesadelo que tinha vivido, era muito provável que aflorassem más lembranças e sensações negativas—. vamos fazer isto por prazer. Para que desfrute, Alani. Entendido? —Sim —beijou seu peito—. Mas é tão distinto a esses homens que quando estamos juntos nem sequer me lembro deles. Deus... Baixou as mãos até seu traseiro, acariciou-a e a fez ficar nas pontas dos pés enquanto apertava a cara contra seu cocuruto. Queria follársela, claro. Não estava morto. Mas também queria mimá-la, lhe fazer o amor, primeiro apaixonadamente e logo devagar e com ternura. Queria que seu encontro fora fogoso e tórrido e queria que fora especial. Porque ela era especial. Não era fácil separar o carnal do sentimental, mas era ela quem tinha marcado as normas, assim Jackson a apartou e compôs um sorriso. —Me espere na cama. Alani olhou seu peito e seu ventre. Sua respiração se acelerou e assentiu com a cabeça. Pensar nela entre os lençóis, nua e ansiosa, era o incentivo que necessitava Jackson para dála ducha a toda pressa. —Em seguida volto —partiu antes de que pudesse trocar de idéia. Alani precisava falar e ele precisava controlar a situação. Mas para isso tinha que controlarse a si mesmo, em primeiro lugar. Custasse o que custasse, faria-a desfrutar. Capítulo 10
Tampada com a colcha, com as costas apoiada no almofadão, Alani sentiu que sua espera crescia a cada segundo que acontecia. Suas idéias e seus sentimentos se agitavam em um torvelinho depois de como a tinha despido Jackson, de como a tinha cuidadoso e acariciado. A noite anterior todo se desenvolveu com naturalidade. Essa noite era tudo tão distinto como se estivesse com outro homem. Mas Jackson seguia sendo incrivelmente desejável. Incapaz de evitá-lo, escutava cada ruído que fazia ele. Estava tão acostumada a sua casa, a viver sozinha, que podia seguir cada um de seus gestos só com o ouvido. O grifo que se abria, o grifo que se fechava, o silêncio enquanto se secava com a toalha, o ruído que fazia a porta do banho ao abrir-se, os passos no corredor que levava a dormitório... Seu coração ameaçava estalando de desejo, de incerteza, de urgência. O fato de que Jackson se comportasse de maneira tão distinta o intensificava tudo. Era quase como se fossem fazer o amor pela primeira vez. Como seria, agora que Jackson havia tornado a ser o de sempre? A noite anterior
transbordava palavras de amor, de carinho, de compromisso... Esse dia, em troca, tinha aceito sua proposta de manter uma relação sem ataduras. Seus pensamentos se dispersaram quando ele cruzou a porta. Nu. E excitado. Alani não pôde tragar saliva. Logo que podia respirar. negou-se a apartar o olhar. Tinha o corpo mais espetacular que tinha visto nunca. —te relaxe, neném —se aproximou tranqüilamente à mesinha de noite como se não lhe envergonhasse o mais mínimo estar nu. —Não é fácil relaxar-se, dadas as circunstâncias —repôs ela em voz baixa. Jackson esboçou um sorriso. Pôs a Beretta negra sobre a mesinha de noite, junto com o facão, o cinturão e a pistolera. —Queria falar, não? Pois vamos falar. Em que demônios tinha estado pensando? Olhou-o de cima abaixo, perguntando-se se seria capaz de esperar. Jackson separou os pés. —Quer que fique aqui um pouco mais? Não me importa que me olhe, sabe? Que demônios, eu gosto. Queria ela? Podia passar-se todo o dia olhando-o, mas não lhe bastaria com isso. —antes de que lhe ditas, deveria saber que me excita que me olhe com esses olhos tão grandes, como se te fascinasse me olhar, assim, quanto mais me olhe, mais breve será nossa conversação. Ela seguiu sem dizer nada. —Te comeu a língua o gato? Acredito que será melhor que eu tome as rédeas, não? — levantou a colcha e se meteu na cama, a seu lado—. O primeiro que temos que fazer... —atirou da colcha e a baixou até que os peitos do Alani ficaram ao descoberto—. Assim está melhor. Esteve olhando-a um bom momento. Seus olhos ardiam. Sua mandíbula vibrava. Alani não sabia onde pôr as mãos, o que fazer, o que dizer. A noite anterior, Jackson a tinha seduzido com seu romantismo. Agora, abrasava-a com seu desejo descarnado. Gostava mais assim. —Faz a primeira pergunta —disse ele tranqüilamente—. Estou fazendo tudo o que posso, mas isto não me resulta fácil, assim date pressa ou vou perder o controle e a me equilibrar sobre ti. Ela olhou as armas e voltou a fixar os olhos nele. Com a boca seca, disse: —Sua forma de te comportar com o Marc, a facilidade com que lhe tirou isso de cima... —Não foi nada. É um adoentado. Sim, tinha razão. Possivelmente o fora para ele, mas para um homem corrente Marc era um tipo atlético, capaz e cheio de arrogância. Sua riqueza lhe dava poder, e entretanto Jackson o tinha tratado como se fora um valentão de pátio de recreio. —vais falar me de ti? —O que precisa saber? Era estranho que o tivesse expresso assim: o que «precisava» saber, não o que «queria» saber. Era assim como o via? Considerava suas perguntas um requisito que tinha que cumprir? Diria-lhe somente o justo para aplacar sua curiosidade? Era tão hermético como seu irmão e Dare, e bem sabia Deus que esses dois esquivavam até as perguntas mais corriqueiras. —Não quero te pressionar... —Não passa nada —moveu as pernas e deslizou uma de suas coxas peludas sobre o joelho do Alani—. Eu também quero te fazer umas perguntas. Sim? Bom, então... —Quero sabê-lo tudo sobre seus orígenes. Sobre sua vida. Quero saber que influências fizeram que te convertesse em uma pessoa capaz de fazer o que faz. —A que te refere exatamente? —Enfrenta-te ao perigo como se fora uma brincadeira. Em um grupo de machos alfa, você tomaria o mando e ninguém o questionaria. Pode ser mortal, mas tem uma atitude tão relaxada que enganaria a qualquer.
Jackson se encolheu de ombros e, como tinha a colcha à altura da cintura, Alani via como se flexionavam os músculos de seus ombros e seu peito ao menor movimento. —Levo muito tempo sozinho, isso é tudo. Ou tomava o mando ou ficava atrás —posou a mão sobre seu ventre, por debaixo de seus peitos, em cima da colcha e Alani se estremeceu—. Eu não gosto de seguir a outros. Porque a maioria não eram tão capazes como ele. Com Trace e Dare, em troca, trabalhava a gosto, e contava com seu respeito. —Quero saber como se forjou sua personalidade. Disse que não tinha irmãos, verdade? Mas e seus pais? Apóiam-lhe? Aprovam o que faz? Vê-os freqüentemente? ficou quieto, tão quieto que nem sequer parecia respirar. —Jackson? —São um montão de perguntas. Ela enrugou o cenho. —Pois escolhe um par para as responder. Como se não lhe importasse, encolheu-se de ombros outra vez. —Não tenho irmãos, graças a Deus. Meu pai era um bêbado e minha mãe se foi quando eu era um adolescente, assim foi uma sorte que não tivessem mais filhos. A compaixão oprimiu o coração do Alani. —O que quer dizer com que se foi? —Tinha um noivo, ou vários, em realidade. Odiava que meu pai bebesse, e odiava ter que carregar comigo. Assim que se largou —baixou a colcha um pouco mais para poder tocar sua pele nua. Alani respirou fundo e pôs a mão sobre a sua. —Teve que ser horrível. —Suponho que sim. Eu não me parecia com meu pai, assim sempre me perguntei se minha mãe o enganava já antes de ficar grávida de mim —fixou o olhar em seus olhos—. E meu pai também o perguntava. O aborrecimento ocupou em parte o lugar da lástima. —Seu pai lhe disse isso? Jackson se Rio sem vontades. —Muitas vezes —respondeu—. Embora não importa grande coisa. De todos os modos, não nos tínhamos muita avaliação, asseguro-lhe isso. Que triste. —Foi o único pai que conheceu? —Sim —Jackson se inclinou para ela e beijou seu ventre—. meu Deus, que bem cheira. Lhe rompeu o coração ao pensar no menino pequeno que tinha sido antigamente. Pôs a mão sobre seu cabelo molhado, compreendendo sua necessidade de lhe tirar importância ao que estava dizendo. A ela estava acostumada lhe passar o mesmo quando falava de seu seqüestro. —Ainda vive? —Não. Uma noite voltou para casa bêbado, deprimiu-se diante da porta e deveu dar um golpe na cabeça. Passou ali fora toda a noite, em meio da chuva —esboçou uma careta desdenhosa —. Quando morreu, eu não estava precisamente desejoso de ter outro pai, sabe? Estava melhor sem pais. Que história tão feia e dolorosa... Alani acariciou seu cabelo e sua voz se suavizou. —E sua mãe? Não tornaste a ter contato com ela? —Não. E tampouco tive alguma vez ganha de buscá-la —rodeou seu quadril com um braço e a olhou, dividindo sua atenção entre seus peitos e sua cara—. Te basta com isso? Dare lhe havia dito que lhe sentaria bem falar, assim não podia dizê-lo mesmo do Jackson? Lhe teria contado a história completa a alguém alguma vez? Certamente Trace e Dare sabiam, porque não trabalhariam com ele sem conhecer sua vida com detalhe. Mas isso não era quão mesmo
um ouvinte atento e carinhoso. —Alguma vez pensa neles? Jackson baixou a cabeça e se Rio. —por que ia pensar neles? Faz muito tempo que decidi ser distinto a eles, e fechei essa porta para sempre. —Diferente em que sentido? Lançou-lhe um sorriso resignado e entreabriu os olhos. —Nada de beber, nada de choramingar e nada de casar-se para ter um matrimônio infeliz — a abraçou pela metade—. Assim que sua condição de que não haja ataduras entre nós me vem como anel ao dedo. Mas Alani não o havia dito a sério, e odiava que se tomou assim seu comentário. —E se te apaixona? Sua cara dizia claramente que não acreditava provável. —Sabe?, meu pai dizia que bebia porque minha mãe nunca o tinha querido. E quando discutiam, minha mãe lhe dizia que lhe punha os chifres porque ele nunca a tinha querido —sacudiu a cabeça—. Em minha opinião, nenhum dos dois era capaz de amar. Mas em qualquer caso suas desculpas eram muito débeis. Um bêbado é um bêbado porque não tem força de vontade e porque se diverte em sua própria debilidade. E quem engana a seu casal o faz porque lhe falta sentido moral e porque se preocupa mais por si mesmo que por outros. Que maneira tão horrível de contemplar os enganos humanos. —Que idade tinha quando partiu sua mãe? —Não sei. Quatorze ou quinze anos, possivelmente. Nem um homem, nem um menino. —Deveu ser muito difícil para ti sair adiante. —Era um pouco promíscuo —baixou um pouco mais a colcha e tentou beijá-la outra vez, esta vez no osso do quadril. Alani o agarrou por cabelo. —Ai. Ela afrouxou a mão e lhe fez uma carícia de desculpa. —O que quer dizer com que foi promíscuo? Ele sorrio e se inclinou para morder brandamente sua cintura. Depois apartou por completo a colcha. Alani se esticou ao ver-se exposta de repente, e Jackson se incorporou para contemplar seu corpo. —Aprendi logo que o sexo o faz todo muito mais fácil. E para resolver este tema, me permita te contar uma versão resumida do resto da história —colocou uma mão entre suas pernas, cobrindo seu sexo com a mão. Alani ficou sem respiração, apesar de que não moveu os dedos. Jackson a olhou fixamente aos olhos enquanto acabava seu relato: —Descartei a idéia de ir à universidade. O ambiente universitário não é para mim e queria seguir adiante com minha vida. Assim consegui trabalho em uma cementera. Alani quis lhe perguntar por aquilo, mas lhe resultava difícil pensar com claridade enquanto Jackson seguia com a mão sobre seu sexo. —Fazia os trabalhos mais pesados e eu adorava. Obcequei-me estando mais forte, mais em forma. —Para te sentir um homem, não um menino. —Sim. Desfrutava tanto do esforço físico que comecei a treinar para me pôr mais forte, para ser mais rápido, para brigar melhor... embora não queria me dedicar profissionalmente a isso nem nada parecido. Simplesmente, eu gostava. E além me dava bem —lhe sorriu—. Tenho talento natural. —Mas não é ao que queria te dedicar? —perguntou intrigada.
Jackson negou com a cabeça. —Sempre pensei que algum dia abriria minha própria empresa de construção. Alani estava segura de que o conseguiria se seriamente era isso o que queria. Jackson era um desses homens que faziam as coisas realidade. —Mas comecei a trabalhar com Dare e Trace. —Como? Enquanto a olhava, moveu a mão e introduziu o dedo do meio entre as dobras de seu sexo. Alani se esticou por completo. Sentiu que se umedecia e não soube se sentir-se envergonhada ou não. Agarrou-o pela boneca. Seus olhares se encontraram. —Como os conheceu? Ele entreabriu os olhos, satisfeito. —Foi uma noite muito escura. Estava chovendo a mares. Me avariou a caminhonete e tubo que caminhar um par de quilômetros, até um posto de gasolina. Alani viu que ficava com a vista perdida, como se estivesse recordando algo desagradável. Estava atenta a muitas coisas: a seu corpo nu e musculoso, à tensão que havia no ar e em seus ombros, à sensação de seu dedo pressionando dentro de seu sexo. Custava-lhe respirar e teve que lutar por concentrar-se. Por mais que o tentava, não podia evitar que seus músculos se esticassem ao redor do dedo do Jackson. Ele, em troca, parecia tão tranqüilo. —Quando voltava para a caminhonete, tive que cruzar uma ponte e havia três tios ali, tentando atirar algo pela ponte. Deus santo... Alani compreendeu instintivamente o que era. —Uma mulher? —sussurrou. —Uma garota de dezoito anos, embora nesse momento não me dava conta. Só sabia que passava algo mau e reagi. Como faziam sempre Trace e Dare. —O que ocorreu? —Aproximei-me sem fazer ruído e não se deram conta. Tinham o carro ao ralentí, o motor fazia ruído e seguia chovendo com força. Ouvi um grito quando atiraram aquele fardo e me dava conta do que ocorria —respirou fundo e esticou a mandíbula—. Acredito que estalei, mas de um modo frio. Sem me assustar. Tinha lutado muitas vezes antes. Mas nunca assim. Nunca havendo uma vida em jogo. —Sabia que tinha que vencê-los para poder salvar à garota. —Mais ou menos. Assim que os tirei de no meio. —Aos três? —Alani imaginou. —Não tive eleição. E não joguei limpo, que se diga. Pensei que, se morriam, a quem ia importar lhe uma merda? Em menos de... não sei, um minuto possivelmente, tirei a dois de no meio e deixei ao outro inutilizado. Assim que me lancei de cabeça a pela garota. Alani se sentiu embargada pela emoção e sua voz soou rouca. —Atirou-te de uma ponte em meio de uma tormenta? —Sim, que ocorrência, verdade? Tinham-lhe pacote as mãos, assim tinha zero possibilidades de sobreviver se não a encontrava a tempo. Por sorte esperneando como uma louca conseguiu manter a cabeça fora da água e ouvi os lhe chape isso Cheguei até ela e se defendeu de mim como uma gata selvagem —sorriu—. Me fez mais moratones que os três tipos da ponte. Alani se tampou a boca, horrorizada. —Devia estar aterrada. —Pois sim, mas não como cabia esperar, sabe? Não estava histérica, não chorava. Lutou até com as mãos atadas. Quando consegui levá-la a rastros até a borda, passei-as moradas para lhe sujeitar as pernas e lhe explicar que queria ajudá-la. E nem sequer então me acreditou. Tirei minha navalha, desatei-lhe as mãos e me separei dela de um salto para que não se sentisse encurralada.
Estivemos um bom momento nos olhando o um ao outro. —Estava ferida? —Tinham-lhe dado uma surra —abriu a boca para dizer algo mais, logo meneou a cabeça e afundou um pouco mais o dedo dentro dela—. Então apareceram Dare e Trace. Foi toda uma confusão, porque eu não sabia se confiar neles, ela estava rígida de medo e eles dois pareciam tão tranqüilos. fizeram-se cargo da situação e disseram que se livrariam dos homens e do carro. —Então, os matou? —Nunca o perguntei. Formavam parte de uma banda que às vezes se dedicava ao tráfico de seres humanos. Vendiam a garotas, às vezes as trocavam por drogas ou armas, e se alguma se atrevia a tentar escapar... —Atiravam-na por uma ponte. —depois de... maltratá-la —pareceu lhe custar dizer a palavra—. Se não estavam mortos quando acabei com eles, suponho que Dare ou Trace se encarregaram deles. —Que bem. Jackson a olhou. —Quando apareceram os meninos, a garota ficou de minha parte. Suponho que já sabia que eu a tinha tirado do rio, mas não sabia o que foram fazer eles. —Sentiu que você a protegeria com sua vida se era necessário. —Sim, o teria feito, mas não acredito que nenhum de nós tivesse em mente um pouco tão drástico. Pensei que poderia me enfrentar aos dois se fazia faltar e que ela teria tempo de escapar. Mas ao final não tive que brigar com eles, e foi uma sorte, porque certamente não teria saído tão bem parado como eu acreditava. —Não há muitos homens como eles, nem como você. —Certo —voltou a mover o dedo e lhe sorriu—. Depois, quando Trace me perguntou se queria trabalhar com eles, contou-me que o efeito que sortia sobre as mulheres era tão valioso como minhas outras capacidades. —Sim —fechou os olhos. Sua força de vontade a tinha abandonado por completo. Jackson girou a mão e lhe introduziu o dedo todo o dentro que pôde. —Não acredito que Trace se referisse a ti quando disse isso —disse Jackson. Alani sabia que tentava evitar lhe dar detalhes a respeito de como tinha começado a trabalhar com Trace, mas o deixou acontecer enquanto a acariciava. Arqueou um pouco as costas. —Certamente não. —E agora —sussurrou ele—, estou farto de falar do passado. Quero me concentrar no presente. Em ti. Nisto. Gemendo, Alani fechou os olhos e se rendeu. Jackson, de todos os modos, não lhe deu eleição. apoderou-se de sua boca e sua conversação terminou oficialmente. Falar do passado removia sentimentos que, quando se mesclavam com o anseia que o embargava nesses momentos, conspiravam para afundá-lo. Detestava falar de sua história familiar; enfurecia-lhe quase tanto como pensar naquela noite horrível em que tinha visto uma jovem sendo jogada em um rio de águas frite e turbulentas com as mãos atadas e a cara e o corpo machucados. Alani colocou os dedos entre seu cabelo. Levantou a perna, passou-a sobre sua boneca e apanhou sua mão ali. Beijou-o profundamente enquanto os músculos de seu sexo se fechavam em torno do dedo do Jackson. Estava tão molhada, tão quente... Sua boca e seu sexo... Jackson não podia respirar, e não se cansava dela. Mas queria ir mais devagar, fazer que durasse. Atormentar ao Alani da maneira mais deliciosa e sensual possível. masturbou-se na ducha, consciente de que devia conter suas ânsias se queria prolongar as coisas.
—Necessito mais —sussurrou e, apartando a mão dela, meteu-se o dedo na boca para lamber seu fluxo. Alani deixou escapar um gemido. Jackson se sentou escarranchado sobre suas coxas e contemplou seu corpo, tão delicado e sexy. Tocou seus peitos. —É a coisa mais bonita que vi nunca —disse enquanto rodeava os mamilos obscurecidos e franzidos. Depois se inclinou para meter-se um na boca. Ela se arqueou outra vez, jogou a cabeça para trás e cravou os dedos nas coxas do Jackson. Ele beijou seu outro peito, tomou o mamilo entre os dentes, atirou dele brandamente e o lambeu. Depois o chupou com força. —Jackson... —sussurrou Alani. adorava lhe ouvir dizer seu nome. E também ouvir como gemia. Seguiu lhe chupando os peitos um bom momento, trocando de um mamilo a outro. Ela esfregava os quadris contra ele, procurando outras carícias. —Tranqüila —Jackson se ergueu e passou os polegares sobre seus mamilos molhados enquanto observava sua cara. Alani se retorceu e voltou a cara a um lado, mas não lhe importou. Não poderia esconder-se dele muito tempo. Seguiu jogando com ela, atirando brandamente e acariciando-a em círculos até que sentiu que todo seu corpo tremia. Mas nem sequer isso foi suficiente. Ignorava se alguma vez teria suficiente. Não dela, mas sim daquilo. De sentir como o fazia sentir Alani, daquelas coisas com as que antes nunca tinha sonhado. Separou-se dela, pôs as mãos sobre suas coxas e lhe separou as pernas. Ela se mordeu o lábio inferior e esperou, tensa. Jackson viu a umidade de seu sexo, sentiu seu aroma apaixonado. antes de que acabasse, ela seria tão viciada naquilo como ele. —Deixa que te olhe, Alani —lhe levantou uma perna lhe dobrando o joelho e se sentou entre suas coxas separadas. O coração lhe pulsava com violência. Baixou a voz—: meu Deus, que bonita é. —Não estou acostumada a isto, Jackson. —Sei —riscou com a ponta de um dedo a forma de seus lábios inchados, rosas e brilhantes, estendendo seu fluxo, mas evitando seus clitóris distendido. Ela deixou escapar um gemido e se moveu. Com um grunhido, Jackson afundou dois dedos dentro dela e ao sentir como se esticavam seus músculos esteve a ponto de perder a compostura. Deus, se lhe apertava assim os dedos, como seria lhe colocar a verga? O que sentiria quando a enchesse por completo? Apertou e logo retirou a mão e voltou a introduzir os dedos, esta vez mais dentro, quase até o fundo. Seguiu assim uma e outra vez. Alani se retorceu, esticou os músculos. Seus pequeno clitóris ansiava suas carícias. Jackson podia conduzi-la ao orgasmo em qualquer momento e sabia. Mas ainda não. Ofegando, mas decidido a demonstrar algo a ela e a si mesmo, seguiu acariciando-a. Alani se esqueceu de seu pudor, abriu as pernas, levantou os quadris para ele e continuou gemendo. Com a outra mão, Jackson tocou seus peitos. —Eu gosto que seja tão pequena. Assim é mais fácil chegar a todas partes de uma vez. Ela respondeu algo incoerente que soou a súplica. —Quer te correr, Alani? —Sim. —Com a mão? —penetrou-a mais ainda—. Ou com a boca? Ela fechou os olhos com força e demorou um momento em respondeu, ofegante: —Com a boca. —Sim, eu estava pensando o mesmo —voltou a tombar-se na cama, apoiando a tripa entre
suas coxas brancas e esbeltas. Respirou seu aroma, embriagado—. Ponha as pernas em cima de meus ombros. Ela obedeceu com estupidez. Mmm, que bem. Gostava de ter suas coxas quentes junto à mandíbula. Agarrou seus quadris e a aproximou um pouco mais. Soprou brandamente seu sexo e Alani se estremeceu. Abriu-lhe o sexo com os dedos e logo se inclinou para lambê-lo. —Jackson... Lambeu-a profundamente, penetrou-a com a língua até que sentiu que o agarrava com força do cabelo, tentando guiá-lo. Sonriendo, lambeu sua carne mais sensível com a ponta da língua... e ela esteve a ponto de correr-se. Grunhindo, levantou os quadris da cama e voltou a atirar dele. —Por favor, Jackson... Segue. —Queria experimentar —enquanto o dizia, compreendeu que estava acabado. Não podia seguir prolongando o jogo. Se o tentava sequer, ficaria em ridículo. Masturbar-se na ducha não tinha servido para aliviar suas ânsias, nem muito menos. —Não —gemeu ela—. Quero a ti. Nada mais —e repetiu—: Por favor. —Shh —apertou a cara contra ela, lambeu-a, procurou seus clitóris e por fim seguiu chupando-a. Ela deixou escapar um gemido esmigalhado que o excitou mais ainda. esfregou-se contra ele com ritmo frenético. Não foi fácil, mas Jackson conseguiu lhe colocar de novo dois dedos... e ela proferiu um grito rouco e todo seu corpo se esticou como um arco quando o orgasmo se apodedouse dela. Ao Jackson adorou. adorou... OH, OH. Noooo. Não ia por aí. Nem pensar. Ainda não. Assim que ela deixou de tremer, aproximou-se de um salto à mesinha de noite para agarrar um preservativo. Nenhum dos dois disse nada. Alani não podia. ficou ali tombada, com as pernas abertas, os olhos fechados e os lábios entreabiertos, respirando agitadamente. As lágrimas lhe umedeceram as têmporas, rasgando o coração do Jackson. colocou-se entre suas pernas e beijou seus lábios inchados. —Neném, me olhe. Demorou três segundos em abrir os olhos. Jackson sujeitou sua cara e a penetrou. Ela jogou a cabeça para trás. Ele, para diante. Ela gemeu de novo. Ele apertou os dentes. —Maldita seja, que tensa está —se moveu, e com cada um de seus ataques lhe resultou mais fácil penetrá-la—. Ah, Deus, que delícia. Lhe rodeou o pescoço com os braços e colocou os dedos entre seu cabelo. —Me rodeie com essas pernas tão bonitas. me abrace. Alani o olhou com os olhos turvados pelo assombro. Rodeou sua cintura com as pernas lentamente e Jackson lhe penetrou ainda mais profundamente. —Não vou posso agüentar muito mais —reconheceu ele entre dentes. Alani tragou saliva. Atirou dele para beijá-lo e sussurrou: —Então me dê mais forte, por favor. Jackson se desfez. esticou-se apoiando os braços na cama e a penetrou com força enquanto a tensão aumentava até fazer-se insuportável. Assim que sentiu que os músculos do Alani apertavam seu verga e ouviu seu gemido de prazer, deixou ir. Foi perfeito. Foi embriagador. Porque era Alani. Não sabia se queria separar-se dela alguma vez. Gostava de sua companhia. adorava deitarse com ela. Excitava-o como nunca tinha acreditado possível. Era isso suficiente? de repente pensou que não tinha que decidir nada nesse momento. Teria tempo de descobrir o que queria fazer a longo prazo e, se Alani encaixava em seus planos, encontraria a maneira de que seguisse formando parte de sua vida.
De momento só precisava mantê-la em sua cama. E tendo em conta como se aferrava a ele, não acreditava que fora a lhe resultar difícil. Capítulo 11
Deveria ter estado dormindo, mas estava acordado, convexo de barriga para cima na cama, com um braço detrás da cabeça enquanto com o outro abraçava ao Alani, acurrucada a seu lado. Olhava as sombras cambiantes que a lua projetava no teto. Seu corpo estava depravado, mas seus pensamentos giravam em um torvelinho. Alani tinha uma coxa sobre seu regaço, uma mão estalagem sobre sua tripa e o nariz pego a suas costelas. Jackson sentia sua respiração profunda e rítmica, cheirava sua pele e seu cabelo. Tinham destroçado a cama. E ela tinha destroçado sua tranqüilidade mental. Se era Marc Tobin quem o tinha drogado, encarregaria-se dele em seguida e a ameaça desapareceria. Alani não necessitaria já seu amparo... e então o que? Tinha tempo, mas quanto? Dias? Semanas? Com quanto tempo lhe bastaria? Sem pensá-lo, estreitou ao Alani entre seus braços. Ela se removeu e ele a beijou no cocuruto e a arrulhou até que voltou a dormir profundamente. Os ponteiros de relógio do relógio da mesinha de noite marcavam pouco mais das duas da madrugada. Precisava dormir um pouco, mas seu cérebro não descansava. Zangado consigo mesmo, fechou os olhos e procurou limpar sua mente. Estava a ponto de dar-se por vencido quando de repente a casa ficou em silêncio. Antes ouvia o zumbido do ar condicionado e dos eletrodomésticos da cozinha. de repente, entretanto, envolvia-os uma negrume absoluta e não se ouvia nada. Aquele silêncio era mais ensurdecedor que um disparo. Jackson aguçou automaticamente o ouvido, consciente de que ocorria algo estranho. Tirando o braço de debaixo do Alani, disse em voz baixa: —Neném, acorda. —Umm? —se acurrucó contra ele—. O que...? —Shh —pôs um dedo sobre sua boca—. Há alguém aqui. Certamente ainda está fora. Se não, o teria ouvido entrar. Tenho que ir jogar uma olhada —«e talvez a matar a alguém». —Espera —disse Alani em voz muito baixa, e o agarrou enquanto se incorporava na cama, tentando orientar—. Se foi a luz? —Sim. —Pode que só seja... —Não —a ameaça era real. Sentia ao intruso. Largando-se de suas mãos disse—: Não te mova daqui. Ela não disse nada, e Jackson o agradeceu. Agarrou sua pistola e sua faca e saiu do quarto sem fazer ruído. Deteve-se no corredor para escutar outra vez. Deixando-se guiar por seus sentidos, observou cada sombra, ouviu os rangidos da casa e a brisa de fora. apareceu às outras habitações, mas seu instinto lhe dizia que estavam vazias, assim avançou pelo corredor em direção à sala de estar. Pelo caminho olhou por toda parte, através de cada janela, inspecionou cada rincão, entrou na cozinha e ao olhar pela janela viu uma sombra que lhe pareceu estranha. Não sabia por que, mas ele sempre confiava em seu instinto. Seu peito se inchou. Seus músculos se relaxaram. Em questão de segundos, sem fazer nenhum ruído, abriu a porta trilho, saiu da casa e cruzou o alpendre traseiro. Teve a precaução de pegar-se às sombras, mas obrigado a que brilhava a lua viu
que o intruso avançava para a casa, perto da janela do quarto do Alani. Embora ainda fazia calor, levava um pasamontañas de ponto e roupa escura. Jackson, por sua parte, estava nu. Sorriu. Foi aproximando-se pouco a pouco, à espreita. Ao passar junto à caixa do contador, viu que estava desligado. Desde aí a falta de eletricidade. O intruso tinha pisoteado uns dos canteiros do Alani para cortar o ato, tirar a argola de segurança e cortar a luz. Enquanto aguardava, Jackson observou de novo sua silhueta... e reconheceu ao Tobin por sua forma de mover-se e sua figura. Filho de cadela... «Jogaste-lhe ovos, imbecíl». Empunhou a faca. Podia liquidar ao Tobin com uma mão atada à costas ou, como era o caso, nu como um bebê. Não fazia falta disparar um só tiro e alertar à vizinhança. Aproximou-se tanto ao Tobin que podia tocá-lo... e o muito cretino nem se deu conta. Quando ficou nas pontas dos pés para olhar pela janela do quarto do Alani, Jackson lhe deu uns golpecitos no ombro. Tobin pegou um grito. Os pássaros que dormiam levantaram o vôo entre chiados. Como Tobin seguia gritando, Jackson lhe fez calar lhe estampando a cara contra os tijolos da parede. Tobin se desabou, mas Jackson o manteve erguido sujeitando-o pelo pescoço e apertando o peito contra seus ombros. Colocou a faca sob seu queixo. —Segue incomodando-a —grunhiu— e lhe Mato aqui mesmo. —Jackson? —Tobin pareceu aliviado—. me Solte! —Te cale de uma vez! —Jackson lhe tirou o pasamontañas e voltou a lhe apertar a cara contra os tijolos. inclinou-se para ele, lhe dificultando a respiração—. Que cojones faz aqui? —Nada! Por amor de... —Não me venha com imbecilidade! —voltou a lhe apertar a cara contra a parede—. me Diga o que faz aqui. Ao lutar, Tobin se fez um pequeno corte na garganta. —Segue assim e te cortará o puto pescoço. Assim me economizará trabalho. Compreendendo que não podia largar-se, Tobin ficou paralisado. —Só estava... —Só estava o que? —como não tinha bolsos, Jackson não tinha onde guardar a pistola. A pôs sob o braço e revistou ao Tobin procurando armas. Curiosamente não tinha nenhuma, a não ser que a estupidez pudesse considerar uma arma. Nem sequer uma navalha de bolso. Fez-lhe dá-la volta e voltou a empurrá-lo contra a parede, aproximando a faca a suas costelas. —Fala. Tobin percorreu freneticamente o jardim com o olhar e logo a fixou no Jackson... e seus olhos se abriram de par em par. —Santo Deus! Está nu! —Esperava que dormisse com traje? Tobin abriu a boca e voltou a fechá-la. —Então, te deita com ela? Eu tinha razão? —Deveria preocupar-se muito mais que esteja armado e cheio o saco. Tobin esquadrinhou de novo o jardim e sacudiu a cabeça, ofegando. —Está louco. —E o diz um que se move na escuridão com um pasamontañas em pleno julho —deu um passo atrás e apartou a faca—. Tenho coisas melhores que fazer, Tobin, assim deixa de pôr a prova
minha paciência. —Sim, já —Tobin entreabriu os olhos e apartou a cara. Que patético. Jackson lhe atirou um murro na tripa. Tobin se dobrou, gemendo, e alargou uma mão para sujeitar-se à parede. —A próxima vez te romperei o nariz. —Queria impressioná-la, isso é tudo —ofegou Tobin. —Sim, pisoteando suas flores, imagino. Tobin olhou estupidamente o te arrie pisoteado. —Comprarei-lhe flores novas. —E um corno —não pensava permitir que voltasse a aproximar-se do Alani. Agarrou-o pelo cabelo e lhe fez levantar a cara—. Não vais voltar a vê-la, cretino. vais apodrecer te no cárcere. —Só queria assustá-la. Nada mais. Jackson o separou de si com um empurrão. —Não, não vale. Marc se esfregou a cara e o olhou com desconfiança. —Você Mato agora ou melhor saco as respostas a murros? Deveu sonar convincente porque Tobin se apressou a dizer: —cortei a luz e logo ia atirar uma pedra por sua janela. Estava convencido de que estava na cama com ela, mas ia olhar para me assegurar. Tinha pensado que, se estava dormido e com a casa às escuras, demoraria uns minutos em ir olhar o contador. por que demônios não olhaste primeiro a caixa dos fusíveis? —perguntou em tom de recriminação. —Porque não sou tão parvo como você —Jackson ficou olhando-o—. O que pensava tirar disto? Tobin olhou a seu redor, inspecionando-o tudo. —Não poderíamos falar lá dentro? Jackson sentiu um formigamento nos cabelos da nuca. Problemas. E não se tratava sozinho do Tobin. Agarrando-o por ombro, voltou-se para que Tobin ficasse de costas à escuridão que se estendia mais à frente do jardim e lhe servisse de escudo. Alarmado, Tobin disse: —Sei o que aconteceu com Alani. Jackson não disse nada. Custava-lhe muito acreditar que Alani tivesse crédulo nele. Tobin assentiu freneticamente com a cabeça. —Disse-me isso ela. Sei que por isso não podia... ou não queria deitar-se comigo. Mas pensei que, se surgiam problemas por estar contigo, cansaria-se de ti e de suas maneiras de caipira e voltaria comigo, com quem estará mais a salvo. Uma neblina avermelhada alagou a visão do Jackson. —Então, pensava seguir fazendo coisas assim? Tobin se retorceu, nervoso, e assentiu. —Sim, claro. Esse era o plano, sim. Jackson voltou a agarrar a pistola lentamente com o dedo no gatilho. —Isso é o que único que te ocorre dizer? —perguntou em voz baixa. —O que? —Não me acredito, Tobin. —É a verdade! —Em parte pode que sim —Tobin tinha uma pedra a seus pés e não ia armado. Mas era tão rico que, se queria atemorizar ao Alani, podia contratar a algum valentão para que o fizesse por ele. Jackson apoiou a ponta da faca junto a sua traquéia e se inclinou para ele. —Deveria te haver dado uma surra esta manhã —grunhiu junto a sua cara—. Deveria te haver quebrado o nariz, pelo menos. —Não —Tobin se separou de um coice, preparado para pôr-se a correr embora sabia que
não chegaria muito longe—. O que vais fazer? Consciente de que necessitava mais respostas, Jackson procurou refrear sua raiva. —Ainda não o decidi —chiou os dentes—. O menos que te merece é que te demola a pauladas. Tobin tentou recuperar a dignidade. —Uma briga, emano à mão? Sem polícia, e sem a faca nem... —olhou a Beretta—. A pistola. —Já veremos —adoraria pegar um tiro ao Marc, só um. Claro que lhe dar de murros também estaria bem. —Aceito uma briga —Tobin se ergueu, ansioso. —Você vais fazer o que eu te diga —Jackson baixou a Primeira faca, volta a contatar o contador —precisava iluminar o jardim se por acaso havia outra ameaça. Tobin tentou distanciar-se dele, mas não o conseguiu. Jackson se pegou a ele, dividindo sua atenção entre o Tobin e o jardim aberto. —Isto é em parte tua culpa —pisoteando mais flores, Tobin se aproximou do contador da luz com atitude desafiante e receosa—. Ao Alani gosta, sabe? Se não fora por ti, não me teria deixado. —Sim, já, o que você diga —Jackson seguia sentindo um formigamento de perigo. Sabia que não era pelo Tobin, mas quem podia ser? «Sal, covarde de merda», pensou. «Sal e te deixe ver». —Se não ter querido que seguíssemos juntos, foi somente pelo que lhe passou, pelo seqüestro e todo isso. —É história, fim da história. Marc voltou a conectar o contador. —Certamente se a seqüestraram foi por sua culpa —a casa voltou a cobrar vida com um suave zumbido e Tobin seguiu tagarelando—: Qualquer vê que é perigoso. Note nessas armas! Tem sequer permissão para...? —calou-se de repente, paralisado. Jackson seguiu seu olhar e viu o Alani de pé junto à porta trilho. Ficou a boca seca. Em lugar de ficar na habitação, como lhe tinha ordenado, pôs-se uma camisola branca sem mangas e o tinha seguido. Também tinha aceso a luz do teto da cozinha e sua figura magra se via iluminada desde atrás de tal maneira que sua camisola era quase transparente. Sem dar-se conta de por que a olhavam fixamente, disse: —Jackson! —escandalizada, avançou um passo—. Se pode saber o que acontece? Está nu, pelo amor de Deus! —fixou o olhar no Marc—. E você o que faz aqui? Não só estava ao descoberto, mas sim Marc a estava vendo com aquela camisola quase transparente. Jackson golpeou ao Tobin na cabeça com o punho. —Date a volta, maldita seja! —gritou. Marc apartou o olhar do Alani. Com expressão aturdida e a boca aberta, cambaleou-se ao dála volta. —Faz-a entrar —sussurrou Tobin. Jackson sentiu seu medo. —Você! —assinalou ao Alani com a faca—. Volta a entrar. Agora! Em lugar de obedecer, Alani franziu a boca e deu outro passo para ele. —Cala, vais despertar aos vizinhos. Como se tinha afastado da luz, estava um pouco mais decente... mas isso não a punha a salvo do perigo. Jackson agarrou ao Tobin pelo pescoço e, arrastando-o para trás, aproximou-se do Alani. Tobin começou a lutar, mas não lhe serve de nada. Jackson estava tão furioso que poDareia lhe haver partido o pescoço com toda facilidade. aproximou-se do Alani e disse entre dentes: —Entra na casa agora mesmo. Alani se inclinou para ele, indignada. —Você não manda em mim. Jackson a agarrou por braço, disposto a fazê-la entrar pela força.
Um projétil zumbiu no ar e se incrustou na casa com tanta força que arrancou uma parte de tijolo. Surpreendida, Alani se voltou para olhar, mas Jackson, que conhecia aquele som, reagiu sem pensar. Apartou ao Marc de um empurrão e no mesmo movimento fez agachar-se ao Alani. Caíram juntos ao chão. Mantendo coberta a cabeça do Alani, Jackson rodou pelo chão e acabaram no alpendre, junto à mesa de picnic. Jackson a derrubou para que servisse de amparo ao Alani. —Que p...? —Um disparo —esperou com a pistola na mão, mas só ouviu os ruídos que fazia Tobin ao escapar a toda pressa. «Merda, merda, merda»—. Vamos. Defendendo-a com seu corpo, médio agachado, correu com o Alani para a duvidosa segurança que oferecia a casa. Deixou-a em um rincão afastado das janelas e pulsou o interruptor da luz. A cozinha voltou a ficar às escuras. —Jackson... —Estou aqui, neném. Fica agachada, de acordo? Alguém nos está disparando. —Eu não ouvi nada! Jackson a olhou para ouvir seu tom apavorado. —Não passa nada, mas fique aí, entendido? Ela assentiu e pegou os joelhos ao peito. —Está seguro de que era um disparo? —Cala —com o dedo no gatilho da Beretta, Jackson se sentou junto à porta do pátio, com as costas pega à parede, e esperou. Manteve o olhar fixo no oco da porta e o ouvido aguçado. Nada. Depois, muito perto, ouviu outro disparo, esta vez sem silenciador. O eco de duas detonações retumbou na noite aprazível, seguido por um exabrupto. Depois tudo voltou a ficar em silêncio. Pego à parede, Jackson chiou os dentes. Possivelmente Tobin não se foi depois de tudo, mas o que tinha ele que ver com aquilo? —passou muito desviado —disse em voz alta, falando para si mesmo tanto como para o Alani. Tobin parecia ter medo. Mas do que? De quem?—. Ou o atirador é um manta, ou algo interferiu em sua pontaria. —O que? —murmurou ela—. Não entendo. Ele tampouco o entendia. Seguiu ruminando seus pensamentos. por que usavam primeiro um silenciador e logo não? —Duas armas —concluiu—. Duas pessoas? —Não entendo nada. —Sei —se levantou, mas permaneceu curvado—. Não te mova daqui, ouve-me? Alani assentiu. Seus olhos se viam muito abertos na penumbra e sua cara pálida refletia a luz da lua que entrava pela janela. —Já te entendi. Não faz falta que me repita isso mais. Suscetível até o final. Jackson se limitou a responder: —Bem. Lançou-se para a porta do pátio, fechou-a e baixou a persiana. Se não podiam vê-los, não seriam brancos tão fáceis. aproximou-se do Alani a toda pressa. —Vamos. Ela o tirou da mão e saíram correndo ao corredor. Uma vez ali, longe das janelas, Jackson a conduziu para os dormitórios. —Fique aqui enquanto jogo uma olhada —lhe disse ao deter-se. —Está bem —apertou sua mão—. Tome cuidado. —Sim —a soltou e entrou em todas as habitações, mas não encontrou nada. Agarrou seu jeans, os pôs, recolheu suas meias três-quartos e suas botas e voltou junto ao Alani com uma manta
—. te Ponha cômoda. —Aqui, no corredor? —Isto se está pondo feio, neném, assim por agora sim, toca-te esperar no corredor —ao ver que afundava os ombros, Jackson pôs a mão sobre sua nuca e a atraiu para si. Ela se estremeceu. Mantendo-a a seu lado, ajudou-a a envolver-se na manta—. Melhor? —Sim, obrigado. Repleto de adrenalina, Jackson a beijou rapidamente na boca. —Confia em mim, de acordo? —tirou seu móvel e pulsou uma tecla. Trace respondeu ao primeiro assobio. —Estamos bem —disse Jackson sem preâmbulos—, mas alguém, duas pessoas, acredito, disparou para a casa. Uma vez com silenciador e outra não. Tobin estava aqui, tem algo que ver com isto... Ouviu que Alani sufocava um gemido de surpresa. —Estava muito nervoso e quando começaram os disparos se largou a toda mecha. No momento estamos a salvo, mas queria que soubesse. —Fique onde estão —disse Trace—. Em seguida vou. —Não é necessário —Jackson esfregou o ombro do Alani—. vou tirar a daqui. —Não vá a nenhuma parte com minha irmã, Jackson. —Te esperar seria perigoso —respondeu Jackson, impaciente—. Sei como fazer uma evacuação. E sei cuidar de... —Sim, sabe. E se fosse outra pessoa e não Alani, deixaria-te atuar sozinho sem problemas. Mas é minha irmã e já vou para lá. Jackson respirou fundo, olhou ao Alani e assentiu com a cabeça. Alani não tinha necessidade de assistir a um enfrentamento entre ele e o pesado de seu irmão. —Está bem. Mas date pressa. Desconectou e voltou a guardar o telefone no bolso. Rodeando-a com os braços, apertou-a contra seu peito. —Está bem, carinho? —perguntou. Passaram uns segundos... e ela o separou de um empurrão. —Não volte a me falar assim. Jackson a olhou desconcertado. —Que demônios...? Só te perguntei se estava bem. Está tremendo e tem a cara mais pálida que eu o traseiro, e além disso... Ela levantou as mãos. —Gritaste-me diante do Marc. Ordenaste-me que entrasse. Me... —Se lhe transparentaba a camisola. —Puseste-te muito desagradável Y... O que? —Te via todo —Jackson se inclinou para ela e tocou o fino tecido da camisola—. Todo — disse com ênfase—. Este camisoncito tão virginal e fetichista não escondia nem um só detalhe. —Virginal? Fetichista? —Poderia sê-lo-se encolheu disso ombros pensei eu ao vê-lo, pelo menos. Alani ficou boquiaberta, mas não disse nada. olhou-se. —É opaco. —Sim, bom, não tão quando tem a luz detrás —lhe levantou o queixo—. Bastante tinha com lombriga as com seu noivo. Não necessitava além que te exibisse publicamente. —Não é meu noivo —replicou ela—. E você estava nu! Aí fora, no jardim! Jackson se encolheu de ombros outra vez. —me importa um nada quem me veja. —Isso é evidente! —Mas não quero que ninguém te veja ti.
