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Trajetória

Preâmbulo Trajetória

As crises ambientais estimuladas pelos princípios capitalistas de consumo têm nos mostrado a urgência de transformar a maneira de habitar o planeta. A construção civil está entre as indústrias que mais poluem a Terra, e na busca por caminhos menos impactantes de produzir arquitetura, encontrei possibilidades dentro da Bioconstrução.

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O encontro não se deu no espaço universitário, mas fora dele, inicialmente em voluntariados e, depois, profissionalmente. Através da Permacultura e Bioconstrução, me aproximei das técnicas construtivas com terra e outros materiais naturais. Ao longo dessa trajetória, percebi a importância das atividades práticas para minha formação e para o aprofundamento no estudo desses materiais e, quando digo prática, me refiro ao fazer construtivo, a meter mão na massa, literalmente.

Muitas das técnicas de bioconstrução fazem parte de tradições populares transmitidas de geração em geração. Porém, infelizmente, pela força da industrialização e imposição do capitalismo, muitos desses saberes vêm perdendo espaço no cenário construtivo do Brasil e do mundo.

Para quem não tem a possibilidade de aprender com seus mais velhos, os cursos, vivências e voluntariados são caminhos para o aprendizado de práticas pautadas na terra. No entanto, esses meios ainda são restritos e não abrangem amplamente a parcela da população que trabalha na construção civil em virtude de diversos fatores.

O primeiro fator, é o custo para participar das atividades, o que impossibilita o acesso de parte da população. No caso do voluntariado, a exigência de disponibilidade para trabalhar turnos integrais sem remuneração torna a alternativa inviável para a maioria dos/as brasileiros/as.

Os cursos, vivências e voluntariados não atingem amplamente os/as trabalhadores/as da construção civil. Geralmente quem procura essas experiências são estudantes, profissionais de diversas áreas que têm curiosidade, ou aqueles que querem construir a própria casa.

Na página anterior, parede de taipa sendo preenchida.

Parede de taipa entre paredes de hiperadobe e de tijolos ecológicos (BTC). São elas técnicas construtivas com terra.

Hoje, infelizmente, há uma grande lacuna de mão de obra que tenha conhecimentos construtivos para trabalhar com terra e recursos naturais. Apesar de muitas dessas técnicas serem populares e já terem constituído a principal forma de construir no país, hoje encaramos uma realidade de estigmas e relutâncias no que diz respeito à terra como material de construção. Por conta dessa lacuna, fui percebendo que eu precisava me envolver no canteiro de obras, observar as etapas, os materiais utilizados, os fluxos, as demandas, as disponibilidades.

E assim, me sentir segura para, mesmo num contexto de falta de mão de obra disponível, poder indicar estas técnicas e quem sabe, eventualmente, acompanhar os processos. Ainda assim, essa busca pessoal não supre uma demanda: o resgate dessas formas de construir precisa ser compartilhado, se não, algo que é originalmente popular - construir com os materiais naturais disponíveis - acaba se tornando nicho, “moda”, coisa de elite.

Durante a trajetória, fui percebendo a riqueza que é se envolver com o processo construtivo e o quanto é prazeroso aprender fazendo. Sem encontrar muitas referências nesse sentido no contexto acadêmico, por algumas vezes pensei em deixar o curso. Com o tempo, fui entendendo que existem sim caminhos possíveis de seguir na faculdade de arquitetura: há grupos de pesquisa, projetos de extensão e seminários que buscam envolver a prática e todas as discussões que podemos promover com ela. Porém, essas iniciativas ainda fazem parte de um contexto optativo na graduação.

Hoje eu acredito que a universidade pode ser uma ponte de difusão e pesquisa do conhecimento prático da construção com terra e outros materiais naturais. A partir da pesquisa, é possível criar métodos, desmistificar estigmas e ressignificar o que por muitos foi esquecido.

O envolvimento com as práticas construtivas foram fundamentais para minha formação em Arquitetura.

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