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mesmo homem
elite. Ou, talvez, o seu depoimento anterior não tivesse passado de mais uma estratégia acionada pela menor para não parecer, aos olhos da justiça, que estivesse interessada nos bens do acusado, mostrando-se reticente ao casamento inicialmente para logo depois mudar de posição. Dificilmente, poderemos saber a resposta a essa questão, ou talvez a fusão das duas possibilidades seja perfeitamente coerente. O certo é que, nesse jogo, os ideais e valores do amor passion, do estabelecimento dos custos e benefícios da relação, da vivência de comportamentos e imagens socialmente legitimadas e daquelas condenadas, estão presentes na riqueza da fala de Maria Constância, influenciando-a na forma de conduzir sua vida, operando com esses múltiplos valores e imagens ao ter que vivenciar seu drama de amor.
4.4 Da negação do casamento pela falta de dinheiro apesar do amor pelo mesmo homem...
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Diferente foi a atitude de Joanna Paula, de 15 anos, que desde o princípio deixou claro que, embora gostasse de Juventino, de 13 anos, e tivesse por ele sido deflorada, não se casaria com o mesmo por ter sido seu criado, no que fora apoiada por sua mãe. A julgar pelo local afastado e distante do centro das áreas nobres da cidade de Belém, onde viviam, vemos que, embora tivesse um criado, a família de Joana não tinha muitos recursos. Diz Joana que “Não obstante ser Juventino o autor de seu defloramento não quer de forma alguma casar com elle por que não quer para marido um homem que já foi seu criado”170 .
Joana e Juventino tiveram várias vezes cópula carnal na rede do quarto dela, até o momento em que brigaram e pararam de se relacionar. A história veio à tona quando o companheiro da mãe da menor resolveu interpelar Juventino sobre sua relação com a mesma, obtendo a confirmação do defloramento.
A despeito da possibilidade de gostar ou não do acusado, o fato de ele ser pobre e de condição social inferior à sua fez com que Joana não almejasse o casamento, operando, portanto, com uma lógica distinta àquela do amor passion presente na fala de Maria Constância. Por outro lado, da mesma forma que ela, Joana se reservava o direito de escolher o namorado e um possível marido, sendo essa antes de mais nada uma opção individual – atitude própria às camadas populares –, operando com uma perspectiva de aliança
170 Auto Crime de defloramento. Joana Paula da Silva. Dezembro de 1903. doc 68.
matrimonial com alguém que tivesse mais posses do que um criado – mesmo que ela, Joana, não correspondesse exatamente à imagem de mulher honesta e virgem, destinada àquelas moças que almejavam casar com homens mais bem posicionados socialmente.
Essas duas histórias aqui resumidas foram narradas, porque evidenciam as contradições e multiplicidades das formas de pensar e agir dessas menores das camadas populares. Vemos que elas estabeleciam opções individuais na escolha de seus parceiros, marcadas pelo encanto e o desejo, na manifestação do amor e, ao mesmo tempo, traçavam perspectivas de alianças viáveis do ponto de vista dos benefícios e custos materiais, e de status.