O aborrecimento fez que suas bochechas recuperassem parte de sua cor. Levantou o queixo. —Não me importa. —O que? —Sejam quais sejam as circunstâncias, não quero que volte a usar esse tom comigo. —Já me tinha dado conta de que havia alguém espreitando aí fora, além do Tobin —pôs as mãos sobre sua estreita cintura. Era tão sexy o contraste com a suave curva de seus quadris...—. Se te falei nesse tom, foi para te pôr a salvo. Ela se tornou para trás a juba sedosa. —Pois me falar assim não serviu que nada, não te parece? —Sim —aproximou seus quadris às dele—. Assim que a próxima vez que alguém corte a luz e comece a nos disparar, tentarei te pedir amavelmente que metas seu lindo traseiro dentro de casa, como fiz antes de sair, para não me distrair. A cara do Alani se esticou... e logo, de repente, sorriu. ia ficar histérica outra vez? —Alani? —disse, receoso. Deixou-se cair para ele e apoiou a cara contra seu peito. —Estava nu, Jackson. —Nesse momento me vestir não era prioritário —protegê-la seria sempre sua prioridade absoluta. —E se tivesse tido que brigar com o Marc? Com... com os...? —Com os ovos? —Ao ar e a... —assinalou seu regaço. —O pênis? Alani tentou conter a risada e se engasgou. —Sim, isso. Estava aí fora, tão... vulnerável... —sorriu. —Sim —a apertou contra seu corpo quente e suave—. Não é minha forma preferida de lutar, mas não ia permitir que isso me detivera. —Menos mal que não tenho vizinhos que vivam perto —seus ombros se sacudiram enquanto tentava conter a risada. Não lhe importou. Jogou-lhe o cabelo para trás e sorriu. —Esse cretino do Tobin quase se ma em cima quando apareci. Você sim que sabe escolhêlos, né? Aquilo cortou sua risada de um colchão. Receosa, perguntou: —O que lhe tem feito? —menos do que deveria. foi-se, mas estou seguro de que está metido neste marrom. —Sua linguagem se está deteriorando —o rodeou com os braços e apoiou a cara em seu peito nu—. No futuro, tentarei me pregar a sua experiência e fazer o que me pede... mas só se me pedir isso. acabaram-se as ordens. —Farei o que possa —não podia prometer-lhe Mas não me crucifique se cometer algum que outro deslize no calor do momento, de acordo? Ela assentiu. —A verdade é que, se não tivesse ouvido o Marc, me teria ficado agasalhada na cama. Não sou tola. Mas apareci e lhes vi falando tão... cordialmente que pensei que se tratava de um enorme mal-entendido ou algo assim. —Nossa conversação não tinha nada de cordial —ao parecer não lhe tinha visto golpear ao Tobin—. O muito imbecil contou que tinha pensado te assustar para que voltasse com ele, mas não me trago isso —Jackson lhe contou a conversação. Logo disse—: De verdade lhe contou o que te tinha passado? —Não. Não tudo. Só que tinha estado seqüestrada um tempo muito curto. Ele acredita que foi pelo dinheiro de meu irmão, não para que me...
Jackson não necessitava que dissesse que foram obrigar a prostituir-se. —Sabe o de Trace? —Não se conhecem, mas, como Risco me avalizou quando montei o negócio de decoração, quase todo mundo sabe que tenho um irmão rico. Trace acontece com vezes por meu escritório e saímos muito a comer juntos —seus dedos se deslizaram pelos peitorais do Jackson—. Naturalmente, não sabe a que se dedica Trace nem nada pelo estilo. Quando insistia em que... tivéssemos uma relação mais íntima... —Quando queria te foder, quererá dizer. —Senti que tinha que lhe dizer algo, assim que lhe disse que me tinham seqüestrado para pedir um resgate. Jackson ficou pensando. —E acredita que Trace pagou o resgate? —Sim —fechou os olhos e o beijou justo em cima do mamilo direito. Jackson se distraiu ao sentir o roce de seus lábios. —Para, mulher. Estou trabalhando. —Sei, perdoa —acariciou seu peito—. É que... dá vontade de te comer. Deus... Agarrou sua nuca e lhe fez levantar a cara. —Trace vem para cá. Temos que nos largar daqui assim que chegue. —Acreditava que te tinha empenhado em ficar comigo para não ter que incomodar a meu irmão. —Para não incomodá-lo se não era necessário. Pode te levar algumas costure, mas não muitas, assim te ponha a pensar no que vais necessitar. Ela assentiu, lambeu-se o lábio inferior e o mordeu. —Aonde vamos? Jackson tinha uma resposta fácil para essa pergunta e, apesar das circunstâncias, enchia-o de satisfação. Deu-lhe um beijo rápido. —vais vir comigo. Se não para sempre, ao menos sim de momento. Capítulo 12
Só tinha feito falta uma patada certeira para que o atirador falhasse o disparo. E disparar um balaço junto a sua cabeça tinha bastado para dissuadir o de tomá-la revanche. Esse disparo tinha errado a propósito. Quem queria as ver-se com miolos dispersados e largas explicações? Seria difícil conservar o anonimato se havia cadáveres que explicar. O atirador tinha desaparecido. Mas por quanto tempo? A luz débil da lua e as estrelas não bastava para usar os prismáticos. Jackson tinha tido a prudência de apagar a luz da casa e o jardim, e os vizinhos viviam tão longe que a luz de suas casas não chegava até ali. A única atividade visível foi a chegada de um carro. Assim Jackson tinha reforços. Imaginava. Já não havia razão para ficar ali, em meio daquela noite abafadiça e cheia de mosquitos. antes de partir, limpou o lugar para que ninguém pudesse adivinhar o que tinha ocorrido. Só alguém muito bem treinado detectaria algum indício de vigilância... e Jackson estava muito bem treinado. Conseguiria juntar as peças do quebra-cabeças? Ainda não. Não de tudo. Mas saberia que havia um franco-atirador que ia atrás dele. Era hora de ir-se. por agora. Quando chegasse o momento... então voltariam a começar de zero.
Trace chegou sem Dare, o qual foi um alívio. Quando se juntavam os três, seu machismo bastava para sufocar a qualquer. Bastante lhe custava já tratar com o Jackson. Não necessitava que se triplicasse a testosterona. Trace tinha ido porque a queria, Alani sabia. Mas quando chegou ficou a trabalhar imediatamente e apenas lhe lançou um olhar depois de assegurar-se de que estava ilesa. A diferença do Jackson, que levava a pistola em uma capa, à altura dos rins, Trace levava uma pistolera no ombro, por cima da camiseta. ao redor da cintura levava um grosso cinturão de ferramentas carregado de... coisas: esposas de náilon, um facão, um porrete elétrico, munição extra... Alani nunca o tinha visto assim. Pô-la um pouco nervosa. Jackson, em troca, estava tão tranqüilo como se tivesse visto Trace armado até os dentes um montão de vezes. —Encontraremos ao Tobin —disse Trace—. Já tenho para alguém buscando-o. —Não a Dare? Trace negou com a cabeça. —Dare se foi direito a casa, com o Molly, quando saímos de seu apartamento. Fascinada, Alani disse: —Então, há outras pessoas que trabalham com vós? Olharam-na os dois como se de repente lhe tivesse crescido outra cabeça. Trace tinha um olhar atônito. Alani pensou que talvez estivesse sopesando a conveniência de lhe dizer a verdade, ou de lhe contar uma mentira. Jackson, em troca, tomou a sério sua pergunta. —Quanto menos saiba, melhor. —Outra dessas situações, né? —Temo-me que sim —se encolheu de ombros—. Mas que conste que seu irmão tem contatos em todas partes. Quando é necessário, pode pedir um favor ou dois. Sempre e quando o favor não fora ilegal? Ou isso carecia de importância ante uma petição de Trace? Alani sabia que cultivava amizades em todas as esferas das forças de segurança e do mundinho da política. Seu irmão era um homem assombroso em muitos aspectos. —Mas você não acaba de ouvir o que acaba de ouvir —disse Trace, e olhou ao Jackson com o cenho franzido por sua indiscrição. Logo entrou na cozinha. A casa estava ainda às escuras. aproximou-se da janela e olhou para o jardim—. Sabe onde estava situado o atirador? —Sim —Jackson manteve ao Alani a suas costas—. Nestes jardins tão grandes, as vozes chegam desde muito longe, assim, tendo isso em conta, eu diria que estava a uns cem metros — assinalou para a casa do vizinho mais afastado, ao fundo do jardim—. Em algum ponto detrás dessa casa. —Está em venda —lhes informou Alani—. Leva vários meses vazia. —O sítio perfeito para que se esconda um franco-atirador —Trace se dirigiu à porta—. Que vá fazendo a mala. Em seguida volto —saiu a toda pressa. por cima do ombro do Jackson, Alani viu que se perdia entre as densas sombras. —Não lhe acontecerá nada indo sozinho? Jackson soltou um grunhido. —Não me preocupa Trace, preocupa-me que alguém se tope com ele. Ela o agarrou por cinturão. —E os franco-atiradores? —Shh. te relaxe. foram-se faz momento. Apoiou-se contra Jackson cansativamente. —Então, que sentido tem sair? —vai inspecionar a zona ao redor da casa, a ver se descobrir alguma pista, isso é tudo. É o que teria feito eu se... —interrompeu-se.
Ao Alani remoeu a consciência. Sua vida singela e corrente estava tão em contradição com o ofício do Jackson... —Isso é o que teria feito se não estivesse cuidando de mim, não? Jackson, que seguia olhando pela janela, alargou o braço para atrai-la para si. —Se não tivesse que proteger a um inocente. —Você gostaria de estar aí fora, verdade? Ele se separou da janela e acariciou sua bochecha com os nódulos enquanto a olhava atentamente. —Estou justamente onde quero estar. —Sentado no banquinho, comigo? —tentando ser realista, Alani aceitou que o contraste entre suas formas de vida era um obstáculo para manter uma relação de casal duradouro—. Estou segura de que você adora. Ele deslizou seu manaza pela cabeça dela. —Sua segurança me importa especialmente, neném, isso não o duvide. Assim sim, eu adoro estar aqui, contigo. Mas a verdade é —acrescentou— que não teria deixado a nenhuma outra pessoa desprotegida. Assim... era especial para ele ou não? Alani não podia deduzi-lo pelo que havia dito. Para tirar ferro ao assunto, perguntou: —Nem sequer ao Marc? Ele soltou um bufido. —claro que sim. Esse cretino sabe valer-se sozinho. Alani já imaginava, posto que Jackson se desembaraçou do Marc assim que tinha começado o tiroteio. Assombrada ainda pela idéia de que pudesse ser especial para ele, disse: —Trace queria que fizesse a mala. —Sim. Em seguida nos pomos com isso —ali, na cozinha em penumbra, Jackson se inclinou para beijá-la docemente—. Seguro que está bem? —Sim, estou bem. A meia sorriso do Jackson lhe produziu um formigamento no estômago. —É claro que sim que sim —disse ele, deslizando o olhar por seu corpo—. Melhor que bem. O certo era que se sentia muito bem, apesar das circunstâncias. um pouco trêmula e esgotada, mas não assustada. —Não posso acreditar que Marc esteja metido nisto. —Está metido em algo —Jackson se voltou para a janela—. Mas não sei no que —se ergueu —. Aqui vem Trace. Alani olhou por cima de seu ombro e não viu nada, mas segundos depois entrou Trace. Incrível. Deixando a um lado o perigo, adorava vê-los trabalhar. Trace a olhou, muito sério. —Já tem feito a mala? Alani não se incomodou em lhe dizer que Jackson a tinha entretido. —Só necessito um minuto. —Vístete também, de acordo? Voltaram a olhá-la-os duas com expressão quase idêntica. —Ou seja, que têm que falar, não é isso? —pôs os olhos em branco—. Poderia dizê-lo sem mais. —Sim —lhe disse Jackson a Trace—. Está sendo muito razoável em relação à informação classificada. Mas Trace não se alterou. —Já pode acender a luz de sua habitação. dentro de um minuto te ajudarei a tirar as coisas. Alani saiu da cozinha, mas logo que tinha dado uns passos pelo corredor quando lhes ouviu falar em voz baixa. Sem nenhum remorso, parou-se a escutar.
A fim de contas, aquilo lhe preocupava muitíssimo e queria, não, precisava estar informada. —Havia dois atiradores —confirmou Trace—. Um na parte dianteira esquerda da casa e outro detrás, perto do pátio. Eu diria que houve uma resistência na parte traseira, mas alguém tentou cobrir os rastros. —Já. Então, enfrentaram-se os dois atiradores? Isso explica por que um usava silenciador e o outro não. —Sim. Mas qualquer sabe por que estavam os dois apontando à casa do Alani. —Pode que fora uma competição. Alguém tem preço posto a minha cabeça e não me inteirei? —Quem sabe? Os insetos parecem atrair-se como ímãs entre si. A mim o único que me importa é deixá-los fora de combate, carregando-me isso se for necessário. —Por mim, estupendo. Alani ficou paralisada, com o coração acelerado. lhes ouvir falar de «carregar-lhe fazia que tudo parecesse tão real... E não porque se compadecesse nem por um instante de quem se dedicava ao tráfico de seres humanos. Sabia de primeira mão quão traumático podia ser para as vítimas. Quando os homens se calaram, entrou apressadamente em seu quarto e começou a recolher as poucas coisas que necessitava. Preferia não levar-se muitas porque não queria que Jackson pensasse que ia mudar se a sua casa. Só ia passar ali uns dias por questões de segurança. Nada mais. Quando Jackson e seu irmão se reuniram com ela na habitação, seguiu pensando no que tinha ouvido. Deu voltas às coisas que haviam dito até que já não pôde suportá-lo mais. depois de fazer a mala, tirou roupa para trocar-se, mas se deteve antes de entrar no quarto de banho. Trace tinha o olhar fixo na caixa de preservativos que havia sobre a mesinha de noite. Jackson recolheu a caixa com ar desafiante e a meteu em sua mala. Olharam-na os dois, Jackson, com ardor refreado e Trace, incômodo e exasperado. «Que vergonha». Tentando lhes fazer pensar em outra coisa, anunciou: —estive escutando. Trace levantou as sobrancelhas. Jackson perguntou: —O que estiveste escutando? —A vós, ouvi-lhes falar. Sobre os atiradores, quero dizer. Olharam-se. Pelo menos pareciam haver-se esquecido dos preservativos. —Havia dois franco-atiradores, verdade? E estão convencidos de que vinham a pelo Jackson. Ou a por mim, dá igual —meneou uma mão—. Mas estava pensando que... e se um deles tentava ajudar? —Então, para que ia espreitar na escuridão? —perguntou Jackson. Trace esteve de acordo com ele. Mas Alani não se arredou. Apertando a roupa contra o peito, olhou-os e afirmou o evidente: —Vós às vezes também espreitam na escuridão, e não precisamente para fazer mal a ninguém. Pensem, de acordo? —e entrou no banheiro para trocar-se, deixando-os atônitos. Arrellanada no assento do co-piloto, junto ao Jackson, Alani dormiu até que chegaram a sua casa. lhe veio bem, porque lhe deu tempo para pensar. Para assumir o que tinha ocorrido. Sempre se tinha tomado as coisas com muita tranqüilidade. Sabia o que queria, ia a por isso e o passava em grande. Sexo não lhe faltava, ao contrário. Tinha mulheres a montões. Agora em troca... Olhou ao Alani. como sempre, seu cabelo claro, que tampava a metade de sua cara, inspirou-lhe pensamentos eróticos. imaginou como seria que escorregasse por seu ombro, fantasiou tocando-o, sentindo-o no ventre, nas coxas...
Alani se tinha posto uns jeans rodeados e uma camiseta solta. antes de ficar dormida se tirou as sandálias. Sua mão descansava, com a palma para cima, junto a seu doce traseiro. Parecia tranqüila, confiada. Deliciosa. Inclusive dormida o excitava como nenhuma outra mulher. Jackson trocou de postura, esquadrinhando continuamente o horizonte. Por fim tinham saído da zona suburbana mais congestionada e circulavam por estradas secundárias, caminho de seu imóvel. Não tinham tido nenhum tropeço, nem havia sinais do BMW prateado. Ninguém lhes seguia. Mas não queria relaxar-se, ao menos até que Alani estivesse a salvo em sua casa. O terreno que tinha comprado parecia em muitos sentidos ao de Dare. Era boscoso, estava perto de um lago, afastado e em plena natureza. Estava tão isolado que podia tomar o café fora, em Pelotas, sem que ninguém o visse. Olhou de novo ao Alani. Talvez pudesse convencê-la para que o fizessem. adoraria vê-la nua sob o sol da manhã. adorava vê-la nua, e ponto. Olhou-a, e sentiu algo mais que desejo. Algo mais que simples atração. Um pouco desconhecido para ele e que o fazia sentir-se incômodo. Nas vinte e quatro horas anteriores, tinha passado por todo um leque de emoções: havia-se sentido furioso e atormentado, ardente e possessivo, carinhoso Y... necessitado. Merda. Sentiu que o assaltava a incerteza e não gostou. Flexionou as mãos sobre o volante e tentou concentrar-se no amanhecer. Rompeu sobre a paisagem em uma grande enjoa cárdena, tão assustadora que lhe deu vontade de despertar ao Alani para que o visse. Entrelaçou os dedos com os seus. —Hey, neném. Ela se moveu e fez uma careta como se tivesse uma cãibra no pescoço. —Vamos, espreguiçadeira. Abre esses olhos feiticeiros para mim. Piscou, bocejou, estirou-se e fixou os olhos sonolentos nele. —Jackson... Tinha a expressão de uma mulher que acabava de desfrutar de um orgasmo. —Sim, sigo aqui —embora não se explicava como podia seguir tão excitado. Sempre tinha tido muita resistência e muito ímpeto sexual, mas aquilo começava a voltar-se ridículo. —Olá. Ele sorriu, levantou sua mão e beijou sua palma. Depois voltou a agarrar o volante com as duas mãos. —Tem o sonho profundo. Alani se esfregou os olhos. —Suponho que sim —bocejou outra vez—. Deus, necessito um café. —Faltam sozinho uns minutos para que cheguemos a minha casa, mas queria que visse o amanhecer. Ela se incorporou um pouco para olhar, e o sol se refletiu em seus olhos, fazendo cintilar sua cor dourada e realçando suas largas pestanas e a perfeição de sua cútis. Deus, o sua era preocupe-se, se começava a escorregar como um poeta bêbado. —É precioso, Jackson. Obrigado por despertar. —Eu o vejo todas as manhãs do alpendre de atrás de minha casa —e sempre que o tinha visto, descoberto-se perguntando-se se ao Alani também gostaria—. Quando se vê do lago é ainda mais impressionante, porque as cores parece que jogam sobre a superfície da água. —Sonha assombroso. Vi o pôr-do-sol em casa de Dare, mas o amanhecer não. —Você gosta de estar perto da água? —eu adoro. Tudo cheira melhor, e há uma paz que parece posar-se sobre todas as coisas e todas as pessoas.
Assim era exatamente como o sentia ele. —Ao melhor logo podemos dar uma volta em barco. O lago linda por um lado com uma ladeira muito levantada, mas há algumas casa mais abaixo, para a enseada sul. Granjas, quase todas. Pela manhã cedo se vá às vacas pastando na borda. —eu adoraria dar um passeio em barco —se alisou o cabelo e apoiou a cabeça contra o assento—. Sinto haver ficado dormida. —Precisava descansar —e ele tinha desfrutado olhando-a, estando perto dela, sabendo que por fim era dela. —Você também —se voltou pela metade para ele e pôs a mão sobre seus bíceps—. Não sei como ficam energias, depois de tudo o que passou. Fazia que parecesse um adoentado. —Estou bem —sobre tudo, desejava-a outra vez. Quando deixaria de desejá-la? Um sorriso se estendeu pela cara do Alani. —Comigo não tem que te fazer o machão, sabe? Aquilo lhe incomodou. —Não me estou fazendo o machão. Eu sou assim. —Está fingindo que não aconteceu nada. Jackson soltou um bufido. Não tinha passado grande coisa em realidade, ao menos para ele. —Me aconteceram os efeitos da droga. Essa bala não me deu. Estamos os dois a salvo. O que quer que faça? me jogar a chorar? Acurrucarme no assento de atrás enquanto você conduz? —Possivelmente só reconhecer que está cansado. —Estou brincalhão —lhe disse tajantemente—. Se estivesse disposta, levaria-te direita à cama para jogar um par de pós mais. —Caralho —respirou fundo—. Soa muito tentador, mas... preciso comer, dormir e me dar uma ducha. E quero ver sua casa e seu imóvel. Jackson se desinflou. —Deveria te haver deixado em paz até que arrumássemos este assunto. —Não —lhe deu uma palmada no braço—. Eu também te desejava, recorda? Mas não estou acostumada ao sexo, e muito menos a seu excesso. E embora Jackson não recordava seu primeiro encontro, Alani dizia que tinha sido excessivo. Se a isso se acrescentava o que sim recordava, era lógico que queria esperar um pouco. Olhou-a, e as lembranças voltaram a assaltá-lo. —É tão pequeñita... —sentiu um nó no estômago—. Terei que ter mais cuidado contigo. Falar de sexo sempre a turvava. —Não quero que troque absolutamente nada —agachou a cara—. Mas recorda que, embora possivelmente você seja invencível, não me importa reconhecer que só sou humano. Jackson soltou um suspiro e se disse que devia ter paciência. Como havia dito ao Alani, sua casa estava habitável, mas tinha poucos móveis. Só havia uma cama, assim, se pensava pôr distância entre eles, teria que pensar-lhe melhor, porque pensava dormir todas as noites com ela, embora não houvesse sexo. —Bom, ainda é muito cedo. Quando chegarmos a minha casa, podemos dormir um momento. E quando despertar pode te banhar no jacuzzi. Isso lhe espabilará. Ela o observou com as pálpebras entreabridas. Logo perguntou em tom dúbio: —Pensa te colocar na cama comigo? —Sim —se encolheu de ombros—. Me virá bem dormir um pouco. E até que demos com esse imbecíl... —Refere ao Marc? —... não posso fazer grande coisa, por minha parte. Alani ficou calada um momento. Logo perguntou em voz baixa:
—E quando o localizarem? Jackson flexionou as mãos sobre o volante. —Quero falar com ele. Sabe algo. E penso averiguar o que. —O do BMW prateado não era ele. —Não sabemos, mas e o que? Os tipos como ele podem pagar a valentões que lhes façam o trabalho sujo. —Um valentão com um carro que custa mais de cem mil dólares? Sim, não soava muito convincente. —Não sei, neném. Mas o averiguarei —tomou o caminho de cascalho que levava a sua casa. Alani se incorporou no assento. —Já estamos? Ao Jackson gostou de sua espera. —Sim. A casa está muito escondida pelas árvores, mas toda esta zona está vigiada por câmaras de segurança. Os carvalhos, os olmos e os sicomoros cresciam tão apinhados a ambos os lados do caminho que seus ramos desdobrados formavam uma espécie de toldo. Era como se avançassem por uma cova verde, salpicada de sol por toda parte. Jackson freou: um coelho olhou o carro, moveu os bigodes e se afastou saltando. Mais abaixo, assinalou-lhe um cervo. Os pássaros voavam de uma árvore a outro e de vez em quando se lançavam em picado diante do carro. Cada vez que ocorria, Alani continha a respiração, embora os pássaros evitavam habilmente se chocar com o pára-brisa ou as rodas. Por fim apareceu a grade e, mais à frente, a casa. Consciente de que Alani se ficou muda a seu lado, Jackson se tirou os óculos de sol para teclar o código de segurança da grade. —Abre-se introduzindo um código, como a de Dare, mas pode usar um mando a distância quando sai do imóvel. Há um intercomunicador e um sensor, de modo que sempre sei quando se aproxima alguém. Alani assentiu enquanto olhava para a casa, além da grade. Jackson esperou inquieto a que a grade se abrisse. Logo, enfiou a larga avenida pavimentada que levava a casa. —É um rancho, mas construído em módulos separados, todos comunicados entre si. Eu gostei de sua arquitetura. —É alucinante —percorreu a casa com o olhar, da garagem, pego a um trastero, à entrada frontal, junto à que me sobressaía a habitação principal. —Faltam muitas coisas por fazer, mas com o tempo conseguirei acabar o porão. Tenho pensado fazer uma quarta habitação ali, um ginásio e um quarto de jogos. Entrou em uma das três garagens e apagou o motor. Alani ficou em seguida as sandálias, abriu a porta e saiu da garagem para jogar uma olhada. Fazendo-se guarda-sol com a mão, olhou com assombro as árvores muito altas. —Construí a propósito ao redor das árvores —disse Jackson ao reunir-se com ela. —Me alegro, porque é perfeito —pôs-se a andar pelo caminho que levava a enorme porta dianteira. —Poderíamos ter entrado pela garagem. —Primeiro quero ver a fachada —bordeó a casa caminhando com cuidado entre flores silvestres e hierbajos. —O jardim ainda nem o hei meio doido —Jackson desejava que diminuísse o passo e lhe dissesse algo, que lhe desse sua opinião. Ela não sabia, mas, ao escolher os planos da casa e sua localização, tinha pensado nela. imaginou-se qual seria sua reação. Alani se deteve no alpendre de atrás e olhou para o lago. Passaram nadando uns patos. Um peixe saltou ao longe.
Espantou uma mosca com a mão, agachou a cabeça e respirou profundamente. Ao Jackson gostava de vê-la ali, assim. Em sua casa. —Hoje vai fazer muito calor. dentro de um par de horas, a umidade te fará suar assim que ponha um pé fora. —Não me importa suar um pouco. Não, não lhe importava. Jackson deslizou as mãos a seu redor, apartou seu cabelo e, esfregando o nariz contra sua pele, beijou-a no pescoço. —Quando estiver lista —disse em tom lhe sugiram—, eu gostaria de te tombar aqui fora, em uma manta, e te fazer gritar de prazer. Alani ficou nervosa. —Ao ar livre? —Sim —apoiou uma mão justo debaixo de seu peito e sentiu o batimento do coração precipitado de seu coração—. Aqui não pode nos ver ninguém. Eu, em troca, poderei ver cada centímetro de seu corpo. Ela pôs as mãos sobre as suas. —Já me viu —lhe tremeu a voz—. Antes, quero dizer. —Mas isso não é suficiente —começava a sentir-se como um masoquista—. Até então... — separou-se dela e conseguiu dominar-se—. O que prefere fazer primeiro: dar uma volta, tomar um café ou dormir? Alani se voltou para olhá-lo. —Se tomar um café, não poderei dormir. —Então vamos à cama, por agora. Ela apoiou a mão sobre seu peito. —Não será... duro para ti? —Sim —esboçou um sorriso inclinado—. Mas mais duro seria saber que está sozinha em minha cama, sonolenta, calentita e suave —a agarrou pela mão e a conduziu à porta dianteira—. vou ensinar te a habitação principal. Pode te acomodar enquanto eu tiro nossas coisas. Entraram pela garagem, cruzaram a cozinha abovedada e o vestíbulo e percorreram o corredor de comunicação que conduzia ao dormitório. Uma vez ali, Jackson lhe fez dá-la volta e tomou sua cara entre as mãos. —Ainda estou fazendo obras, assim que esta é uma das poucas habitações acabadas. E a única cama. Alani olhou a habitação espaçosa e a grande cama, feita com vários travesseiros, lençóis e uma colcha. —É tão grande que cabe uma família inteira. Disse-o dubitativamente, quase como uma pergunta. Jackson ficou paralisado. A casa era espaçosa, claro, e tinha habitações suficientes para acomodar a uma família de tamanho normal. Mas ele tinha por norma não pensar nunca em uma possível família. Não pensava em seus pais, porque nunca tinham tido uma relação de família ao uso e, embora tinha desfrutado deitando-se com as mulheres com as que tinha estado, nunca lhe tinha ocorrido pensar que pudesse fundar uma família com alguma delas. O sexo era somente uma via de escapamento, e sempre tomava precauções, assim nunca tinha tido que preocupar-se com ter filhos próprios. Pensou fugazmente em Arizona... mas não. Não queria ir por esse caminho de momento. Havia dito a Alani o que precisava saber e o resto teria que esperar. Que demônios, acabava de conseguir que ela reconhecesse que havia algo entre eles. De momento só queria desfrutar dela.. e só dela. Sentiu uma pontada de má consciência, mas disse em tom de brincadeira: —A seu irmão não interessa vir aqui, neném.
Algo brilhou em seus olhos, algo esquivo, receoso e feminino. A seu sorriso fugaz faltava verdadeiro calor. —Possivelmente de visita sim. Aliviado por que não parecesse disposta a empenhar-se naquele tema, Jackson assentiu. —Pode ser. por agora estamos sozinhos e vamos dormir juntos —não lhe importaria tê-la em cima dele ou, melhor, debaixo. Beijou-a na boca—. Te parece bem? Alani passou os dedos por sua mandíbula e sua garganta. —dormi sozinha toda minha vida, mas, se tivesse sabido quão agradável é dormir com alguém, as coisas teriam sido distintas. —Dormir comigo —particularizou ele, no caso de lhe ocorria a idéia de dormir com outro. —Sim —tocou seu lábio inferior—. Eu gosto de muito dormir contigo, Jackson. —Bem —Alani era capaz de excitá-lo tão facilmente... Quando o tocava daquela maneira tão tenra, lhe dava vontade de afundar-se dentro dela—. Tenho que me assegurar de que tudo está em ordem, jogar uma olhada rápida à casa —assim teria ocasião de acalmar-se um pouco—. Em seguida volto. —Não tenha pressa. E um corno. Queria abraçá-la quando ficasse dormida. Era importante para ele que se acostumasse a estar a seu lado em todos os sentidos, que desfrutasse disso tanto como ele. Em menos de quinze minutos revisou os alarmes, as fechaduras e os monitores de segurança. Quando voltou para dormitório, encontrou ao Alani vestida sozinho com a camiseta e as calcinhas, aparecida em pátio interior ao que dava a habitação. Jackson sabia que de ali podia ver o lago e as colinas sem que ninguém a visse. Fixou o olhar nela, em suas pernas preciosas e no cabelo loiro, que lhe caía pelas costas. A camiseta apenas lhe tampava o traseiro. Tinha conhecido a mulheres mais belas, a mulheres mais sexis e mais sensuais que Alani. Tinha conhecido a mulheres que se concentravam em voltá-lo louco na cama. Mas nenhuma delas era Alani. Parecia muito pensativa, ensimismada em seus pensamentos. Inquietava-a estar encerrada ali, com ele? Estava preocupada com o cretino do Tobin, ou assustada pelo perigo que corriam? Desejava poder retornar a seu trabalho, a sua casa, a sua rotina? Jackson compreendeu que se estava assustando, que se estava deixando dominar pelas dúvidas, e isso lhe incomodou. enfrentou-se mão a emano com assassinos, atou-se a tiros com traficantes de pessoas, tinha cruzado fronteiras para resgatar a pessoas seqüestradas e para fazer pagar a quem as tinha seqüestrado, todo isso sem assustar-se. Sabia o que tinha que fazer, o fazia e fim da história. Exasperado, soltou a mala do Alani e sua mochila. Alani levantou a vista. Enquanto se olhavam, a incerteza do Alani, seu nervosismo lhe chegaram em feitas ondas... até que, sem poder conter-se, ela abriu a boca para bocejar. tampou-se rapidamente a boca com a mão, resmungando uma desculpa. Jackson voltou a relaxar-se. Enquanto estivesse ali, cuidaria dela, mimaria-a. Lhe dava bem fazer que as mulheres se sentissem especiais. Normalmente, na cama, mas e o que? Também podia fazê-lo fora da cama. Depois de retirar os lençóis, deu uns tapinhas no colchão. —Vamos, espreguiçadeira. À cama. Descalça, cruzou a grosa atapeta e se tombou na cama. —Sinto estar tão cansada. Ontem à noite não dormi muito, nem a noite anterior. —Por culpa minha —não queria esgotá-la, mas gostava de saber que era o responsável por seu cansaço. —Por culpa dos dois. —Certo —gostou mais ainda como soava aquilo. Jogou as cortinas para que não entrasse o sol da manhã. A habitação se encheu de sombras cinzas. —Não posso acreditar que não tenha sonho. Ontem te encontrava mau, e depois dormiste tão
pouco como eu. —Mas eu sou um homem. —E isso te faz inexeqüível à debilidade? Não, mas como era um homem a desejava tanto que logo que acusava o cansaço. A ela certamente não faria graça sabê-lo, assim respondeu: —passei muitas vezes sem dormir. Suponho que me acostumei. Enquanto Alani observava cada um de seus movimentos, sentou-se ao bordo da cama para tirá-las botas e os meias três-quartos. Depois se tirou a camiseta. levantou-se, despojou-se do armamento e o deixou sobre a mesinha de noite, a seu lado da cama. —É estranho, sabe? —disse Alani em tom sonolento e repentinamente misterioso—. Dirige as armas com a mesma soltura que se fossem as chaves do carro. Jackson a olhou. —Em caso de apuro prefiro ter à mão a pistola, antes que a chave do carro. Alani ficou de lado, e ficou olhando seu peito. —Não me arrependo, sabe? —Do que, neném? —baixou-se a cremalheira e se tirou as calças, mas não as cueca. Preferia não tentar à sorte, estava muito excitado. depois de deitar-se com o Alani, desejava-a ainda mais. —Desde não dormir para estar contigo. Jackson ficou quieto. Alani olhou seu corpo. —Antes, antes de estar contigo quero dizer, quando pensava em não dormir, lembrava-me sempre do caminhão fechado no que me levaram os seqüestradores. Ai, demônios. Com o coração na garganta, Jackson se sentou a seu lado na cama e pôs uma mão sobre seu quadril. Alani fixou o olhar nele. —Dava-me medo ficar dormida, inclusive fechar os olhos. Não sabia o que foram fazer comigo. Não poderia impedir-lhe por ficar desperta, claro, mas ao menos estaria em guarda. Jackson se tombou a seu lado e a rodeou com seus braços. Sempre tinha presumido de ter uma libido incansável. Tinha passado muitas noites sem dormir por ter uma maratona sexual. Mas nesse momento Alani necessitava outras coisas. —Agora pode dormir. Não deixarei que ninguém te faça mal. —Mas detesto perder o tempo que passemos juntos —sussurrou ela—. É tão agradável verte assim, depravado, sendo você mesmo, me deixando ver como é em realidade... Prefiro estar acordada —se lambeu o lábio—. Prefiro seguir experimentando. —Não me provoque. Agora que temos um acordo, quero tentar equilibrar as coisas, de acordo? O sonho e o sexo. Ela sorriu. —E o que me diz da comida, de conversar e de sair a ver a paisagem? —Claro, se gosta de —Jackson lhe levantou o quadril e a apertou contra si. Posou a outra emano sobre seu ombro—. Comida e logo sexo. Sair a ver a paisagem e logo sexo. Alani sorrio. —Conversar e logo sexo? Não era uma combinação da que estivesse acostumado a desfrutar, mas que demônios? —Enquanto não fuja de mim, acredito que pode arrumar-se. —A verdade é que não posso ir a nenhuma parte, verdade? Jackson ficou pensando um momento. Desejava que Alani queria ficar. —Não quero que se sinta como se estivesse presa. Acurrucada a seu lado, murmurou: —me acredite, conheço a diferença. Merda. —Sou um bruto, não me referia A... —Sei —ficou calada um momento. Logo disse—: Falamos disso a primeira vez, sabe?
—A primeira vez que nos deitamos? —a vez que não recordava. Ao ver que ela assentia, perguntou—: Do que? —De quanto duraria isto. Deu-lhe um tombo o coração. Que diabos lhe havia dito? Era muito violento não sabê-lo. Ela se incorporou apoiando-se no cotovelo para olhá-lo. Por um instante, ao Jackson pareceu ver um brilho de remorso em seus grandes olhos, e se perguntou por que. —Alani... —Acordamos que, enquanto seguisse sendo divertido e excitante e desfrutássemos dos dois, sexualmente quero dizer, seguiríamos... experimentando. Que demônios? Seriamente o tinha expresso ele tão claramente? Às vezes o fazia com outras mulheres, claro, porque não queria que se fizessem ilusões. Queria que soubessem desde o começo que o seu não tinha futuro. Mas isso era com outras. Tinha sido igual de insensível com o Alani? Não estava seguro de querer sabê-lo, assim perguntou: —por que ia deixar de ser divertido? —Não sei —não o olhou aos olhos—. Prometeu que me passaria isso em grande, e cumpriu com acréscimo. Mas nenhum dos dois queria comprometer-se. —De maneira que não, né? —não parecia muito próprio dela. Alani nunca se deitou com ninguém. Era uma mulher de tudo ou nada... ou isso tinha acreditado sempre ele. Mas tinha levado uma vida tão protegida que nunca tinha podido «jogar uma cã ao ar»? Era ele sua cã ao ar? Passá-lo bem na cama, isso era o que queria, o que esperava? Não era muita pressão para ele? Tinha intenção de cumprir com suas expectativas, claro, mas todo homem falhava de vez em quando. Se não a deixava saciada e sorridente, iria com outro? por cima de seu cadáver. antes de permitir que isso ocorresse, se... —Jackson? —tocou sua frente com a gema dos dedos—. Está franzindo o cenho. —Esperas que o danifique tudo, não é isso? —resmungou ele, mal-humorado. Ela aumentou os olhos... e esboçou um sorriso. —Não, nada disso. —Mas, se o chateio tudo, utilizará-o como desculpa para partir, verdade? —Já havemos ficado de que não posso partir, recorda? Jackson deixou escapar um grunhido. Alani ficou atônita. —Esperas que seja um mau amante? —perguntou ele. —Não! Então... —Não deveria usar isso como desculpa para cortar. Alani escrutinou seus olhos, mordeu-se o lábio e disse com cautela: —Quanto espera você que dure isto? —Né... —maldita seja. Tinha-o esquecido. Não era um homem inseguro, mas não queria lhe falar de seus sentimentos sem saber exatamente o que sentia ela primeiro. Então lhe ocorreu um plano. Alani acabava de deixar claro que esperava que desfrutassem como loucos na cama. Bem. Faria-a gozar como uma louca. Ao besta. Ainda não tinha conhecido a uma mulher que não revelasse seus sentimentos durante o orgasmo. O orgasmo ia da mão com as promessas de afeto. «Lhes dê um orgasmo e em seguida ficam amorosas». A maioria das vezes se mostrava pormenorizado com aquelas profusões de carinho, mas não lhes dava importância. —Temos que decidi-lo neste preciso momento? —assim que conseguisse que lhe confessasse entre gemidos seus mais recônditos secretos, saberia o que queria, e até que ponto. Alani afundou um pouco os ombros e exalou um suspiro.
—Não, claro que não. Não é que queira te pressionar —logo acrescentou à defensiva—: É você quem tirou o tema. Jackson sabia que a tinha desconcertado e a tinha envergonhado ao mesmo tempo. Apertou-a contra si. —por que não falamos logo depois de todo isso? —muito, muito depois. Beijou-a na frente —. Agora vamos dormir um pouco. Ela o observou com olhos sonolentos, mas ao final se encolheu de ombros e voltou a acomodar-se a seu lado. Pôs a coxa em cima do dele e apoiou a mão sobre seu coração. —Uma coisa mais, Jackson. Ele sufocou um grunhido e esperou. —Possivelmente não tenha muito com o que comparar, mas estou segura de que você sim, assim quero que saiba que, ao menos para mim, o sexo contigo foi alucinante. Era um bom começo. —Pode me dar as obrigado logo... quando estiver mais descansada —com o Alani, não queria somente que fora alucinante. Esse dia, ao seguinte e o resto de seu futuro imediato, queria ser o único homem para ela. Capítulo 13
Marc Tobin tinha um olho aberto. O outro... não sabia. Doía-lhe todo o corpo, inclusive músculos que não tinha usado nunca. Notava um sabor a sangue velho na boca e um aroma de sangre fresca na roupa. Pontadas de dor lhe percorriam os braços. Tinha-os tido atados à costas durante dias, ou isso lhe tinha parecido, embora em realidade tinha perdido a noção do tempo. Quão único sabia com certeza era que tinha que escapar ou o matariam. Havia-lhes dito tudo o que sabia, mas nunca era suficiente. Deus santo, pensando-o bem não conhecia Alani tanto como acreditava, e do Jackson não sabia apenas nada. Mas seus torturadores não acreditavam... ou não lhes importava. Queria recuperar sua antiga vida, a segurança do dinheiro, das relações sociais, o poDare que lhe procuravam seu prestígio e o respeito de seus iguais. Pensou nos punhos que o tinham golpeado. Luvas negras de couro. Olhos cruéis que o olhavam através de um pasamontañas. Perguntas e mais pergunta feitas com voz gutural, uma atrás de outras em rápida sucessão, embora não soubesse as respostas. Tinha saído com o Alani, mas o seu não tinha sido nada sério. Tinha visto o Jackson duas vezes, sem contar a última, quando os disparos, quando lhe tinha ocorrido escapar e alguém o tinha golpeado na cabeça e mais tarde o tinha despertado lhe atirando um murro no estômago. Doía-lhe respirar, mas tinha que fazê-lo. Se queria escapar, talvez aquela fora sua única oportunidade. Uma vez, quando tinham aberto a porta de sua cela minúscula, tinha vista árvores. Céu. Ar livre. Não estava em uma habitação de um edifício grande, mas sim mas bem em uma casa pequena e isolada. Em um abrigo, possivelmente. Ou em uma espécie de garagem. Não havia janelas, mas a luz do sol entrava por uma fresta entre a parede e o chão, por debaixo da porta velha e por uma abertura de ventilação no teto. Não podia fechar a mandíbula, tinha-a rota, mas fez o que pôde por sufocar seus grunhidos de dor enquanto forcejaba por liberar os braços. A corda que atava suas bonecas, molhada pelo suor e o sangue, afrouxou-se um pouco quando se retorceu de dor durante o último «interrogatório». De momento, a habitação estava vazia. Às escuras. Cheirava a seu medo e a sua dor.
Atirou da mão direita inclinando-se para diante a pesar da dor e rezou por não fazer-se mais danifico. Por fim conseguiu liberar a mão. levou-se tal surpresa que caiu para diante um momento, ofegando, a ponto de deprimir-se. Depois se deu conta do que tinha passado. Observou sua mão. Tinha a pele coberta de sangue e os dedos inchados. Estava seguro de que um par deles estavam quebrados: estavam enegrecidos, arroxeados e extrañamente dobrados. Lhe revolveu o estômago. Mas vomitar lhe doeria ainda mais, e lhe atrasaria, assim tragou saliva compulsivamente até que lhe aconteceram as náuseas. Era um homem forte, capaz de lutar pelo que queria, de insistir quando era necessário. Tinha confrontado mais de um conflito, mais de uma confrontação. Estava em forma, era atlético, mais forte que a maioria. Mas nunca tinha passado por nada parecido. Nem remotamente. Demorou largos minutos em liberar a outra mão e os pés. Quando se levantou, falhou-lhe o joelho direita. Mas, se tinha que arrastar-se, faria-o. apoiou-se na cadeira para sustentar-se em pé. ia partir dali. Imediatamente. Aproximou-se da porta rezando por que estivesse aberta, girou o pomo... e exalou um suspiro de alívio ao ver que se abria. Olhou fora com cautela, mas não viu ninguém montando guarda. Uma débil garoa do verão o empapava tudo, o céu estava cinza e o estou acostumado a enlameado. ao longe, por entre as árvores disseminadas, elevava-se um velho edifício de pedra. Parecia abandonado e em mal estado. Mas então ouviu... sons. Sons horríveis. Gemidos, choros. Súplicas. Deus santo. Olhou a seu redor, ansioso por escapar, mas por toda parte viu bosque e mais bosque. Não sabia por onde ir, de modo que começou a afastar-se da casa de pedra, do abrigo no que tinha estado prisioneiro. Sem deixar de rezar, correu. Enquanto avançava, lembrou-se de suas conversações. Ao princípio tinha tratado de chegar a um acordo com eles, mas seus oferecimentos de dinheiro não lhes tinham interessado o mais mínimo. Quando os tinha ameaçado com repercussões legais, riram-se em sua cara. —Deixa de resistir —lhe haviam dito—. Não pode fazer nada. Não tem onde ir. Ninguém que te ajude. Embora conseguisse escapar e fosse à polícia, nunca nos encontrariam. Mas nós encontraríamos a ti. Isso não o duvide. E não o duvidava. Iria à polícia, certamente que sim. Iria em algum momento, mas primeiro, Deus mediante, iria a um hospital e depois chamaria à única pessoa que lhe ocorria que podia mantê-lo a salvo. Chamaria a aquele louco do Jackson. Choveu três dias seguidos. Todos seus planos de sair com o Alani pelo lago, de banhar-se nus, de percorrer juntos o imóvel, ficaram deixados de lado. Em troca, desfrutaram de do sexo uma e outra vez, incansavelmente. Como planejava, Jackson se aproveitou de seu fechamento. Essa mesma manhã o tinham despertado os trovões que faziam tremer a casa. Enquanto os relâmpagos rasgavam o céu cinza, tinha despertado ao Alani com beijos e logo tinha seguido beijando-a por toda parte, até que tinha gritado, presa de uma quebra de onda de prazer. Só quando ela tinha insistido se pôs um preservativo e a tinha penetrado. Alani se tinha obstinado a ele, gemendo, e lhe tinha mordido o ombro. Mas, além de lhe dizer que não se cansava de fazer o amor com ele, além de elogiá-lo e de exclamar «ai, Deus, ai, Deus», não lhe tinha confessado nenhuma maldita coisa. Disso fazia horas. Os raios do sol de meio-dia atravessaram por fim o céu cinzento. Seu terceiro dia com ela. E nada tinha trocado. Ou não o suficiente.
