Quando Só Você Acredita

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Título Quando só você acredita Autor Lula Direitos Reservados © Lula, 2010 Edição Executiva Lula Preparação do Original e Revisão José Manuel Martins Direcção de Arte e Design Pedro Martins Fotografia Patricia Cohen Impressão e Acabamento Publidisa, Publicaciones Digitales, SA 1ª Edição, Janeiro de 2011 ISBN 978-989-8215-22-2 Depósito Legal Produzido por

Sede Rua Quinta da Flamância, n.º 3, 3º Dt.º Casal do Marco 2840-030 Paio Pires, Portugal Tlm 914 847 055 Email livros@letrasdouro.com Web www.letrasdouro.com Blog letrasdouro.blogspot.com Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com a indicação da fonte.


Prefácio TODA A VIDA fui Lula. Quase já nem respondo pelo meu nome próprio: Luís Pinto. Parece que nem sou eu. Mas apenas essa mesma alcunha ficou desde muito jovem. O meu caminho e a minha experiência de vida fizeram de mim um novo Lula. Um homem com sentimentos, com valores, chefe de família, amigo do seu amigo, uma pessoa de quem é fácil gostar ‒ assim dizem ‒ e que apenas procura ser feliz aplaudindo a felicidade dos outros. Saibam, porém, que nem sempre fui assim. O meu passado condena-me. Não me orgulha. Mas o meu presente e futuro me absolverão («Ai de mim, que vou perecendo porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!» Isaías 6:5). Renasci depois de aceitar Cristo no meu coração, para então, sim, agora, aproveitar a bênção que é a vida e desfrutar da oportunidade de partilhar com todos vocês a mudança do meu rumo. Esta é a história da minha ainda jovem mas intensa vida. Curto relato de fortes vivências, pequeno livro que dedico a Cristo Jesus, que me salvou, à igreja que 7


me acompanhou e à minha mulher, Sónia, que também foi o meu apoio nesta minha caminhada graças ao seu amor, compreensão, companheirismo e aos filhos abençoados que me deu. Esta é a história da minha vida.

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O terror de Tinguá FOI NO BRASIL real, de pobreza, luta e fome, que nasci. Há 34 anos. Num bairro com cem mil habitantes, o bairro de Tinguá, (Reserva Florestal) a três horas de carro do Rio de Janeiro, cidade que a todos faz sonhar. Só que a minha vida nem sempre foi um sonho, vi coisas que não gostaria nem de relatar, mas como não há mais nenhum ressentimento de crueldade e falta de perdão aqui vos deixo o meu testemunho de vida («Posso todas as coisas naquele que me fortalece» (Filipenses 4:13). Nesta Reserva ainda lá existem crocodilos, cobras, paisagens inóspitas pouco condizentes com o progresso ou com o primeiro Mundo. Um bairro de tal maneira parado no tempo que só tem uma entrada e uma saída feita através de uma ponte. Para terem uma ideia, uma vez um Ônibus, ou melhor, um autocarro avariou em cima da ponte em Tinguá e enquanto não o rebocassem dali ninguém poderia passar, ou seja, ninguém entrava nem ninguém saía. Misericórdia do meu Tinguá! Ainda hoje lá vivem os meus pais, irmãos, primos e toda a parentela. Só eu procurei uma vida diferente, só eu procurei Jesus longe do sítio onde me fiz homem, muito à pressa. 9


Desde cedo sempre soube o que era ter de trabalhar e sustentar a família. Sempre fui rapazote indisciplinado, violento, em quem poucos acreditavam, em quem ninguém apostava que pudesse vir a ser alguém na vida nem mesmo pessoas da minha própria família, o que, na altura, não foi fácil. Só minha mãe, Aldaleia, seu nome, nunca perdeu a esperança de ver no seu Lula um homem de sucesso, um homem que um dia poderia trazer alegria para ela e toda a minha família e amigos. Ainda tenho bem presente na memória as muitas vezes em que a encontrei, ela, evangélica, de joelhos, a orar por mim; as suas orações eram dirigidas para que Deus ajudasse seu filho a ser alguém na vida. Somente minha mãe tinha fé em Deus que eu poderia ser alguma coisa de bom neste mundo; só ela acreditava, mais ninguém. («Ponha a sua boca no pó; talvez assim haja esperança» Lamentações 3:29). Meu pai, José Carlos, gostava mais do álcool, sempre foi pinguço, como dizemos no Brasil, mas a palavra certa e dolorosa é alcoólatra; mas o pior é que, além disso, por várias vezes agrediu a minha mãe, agressões físicas, psicológicas e outras. Não foi fácil crescer num ambiente de violência familiar; era mais um lar totalmente destruído pelo álcool. Era, sim, o efeito da bebida no seu carácter e atitudes. Maldito álcool que o transformou num mau pai, num mau amigo, sobretudo num mau marido para minha mãe, que sempre levou muita pancada. A revolta viveu em mim porque, desde cedo, presenciei tantas agressões dentro do meu próprio 10


Praรงa em Tinguรก.

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lar. São tempos de difícil lembrança. («O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância» João 10:10). A minha infância foi sofrida, dolorosa, sem futuro, e principalmente sem uma família para me apoiar. Tinha tudo para ter uma família alegre. Somos quatro irmãos: Alexandre, com vinte e dois anos, a Patrícia tem vinte e oito, eu, e, finalmente, a minha irmã Jocileia, a mais velha, com trinta e sete anos. Todos estão lá ainda, do outro lado do Globo, nas emaranhadas terras de Tinguá. Só eu, a ovelha negra, comecei a trabalhar aos doze anos e a minha profissão era matar frangos; trabalhava então todos os dias num aviário com o meu primo Eduardo e o objectivo era apenas levar dinheiro para casa, para não deixar faltar o arroz com feijão, que ainda hoje tanto adoro, na mesa dos meus irmãos. Valorizo esses momentos porque foram muito importantes para o meu desenvolvimento e crescimento como homem A consequência deste prematuro trabalho foi o abandono da escola; por isso, só tenho a instrução primária e os preciosos ensinamentos da vida. Ganhava cinco reais por semana. Qualquer coisa como dois euros e cinquenta cêntimos, o que não dava nem para ir ao cinema com os amigos. Matar frangos, além de ser um trabalho, era um escape para a minha raiva interior nos momentos dentro do meu próprio lar. Todos os dias acordava às seis horas da manhã, trabalhava até às treze 12


horas e passava o resto do dia na rua, a jogar à bola e a fazer coisas não muito boas. Era chefe de um gang. Gostava de brigas, de violência, de maltratar os outros só pelo prazer de vê-los sofrer, não tinha qualquer misericórdia de ninguém. Tal como eu sofria em casa. Era um miúdo perigoso, nervoso, não levava desaforo para casa, gostava mesmo de uma confusão. Hoje sei que era tão-só... um estúpido, sem amor-próprio. Misericórdia! Era conhecido como «Lula, o matador de frangos». Só não via que cada maldade minha também me matava um pouco; momentos cruéis me afastavam de pessoas que me amavam.

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