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A “Solução” que Vem da África
CAPÍTULO III
Osurto de 1748-1750 tem um impacto direto na oferta de mão de obra no Grão-Pará, seja pela mortalidade indígena e/ou por incrementar o jogo retórico em torno da legitimidade e necessidade da escravidão do índio. Enfrentamentos políticos antigos ganham novos matizes a partir da epidemia. Nessa conjuntura, podemos observar a formação de dois projetos antagônicos: um valorizava o cativeiro indígena enquanto meio eficaz para o desenvolvimento e sobrevivência da economia “amazônica”, o outro apostava no escravo africano e na liberdade do índio como ferramentas para redinamizar a economia local. Esse embate não se resumirá aos anos da doença, mas terá desdobramentos durante toda segunda metade do século XVIII. Nesse capítulo, apresentaremos discursos atrelados à importância do cativeiro indígena e do esforço metropolitano de inserção de escravos africanos. Como já destacado anteriormente, o Estado do Maranhão se apoiava fundamentalmente no trabalho indígena até meados do século XVIII. Num plano mais amplo, a região foi marcada por contínuas disputas em torno da regulação e monopólio desses trabalhadores, gerando uma série de conflitos entre índios, religiosos, moradores, autoridades locais e a Coroa.245 Os eventos aqui apresentados estão relacionados ao esforço da monarquia portuguesa em assegurar a posse da América Setentrional, à política voltada ao controle das aldeias por leigos, ao balizamento de ações nas quais o indígena passa a ser considerado meio eficaz de povoamento, à agricultura como atividade econômica mercantil e à intensificação de trocas comerciais sob o auspício da metrópole e da Companhia de Comércio monopolista.246 A epidemia pode ser
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245 SOUZA JR., 2010. 246 BOXER, Charles. A Idade de Ouro do Brasil. São Paulo: Companhia Ed. Nacional,1963, p. 255-280. COSTA, João Paulo Oliveira (org.). História da Expansão e do Império Português.
Lisboa: Bertrand, 2014, p. 264-295.