Vestido sozinho com uns jeans, descalço e com o peito nu, Jackson estava no pátio coberto, deixando que a brisa úmida acariciasse seu corpo. Graças à chuva, o ar era fresco, mas denso. encheu-se os pulmões e observou as ondas da borda. Deveria ter sentido paz. Desde que tinham chegado à casa, tinha tido ocasião de saciar-se com o corpo do Alani, de gozar de seus sorrisos, de seus suspiros e, no topo do prazer, de seus gemidos luxuriosos. adorava os sons que fazia, a naturalidade que demonstrava durante o ato sexual. Fisicamente, jamais se coibia com ele. Entregava-lhe seu corpo. Mas e seu coração? E sua mente? Maldição, não sabia. Era um homem ardiloso e conhecia bem às mulheres, de modo que notava que algo não partia de tudo bem. Além de fazer o amor com o Alani, tinha procurado manter uma espécie de horário. Utilizava o ginásio para queimar o excesso de energia quando Alani ficava dormida. Trabalhava na casa sempre que ela queria tempo para sentar-se diante do ordenador, normalmente em busca de idéias para decorar alguma das habitações. adorava que estivesse tomando-se tanto interesse, e de momento suas propostas lhe pareciam perfeitas. Assim que pudessem, levaria-a às compras. Juntos escolheriam mais móveis para a casa. Alternavam-se para cozinhar; ela quase sempre se ocupava do café da manhã e ele do jantar, na churrasqueira do alpendre traseiro, sob o beiral. banhavam-se freqüentemente juntos no jacuzzi e pelas noites dormiam abraçados. Mas não era suficiente. Jackson sentia uma ardente necessidade de algo mais. De muito mais. Como de costume, sentiu a presença do Alani assim que se reuniu com ele. Ao dá-la volta a viu na porta do pátio, com a cara poda de maquiagem e o cabelo recolhido em uma trança frouxa. Levava um biquíni e ela também ia descalça. —Deus Todo-poderoso —ficou a boca seca—. Esse biquíni te sinta de maravilha. —Me alegro de me haver lembrado de colocá-lo na mala —seu sorriso tímido não enganou ao Jackson: Alani sabia o efeito que sortia sobre ele. O fino tecido branco do biquíni, bordeada de encaixe negro, pegava-se a seu corpo. Marcava a silhueta de seus mamilos e cada dobra de seu sexo. Jackson alargou o braço para ela, mas Alani retrocedeu e sustentou uma toalha de praia diante de seu corpo. —Me vou nadar. —Não, nada disso —estava cada vez mais excitado. Ela acrescentou como se não lhe tivesse ouvido: —eu adoraria que viesse comigo. É o primeiro dia espaçoso que temos... —Não está espaçoso —se aproximou dela, e Alani retrocedeu de novo, apartando-se da porta—. Se está nublando outra vez. Rendo como uma colegiala, ela se manteve fora de seu alcance. E Jackson continuou atrás dela. —Então será melhor que me dê pressa —saiu do pátio caminhando para trás. —Tenha o terreno cuidado descia em suave pendente até o lago, e a erva molhada podia ser traiçoeira. Ela levantou uma mão, ainda rendo. —Quero nadar, Jackson. —Nadaremos depois. —Você mesmo o há dito: pode que não dure o sol. —Se de verdade quer nadar —lhe disse, olhando-a fixamente enquanto ela dava outro passo atrás—, não deveria te haver posto esse biquíni. Por fim se aproximou o suficiente e Alani o surpreendeu pondo a mão sobre seu sexo e
acariciando-o um pouco. Jackson fechou os olhos. Sua respiração se agitou. —O que te parece se contarmos o banho como os jogos preliminares? —perguntou em brincadeira. —Não vou agüentar muito. —Temo-lo feito esta manhã. —E o que? —agarrou-a pela boneca e lhe manteve a mão sobre seu verga enquanto lhe tirava a toalha. Deus, era um festim para a vista. Olhando seu ventre, resmungou—: Quanto você está perto, estou sempre preparado. —Já o notei, e me sinto adulada. Adulada? Cravou o olhar em seus olhos. —Que demônios significa isso? —«adulada». Soltou um bufido. Deveria sentir-se muito mais que adulada—. O que crie? Que todos os tios são máquinas sexuais? Porque te asseguro que não o são. —Uma máquina sexual... Sim, isso te descreve bastante bem —sorriu, travessa, mas em seguida ficou séria—. Sabe que sempre fica muito irascível quando está excitado? Ele levantou as sobrancelhas. Irascível? Isso pensava? Mas bem desesperado, frenético, louco de desejo. —Um insulto atrás de outro —ardia em desejo por ela, e cada dia parecia pior que o anterior. Ela, em troca, queria ir nadar—. Deveria me fazer de rogar. Ela esboçou um sorriso. —Possivelmente sim —e acrescentou em tom suplicante e brincalhão—: Pelo menos até depois de que me dê um banho. Jackson assentiu lentamente. —Proponho-te um trato. —Sou toda ouvidos. —vamos nadar... mas você perde o biquíni. —Perder o...? —piscou depressa—. Mas acreditava que você gostava. Com os olhos fixos nos seus, Jackson deslizou uma mão dentro do prendedor de seu biquíni, por cima de seu peito e roçou o mamilo com a palma da mão. —Sim, eu gostava. Põe a mil. Alani entreabriu os lábios e de repente pareceram lhe pesar as pálpebras. —Mas prefiro mil vezes verte nua. Indecisa, voltou-se para olhar para o lago. —Ninguém te verá. Se decidi construir a casa aqui foi por algo. A enseada está muito apartada. E embora passasse alguém, estará na água. Oculta —a acariciou com o mamilo—. Para todo mundo, menos para mim. Cheia de resolução, Alani o olhou fixamente. —De acordo. Ai, Deus. Jackson começou a resmungar para lhe propor uma alternativa, mas não lhe deu ocasião. —Mas você também tem que estar nu. —Não há problema —lhe sorriu—. Nem sequer tenho traje de banho. —Não tem... —separou-se dele, assombrada—. Por amor de Deus, Jackson. Então, sempre te banha nu com as mulheres? —Vamos, querem? —agarrou-a por braço e baixou com ela pela colina—. Não trouxe para nenhuma outra mulher aqui —e para assegurar-se de que entendia a importância do que lhe estava dizendo arrebitou—: Sozinho a ti. diante deles as abelhas voavam entre os trevos. Jackson a conduziu até uma espécie de caminho. Em um futuro poria um caminito de pedra, mas de momento não era prioritário. —E o que? —perguntou Alani quando chegaram ao embarcadoro, cujas tábuas tinham
esquentado o sol—. Sei que estou aqui porque roda de pessoas perigo. —Sim, também por isso —se baixou a cremalheira das calças, consciente de que tinha uma ereção. —E se fosse outra a que estivesse em perigo? —Faria o que pudesse —se baixou as calças e os tirou. Nu, com o sol à costas, ergueu-se ante ela—. Mas não a traria aqui. Alani olhou seu corpo e logo a entrada da enseada. Voltou a fixar o olhar nele e, lambendoos lábios, olhou sua franga. Deus... —Território perigoso, neném, você já me entende. Ela meneou a cabeça. —É incrível. Ele sufocou a risada. —Se segue me olhando assim, vou voltar me cada vez mais incrível —lhe fez dá-la volta e enquanto lhe tirava a borracha da trança acrescentou—: Esta é minha casa, carinho. Meu refúgio — lhe soltou o cabelo sedoso, o alisou e passou os dedos entre suas ondas. Logo deslizou os nódulos por sua coluna. —Seu irmão e Dare estiveram aqui. E suas mulheres são bem-vindas. —É um troglodita —resmungou ela, apesar de que ali onde a tocava lhe punha a pele de galinha—. Elas são suas algemas. —Mas também são mulheres —sabia melhor que Alani quão possessivo podia voltar um homem apaixonado. Tentando afugentar essa ideia turbadora, agarrou-a pelos quadris—. O caso é que jamais me traria o trabalho a casa. Se não, para que quero um refúgio? Entendia Alani que para ele era algo mais que trabalho? Mais que sexo. Mais que... Não sabia o que. Mais que nada do que tinha tido até então, ou do que esperava ter. Atraindo-a para si, beijou seu pescoço e abriu a boca sobre pele delicada, na juntura entre o ombro e o pescoço. Alani inclinou a cabeça e sussurrou: —Sinto-me exposta. —Sim —atirou um pouco do laço de atrás do prendedor do biquíni. As taças se afrouxaram os suficiente para que colocasse a mão debaixo—. Se pudesse, tombaria-te aqui mesmo, no embarcadoro. —Não poderia —murmurou ela quase sem fôlego. Jackson brincou com seus mamilos, voltando-a louca. —Já veremos —tomando-a por surpresa, desabotoou o fechamento do pescoço e o prendedor caiu ao chão. ficou de joelhos atrás dela e atirou de suas calcinhas. Alani esticou as pernas e, sufocando um grito de surpresa, tampou-se com a mão. Jackson pôs as mãos sobre as suas e empurrou seus dedos. Excitava-lhe a idéia de que se tocasse. Beijou suas costas e seguiu para baixo, beijando uma das nádegas. Alani deu um coice e se afastou. Olhando-o com os olhos como pratos, abriu a boca mas não disse nada. Logo se deu a volta e em duas rápidas pernadas chegou ao bordo do embarcadoro e se lançou de cabeça. Jackson ficou ali, contendo a respiração, e demorou um segundo em levantar-se para seguila, sonrindo. atirou-se de cabeça e a água geada aplacou sua luxúria. Emergiu justo diante dela. A água punha de ponta as pestanas do Alani; seu cabelo, molhado e jogado para trás, parecia mais escuro e seus maçãs do rosto mais pronunciados. Tinha os lábios úmidos. Moveram-se juntos pela água. —Dá-te conta de que a fria afeta negativamente aos homens? —Sério? —apoiou uma mão em seu ombro para manter-se a flutuação, sustentou-lhe o olhar
e com a outra sob a água procurou seu verga e a rodeou com os dedos, apertando-a—. Eu acredito que não. —criei um monstro —a levou facilmente para a escalerilla. agarrou-se com uma mão e Alani se agarrou a ele com as duas—. Quer provar alguns jogos aquáticos, é isso? —Sim —e logo perguntou—. É possível? Jackson não levava preservativos em cima, mas isso não significava que tivessem que esperar. —Eu te ensino —enquanto a beijava, passou uma mão por sua cintura e rodeou seu culo—. te Abra para mim, Alani. me rodeie com as pernas. Sustentada pela água, montou sobre ele com facilidade, e que delicioso era sentir o contraste entre seu calor e o frio da água! Jackson a tocou desde atrás, fazendo-a gemer e arquear-se. Abriu seu sexo e colocou um dedo. Logo dois. Estava devorando sua boca, apertando suas costas contra a escada e penetrando-a com os dedos quando ouviu um ruído. Compreendendo o que tinha passado, levantou a cabeça e resmungou: —Maldita seja. —Jackson? Ele grunhiu com a cara pega a seu pescoço. Ainda presa do desejo, Alani sussurrou: —O que ocorre? —esfregando-se contra ele, beijou sua mandíbula e sua orelha. Jackson sentiu que seu sexo se esticava ao redor de seus dedos e disse: —Sinto muito, carinho. —por que? O que acontece? Não havia forma fácil de dizer aquilo. —Seu irmão está aqui. —Meu irmão...? O que? —frenética, tentou dá-la volta, mas Jackson a tinha bem sujeita—. Onde? Então ouviram que Trace gritava do caminho que levava da casa ao embarcaDareo: —Jackson? —Ai, Deus —Alani ficou paralisada, com a cara de um vermelho vivo—. Outra vez não. —Tem um péssimo sentido da oportunidade —Jackson moveu os dedos dentro dela e Alani se voltou louca. —Tira! —deu-lhe um empurrão, chapinhando na água, e esteve a ponto de fazer que soltasse a escalerilla—. te Aparte! Vamos! Date pressa! —Jackson? —gritou outra vez Trace, cada vez mais perto. Alani soltou um chiado. Ele a beijou na frente. —Você fique aqui. —Como entrou? —perguntou ela com voz aguda—. Acreditava que sua casa era segura! —Para Trace? —soltou um bufido—. O que vai. Se quer entrar, entra. Mas a verdade é que também tem os códigos da entrada, igual a eu os de sua casa e os da casa de Dare —a apartou a um lado da escalerilla, respirou fundo e se encarapitou ao bordo do embarcadoro. Olhou para baixo, viu que Alani estava olhando seus genitais, que agora ficavam à altura de seus olhos, e grunhiu outra vez. Trace se deteve o vê-lo, mas não por muito tempo. —por que não respondia? —seus passos fizeram ranger o embarcaDareo. —Volta para a casa, Trace. Trace se fixou em sua cara, deteve-se e soltou um exabrupto. —por que? Perplexo e zangado, Trace perguntou:
—Onde está Alani? —Aqui —«me respirando na franga»—. Volta para a casa. Em seguida vamos. Trace viu o biquíni no chão e resmungou algo. Baixou a cabeça, deu uns passos, deteve-se e assinalou ao Jackson. —Três minutos, entendido? Três putos minutos. —Sim, claro —acaso acreditava que foram tentar terminar primeiro? É que não conhecia o Alani? Quando Trace se afastou, Jackson voltou a meter-se na água para inundar a cabeça. Ao tirála viu que Alani se encarapitou a escalerilla e estava olhando por cima do bordo do embarcadoro. Que corpo! Não tinha muitas curvas, mas era tão desejável que a água deveria ter estado jogando vapor a seu redor. E o que era melhor ainda: seu adorável traseiro estava justo ali, diante dele. Jackson duvidou, mas que demônios? ergueu-se e beijou uma de suas nádegas. Alani soltou um gritito e caiu para trás, em cima dele. Jackson voltou a inundar-se, esta vez com o Alani em cima, esperneando tão forte que esteve a ponto de afogá-lo. Agarrou-a para que se estivesse quieta e voltou a emergir. Ela tossiu, lhe cuspindo água na cara, e Jackson esperou a que também recuperasse o fôlego. —Está bem? —Não —se apartou o cabelo da cara—. Não me posso acreditar isso. —Diga-me isso —Jackson a aproximou outra vez a escalerilla—. Mas Trace terá vindo por algo, assim mais vale que nos movamos. Ela ficou olhando-o. —Crie que passa algo? —Estou seguro —Trace tinha cara de querer matar a alguém, e não por ter encontrado a sua irmã pulando com ele no lago—. Vamos, vamos. Ela baixou o queixo. —Ja! Não lhe crie isso nem você —lhe indicou que subisse—. Você primeiro. —Quer que te faça uma exibição, né? —Prefiro que a você faça a fazê-la eu. —Desmancha-prazeres —Jackson saiu da água, deu-se a volta e lhe tendeu a mão—. Vamos, saia. —Me traga primeiro a toalha. Jackson lhe sustentou a toalha enquanto Alani ficava as braguitas do biquíni. Não se incomodou em ficar o prendedor. Quando começaram a subir para a casa, Trace saiu ao pátio. Jackson o conhecia o bastante bem para reconhecer os sinais de uma raiva feroz. Trace era quase sempre o homem mais refinado e sofisticado que tinha conhecido nunca, mas quando era necessário tinha a astúcia inata e os reflexos mortíferos de um animal selvagem. Aquela era uma dessas vezes. Na porta, diante de Trace, Jackson deu um rápido beijo ao Alani. —vou falar com seu irmão enquanto te seca. Trace ficou ao bordo do pátio com uma pasta na mão e o olhar fixo no lago. Jackson não se deixou enganar. A Trace nada lhe acontecia desapercebido. Alani levantou o queixo com gesto desafiante, mas entrou na casa, e Jackson foi sentar se na tumbona. —Está bem, me diga o que seja. Mas que seja rápido, porque te asseguro que sua irmã não vai demorar muito em voltar. —Típico dela —respondeu Trace sem deixar de olhar o lago. Logo baixou a voz e acrescentou com um toque de humor—: Não posso acreditar que estivesse banhando-se nua. Jackson se tornou para diante, apoiou os braços nos joelhos e esperou. Trace lhe surpreendeu ao dizer:
—Sinta-lhe bem estar contigo —se voltou para olhar ao Jackson—. Os bestas que a seqüestraram lhe fizeram mal, mas não a dobraram por completo. recuperou-se e agora, contigo, está melhor que nunca. Jackson não soube o que responder, assim não disse nada. Alani estava perfeitamente. Apesar de seu caráter reservado e de suas maneiras circunspetos, era muito mais forte do que acreditava seu irmão. —Confio em que te dê conta do apuro no que está metido. claro que sim, mas de todos os modos disse: —A que te refere? Trace se encolheu de ombros. —Se lhe fizer mal, não nos vai sentar bem. Nem a mim, nem a Dare. —Sim —Jackson se olhou as mãos—. O caso é que não pude me manter afastado dela. —Sei —o semblante de Trace voltou a endurecer-se—. Marc Tobin também sabe, igual a todo mundo. Por isso estou aqui. Jackson fechou os olhos ao ver confirmadas suas suspeitas. —Merda. —Terá que te ocupar você do Alani. Abriu os olhos outra vez. —Que demônios quer dizer com isso? —Que vai estar colocada totalmente nisto Y... —Disso nada. —...e ao parecer vais ter que ser você quem se assegure de que faça o que lhe digamos. —Será uma brincadeira, não? —Você começou isto, Jackson. Você trocou a dinâmica da relação. cedo ou tarde tem que assumir o que faz e como o faz —como se lhe doesse dizê-lo, acrescentou entre dentes—: Agora é a ti a quem escuta, não a mim. Assim que toca a ti te assegurar de que faça o que seja preciso e de que não corra perigo. Jackson teve um mau pressentimento. —Solta o de uma vez, maldita seja. —Vai a uma missão de merda. —A ver o Tobin? Trace assentiu. —E Alani tem que ir contigo. Capítulo 14
Alani se deteve junto a porta, atônita. Pôs-se a toda pressa uma camiseta larga em cima das calcinhas do biquíni. Ainda tinha o cabelo molhado e fibras de erva pegas aos pés. Voltou a sair precipitadamente, disposta a lhes obrigar a que a incluíram na conversação. Mas o que queriam dizer com isso de que ela também tinha que ir a uma missão? Sem parar-se a pensar, decidiu ficar escutando um pouco mais. Mas não serve de nada. Rígido pela tensão, Jackson olhou para o lugar onde se escondia. —Sai, Alani. Trace acrescentou: —Isto também te concerne, carinho. Consciente de que se pôs tinta, saiu ao sol. —Trace —disse com suas impecáveis maneiras—, não lhe esperávamos. Trace dissimulou sua tensão com um sorriso torcido.
—Isso salta à vista —assinalou ao Jackson com a cabeça—. Sente-se, quer? —Posso te trazer algo de beber primeiro? —Não —se aproximou dela, agarrou-a por braço e a levou para um assento. junto ao Jackson. Alani sentiu uma tensão premente no ar carregado de hostilidade. Trace deu uns golpecitos na pasta que levava e disse: —Queria lhes falar disto. Alani olhou ao Jackson e logo, de novo, a seu irmão. —O que está passando? —Muitas coisas, em realidade —Trace pôs uma cadeira diante deles e se sentou—. Tobin te chamou, mas respondi eu. —Esse filho de puta a chamou? —Jackson acrescentou com voz baixa e desapaixonada—: Lhe disse que não voltasse a aproximar-se dela. —E se não tivesse estado tão desesperado, certamente te teria feito conta. —Desesperado? —Alani não sabia o que pensar—. Essa gente que disparou ao Jackson... em realidade queria matar ao Marc? Está ferido? Dispararam-lhe? —Nestes momentos é impossível saber quem era o branco essa noite. Tobin diz que alguém quer matá-lo. E a vós também —Trace a olhou—. fui a vê-lo, mas só quer falar com o Jackson. Fez-se o silêncio e Alani sentiu que lhe apitavam os ouvidos. de repente lhe custava respirar. Trace exalou um suspiro. —E só se você estiver presente. —Que o fodam —Jackson se tornou para diante, furioso—. Eu lhe farei falar. —Sinto muito, mas isso já o tentaram outros. Alani se tampou a boca com a mão. —Você? —Não. Já estava no hospital quando fui ver o. Torturaram-lhe. A verdade é que estiveram a ponto de matá-lo —Trace a observou atentamente—. Está bastante mal. —Meu deus —resmungou Jackson, enojado. Trace lhe aconteceu um relatório do hospital. —Tendo em conta que sobreviveu, eu diria que é mais duro do que pensava. Jackson jogou uma olhada ao relatório e fechou a pasta sem dizer uma palavra. Chiou os dentes. Trace tampouco parecia muito contente. —Conseguiu escapar de algum modo e está esperando a falar contigo para te dar todos os detalhes. —Não entendo —disse Alani—. por que ao Jackson? —Porque sabe que eu posso lhes proteger —respondeu Jackson. —Exato —disse Trace—. E quer que Alani esteja presente porque imagina que assim estará a salvo de ti. Enquanto Alani se esforçava por compreendê-lo, Jackson assentiu com um gesto. —Quer amparo, imagina que eu posso dar-lhe mas não se confia em que não vá acabar o que começaram esses tipos. Trace alargou o braço para a mão do Alani. —Sinto muito, carinho, mas em ti sim confia. Embora me sabe muito mal, temos que averiguar tudo o que possamos. antes de que Alani pudesse assimilar a notícia, Jackson se levantou. —Ainda está no hospital? —Seguirá ali uns quantos dias mais. Jackson percorreu o alpendre e disse: —Quer que vamos ver o ali? —Sim.
—Poderia ser uma armadilha. —Sei. Ao Alani dava voltas a cabeça. —Estão fazendo planos sem contar comigo! —Planos necessários —lhe disse Jackson. E acrescentou dirigindo-se a Trace—: Nos cobrirão Dare e você? —Eu dentro, Dare fora. —Quando? —quanto antes. Cabe a possibilidade de que, se de verdade escapou, não tenham podido segui-lo e portanto não o tenham localizado ainda. Nada daquilo tinha sentido para ela. —Se de verdade escapou? O que quer dizer? Trace se encolheu de ombros. —É possível que o deixassem partir, pensando que contataria com o Jackson. —Com a esperança de nos fazer sair à luz —acrescentou Jackson. A armadilha da que tinha falado. um pouco enjoada, Alani se levou a mão ao estômago. Jackson a olhou por fim. —vá vestir te. Aquela áspera ordem foi a gota que encheu o copo. Alani se levantou lentamente. —Como há dito? Trace recolheu seus papéis e se voltou para a porta do pátio. —Espero-lhes dentro. Que seu irmão partisse convenceu de que ele também queria que fora a preparar-se. —Se não querer ir —disse Jackson imediatamente—, diga-o. Já me ocorrerá algo. —Trace diz que tenho que ir. —Ao diabo com isso. Ao diabo com Trace —a agarrou pelos antebraços—. Posso arrumar o de outra maneira. Estava preocupado por ela, mas Alani não ia permitir que lhe dissesse o que tinha que fazer. —Como? —Ainda não sei. Você não se preocupe por isso. Como não ia preocupar se? Com suas exigências, Marc ia pôr a no meio do perigo. Mas, se era sincera consigo mesma, apesar do assustada que estava, preferia estar com o Jackson. A idéia de que resultasse ferido lhe assustava ainda mais. Sabia que estava apaixonada por ele, e não tinha sido fácil calar-lhe esses últimos dias. Mas já que não podia dizer-lhe ao menos podia demonstrar-lhe. Aproximou-se e levantou o olhar para ele. —vou vestir me —tremeu isso o lábio e tragou saliva com esforço—. Farei o que seja necessário. Mas não vou A... Jackson a beijou apaixonadamente, deixando-a sem respiração. Colocou-lhe a língua na boca e a levantou, lhe jogando a cabeça para trás enquanto devorava sua boca. Alani deixou escapar um gemido de alarme e ele se apartou. Respirando agitadamente, disse: —As coisas não funcionam assim, neném. Já não —ficou calado um instante para que assimilasse suas palavras, para que sentisse sua própria indefensión. Logo acrescentou—: Quer vir? Bem. Mas terá que deixar a um lado o que há entre nós. E eu também. Alani quis lhe perguntar o que havia entre eles exatamente, porque ele nunca o havia dito, mas não o fez. Não era momento de lhe perguntar por seus sentimentos. —Terá que fazer o que te diga e quando lhe disser isso. Respirará quando te disser que respire. E correrá quando te disser que corra. Sem fazer perguntas, aconteça o que acontecer. —Está cruzando uma linha, Jackson. —Já a cruzei —a soltou e se esfregou a nuca—. A cruzei o dia em que te conheci.
Lhe rompeu um pouco o coração. —Não sei o que quer dizer com isso. Jackson tomou sua cara entre as mãos e a olhou. —Quero dizer que tem que estar fora de perigo, não rodeada por ele. —Utilizaria isto como desculpa para... para...? —Não —lhe deu um beijo mais tenro, quase de desculpa—. O que quero dizer é que me importa tanto que não suporto pensar que possam te ferir. Sentiu-se tão aliviada que quase lhe falharam as pernas. Não era precisamente uma declaração de amor, e sabia que Jackson se preocupava com um montão de gente: não poderia ter feito seu trabalho, de não ser assim. Mas ao menos não ia obrigar a ir. —Tampouco eu gosto da idéia de que lhe firam. Seu semblante se endureceu. —A isso precisamente refiro. Não pode pensar assim. Estava louco?, pensou Alani. —Sob nenhum conceito —acrescentou— questionará minha ordem. —De acordo —exalou um profundo suspiro para acalmar-se—. Mas já falamos que isto, recorda? Não é necessário que me dê ordens. Posso seguir suas indicações sem nenhum problema. Ele arqueou as sobrancelhas. —E entretanto ainda não foste a te trocar de roupa. Alani não fez conta. —Posso estar lista em quinze minutos. Trace e você podem aproveitar para ultimar seus planos. Jackson esticou a boca... até que Alani ficou nas pontas dos pés para lhe dar um beijo. —Confio em ti, Jackson. Não vai passar nada —disse, e partiu. Ao entrar, entretanto, tremeu de medo. Se Jackson ficava assim, a situação tinha que ser grave. Mas queria que ele soubesse que podia assumi-lo. Podia assumir a que se dedicava. Molly, a mulher de Dare, era muito forte. E Priss, a mulher de Trace, mais ainda. Tinha que dar a talha ou dar-se por vencida e renunciar ao Jackson e a seu futuro juntos. Mas amava ao Jackson, de modo que dar-se por vencida não entrava em seus planos. Isso significava que tinha que conseguir que aquilo saísse bem, e o faria de um modo ou outro. A viagem ao hospital, que fizeram em meio de um tenso silêncio, crispou os ânimos do Alani. Teria desejado que Jackson a tranqüilizasse, mas ele se passou todo o trajeto esquadrinhando as zonas pelas que aconteciam... e pensando. Alani não queria interrompê-lo, mas o silêncio a pôs tão nervosa que não conseguiu relaxarse. —Dare já está no hospital? —Apostado fora, em algum lugar com boa visibilidade, para assegurar-se de que entramos e saímos sãs e salvos. Ainda não viu nada nem a ninguém, ou me haveria isso dito. Voltou a fazer o silêncio. Alani se esclareceu garganta. —E Trace está dentro? —Vigiando a zona para assegurar-se de que a habitação do Tobin não está vigiada por terceiras pessoas —a olhou—. Faz o que te diga e tudo sairá bem. —Não estou preocupada —mentiu ela—. É simples curiosidade. —Se você o diz —flexionou as mãos sobre o volante—. Chegaremos dentro de uns minutos. Quando entrarmos, fica a minha esquerda, um passo por detrás de mim. Não olhe a seu redor. notase muito.
—Vai armado? —Sim, mas não como cria. Não se preocupe por isso. Irritou-lhe que insistisse tanto em que não se preocupasse. —É a primeira vez que faço isto. Quero saber a que atenerme. —Não precisa saber nada, te limite a fazer... —O que me diga, já sei —se recostou em seu assento. Queria lhe fazer mais pergunta, mas desistiu. Não queria distrai-lo—. vou entrar contigo na habitação ou a esperar no corredor? —Entrará na habitação —empurrou por volta dela a pasta—. E agora que o diz, deveria jogar uma olhada à foto do Tobin antes de entrar. Parece um asco, e não quero que... leve-te uma surpresa. Ela olhou a pasta com inquietação. Não era das que se deprimiam ao ver o sangue, mas nunca tinha visto ninguém gravemente ferido, e menos a alguém que tinha significado algo para ela. —A foto está sujeita à pasta com um clipe. Aí, na parte de diante —ao ver que duvidava, Jackson abriu a pasta—. Posso te dizer por experiência que as lesões sempre parecem mais graves do que são, sobre tudo se se trata de feridas na cabeça. Santo Deus. Entre notas e documentos impressos, a foto do Marc pareceu lhe saltar à vista. Se Jackson não lhe houvesse dito que era ele, não o teria reconhecido. Tinha um olho inchado, negro, arroxeado e vermelho. O outro o tinha abafado com uma vendagem. Tinha pontos e hematomas em toda a cara e o nariz, a mandíbula e o queixo horrivelmente machucados. Já que guardava silêncio, horrorizada, Jackson tomou sua mão, a apertou e voltou a soltá-la. —Trace diz que pode falar, mas não é fácil tendo o nariz e a mandíbula roda. Tem o olho enfaixado porque lhe têm quebrado a concha ocular. ficará bem se conseguir não voltar a meter-se em confusões. —E aí é onde intervém você? —Esse é seu plano. —E o teu? —Depende do que me diga. Se te tendeu uma armadilha, se teve algo que ver com seu seqüestro, é homem morto. Ao Alani nem sequer lhe tinha ocorrido essa idéia. —E se só ia a por ti? Jackson a olhou de esguelha. —Não sabemos que papel jogou em tudo isto, assim mais vale que não antecipemos acontecimentos. —Nem um assassinato. —Estou preparado para tudo. Vê te fazendo à idéia. Outra ordem? Jackson entrou no estacionamento do hospital e estacionou longe da entrada principal. Alani fez gesto de olhar a seu redor, mas ele a agarrou pelo queixo. —Não. Se houver alguém vigiando, não quero que nos delatemos. Alani se estremeceu ao pensar que alguém pudesse estar observando-os. —Quer que pensem que não é consciente do perigo que corre? Ele esboçou um sorriso torcido. —Não quero que pensem que sou idiota —desabotoou seu cinto de segurança e o dela—. Mas nos convém que pensem que vou demasiado, que confio no Tobin. Assim eu levarei vantagem —abriu sua porta—. Não te mova até que dê a volta. ficou os óculos de sol refletivos e rodeou o capô para lhe abrir a porta. Alani saiu e se colocou a sua esquerda, como lhe havia dito. Não queria entorpecer seu trabalho. Certamente Jackson esperava que fora um estorvo, e estava desejando lhe demonstrar o contrário. Ela queria que lhe fizesse caso só como mulher, não como uma vítima em potência. Tinham estacionado tão longe que tiveram que cruzar os descuidados jardins do hospital e
passar junto a carros desvencilhados e uns quantos vagabundos. Cada vez que o medo se agitava dentro dela, esforçava-se por dissimular. Se Jackson não estava preocupado, por que ia estar o ela? —Respira fundo, carinho. Recorda: ninguém vai voltar a te seqüestrar. Porque ele não o permitiria. —Claro que não —esboçou um sorriso forçada—. Seguro que não passa nada. Jackson lhe lançou um olhar eloqüente, mas não disse nada. Alani desejou poder ver Dare e a Trace em lugar de ter que confiar em que estavam em seu sítio, e apertou o passo para não ficar atrasada. Quase tinham chegado ao caminho que rodeava o hospital quando algo se moveu entre os matagais. Ouviram um profundo grunhido. Alani deu um salto. Jackson, não. —Não passa nada. Só é um animal. —Um animal? Aqui? —pareceu-lhe improvável, já que estavam em uma zona urbana. Jackson enrugou o cenho e ficou olhando um momento. Logo se aproximou dos matagais e se agachou. Alani sentiu um impulso quase irrefreável de olhar a seu redor. —O que faz? —Espera —fez um som suave e persuasivo e um gato de cara peluda apareceu a cabeça. Uns gigantescos olhos verde esmeralda brilharam entre sua pelagem comprido, cinza e nata. —Uuuuy! —ao Alani lhe encolheu o coração. O pobre gato parecia meio morto de fome, nervoso e um pouco ferido. Tinha o cabelo enredado e condensado—. Um gatinho. —É um gato adulto —afirmou Jackson—, só que está muito fraco —seguiu lhe tendendo a mão e o gato se aproximou o suficiente para olisquearlo. Depois, voltou rapidamente para seu esconderijo. —Seguro que tem fome —Alani não suportava ver sofrer aos animais. Uma de suas obras benéficas favoritas era um refúgio que havia perto de sua casa no que não matavam aos animais. Quando podia, oferecia-se voluntária para passear aos cães e escovar aos gatos—. Sei que é mau momento, mas ódio ter que deixá-lo aqui. —É importante para ti? —Jackson não parecia contrariado, mas sim mas bem curioso. Alani olhou um momento a seu redor, mas não viu nada, salvo um par de carros que procuravam estacionamento. Mesmo assim, convinha não alargar muito a conversação. —Sei que, tendo vistas humanas em perigo, um gato guia de ruas não parece grande coisa mas... —Para mim sim o é —se voltou para olhar ao gato—. Eu não gosto de ver sofrer a nenhum animal. Que homem tão assombroso. Alani lhe pôs uma mão no ombro. —Possivelmente, quando voltarmos ao carro, se tudo for bem, poderíamos chamar um refúgio ou algo assim. Jackson ficou em pé e a tirou da mão. Enquanto se afastavam, disse: —Já veremos o que nos ocorre quando voltarmos a passar por aqui. Possivelmente possa agarrá-lo eu mesmo. —Diz-o a sério? Encolheu-se de ombros. —por que não? Se logo segue por aqui, não perdemos nada tentando-o —levantou a mão do Alani e beijou seus nódulos a modo de desculpa—. Mas agora mesmo não posso. Alani olhou para trás e viu que o gato os olhava fixamente, com uma expressão esperançada mas receosa em seus grandes olhos verdes. assim, Jackson estava disposto a matar ao Marc, mas queria tentar persuadir a um gato guia de ruas para fazer-se carrego dele. —É alucinante —se agarrou a seu braço—. Espero que fique por aqui. —Eu também —a conduziu a uma entrada lateral que certamente se utilizava para entrega de fornecimentos.
Alani temeu que saltasse um alarme quando abriu a porta situada junto a um mole de carga, e ao ver que não era assim seu coração voltou a pulsar a ritmo normal. Uma vez dentro se sentiu mais tranqüila, e até deixou escapar um suspiro. —Menos mal que havemos... Nesse instante Jackson se deteve e a pôs atrás dele. —Passos. aproximam-se depressa. E ficava em guarda por isso? A fim de contas estavam em um hospital. Em uma asa muito tranqüila do hospital, mas mesmo assim... Alani apareceu por detrás dele e viu um comprido corredor deserto com numerosos quartas de armazenagem. —Possivelmente seja um zelador —sussurrou. Jackson pareceu aumentar-se antes seus olhos. —Não acredito —abriu a porta de um dos quartos e a fez entrar nele—. te Pegue à parede do fundo. E não diga nenhuma palavra —ele entrou também no quarto, mas ficou junto à porta aberta. Aturdida pelo medo, Alani olhou a seu redor e viu caixas de fornecimentos empilhadas, alguns cubos de esfregar, garrafas de limpador, aspiradores e escovas de diversos tamanhos. Esquivando cacarecos, retrocedeu até que seus ombros tocaram a parede do fundo, tal e como lhe tinha pedido Jackson. Os passos soavam cada vez mais perto. Alani sentiu que sua traquéia se fechava e que o ritmo de seu coração se acelerava. Não sabia o que podia esperar, mas no fundo pensava ainda que certamente se estavam preocupando com nada. Era muito provável que não fora mais que uma pessoa que tinha ido visitar um paciente. Ou um médico. Ou uma enfermeira. Quase se tinha convencido disso quando de repente Jackson e outro homem começaram a brigar. Foi tudo tão rápido que teve que tampá-la boca com a mão para sufocar um grito. Jackson se separou do cuartito de armazenagem no instante em que um homem corpulento e de pele escura lhe lançava uma navalhada à cara. Ficando nas pontas dos pés, com os braços relaxados e o semblante alerta, Jackson esquivou a folha letal e, fazendo ornamento de uns reflexos velozes como o raio, atirou-lhe um golpe na garganta e seguidamente uma cotovelada na cabeça e um joelhada na tripa. «Caralho». A faca ressonou ao cair sobre o chão de linóleo e o homem se dobrou levando-as mãos à garganta. Tinha começado a ficar azul e os olhos lhe saíam das órbitas enquanto tentava respirar e se afogava. O horrível som que fazia recordava ao grasnido de um ganso. Logo, Jackson o empurrou contra outro homem que tentava tirar uma arma. O segundo homem perdeu o equilíbrio, cambaleou-se e Jackson se equilibrou para ele. Seu punho se estrelou contra a mandíbula do desconhecido com força imparable. O homem jogou a cabeça para trás, cambaleou-se de novo e quando conseguiu endireitar-se Alani pensou que sem dúvida Jackson lhe tinha quebrado a mandíbula. Ao ver que tinha os lábios e os dentes torcidos lhe deu um tombo o estômago. Sem lhe dar ocasião de recuperar do primeiro golpe, Jackson lhe atirou outro que lhe rompeu o nariz. O sangue lhe salpicou a camiseta. Um murro mais e o desconhecido se desabou desmañadamente, com uma perna dobrada sob o corpo e o tornozelo extrañamente torcido. —Deus meu —Alani sabia que Jackson, Dare e seu irmão eram homens muito capazes, mas nunca os tinha visto em ação, não se esperava que... Depois de recolher a pistola e a faca, Jackson apareceu ao interior do cuartito e a agarrou pela boneca. —Saia. —Meu deus —repetiu ela enquanto saía, tremendo. —Move a bunda, neném. Não vão ficar aí para sempre. —Sinto-o —recordando sua resolução de não ser um estorvo, tentou não olhar aos homens
cansados no chão e apertou o passo. Além disso, não queria que voltassem em si enquanto ela ainda estava perto. Quando esteve um pouco apartada, jogou uma olhada. Jackson os tinha deixado fora de combate com muito pouco esforço. Nem sequer lhe tinha alterado a respiração. —Incrível. —Tão pouca fé tinha em minha capacidade? —Jackson deu a volta ao primeiro dos dois homens, que se tinha desacordado por falta de ar, pondo-o de barriga para baixo. Atou-lhe as mãos detrás das costas com umas esposas de náilon e logo os pés. Arrastou-o ao interior do cuartito e retornou para fazer o mesmo com o segundo. O desconhecido começou a voltar em si, mas Jackson o deixou de novo inconsciente de um murro. Alani olhou seus grandes punhos e não pôde evitar pensar em quão tenros podiam ser quando a tocavam. Jackson não era um homem corrente, com motivações e princípios singelos. Aquelas contradições assombrosas a deixavam fascinada. depois de atar rapidamente aos dois homens, Jackson se serve da faca para cortar várias tiras de suas camisas e amordaçá-los com elas. Deixou-os tão incómodamente atados que Alani quase se compadeceu deles. Quase. Por último, Jackson atou juntas as esposas de ambos, de pés e mãos. Se voltavam em si (e Alani não sabia se seria assim), não poderiam fazer outra coisa que retorcer-se como um peixe tirado da água. Sentindo-se muito incapaz, ficou a um lado, segura de que apareceria alguém pelo comprido corredor e lhes surpreenderia fazendo essas coisas... tão ilegais. Mas quando os dois homens estiveram imobilizados, Jackson exalou um suspiro, sorriu-lhe e se penteou o cabelo com as duas mãos. —Lista? Alani ficou ali parada, sem fala. —Espabila, mulher —disse ele—. Te necessito comigo aos cem por cem. —Claro —assentiu com a cabeça, tragou saliva e por fim recuperou a fala—. O que quer que faça? Jackson soltou uma gargalhada, mas não disse nada enquanto se tirava o telefone móvel do vaqueiro e, usando o polegar, chamava a Dare. Depois de uma breve vacilação, disse: —inutilizei a dois, mas tem que haver... Já o tem? Genial. Sim, eu aviso a Trace. Alani disse: —Havia um terceiro? Jackson pendurou e assentiu com a cabeça. —Sim. Alguém teve que lhes dizer por onde entramos, não? Ah. Nem sequer lhe tinha ocorrido. Tinham entrado e aqueles tipos estavam... ali. —Queriam nos matar? Jackson se encolheu de ombros. —Mas não se preocupe. Estes dois estão fora de combate, e Dare se encarregou do outro. Alani não perguntou como. Jackson voltou a pulsar umas teclas do telefone, esperou e o telefone emitiu um assobio em resposta. —Um código? —Sim, para avisar a Trace do que aconteceu —se guardou o telefone e a olhou espectador. Alani sacudiu a cabeça. —Dá medo. —Sim. Mas sou o mar de hábil, a que sim? —sorriu, passou-lhe o braço pelos ombros e a apertou um instante—. Uf, precisava-o —disse. —O...? —Alani não dava crédito—. Se pode saber por que precisava te pôr violento? —Por frustração sexual?
Alani ficou boquiaberta. —Deixei-te insatisfeito? —Claro que não. Mas nos interrompem continuamente. —Que nos interrompem? —não podia acreditar que estivessem mantendo aquela conversação em um momento assim. —Sim —lhe lançou um olhar lascivo—. Só te tive a sós três dias. E tinham feito o amor múltiplos vezes cada dia, de sol a sol, e um par de vezes até a tinha despertado em plena noite. —Está louco? —Pelo sexo? Contigo? Certamente —logo acrescentou—: Não acredito que haja mais aqui, mas em seguida o descobriremos. Vamos. Alani não disse nada mais enquanto cruzavam o hospital. Quando chegaram ao elevador viu gente no vestíbulo, o que a seu modo de ver diminuía um pouco o perigo. Mas mesmo assim não pôde relaxar-se. —Hey —Jackson a apertou contra seu flanco—, respira fundo. Tentou-o, mas não serve de nada. E isso a irritou. Jackson parecia tão tranqüilo que, em contraste, seu nervosismo parecia amplificado. Ele a olhou. —Tem-no feito muito bem. Oxalá. Mas ela sabia a verdade. —Não tenho feito nada. —Não te puseste em meu caminho. Não gritaste —atirou em brincadeira de uma mecha de seu cabelo—. Não te deprimiste. Nem vomitaste. Certo. Pôs as mãos à costas. Não queria que ele visse que lhe tremiam. —Não há dúvida de que eram dos maus? —Não, nenhuma. Viu a faca e a pistola, não? —Também vi os tuas outras vezes. Ele soltou um bufido. —Não é o mesmo e você sabe —se abriram as portas do elevador e Jackson a fez entrar em seu lado—. Não estavam vendendo biscoitinhos, neném. Era curioso, tendo em conta o que acabava de ocorrer, mas já não parecia tenso. —Agora parece mais depravado. —Sim, bom, sabia que ia passar mas não quando e estava um pouco... em brasas. Por saber como lhe tomaria, quero dizer. Não queria te desgostar. Isso era o que mais lhe tinha preocupado? —Mas como te dizia, tem-no feito muito bem. Como toda uma profissional. Ela se tinha escondido naquele quarto, como lhe tinha ordenado. —Você gosta de como cumpro as ordens, não? —Isso é o que tem feito? —inclinou-se e lhe deu um quente beijo—. Talvez deveria provar a te dar umas quantas na cama. O que te parece? Alani ficou atônita, mas gostou da idéia. —Talvez. Os olhos do Jackson brilharam. Logo voltou a beijá-la. —Está jogando sujo, neném. Me está pondo isso dura quando não posso fazer nada a respeito. Alani foi olhar se era certo, mas ele a estreitou entre seus braços. —Não, não olhe. Seria pior. Sorriu quando Alani pôs-se a rir. O que divertido e que surpreendente era Jackson. Não podia haver outro homem como ele. Assim que se abriram as portas do elevador, agarrou-a pela mão e saiu.
—vamos entrar juntos a ver seu ex. Logo te tirarei daqui e iremos a algum lugar mais privado. —Não faz falta que refira a ele assim —respondeu, zangada. —por que não? Saía com esse cretino, recorda? E isso era o que pretendia? Recordar-lhe Lhe deu vontade de lhe dar uma cotovelada, mas se conteve ao ver que se detinha frente a uma porta. —Preparada? Os nervos se apoderaram dela. Pensou na fotografia que lhe tinha ensinado Jackson, em como a tinha traído Marc. Não, não estava preparada absolutamente, mas assentiu de todos os modos. Jackson não se deixou enganar. Pôs as mãos a ambos os lados de seu pescoço, sob seu comprido corto. —Tem muitas guelra, Alani. vais fazer o muito bem, me acredite. Vindo de alguém como Jackson, era o completo mais bonito que tinha ouvido em muito tempo. —Está bem. Acabemos com isto de uma vez —empurrou a porta, entrou e se parou em seco ao ver o homem machucado e irreconhecível que descansava na cama de hospital. Possivelmente sim fora a deprimir-se. Capítulo 15
Jackson não lhe deu oportunidade de deprimir-se. Pareceu-lhe admirável que se esforçasse por parecer valente e lhe agradeceu o esforço, mas queria que soubesse que não era necessário. Rodeou-a com um braço, tanto para sustentá-la em pé como para que Tobin tivesse claro que agora era dela. Tobin os olhou com um olho arroxeado, tão inchado que era um milagre que visse por ele. O outro o tinha abafado com um curativo branco. Um grande hematoma escuro se estendia por seu nariz machucado. Com as orelhas arroxeadas, os lábios inchados e algumas outras feridas (e isso só na cara), dava pena vê-lo. Jackson, entretanto, não pensava lhe mostrar nenhuma piedade. —Que tal vai isso, Tobin? Quando o muito cretino grunhiu, Alani pareceu voltar em si. —Marc, meu Deus, está bem? —Sobreviverei —sussurrou com voz rouca—. O sinto. Água, por favor. Jackson sujeitou ao Alani. —Eu me encarrego —não queria que Alani se aproximasse dele. Rodeou a cama, agarrou o copo de plástico com a pajita e o aproximou dos lábios gretados do Tobin. Alani o olhou maravilhada, como se houvesse tornado a surpreendê-la. depois de que Tobin bebesse vários goles, Jackson deixou de novo o copo sobre a mesa com rodas. Aproximou uma cadeira para o Alani, a distancia prudencial, e cruzou os braços fixando o olhar no Tobin. —Assim que lhe deram uma boa, né? —Sim. Sem fazer nenhum esforço por ocultar seu desdém, Jackson resmungou: —Certamente o merecia. Tobin, surpreendentemente, esteve de acordo. —Chateei-o tudo. —Não me diga? E é o bastante preparado para te dar conta? —Crie que me fiz rico por acidente? —trocou de postura e seu rosto ficou paralisado de dor
uns segundos enquanto recuperava o fôlego. Por fim, movendo-se mais devagar, conseguiu erguerse um pouco—. Não sou idiota. —Disso não me deste provas. Tobin o olhou com zango por seu único olho. —Tomei-me um calmante faz uns minutos —se indicou as costelas com a mão enfaixada—. Com um pouco de sorte fará efeito em seguida. Ao Jackson surpreendeu que Alani guardasse silêncio ao vê-lo tão dolorido. Olhou-a e a viu com o cenho franzido e as mãos juntas e apertadas sobre o regaço. Estava tensa e desgostada, mas conservava a calma. Orgulhoso dela, voltou-se para o Tobin. —Os fármacos não lhe dão sonho? —Não. Não posso descansar, nem dormir. Não me atrevo. Ao menos até que saiba... —O que está a salvo? —Jackson se apoiou na cama—. Entendo. —Em realidade não sou um malvado, como você quer que seja —olhou ao Alani—. Sei que não pode me perdoar. Eu tampouco posso me perdoar a mim mesmo, mas quando me deixou... — respirou fundo com dificuldade, emitindo um assobio, e lutou por conter a tosse—. Meu ego sofreu um golpe mortal. Jackson levantou as sobrancelhas. —Seu ego, não seu coração, né? —Fazia muito tempo que ninguém me rechaçava —levantou uma mão mas voltou a baixá-la com cuidado sobre a cama—. Vantagens do poder e o prestígio. Alani se levantou, mas não se aproximou dele. colocou-se junto ao Jackson. —O que fez, Marc? —Essa primeira noite, quando saí de sua casa, me aproximaram umas pessoas. Disseram que corria perigo com o Jackson. Que eram caça recompensas e que andavam atrás dele, que havia uma recompensa. Disseram... disseram muitas coisas —acrescentou entrecortadamente—, e depois de como me tinha jogado de sua casa quis as acreditar. Aquela confissão descafeinada sortiria algum efeito sobre o Alani? Jackson fez uma careta de desdém. —Quer me fazer acreditar que atuou em interesse do Alani? —Não, então não. Mas agora... Sei que quer protegê-la. Agora me dou conta de que isso era o que estava fazendo. Não sabia... Nunca suspeitei que essa gente era tão... —ficou calado um momento—. Foi por isso pelo que passou você, quando lhe seqüestraram? Jackson chiou os dentes. Esperava que não. Para impedir que Alani respondesse e tivesse que reviver o passado, disse: —Falemos de ti, Tobin, de acordo? Assentiu cansativamente. —Sim, tem razão. O que te ofereço é o seguinte: garante primeiro minha segurança e logo te direi o que possa para que possa manter ao Alani fora de seu alcance. Uma neblina avermelhada nublou os olhos do Jackson. —Sim, é um bode altruísta, não é isso? —Não pode fazer que me sinta pior do que me sinto, e isso não troca nada. Quero viver. —por que crie que eu posso garantir que siga com vida? —Porque, embora levavam pasamontañas, vi seus olhos —Tobin o olhou sem pestanejar—. E você tem o mesmo olhar. —Que se foda. Alani passou a mão por seu braço. inclinou-se para ele... e Jackson não necessitou mais para recuperar seu aprumo. —Não me refiro A... que parecessem cruéis —Tobin tragou saliva e fez outra careta de dor —. Me refiro a que pareciam capazes. Nisso é igual a eles. Entende-os. Certo. Jackson entreabriu os olhos enquanto pensava.
—Me diga o que acontecer, sem tolices. Dados concretos, é o único que quero. Todos. Começa pelo princípio. Tobin assentiu com um gesto. —Quando cortei a eletricidade... foi te tendem uma armadilha —se deteve uns segundos—. Queria te fazer danifico e fazer machuco a ela. Não suspeitava... Alani trocou de postura. —Que estava tratando com monstros? —estremecendo-se, deu um passo adiante—. Poderiam ser os mesmos que me seqüestraram. Os que me teriam vendido. Jackson observou ao Tobin e não viu nele reação alguma a aquela confissão. Assim já sabia que eram traficantes de seres humanos? —Poderiam ter matado ao Jackson. —Ou a ti —disse Tobin—. Mas eu não me dava conta. Pensei que o levariam, que lhe dariam uma surra. Pensei que tinham algo pessoal contra ele. Ficaria fora de jogo e eu estaria aí, contigo. —E logo o que? —perguntou Alani com aspereza—. Entre nós nunca houve nada importante. —Demônios, não sei. Pensei que te levaria um desgosto, que necessitaria um ombro no que chorar... —tragou saliva—. Reconheço que é a coisa mais parva que tenho feito nunca. Jackson atraiu ao Alani para si e disse: —Você sabe que a seqüestraram traficantes de pessoas. —Agora sim —a olhou com tristeza—. Me encerraram em um edifício pequeno, em um abrigo, possivelmente. Quando escapei, vi que havia perto dali uma casa de pedra muito velha. Ouvi... —deteve-se e lutou por recuperar o fôlego. —Merda —Jackson deu um passo adiante, deixando ao Alani a suas costas—. Bode. Deixou a mulheres ali, verdade? Tobin assentiu. —Não podia ajudar a ninguém. Consegui escapar com muita dificuldade. Mas ouvi... gemidos —olhou de novo ao Alani—. De várias mulheres. Jackson tinha já o telefone na mão. —Me diga onde, depressa. —Impedirá que me matem? —Se não lhe Mato eu primeiro... Os lábios inchados e quebrados do Tobin desenharam um sorriso. —Para isso está ela aqui —mas não perdeu mais tempo—. Estava perto da auto-estrada, a coisa de um quilômetro e médio, dentro do bosque —lhe disse o que pôde. Logo esperou com a vista fixa no Alani enquanto Jackson falava com Trace. Não lhe resultou fácil manter a compostura, sobre tudo enquanto Tobin a olhava tão fixamente. ficou diante dele para impedir que seguisse olhando-a. apartou-se o telefone da orelha e perguntou: —Quando foi isso? Quanto tempo leva fora? Tobin olhou o relógio e fez uma careta de dor. —Umas doze horas. —Quanto tempo —disse Alani, preocupada—. Já poderiam haver-se ido. —Provavelmente —disse Jackson, mas informou a Trace e pendurou. voltou-se para o Alani com um ar que ela entendeu à perfeição: quanto menos soubesse Tobin, melhor. Assentiu com um gesto para lhe mostrar que lhe entendia. Mas entendia também que ele faria algo por encontrar a essas mulheres, quão mesmo seu irmão e Dare? Alani retrocedeu até que suas pernas se chocaram com a cadeira. deixou-se cair nela outra vez. Jackson começou a passear-se entre o Tobin e ela.
—Como escapou? É impossível que percorresse a pé sessenta quilômetros, até este hospital. E além disso há outro hospital mais perto. Como é que acabou aqui? —Há dois hospitais mais perto, mas era muito arriscado. Pensei que me buscariam primeiro ali. Recolheu-me um caminhoneiro e fiquei com ele todo o tempo que pude, até que.. até que não pude suportá-lo mais, até que pensei que morreria se não me tombava. Então me deixou na entrada de urgências e aqui estou. Não estava mau. Ao menos tinha tentado antecipar-se aos acontecimentos e atuado com astúcia. —Teria sido preferível que não fosse a nenhum hospital, claro que imagino que não conhece nenhum médico que saiba manter a boca fechada. —Nunca me tinha feito falta. —Pensa-o para o futuro porque já lhe encontraram. Encarreguei-me que um par de valentões quando vínhamos para cá. Assustado, Tobin se ergueu a pesar da dor. —Onde? Quantos eram? por que não me há isso dito...? —Shh. Não passa nada —Alani se aproximou de repente e lhe ofereceu outro gole de água. Enquanto bebia, acrescentou—: Agora mesmo não podem te fazer danifico. Jackson não o permitirá. Jackson levantou uma sobrancelha... mas, maldição, tinha razão. —Não estavam mortos quando os deixei, assim que quem sabe de quanto tempo dispomos. Se tiver informação que mereça a pena, mais vale que comece a soltá-la. Alani deixou a água a um lado. —O caminhoneiro não chamou à polícia? —Não —grunhindo, Tobin voltou a recostar—. Lhe dava meu relógio para que tivesse a boca fechada. Jackson soprou, zombador. —Está-me dizendo que não lhe tiraram o relógio? —me acredite, o ofereci. Até lhes supliquei que ficassem. riram de mim e me golpearam ainda mais —fechou o punho, mas sem força. Pelo aspecto inchado de seus dedos, parecia que seus torturadores lhe tinham quebrado um par de articulações—. Disseram que assim entenderia que quão único queriam eram respostas. —A que perguntas? —disse Alani. Jackson fez uma careta maliciosa. —Pelo visto não pôde responder a nenhuma, ou a estas alturas estaria morto. —Exato. Envergonha-me reconhecê-lo, mas... Jackson cruzou os braços e disse: —Sim, sim, sim, está muito envergonhado, já sabemos. —...mas lhes disse o que sabia. —Ou seja, nada —e menos mal, porque se Tobin tivesse conduzido a aqueles porcos até o Alani, ele mesmo se teria encarregado de rematá-lo. —Disse-lhes seu nome, onde trabalhava Alani, seus horários... —Marc... —ao bordo do pânico, Alani se tampou a boca—. Meus empregados, meu escritório... —Não vai passar lhes nada —lhe assegurou Jackson—. Já nos encarregamos que isso. Alani pareceu tranqüilizar-se. —Graças a Deus. —Sinto-o muitíssimo, de verdade —Tobin tragou saliva e apartou a cara—. Queriam saber aonde te tinha levado Jackson, mas eu não tinha nem idéia. Disse-lhes tudo o que me ocorreu, mas não foi suficiente. —Assim seguiram te torturando —Alani respirou fundo e jogou os ombros para trás—. Não
está acostumado a esse tipo de gente. Entendo-o. Muito poucos agüentariam submetidos a torturas —alargou o braço para a mão do Jackson. Surpreso, ele a atraiu para si e a rodeou com os braços desde atrás. Necessitava que soubesse que nunca, sob nenhuma circunstância, trairia-a. Antes preferia morrer. Como se o entendesse, Alani se recostou nele e cruzou as mãos sobre as suas. —Se quer reparar o dano que tem feito, Marc, agora pode responDare às perguntas do Jackson. —Claro —seus olhos se umedeceram—.-me alegro de que estivesse com ele e que o que fiz não te tenha causado nenhum dano. —Dá obrigado a que Jackson tampouco resultou ferido, ou minha atitude seria muito distinta. Jackson a apertou brandamente para lhe dar as obrigado e voltou a tomar as rédeas da conversação. —A outra noite, quem era o segundo atirador? Tobin o olhou com desconcerto. Jackson sacudiu a cabeça, contrariado. —Não te faça o parvo agora. Já que está, mais vale que me diga isso. Tobin ficou olhando-o. —Não entendo. —Disparou-nos uma pessoa —explicou Alani—. Mas havia alguém mais. Um segundo atirador. —Eu sozinho sei de um. que me agarrou quando saí correndo. O mesmo que me havia dito que corria perigo com o Jackson. Jackson disse muito sério: —Parece que vais ser nos de tão pouca ajuda como a eles. —Mas... juro-te que não sei... O timbre estridente do telefone do hospital fez dar um salto ao Alani e proferir um gritito ao Tobin. Olharam todos o telefone, colocado sobre a mesita. Tobin tinha um olhar horrorizado quando disse: —Hão-lhe dito a alguém que estava aqui? A quem o hão dito? —com voz cada vez mais aguda, acrescentou—: Que demônios têm feito? —Nada —Jackson se aproximou do telefone e o levantou. O aproximou do ouvido e esperou sem dizer nada. Saudou-o uma voz distorcida eletronicamente. —Filho de puta, eliminaste a dois de meus melhores homens. Jackson se concentrou na chamada, esquecendo-se do Alani e Tobin. —A três, em realidade —ao outro lado da linha se fez um silêncio carregado de surpresa—. É difícil encontrar gente capaz nestes tempos, né? Claro que já deveria saber que o crime não sabe rentável. —Além disso é um listillo —uma risada demoníaca ressonou na linha—. Deveria me haver dado conta. Jackson levantou seu telefone móvel e marcou um código. Trace não podia fazer grande coisa, mas tinha que sabê-lo tudo, cada passado do caminho. —Vejo que não tem nada que dizer. —Estava esperando confirmação? —Jackson fingiu um bocejo—. Não me tinha dado conta. —Pois para que saiba, bode presunçoso, vou a por ti. —Sim? —recebeu o código de Trace. Não havia ninguém suspeito na zona, nem dentro nem fora. Mas seu interlocutor sabia já que tinham inutilizado aos dois valentões aos que tinha deixado na quarta de armazenagem. Significava isso que tinham a alguém infiltrado no hospital?—. Quando devo te esperar? —Muito em breve.
Jackson foi direito ao grão. —Como sabia onde estava? Outra risada diabólica. —Mentiria se te dissesse que encontrei a esse cretino, mas a verdade é que lhe hei dito a um de meus meninos que chamasse a todos os hospitais, e por fim lhe passaram com a habitação do Marc Tobin. Soava verossímil, mas Jackson não estava disposto a acreditar-lhe ainda. —E os valentões aos que deixei fora de combate? —Mandei um par a cada hospital da zona, só no caso de. —Não me diga? Tão minucioso é? —Sempre. Muito. Convém-te recordá-lo. Como se fora a esquecê-lo... —E como sabe que os deixei k.o.? —tentando lhe surrupiar, perguntou—: É que se escapou algum? Outro silêncio. —Quer dizer... que não os mataste? —Espera, já o entendo —disse Jackson, compreendendo-o de repente—. Sabe que os inutilizei porque respondi ao telefone, verdade? Se tivessem tido êxito... —Agora mesmo estaria vindo para aqui em lugar de estar na habitação desse imbecil. Ele tampouco estaria morto? Que interessante. —Sabe?, já que estamos tendo este bate-papo tão ameno, por que não me diz o que é o que quer? —Em princípio... só a ti. Uma sensação de alívio embargou ao Jackson. assim, Alani não estava em perigo? Que bem. Mas antes de que pudesse relaxar-se, o desconhecido acrescentou: —Mas agora, já que me causaste tantas moléstias, acredito que vou ficar me também com a garota. Jackson tentou refrear a raiva visceral que sentiu e disse em tom indiferente: —Ah, sim? —negando-se a olhar ao Alani, perguntou—: De que garota me fala? Uma risada rouca. Outra e outra, cheias de prazer e de espera. —Pode —sussurrou com malícia— que fique com as duas. Cortou a chamada. Jackson tentou acalmar-se. Queria ser preciso e metódico. Nunca tinha tido problemas para isso. A frieza com a que se enfrentava a uma briga era uma das primeiras coisas que Dare e Trace tinham gabado nele. Mas isso tinha sido antes de que Alani formasse parte de sua vida. Agora lhe parecia que compartilhava com ela uma conexão viva que alterava cada matiz de sua existência. Às vezes até os batimentos do coração de seu coração pareciam em sincronia com os dela, lhe fazendo consciente de cada um de suas mudanças de atitude, de seu nervosismo, de sua preocupação. E, nesse instante, de sua angústia. Aproximou-se tanto a ele que sentiu seu calor e respirou seu aroma doce. Sua presença fazia sua vida melhor... e ao mesmo tempo mais difícil. Tomou um segundo para recompor-se, para limpar-se e abrir a mente a outras possibilidades que não fossem seu seqüestro por um traficante de seres humanos capaz de dar uma surra mortal a um troglodita como Marc Tobin. Tinha que tirá-la dali, mantê-la a salvo. Ninguém a arrebataria. O primeiro era o primeiro. Tentando aparentar despreocupação, voltou-se para eles.
—Por onde íamos? —Pois eu estou a ponto de hiperventilar e Marc se ficou dormido —disse Alani pacientemente. Divertido, Jackson olhou ao Tobin com o cenho franzido... e viu que era verdade. —Por amor de... —aproximou-se dele e deu uma forte palmada em cima de sua cabeça. Tobin despertou com um grito. —vamos transladar te hoje mesmo. Tobin olhou a todas partes, assustado, e perguntou: —Aonde? —É melhor que não saiba ainda —se aproximou da janela para olhar fora e logo à porta para inspecionar o corredor. Voltou junto à cama e pulsou o timbre para chamar à enfermeira—. Manten acordado e procura que a enfermeira fique contigo todo o tempo possível. lhe diga que te dói algo. Não demoraremos muito, de acordo? —Quanto? —Uma hora ou menos. Está tudo arrumado —Jackson o assinalou com um dedo—. Enquanto isso, não fale com ninguém. Não contate com ninguém. Nem te ocorra chamar a seu escritório ou avisar a sua família de que está bem. Entendido? —Sim —tentou incorporar-se na cama, mas fez uma careta de dor. —Não te mova daí. Virão a te buscar. A mim não voltará para ver-me até dentro de um tempo, mas estará bem. Tobin respirou fundo lentamente e perguntou com desespero: —Está seguro? —Totalmente. Como se sentisse um imenso alívio, Tobin fechou o olho que não tinha enfaixado e se afundou na cama. —Obrigado. —Não o faço por ti. —Jackson... —Alani o olhou com expressão de recriminação, sacudindo a cabeça. Logo disse ao Tobin—: Está de mau humor, mas não te mentiria. Se disser que não vai passar te nada, assim será. Tobin assentiu com a cabeça. —Sei. Jackson a agarrou pela mão, zangado. —Vamos, você e eu temos que manter um pequeno bate-papo quanto antes. Alani rodeou sua mão com as suas. —Sobre o que? Ao sair da habitação se cruzaram com a enfermeira. Olhou com surpresa ao Jackson, sorriu e ficou observando-o enquanto se afastava. Alani lhe pôs má cara, mas Jackson a obrigou a lhe emprestar de novo atenção dizendo: —estive pospondo-o, mas já vai sendo hora de que te fale de Arizona. —De Arizona? O corredor estava espaçoso. Só se via um mudo de um lugar a outro de enfermeiras calçadas com tamancos de borracha e de médicos lendo informe. Jackson tinha muitas coisas que fazer e queria ficar às fazer quanto antes. —A garota da que te falei, a que salvei na ponte. —Ah —Alani apertou o passo para ficar a seu lado—. Crie que tem algo que ver com o que passou ao Marc? —Certamente —ao chegar ao elevador, sustentou a porta para que passasse um casal maior. A mulher, uma octogenária, empurrava uma cadeira de rodas em que ia sentado um senhor igual de ancião. Como o custava dirigir a cadeira, Jackson disse—: me Deixe a mim.
Consciente de que Alani lhe sorria, ajudou a entrar no elevador aos dois anciões e logo recolocó as flores, a pequena bolsa de viagem e os papéis que o ancião levava em cima. —Obrigado —disse a senhora—. Milton ganhou peso, a verdade. Cada vez me custa mais empurrar a cadeira. Jackson duvidava de que o velho Milt pesasse mais cinqüenta e cinco quilogramas, mas assentiu de todos os modos. Milton, que os olhava com seus olhos azuis descoloridos, resmungou: —Hei-lhe dito que era muito para ela —deu umas palmadas sobre seu joelho ossudo e disse a sua mulher—: Deveria te sentar aqui em cima. Assim iríamos os duas sobre rodas. —Milton —lhe deu uma palmada para fazê-lo calar—. Sempre fica assim de tontuelo quando tem que vir ao hospital. —Já —disse Jackson—. Arrumado a que é assim todo o tempo... e a que lhe encanta. Milton sorriu. —É claro que sim. —Mas Milton! —deu-lhe outra palmada—. te Comporte! Milton alargou o braço para tirar da mão a sua mulher, e Jackson teve uma sensação do mais estranha. Sentiu quase... melancolia. Olhou suas mãos unidas e envelhecidas e logo olhou ao Alani, mas ela estava observando ao casal com o semblante transbordante de ternura. —Se não lhes importar que o pergunte —disse Alani—, quanto tempo têm casados? —Cinqüenta e sete anos —lhe disse o homem—. E cada dia foi melhor que o anterior. A mulher lançou um suspiro. —tivemos muita sorte. Jackson não pôde suportá-lo: teve que tomar ao Alani da mão. Lhe apertou os dedos. Ao chegar ao vestíbulo, lhe disse: —Não te separe de mim —e ajudou aos anciões a chegar à entrada, onde um zelador se fez cargo deles. Daream-lhe as obrigado. Jackson lhes disse adeus com a mão e acrescentou: —Que passe um bom dia —ainda sorria quando se deu a volta. —Que casal tão maravilhosa —sussurrou Alani. Ao Jackson deu um tombo o coração para ouvir seu tom. Era uma pessoa muito tenra, e ele não queria que perdesse sua ternura. O fato de que alguém acabasse de ameaçá-la-o encheu de resolução e de afã de protegê-la. Pô-lhe a mão sobre os rins, mas em lugar de dirigir-se à porta pela que tinham entrado, encaminhou-se à sala de espera. tirou-se umas moedas do bolso e as introduziu em uma máquina vendedora. —O que faz? —perguntou Alani, e acrescentou com incredulidade—: Tem fome? Jackson meneou a cabeça. —Queria que apanhasse a esse gato, não? Se lhe oferecer algo de comer, será mais fácil. —O gato! —pôs-se a rir pela metade e seus olhos dourados se empanaram—. Não posso acreditar que me tenha esquecido por completo do pobrecillo. —É lógico, carinho —a rodeou com o braço para que as pessoas que havia na sala não vissem que estava chorando e lhe disse ao ouvido—: Está bem? —Sim, claro, é sozinho que... —inclinou-se para ele com um suspiro—. foi horroroso ver assim ao Marc, e mais ainda sabendo que as pessoas que lhe têm feito isso vão detrás de nós. E logo foste tão amável com esse casal, e eram tão adoráveis... Esperava acaso que fora antipático? —Esta é uma dessas estranhas reações que têm as mulheres ao estresse? Alani sorrio. —foi como subir a uma montanha russa. Para ele também. Agora que sabia que aquela gente também ia detrás do Alani, por suas
veias corria uma nova determinação. —Jamais permitirei que lhe façam mal. Alani levantou a cara para ele. —Por favor, não diga isso —tocou sua mandíbula—. Não quero que me façam mal, já sabe, mas seria espantoso para mim saber que lhe feriram por minha culpa. Jackson a olhou carrancudo pela surpresa. foi dizer algo, mas não conseguiu que lhe saísse a voz, assim que a tirou do braço e pôs-se a andar para o vestíbulo. Que fazia falta para que compreendesse quão capaz era? E o que tinha querido dizer, além disso? Não queria que lhe acontecesse nada, mas tampouco tinha querido que acontecesse nada ao Tobin. Ao Tobin, entretanto, não o tinha cuidadoso com aqueles olhos líquidos e transbordantes de... do que? De medo? De desejo? De amor? Grunhiu, frustrado. —Juro-te Por Deus, mulher... Apertando-se junto a ele, Alani o olhou surpreendida. —Está aborrecido? —Eu não me «desgosto» —não, a reação que Alani provocava nele era muito explosiva para uma palavra tão suave. Dobrou uma esquina e, atirando dela para afastar-se de olhares curiosos, dispôs-se a lhe jogar um sermão. Mas então ela o olhou sentida saudades e assim, de repente, Jackson voltou a perder o domínio de si mesmo. Capítulo 16
Apoderando-se de sua boca, utilizou a língua para lhe fazer abrir os lábios e a afundou entre eles para saboreá-la, para explorar a textura de sua boca e seus dentes, beijando-a até deixá-la sem respiração. Ali, no meio do corredor, rodeados pelo perigo, com seu irmão e Dare de guarda e um gato guia de ruas esperando a que o resgatassem, apoiou uma mão na parede, depois dela, e a beijou como um homem faminto. Como um homem que perdeu a briga e que se nega a reconhecê-lo. Grunhiu. Alani não resistiu. Reagiu a seu beijo com entusiasmo. Quando Jackson conseguiu recuperar a compostura e apartar-se, deu-se conta de que ela estava agarrando o peitilho de sua camisa. Seus olhos hipnóticos o olhavam desde muito perto. —Juro-te Por Deus, Jackson... Ele teve que refrear um sorriso e, embora sabia que o dizia em brincadeira, perguntou: —E agora o que? Alani lhe deu um suave murro no peito e respondeu: —Que me confunde —se umedeceu os lábios—. Mas um beijo era justo o que necessitava para me esquecer de outras coisas. Deus, que tesouro era para ele! Tomou sua cara entre as mãos e passou o polegar por seu lábio inferior. —Me alegro de te haver servido de ajuda. Ela inclinou a cabeça para observá-lo. —Quer me dizer a que veio isso? —O beijo? —encolheu-se de ombros. Como podia lhe explicar o que o fazia sentir, o efeito que produzia sobre seu corpo, sobre sua mente, inclusive sobre sua alma? Estava obcecado lhe
demonstrando algo, ou possivelmente demonstrando-lhe a si mesmo. Nesse momento não tinha tempo que perder, assim que se conformou dizendo—: A que está muito bom. Ela pôs cara de chateio. —Jackson Savor, isso não é uma resposta. Seu tom severo lhe fez graça. Cedendo a um sorriso, apartou-lhe os dedos de sua camisa e a agarrou pela mão. Era hora de ficar em marcha de novo. —se preocupa por mim —se se atrevia a negá-lo, beijaria-a outra vez. —E agora se inteira? Deu-lhe um tombo o coração antes de dizer com a maior indiferença de que foi capaz: —Pois sim, por que o diz? Ela pôs outra vez cara de chateio. —Deitaria-me eu com alguém que não me importasse? —Não sei —ele se deitou com mulheres que só gostava, mas não podia afirmar que lhe importassem. Não lhe apareciam em sonhos, nem o mantinham em um estado de desejo febril. Não voltava a pensar nelas quando partiam... e todas partiam porque ele não permitia que ficassem. Não gostava de estar com elas como gostava de estar com o Alani—. O faria? —Não. Um sorriso eloqüente se desenhou na cara do Jackson, mas não lhe importou. Era um começo, e melhor que pensar que só o queria pelo sexo. —Alegra-me sabê-lo. Ela levantou as mãos, exasperada. Jackson a ouviu resmungar, zombadora: —«Alegra-me sabê-lo». Ansioso por deixar de falar daquele tema, deteve-se junto à porta de um armazém, jogou uma olhada para assegurar-se de que ninguém os via e a abriu. Com os braços cruzados e expressão contrariada, Alani perguntou: —O que vamos fazer agora? —Necessito uma caixa —respondeu ele. —Para o gato? —Exato —apartou umas quantas coisas do caminho—. Você vigia. —Ah —sobressaltada, ficou em guarda—. Sim, claro —olhou a um lado e outro do corredor várias vezes, muito séria. Jackson meneou a cabeça e sorriu de novo. Encontrou uma caixa que era do tamanho adequado, mas estava cheia de toallitas de papel. —Esta servirá —abriu a tampa e esvaziou o conteúdo colocando-o em uma prateleira. —Bem, vamos —Alani o agarrou pela mão e atirou dele—. Não estou feita para os trabalhos de vigilância. Põe-me nervosa. —Pois não o parece. Está muito mandona —carregando com a caixa, deixou-se levar por ela até que afrouxou o passo ao passar junto ao quarta de armazenagem no que Jackson tinha encerrado aos valentões. um pouco angustiada, apertou sua mão. —Crie que ainda estão aí? —Se não estivessem, já saberíamos —a atraiu para si e baixou a voz—: Ou saíram por detrás, e então Dare os teria visto, ou tornaram por onde entraram, e então os teria visto Trace. Está tudo sob controle, neném, assim segue andando. —Não ia aparecer me, me acredite —estremecendo-se ao pensá-lo, apertou o passo outra vez. Quando chegaram à porta de saída, Jackson a fez parar-se. —Espera um segundo —jogou uma olhada à esplanada enquanto chamava a Dare—: Tudo espaçoso? —Te teria avisado se não fora assim —respondeu Dare.
Claro. Alani lhe tinha feito duvidar. —vamos sair. Só para que saiba, vou tentar apanhar a um gato. —Esse gato guia de ruas ao que viram ao entrar? —Sim, se ainda está pelos arbustos. —Sim, está. Juro-te que parece que lhes está esperando. —É muito preparado. —A maioria dos gatos o são. Mas tome cuidado com ele. Não parece selvagem, mas mesmo assim é muito nervoso. —De acordo. Até mais tarde. Alani levantou uma sobrancelha. —Do que falavam? —Dare diz que o gato está ainda ali. —Ah, sim? E não te perguntou por que quer apanhar a um gato guia de ruas? Jackson respondeu: —Ele também é um amante dos animais —abriu as portas e inspecionou de novo a esplanada—. Dare diz que podemos sair sem problemas. —Mas mesmo assim está em guarda. —É por costume —dois pares de olhos eram sempre melhor que um. Uma vez fora, detevese para procurar o gato. Não dispunha de muito tempo, depois de que aquele tipo ameaçasse seqüestrando às «duas garotas», mas, se podia apanhar rapidamente ao gato, faria-o. Como se, em efeito, estivesse lhes esperando, o gato saiu dos arbustos, deu uma volta, agradado, e se sentou para olhar ao Jackson com espera. —É muito bonito, sabia? Alani esteve de acordo. —Sim que o é. E quando estiver bem limpo e escovado, será-o ainda mais. Jackson se agachou para tirar o frios do sándwich que tinha comprado na máquina vendedora e o gato lhe aproximou. Já tinha começado a emitir um ronrono que parecia o ruído de um motor quebrado tentando arrancar. —O pobrezinho tem fome —disse Alani com voz suave e se agachou junto ao Jackson. —Sim —pôde lhe tocar a cabeça com a ponta de um dedo, acariciando-lhe brandamente—. vamos deixar que vírgula um pouco antes de agarrá-lo. Passado um minuto, o gato deixou que também Alani lhe acariciasse a cabeça e se esfregou contra ela. —Possivelmente não tenhamos que agarrá-lo pela força. lhe ponha um pouco de comida dentro da caixa. Jackson ficou pensando-o e decidiu que tinha razão. —Também vai necessitar uma cama. A viagem até casa é muito comprido —ficou de pé, tirou-se a camiseta e a pôs no fundo da caixa. Logo pôs a comida a um lado. Alani o olhou, surpreendida. —Pensa ir até casa assim? —por que não? —agachou-se junto à caixa e chamou o gato—: Só queremos te ajudar, amiguito. Vamos. Estará muito a gosto, prometo-lhe isso. O gato investigou, farejou a camiseta, soltou um suave miado e se sentou dentro da caixa para comer o resto do frios. —Vá —assombrado por que tivesse sido tão fácil, Jackson fechou com cuidado as lapelas da caixa. O gato se assustou uns segundos, grunhiu e tentou escapar, mas Jackson manteve a caixa fechada e seguiu lhe falando em voz baixa. —Está assustado —disse Alani, preocupada. —Já se acalmará —esteve meio minuto mais falando com o gato, tentando tranqüilizá-lo. Por fim, o animal se calou—. Isso é. Tranqüilo —levantou a caixa com cuidado.
Alani sussurrou: —Sabe, Jackson?, há facetas de sua personalidade nas que nunca me tinha fixado. —Como quais? —É incrível com que calma lhe toma todo. Deixa fora de combate a dois homens, fala com um indivíduo perigoso que te está ameaçando, ajuda a uns anciões e resgata a um gato guia de ruas... Comporta-te como se todo isso não significasse nada, como se te atrasasse tão pouco como te agachar a recolher uma monedita do chão. —Não temos que cumprir um horário, assim por que ia atrasar me? —o gato começou a bufar outra vez, mas Jackson seguiu lhe falando o voz baixa enquanto se dirigiam ao carro. Alani correu a abrir a porta de atrás. —O que vamos fazer com ele? Ele já o tinha pensado e esperava que Alani estivesse de acordo. —De todos os modos, temos que ir casa de Dare. Tem uma veterinária de confiança, assim que isso é o primeiro da lista. Ela baixou o queixo, sentida saudades. —Vamos casa de Dare? —Temos que parar ali, sim —não lhe disse que pensava deixá-la ali enquanto se encarregava de outros assuntos. Estaria a salvo com Dare, e isso era o que mais lhe importava. Colocou ao gato no assento de atrás e utilizou um cinto de segurança para assegurar-se de que a caixa não se abriria. —Os planos trocam, e este acaba de trocar muito bem. O único que se pode fazer é adaptarse. —Eu me adapto —resmungou Alani, um pouco desconcertada—. Mas, espera... Se quiser que a veterinária de Dare lhe jogue uma olhada, é que pensa ficar com o gato? —Claro, por que não? Necessita um bom lar. E eu tenho um lar —abriu a porta do Alani—. E possivelmente você possa me ajudar com ele quando sair de viagem. Alani ficou sem fala pela surpresa. —Você não gosta da idéia? —perguntou Jackson. —Pois a verdade é que... eu adoraria. Mas parecia ter alguma reserva a respeito. No que estaria pensando? Decifrar os estados de ânimo do Alani o manteria ocupado todo uma vida. Essa idéia o atraía muitíssimo, mas teria oportunidade de fazê-lo? Consciente de que o tempo lhe esgotava, rodeou o carro, sentou-se depois do volante e pôs em marcha o motor. —E agora temos que falar —disse, apertando o volante. —Sobre a garota da ponte? —perguntou ela. —Sim —uma quebra de onda de frio percorria suas veias ao pensar que pudessem voltar a lhe fazer danifico. Ela não o tinha chamado, assim tinha que confiar em que estivesse bem. Mas mesmo assim queria falar com ela quanto antes. Mas também tinha que assegurar-se de que Alani estivesse fora de perigo. Alani tocou seu braço, seu ombro, como seu queria reconfortá-lo. —Há dito que foi Arizona onde passou? —Não —saiu do estacionamento pensando em como reagiria ela quando soubesse toda a verdade—. Arizona é o nome da garota. E pode que corra mais perigo que nós. Recostada em seu assento com as pernas estiradas, observava com inapetência a briga que estava tendo lugar no meio do local do bar entre duas garçonetes. Divertia-lhe ver aquele barulho, sobre tudo porque aquelas mulheres não tinham nem idéia de como brigar. limitavam-se a chiar e a atirar-se dos cabelos. Que absurdo!
De onde estava podia observar a todos os clientes do estabelecimento sem que o notassem. De momento não tinha encontrado ao que procurava... mas o encontraria. cedo ou tarde, encontraria-o. Atenta a quanto a rodeava, sentiu imediatamente que se aproximava um homem. Fingiu que não se dava conta. Fingiu que não lhe importava. Ele se sentou à mesa, a seu lado. —Bom, o que está acontecendo aqui? Sem olhá-lo, com a vista fixa na briga, Arizona se inclinou para um lado e disse: —A ruiva estava de bom humor, à loira incomodou e começou a meter-se com ela. À ruiva não tem feito graça e a sentou que culo de um empurrão. À loira tampouco tem feito graça, assim que lhe deu um bofetão e a chamou «zorra» —se encolheu de ombros—. E agora estão brigando como garotas, ou seja, perdendo a roupa, ensinando as tetas e atirando-se dos cabelos. O tipo ficou calado um segundo. —Tem muita lábia, pequena. —Sim —o haviam dito muitas vezes, muitos homens—. E também tenho cérebro. Basicamente o mesmo que você, só que sem gônadas e sem mangueira. Ele soltou um bufido. —E além disso tem más pulgas. Voltou-se lentamente para olhá-lo... e ficou pasmada pelo incrivelmente atrativo que era. Era grande. Realmente grande. Media mais de um metro noventa. Tinha as costas largas, lhe marcavam os bíceps, não tinha nem um grama de graxa e era muito bonito. Seu cabelo, loiro e sedoso, era quase tão escuro como suas densas pestanas. Sem pensá-lo, sussurrou: —Sim, quando tenho que as ter. Ele, que também estava observando-a com interesse, perguntou: —O que? —Más pulgas. —Ah, já —a observou com olhos brilhantes—. De maneira que sim, né? Arizona se encolheu de ombros. Nunca tinha visto um homem tão atrativo, o qual só podia significar que estava acostumado a obter tudo o que queria das mulheres. O que faria quando não o fora possível? Recorreria à violência? À brutalidade? Tentaria, como tantos outros, servir-se de seu tamanho e sua força contra ela? Confiava em que sim, em certo modo. Assim poderia aniquilá-lo. E logo se esqueceria dele. Mas de momento seguiu olhando-o. fixou-se em seus maçãs do rosto altos e em seu nariz, que lhe tinham quebrado alguma vez, em seus ombros fortes, que lhe marcava a camiseta rodeada e escura, em seus abdominais e em suas largas pernas, embainhadas em uma calça vaqueira. Levava a camiseta por fora dos jeans. Para esconder uma arma? Ele levantou a sobrancelha direita. —Você gosta do que vê? Troglodita presunçoso. Arizona esboçou uma careta desdenhosa. —Não tem pinta de encaixar em um sítio como este. —Não? E que pinta seria essa? —Sujo, pobre... —inclinou-se para apartar-se de um bêbado que aconteceu seu lado, cambaleando-se—. Bruto. —Então você tampouco encaixa aqui, não crie? Ouviu-se um chiado e voltaram a olhar às mulheres que seguiam brigando. Arizona se recostou em seu assento e cruzou os braços. —Arrumado pela loira.
—Uma aposta de verdade ou só o diz em sentido figurado? O esteve pensando e logo se disse, «Que demônios». —Cinqüenta perus? Ele sacudiu a cabeça lentamente. —Acredito que não —olhou sua boca—. O que te parece se em lugar disso convido a uma taça? —Não bebo álcool. O desconhecido olhou seu copo de refresco quase vazio. —Convido a outro refresco, mas me referia a que nos fizéssemos companhia enquanto lhe toma. —Esquece-o. Não me interessa. —Embusteira. Nunca se deixava levar por uma provocação, mas de todos os modos se girou no assento para olhá-lo. O aborrecimento que sentia não diminuiu o impacto que produziu ele sobre seus sentidos. E ele não se arredou ao ver seu olhar direto. —Bem —Arizona apoiou os cotovelos sobre a mesa e o observou atentamente—, o que está fazendo aqui realmente? Levantando uns de seus impressionantes ombros, ele sorriu. —Procuro companhia. —Tolices. O que esconde? Ele alargou um dedo e tocou com descaramento uma das largas mechas de seu cabelo. —me diga, menina, o que esconde você? Arizona se alarmou de repente. Apartou-lhe a mão de um golpe e se levantou. Quase tinha cruzado o bar lotado de gente quando se deu conta de que a tinha seguido, de que estava, de fato, justo detrás dela. Olhou para trás... e o surpreendeu lhe olhando o traseiro. Estupendo. Genial. Em lugar de dirigir-se à saída, como tinha sido sua intenção, encaminhou-se para o porteiro. Estava em um extremo da barra, com os braços tatuados cruzados, a cabeça calva brilhando de suor e os pés bem separados. Dava a impressão de que estar desejando atar-se a murros com alguém. Arizona conhecia os de sua classe. Na maioria dos tugúrios como aquele tinham a um gorila parecido, com mau caráter e muito poucas luzes. Lutavam sujo, e gostavam de pensar que suas maneiras de valentões impressionavam a outros. Cretinos... O tipo que ia atrás dela disse algo, mas Arizona não se deteve escutá-lo. foi direita ao porteiro. Ele a viu aproximar-se e se ergueu, interessado. Nada novo para Arizona. A maioria dos homens a olhavam com desejo. Tinha aprendido a agüentá-lo. Só havia um homem que a tinha tratado de outro modo, mas não estava ali agora. Com um pouco de sorte, não teria que voltar a brigar por ela. O porteiro foi dizer algo, mas o Arizona o cortou assinalando ao homem que a seguia: —Está-me incomodando. O tio bom soltou um suspiro. O gorila fez estalar seus nódulos. O plano era que brigassem, momento que ela aproveitaria para escapar. Por desgraça, as coisas não saíram assim. O porteiro lançou um murro, falhou e o tio bom o deixou sem sentido de um gancho ao queixo. Arizona o viu entortar os olhos e desabar-se. O estou acostumado a tremeu quando caiu ao chão, a seus pés. Alguém se separou de um salto e derrubou de passagem uma mesa. Derramaram as bebidas. ouviram-se maldições e chiados de cadeiras. Estalou o caos. Meneando a cabeça, Arizona se voltou lentamente para olhar a seu perseguidor e ficou em suspense ao ver aqueles olhos escuros e cheios de desejo.
Sem parecer especialmente molesto, nem zangado, lhe tendeu uma mão. Vá Por Deus. Assim teria que fazê-lo ela mesma. Não seria a primeira vez, nem provavelmente a última. Compondo um sorriso doce, tomou sua mão e pôs-se a andar. Saiu pela porta dianteira e caminhou energicamente, decidida a resolver aquele assunto quanto antes. Cruzou o estacionamento de cascalho, caminho de um rincão deserto aonde não chegava o resplendor das luzes de segurança. Esperou o momento adequado. Então se voltou e lhe lançou um joelhada a entrepierna. Spencer seguiu à garota. Era alta e magra, com o cabelo de cor azeviche, a pele morena e os olhos azuis mais claros que tinha visto nunca. Exótica. Sensual. Inquieta. Estava tramando algo. dentro dele se acendeu uma faísca de curiosidade e outra de preocupação. Fazia muito tempo que não sentia algo assim. Mas aquele não era o melhor momento. Era o pior, em realidade. O ar úmido da noite lhe levava o aroma da garota e arrastava a peste a álcool, a suor rançoso e a desespero do local. Spencer detestava os bares. Mas lhe interessava a informação que conseguia neles. A garota não levava bolsa, mas Spencer viu no bolso de atrás de sua calça a silhueta de uma carteira magra, e no outro, possivelmente, um telefone móvel. Se pensava que ia falar ele primeiro, equivocava-se. Tinha descoberto que obtinha muito mais da gente com o silêncio que interrogando-a. Seus dedos se tragaram a mão pequena e esbelta da garota. Tinha os ossos muito finos e parecia delicada, mas tinha uma voz grave e rouca, quase tão hipnótica como seus olhos. Tampouco estava mal que tivesse, além disso, um cabide impressionante. Mas parecia incrivelmente jovem, muito jovem para estar naquele tugúrio. Seu olhar descarado denotava muita experiência, mas parecia rodeada por um aura de vulnerabilidade. Quando entraram nas sombras, Spencer advertiu imediatamente sua mudança de atitude. Sentiu um calafrio de espera, preparou seus músculos e aguçou seus sentidos. O que faria ela? Estava desejando averiguá-lo. Quando se girou, estava preparado e o joelho da garota não se estrelou em seu Pelotas, a não ser em sua coxa... e ela aterrissou em seus braços. Com cuidado de não lhe fazer danifico, abraçou-a com força. Ela se tinha ficado muda pela impressão e estava rígida, completamente paralisada. Spencer quase a sentiu pensar, sopesar suas alternativas... embora não tinha nenhuma. por que o tinha atacado, de todos os modos? Mantendo-a nas pontas dos pés para conservar sua vantagem, Spencer lhe sujeitou os braços aos lados. Seus quadris se apertaram contra as coxas dele. A cabeça só lhe chegava à altura de seu peito, de modo que não lhe serviria de nada lhe dar um cabaçada. Mas podia lhe morder, assim Spencer disse em voz baixa, tranqüilamente: —Me aproxime esses dentes e te dou uma palmadas. Ela jogou a cabeça para trás, desafiante, e o olhou. —E agora o que? Fazia muito tempo que não desfrutava tanto sentindo a uma mulher em seus braços, a suavidade de sua pele e de seu cabelo, sua figura curvilínea, o aroma quente que exalava seu corpo. A necessidade de pôr fim a seu comprido período de abstinência lhe retorceu o estômago, mas não estava ali para isso, e de todos os modos ela não parecia muito disposta.
—Começa por me dizer seu nome. Sua boca incrível esboçou um sorriso. —Arizona. E o teu? Agora queria ficar cordial? Não havia razão para não lhe seguir a corrente, sobre tudo se assim conseguia retê-la um momento entre seus braços. —Spencer. —Prazer em conhecê-lo, Spence. —Spencer —particularizou ele, mas também esboçou um sorriso—. Quantos anos tem? —Os suficientes —se relaxou em seus braços, despreocupada e arrogante—. E você? —Muitos —ao menos para ela. Ou isso acreditava. Não afrouxou os braços, imitando a pose despreocupada que tinha adotado ela. Era um truque muito velho—. Define «suficientes». —Vinte —deixou acontecer um segundo e acrescentou—: Define «muitos». Nem sequer tinha ainda idade para beber, assim que o que estava fazendo no bar? —Trinta e dois. —Ah, sim, é um ancião —trocou de postura, inclinando a cabeça—. Assim, Spence... —Spencer. —Há algo mais que queira saber de mim? Queria saber toda classe de coisas. —Arizona é seu verdadeiro nome? Não é muito freqüente. —Sim, sei. Pô-me isso Jackson. —Jackson? —seu marido? Seu valentão? Seu fanfarrão? Nenhuma dessas possibilidades gostava. —Um tipo que conheço, uma espécie de cavalheiro andante. Meu nome estava muito gasto, assim... lhe ocorreu me chamar Arizona. —Gasto? —como podia ser, se só tinha vinte anos? Mas Spencer já sabia, e ao mesmo tempo lhe repugnava e lhe entristecia. Ela enrugou o nariz e olhou seu peito. —Esquece-o. Ele meneou a cabeça. —Sei o que quer dizer, Arizona —o impulso de abrir as mãos sobre suas costas, de acariciála, de reconfortá-la, pô-lo nervoso—. Então, está-te escondendo? —aproximou o nariz a sua têmpora e respirou seu aroma—. Do que? ficou calada. Spencer repassou o que havia dito... e acreditava, maldição, embora em grande parte não tivesse sentido. Havia algo nela, uma espécie de desafio, que refletia um imenso sofrimento. —Esta bem, esquece o do nome —esclareceria aquele ponto depois, quando não a tivesse entre seus braços—. Define «cavalheiro andante». —Já sabe, um bom samaritano. Desses que vão por aí tentando salvar um mundo que não tem salvação. —Não? —às vezes ele se sentia igual, mas lhe ouvir falar com aquela sombria resignação lhe chegou à alma. Ninguém tão jovem deveria ser tão descrente. —O mais que pode uma esperar é tomá-la revanche Y... —deteve-se e respirou fundo—. Olhe, Spence, estou cansada de estar assim, pendurada de seus braços. Já respondi a suas perguntas. Agora quer me soltar um pouco? —Não, a verdade é que não —mas sabia que tinha que fazê-lo ou cruzaria uma raia... mais do que a tinha cruzado já. Fez-a dá-la volta para que pegasse as costas a seu peito. Tinha um culo precioso, arrebitado, firme e arredondado. Aquele culo agitou nele um desejo latente—. Mas vou fazer o. Soltou-a tão depressa que ela se cambaleou. Quando se girou, ele já estava fora de seu alcance.
—Tem-me medo? —disse-lhe, provocadora. —Prefiro conservar os ovos tal e como estão, sem que me esmague isso com o joelhos. Desviou o olhar, contrariada. —De todos os modos falhei. —O qual não significa que vás falhar outra vez —não estaria mal lhe lançar um osso—. Quase me pilhaste despreparado. É sozinho que sou... —encolheu-se de ombros— muito rápido. —E forte —conveio ela—. Sabe?, esperava que o gorila e você lhes dessem uma boa surra. —Não —respondeu ele com suavidade. —Sim, agora me dou conta —foi apoiar se em um poste da cerca—. Bom, o que faz aqui? por que não dizer-lhe Parecia ter tanta curiosidade por ele como ele por ela. —Estou solicitando informação —deu um passo para ela sem relaxar o guarda—. E você? —O mesmo, até que apareceu você. Lhe gelou o sangue nas veias. —Não. —por que não? —replicou ela com desdém—. É que te crie mais capaz que eu? —Sim —se aproximou dela respirando depressa—. Sei que o sou. Ela respondeu em um sussurro: —Perdoa, Spence, mas está muito equivocado. Sem prévio aviso se lançou para ele, juntou as mãos, levantou-as bruscamente e lhe golpeou no queixo. Para ser tão delicada, golpeava do lindo. Como não tinha visto vir o golpe, Spencer não se preparou. Jogou a cabeça para trás e perdeu o equilíbrio. Seus pés escorregaram no cascalho, logo recuperou o equilíbrio e se endireitou. Estendeu os braços às cegas e roçou com as gemas dos dedos os extremos de sua larga juba enquanto ela se afastava correndo. Maldição. Tentou alcançá-la embora não sabia por que, mas a escuridão a tragou por completo. Deteve-se escutar e não lhe surpreendeu que fizesse tão pouco ruído. Era muito hábil, e isso aumentou ainda mais sua curiosidade. Voltou-se para ouvir que a porta de um carro se abria e voltava a fechar-se. acenderam uns faróis ao longe, mais à frente do estacionamento. ficou em marcha um motor e ouviu como se levantava o cascalho quando ela acelerou e se afastou a toda velocidade. Respirando trabalhosamente, furioso consigo mesmo, Spencer viu como se desvanecia a luz de seus faróis traseiros. Estava pensando em ir atrás de quando lhe distraiu a voz conhecida de um homem que saía do bar. Falava atropeladamente pelo móvel, seguido por um guarda-costas. Spencer os observou com ódio ardente das sombras. Sentiu o peso da pistola que levava detrás, à altura dos rins, e a pressão da navalha automática que escondia na bota. Esticou os músculos e suas mãos se flexionaram. Abriram-se as portas de um BMW prateado e por um instante, enquanto montavam no carro, distinguiu os rasgos odiados daqueles dois homens. Pôs-se a andar para sua caminhonete sem perder de vista o BMW, que saiu rapidamente do estacionamento levantando o cascalho do chão. Era uma coincidência que tivessem saído justo depois que Arizona? Tinha-lhes avisado alguém de sua partida? Se era assim, isso significava que alguém tinha estado lhes observando. Logo que acabava de formular aquela idéia quando o atacaram. Reagido por instinto, aproveitou o impulso do corpo que se equilibrava sobre ele e caiu de costas. Servindo-se dos pés, lançou ao homem por cima de sua cabeça e se lançou sobre ele de um salto. Atirou-lhe dois murros antes de receber um no queixo. Seu atacante levava nódulos de metal, e Spencer viu as estrelas um momento.
antes de que pudesse lhe atirar um segundo murro, afastou-se rodando e ficou em pé com a navalha na mão. Sorriu ao desconhecido, preparado para atacar, quase ansioso. —Vamos. Não tenho toda a noite. Então começou a verdadeira briga. Um minuto depois, presa de uma raiva mortífera que afinava seus sentidos, Spencer se afastou conduzindo em sua caminhonete com intenção de alcançar ao BMW. Por um minuto se sentiu mal por como tinham saído as coisas com Arizona. Mas enquanto lutava com ela tinha podido lhe tirar a carteira. Quão único precisava era um motivo, que fosse, para lhe seguir a pista. A isso se dedicava. E era melhor que bom. Graças ao BMW prateado, tinha a razão que necessitava. Voltaria a ver o Arizona. Por estranho que parecesse e, apesar de sua busca pessoal da justiça, já o estava desejando. Capítulo 17
Alani esperou, preocupada, enquanto Jackson fazia outra chamada. Tinha chamado já várias vezes, sem êxito. —Segue sem responder? Ele negou com a cabeça. —dentro de uns minutos estaremos em casa de Dare. vou deixar lhes ali a ti e ao gato, e logo pensarei em algo. Como levava postas os óculos de sol refletivos, Alani não pôde esquadrinhar seu olhar, mas não gostou de como soava aquilo. Desde que lhe tinha contado de Arizona, distanciou-se dela. E isso lhe doía. —O que quer dizer com que vais deixar nos ali? Ele apertou os lábios e olhou pelos retrovisores. Apesar de que sabia que Dare e Trace os seguiam, estava tendo especial cuidado. —Jackson? —Suponho que tem fome —alargou o braço e lhe deu uns tapinhas na coxa. Tentava aplacá-la? Ela observou seu belo perfil, viu a tensão de seus ombros e optou por não pressioná-lo. —Viria-me bem comer algo —disse ela. —E o gato precisa sair dessa caixa. Alani olhou por cima do assento. O gato se sentou e de momento parecia tranqüilo. Não tinha parado de mover-se até que tinha conseguido tirar a cabeça da caixa, e agora, embora de vez em quando soltava uma miado, olhava pelo guichê como hipnotizado. —Ele está bem —alargou o braço e o acariciou sob o queixo. Jackson olhou o relógio. —Por culpa do tráfico demoramos mais do que esperava. —Só um pouco. Estava tão preocupado com Arizona que parecia distante e distraído. Alani sabia que tinha um plano mas não sabia se gostava. Agora que a garota tinha nome, queria saber mais sobre ela. Mas Jackson se tornou esquivo, pôs-se à defensiva e cada vez parecia mais afastado dela. —Você também deve ter fome. —Pode ser —não a olhou—. Mas primeiro tenho que me ocupar de outras coisas. Referia-se a Arizona? Acreditava que ela não o entenderia? Sabia melhor que a maioria quão difícil era para uma mulher superar uma experiência tão traumática. Queria falar com o Jackson disso, mas duvidava de que se mostrasse disposto, com aquele humor.
—Não pode chamá-la o trabalho? Ele titubeou, visivelmente exasperado. Logo sacudiu a cabeça. —Já chamei ao colégio. —Ao colégio? —Sim, é... —furioso consigo mesmo, esfregou-se a nuca—. Esquece-o. Disso nada. Enquanto ela seguia olhando-o, lançou-lhe uma olhada e esticou os lábios como se acabasse de lhe fazer uma grande revelação. —Levei-a a um internato, de acordo? Mas te juro que essa garota passa mais tempo fora que dentro. Cada dois meses ou assim, os do colégio têm que me chamar. Pensava que havia tornado a passar, mas agora... —Quantos anos tem? —perguntou Alani. Jackson a olhou de novo. Logo desviou o olhar. —Só vinte. Se tinha vinte anos, era uma mulher, não uma garota. Ele acrescentou a contra gosto: —Necessitava uma educação. Umm. De acordo. —Um colégio universitário? —perguntou ela, medindo o terreno. —Síiiii —respondeu ele, arrastando a palavra—. Bom, mas bem um colégio feminino. Atenta ao que não dizia, Alani se recostou no rincão do assento. —Um colégio feminino, diz? —Sim —se esfregou a nuca outra vez—. uma espécie de... pequena faculdade só para mulheres. Já sabe, um desses sítios onde recebe uma educação e ao mesmo tempo aprende todo esse cilindro a respeito dos róis sociais e coisas assim. Alani se tornou para diante outra vez sem dar-se conta. Não podia estar refiriéndose a um desses colégios privados femininos onde se acostumavam bons maneiras às senhoritas. —Será uma brincadeira, não? —Ela queria ir! —ficou avermelhado—. Ou pelo menos isso pensava eu. Fascinada, Alani se fixou nos sinais de seu mal-estar. por que lhe incomodava tanto todo aquilo? E se lhe incomodava, por que o tinha feito? —Esses colégios são sítios muito exclusivos. Custam uma fortuna. Ele soltou um bufido. —Não me diga. Mas se era tão caro... de repente lhe ocorreu que em realidade sabia muito pouco a respeito da situação econômica do Jackson. —Lhe pode permitir isso. —É uma passada o que ganho trabalhando com Dare e Trace. Eu acreditava que ganhava bem a vida trabalhando na construção, mas isto... —sacudiu a cabeça—. Tenho uma casa, terras, um carro decente. No que outra coisa me vou gastar isso. Alani não acabava de entendê-lo. Distraídamente, estirou o braço para acariciar ao gato. —Então, resgatou a essa senhorita Y... logo o que? Sentiu-se obrigado a ajudá-la a recuperar sua vida? Isso posso entendê-lo —mais ou menos. Mas lhe pagar o internato era um gesto extremamente generoso, sobre tudo um colégio tão caro e exclusivo, por muito lucrativo que fora seu trabalho. Mais à frente do assunto monetário, tanta generosidade sugeria uma relação mais pessoal com o Arizona. —É uma boa garota —comentou ele, mas parecia receoso. —Estraguem —ali havia algo que não encaixava—. Então, está-lhe pagando os estudos com o fim de... do que? —Não faz falta que o diga como se fora um disparate.
—Isso tenho feito? —arqueou as sobrancelhas para ouvir seu tom brusco e considerou seu humor. O que significava Arizona para ele e em que sentido?—. É bonita? —Muito —se deteve e sacudiu a cabeça—. Não, isso é pouco. Arizona é mais que bonita. É um beleza. É muito exótica, tem uma cara preciosa e um corpo que... —trocou de postura, respirou fundo e acrescentou—: Um corpo bonito. Alani o olhou, rígida. —Segue. —Não ponha essa cara. Não é mais que uma cria. —Há dito que tem vinte anos. Jackson lhe lançou um olhar cauteloso. —Sim. O olhar fixo do Alani não se alterou. —Eu tenho vinte e quatro. —Sei quantos anos tem, carinho —flexionou os dedos como se tentasse relaxar sua tensão —. Pode que só lhes levem quatro anos, mas te asseguro que há muchísima diferencia entre os vinte de Arizona e seus vinte e quatro. Algo o mantinha nervoso. —Seriamente? —Uma diferença enorme. Se não lhe preocupava falar do atrativo físico de Arizona, por que parecia tão... receoso? —Que diferença, por exemplo? —Você é sofisticada e amadurecida —uma expressão turva e sensual encheu seus olhos—. E me volta louco de desejo. E Arizona... não? Mordendo o lábio, Alani o pensou e compreendeu que não devia insistir, mas não pôde reprimir-se. —Então, Arizona e você nunca hão...? —Não! —tomou o comprido caminho que levava a casa de Dare—. meu Deus, não. Nada parecido. Tão descabelada lhe parecia a idéia? —Se for tão atrativa... —Carinho, tem que entender que quando conheci Arizona estava tão maltratada, em muitos sentidos, que nem me passou pela cabeça algo assim. Ela não queria confiar em mim, mas não tinha a ninguém mais. Não tem a ninguém mais. Ao Alani lhe rompeu o coração para ouvi-lo. Por isso lhe tinha contado Jackson, Arizona tinha estado seqüestrada muito mais tempo que ela. E depois de que a resgatasse Dare, viu-se rodeada de carinho e compreensão. Dare e Trace se encarregaram disso. Arizona, em troca, não tinha a ninguém. —É muito triste —disse. Ele a olhou surpreso e assentiu. —Sim. Esperava ele que reagisse mau? Que seguisse suspeitando de sua relação com o Arizona apesar do que acabava de lhe dizer? Ao ver que Alani seguia olhando-o, Jackson acrescentou: —As mesmas pessoas que seqüestraram Arizona mataram a seus pais. Mas já antes tinha tido uma vida de merda. A má consciência fez que Alani se afundasse um pouco no assento. Ela tinha passado muito pouco tempo em poder dos traficantes e ainda tinha pesadelos. Como devia ser para Arizona? —Então me alegro de que tenha a ti —e talvez, se as coisas saíam bem, ela também poderia conhecer Arizona. adoraria poder falar com ela. Jackson não pareceu escutá-la.
—Estava tão aterrorizada que seguiu mostrando-se muito desconfiada, muito agressiva, inclusive quando lhe disse que já não tinha que preocupar-se com os seqüestradores. Não quis me dizer seu nome, nem me contar nada de seu passado. Era muito próprio dele demonstrar tanta paciência, ganhar pouco a pouco sua confiança. —Me alegro de que a convencesse. Ele soltou um bufido. —O que vai. Chegamos à conclusão de que de todos os modos necessitava um nome novo. Já sabe, para começar uma nova vida. E como a tinha encontrado Arizona... —encolheu-se de ombros. Santo céu. Deu-lhe voltas a cabeça. —O nome o pôs você? —Consegui-lhe documentação falsa e todo isso. Agora é oficialmente Arizona Storm. —Usa um nome falso? —Sim. No colégio acreditam que somos irmãos —sorriu ao recordá-lo—. Embora ninguém pensaria ao nos ver que somos família. —Também você lhes deu um nome falso? —Claro. —Tem uma foto dela? —perguntou, cheia de curiosidade. Ele negou com a cabeça. —É muito arriscado. Se alguma vez me acontecer algo, não quero que ninguém possa encontrá-la. Temos um plano de emergência. Espero que o recorde, se está metida em uma confusão. Desconcertada, Alani disse: —De acordo, retrocedamos um passo. O que há do colégio feminino? —Com um pouco de ajuda conseguiu tirar o título de bacharelado. Eu sabia que gostava de seguir estudando, mas não queria que me gastasse mais dinheiro, e ela não tinha dinheiro próprio. Insisti em comprar um carro e uma pistola... —Santo Deus. —Mas no que aos estudos se refere, disse-me que tinha uns maneiras tão toscos que destacaria como um peru entre galinhas ou alguma panaquice assim. Está acostumado a ser muito... —olhou-a de novo e se esclareceu garganta—. Muito enérgica. Mas sei que também é muito insegura em certas coisas. Coisas que a maioria da gente dá por supostas, como comer em um restaurante, inclusive em um que não seja de luxo. Alani tentou imaginar-se a aquela moça ferida no mais profundo e em como se teria sentido à sombra do Jackson. a tinha criado Trace e a Dare o conhecia de toda a vida, e mesmo assim seguiam intimidando-a. —Obrigado a que trabalho com seu irmão e Dare, mais de uma pessoa influente me devia um favor, assim atirei de alguns fios e consegui que a admitissem nesse internado tão exclusivo. É um centro pequeno, neste costa. Pelo preço estipulado, esforçam-se por fazê-la sentir-se como uma rainha. E enquanto estivesse ali estaria segura, ocupada e, pensava eu, ao menos durante um tempo seria feliz por fim. —Deduzo que não foi assim. —Não sei —parou junto ao monitor de segurança da casa de Dare. ficou calado um momento. Logo se tirou os óculos e olhou ao Alani—. O caso é que não sabia o que fazer com ela. Era arriscado que vivesse sozinha, mas tê-la comigo em casa não me parecia... bem. Aquela notícia a golpeou como um tsunami. —Ela queria algo mais, verdade? Como se esperasse que o recriminasse, Jackson baixou a cabeça. —Nunca falei com ninguém disto. Alani se aproximou dele.
—por que não? —Porque é muito... pessoal. Para ela, quero dizer. Bom, para mim também —a olhou—. Pouca gente o entenderia. Ela o entendia perfeitamente. Era injusto que um homem fora tão incrivelmente bonito, tão sexy e que além disso tivesse um coração tão grande. Dava-lhe lástima por Arizona porque, quem podia resistir ao Jackson? Ela não, certamente. —Me alegro de que me esteja contando —queria isso que confiasse nela—. Você sabe que eu entendo seus sentimentos. Foi muito bom com ela, e não é precisamente um ogro —lhe tinha roubado o coração com toda facilidade—. Não é culpa dela que se fizesse ilusões. Jackson se beliscou a ponte do nariz e disse: —Meu deus, foi tão violento... —girou a cabeça para olhá-la—. Ninguém tinha feito nada por ela em toda sua vida, assim interpretou mal minha atitude. Ou pode que queria fazer algo para me demonstrar sua gratidão —se passou as mãos pela cara e baixou a voz—: Não sempre é fácil compreender Arizona —o disse como se se estivesse ficando muito curto—. Me rompeu o coração. Eu queria protegê-la e fazê-la feliz, sabe? Mas para ela era uma idéia tão estranha que não conseguia entendê-la. Alani não podia imaginar-se a um homem mais apaixonado que Jackson. E ele mesmo tinha reconhecido que o Arizona era uma beleza. E entretanto não se aproveitou dela. Dava a impressão de que nem sequer havia sentido essa tentação. Então se deu conta de um pouco muito importante: Jackson não a compadecia. Não a via sozinho como a uma vítima, porque se não a teria tratado exatamente igual à o Arizona. Em troca, desejava-a, confiava em sua fortaleza e isso o fazia ser completamente irresistível. Desabotoou-se o cinto de segurança e se aproximou a ele. Jackson arqueou as sobrancelhas, mas também se apressou a tirar o cinturão. Quando ela foi subir escarranchado sobre suas pernas, ajudou-a mas disse: —O que faz, neném? —É maravilhoso e vou demonstrar lhe quão incrível é. —Incrível? pode-se saber a que vem isto? Alani tomou sua cara entre as mãos, sorriu-lhe e logo suspirou. —Faz tantas coisas... —Não —franziu o cenho e esticou os lábios—. Demônios, não —tentou apartá-la, mas Alani se sujeitou a ele e com o volante e o console de mandos não pôde largar-se dela—. Maldita seja, Alani, não me converta em um santo. Não foi assim. —Foi exatamente assim —apesar de sua infância espantosa, ou possivelmente por ela, Jackson mostrava uma grande compaixão por outros. esforçava-se por ajudar a todo mundo, desde mulheres maltratadas a anciões, passando por gatos guias de ruas. Mais que seu atrativo sexual, mais que seu encanto irresistível, isso foi o que lhe roubou o coração e selou seu destino—. Segue sendo assim. —Não, eu sozinho... Para fazê-lo calar, Alani o beijou. Um beijo profundo e apaixonado que demonstrava o amor que sentia por ele. Era a primeira vez que tomava a iniciativa, e isso a fez sentir-se poDareosa. Estava desejando beijá-lo desde que tinham recolhido ao gato. Nesse instante, com o coração transbordante e os olhos empanados, pareceu-lhe tão bom momento como qualquer outro. Ele seguiu resistindo até que lhe lambeu o lábio inferior. Então, deixando escapar um grunhido, atraiu-a para si e a fez girar-se um pouco para tomar o mando do beijo. Afundou a mão entre seu cabelo para sujeitá-la e posou a outra em seu traseiro para esfregarse contra seu corpo. Seguiu lhe comendo a boca, amoratándole os lábios e fazendo que lhe subisse a temperatura... Até que alguém chamou o guichê.
Jackson a sentou em seu assento e tirou a pistola tão rapidamente que Alani nem sequer teve tempo de protestar. Ao outro lado do guichê, com os braços elevados comicamente, Chris lhe lançou um sorriso zombador. —Se me disparar, a Dare vai sentar lhe fatal. Esse dia, Chris levava calças curtas desfiadas e uma camiseta descolorida com um símbolo musical. Dava a impressão de ter estado nadando no lago com a roupa posta. E assim era, provavelmente. Media mais de metro oitenta, era magro e atlético e muito bonito a sua maneira. Ia descalço, o vento e a água lhe tinham revolto o cabelo negro e seus olhos azuis tinham um olhar tão irreverente como de costume. A seu lado, Sargie e Tailandês, as cadelas de Dare, meneavam a cauda, contentes de ter companhia. Alani se levou a mão ao peito e soltou um grunhido que em seguida se converteu em uma risilla gutural. Santo céu, pobre Chris. Não só os tinha encontrado a ponto de fazer o amor, mas sim Jackson seguia lhe apontando com a pistola. A diferencia de Dare, Chris não sabia cozinhar e carecia de sentido da moda, além de ir sempre cômodo e desalinhado, mas era um dos melhores amigos de Dare, seu ajudante pessoal, seu representante, sua ama de chaves e seu perito em informática. assim, estava acostumado às armas e ao temperamento nervoso dos machos alfa. Quando se inclinou para vê-la melhor, Alani murmurou: —Sinto-o —e ele respondeu lhe piscando os olhos um olho. Fazendo caso omisso da pistola, Chris disse: —Dentro há uma habitação vazia, se por acaso gosta de transladar sua pequena bacanal da entrada ao interior da casa. Ela esperou a que Jackson lhe replicasse, mas ficou ali calado, molesto e envergonhado, enquanto Chris se afastava. —Nem sequer ouvi abri-la grade. —Está bem engordurada —Alani sufocou uma gargalhada ao ver sua cara—. Não passa nada, Jackson. Direi ao Chris que foi minha culpa. —E um corno. O gato saiu da caixa e, levantando as patas dianteiras, apoiou-se no respaldo do assento do Jackson. Seu olhar esmeralda se deslizou entre eles e, depois de lançar um miado áspero, subiu de um salto ao regaço do Jackson. Soou uma buzina e ao voltar-se Alani viu que Dare tinha parado atrás deles. Trace não demoraria para chegar. Respirando ainda agitadamente, Jackson se guardou a pistola e a olhou mal-humorado. Logo levantou o gato, o apoiou no peito e cruzou com o carro a grade procurando não olhar ao Chris. O silêncio durou uns segundos mais. Logo disse: —Confio em que pense acabar o que começaste. —Certamente que sim —estava desejando-o. Agora que tinha decidido o que queria, pensava ir a por isso com todas suas forças. —Sexo —afirmou ele—. Sem todas essas breguices no meio. —Breguices? —Sim —a olhou carrancudo—. Todas essas panaquices sobre que sou maravilhoso. A primeira noite que tinham acontecido juntos, Jackson tinha afirmado que a queria. Alani sabia agora que certamente se devia à droga que lhe tinham dado, a mesma droga que tinha embotado seus sentidos até o ponto de que tinha esquecido usar preservativos. O certo era que podia estar grávida. Se assim era, queria que Jackson correspondesse a seu amor antes de que ela o dissesse. Queria ao Jackson. Agora e sempre. Se ele não sentia o mesmo, o embaraço não trocaria as coisas. Mas ele era tão honrado que certamente quereria casar-se com ela.
Alani, em troca, não queria que se sentisse apanhado. Queria que a amasse livremente. Queria lhe ouvir fazer outra declaração de amor, só que esta vez sem a influência das drogas. Jackson estacionou frente à garagem. Alani sabia que estava de mau humor, que tinha vontades de que lhe levasse a contrária, mas ela não pensava fazer tal coisa. —Terá que ser um rapidito. —De acordo —Alani lhe sorriu. Ele enrugou mais ainda o cenho. —Não é que não queira que dure, mas quero partir o antes possível. Ele ia partir... e ela não? —Aonde pensa ir? —Lhe prometo dizer isso quando voltar —lhe respondeu, e saiu do carro. Alani se apressou a segui-lo. Queria que Jackson soubesse que compreendia seu trabalho e que era o bastante forte para confrontá-lo. Não seria um estorvo para ele, mas sim o compartilharia com ele. Se ele não o aceitava, não teriam futuro juntos. —Vai procurar Arizona, verdade? Ele assentiu bruscamente com a cabeça enquanto acariciava ao gato. —passaram muitas coisas e agora não responder ao telefone. Preciso me assegurar de que está bem. —Entendo —os outros se reuniriam logo com eles, assim não tinha tempo que perder—. Será perigoso? —Não acredito. Se recordar o plano de emergência, e não é tola, assim que o recordará, posso estar aqui amanhã na hora do jantar —fixou seus olhos verdes nela—. Isto é algo que tenho que fazer. Alani respirou fundo, tentando acalmar-se. —Claro —e pelo bem de seu futuro juntos, ela também faria o que tivesse que fazer. Uma hora depois se reuniram todos em casa de Dare. Alani não tinha tido ocasião ainda de «acabar o que tinha começado» com o Jackson porque apenas o tinha visto desde que estavam todos. Sentia saudades que lhe emprestasse tão pouca atenção. Sabia que estava muito ocupado ultimando o traslado do Marc e tentando localizar ao Arizona, mas ele sempre estava muito ocupado e entretanto tinha sido tão atento com ela... Entretanto, o último que o fazia falta nesse momento era uma mulher pendurada dele. Alani tentaria apoiá-lo e, quando o tempo o permitisse, falariam em privado. Os homens estiveram comprido momento reunidos na cozinha. —Coisas de meninos —explicou Priss com ar de indulgência. Molly e ela, sempre tão amáveis, tinham ido ver o Alani enquanto se instalava no quarto de convidados. Sentiam muita curiosidade por sua nova relação com o Jackson. Alani lhes contou o que ocorria sem desvelar suas próprias inseguranças. —Se se parecer com seu irmão —disse Priss—, surpreende-me que te tenha deixado sair da cama. Isso a fez ruborizar-se e Molly pôs-se a rir. —Às vezes —lhes confessou—, Dare não me deixa. Sair da cama, quero dizer. Por sorte Chris quase não se deixa ver esses dias. Se não, que vergonha! riram. Eram as duas muito distintas e muito divertidas. Ao Alani caíam muito bem. —antes de estar com o Jackson —reconheceu—, não me interessava muito o sexo. Agora... Enfim, graças a ele custa muito pensar em outra coisa.
Molly lhe sorriu. —Amanhã, tarde e noite, sei. Priss esteve de acordo. —E os meninos são tão machos que às vezes estão dispostos a fazê-lo três vezes ao dia. —Quatro, às vezes —acrescentou Alani. Se Rio... até que se deu conta de que se ficaram olhando-a pasmadas—. O que acontece? —Era uma brincadeira, não? —Priss levantou as sobrancelhas—. Quatro vezes? —Né... não, não era uma brincadeira —tão estranho era? Sentiu que ficava tinta. Jackson tinha assegurado que era uma máquina sexual. Haveria-o dito a sério? —Seriamente passou? Sério? —insistiu Molly, boquiaberta. —mais de um dia ou dois? —particularizou Priss. Dado que tinha ocorrido com bastante freqüência, e de fato lhe parecia mas bem a norma quando as circunstâncias o permitiam, Alani se esclareceu garganta. —Com bastante freqüência. Priss pôs uns olhos como pratos. —Miúdo semental. —Espera —Molly inclinou uma sobrancelha com ar de suspeita—. Foi quando estava drogado? —A primeira vez, sim —Alani se sacudiu seu acanhamento e adicionou—: Mas após também. foi... insaciável. ficaram caladas um momento. Logo romperam a rir. —Que besta —disse uma. —E que hedonista —disse a outra. Alani se surpreendeu sonriendo. —Tenho que dizer que foi maravilhoso. Molly a abraçou. —Me alegro por ti. —Com tanto falar de sexo, entraram-me vontades de ver Trace —Priss se levantou—. vamos procurar aos meninos. —Sim —disse Molly—. Tenho que lhe dizer a Dare que se está ficando atrás. Tornaram-se de novo a rir. Alani sacudiu a cabeça, mas também sorriu. Confiando em que Jackson e ela pudessem concluir sua conversação, decidiu esperá-lo ali. —Vão vocês. Em seguida vou. ficou em sua habitação e esteve esperando ao Jackson comprido momento. Quando por fim apareceu, foi lhe dizer que se reuniram todos no salão para jantar e conversar um momento. Levava em braços ao gato e o fazia mais caso que a ela. Alani se desanimou e, já que não demonstrava muito interesse e de que todos lhes estava esperando, não se atreveu a lhe pedir que ficasse com ela na habitação e foi reunir se com outros. Dare estava sentado em uma poltrona, com o Molly sobre os joelhos. Olhou ao Alani com atenção quando entrou, até que Molly lhe deu uma cotovelada. Seu irmão e Priss estavam de pé junto à chaminé. Priss lhe sussurrou algo ao ouvido a Trace e ele se tornou para trás e sacudiu a cabeça. Ela esboçou lentamente um sorriso e voltou a murmurar algo. Trace olhou ao Jackson malhumorado, mas quando Priss começou a rir pelo baixo, deu-se por vencido e a abraçou. Enquanto Alani tentava não ruborizar-se, Jackson os olhou a todos, sentido saudades. —O que acontece? —perguntou por fim. —É um fantasma —disse Dare—. Mas agora sinto que tenho que me superar. Molly fingiu um desmaio e Dare-se Rio outra vez. Confuso ainda, Jackson olhou a Trace, que disse: —Esquece-o. Se quer saber o que acontece, fala com minha irmã. assim, Jackson fixou o olhar no Alani. Ela pigarreou e se encolheu de ombros.
—Logo falamos —lhe disse ele com severidade. E todos romperam a rir outra vez, inclusive seu irmão. Apesar de seu sobressalto, Alani sentiu uma espécie de felicidade. Dare e Trace tinham encontrado a alguém muito especial para eles. Jackson se merecia o mesmo, e ela queria ser essa pessoa. Se seu irmão e Dare tinham conseguido que suas relações de casal saíssem adiante apesar dos perigos de seu trabalho, ela sem dúvida também poderia consegui-lo. Capítulo 18
Alani seguiu observando ao Jackson, pendente de seu estado de ânimo. Ao ver que seguia mostrando-se distante e impassível, deu-se por vencida. Queria-o muitíssimo, mas não o perseguiria. Mas à primeira ocasião exigiria que explicasse a que se devia sua atitude. depois de tomar assento (sozinha) na poltrona que ficava, Jackson se sentou em um extremo do sofá. Se alguém reparou nisso, ninguém disse nada. Com o Molly recostada em seu peito, Dare disse: —Chris pode ficar com o gato até que a veterinária lhe faça uma revisão. Sargie e Tailandês, suas cadelas, estavam sentadas a seus pés, muito atentas à novo mascote da casa. Mas Liger, o enorme gato do Priss, que sempre ia com ela a todas partes, foi direito a Trace. Embora pensava mais de dez quilogramas, saltou agilmente a seus braços. Trace o sustentou a um lado e abraçou ao Priss pelo outro. —Assim que a veterinária lhe dê o visto bom, apresentaremos aos outros animais. —Ódio ter que deixá-lo —Jackson arranhou ao gato sob o queixo—. Não tem garras dianteiras, mas se as tivesse já me teria parecido isso na pele. Era tão tenro com o gato que Alani se perguntou como seria com um bebê. Sentiu que lhe expandia o coração. Jackson alguma vez lhe tinha falado de comprometer-se nem de ter família, mas, se resultava que estava grávida, o que pensaria? O que sentiria? —vai se adaptar perfeitamente. Minhas garotas não lhe farão nada —enquanto falava, Dare acariciava o braço do Molly, acima e abaixo—. Querem a todo mundo. —Sabe já que nome vais pôr lhe? —perguntou Priss. Jackson olhou ao Alani. —Você o que opina? Alani pareceu desconcertada pela pergunta. —Não sei —observou ao gato, que parecia ter o cenho perpetuamente franzido—. Parece muito sério. Jackson esboçou um sorriso fugaz. —E também parece um gremlin, verdade? —inclinou-se para ver os enormes olhos do animal—. Grim é curto e eu gosto. O que lhes parece? Todos elogiaram o nome. Enquanto Jackson seguia falando com o gato, Chris entrou levando uma bandeja com café, refrescos e sándwiches. Deixou-a sobre a mesa baixa, sentou-se junto ao Jackson e acariciou a orelha do gato. —Quer que fique com ele enquanto come? Jackson vacilou, ganhando assim mais pontos no coração do Alani. Parecia haver-se afeiçoado com o gato em muito pouco tempo. Faminta, ela se levantou para tomar algo e confiou em que desse modo Jackson se animasse a fazer o mesmo. —Já sabe quão bom é Chris com os animais —disse.
—Chris é bom em tudo —comentou Molly. Dare soltou um bufido, mas não disse nada. Chris e ele eram grandes amigos desde fazia muito tempo, e agora Chris se ocupava também da intendência da casa. O fazia tudo, desde organizar aos jardineiros e aos operários de manutenção, a ir fazer a compra e ocupar-se da penetrada e dos recados, além disso do trabalho informático. Dare confiava nele absolutamente, e por sorte Molly e ele se levavam genial. —Suponho que sim —Jackson deixou a contra gosto ao Grim em braços do Chris. Chris, ao que não lhe preocupavam os cabelos do gato nem um possível arranhão, o acurrucó em seus braços e começou a acariciá-lo. Em lugar de comer, Jackson se aproximou da porta do pátio para olhar para o lago. Chris se recostou com o Grim em braços e aos poucos segundos o fez ronronar. —Já chamei à veterinária, por certo. Virá dentro de um momento a lhe jogar uma olhada e lhe pôr as vacinas que necessite. Para esta noite já lhe preparei uma cama e uma caixa de areia no quarto da máquina de lavar roupa. Amanhã, quando me assegurar de que se levam todos bem, irei ao povo a comprar um colar e o que lhe faça falta. —Vê? —disse Molly—. A que é assombroso? —Sim —de costas à habitação, Jackson acrescentou—: Necessito um Chris. Como Chris era gay, Dare se engasgou e Trace pôs-se a rir. Chris levantou uma sobrancelha e disse: —Pois vai ser que... não. —Não dizia para isso —seguro de sua virilidade, Jackson não se ofendeu pelas brincadeiras. deu-se a volta e passeou o olhar pela habitação—. Me refiro a que, agora que tenho uma casa, eu também necessito a alguém de confiança para que a leve. Alani procurou não olhá-lo, mas lhe acelerou o coração. Tentou parecer despreocupada, mas sentiu o olhar do Jackson fixa nela. —Quando tenho que estar fora uma semana ou mais, seria agradável saber que alguém se ocupa das coisas. Era uma indireta? Uma sugestão? Ou só um comentário apoiado em como organizavam suas casas Trace e Dare? —É duro ter novelo ou mascotes se não haver alguém em casa todos os dias —comentou Molly. —Eu sou único —disse Chris—. depois de me fazer a mim, romperam o molde. —Menos mal —soprou Dare. Trace lançou ao Jackson um olhar eloqüente. —Em nossa casa todo vai como a seda graças ao Priss, e além me tem a vida muito bem organizada. —Mas tive que pressioná-lo para que aceitasse minha ajuda —lhes disse Priss. —Não, o que vai —Trace a beijou na têmpora—. É sozinho que não quero que te meta em coisas perigosas... —Isso, isso —disse Dare, levantando seu refresco em um brinde e ganhando assim um abraço do Molly. —Mas te dá de maravilha levar os arquivos informáticos e tem uma mente diabólica quando se trata de decifrar as motivações dos psicopatas e de adivinhar seus movimentos. —Ou seja, que sou boa dando conselhos —Priss sorriu. Perplexo por aquela revelação, Jackson perguntou: —Então, lhe conta coisas de...? —surpreendeu o olhar desafiante do Priss e se pensou o que ia dizer—. Já sabe, do trabalho. —Às vezes sim, claro —Trace se encolheu de ombros—. Confio nela e sempre me ajuda a encaixar as peças do quebra-cabeças. —Mas você sabe que mesmo assim há muitas coisas que não me conta.
—Bom, tudo não posso contar lhe Trace isso a beijou antes de que ela pudesse responDare. —Eu tenho que tomar cuidado com o que digo —comentou Dare. Molly sorriu. —Preocupa-lhe que tome emprestados secretos de trabalho para um de meus livros de incerteza —lhe deu uma palmada no ombro—. Mas eu não faria isso, é obvio. Tornaram-se todos a rir. Alani levantou a vista, cada vez mais nervosa pelo olhar fixo do Jackson. Sentia o calor de seu olhar na alma. Tentou sorrir, mas ele estava tão concentrado que não lhe devolveu o sorriso. Decidida a tomar a iniciativa, tomou um sándwich e uma Coca-cola e se sentou a seu lado, no outro extremo da habitação. —Deveria comer —disse ao lhe oferecer a comida. Jackson a aceitou e deixou o sándwich e o refresco sobre a mesa, detrás dele. Levantou um comprido mecha de cabelo do Alani, o aproximou da cara e fechou os olhos. —Tem um cabelo incrível. Tão suave... —Jackson? Estreitou-a entre seus braços, pegou o nariz a sua têmpora e deslizou a mão por seu cabelo. —É quase tão bonito como seus olhos. Parecia... triste. —O que ocorre? —sussurrou ela. Os outros estavam falando, fingindo que não lhes emprestavam atenção. Jackson e ela sabiam que não era assim: a Trace e a Dare nada lhes passava desapercebido. Lhe deu um beijo na frente e logo beijou a ponte de seu nariz e seu maçã do rosto. —Não tome pelo que não sou, de acordo? —Está-me preocupando, Jackson. —Um —a fez voltar-se de modo que apoiasse as costas contra a porta do pátio e a ocultou aos olhares de outros com seu corpo—. Não quero que se preocupe nunca. Ela respirou fundo para dar-se ânimos. —Que alguém te importe e preocupar-se por essa pessoa são duas coisas que vão da mão. Embora não tivesse um trabalho tão perigoso, às vezes me preocuparia —apoiou a mão sobre seu peito—. Não posso evitá-lo. Sou uma mulher. —Uma mulher muito feminina —murmurou ele. Já parecia mais ele. —Assim por fim tornaste a te fixar nesse detalhe? —deixei que me fixar alguma vez? —sem lhe dar oportunidade de responDare, acrescentou —: Há muitas coisas que decidir, muito que fazer. Ao Alani não gostou de como soava aquilo. —Que, por exemplo? Ele olhou sua boca e logo seus olhos... e então soou seu móvel. ficou paralisado um instante. Todos se voltaram para eles. Alani notou sua mudança de atitude. de repente, em uma fração de segundo, ficou tenso e alerta. separou-se dela enquanto se tirava o telefone do bolso. Olhou a tela e o sorriso de satisfação que esboçou fez que ao Alani desse um calafrio. —É Arizona. Dare e Trace ficaram alertas. Suas algemas também. Alani estirou o braço para tocar ao Jackson, mas ele se afastou de seu alcance ao abrir o telefone para responder... e logo, para surpresa do Alani, deu-lhe as costas. Jackson, que necessitava instintivamente distanciar ao Alani de qualquer possível ameaça, separou-se dela antes de responder ao telefone. Alani já tinha uma visão distorcida dele: pensava
que era a nobreza e a honradez personificadas. Mas ele não era um santo. Nada disso, e não queria que sua preocupação pelo Arizona confundisse mais ainda ao Alani. Ficou-se atônito ao ver com que rapidez aceitava a situação. Não era o que esperava. Ciúmes sim, claro. Uma bronca, possivelmente. Tinha-lhe oculto coisas premeditadamente (ainda as ocultava). Ela, em troca, tinha-o aceito tudo com facilidade. Era tão pormenorizada que o deixava pasmado. Aceitaria tão facilmente que o Arizona formava parte de sua vida? Não podia abandoná-la. Mas tampouco abandonaria ao Alani. Aproximou-se o telefone à orelha e, seguindo o protocolo, não disse nada. limitou-se a esperar. —Sou Arizona. O alívio lhe fez esticar-se ainda mais. Foi direto ao grão. —Está bem? —Sim, claro. Jackson não o tragou, não acreditaria até que o visse com seus próprios olhos. —Onde está? —Bueeeeno... Esse é o problema. Que estou em... na estrada. Jackson se afastou da porta e lamentou não dispor de verdadeira intimidade. Ou, mais concretamente, lamentou que as mulheres estivessem ali. —Estive-te chamando. —Sim? —pareceu surpreendida, mas não se desculpou—. Não podia responder. —por que? —então lhe ocorreu que, se não lhe havia devolvido suas chamadas anteriores, devia haver outra razão—. O que ocorre? —O caso é que não quero que te assuste. Ofendido, Jackson se aproximou da janela e contemplou o lago. —Eu não me assusto. —Sim, já. Bom, então, não quero que te suba pelas paredes. O que te parece? Decidido a lhe surrupiar a verdade, ele perguntou em voz baixa: —por que ia fazer o? detrás da atitude sarcástica de Arizona, sempre se escondia o medo, Jackson sabia. —Me diga o que está passando, Arizona. Vamos. Ela deixou escapar um suspiro teatral. —Está bem, não fique histérico. — Arizona... —Perdi o móvel. Quero dizer que perdi o móvel ao que certamente me estava chamando. Ainda tenho este. Dare, Trace e ele levavam sempre dois móveis, e Jackson lhe tinha dado dois também ao Arizona: um para as verdadeiras emergências e outro só para falar. —Como o perdeu? —Um tipo ao que conheci em um bar... —Onde está? —tinha utilizado o telefone de emergência para chamá-lo, assim tinha que passar algo grave. Preparado para ir a seu encontro, deu uns passos, mas não sabia aonde tinha que ir e isso lhe enfurecia. —Estou bem, Jackson. Seriamente. te acalme e respira, quer? —Seguro que está bem? —Estou genial, palavra de honra. Não te chamo para pedir auxílio. Agora, se me deixa acabar... —Há dito que estava em um bar? —não conhecia nenhum bar respeitável que servisse a menores de idade, mas conhecia muitos que estariam dispostos a deixar passar a uma garota com o aspecto de Arizona.
Ela se Rio. —De maneira que sabe o que é um bar, né? Um tugúrio para beber. Esses sítios onde as tias vão luzir se e os tios a tentar ligar. —Que Deus me ajude —resmungou ele para si mesmo, e acrescentou—: Que bar? Quando? Onde está agora exatamente? —Não importa em que bar porque já não estou perto dali. Passou ontem à noite e levo na estrada após. Quanto aonde estou, acabo de cruzar a fronteira entre Ohio e Kentucky. —Está na auto-estrada? —Sim. Assim de momento estava a salvo. Nas estradas principais havia muito tráfico para que se atrevessem a fazer algo contra ela. —O que tem que esse tio do bar? —observou o céu. Havia luz até muito tarde, assim tinha tempo de sobra para ir em sua busca. Queria ficar em marcha, fazer algo, mas primeiro necessitava dados. —Bom, não ponha o grito no céu, mas tive uma topada com um tipo grandalhão que estava ali... Verá, ao princípio não me dava conta do que queria. Mas, não sei, pode que estivesse ali tentando descobrir a algum desses porcos, igual a eu. Ao Jackson quase lhe puseram os cabelos de ponta. De costas à habitação, perguntou em voz baixa: —Outra vez estiveste montando guarda? —Chama-o como quer. O caso é que não sei o que se trazia entre mãos, mas me pareceu distinto, sabe? Bom, não tão distinto. Com o punho no quadril e o telefone na orelha, Jackson baixou a cabeça e grunhiu: —O que aconteceu? —Que ficou pesado e lhe dava o que se merecia, fim da história. Claro que se teria posto pesado. Arizona sortia esse efeito sobre quase todos os homens. Por isso certamente tinha esperado que ele fora igual. —Se a coisa acabou aí, por que me chama? —A isso ia. Esse tipo me seguiu. E o muito troglodita deveu me roubar também a carteira quando... bom, quando... Jackson fechou os olhos com força e disse: —Quando tiveram essa topada? —Sim. Certamente foi então quando perdi também o telefone —pareceu sorrir—. Mas me posso arrumar isso com ele, assim não te chamo por isso —se deteve e acrescentou—: Te chamo pelo BMW prateado. Jackson ficou rígido. —O BMW prateado? —grunhiu. Dare e Trace ficaram em guarda. —Sim, o mesmo que tentou te jogar da estrada. Mas levava distinta matrícula. —O mesmo que... —como demônios sabia isso Arizona? —Pelo amor de Deus, vais seguir repetindo o que digo ou vais deixar me acabar? Jackson ficou olhando a Dare e Trace, molesto mas sem saber o que responder. Evitou olhar ao Alani e sacudiu a cabeça. —Está-te seguindo o BMW? —Já não. Perdi-os fará uma hora. Lhe encolheu o coração. —Mas lhe estavam seguindo? Está segura? Outro silêncio e logo: —Sabe uma coisa? Acredito que é melhor que falemos disto em pessoa. «Por fim».
—Uma idéia estupenda. me diga onde está e vou te buscar. —Não faz falta. Já vou eu. —Arizona... —não podia lhe dar a direção de Dare—. Será melhor que fiquemos em algum sítio. —Sim, sei. Não pensava ir a verte esta noite. Queria dizer que pensarei em um bom sítio para que nos vejamos, mais perto de onde está você. Mas amanhã, de acordo? Hoje estou moída. Deus, estava desejando ir procurar a. Em seguida. Mas não podia permitir que a seguissem até casa de Dare, onde podia pôr em perigo ao Molly e a todos outros. —Prefiro que nos vejamos esta noite. —Sim, porque é o puñetero Superman. Já me lembro. Mas como você me diz sempre, eu não sou mais que uma garota e preciso descansar —bocejou audiblemente—. foi um dia muito comprido. A tensão atou seus músculos. —me escute, Arizona. Não sei quem há nesse BMW, mas vão a sério. passaram muitas coisas. Muitas coisas das que não sabe nada... —Surpreenderia a você, tudo o que sei. Como por exemplo... dois franco-atiradores? Jackson ficou mudo. Não. Impossível. Mas... era provável. Apertando os dentes, perguntou: —Foi você? —Tinha que cuidar de meu campeão, não? —beijou o telefone. —Não. Ela não fez conta. —Mas, ouça, não se preocupe por isso agora. lhe posso explicar isso tudo melhor pela manhã, quando tiver dormido um pouco. Esta noite só quero encontrar um chiqueiro Y... Jackson notou que se relaxava e disse atropeladamente: —Não te atreva a pendurar! —Amanhã pela manhã te chamo. —Maldita seja, Arizona, digo-o a sério! Com voz muito suave, ela sussurrou: —Jackson, se te necessito, chamarei-te, seriamente. Graças a ti, acostumei-me a viver. Jackson notou que sorria. —E a verdade é que eu gosto bastante —acrescentou ela. Depois, pendurou. Com a vista nublada por uma neblina avermelhada, Jackson teve que fazer um esforço para não esmagar o telefone espremendo-o com a mão. Arizona estava jogando a um jogo muito perigoso. Um jogo que, face ao que ela desejava, não lhe convinha absolutamente. Todos o olhavam espectadores. —Pendurou-me. —Está bem? —perguntou Trace. —Diz que sim —mas Jackson não o tragava. Fez uma esforço por aparentar calma, por fingir que o tinha tudo sob controle—. Não sei onde está. No colégio, não —sacudiu a cabeça—. Diz que está na estrada. Que acaba de entrar em Kentucky. Alani estava a suas costas, muito perto. —Queria que lhes vissem? —Amanhã. Diz que me chamará para ficar quando tiver dormido umas horas. Dare se inclinou para diante. —E o BMW prateado? —Estava-a seguindo —ouviu que Alani continha um gemido—. Diz que os despistou. —E você a crie? Não sabia o que acreditar.
—O segundo atirador que havia na casa... Bem, Alani tinha razão. —Sim? —Demos por sentado que eram dois inimigos, mas Arizona afirma que era ela. O silenciou soou mais forte que um disparo. Havia tantas coisas sobre o Arizona que não lhes tinha contado... —Esteve em minha casa —disse Alani—, mas é impossível que soubesse de mim ou onde vivia —tocou o braço do Jackson—. Assim que a questão é se seguiu a ti até ali ou se seguiu ao franco-atirador. —Sim —fora como fosse, tinha ido armada. Se só tinha querido segui-lo, tinha-o feito para protegê-lo? Mas por que? O que sabia ela que ele desconhecia, o que o fazia pensar que necessitava amparo? A mulher da casa, a que o tinha drogado... Não. ficou doente só pensando-o. Alani lhe havia dito que era uma mulher de uns trinta e cinco anos e com o cabelo curto. Não se parecia em nada ao Arizona. Mas, então, quem era? Todos os músculos de seu corpo se esticaram, ansiosos por fazer exercício. Tinha vontades de correr. Ou de nadar. Ou de foder. Olhou ao Alani. Como se lhe adivinhasse o pensamento, seus olhos dourados se obscureceram. —Deveria comer —lhe disse em voz baixa—. vais necessitar forças. Era uma promessa? Deu-lhe um tombo o coração. Com o Grim em braços, Chris se levantou e se aproximou do monitor que havia na parede. —chegou a veterinária —olhou primeiro ao Jackson e logo ao Alani—. por que não te encarrega você? Jackson moveu a mandíbula, tentou encontrar algo lógico que dizer, mas não pôde. Alani disse: —Obrigado, Chris. Priss e Molly olhavam sucessivamente ao Jackson e ao Alani. Ele não sabia por que pareciam tão fascinadas, e não estava seguro de querer sabê-lo. Custou-lhe recompor-se. —Posso fazê-lo eu. —Não —disse Dare. Tomou a sua esposa da mão e a fez levantar-se da cadeira—. Que Chris e as garotas se encarreguem disso. E isso inclui a ti, Alani. Alani fez ameaça de protestar, mas Dare a atalhou. —É melhor repassá-lo tudo quando ainda o tem afresco na cabeça, para ver as coisas desde outra perspectiva. Consciente de que Dare tinha razão, Jackson assentiu com um gesto. —Pode que tenha passado algo por alto. Alani pôs os braços em jarras e se voltou para ele. Jackson esperava que se sentisse doída. Zangada, possivelmente. Mas, naturalmente, sempre lhe surpreendia. Aproximando-se, abraçou-o com força, pegando-se a ele até que seu calor impregnou no corpo do Jackson e seu perfume alagou sua cabeça. Por fim se apartou e lhe sorriu. —vai sair tudo bem, já o verá —disse, e saiu. Aturdido, Jackson demorou um minuto em dar-se conta de que Trace o olhava fixamente e Dare parecia impaciente por ficar mãos à obra. de repente, sem vir a conto, disse: —Não é uma competição, sabe? —O que? Trace estalou a língua.
—Sempre foste um fanfarrão, mas com minha irmã? Jackson os olhou fixamente. Seus músculos se esticaram e, apesar de saber que se pôs à defensiva sem motivo algum, grunhiu: —Que demônios quer dizer com isso? Deixa de mistérios. —Quatro vezes ao dia? Ele sacudiu a cabeça. —Sexo —acrescentou Dare—. Pelo visto as mulheres estiveram fofocando. —Ah —disse e, depois de pensar-lhe um momento, quando se deu conta do que queriam dizer, acrescentou—: Ah. Alani tinha falado com o Priss e Molly? Deles, na cama? Se tivesse estado em qualquer outra circunstância, teria sorrido, haveria fanfarroneado um pouco e até teria exagerado ligeiramente. Mas nesse momento não. A fim de contas, Trace o olhava muito carrancudo. Jackson se encolheu de ombros. O que outra coisa podia fazer? —Terei que falar com ela. Dare sorriu e deu um empurrão a Trace. —Dado que Alani não se queixava, mais vale que vá te acostumando. Consciente de quão novidadeiro era tudo para ela, Jackson não se levou a mal que falasse um pouco com as garotas. —Suponho que sim —respondeu. Trace sacudiu a cabeça. —Sempre foste muito exagerado para tudo —comentou. —Sim, bom... —Jackson sabia que se excedeu, mas ignorava quanto tempo estaria com o Alani. Por isso tinha querido aproveitar tudo o que pudesse, enquanto estivessem juntos—. Esta conversação está sendo muito violenta. Trace foi procurar um refresco. —Pois me temo que haverá mais. —Suponho que sim —em realidade, esperava-o. Esboçando um sorriso, adicionou—: Alani me volta louco. —Passa sempre —disse Dare, observando-o—. Mas é agradável, verdade? Jackson não se incomodou em fingir que não o entendia. —A verdade é que dá muito medo. Trace repôs: —Logo melhora. Sem saber se queria que melhorasse ou não, Jackson recolheu sua comida e começou a comer-lhe Enquanto mastigava um bom bocado, disse: —Há algumas costure que não lhes contei sobre o Arizona. Dare cruzou os braços. —Pois agora seria bom momento para nos contar isso não crie? —Sim —se bebeu de um gole médio refresco. Não tinha outro remédio. Tinham que sabê-lo. Melhor falar disso quanto antes, enquanto as garotas estavam ocupadas em outra coisa. —Mais vale que lhes sentem, meninos. Capítulo 19
Ao ver que permaneciam de pé, impaciente, Jackson pensou que não tinha eleição: devia ir direto ao grão. —Arizona tem capacidades.
—Isso pode significar um montão de coisas distintas —Trace voltou a ocupar seu lugar junto à chaminé—. A que te refere exatamente? —Quando a seqüestraram os traficantes... foi porque se deram conta de que os estava seguindo —com o sándwiche na mão, assinalou a seus amigos—. Igual a fazemos nós. dedicava-se a vigiá-los, fazia umas quantas chamadas e, se as coisas não saíam como queria, tomava cartas no assunto pessoalmente. Trace ficou estupefato. Deu dois passos adiante. —Dedica-se a perseguir traficantes de pessoas? —Algo assim —era uma história tão triste que Jackson detestava repeti-la. E não o faria, ao menos não de tudo. Era Arizona quem devia contá-la. Mas podia lhes explicar o essencial—. Quando Arizona tinha dezessete anos, seu pai a vendeu em troca de droga. Sua mãe tentou impedilo e a mataram. —Meu deus —Dare conteve a respiração—. Então certamente também mataram ao pai. —Sim. Trace não disse nada: estava tão furioso que não podia falar. —Esteve seqüestrado um par de meses, até que conseguiu escapar —todos sabiam que, nessas condições, um mês era como passar uma eternidade no inferno—. Diz que demorou um ano em dar-se conta de que necessitava vingança. A partir de então, até que voltaram a apanhá-la e a encontrei, esteve lhes seguindo a pista. Sabe o que tem que procurar, como reconhecer os sinais. Conduz muito bem, tem boa mão para as armas e é uma ladra estupenda. —É-o ainda? —Não sei —Jackson se acabou seu sándwich—. Antes lhe dava dinheiro, mas ela não o suportava. Preferia roubar a um camelo ou ganhá-lo apostando que permitir que a ajudasse. Com essa garota, tudo foi uma luta custa acima. —Confia nela? —Completamente. Ao menos, de seus motivos —embora falava com calma, por dentro estava furioso—. Quanto a seus métodos... Não tenho nem puta idéia do que tem feito nem do que está tramando agora —não queria trair a confiança de Arizona lhes contando que o chamava seu «campeão». Sabia que era uma brincadeira carinhosa, que em certo modo, embora fora irracional, sentia-se em dívida com ele. Ao igual a sabia que, em outros sentidos, tinha-lhe rancor por fazer coisas que ela não podia fazer. —Chateia-lhe que a salvasse. —Queria...? —incapaz de dizê-lo, Dare sacudiu a cabeça. —Morrer? Não. Ao menos isso acredito. Queria ser ela quem os matasse. Trace chiou os dentes. —Tem o que terá que ter para fazê-lo? É capaz de chegar até o final? —Ela diz que sim —Jackson estava cada vez mais nervoso. Um minuto mais e estalaria. Necessitava uma descarga física. Necessitava ao Alani. —Quão único sei é o que ela me conta. Odeia aos traficantes. Seria capaz de apertar o gatilho? Tem-no feito alguma vez? Nem puta ideia. Trace se aproximou e tomou assento. —Por isso o do internato? —Sim —Jackson teve que rir de si mesmo—. Me disse que quão único sabia fazer era perseguir criminais e defender-se. A idéia de procurar um trabalho corrente, segundo ela, dava-lhe calafrios. Agora, em troca... Sabem?, acredito que aceitou a idéia de ir ao internato porque assim eu não a teria controlada. Dare assentiu. —Sabia que você não gostava do que fazia.
—A qualquer homem pareceria mal que uma garota de vinte anos tente vingar-se de uma banda de criminais psicopatas —Jackson se arrellanó no sofá e se concentrou em esfriar suas emoções—. Sabem que é o mais estranho de tudo? Que não lhe custou nada conseguir o título de bacharelado. E apesar de que se salta muitos dias de classe no colégio, seus professores só dizem coisas boas dela. De algum jeito consegue passar nas disciplinas e está a ponto de conseguir um título de grau médio. Até saca sobressalentes. —Lista e temerária. Uma combinação perigosa. Jackson soprou. —Isso mesmo pode dizer-se do Priss. —Não siga por aí —lhe advertiu Trace. levantou-se de novo de seu assento e seguiu passeando-se pela habitação. Jackson sabia que Trace se angustiava ainda quando recordava o perto que tinha estado Priss do verdadeiro perigo. Incomodava-lhe especialmente falar disso com o Jackson, porque Jackson havia visto nua a sua mulher antes que ele quando a tinha tirado da ducha... por motivos completamente altruístas. —Se não a tivesse deixado participar do trabalho —disse Trace de costas a eles—, sabe Deus no que se teria metido. —É como uma viciada na adrenalina —comentou Dare—. Tem que reconhecê-lo, é como uma droga —se desperezó—. Bom, eu era viciado até que encontrei um modo melhor de gastar minhas energias. Trace se deu a volta e até sorriu. —As mulheres vêm muito bem para liberar tensões, verdade? Jackson, que nesse momento estava desejando liberar parte de sua tensão, esteve de acordo. Mas dado que Alani não era sua mulher, preferiu manter a boca fechada. Mesmo assim, a conversação lhe tinha dado algumas ideia. Poderia convencer ao Arizona de que participasse de seu trabalho e ao mesmo tempo não ficasse em perigo? Estaria contribuindo à causa, estaria implicada nela, mas ao mesmo tempo ele manteria sempre o controle. Era uma idéia a considerar. —Não posso fazer grande coisa até que o Arizona me chame pela manhã. —ides ficar lhes aqui esta noite? —perguntou Dare. Ele assentiu. —Não quero deixar ao Alani só quando for me reunir com o Arizona, assim prefiro que fique aqui. Dare lhe lançou um olhar que não entendeu. —Onde vais reunir te com ela? —Suponho que irá a um lugar acordado previamente. É o que falamos em caso de emergência —mas Arizona era tão imprevisível que não podia estar seguro, e isso o punha mais nervoso ainda. —Esse lugar está perto de seu apartamento? —A menos de dez minutos. Trace esteve pensando-lhe. —Agora que sabe que há um problema, crie que seu apartamento é o bastante seguro? —Para me proteger? —não gostou absolutamente aquela insinuação—. claro que sim. —A verdade é que estava pensando no Alani. Jackson o olhou sentido saudades. —Em meu apartamento? Trace meneou a cabeça. —Dá-te conta de que não vai ficar aqui de bom grau? Jackson se levantou. Isso não lhe preocupava. —foi muito razoável —e o mais importante: ele faria todo o necessário para protegê-la.
—Isso foi antes de que fosse a ver outra mulher —Dare também se levantou—. Um conselho: se não dirigir bem a situação, Alani vai zangar se, ou vai sentir se doída, ou as duas coisas. Jackson se perguntou se a partir desse momento ia receber deles conselhos que não lhes tinha pedido. Não lhe importaria muito, com tal de que Alani seguisse sendo sua um pouco mais. Naturalmente, nada lhe garantia que fora a ficar com ele depois de satisfazer sua curiosidade. Sabia como fazer feliz a uma mulher na cama. Mas e fora da cama? Nunca o tinha tentado. Dado que Trace e Dare tinham casal estável, talvez estaria bem que lhe dessem algum conselho. —E como criem que deveria dirigir a situação? Olharam-no como dois conspiradores e ao Jackson não gostou de nada sua expressão. —O que acontece? —perguntou, crispado—. Se tiverem algo dizer, digam o de uma vez. Sou todo ouvidos. Dare se decidiu e logo Trace assentiu com a cabeça. —Esta poDareia ser a oportunidade perfeita. —Para que? —É arriscado —disse Trace—, se estivermos todos ali... —Todos? Quais? —ao Jackson não gostou da súbita tensão que reinava na habitação—. Se lhes referirem ao Alani, esqueçam. —Olha-o assim —lhe disse Trace—: Se formos todos, não podemos deixá-la aqui. —Todos? Quais? —Nós três —disse Dare—. E Alani. Aquilo não tinha sentido para o Jackson. —E por que demônios ia vir ela? —Porque temos que averiguar quem está detrás disto. E os que estão seguindo ao Arizona já sabem o do Alani e a querem a ela também. Deu-lhe um tombo o estômago. —Querem as usar como isca. Trace deu um passo para ele em atitude agressiva. —Nem sequer você pode ser tão estúpido. Dare se interpôs em seu caminho. —Não lhe está pensando isso bem, Jackson. Pensa em você... associação com o Arizona e Alani. Olhe as coisas objetivamente, com frieza. Não queria fazer isso. Não podia. Sua «associação»? Que palavra tão insossa e desapaixonada! Isso era o que acreditava que tinha com o Alani? Pensaria ela o mesmo? Para ele era muito mais, isso seguro. Muitíssimo mais. Jamais poderia comportar-se com frieza em nada que lhe concernisse, mas entendia a Trace e Dare e sabia que tinham razão. Zangando-se ainda mais, aceitou a verdade e reconheceu entre dentes: —Esta poderia ser nossa oportunidade de apanhar a esses porcos. Dare assentiu. —Os que estão seguindo ao Arizona não farão mal porque necessitam que lhes conduza até ti, e até o Alani. —Por desgraça —acrescentou Trace—, se souberem que Alani não está contigo... —Então Arizona poderia converter-se em uma vítima colateral —merda, merda, merda. —Mas graças a sua chamada estamos atrás deles —disse Trace— e isso nos dá vantagem. Estaremos os três vigiando-a, mas desde distintos pontos. —O qual significa que podemos as proteger às dois —Dare agarrou o ombro do Jackson—.
Mas Alani não pode sabê-lo. —Nem tampouco Arizona —Trace refreou sua ira—. Será mais fácil as controlar se não suspeitarem que há perigo. —As mulheres tendem a ser muito protetoras —Dare exalou lentamente—. Isso complica muito as coisas. Era um segredo enorme para ocultar-lhe ao Alani. Não ia gostar de lhe. E Jackson não estava convencido de que fora necessário. Trace e Dare levavam muitos anos tratando-a como a uma menina, mas Alani era uma mulher inteligente e responsável e tinha instinto. —Não sei —preferia levar ao Alani a sua casa e deixá-la ali até que desvelasse o mistério de quem o tinha drogado e andava atrás deles. Trace estalou: —E eu não gosto que um psicopata vá a por minha irmã. Quero resolver este assunto e, se o vemos aproximar-se dela, podemos resolvê-lo. —Em um entorno controlado —explicou Dare—. É uma boa oportunidade e você sabe. —Não se preocupe —disse Trace—. É minha irmã. Eu me encarregarei de que não lhe aconteça nada. Dare grunhiu para lhe ouvir. Mas Jackson não picou o anzol: estava muito ocupado sopesando as possibilidades. —Você sabe que não permitirei que lhe aconteça nada —disse Jackson. —Ah, sim? —Sim —se tivesse sido outra pessoa e não Alani, não teria tido que pensar-lhe mas com ela tudo era distinto. Compreendendo que em realidade não tinha eleição, que ao aquilo final redundaria em interesse do Alani, acessou com uma breve inclinação de cabeça—. Está bem, fareio. —É que havia alguma dúvida a respeito? —perguntou Dare com aspereza. —Não —enrugou o cenho—. Assim, qual é o plano? Repassaram juntos todas as circunstâncias possíveis, como podiam trocar e o que podiam fazer em caso de que trocassem. Ao Jackson parecia um bom plano, mas sabia que Alani ia zangar se. A confiança era muito importante para ela... e se tinha ganho a confiança dele. —Nos avise assim que te chame Arizona —disse Trace—. Enquanto isso, convém que te assegure de que minha irmã se prepara para outra viagem, mas sem suspeitar que... —soou seu móvel, cortando o que ia dizer. Olhou a tela e respondeu despreocupadamente—: Já está? Jackson e Dare escutaram e se relaxaram ao ver a expressão satisfeita de Trace. —Genial. Mantenham vigiado. Se lhe ocorre algo mais, me avise, mas não quero que ele fale com ninguém, sob nenhum conceito. De acordo. Encerra-o em um armário se te Dare problemas —sorriu—. Sim, eu me encarregarei logo se as coisas ficarem assim. Obrigado — pendurou e se guardou o telefone—. Já transladaram ao Marc Tobin. deixei a dois homens cuidando dele. —Está-se pondo difícil? —perguntou Dare. —Pois... não. Dizem que se limita a dar voltas pela habitação coxeando, angustiado —Trace se encolheu de ombros—. Quer estar espaçoso se por acaso pode ajudar em algo, assim que se nega a tomar calmantes. —Segue sendo um troglodita, mas ao menos isso nos tira de cima um problema —Jackson tomou outro sándwich e se comeu a metade de um só bocado—. Acredito que será melhor que vá encarregar me do outro. Trace cruzou os braços. —Insinúas que minha irmã é um problema? —O major ao que me enfrentei nunca —lhe deu uma palmada no ombro antes de sair—. Mas não se preocupe. me posso arrumar isso.
Sentada sob uma árvore, diante da casa, Alani tinha deixado solto ao Grim mas o vigiava de perto. depois de examiná-lo, a veterinária tinha opinado que estava perfeitamente, mas que terei que escová-lo (coisa que Alani acabava de fazer) e levá-lo a consulta para lhe pôr mais vacina uma vez tivessem os resultados das análise. Chris tinha prometido encarregar-se disso, pois ninguém queria que Alani saísse sozinha. O perigo espreitava. Parecia tão irreal... antes de que a seqüestrassem, sua vida tinha sido tão segura, tão feliz, tão... superficial. Tinha querido a seu irmão, a Dare, a seus pais, aos que ainda sentia falta de... E tinha desfrutado de seus estudos, de seu trabalho, de seus amigos... Mas saber o facilmente que podiam lhe arrebatar todo isso fazia que agora o sentisse tudo com maior intensidade. O medo afinava seus sentidos. As alegrias singelas, como planejar a decoração da casa do Jackson, significavam muito mais para ela. Amar ao Jackson o era tudo. Queria lhe dizer o que sentia, mas Jackson tinha muitas coisas nas que pensar nesse momento, como ia carregar o além com isso? E se ele não sentia o mesmo? Jackson se acreditava invencível, mas ela sabia a verdade. Em um abrir e fechar de olhos todo podia trocar. Não queria desperdiçar nem um segundo só do tempo que passasse com ele. Mas tampouco queria ser uma distração. Grim voltou para seu lado, soltou um comprido miado, esfregou a cabeça contra sua mão e começou a ronronar. Em seu estado de ânimo, aquele singelo gesto de carinho quase a fez chorar. —Você gosta que lhe mimem, né? —sentou-o sobre seu regaço e ficou a escová-lo outra vez. Grandes bolas de cabelo começaram a rodar pela grama como redemoinhos. Tinha tido que lhe cortar muitos nós e lhe tinha feito uns quantos trasquilones, mas tinha ficado precioso. Zangado, mas precioso. Alani o aproximou de sua cara e o abraçou. Uma sombra caiu sobre ela. Pensando que havia tornado Chris, jogou a cabeça para trás. Mas era Jackson. Olhava-a com expressão enigmática e seus olhos ardiam de desejo. Alani se sentiu abrasada por eles e murmurou: —Olá. —Olá —se ajoelhou a seu lado—. O que há dito a veterinária? —Que de momento tudo vai bem. Amanhã Chris o levará a sua consulta para que lhe dê os resultados das análise de sangue e, se tudo estiver bem, porá-lhe um par de injeções. Mas está livre de parasitas e tem as orelhas e os olhos limpos. Quão único precisa é um montão de carinho. —Parece que o está dando. O gato abandonou ao Alani para subir sobre o Jackson. enroscou-se sobre suas pernas e ficou a ronronar com sua voz áspera. Jackson sorriu e tomou em braços. —Menino, está muito bonito —passou a mão pelo lombo do gato, encontrou um nó de cabelo e jogou mão das tesouras. Cortou brandamente o nó sem uma só queixa do Grim. O sol poente se refletia em seu rosto, em seus brilhantes olhos verdes, e dourava seu cabelo loiro. Jackson era um homem cuja só aparência fazia derreter às mulheres. Se a isso se acrescentavam seu caráter generoso e seu afã de proteger a outros, era completamente irresistível. Alani pôs uma mão sobre sua cara e o atraiu para si para lhe dar um beijo. Pensou em tudo o que tinha feito por ela, em como fazia arder seu corpo, e quis lhe dar as obrigado. —Umm. A que veio isso? —perguntou ele com seu nariz pego a dela. —Desejo-te —Alani suspirou—. Te desejo desde que nos interromperam no carro —de repente sorrio—. Não, não é certo. Desejo-te desde muito antes. De fato, cada vez me custa mais recordar um momento em que não te tenha desejado.
Ele contemplou seus olhos um momento, extasiado. Logo olhou a seu redor, certamente tentando descobrir o que podiam fazer para que não lhes vissem. Ela sorriu. —Sinto muito. Chris voltará em seguida. vai ajudar me a recolher tudo isto. —Espera —Jackson deixou ao gato sobre seu regaço e começou a recolher os cabelos. —Tem pressa? —perguntou ela, divertida. —depois do que há dito e desse beijo? —agarrou uma bola de penugem—. claro que sim. Uns segundos depois apareceu Chris. Jackson agarrou a bolsa que lhes levava e o colocou tudo dentro. —Me deixe adivinhar —disse Chris, observando-o—. Tem pressa? —Um pouco parecido. —Jackson... —Alani ficou tinta sem poder evitá-lo—. Ia ajudar ao Chris a instalar ao gato em... —Isso pode fazê-lo ele sozinho —com expressão implorante, apelou ao Chris—. A que sim? Chris pôs cara de chateio. —Sim, claro. Quem sou eu para me interpor no caminho do amor verdadeiro? Alani e Jackson ficaram gelados. Jackson foi o primeiro em falar. —É um ás, Chris. Obrigado. —De todos os modos já o tinha quase tudo preparado. A veterinária recomendou que o mantenhamos afastado de outros, mas as garotas morrem por lhe dizer olá, assim possivelmente me leve isso a casa agora mesmo. Alani olhou para a porta dianteira e viu que Tailandês e Sargie os observavam com seus grandes olhos marrons e o focinho pego à mosquiteira. Sorrio. —São um encanto. —Liger é mais indeciso —Chris sorriu às cadelas—. Claro que esse gato gordo não se move por qualquer, assim por que ia incomodar se por outro animal? —Se Priss te ouça chamá-lo gordo, arranca-te a pele. Chris sorrio. —A verdade é que agora o defende mais Trace que ela. —Sim, é genial. Bem pelo Liger —impaciente, Jackson tomou em braços ao gato, acariciouo um par de vezes, sussurrou-lhe algo ao ouvido e o deu ao Chris—. Obrigado. Chris se levou uma mão à cabeça e se fingiu ofendido. —Primeiro me quer e agora está desejando te liberar de mim. Jackson lhe deu um empurrãozinho. —Pinjente que necessitava a alguém como você —alargou a mão para Alani—. Além disso, Dare jamais prescindiria de ti. —Claro que não. Sou muito valioso. Alani titubeou. —Avisará-me se houver algum problema com o Grim? —Claro, mas não se preocupe, vai estar perfeitamente —olhou ao Jackson fixamente, de homem a homem—. Não faça nada que não fizesse eu —logo se afastou. Jackson ficou ali parado um segundo. —Que não faria ele? Alani atirou dele para a casa. —Conhecendo o Chris —disse—, seguro que todo vale. E agora mesmo me parece de pérolas. —Você segue falando assim —murmurou Jackson atrás dela— e não durarei. —Temos toda a noite. Os cães se afastaram da porta dianteira para seguir ao Chris, assim quando entraram na casa não se tropeçaram com ninguém. Alani o levou a habitação em que foram dormir. —Interessa-me saber algo mais sobre esse pó de que falou antes, mas...
Jackson se apoderou de sua boca. Alani se encontrou de repente pega à porta, com os quadris do Jackson apertadas contra as suas e suas mãos sobre seus peitos. «Deus meu». Sim que estava impaciente. Alani passou as mãos por suas costas larga e forte, por sua coluna e seu musculoso traseiro. Jackson deu um coice como se o tivesse beliscado. Tornando-se para trás para olhá-la, sussurrou: —Não me provoque. Seriamente o excitava tanto seu contato? Cheia de confiança em si mesmo, ela sorriu. —Esta vez me toca . Ainda com as mãos sobre seus peitos, acariciando seus mamilos com os polegares, Jackson perguntou: —O que? —Ser a que toma a iniciativa. Enquanto se olhavam o um ao outro, sentiu sua ereção e o calor de seu corpo. Como ele não dizia nada, apartou-se brandamente da porta. —vamos trocar de posição. —Sim, de acordo —de repente parecia sobressaltado. Observou-a com os olhos entrecerrados—. O que pensa fazer? —Nada que você não me tenha feito . Jackson respirou fundo. —Sim. —Nada que não tenha feito já... só que você não te lembra —o olhou—. E não me deixou acabar. Outra inalação. —Está bem. Claro. Se for o que quer. —Desejo-te, Jackson —lhe abriu a fivela do cinturão. Ele trocou de postura e se tirou rapidamente a pistolera quando lhe soltou o cinturão. Alani lhe tendeu uma mão e ele a surpreendeu ao lhe pôr a pistola embainhada na palma. Pesava, mas conservava o calor de seu corpo. Alani a deixou sobre a cadeira, junto à cama. Evitando o olhar do Jackson, concentrou-se em seu jeans. O colchete se abriu facilmente. —Cuidado agora —lhe disse ele. E conteve o fôlego quando ela baixou a cremalheira sobre seu membro ereto. Deslizou a mão dentro das calças e começou a acariciá-lo. Senti-lo através das cueca de algodão a excitou. Queria mais. ficou de joelhos. —Deus —resmungou Jackson, e posou uma mão sobre seu cabelo—. A verdade é que eu adoro verte aí abaixo. —Isso disse a primeira vez —sorriu—. vamos tirar te as botas para que possa te despir. Ele não respondeu. Alani levantou os olhos e ele introduziu os dedos entre seu cabelo. Respirava agitadamente e parecia acalorado. —vais chupar me o pênis, carinho? Esse era o plano, mas ela não se esperava que o perguntasse diretamente. —vou improvisar, a tocar de ouvido. Lhe massageou o couro cabeludo. —Usa melhor a língua. Alani fixou o olhar em suas botas, desatou os cordões e as tirou. Depois lhe tirou também os meias três-quartos. Até seus grandes pés eram sexis, pensou, sobre tudo quando os separava assim, esperando o que ia passar. Olhou para cima, contemplando seu alto corpo, e ficou em pé. —Está-me matando. —Um tio grande e forte como você pode suportá-lo —agarrou o desço de sua camiseta e a
subiu por seu torso. Tinha a pele quente, tersa e suave, coberta por um pêlo muito suave e disperso. Seus ossos eram largos e seus músculos de ferro. Inclinando-se para diante, Alani beijou seu peito, mordeu ligeiramente seu músculo peitoral e passou a língua pelo mamilo plano. Jackson jogou a cabeça para trás. —Se me correr nas calças, será tua culpa. Ela se deteve. —Crie que pode passar? Com os olhos fechados, sorriu. —Não. Isso espero, ao menos. —Bem —levantou um pouco mais a camiseta e deixou que ele a tirasse pela cabeça. Posando as mãos sobre seu peito disse—: Porque esta vez quero te saborear. Enquanto Jackson continha a respiração, voltou a ficar de joelhos e atirou de suas calças, baixando-lhe um pouco. Depois se inclinou para beijá-lo através das cueca. —Cheira muito bem, Jackson —com as mãos em seus quadris, abriu a boca sobre seu membro e o acariciou com os dentes, ao longo. Esfregou o nariz contra ele, mais abaixo, onde o aroma era mais forte, e lhe deu um tombo o estômago. —Sabe o que, neném? —Jackson se removeu, incômodo—. Seria ainda melhor se nos despirmos os dois. Alani sacudiu a cabeça. —Só você —lhe desceu do todo os jeans e, quando ele os tirou, apartou-os a um lado—. Agora, as cueca. —Sim —sem um sozinho pingo de pudor, Jackson os tirou também. Acariciou a cabeça do Alani—. Quer vir aqui e me dar um beijo? —Não, acredito que vou beijar te melhor aqui —rodeou seu verga com o punho e a sentiu vibrar—. Jackson... Tenso dos pés à cabeça, ele respondeu: —Umm? —Se fizer algo mal, diga-me isso se inclinou para diante e lambeu uma gota salgada que aparecia na ponta de sua glande. —Sim, cla... —interrompeu-se para lançar um ofego e sua resposta concluiu com um grunhido. Alani voltou a lambê-lo, deslizando a língua ao longo de seu verga e em redor, do glande à base. Ofegando, Jackson tomou sua cabeça entre as mãos e a insistiu a aproximar-se. —Abre a boca, Alani. me deixe senti-la. —Assim? —abriu os lábios e os fechou ao redor de seu membro, introduzindo-lhe na boca. —Ah... foda, sim. Manteve-a quieta agarrando a da cabeça ao mesmo tempo que lhe introduzia mais profundamente o pênis na boca. Aquilo a excitou insoportablemente: ouvir seus grunhidos ofegantes, sentir a tensão crescente de seus músculos, aspirar seu calor e o aroma que exalava seu corpo. Pôs uma mão sobre a dela, ali onde sujeitava seu pênis, e ordenou com voz rouca: —Aperta-a. Assim —lhe mostrou como tinha que mover a mão seguindo o ritmo de sua boca—. me Chupa isso deixa que sinta como se encham suas bochechas... Muito bem. Muito bem —grunhiu—. Maldita seja, não posso esperar mais. Alani o soltou, voltou a lambê-lo e de novo se meteu seu pênis na boca. Jackson esticou as pernas. —Já basta, Alani. Já basta. Tentou apartá-la, mas ela não quis parar. Esta vez, queria-o tudo dele. —Alani, neném, é agora ou nunca —outro rouco grunhido entrecortado e—: Muito tarde —
pondo as mãos aos lados de seu pescoço, atraiu-a para si e proferiu um grito rouco quando um forte orgasmo sacudiu seu corpo. Alani não se apartou enquanto seguia grunhindo e tremendo. Depois, Jackson a apartou brandamente, com uma risada ofegante. —Sim —murmurou—, foi que grande ajuda. Alani, que seguia de joelhos, olhou-o: —De ajuda com o que? —Com tudo o que me preocupa —jogou a cabeça para trás, contra a porta, respirou fundo várias vezes e exalou lentamente—. Agora... O corpo do Alani palpitava com uma ânsia doce e crescente. —Agora o que? —Agora você —a agarrou por debaixo dos braços e a fez levantar-se—. Espero que tenha comido suficientes sándwiches, porque tenho a sensação de que vamos saltar nos o jantar. —Por mim não há problema —disse Alani, trêmula de desejo. Capítulo 20
Horas depois, Jackson deduziu que se ficou dormida pela frouxidão com que descansava a seu lado e o profundo de sua respiração. Seu corpo palpitava ainda, transbordante de sensações. Conhecia o sexo. Conhecia o prazer. E o que obtinha do Alani era algo distinto. Tinha vontades de dormir, mas não conseguia relaxar-se. Seus pensamentos saltavam continuamente de Arizona ao Alani, do presente ao futuro, do perigo ao... amor. Durante a maior parte de sua vida tinha procurado não desejar nada que não pudesse conseguir. Agora, em troca, desejava muitas coisas. E não tinha nenhuma certeza de que fora às conseguir. Quando os dedos suaves do Alani se moveram sobre seu peito, deu-se conta de que só tinha estado recuperando o fôlego. Tomou sua mão quando começava a deslizar-se sem rumo por seu corpo. —Não é que queira te desiludir, neném, mas estou esgotado. Até para mim foi... — profundo? Não, não podia lhe dizer isso—. Extenuante. —Umm —se acurrucó a seu lado—. Para mim também. Como podia lhe fazer entender que as últimas horas que tinha passado com ela sozinho faziam que a desejasse ainda mais? Beijou sua frente. —Durma. —Não sei se posso. Ainda não —se tombou pela metade sobre seu peito—. O que vamos fazer? Não tinham aceso nenhuma luz e, ao ficar o sol, a escuridão tinha cheio cada rincão. Com as cortinas jogadas, nem sequer entrava a luz da lua. Jackson, entretanto, sabia que aspecto tinha. Conhecia seus peitos pequenos e arredondados, seus mamilos rosas, agora suaves, seu cabelo claro e alvoroçado e sua boca torcida por tantos beijos. Sua beleza, a delícia de tê-la com ele assim, fazia transbordar seu coração. Mas a incerteza do futuro atendia seu cérebro. —Que o que vamos fazer? —perguntou enquanto passava uma mão por suas costas—. Sobre o que? Passaram dois segundos de silêncio. Logo Alani disse: —Sobre Arizona —e acrescentou precipitadamente—: Temos que descobrir como ajudá-la.
Ao Jackson lhe gelou o sangue. —«Nós» não vamos fazer nada —se voltou, colocando-se sobre ela—. Você não tem nada que ver com isso. —Não? —perguntou com voz suave e pouco doída. —Não —mas ao dar-se conta de como soava aquilo esclareceu—: Eu gostaria que a conhecesse. Espero que você goste. Mas anda metida em algo. —Como sabe? Porque sempre andava metida em algo. Sacudiu a cabeça. —Se necessitar ajuda, ajudarei-a. Mas você não vais colocar seu naricilla nisso. —Então, não conta comigo? —Para isso não —nem para nada perigoso. —Então, para que contas comigo? —perguntou, desafiante—. Para o sexo? —Certamente que sim —estava satisfeito até o ponto do esgotamento, assim ambos compreendiam que, quando lhe separou as coxas e se colocou entre eles, só pretendia adotar uma posição dominante. Embora não lhe serve de muito. —Para isso não necessita minha ajuda. —Necessito sua participação —se inclinou e a beijou antes de que pudesse apartá-lo—. E quero que me ajude a decorar minha casa e a cuidar do Grim. —Que trabalhos tão importantes. Jackson se espremeu o cérebro. —Eu gosto de sua companhia. Eu gosto de falar contigo. —Pois eu quero mais —lhe deu um empurrão no peito—. Quero ajudar. Jackson a agarrou pelas mãos e aproximando a cara à sua disse: —Pode ajudar não me estorvando. Aquela lhe doeu. —Entendo. Jackson lutou por respirar e apoiou a frente na sua. —Não, neném, não o entende. —Que se foda. —Já o têm feito. Quantas vezes? —perguntou em brincadeira—. levaste a conta esta vez? —Sim, mas não importa. Assim é uma espécie de dínamo sexual ou algo assim, e o que? — tentou apartar-se e quase o conseguiu. Jackson voltou a agarrá-la em seguida. —Não me importa! —exclamou Alani. —Eu acredito que sim —até alardeava disso. Quando tinha dado começo a sua campanha para conquistá-la com tanto prazer sexual que não pudesse separar-se dele, esperava alguns excessos, mas o certo era que se surpreendeu a si mesmo—. Se não, não o haveria dito ao Priss e Molly. Ela respirou fundo e ficou quieta. —Não sabia que fora estranho. Jackson teve que rir ao imaginar-se como o teriam tomado Priss e Molly. Não duvidava de que Dare e Trace eram muito fogosos, mas sim... ultimamente a palma a levava ele. —A verdade é que me faz perder o controle, neném. —OH, pobrezinho —lhe deu outro empurrão—. Agora te aparte de mim. Jackson soltou suas mãos e a estreitou entre seus braços com ternura. Fez-a girar-se para ficar em cima dele. —De verdade quer ajudar, neném? Alani ficou imóvel, como se intuira que era uma armadilha. Jackson sentiu suas dúvidas. Sentiu seu corpo sobre o dele, o batimento do coração de seu coração, o movimento de suas coxas.
—Sim. Deslizando as mãos por seu adorável traseiro, apertou-a contra si. —Então não me rechace —sua pele era suave e cálida. Jackson fechou os olhos—. Não posso dormir. Deveria estar como um tronco, mas meu cérebro não pára de dar voltas. Os dedos do Alani se deslizaram por seu ombro e seu pescoço. —Jackson... —Me fale. —Do que? —perguntou ela com voz suave e pormenorizada. De tudo. Tinha-a feito alcançar o orgasmo uma e outra vez e, embora adorava como gemia e os ruídos que fazia enquanto se esticava ao redor de seu verga, não lhe havia dito nenhuma só palavra que desvelasse seus sentimentos. —O que te parece...? —«de se me quer para algo mais que para te deitar comigo». Mas soou ridículo incluso a ele. —O que? —ela acariciou sua mandíbula—. Comigo pode falar, Jackson, já sabe. —Está bem —lhe pareceu uma boa idéia para começar—. Me estava perguntando, se tudo isto acabasse amanhã... Ela ficou tensa. —O nosso? —Não! —santo céu, como lhe ocorria tal coisa?—. Refiro-me ao perigo. Quando resolvermos este assunto... então o que? O silêncio se voltou ensurdecedor. Sentiu que lhe doía o peito e notou o retumbar de seu coração nos ouvidos. —Suponho... —Alani se sentou na cama. Jackson a sentiu suspirar, percebeu sua vulnerabilidade. —Suponho que já não necessitaria seu amparo, verdade? Sempre a teria, quisesse-a ou não. Sentando-se a seu lado, rodeou-a com seus braços, cheio de determinação. —Ficará de todos os modos? —Aqui, quer dizer? —girou-se para olhá-lo—. Em casa de Dare? —Não —maldição, que difícil aquilo era. Não estava acostumado a analisar suas palavras, a pensar das conseqüências que podia ter o que dizia. Decidido a tirá-lo tudo à luz, tombou-a de novo sobre a cama e se abateu sobre ela—. Comigo. Alani o olhou desconcertada, respirando mais às pressas. —Em sua casa? —Sim. —Quereria? Nesse momento o desejava mais que qualquer outra coisa. Acurrucarse com o Alani para dormir cada noite, despertar com ela a seu lado cada manhã e lhe fazer o amor sempre que pudesse... O que podia haver melhor? —Lhe vejam viver comigo —disse sem rodeios. —Vá —a ponto de hiperventilar, ela repetiu—: Vá. Vá o que? Reagia assim porque estava impressionada ou por falta de entusiasmo? Jackson não sabia e nesse momento não lhe importava. —Lhe vejam viver comigo —repetiu com mais insistência. —por que? Pergunta-a o pilhou despreparado. Agarrou-a pelos ombros e a apertou brandamente. —Como que por que? —Pediste-me que viva contigo —respondeu ela em tom pragmático—. Quero saber por que. Não se esperava um interrogatório, mas possivelmente deveria havê-lo esperado. Com o Alani, as coisas nunca eram singelas.
As palavras necessárias para lhe convencê-la ardiam na garganta, mas lhe pareciam um cilindro melodramático e ainda não estava preparado para ir por esse caminho. Inclinou-se e a beijou com força. —Quero passar tempo contigo. Sem interferências, sem ameaças e sem ter que estar nos movendo constantemente de um sítio a outro. Quero estar a sós contigo, sem me tropeçar continuamente com seu irmão ou com Dare. Ela se encolheu de ombros. —Revistam aparecer lá onde vou. Sim, Jackson sabia, mas em sua casa teriam muita mais intimidade. —Se estiver ali, comigo, pode me ajudar a acabar a casa. Tem um gosto estupendo. —Acabaram-se as estátuas e os quadros de mulheres nuas? Jackson sorriu ao sentir que se abrandava. —Claro, a não ser que sejam de ti. —Isso nem o sonhe! —Desmancha-prazeres —a beijou—. Poderíamos nadar, sair em barco, decorar, cozinhar... E entre os dois conseguiremos que Grim se aclime a sua nova casa. —Está dizendo que poderia ser... divertido? —Sim —em efeito, divertia-se muito com o Alani. Depois de pensar-lhe um momento, ela se ergueu para beijá-lo com ternura no lábio inferior. —E se vivermos sob o mesmo teto, poderíamos fazer o amor quando quisermos. —Da manhã de noite —repôs Jackson, um pouco tenso. E não porque não gostasse de ter liberdade para fazer o amor com o Alani sempre que quisessem, mas sim porque para ele significava muito mais, e queria que ela sentisse o mesmo. —Alguma vez me consiDareei que essas mulheres que vivem em concubinato —se estremeceu delicadamente—. Soa bastante sensual, verdade? Jackson se sentiu ofendido. Via Alani aquilo unicamente como uma oportunidade para seguir experimentando? —Eu não o chamaria assim. —Como os chamaria, então? Tentava provocá-lo? Jackson não sabia. —Quero que vivamos juntos. Não faz falta chamar o de outra forma. —Eu gosto da idéia. —Mas? Lhe tocou a mandíbula. —Com meu trabalho, meu irmão, nossas responsabilidades, como o faríamos exatamente? Jackson se concentrou nos problemas mais singelos. —Não vivo tão longe de seu escritório, não? Quando não estiver de viagem, podemos ir e vir, ou possivelmente dormir em sua casa dois dias em semana para que ponha ao dia com o trabalho. —Suponho que o resto da semana poderia trabalhar em casa com o ordenador, fazendo pedidos e organizando. —Já está, vê-o? Problema resolvido —confiando em resolver o trato, beijou-a de novo—. E seu irmão terá que ir fazendo-se à idéia, não crie? —olhou-a intensamente na penumbra, desejando poder lhe ver a cara—. O que me diz? —Bom... Foi passando o tempo sem que respondesse e Jackson começou a sentir-se angustiado. Era a primeira vez que pedia a uma mulher que vivesse com ele. Estranha vez pedia a alguma que ficasse a passar a noite. Por fim não pôde suportá-lo mais. Perdeu a paciência. endireitou-se apoiando-se nos braços e a olhou com aborrecimento.
—Meu deus, Alani, é que está fazendo cálculos? Era uma pergunta bastante singela... —Sim. Deu-lhe um tombo o coração. Depois, começou a pulsar desbocado. —Sim? Alani lhe rodeou o pescoço com os braços e Jackson notou um sorriso em sua voz. —Sim, me vou viver contigo. A alegria se apoderou dele, apagando o cansaço. Alani beijou seu ombro, moveu as pernas sob as suas e, embora parecesse uma loucura, Jackson sentiu que voltava a excitar-se. apoderou-se de sua boca e a devorou. Ao dia seguinte lhe falaria do plano para retornar a seu apartamento. E antes de partir de casa de Dare, explicaria-lhe que o Arizona sempre formaria parte de sua vida. Depois se enfrentaria ao perigo e a seu irmão. Ao dia seguinte. De um modo ou outro resolveria tudo para que Alani seguisse sendo dela. Arizona decidiu chamar o Jackson às quatro da madrugada. Como a maioria da gente normal, certamente ele esperava a chamada a uma hora mais razoável. E agora que tinha um novo ligue, seguro que estaria tão a gustito sob os lençóis com ela. Normalmente lhe teria dado um pouco mais de tempo. Mas esta vez não podia ser. Depois de dormir umas horas, havia tornado a sair de caça. passeou-se pelas paradas de caminhões, fazia muitas perguntas e tinha levantado suspeitas deliberadamente. E finalmente alguém tinha picado o anzol. Ignorava se um dos carros que a seguiam pertencia aos tipos do BMW prateado. Podia ser. Até que os caçasse, até ao último deles, não se sentiria cheia. Seguiria sendo uma pessoa incompleta. Um cérebro, um coração... mas sem alma. Sem verdadeira substância. Essa idéia a fez rir. Se não tinha verdadeira substância, não podiam lhe fazer danifico. Quando tinha sido a última vez que se havia sentido uma pessoa normal? Fazia uma eternidade. Com razão não se lembrava. Apesar do muito que se esforçou Jackson por que se integrasse, a verdade sempre saía à luz: seus vivencias a tinham trocado para sempre. O passado tinha contribuído a convertê-la em uma mulher cujo único objetivo na vida era a vingança. Jackson tinha matado aos tipos que a tinham seqüestrado, despojando-a assim da revanche que tanto ansiava. Mas, de não ser por ele, estaria morta. assim, vingava-se ajudando a outras que tinham sido maltratadas por traficantes de pessoas. De algum modo, em algum lugar, isso tinha que trocar as coisas. Para alguém. Parou o carro diante de outro bar, a plena vista. Com os guichês subidos e as portas fechadas, recostou-se no assento e deu voltas a seu plano. Jackson quereria ajudá-la, mas não podia. Esta vez, não. Necessitava um lugar seguro onde preparar-se. Como não tinha casa própria, teria que conformar-se com a de outra pessoa. a de alguma amiga? Poderia servir. Mas estava mais familiarizada com o apartamento do Jackson. Se conseguia tirá-lo dali, teria o campo livre. Sentiu uma pontada de má consciência, mas a fez a um lado com determinação. Marcou o número do Jackson. Não lhe surpreendeu que seu móvel só soasse uma vez. Jackson podia estar na cama, mas até dormido permanecia alerta. Era o homem mais assombroso que tinha conhecido nunca.
—Olá, céu. Sou eu. —Onde está? —respondeu ele com voz enérgica, como se não tivesse estado dormindo. Arizona sorrio enquanto observava cada carro que passava, a cada homem que a olhava. —É um disco rajado, sabia? —Quero verte —ouviu ruído de fundo e a seguir ao Jackson mandando calar a uma mulher de voz sonolenta. Sua nova amiguita. Arizona esboçou um sorriso desdenhoso. —Interrompo algo? —Não. Onde está? —Pois a verdade, machão, é que queria ir verte. —Agora? —perguntou ele. Arizona quase o viu olhando o relógio. —Não há melhor momento que o presente, não? Eu não tenho um corpo calentito a meu lado que me faça que tenha vontades de vagabundear na cama, não como outros. Jackson tampouco lhe fez caso esta vez. —Onde? Um carro passou lentamente e, embora não pôde divisar seu interior através dos guichês, Arizona o seguiu com os olhos até que se perdeu de vista. Seus sentidos ficaram em guarda. Não reconhecia o carro, mas algo tinha chamado sua atenção. —Estava pensando em nosso plano de emergência —disse distraídamente ao Jackson. —Quanto demorará? Apesar de que já não via o carro, seguia sentindo um formigamento alarmante e que, de algum modo, não tinha nada que ver com o perigo. —Desde quando é um homem de poucas palavras? Ou é que seu amiguita está escutando? —Quanto vais demorar, carinho? Ah, como a enternecia aquela voz! Jackson era o único homem que a tratava como a uma irmã pequena muito especial. Nem sequer seu pai lhe tinha demonstrado tanto carinho. Claro que seu pai era um imbecil, débil e doente. Não se merecia a sua mãe. Não a merecia a ela. Jackson não era débil. E, a diferença da maioria dos homens que conhecia, não a desejava como mulher. Só a queria como...como uma responsabilidade. Às vezes como uma amiga. Mas entre eles nunca tinha havido nada sexual. A ela aquilo a confundia, mas ao mesmo tempo lhe permitia lhe demonstrar todo o afeto que queria lhe dar. Porque Jackson não interpretaria mal suas amostras de carinho. Não se aproveitaria de sua debilidade. —Arizona? Sacudiu a cabeça para limpar-se. —Ponhamos um par de horas, quarto de hora acima ou abaixo, de acordo? —estava a menos de meia hora de seu apartamento, mas sentia o súbito impulso de criar um pouco de caos. A violência sempre apagava seus remorsos. Flexionou os dedos, fechou o punho e acrescentou—: Até mais tarde, nenê. Jackson tentou protestar, mas Arizona pendurou e não fez caso do telefone quando ele voltou a chamar. Acaso era uma menina que necessitava supervisão constante? Se Jackson se inteirava do que planejava, daria-lhe um ataque, e isso lhe estragaria a diversão. Deteve-se junto à porta aberta do bar, olhou entre a fumaça e a penumbra e viu o mesmo panorama deprimente de sempre. Homens arrellanados ao redor de mesas redondas e sujas. Homens sentados à barra, agarrados a suas taças como a salva-vidas. Alguns se cambaleavam e uns poucos até pareciam sóbrios. Mas não durariam muito assim.
Só tinha que entrar e algum daqueles porcos pestilentos ficaria pesado. Não falhava. Ansiosa por sentir o alívio da violência cega, dispôs-se a entrar, até que um ruído a sua direita chamou sua atenção. Algo se tinha movido, tinha ouvido um arrastar de pé, uma chiado metálico, um ranger de papel. Curiosa, dirigiu-se para o beco às escuras que corria entre o bar e uma loja fechada. de repente apareceu um homem junto a um cubo de lixo. Alto, forte. Apoiava o ombro contra a parede de tijolo e tinha a cabeça ligeiramente inclinada. A seus pés, no chão, jazia um corpo acurrucado. Vá, vá, vá. O que tinha passado ali? Arizona observou atentamente a cena. A luz logo que emitia luz, de modo que não podia ver a cara do homem nem interpretar sua expressão. Mas pouco importava. Reconheceu-o de todos os modos, instintivamente. Cruzou os braços e sorriu. —Roubou-me a carteira. —Sim —Spencer colocou a mão no bolso, tirou a magra carteira e, sustentando-a diante dele, pôs-se a andar para ela. Arizona sentiu o impulso de escapar. Lhe acelerou o coração e começaram a lhe suar as mãos. Mas seu orgulho lhe exigia que não se movesse. Assinalou com a cabeça ao tipo que jazia no chão. —Está morto? —Estava-te seguindo. Deixei-o fora de combate —se encolheu de ombros—. Lhe dei uma boa sova, mas acredito que sobreviverá. —Ah. Ele se aproximava mais e mais. —por que o tem feito? —Deixá-lo k.o.? —Sim —esboçou um sorriso zombador—. Que mais dá a ti? —Que me matem se sei. Pareceu-me uma boa idéia —seguiu aproximando-se. —De maneira que queria te fazer o herói, né? —com um cavalheiro andante tinha suficiente. A dois não poDareia suportá-los. —Deus não o queira —respondeu em um tom de ironia que lhe incomodou. Era tão grande, tão imponente... Manteve-se imóvel por pura força de vontade. Quando ele estava a menos de três metros de distância, espetou-lhe: —Para lhe aí. Ele se deteve com as mãos aos lados do corpo. —Tranqüila, de acordo? Não, não valia. Mas precisava recuperar sua carteira. E também seu telefone, se o tinha ele. —por que não me...? Lhe atirou a carteira. Estupidamente, Arizona alargou o braço para agarrá-la, e Spencer se equilibrou sobre ela. Sufocou um grito de surpresa quando a apertou contra si, sujeitando-a com a mesma chave que tinha usado a vez anterior. Com as costas contra seu peito, os pés levantados do chão e os fortes braços do Spencer rodeando-a. Indefesa. Chiou os dentes, mas não disse nada. Maldição, o que tinha aquele homem que o fazia baixar o guarda? —Agora tenho que te fazer umas perguntas. —Que se foda. Ele estalou a língua. —Beija a sua mamãe com essa boca tão suja, pequena?
Seu sarcasmo lhe chegou ao mais fundo. —Minha mãe está morta, assim seria bastante asqueroso, não crie? —a dor a embargou de repente, fazendo que lhe ardessem os olhos. Não foi fácil, mas tentou não ofegar. O silêncio palpitou entre eles até que Spencer disse em voz baixa: —Sinto muito. Deus santo, parecia senti-lo de verdade! O impulso de defender-se quase se apoderou dela, mas sabia que não lhe serviria de nada. Tinha que esperar uma oportunidade. O peito do Spencer se expandia ritmicamente contra suas costas, embalando-a, reconfortando-a. Despojando a de sua vontade. Ali onde seus braços se cruzavam sobre seu corpo, apertava-a com extrema delicadeza, quase como se a estivesse abraçando. Fazia tanto tempo que não a abraçavam... Odiava-o. Odiava ao Spencer. Esperou sua ocasião. Ele cometeria algum engano. Todos o cometiam. —Sério, não deveria estar aqui —sussurrou ele em tom de recriminação. Arizona notou contra seu traseiro o vulto de sua ereção. Sentiu um leve estremecimento. —Pervertido. Seu fôlego quente lhe roçou a têmpora. —Mereço-me isso —com voz rouca e um pouco culpado, acrescentou—: E também te peço desculpas por isso —tocou com o nariz seu cabelo, respirou fundo... Aproveitando a ocasião, Arizona o propinó um forte cabaçada. Ele afrouxou os braços. Ela se girou rapidamente e seu joelho deu no branco com precisão. Com a boca aberta e expressão de pasmo, Spencer disse: —Isso foi... —grunhindo, caiu de joelhos e acrescentou com voz rouca— desnecessário. —É você quem não deveria estar aqui —fechou os punhos e perguntou, furiosa—: O que faz aqui? O que está tramando? Ele se levou as mãos a entrepierna e grunhiu. o Arizona não sabia o que queria dela, mas não era idiota. Era muito corpulento, muito hábil e forte para enfrentar-se a ele. Recuperaria o fôlego em qualquer momento. E depois de lhe esmagar os testículo, supôs que estaria muito menos cordial. Recolheu sua carteira e voltou correndo a seu carro. Uns segundos depois estava encerrada dentro. Esboçou um sorriso azedo e acendeu o motor. Spencer golpeou o guichê do co-piloto soltando uma maldição furiosa, mas ela arrancou e pisou a fundo o acelerador. Viu pelo retrovisor que se separava de um salto para que não o atropelasse. Suas rodas chiaram. Cheirou a borracha queimada. Estava ansiosa por afastar-se dali o antes possível. Spencer não era como outros, e não queria saber nada dele. Mas fazia tanto tempo que não se sentia assim de... de acordada. O embotamento de dor e ódio que estava acostumado a impregnar sua alma e a mantinha em marcha a pesar do cansaço tanto físico como mental se dissipou agora, consumido por um calor estranho e palpitante. Sentia um comichão nos braços. Um formigamento no estômago. Ah, Deus. Aquilo não ia bem. Nem em sonhos se reuniria com o Jackson no lugar acordado, enquanto a seguissem. Demoraria uma hora mais em aproximar-se. Jackson não estava na cidade, isso sabia. Em lugar de ir ao armazém abandonado, como estava previsto, iria a seu apartamento. Se esconderia ali até que estivesse segura de que tinha avoado a quem a seguia. E, se não podia estar segura, deixaria-o. Jackson saberia o que fazer. Ele nunca chateava as coisas, não como ela.
A diferença dela, ele era verdadeiramente único. Um homem bom, divertido e nobre, dono de um sentido inato da honra que estaria sempre fora de seu alcance. E ela faria sempre quanto pudesse para que Jackson seguisse sendo assim. Capítulo 21
Jackson olhou o telefone às escondidas. Tinha recebido sendos mensagens cifradas de Dare e Trace lhe confirmando que ninguém os tinha seguido de casa de Dare a seu apartamento. Percorreu o estacionamento com o olhar e viu sobre tudo carros conhecidos. Às seis da manhã havia pouca gente por ali. —A que hora tem que te reunir com o Arizona? —Não sei —Jackson pugnava com sua má consciência. Alani queria que confiasse nela. Não tinha nem idéia de que Dare, Trace e ele a estavam mantendo a propósito na ignorância. Não lhe parecia bem. Ela sabia que tinha chamado o Arizona, claro. Sabia que ia tentar ajudá-la. Mas não sabia que, inadvertidamente, ia desempenhar um papel para estender aquela armadilha. Voltou-se para olhá-la. —Voltará a chamar. —E logo irás reunir te com ela em um lugar secreto? Jackson não pôde responder. Não queria lhe mentir. —Sozinho? Ele agarrou sua mão. —Vamos dentro. Logo poderemos falar. Ela resistiu. —Isso sonha mau. —Vai tudo bem. Tenho que te explicar uma coisa, isso é tudo —não queria trair a Trace e Dare, mas sobre tudo não queria trair a confiança do Alani. Ela se tinha posto outro de seus elegantes vestidos, e ao Jackson o excitava seu traje. Sabia o aspecto que tinha baixo aquele vestidito do verão tão recatado. Sabia que ardia de desejo por ele. Aproximaram-se da porta de seu apartamento na planta baixa e escutou o tamborilo de seus saltos baixos sobre o pavimento, o gemido longínquo de uma sereia e o falatório dos pássaros nas árvores. Em algum lugar, lá fora, Trace e Dare tinham ocupado suas posições, Trace por diante dele, Dare por detrás. Alani estaria a salvo. —Tenha —lhe deu a chave da porta enquanto se girava para observar os arredores. Conhecia de cor aquele lugar, cada possível ponto de observação, cada esconDareijo. Grandes árvores davam sombra ao complexo de apartamentos, e ofereciam também um perfeito esconderijo. Jackson os esquadrinhou um por um. Alani sacudiu a cabeça e abriu a porta. Jackson lhe impediu de entrar e alargou o braço para acender a luz. Ali era onde tinham feito o amor pela primeira vez. Sentiu de repente um bombardeio de emoções e, a julgar pela cara que pôs, ela também. —Vamos —posando a mão sobre seus rins, fez-a entrar e voltou a fechar a porta—. Espera aqui. Jogou uma rápida olhada à casa para certificar-se de que estavam sozinhos. Sabia que Dare e Trace tinham penteado sua casa com um pente de puas muito finas, mas tinham deixado intactas seus pertences. Poucos teriam sido capazes de adivinhar que tinham acontecido por ali. Jackson, em troca, via mudanças sutis. Era uma lástima que não tivessem encontrado nada que lhes permitisse identificar à mulher que o tinha drogado. Quando voltou para sala de estar, encontrou-se ao Alani de pé junto à porta, com a cara tinta
e um olhar espectador e cálida. —Traz-te lembranças? Ela assentiu com um gesto e olhou para o corredor que levava a seu dormitório. Em lugar de aproximar-se dela, Jackson apoiou um ombro na parede. —Más lembranças? —Absolutamente —ela pareceu recompor-se e olhou a seu redor—. Faz graça seu apartamento, Jackson. Ele observou a decoração, que consistia principalmente em corpos femininos nus em distintos materiais. —Antes não lhe fazia tanta graça. —Antes estava ciumenta. Jackson fixou o olhar nela. —Ciumenta de uns quadros e umas estatuetas? —De seu interesse por outras mulheres. Ou de sua experiência. —Ah, sim? —esfregou-se a nuca e se encolheu de ombros. Não podia negar que durante toda sua vida tinha sido muito glutão com o sexo—. Lhe disse isso: graças ao sexo, é muito mais fácil enfrentar-se aos problemas. —Era um mecanismo de fuga, sei —deixou a bolsa sobre a mesa e se aproximou dele, passando as mãos por seu peito e ao redor de seu pescoço—. Agora bem, tenho que reconhecer que valoro sua experiência. —Sério? —enlaçou sua estreita cintura. —claro que sim —seu sorriso refletia confiança em si mesmo—. A fim de contas, fui a beneficiária de tudo o que aprendeste. —De tudo o que aprendi? Ainda não —a atraiu para si—. Mas estarei encantado de lhe ensinar isso quando... O telefone do Jackson emitiu um suave assobio. «Merda». —Reserva essa idéia —disse, mantendo-a perto, e tirou o móvel para olhar o código. Uma visita. A essas horas? Agarrou ao Alani do braço e a levou a cozinha. —Fique aqui. —Mas... Pegando a à parede, beijou-a com força. —Vem alguém. Não te mova. prometa-me isso. Viu em seus olhos que queria lhe fazer mil perguntas, mas assentiu com a cabeça. —De acordo. Que pormenorizada, que sensata, que assombrosa era Alani. Jackson titubeou. Precisava justificar-se com ela e quanto antes, sobre tudo agora que ela sabia que tinha recebido o código. —Falamos dentro de um minuto, de acordo? Ela assentiu de novo. —Tome cuidado. Jackson retornou à sala de estar e foi apagando as luzes. Estava saindo o sol e o intruso não necessitaria as luzes para ver, mas ao menos o apartamento estaria em penumbra. Acabava de chegar à porta quando ouviu um roce suave. Levantou as sobrancelhas. Alguém estava tentando forçar a fechadura! Assim não era uma visita, depois de tudo. Mas então... por que não lhe tinham avisado Dare e Trace? A fechadura emitiu um estalo. assim, quem queria entrar tinha certas habilidades. Jackson aguardou junto à porta, depravado, preparado, quase desejoso de que entrasse o intruso e, quando o pomo girou, abriu de repente a porta e atirou do «visitante».
Naturalmente, viu em seguida que era o Arizona. Ela, em troca, não viu que era ele. Jackson esquivou um murro, uma patada, uma cotovelada. Maldição. Não queria lhe fazer danifico. —Arizona! Ela se deteve bruscamente quando se dispunha a lançar um golpe a seu entrepierna. Jackson ficou olhando-a. Logo estalou: —É que te tornaste louca? —e se tivesse estado mais escuro, ou se não tivesse tão bons reflexos? E se não se deu conta de que era ela? Poderia havê-la golpeado, e a teria deixado inutilizada de um só golpe, possivelmente para sempre. Ela respirava agitadamente. Pouco a pouco a surpresa que refletia sua cara foi substituída por um sorriso deslumbrante. Jackson intuiu o que se propunha e pensou «Ai, Segundos deus antes de que se lançasse a seus braços chiando: —Jackson! Não se limitou a abraçá-lo. Não, Arizona não. Rodeou sua cintura com as pernas e seu pescoço com os braços e virtualmente lhe enterrou a cara entre as tetas enquanto o apertava com todas suas forças. Jackson a agarrou pelo traseiro para que não caísse. —Não sabia que estava aqui —disse enquanto lhe dava beijos. —Arizona... —consciente de que Alani os observava em silêncio, tentou apartá-la—. O que está fazendo aqui? Ela deixou que a depositasse no chão. Com os braços em jarras, jogou-se o cabelo para trás... e deixou de sorrir. —Não sabia que estava aqui, Jackson —logo acrescentou em tom de recriminação—: por que troca de carro continuamente? Parecia nervosa e um pouco assustada, quando a ela nada assustava. —Já sabe por que. Cruzou os braços, mal-humorada. —Pois assim é muito difícil saber quando está à espreita. —À espreita em meu próprio apartamento? —Acreditava que íamos ver nos no armazém! Jackson se inclinou para ela, igual de molesto. —Mas vieste aqui e agora todos meus planos se foram ao garete. OH, OH. Não tinha pensado dizer isso. Levantou os olhos e viu que Alani o olhava com surpresa, bom humor e, se não se equivocava, também com ternura. Arizona seguiu seu olhar e ficou boquiaberta. —Será uma brincadeira. Ele as apresentou rapidamente e logo lhe advertiu: —Seja amável, Arizona. Sério. —Já, entendido. Amável —saudou o Alani com uma inclinação de cabeça—. Assim está aqui em vez dali porque não queira Deus que sua noiva se aproxime do perigo. Jackson se inclinou e respondeu, furioso: —Faria o mesmo por ti se alguma vez me fizesse conta! Ela deu um coice. —Não tinha que estar aqui. —Então, por que vieste? —Queria estar sozinha. E assim, de repente, o aborrecimento do Jackson se dissipou. —Você não está sozinha —disse asperamente—. Já não. —Sim, sei. Entendo-o —logo acrescentou como se o pensasse melhor—: Obrigado.
Jackson entreabriu os olhos. —Mas o caso é... —depois de olhar ao Alani, soprou exasperada—: Acredito que um tipo me seguiu até aqui. Jackson ficou rígido. Impossível. Dare e Trace não tinham visto ninguém seguindo-a, ou já lhe teriam avisado. Nesse preciso instante seu móvel emitiu um assobio e Jackson soube qual era a mensagem. Olhou o telefone e lhe deu vontade de ficar a grunhir. Outro intruso se aproximava por um lado da urbanização. —Entra na cozinha com o Alani —se aproximou da porta. —Sim, já. Disso nada. Não. Não, não e não. girou-se lentamente para olhá-la. —o Arizona —disse em tom de advertência. Sua presença ali, no apartamento, não entrava dentro do plano. Tinha que falar com Dare e Trace, e quanto mais discutisse com ela menos controle teria sobre a situação. —Não queria te trazer problemas! —insistiu ela—. Mas pensava que estava em outra parte e que iria direito ao armazém. Pensei que me daria tempo a resolver esta confusão eu sozinha. Ainda posso fazê-lo... Jackson, que não queria perder mais tempo, agarrou-a pelos braços e ignorando seus protestos a levantou em volandas e a depositou na cozinha, junto ao Alani, que guardava silêncio com os olhos como pratos. —Fique aqui. —Jackson —protestou Alani—, por favor. Quando foi afastar se, Arizona o agarrou pela camiseta. —Espera, maldita seja! Não tinha tempo para aquilo. —Não passa nada, Arizona. te cale —e logo acrescentou olhando ao Alani—: Não a deixe sair. —Ja! —Arizona lançou ao Alani um olhar zombador. Alani perguntou: —Como esperas exatamente que se o límpida? Mulheres! Suspirou, pôs os olhos em branco e ordenou: —Fica na cozinha. As duas —assinalou ao Arizona—. O digo a sério. Ponha um pé fora daqui Y... —E o que? —replicou ela—. O que fará? me mandar ao internato? Alani pigarreou. —Eu não sei brigar, Arizona, assim que te agradeceria seriamente que ficasse aqui comigo. o Arizona se girou para olhá-la. —É uma brincadeira? —perguntou. —Não —se aproximou a ela—. Sinto muito mais segura se não estar sozinha. «Deus a benza». Jackson lhe sorriu, inclinou a cabeça em um gesto de aprovação e se aproximou da porta. Ouviu suas costas que o Arizona resmungava. Mas não o seguiu. Jackson apareceu pela porta do apartamento e, ao não ver ninguém, saiu. Preferia brigar longe das mulheres para que não se vissem arrastadas à briga. colocou-se a um lado de sua porta... e esteve a ponto de tropeçar com um homem. Os dois ficaram em guarda. Como estavam muito perto da porta, Jackson compreendeu que as mulheres podiam vê-los, mas não apartou o olhar do homem. Confiava em que Alani pudesse controlar Arizona. —Tranqüilo —disse o desconhecido estendendo as mãos, mas com evidente receio. Jackson sorriu... e o outro, que interpretou corretamente sua expressão, tirou uma pistola. —Não! —gritou Arizona.
E Alani disse: —Confia nele. Sim, a confiança era importante, e tinha que ser mútua. Jackson inclinou a cabeça olhando ao tipo. —Seriamente crie que vais ter oportunidade de usar isso? O outro, que media perto de dois metros, olhou a seu redor e levantou as sobrancelhas, surpreso. —Tem reforços? Jackson não se incomodou em responder. —Merda —colocando-se a um lado do Jackson, o desconhecido olhou a porta—. Ela está aí? Ela? Quem? Alani ou Arizona? —Que se foda —consciente de que Dare, Trace ou os dois se encarregariam daquele tipo antes de que pudesse disparar um só tiro, Jackson tentou ganhar tempo. —Arizona! —gritou o desconhecido—. Está bem? Jackson se surpreendeu. conheciam-se? Não se relaxou, mas reavaliou a situação. Arizona se aproximou da porta com passo enérgico, seguida pelo Alani. —Volta a entrar —ordenou Jackson. Fazendo caso omisso, Arizona os olhou com aborrecimento. —O que está fazendo aqui, Spence? —perguntou. —Spencer —particularizou ele. Incrível. Jackson não apartou o olhar do grandalhão, mas seu saudou confirmou que se conheciam. Não explicava, entretanto, por que ele ia armado nem por que estava ali. —Ainda lhe estão seguindo —e logo, com o olhar fixo no Jackson, Spencer perguntou—: O conhece? o Arizona assentiu. —Sim, e se está pensando em disparar eu que você me pensaria isso duas vezes. —por que? —Em primeiro lugar, porque se encheria o saco. Spencer vacilou, logo meneou a cabeça e baixou a arma. —Que boca que tem. Jackson lhe lançou uma patada ao peito. O grandalhão se cambaleou, mas não caiu ao chão, nem soltou a pistola. —Jackson! —exclamou o Arizona. Sem perder tempo, Jackson saltou sobre ele, preparado para pôr fim a aquela farsa, mas... não foi tão fácil como esperava. Spencer resistiu. E enquanto se golpeavam no chão, intercambiando murros, Alani começou a assustar-se. Arizona gritou: —Parem! Por amor de Deus, Spencer! Deixa que te tire as armas, quer? Spencer deixou de brigar de repente, o qual permitiu que Jackson lhe desse um bom murro na mandíbula. Spencer resmungou uma maldição, mas não resistiu quando Jackson lhe tirou a pistola, um porrete elétrico e uma navalha automática de aspecto perigoso. —Não vim a fazer machuco a ela. —Então, a que vieste? —Jackson aproximou a folha da navalha a seu pescoço—. O que quer? —A pescar um par de recompensas, uma em particular —sem fazer caso da navalha, cuspiu sangue a um lado e jogou a cabeça para trás—. Levo a placa no bolso de atrás. Olhando-o com receio, Jackson se sentou sobre suas coxas para imobilizá-lo. —Tira-a.
Spencer levantou um quadril e tirou a placa. Levantou-a para que Jackson a visse. Vá. Spencer Lark. Parecia autêntica. —Assim é um caça recompensas. E o que tem isso que ver comigo? —Nada —Spencer se apoiou em um cotovelo e olhou ao Arizona—. Mas ela leva toda uma réstia de criminosos lhe pisando os talões, como se fora o maldito flautista do Hamelin. Eu os quero —lançou ao Jackson um olhar zombador—. E estão aqui. —Não, ainda não. —Está seguro? —Muito seguro —Trace e Dare lhe teriam avisado—. Se o que está dizendo é que vão vir... —e esperava que fora assim, porque desse modo poderiam saldar contas com eles—, então... Nesse instante, Spencer o empurrou para trás e se levantou de um salto. um pouco impressionado, Jackson disse: —É rápido. Spencer moveu a mandíbula machucada. —Não o suficiente, pelo visto. Sabendo que estava desarmado, Jackson lhe deu a oportunidade de explicar-se. —nos conte, mas a versão resumida. —Levo meses lhe seguindo a pista a um traficante. —Eu também —disse Arizona com um gemido de surpresa, e os dois homens chiaram os dentes. —Conheci Arizona em um bar no que não devia estar. Os porcos aos que vou perseguindo também estavam ali essa noite. Graças a ela me escaparam. —Está-me jogando a culpa ? —perguntou o Arizona com aspereza—. Se não te tivesse metido no meio, os teria apanhado! Spencer acrescentou como se não a tivesse ouvido: —Não demorei para me dar conta de que se utiliza a si mesmo como ceva —olhou ao Arizona, muito sério—. Sabia que estavam seguindo-a, não ao contrário. Quando a olharam as duas com recriminação, Arizona se encolheu de ombros. —É o único modo que tenho de abandoná-los. Ao Jackson deu vontade de atirar-se dos cabelos. sentiu-se doente. Derrotado. Quanto tempo levava Arizona jogando a aquele jogo? E como demônios tinha sobrevivido tanto tempo? Spencer, que interpretou corretamente sua expressão, assentiu com um gesto. —Agora te dá conta de meu dilema. Quero a recompensa... —Mas sem que ela mora de passagem. —Mais ou menos. —Espera —sem apartar a vista do Spencer, Jackson tirou seu móvel e fez uma chamada. Respondeu Trace. —Deduzo que o conhece —disse. —Eu não, Arizona. Diz que é um caça recompensas. Pode que esteja seguindo à mesma gente que nos interessa. Sem perder tempo, Trace perguntou: —Como se chama? —Spencer Lark. —Me dê dez minutos. —Obrigado —Jackson pendurou. —Isto é uma operação? —perguntou Spencer lacónicamente. —Um pouco parecido. —Genial —olhou outra vez a seu redor antes de fixar os olhos no Jackson—. Assim ou ficamos aqui, nos chateando o um ao outro, ou entramos e planejamos algo. Jackson não se confiava nele nem por um segundo.
—Já tenho um plano. —Sim, já, pois espero que inclua encerrar ao Arizona em um armário, porque pelo visto só assim se consegue que não se meta em confusões. Arizona se lançou de repente para o grandalhão, pilhando despreparado ao Jackson. Em lugar de esquivá-la, Spencer pareceu estar preparado para seu ataque. Agarrou-a, fez-a girar-se e Arizona acabou sobre seu ombro. Jackson começou a reagir, mas ao ver com o que cuidado a sujeitava e, como o Arizona não se queixou, conteve-se. —Desculpa —disse Spencer ao Alani, e levou ao Arizona ao apartamento. Assombrada, Alani olhou ao Jackson aos olhos e esboçou um sorriso. —Minha mãe. —O que me fazia falta —resmungou ele, e a fez entrar no apartamento. Soou seu móvel e viu que era uma mensagem de Dare. Três letras: «QCP?». Meneou a cabeça. Que cojones estava passando? morria de vontades de averiguá-lo. Spencer se deteve na sala de estar e lançou ao Arizona ao sofá. Logo retrocedeu rapidamente para apartar-se dela. Alani entendeu por que. A jovem parecia fora de si. E não fazia falta ser um gênio para saber que tinha muito más pulgas e audácia suficiente para revolver-se. Jackson deteve o Alani junto à porta. Fechou e se apoiou na porta. —Pode-se saber por que não te ficaste na cozinha? Alani se voltou para ele. Jackson tinha muitas coisas que lhe explicar. —o Arizona não queria ficar. Ele soltou um grunhido. —Se começar a seguir ao Arizona, vais colocar te em muitas confusões. Alani sorriu ao notar o carinho que impregnava suas palavras e se inclinou para ele. Perplexo, Jackson disse: —Nunca te entenderei. —Sei —soltou um suspiro—. Jackson, por que não me há dito que tudo isto formava parte de um grande plano? Ele a surpreendeu dizendo: —Lhe deveria haver isso dito. Sinto muito. Da aparição de Arizona, Alani se sentia apanhada em um torvelinho de emoções. Jackson e Arizona se comportavam como se fossem irmãos, e isso a enternecia e punha de manifesto o grande coração que tinha Jackson. Tinha acolhido a uma garota maltratada e a tinha convertido em sua família. Como não ia quere-lo? o Arizona o queria, certamente. Alani voltou a olhá-la. Era, com muito, a mulher mais exótica e bela que tinha visto nunca. Largos cachos escuros penduravam por suas costas. Sua pele tersa, de cor caramelo, contrastava vivamente com seus olhos azuis claros, rodeados de largas e densas pestanas. Alta e magra, mas com as curvas de uma boneca Barbie, Arizona chamaria a atenção ali onde fora. Nesse momento, Spencer e ela estavam discutindo em voz baixa. Seus olhares eram tão ardentes que teriam bastado para prender fogo ao apartamento. Alani sacudiu a cabeça. —São muitas coisas que assimilar. —Terá que adaptar-se às circunstâncias, mas sim, isto não o deixava previsto. Alani pensou que talvez a culpa não fora do Jackson essa vez. —Foram Dare e Trace, verdade? Eles preferiam não me dizer nada.
—Preocupam-se com ti —posou uma mão sobre sua cara com ternura—. Mas já não importa. Arizona o jogou tudo a perder. Assim que Trace acabe de fazer averiguações sobre esse tal Spencer, terá que reavaliar a situação. Assim que aquele era o momento oportuno para que lhe contasse o que estava ocorrendo. Faria-o? —E qual é a situação? —perguntou. Spencer se separou de Arizona. —Também me interessa ouvi-lo. Como se calibrasse a reação do Spencer, Jackson disse: —Sabia que alguém ia a por nós, mas não sabia quem, e nem sequer sabia por onde começar. Então o Arizona me disse que o mesmo BMW prateado que tinha tentado nos jogar da estrada a estava seguindo. Spencer assentiu. —Com esse carro tão chamativo, foi muito fácil localizá-los. o Arizona se animou. —Então, foste utilizar me para atrai-los? —Não —Jackson franziu o cenho, zangado—. Eu nunca te poria em perigo. Ela se desinflou. Ao ver sua expressão, Alani disse: —Jackson te quer. Como ia correr esse risco? Spencer arqueou uma sobrancelha enquanto o Arizona e Jackson a olhavam. Olhando de novo ao Jackson, Alani disse: —Alguma vez lhe há dito que a quer? Arizona parecia tão incômoda que Alani se dispôs a jogar um rapapolvo ao Jackson se não respondia como era devido. —Nunca saiu o tema, mas claro que a quero —rodeou ao Alani com o braço—. Como a uma irmã pequena. Arizona pôs os olhos em branco, mas se ruborizou e reconheceu a contra gosto: —Eu também te quero. Alani notou que ela não particularizava. acreditava-se apaixonada pelo Jackson? Ou o amor lhe era uma coisa tão desconhecida que não sabia distinguir um tipo de outro? —Genial —Spencer se relaxou outra vez—. Então, se o drama se terminou, podemos voltar para a ação? Jackson assentiu, agarrou ao Alani da mão e a levou a sofá, junto ao Arizona. sentou-se a seu lado. —Não ia usar te como isca, mas, como disse que lhe estavam seguindo, tenho a oportunidade de apanhá-los. Alani compreendeu por fim. —O melhor modo de que todos estejamos a salvo é pôr fim à ameaça de uma vez por todas. —Vigiar-se continuamente as costas, esquivar sombras... Essa não é forma de viver. —me foi bem até agora —se queixou Arizona—. Mas dá igual. O que te parece se sair e, quando vierem a por mim, apanha-os? —Não. —Demônios, não —acrescentou Spencer. Como se tentasse persuadir ao Jackson, Arizona disse: —Tenho minha pistola —se levantou uma perna da calça do vaqueiro para ensinar uma pistolera de náilon negro que levava sujeita com um velcro à perna. Deu-lhe umas palmadas afetuosas—. Não me passará nada. Jackson ficou pálido e estendeu a mão. —Dêem-me isso.
—O que? Nem o sonhe —ao ver que Spencer grunhia, cravou o olhar nele—. E você te cale! Não pinta nada aqui. Tão rapidamente que ao Arizona não deu tempo a reagir, abriu o velcro, tirou-lhe a pistolera e a lançou ao Alani. Ela a sustentou com dois dedos, afastada de seu corpo. —Né... —embora Trace lhe tinha ensinado a disparar, seguia sem lhe gostar de dirigir uma pistola—. O que se supõe que tenho que fazer com isto? —Só sujeitá-la um minuto. —Ah —olhou a seu redor, mas não viu nenhum sítio seguro onde deixar a arma—. Está bem. Jackson voltou a agarrar ao Arizona dos ombros. —Tenho-o tudo sob controle. Confiando em ajudar a convencê-la, Alani disse: —Estou seguro de que sim. Lhe dão muito bem estas coisas. Os outros três a olharam. Esboçando um sorriso indeciso, levantou-se para guardar a pistola, com capa e tudo, em sua bolsa. O telefone do Jackson apitou e ele o tirou e se afastou para olhá-lo. Todos o observavam, ansiosos por ter notícias, mas Alani observava também ao Arizona. E Arizona estava ocupada observando ao Spencer com atitude entre indecisa e desafiante. Alani deduziu muitas coisas daquele olhar. Embora tinham quase a mesma idade, Jackson tinha razão: eram muito distintas. —Está limpo —disse Jackson ao Spencer. Spencer, que estava muito nervoso para sentar-se, ficou a dar voltas pela sala de estar. —Deve ter um bom alpendre se souber isso já. —Me as acerto bem. —Mas não é polícia. Jackson sorriu e, sem incomodar-se em responDare, aproximou-se para debater a situação com ele. Enquanto falavam, Alani tentou pensar em um modo de ajudar ao Arizona, que irradiava tensão e fúria em feitas ondas. A horrível carrega de tudo o que tinha sofrido a fazia adotar uma atitude hostil. Alani compreendia muito bem aquele mecanismo de defesa: se não se permitia querer a outros, não podiam decepcioná-la. Sua insolência, sua fanfarronice e sua hostilidade escondiam muita dor. Mas graças ao Jackson Alani tinha passado página por fim. Estando com o Jackson, não tinha tido nenhuma sozinho pesadelo. Ele enchia seu mundo tão completamente que lhe era impossível deixar-se levar pelo medo ou o pessimismo. Ele a tinha salvado. Agora talvez ela pudesse ajudá-lo a salvar ao Arizona. Capítulo 22
Esperaram todo o dia e não ocorreu nada. Jackson sabia que Dare e Trace estavam mais que acostumados às largas esperas, mas, quando o sol começou a ficar, aumentou sua inquietação. Mantinham-se em contato mediante mensagens cifradas, mas procuravam falar o menos possível por telefone. Alani tinha preparado comida para todos fazia horas, e seguia preenchendo de café sua taça e a do Spencer. Mas Arizona não tinha comido, nem falava. O que mais incomodava ao Jackson era seu nervosismo, que ia aumento com o passo das
horas. Tinha visto aquilo outras vezes, tinha sido testemunha de como a tensão contida podia desenquadrar a uma pessoa. Nunca era fácil esperar sabendo que o destino podia te jogar uma má passada. A maioria da gente preferia confrontar as coisas quanto antes. Para alguém como o Arizona, que sentia o impulso de enfrentar-se a seus fantasmas, a espera era uma espécie de inferno. Jackson teria querido ajudá-la, mas ela fugia a conversação com todos, incluída Alani. Mas isso não tinha detido ao Alani, que tinha seguido dirigindo-se a ela tão freqüentemente como se seus rechaços não lhe afetassem o mais mínimo. Jackson admirava seu otimismo, sua compaixão e sua tenacidade. Ela levantou a vista, surpreendeu-lhe olhando-a e lhe lançou um beijo. Era incrível. Não tinha mostrado nenhuma só sinal de ciúmes para Arizona. Não, entendia-o tudo perfeitamente. Incluídas as profundas feridas do Arizona. Jackson compreendeu então sem sombra de dúvida que a queria. E soube ainda com maior certeza que não queria estar sem ela. Necessitava que formasse parte de sua vida de mil maneiras distintas. Ela queria experimentar e explorar sua sexualidade, que acabava de descobrir, assim não a pressionaria. Mas assim que resolvessem aquele assunto, demonstraria-lhe quão bem podiam viver juntos. Arizona se aproximou da janela e olhou fora. —Quanto tempo vamos seguir assim? Jackson respondeu com calma: —Tudo o que seja necessário. Se ficar nervosa, por que não joga uma sesta? Sei que não dormiste muito. —Venha já. Sim, não se imaginava Arizona tornando-se a descansar. —Então ponha um filme ou lê uma revista ou algo assim. Já que está, ponha cômoda. Como se aquilo fora culpa do Spencer, lhe lançou um olhar áspero e se foi pelo corredor em busca de algo que ler. Passou outra hora antes de que por fim chegasse a chamada. Esta vez foi Dare, não Trace, e lhe deu a notícia sem perder um instante: —Temo-los. Jackson se levantou lentamente. —Algum detalhe? —Dois carros cheios. Sete homens. Com armas suficientes para um batalhão. Tinham ido preparados. —Algum problema? Dare não fez caso e disse: —Trace convenceu a um para que falasse. Sim, Jackson sabia quão convincente podia ser Trace. —O chefe diz que o objetivo principal foi você, mas também queriam a Arizona e ao Alani, para as utilizar contra ti. Levava um rifle de precisão. Se houvesse tornado a sair... —Ou se não tivessem estado montando guarda... —de um modo ou outro, queriam-no morto. Lástima que não pensasse agradá-los. —Os muito cretinos se instalaram a uns quarenta metros de nós. Trace deixou primeiro fora de combate aos atiradores e logo o cobri eu. Jackson sentia um subidón cada vez que um plano saía como estava previsto. —Divertiste-te? —Pois sim, a verdade. Jackson olhou ao Spencer. O caça recompensas permanecia alerta. Jackson perguntou a Dare: —Está todos vivos?
—Mais ou menos. —Perfeito —Jackson tampou o telefone—. Que tal é em seu ofício, Spencer? Spencer o olhou fixamente e logo que moveu a boca ao dizer: —Tenho motivos muito pessoais para que lhes fazer pagar o que se merecem. —Sim? Suponho que não me quererá contar isso. —Não. Jackson aceitou sua resposta e falando de novo com telefone disse: —Com um pouco de ajuda para nos assegurar de que ninguém escapa, poderíamos deixar que o caça recompensas nos os estorvo de cima —assim teriam as mãos livres para ultimar outros detalhes. Dare tinha um par de coisas que dizer a respeito... coisas que Jackson não podia explicar a outros. Olhou ao Alani aos olhos e compreendeu que Arizona ia lhe dar problemas. —Asseguraremo-nos de que chegue até o final. —Mais vale que tenha razão —disse Dare. Jackson, que estava seguro de saber julgar às pessoas, repôs: —Tenho-a —enquanto os outros escutavam, acrescentou—:-me demissão do Spencer e nos reunimos em sua casa. Arizona afundou os ombros. Pensava seriamente que ia abandona-la? Jackson olhou ao Alani para lhe pedir ajuda. Ela sorriu e se inclinou para falar em voz baixa com o Arizona. —Uma coisa mais —disse Dare. E agora o que? —Escuto-te. —Tobin chamou a Trace para lhe dar um dado interessante. Jackson ficou rígido. Dare sozinho demorou uns segundos em lhe pôr à corrente da chamada do Tobin, cujos detalhes apagaram qualquer dúvida que ainda pudesse ter. —Entendido —como já sabia onde estavam apostados Dare e Trace, acrescentou—: vou mandar lhes ao cazarrecompensas, assim tentem que fique algum que possa recolher, de acordo? Dare-se Rio e cortou a chamada. Consciente de que o resto não ia ser fácil, Jackson se aproximou do Alani. —Parece que está tudo arrumado. Tremendo de fúria, Arizona entrou na cozinha. —foi muito duro para ela —disse Alani como se queria defendê-la—. me Dê um minuto para falar com ela, quer? Fascinado, perguntou: —O que vais dizer lhe? —Que deveria confiar em ti, é obvio —ficou nas pontas dos pés e lhe deu um beijo rápido antes de ir-se falar com Arizona. Adulado por sua fé nele, Jackson ficou ali um momento. Logo se deu conta de que Spencer se ficou olhando o lugar pelo que tinha desaparecido Arizona como se não soubesse o que fazer. Parecia muito indeciso. —Te decida rápido —Jackson lhe devolveria sua pistola assim que estivessem preparados para despedir-se—. me Posso arrumar isso perfeitamente sem ti. Spencer disse pensativo: —Se não os levar vivos, não me pagam. Jackson teve a impressão de que o dinheiro não lhe importava grande coisa. —E isso se preocupa? Spencer apartou por fim sua atenção de Arizona. —Não, a verdade é que não —observou ao Jackson tranqüilamente—. E a ti? —Vivos ou mortos, quero que desapareçam.
Spencer olhou uma última vez ao Arizona e assentiu com a cabeça. —Muito bem. —Tenha Jackson cuidado cruzou os braços—. aconteceu um inferno pior de que pode imaginar. —Surpreenderia-te o que sou capaz de imaginar —algo em sua voz insinuava a existência de um segredo profundo e escuro. Com semblante inexpressivo, dirigiu-se à porta—. Lhes espero na entrada. Nesse momento Jackson ouviu estalar a discussão e foi investigar. Arizona insistia em partir e Alani insistia em que ficasse. —vais vir conosco —lhe disse Jackson, resolvendo a discussão. Arizona lhe lançou um olhar desafiante. —Tenho meu carro. —Mandarei a alguém a recolhê-lo. Seu corpo vibrava de tensão. —Tenho coisas que necessito no porta-malas. —Então as recolheremos antes —lhe disse Alani. Isso não a convenceu. —Necessito minha pistola. Jackson se negou. De momento. Mais adiante, certamente se sentiria mais tranqüilo sabendo que ia armada. Fez falta muchísima paciência por sua parte para conseguir que o Arizona saísse por fim ao estacionamento. Quando pôs-se a andar com decisão diante deles, Jackson a agarrou por braço e a sujeitou. Ao Alani disse em voz baixa: —Fique detrás de mim. Ela o olhou com surpresa, mas fez o que lhe pedia e insistiu ao Arizona a fazer o mesmo. E, OH, surpresa, Arizona acessou. Apesar de que estavam em meio de uma operação cuidadosamente planejada, Jackson não passou por cima esse detalhe. Arizona podia fingir que Alani não a tinha impressionado, mas em realidade já a tinha conquistado, igual à ele. Alani sortia esse efeito sobre tudo o mundo. Jackson deixou escapar um suspiro, mas não se relaxaria de tudo até que as tivesse às duas em sua casa, a salvo. Jogou uma olhada ao Spencer e compreendeu que ele sentia o mesmo. —Me devolva minha pistola. Estavam ao ar livre, mas se tinha feito de noite. A urbanização tinha um bom sistema de segurança e as luzes mantinham bem iluminada toda a zona, mas isso os convertia em um branco perfeito se alguém estava lhes espreitando das sombras. Era uma zona tranqüila, tão afastada do edifício que Jackson não podia sentir de tudo tranqüilo. Quando as mulheres subiram ao carro, Jackson devolveu ao Spencer sua semiautomática. —Não quer saber onde pode recolher sua recompensa? Spencer jogou uma olhada à pistola e viu que ainda estava carregada. Satisfeito, olhou a seu redor. —Algo não parte. Era muito intuitivo. Claro que isso Jackson já o tinha adivinhado. —Vêem conosco. Spencer entreabriu os olhos. —De acordo —disse. Quando Spencer se sentou no assento traseiro, a seu lado, Arizona se alarmou. —O que ocorre? O que está passando? —chamou Marc Tobin —nem Spencer nem Arizona pediram detalhes, mas Jackson os deu
de todos os modos. Explicou-lhes sucintamente a relação do Tobin com o Alani sem entrar em pormenores para não envergonhá-la-se acordou que uma das pessoas que o tiveram seqüestrado era uma mulher. Alani franziu o cenho no assento dianteiro, a seu lado. —Uma mulher? Poderia ser a que vi em seu apartamento? —A que me drogou —Jackson detestava as coincidências—. Lhe enfaixaram os olhos, assim não pôde vê-la, mas esteve presente enquanto o torturavam. Diz que se deu conta por sua risada de que era uma mulher. Arizona se deixou cair em seu assento, respirando agitadamente. —Sua risada —repetiu com um sussurro quase inaudível. Logo acrescentou com voz mais forte—: Que aspecto tinha? Jackson deixou que respondesse Alani. Algo preocupava ao Arizona. —Uns trinta e cinco anos, cabelo castanho... —E olhos marrons —tornando-se de novo para diante, Arizona lutou por respirar. Spencer alargou o braço para ela, mas já tinha aberto a porta. Saiu do carro bruscamente e caminhou uns passos. «Merda». —Já vou eu —disse Jackson ao Alani, abriu a porta e saiu. Não se aproximou de Arizona, mas tampouco fez falta. Ela sozinho caminhou uns passos. Depois deu meia volta e retornou com passo decidido. —Me diga o que acontece. lhe tremeram os lábios. deteve-se frente a ele, ergueu as costas e tirou o queixo. —Era de minha altura? Alani também tinha saído do carro, mas se tinha ficado junto à porta. Respondeu Arizona por cima do teto do carro. —Sinto muito, mas a verdade é que não me lembro. Me... chocou-me encontrar ao Jackson com uma mulher. Jackson não apartou o olhar de Arizona. —Sabe quem pode ser? Arizona fechou os olhos com força e Spencer saiu do carro. —Eu sim —se apoiou no carro, junto à porta—. Chandra Silverman. —Não — Arizona sacudiu a cabeça—. Está morta. Diga-lhe Jackson. Estão todos mortos! Em circunstâncias normais, Arizona jamais revelaria nenhum aspecto de seu trabalho e Jackson sabia. Mas as circunstâncias não eram normais e Arizona estava ao bordo da histeria. Ao ver que não respondia, agarrou-o pela camisa. —Está morta, verdade? —murmurou, quase implorante. A manaza do Jackson rodeou sua magra boneca e com o polegar acariciou sua pele geada. —Só sei de três homens, Arizona. Isso é tudo. Ela tentou largar-se. —E a puta que dirigia o albergue? —Além de ti, não vi nenhuma mulher esse dia —Jackson tinha um horrível pressentimento. —Mas... —Arizona esquadrinhou sua cara—. Estava ali. Sempre estava ali. —Certamente estaria divertindo-se —Spencer se passou uma mão pela cabeça—. É pior que nenhum homem que eu tenha conhecido. E sei de boa tinta que está vivinha e abanando o rabo, porque é a ela a que estive perseguindo, principalmente. Arizona se recompôs pouco a pouco. —Todo este tempo... —Acreditava que estava morta? —perguntou Spencer—. Então, a quem demônios estiveste seguindo? —A seus esbirros. A seus cúmplices. A qualquer que tenha tomado parte em seus jogos
repugnantes —rodeando-se com os braços, se Rio—. Deus, isto sim que é uma surpresa, né? Spencer a fez voltar-se para ele. —Não sei o que te fez, Arizona, mas pagará por isso. Arizona sprrio ainda mais forte. —Pensava que estava morta e não me bastava com isso —tentou apartar o de um empurrão, mas a agarrou com mais força. Alani rodeou o carro e se aproximou do Jackson. —Sinto-o muitíssimo. o Arizona a olhou. —Temos que nos largar daqui. Jackson colocou ao Alani atrás dele, muito sério. —Muito tarde. —Um BMW prateado apareceu de repente com as luzes apagadas, lhes cortando o passo. —Deus meu —Alani apertou sua bolsa contra seu peito—. É o carro. Jackson teve que fazer um esforço para não tentar tranqüilizá-la, mas tinha que concentrar-se no carro. —Lhes ponha as duas detrás de mim —ordenou. o Arizona soltou um bufido. —Spencer acaba de largar-se. Perfeito. —Sabe o que faz —ao menos, Jackson confiava em não haver-se equivocado—. Tenha um pouco de fé. —Eu posso... Alani a interrompeu dizendo: —vamos fazer exatamente o que nos diga Jackson. Quando o carro se deteve, Jackson retrocedeu, obrigando às mulheres a situar-se atrás do carro. —Alani? —O que? —perguntou ela, assustada. —Lhe estou pedindo isso amavelmente. —O que me está pedindo? —Que confie em mim. Ouviu-a respirar fundo. Por fim, lhe aconteceu a mão pelas costas. —Sim. Algum diria, diria aquilo diante de um pároco. —Obrigado, neném —sorrindo satisfeito, Jackson avançou, disposto a que começasse o espetáculo. Alani agarrou ao Arizona da mão e se agachou atrás do carro. O coração lhe pulsava tão depressa que pensou que ia deprimir se. —Respira —lhe sussurrou o Arizona—. Sou forte, mas não sei se poderei carregar contigo se tivermos que sair correndo. Em outras circunstâncias, Alani se teria posto-se a rir. —Não vou deprimir me, prometo-lhe isso. —Alegra-me sabê-lo. Deus, quanto se parecia com o Jackson. Em certos sentidos se pareciam tanto que era lógico que fossem como irmãos. Alani se alegrava muito de que se tivessem o um ao outro. Apareceu a cabeça para ver o que estava passando. Abriram-se as portas do BMW e começou a sair gente. Jackson ficou tranqüilamente junto à
porta do condutor. Três homens... e uma mulher. «Por favor», disse-se Alani, «por favor, por favor, que não lhe aconteça nada». A mulher sustentava despreocupadamente uma pistola, com o braço junto ao flanco. E sorria. —É —sussurrou Alani ao Arizona—. A que drogou ao Jackson. —Chandra —o Arizona a olhou com ódio feroz—. Se alguma pessoa merecer a morte, é ela. A mulher, Chandra, aproximou-se do Jackson com ar arrogante. —Sugiro-te que não tente nada. Depois dela, com os braços cruzados, esperavam seus valentões. —Não? —Jackson se separou do carro, como aborrecido, para afastar delas o perigo—. E isso por que? —Seus reforços estão fora de combate. Acreditavam que haviam resolvido todo —se encolheu de ombros—. Naturalmente, formava parte de meus planos. —Ah, sim? —afastou-se outro passo—. E que planos são esses? —Queria mantê-los distraídos. E lojistas uma armadilha a todos —seus olhos brilharam—. Queria me vingar, é obvio. —Já —Jackson acrescentou despreocupadamente—: Me surpreende que tenha vindo em pessoa. Até uma psicopata como você tem que dar-se conta de que é muito arriscado. Ou é que não podia permitir pagar a mais valentões? —Queria verte morrer! —estalou ela, mas se rehízo rapidamente. Logo soltou uma risada que pôs o pêlo de ponta ao Alani e acrescentou com um ronrono—: Não me reconhece, verdade? —claro que sim. É Chandra Silverman. Sua expressão se endureceu. —A droga era eficaz, mas não conseguiu que deixasse de me funcionar o cérebro. Tinha que saber que acabaria por descobri-lo tudo. —Tudo? Isso o duvido —Chandra se aproximou dele enquanto os homens os observavam —. Sempre me gostou da vingança, quanto mais complicada melhor. —Como de complicada? Seu sorriso sinistro se alargou. —Para começar, me pensava montar isso contigo. Sabia? —Maldita seja, esse é um castigo muito estranho e cruel. —Te cale! —se rehízo de novo. Respirou fundo, olhou-o de cima abaixo e inclinou o quadril —. Me teria montado isso contigo e logo te teria deixado imprestável. Para um homem como você, seria o melhor castigo. Jackson disse com calma: —Isso não teria passado nem estando drogado. —Ja! Não teria tido eleição. me acredite, teria sido pão comido se não tivesse aparecido essa brega —olhou além do Jackson e murmurou—: Mas teve que aparecer, verdade? Estragou meus planos e agora terá que pagar por isso. Alani sentiu que lhe encolhia a garganta. Sem dizer uma palavra, Arizona se inclinou para ela para reconfortá-la. Chandra seguiu sonriendo. —Lhe diga que saia de atrás do carro. —Nem o sonhe —respondeu Jackson sucintamente. —Não pode ir a nenhum sítio. Dá-te conta, verdade? —Dou-me conta de muitas coisas. E você deveria te dar conta de quão mau faz os planos. Chandra sacudiu a cabeça, rendo. —Sou excelente em meu ofício. —Sim? —Jackson se aproximou ligeiramente a ela—. Por isso te escapou Marc Tobin? Por isso deixei fora de combate a seus homens com tanta facilidade? Por isso se vieram abaixo seus planos aquele primeiro dia, em meu apartamento? —soprou—. Não me parece que te dê muito bem
planejar nada. Chandra deixou ver sua ira um momento, mas logo se limitou a rir. —Lhe diga que saia daí ou te pego um tiro. Jackson respondeu com calma: —por que não me diz primeiro do que vai tudo isto? por que eu? —Porque me roubou —se encolheu de ombros—. E, além disso, a uma de minhas garotas favoritas. A atitude do Jackson trocou por completo. —foste prescindir dela —disse em tom transbordante de ira. Agradada por sua reação, Chandra esboçou um sorriso desdenhoso. —Não, tentei matá-la. São duas coisas muito distintas —meneou a pistola, lhe apontando com ela—. Me roubou essa satisfação e eliminou a meus homens. —eliminei a muitos. E o que? De todos os modos são uns merdas. Os tipos que os observavam se deram por aludidos e jogaram mão de suas pistolas. Chandra levantou uma mão. —Ainda não —disse. Olhou além do Jackson e seus olhos se cruzaram um instante com os do Alani—. Está aí detrás com sua amiga, verdade? Segui-a até aqui, assim não te incomode em negá-lo. —Ela não te concerne. —Equivoca-te. Sou muito minuciosa. Você mesmo o disse, se não recordar mau. Destruo a quem faz zangar. E isso significa que me vou levar isso às dois e que você olhará enquanto as Mato —sem deixar de apontar ao Jackson, dirigiu-se a elas—. Vamos, garotas, por que não saem antes de que mande a meus homens que o façam pedaços? Intuindo o que ia fazer, Alani agarrou ao Arizona do braço. —Não. Indecisa, Arizona se mordiscou o lábio. —Tenho que sair. O coração do Alani se encheu de pânico. —Não. Chandra ouviu sua conversação e pôs-se a rir. —Saiam ou o mato. A decisão é sua. Alani sufocou um gemido e seguiu agarrando ao Arizona, mas só conseguiu que a arrastasse pela metade quando saiu de atrás do carro. —Sinto-o —disse Alani ao Jackson. —Não passa nada, boneca. Não tem importância —respondeu ele sem olhá-la, em atitude relaxada. —É muito leal, não? —disse Chandra ao Arizona. Arizona sorriu, desdenhosa. —Surpreende-me que seja capaz de pronunciar essa palavra. Normalmente, as mortas não falam. E você está morta, embora ainda não te tenha dado conta. Ai, Deus. Ai, Deus. Alani tentou pensar o que podia fazer. —Vejo que segue tão descarada como sempre —Chandra inclinou a cabeça—. Levanta os braços. Sem apartar o olhar da Chandra, Arizona obedeceu. Chandra estalou a língua, zombadora. —Vai desarmada? Está-te descuidando. E meus homens que estavam desejando te desarmar... —Não vão toca-la —afirmou Jackson. —Farão o que lhes agrade —replicou Chandra. —Não —Jackson se aproximou dela. —Alto! —ordenou ela, surpreendida.
—Eu acredito que não. Ela esticou a mandíbula e se girou ligeiramente para apontar ao Alani com a pistola. Alani se encolheu, assustada... até que Jackson ficou na linha de fogo. Isso a assustou mais ainda. Mas ele se deteve antes de que Chandra disparasse e agora estava muito mais perto dela. Alani cravou a vista na pistola. Odiava as armas, todas elas, mas à aquela apontando ao Jackson as odiou dez vezes mais. —vamos esclarecer coisas de uma vez por todas. por que me drogou? —disse ele. —Para começar, precisava registrar sua casa —Chandra se encolheu de ombros—. Imaginava que haveria em alguma parte uma pista que me indicasse onde podia encontrar o que era meu. Sim, sabia que lhe tinha levado isso você. Você não me viu essa noite na ponte. Não suspeitou que podia haver uma mulher implicada, verdade? Jackson se Rio. —conheci a muitas taradas. Não tem nada de especial. —Isso te você crie —se aproximou dele com a pistola agarrada com força. Jackson ficou olhando-a com insolência, sem mover-se nem mostrar o menor indício de temor. —A maioria da gente teria tentado recuperar o que era dele e se teria dado por satisfeita com isso. Eu não. Segui-te essa noite, e após te tive no ponto de olhe. Tenho planos detalhados para ti. —Estupendo, porque ódio deixar cabos soltos. Para ouvir sua resposta, Alani teve que tampá-la boca com o punho para permanecer calada. —O mesmo digo —disse Arizona—. E dado que isto é algo entre nós, por que não o deixa à margem? —começou a aproximar-se, pálida, fria e em certo modo mortífera. —Não te atreva —lhe disse Alani. Quando Chandra e os homens a olharam com surpresa, Alani se obrigou a erguer-se. Esteve a ponto de escapar uma risada quase histérica, mas conseguiu refreá-la. Confiando em infundir a seu tom de voz certo aprumo, disse ao Arizona: —Tem-no tudo sob controle, é que não o vê? Arizona duvidou... e retrocedeu. Jackson voltou a captar a atenção da Chandra lhe perguntando: —Como entrou, de todas formas? Ódeio pensar que posso abrir a porta a qualquer doida. Chandra passou os nódulos da mão com a que sustentava a pistola por seu corpo e por cima de sua braguilha. —Segue sem te lembrar? minha mãe, essa droga era muito boa. Acariciou-o... e Alani sentiu o impulso de apartá-la violentamente. Surpreendeu-lhe aquele impulso, mas também lhe fez recordar que levava a pistola de Arizona na bolsa. Atreveria-se? Seria capaz de tirá-la sem que ninguém o notasse? Contendo a respiração, deslizou a mão dentro da bolsa e em seguida localizou a pesada pistola. Os homens olhavam fixamente ao Jackson, quase como se o temessem. A ela, em troca, não a consideravam uma ameaça. Sentiu que lhe afrouxavam os joelhos, que lhe revolvia o estômago. Chandra seguiu falando: —Chamei e, quando me abriu, desfiz-me em lágrimas. Foi uma atuação merecedora de um prêmio, embora esteja mal que eu o diga. Arizona soltou um bufido: —Os homens são tão idiotas com essas coisas... Chandra não fez conta. —Disse-te que tinha tido um acidente, que me encontrava mau e que tinha perdido meu telefone. Esteve tão encantador, tão galante... —vou vomitar —disse Arizona. Sem trocar de expressão, Chandra disse a seus homens:
—Se voltar a falar, disparem. Arizona fez como se fechasse seus lábios e atirasse a chave. Ao Alani pareceu admirável, sobre tudo sabendo o que sentia pela Chandra. Era ela a única que se fixou em quão pálida estava? Abraçando sua bolsa, deslizou o dedo ao redor do gatilho. Manteve oculta a pistola, apontou para a Chandra e tragou saliva. Apontar a um alvo era uma coisa e disparar a um ser humano, por vil que fora, outra muito distinta. —foste trazer me algo de beber —continuou Chandra—, mas deixou uma Coca-cola ali, em cima da mesa, diante do televisor, assim pus ali a droga —se encolheu de ombros—. Foi muito mais fácil do que esperava, tendo em conta como te liberou de meus homens aquela noite na ponte. Tinha-te estado observando de uma distância prudencial, sabe? E embora te odiava por te haver metido em meus assuntos, admirava sua habilidade. Manuseou de novo seu entrepierna. Ao Alani, a idéia de lhe disparar lhe parecia cada vez menos repulsiva. —depois de beber um par de goles, começou a suspeitar algo estranho, mas... —Chandra sorriu— já era muito tarde. —Não me trago isso —Jackson sacudiu a cabeça—. Não teria bastado com dois goles para me deixar fora de combate. —Não, mas lhe aturdiram o suficiente para que pudesse te pôr uma injeção. —Ah. Isso sim me acredito —inclinou a cabeça para observá-la—. Assim tem um alpendre montado bastante grande. —Bastante, sim —seguiu acariciando-o e deixou escapar um som de prazer—. Tão grande como você. Arizona não pôde conter-se: —Meu deus, é patética! puta asquerosa, é que só pode te aproximar de um homem a ponto de pistola? de repente, tudo pareceu acontecer de uma vez. Chandra gritou: —Lhe disparem! Com a velocidade do raio, Jackson lançou a navalha automática e a cravou no ombro de um dos homens. Quase ao mesmo tempo agarrou a Chandra e, girando sua pistola para o outro homem, aproximou o dedo ao gatilho. Alani disparou. Ressonaram múltiplos disparos, tão estrondosos que a fizeram gritar e quase lhe pararam o coração. Um guichê do BMW se fez pedacinhos. Chandra se desabou em braços do Jackson. Apesar de que tinha a navalha cravada no ombro, o homem jogou mão de sua pistola, aterrorizado, mas não conseguiu agarrá-la. Gritou quando algo golpeou sua mão fazendo saltar o sangue e cair a pistola. O outro homem recebeu um balaço no ombro e outro na coxa. E assim, sem mais, acabou o enfrentamento. Os dois valentões e Chandra já não seriam um perigo para ninguém. Com o coração ainda lhe pulsando a toda pressa, Alani lutou por entender o que tinha passado. Jackson se mantinha tão erguido, tal forte e seguro de si mesmo como sempre. Arizona, embora aturdida e ofegante, parecia ilesa. O que tinha passado? Spencer apareceu de repente atrás do BMW, com a pistola na mão. Assim, tinha dado a volta e tinha estado detrás deles todo o tempo? Alani compreendeu por sua expressão decidida que era ele quem tinha disparado a Chandra. deteve-se para recolher as armas dos homens feridos e passou junto ao Jackson para aproximar-se de Arizona. Alani tremia tanto que apenas se sustentava em pé. Olhou a seu redor, aliviada e perplexa. Havia corpos no chão. Salpicaduras de sangue. Cristais quebrados. Estremeceu-se... e fixou o olhar no Jackson. Por sorte não estava ferido. Nem sequer parecia haver-se alterado. O tiroteio não lhe tinha impressionado o mais mínimo. Olhou fixamente ao Alani enquanto deixava a Chandra no chão.
Então apareceu também seu irmão, que se inclinou sobre a Chandra, buscou-lhe o pulso e a seguir fez uma chamada pelo móvel. Com grande rapidez, Jackson chegou junto a ela, levantou-a em braços e a levou a carro para sentá-la sobre o porta-malas. —Alani... —sua voz soou firme, controlada, insistente. Tocou com ternura um lado de sua cara—. Neném, está bem? Ela ficou olhando-o. Tinha o estômago o revolto. Empurrou a bolsa para ele. Agora tinha um enorme buraco negro. —Está louco? Um lento sorriso apagou a preocupação do rosto do Jackson. —Não, acredito que não. Não lhe viu a graça. —Provocou-a! O que queria? Que te pegasse um tiro? —Dare, Trace e Spencer nos estavam cobrindo. —Não podiam ter impedido que... —não pôde dizê-lo. Se Chandra tivesse apertado o gatilho, poderia ter sido Jackson quem nesse momento estivesse no chão, sangrando-se. Lhe encheram os olhos de lágrimas, mas piscou depressa e respirou fundo duas vezes—. foi uma loucura. —Não tinha o dedo no gatilho. Queria jogar conosco, mais que nada. —Isso não sabe —de repente compreendeu o que tinha tentado fazer—. Queria que se concentrasse em ti para que se esquecesse de Arizona e de mim. —Cre que me conhece muito bem, né? —seguiu tocando sua cara—. Bom, tem razão, mas não vou desculpar me por isso, assim não me peça que o faça. Além disso, era muito pouco provável que se atrevesse a disparar aqui, no estacionamento de uma urbanização. Ela, em troca, tinha disparado por culpa de seus nervos. Tinha derrubado os planos do Jackson? —Sim —disse Jackson, adivinhando o que estava pensando—. Deduzimos que o primeiro grupo, ao que reduziram Dare e Trace, não era mais que um chamariz. Foi muito fácil. E quando Chandra teve a desfarçatez de aparecer no BMW, compreendi que se sentia a salvo, como se o tivesse tudo previsto. Queria jogar, mas nos teria metido no carro e nos teria levado a um lugar mais reservado antes de executar a ninguém. Que mulher tão horrível. —Está... morta? —Ainda não, mas não sei se sobreviverá —lhe lançou um olhar severo—. Você não tem que preocupar-se por isso. Alani assentiu. —Ódio todo este secretismo. Jackson sorriu e lhe acariciou o cabelo. —Deus, nunca esquecimento um detalhe, mas te juro que me esqueceu que tinha essas pistola. Certamente porque nem em um milhão de anos teria esperado que a usasse. —Eu tinha esquecido que tinha a navalha do Spencer —reconheceu ela—. Sei que leva a tua na bota, mas pensava que não poderia alcançá-la, e com a pistola na capa e essa louca te apontando... —Sei —apoiou a cabeça do Alani em seu ombro, mas ela sentiu seu sorriso quando a beijou na têmpora. Deu-lhe um murro nas costelas. —Como é possível que te ria? —Está viva e ilesa. E Arizona também —a abraçou—. E os homens aos que apanhou Dare já lhe hão dito onde tem Chandra seu quartel geral. Ela se apartou para olhá-lo à cara.
—Então, podemos liberar a todo mundo? —Você não, neném. Mas sim, já mandamos a alguém. Encarregaremo-nos de todo o mundo, prometo-lhe isso —a beijou, mas o beijo acabou com uma risada. Alani o olhou com o cenho franzido. —Do que te ri? Sem deixar de sorrir, meneou a cabeça. —Surpreendi-me quando vi aparecer esse BMW, antes de que nos desse tempo a sair do estacionamento. Não me esperava isso. Estava improvisando, fazendo planos sobre a marcha, e então disparou a maldita pistola e ao princípio não tinha nem puta idéia do que estava passando. —Não parecia surpreso —o abraçou, reconfortada por seu corpo grande e quente—. É tão rápido... Trace se aproximou deles e perguntou ao Jackson: —Está bem? Alani se separou do Jackson. —Estou bem —e acrescentou—: De onde saíste você? —Estávamos vigiando —lhe atirou de uma mecha de cabelo—. Dare estava custodiando aos outros valentões, mas podia disparar se era necessário. Eu estava mais perto. Não teríamos permitido que te passasse nada. —Estava mais preocupada com o Jackson. Trace sorriu de soslaio e deu uma cotovelada ao Jackson. —Tampouco teria deixado que acontecesse nada a ele. Jackson assinalou com a cabeça ao Arizona. Spencer e ela estavam discutindo em voz baixa. Arizona parecia... alterada. Tinha os olhos avermelhados e a cara rígida. —Trace, me faça um favor e te assegure de que não se larga, de acordo? —Entendido. Mas deveríamos falar com o cazarrecompensas, não crie? Jackson assentiu. —A polícia chegará em seguida. Alani se sentou mais direita. —Vamos —consciente de que deviam ficar de acordo na história que foram contar, fez-lhe gestos de que se afastasse—. Faz o que tenha que fazer. Sacudindo a cabeça, Trace se afastou para o Arizona. Jackson tocou a cara do Alani e a olhou com ternura. —Temos muitas coisas das que falar. Ela também tinha muitas coisas que lhe dizer, mas primeiro precisava tranqüilizar-se. —Não mais histórias de espiões, por favor. Agora mesmo, não poDareia suportá-lo. Ele sorriu. —Não, não é nada disso. Começaram para ouvir-se sereias. Olhou sua boca, deu-lhe outro beijo rápido e se incorporou. —Me espere no carro, de acordo? —De acordo —se obrigou a ficar de pé e virtualmente se deixou cair no assento traseiro do carro. Uns segundos depois, Trace colocou também ao Arizona no carro e partiu. Jackson e Spencer estiveram falando sem apartar a vista do carro, sempre atentos e vigilantes. Era dois tipos realmente estupendos. Arizona estava zangada, mas Alani não podia ignorá-la sem mais. —Está bem? —Deveria ter sido eu. Meneando a cabeça, Alani disse: —A que te refere?
—Deveria ter sido eu quem disparasse a Chandra. O devia. Estava em meu direito —ficou olhando pelo guichê inexpresivamente—. Spencer me roubou minha vingança e nunca o perdoarei. Ao Alani rompeu o coração pensar no que o Arizona levava dentro de si, aquele ódio e aquela sede de vingança. —Algum dia —murmurou— possivelmente sinta de maneira distinta. o Arizona a surpreendeu ao dizer: —Pode ser —apoiou a frente no frio cristal—. Mas esta noite, não. Capítulo 23
Jackson estava recostado na grande tumbona que Alani acabava de escolher para ele. Arrellanado sobre seu regaço, ronronando com sua voz rouca, estava Grim, o gato. A tumbona ia jogo com seus outros móveis novos. Sua casa parecia por fim um verdadeiro lar. Não recordava haver-se sentido nunca tão cômodo. Naturalmente, isso se devia tanto ao feito de que Alani estivesse ainda com ele como aos móveis novos. Passado o perigo, Alani e ele passavam todos os dias juntos. Grim se tinha adaptado à perfeição, e Arizona... bem, estava-se acostumando a sua nova vida. Tinham passado três semanas desde a Chandra Silverman tinha morrido no hospital. Spencer tinha entregue à polícia ao resto de seus valentões, que tinham sido encarcerados com uma lista de cargos de um quilômetro de comprimento. Nem o melhor advogado do mundo lhes teria tirado dali, e mais ainda tendo em conta que Trace estava atirando dos fios para assegurar-se de que nenhum conseguia chegar a um acordo com a fiscalía. Depois de desmantelar a banda, tinham liberado a doze mulheres de distintas idades e nacionalidades. E por fim Arizona e Alani estavam a salvo. A vida era maravilhosa. Trace admirou um prato decorativo que havia sobre uma mesita. Também o tinha eleito Alani. —Então, Arizona se está adaptando bem a seu novo trabalho? Deus, esperava que sim. —Isso parece —Jackson lhe tinha encomendado um montão de tarefas que ela tinha aceito com entusiasmo. Tinha ido visitar lhes um par de vezes, mas tinha preferido viver sozinha. Para trabalhar utilizava o ordenador: estava investigando os antecedentes de traficantes a pequena escala, de nível local. Jackson não queria que se aproximasse das organizações de maior alcance. Para isso estavam Dare e Trace e ele. —A casa ficou genial —comentou Dare. —Sim. Alani fez um trabalho magnífico, verdade? —podia dizer que estavam vivendo juntos, de não ser porque Alani conservava sua casa e só tinha levado a suas as coisas que necessitava diariamente. Mas Jackson não se dava por vencido. Sem pressioná-la muito, tinham tido um bate-papo muito sério. A respeito da exclusividade. Havia-lhe dito quão apreciada era para ele e lhe tinha deixado claro que não queria que deixassem de estar juntos. Quando por fim a conquistasse de tudo, diria-lhe que queria que ficasse com ele para sempre. Diria-lhe quanto lhe importava. Diria-lhe... —Quando vais casar te com ela? Vá. Pergunta-a de Trace lhe surpreendeu. Estavam elogiando sua casa e de repente, zas!, soltavam aquela bomba. Mas o certo era que ele também o tinha pensado freqüentemente. Todos os dias, de fato.
Era o que queria, assim ia dizer que se casariam assim que lhe dissesse que sim, mas então notou que Dare e Trace o olhavam com idêntica expressão de desafio. E não pensava deixar-se levar a força ao altar. De uma maneira ou outra se casaria com o Alani, mas só porque queria passar o resto de sua vida com ela. Por nenhuma outra razão. E menos ainda porque Dare e Trace insistissem. Alani queria ter tempo para jogar, para experimentar, e ele sabia que estava desfrutando daquilo. Merecia-se que se mostrasse paciente com ela, por mais que lhe custasse. —E bem? —Dare o olhou fixamente—. Diga-nos o de uma vez. Seriamente esperavam que lhes desse explicações? Ora! Acaso parecia tolo? —Não é seu assunto. —Meu sim —repôs Trace. —Temo-me que não —Jackson voltou a relaxar-se na tumbona enquanto Grim lhe arranhava a camiseta—. E você sabe que a sua irmã não faria nenhuma graça que colocasse o narizes nisto. —Não te entendo, Jackson —Dare meneou a cabeça—. Acreditava que te importava. —Quero-a. Olharam-no com surpresa, e seguiram olhando-o um momento. —O que? —Quê-la? —perguntou Dare com um lento sorriso. —Maldita seja, nenhum dos dois a vê como a uma mulher, verdade? Não ponham essa cara de surpresa. Não sou idiota. Alani é preciosa, inteligente, sexy Y... Claro que a quero —que homem não a quereria? —Vá, aleluia —disse Trace. antes de que jogassem os sinos ao vôo, Jackson disse: —E para que saibam, vou casar me com ela... mas só se ela também me quiser. Dare abriu a boca, fechou-a e soltou um sopro. Trace pôs os olhos em branco. —Não está seguro? Isso é o que te impede de te decidir? —Eu não hei dito isso —mas sim, com ela se sentia inseguro. —Então, já lhe há dito que a quer? Não exatamente, mas ela tinha que sabê-lo, verdade? Tinha-lhe demonstrado de todas as formas possível o muito que lhe importava. Quão único não tinha feito era dizer-lhe. Farto da conversação, disse: —Não quero pressioná-la, isso é tudo. Disse-me desde o começo como queria que fossem as coisas, assim estou esperando o momento adequado e lhe deixando o espaço que necessita. Quando estiver lista para sentar a cabeça... —Estou preparada. Giraram a cabeça e viram o Alani de pé na porta. Levava outro daqueles preciosos vestidos do verão que faziam que Jackson queria equilibrar-se sobre ela. Claro que sempre lhe dava vontade de equilibrar-se sobre ela, levasse o que levasse. E ela queria, normalmente. Essa era uma das vantagens de tê-la perto vinte e quatro horas ao dia. Pilhado por surpresa, sem saber o que tinha ouvido ou o que pensava a respeito, Jackson disse com cautela: —Olá. Ela se umedeceu os lábios. Estava nervosa? Seu irmão também a estava pressionando? Jackson se inclinou para deixar ao Grim no chão. —Pensava que estava fora, com as garotas e Chris. Seus olhos pareceram enormes quando o olhou fixamente. Grim se aproximou dela e rodeou
suas pernas. —Sim, mas íamos começar com o andaime Y... vim a lhes buscar —recolheu distraídamente ao gato e começou a acariciá-lo. Os grandes olhos de cor esmeralda do animal se fecharam, cheios de felicidade. Jackson enrugou o cenho. —Ouviste-nos. Ela assentiu e, sem olhá-lo, com a cara pega ao pescoço do Grim, repetiu: —Estou preparada. Temendo havê-la entendido mau, Jackson perguntou: —Para o andaime? Ela negou com a cabeça. —Para sentar a cabeça. Jackson se levantou lentamente. Queria que o dissesse com claridade. —Comigo? Aqui? Ela esboçou um sorriso. —Eu também te quero, sabe? —olhou-o aos olhos—. E estou preparada. Maldição, ouvir o dizer fez que lhe ardesse o sangue e que lhe acelerasse o pulso. Cego a tudo e a todos, avançou para ela. Alani levantou uma mão. lhe deu um tombo o coração. E agora o que? Depois de respirar fundo, ela sussurrou: —Pode que esteja grávida. Jackson se tropeçou com seus próprios pés. —O que? —isso não o esperava. Nem sequer o tinha pensado, porque tinha tido muito cuidado. Ouviu um golpe surdo e quando olhou atrás viu Trace ajeitado na tumbona. Dare estava de pé a seu lado, com um enorme sorriso na cara. Jackson fez caso omisso deles e se aproximou do Alani. Notava o coração tão inchado que lhe doía o peito. Quase incapaz de respirar, sussurrou: —Está grávida? —Acredito que sim —e acrescentou atropeladamente—: Essa primeira noite não... —olhou a seu irmão e a Dare. Jackson sentiu que a impaciência fervia em suas veias. Precisava estar a sós com ela. Necessitava que o contasse tudo. Grávida... Um bebê. Um filho dele e do Alani... Tremeram-lhe os joelhos. Deu-se a volta apressadamente: —Fora —ordenou. Dare lhe fez uma saudação militar e levantou Trace da tumbona atirando dele. Sem deixar de sorrir, saíram da habitação. Jackson deixou outra vez ao Grim no chão e tomou a cara do Alani entre suas mãos trementes. Esquadrinhou seus olhos. —Não tomei precauções? —Não —seu sorriso vacilou, cheia de incerteza—. O sinto, mas a mim nem sequer me ocorreu... até que Dare me falou dessa possibilidade. Ao Jackson dava voltas a cabeça. —Dare lhe perguntou isso? —Aquele primeiro dia, quando se passaram por casa. lhe tinham drogado, Dare me disse que era possível que nem sequer tivesse pensado nisso e eu não recordava se alguma vez havia... Pouco a pouco, Jackson foi recordando aquele dia. Tinha estado frenético por falar com ela, desconcertado por não poDare recordar nada e ansioso por ficar de novo a sós com o Alani para
descobrir o que tinha passado entre eles. —Dare te levou a cozinha. Ela assentiu. —Me atrasou o período. Mas não estarei segura até que me faça a prova. E como aconteceram tantas coisas, estive aqui e nos divertimos tanto... —lhe estiveste perguntando isso todo este tempo sem me dizer nada? —sentiu-se... traído em certo modo. Mas também eufórico. Alani o queria. Podia estar grávida. Yuju! Ela pareceu ofendida. —Bom, me perdoe, mas nos perseguia uma banda de assassinos e não deixávamos de ir daqui para lá Y... E após tinham acontecido três semanas, mas certamente não estava segura de como ia reagir ele. Para que soubesse o que sentia, Jackson a estreitou entre seus braços e lhe deu um comprido beijo. Quando suas bocas se separaram, Alani se apoiou contra ele. —Sinto-o muito, Jackson. Não estava segura do que foste sentir Y... —Quero-te —lhe levantou o queixo—. Não sabia que me faltava algo até que te conheci. Não sabia que podia estar tão... tão satisfeito. —Sexualmente? —sussurrou ela, um pouco escandalizada. Ele teve que sorrir. —Claro, isso também. Mas refiro a satisfeito com a vida. Com cada dia —a levantou em volandas e a fez girar—. meu Deus, não acreditava que pudesse ser tão feliz. Ela também sorriu. —E se estiver grávida? —Oxalá o esteja —ao dizê-lo, compreendeu que era certo. Alani, um bebê... Sua própria família. Esfregou o nariz contra seu pescoço, mas quando Grim se queixou se agachou para tomá-lo em braços também a ele—. E se não o estiver, não se preocupe: estou disposto a seguir tentando-o. O que você queira, carinho. Rendo, ela o abraçou. —Sabe o que gosta de agora mesmo? —Espero que sim. Lhe cravou um dedo nas costelas. —Quero que vamos estar com nossa família e nossos amigos. Sim, graças ao Alani, eram como uma família para ele. Antes nunca se preocupou muito por isso. Mas agora... Quase gostava que Dare e Trace sempre estivessem entremetendo-se. —Posso lhe dizer a seu irmão que vamos casar nos, verdade? —enrugou o cenho—. Bom, se quer te casar comigo, claro. —Dado que me prometeste fazer o que quiser, insisto nisso. Grim os olhou aos dois, soltou um miado e começou a ronronar. Jackson a abraçou outra vez. —Pergunto-me se conseguiremos convencer ao Arizona para que venha à bodas —quisesse ela admiti-lo ou não, agora também formava parte da família. Alani não teria permitido que fora de outro modo. —Se convidarmos ao Spencer —disse—, arrumado a que virá sem pigarrear. Arizona acabou seu relatório, usando o programa informático de alta segurança ao que Jackson lhe tinha dado acesso. Com o documento impresso diante dela, recostou-se na cadeira e jogou uma olhada aos detalhes.
As palavras quase se rabiscavam diante de seus olhos. Uma história muito triste. Mas assim eram as coisas. Tinha terminado todo o trabalho que lhe tinha encomendado Jackson, e algo mais. foram cair muitos daqueles porcos. E muitas mulheres correriam menos perigo graças a isso. Não tinha por que sentir-se culpado por haver-se dedicado também a investigar outro assunto, sobre tudo tendo em conta que desse modo tinha averiguado muitas coisas a respeito do Spencer Lark. Ainda a enfurecia que lhe tivesse roubado sua vingança. esforçou-se tanto por encontrar a todos os cúmplices da Chandra, a todos aqueles que tinham tomado parte no seqüestro que tinha dado um tombo a sua vida... Não, não tinha sabido que Chandra vivia ainda, mas assim que o tinha averiguado tinha estado em seu direito, tinha sido seu dever eliminá-la. Naturalmente, com o que acabava de descobrir, sabia que Spencer também tinha motivos para vingar-se dela. Tinham umas quantas coisas em comum. Muito em breve descobriria se isso era o suficiente para formar uma aliança. Precisava de alguém como ele. Alguém com suas habilidades. E Spencer lhe devia. De uma forma ou de outra, que iria pagar essa dívida. FIM