Jornais e Revistas de 02 de junho de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 02 DE JUNHO DE 2014

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95,6% das cidades de SC têm desenvolvimento alto ou moderado Santa Catarina tem 280 de seus 293 (95,6%) municípios com desenvolvimento alto ou moderado aponta um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). É o terceiro melhor quadro socioeconômico do país, atrás apenas de São Paulo e do Espírito Santo. O levantamento é do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), a partir de dados nacionais sobre educação, saúde, emprego e renda coletados em 2011. O país, segundo a Firjan, atingiu média de 0,7320 pontos. A escala define que até 0,4 o desenvolvimento é baixo. Entre 0,4 e 0,6, a avaliação é regular. No intervalo entre 0,6 pontos e 0,8, o desenvolvimento é moderado e, acima desse patamar estão os municípios com alto desenvolvimento. O resultado de SC é 2,7% superior ao do ano anterior e, do país, é 1,8%. De acordo com o Especialista em Desenvolvimento Econômico da Firjan, Jonathas Goulart, o ranking leva em conta não apenas a renda dos municípios, mas variáveis que vão além do Produto Interno Bruto (PIB). Ele analisa dados que refletem na qualidade de vida da população e gera informações para os gestores municipais. — É importante saber as causas dos óbitos para definir políticas públicas para diminuir este índice — afirmou. Cidades melhoram índice e destacam-se Em relação a 2010, Santa Catarina aumentou em 4,8% o número de municípios com alto desenvolvimento, totalizando 15,4%. O Estado continua com nove cidades entre as 100 melhores posicionadas. Saíram Saudades e Blumenau e entraram Tubarão e Joinville, que deram um salto entre 2010 e 2011. Itajaí, também se destacou, passando de décimo para quinto lugar no ranking estadual. No nacional, Concórdia e Chapecó continuam liderando. A primeira saltou de 18º para 12º lugar no país. Chapecó passou de 28o para 18o. Entre as capitais, Florianópolis caiu da quarta para a quinta posição, devido à redução no índice na área Emprego e Renda. Para Goulart, o arrefecimento da economia em 2011 foi o responsável pela queda do índice em todo o país. Goulart afirma que os Estados do Sul geralmente têm bons índices de desenvolvimento, mas ainda há problemas tanto na Geração de Emprego e Renda, quanto na Saúde. — Notamos uma desigualdade — alerta o especialista. Bela Vista do Toldo está entre os 23 municípios com índice regular na área de saúde, com IFDM 0,47. É pouco mais do que a metade do índice de Concórdia, o que leva o município a ficar entre os piores resultados, à frente apenas de Cerro Negro. Os últimos colocados tem índices de Emprego e Renda entre baixo e regular, reflexo da baixa industrialização. Goulart diz que o aspecto econômico pode influenciar, mas não é determinante.

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Santa Catarina avança em ranking nacional de desenvolvimento e alcança segundo lugar Bem colocado em índices de qualidade de vida e educação, Estado é destaque em indicador criado no Rio Grande do Sul. Santa Catarina apresenta resultados acima da média nacional quando o assunto é padrão de vida, educação e longevidade e segurança. O bom desempenho nessas três dimensões fez o Estado saltar de terceiro para segundo lugar em um índice de desenvolvimento estadual calculado por Zero Hora e a Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Face-PUCRS), com apoio institucional da Celulose Riograndense. Pelo ranking, SC ultrapassou o Distrito Federal e assumir a vice-liderança em 2012 entre todas as unidades federativas mais desenvolvidas. — O crescimento de Santa Catarina é um processo que vem acontecendo há alguns anos e é uma combinação do bom desempenho do Estado em todos os indicadores — afirma Ely José de Mattos, coordenador da pesquisa e professor da Face-PUCRS. Para Mattos, o fato de Santa Catarina ter ultrapassado o Distrito Federal no ranking geral é motivo de destaque. Apesar da diferença do padrão de vida entre as duas regiões — no DF o índice do padrão de vida é de 0,87, enquanto em SC é de 0,67 — a economia catarinense tem resultado médio superior por conta dos demais indicadores. Na educação, SC tem a melhor posição. O índice é puxado pelas notas do 4° ano do Ensino Fundamental na Prova Brasil, que ficaram entre as mais altas do país. Além disso, o Estado tinha a maioria dos estudantes de Ensino Médio (EM) cursando a série adequada à idade em 2012.

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Ainda há pontos para avançar SC comemora os resultados, mas ainda há desafios pela frente. Cerca de 16% dos jovens no Ensino Médio estão atrasados em relação à série cursada. Além disso, o resultado da Prova Brasil não passou de 6,01 (a nota vai de 0 a 10). Mattos afirma que é difícil falar do futuro em relação aos indicadores, mas garante que não deve haver uma retração do quadro de desenvolvimento catarinense, porque é um processo que vem sendo construído ao longo dos anos. Na análise do economista do Instituto de pesquisa da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Nazareno Schmoeller, o que explica a posição de destaque do Estado no índice é o desenvolvimento industrial. Segundo ele, a diversidade de atividades econômicas, que formam polos industriais em diferentes regiões de Santa Catarina estimula o desenvolvimento do Estado como um

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todo. Por outro lado, ainda há grande concentração: os municípios que mais contribuem para a evolução de Santa Catarina no índice são os mais populosos e localizados principalmente no Norte, Vale do Itajaí e Litoral. As cidades do interior ainda têm dificuldade para encontrar o mesmo ambiente de desenvolvimento.

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Diversidade industrial impulsiona crescimento O mérito do destaque econômico e social de Santa Catarina no cenário brasileiro pode ser atribuído à força da atividade industrial e à diversidade de atividades econômicas no Estado. A análise é do economista Nazareno Schmoeller. Além destes polos industriais mais fortes, Schmoeller destaca que outro incentivo ao desenvolvimento no Estado é a diversidade das atividades econômicas em todo o território. Ele explica que os diferentes setores formam polos industriais regionais, que estimulam o desenvolvimento local. Já a secretária do Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado, Lucia Dellagnelo, comemorou o resultado. Para ela, Santa Catarina escolheu promover um modelo de desenvolvimento baseado na inovação e na inclusão social, buscando a qualidade de vida. — Os dados que observamos na pesquisa demonstram que estamos no caminho certo. As políticas de estado que escolhemos miram objetivos de longo prazo, os quais visam descolar Santa Catarina das médias nacionais e nos colocar em pé de igualdade com países desenvolvidos em indicadores de desempenho socioeconômico — afirma. Schmoeller observa, no entanto, que se Santa Catarina subiu no ranking apresentado pelo índice de desenvolvimento estadual é porque os municípios maiores se desenvolveram. De acordo com o especialista, muitas cidades menores, em que o principal empregador ainda é o setor público, não estão evoluindo e oferecem um ambiente menos favorável ao desenvolvimento da população. Para o economista, melhorar este cenário depende de investir em obras de infraestrutura, especialmente viárias, que conectem todas as regiões.

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Schmoeller ainda relativizou o índice, lembrando que mesmo na segunda colocação, o Estado apresenta métricas baixas de desenvolvimento. Ele citou, por exemplo, o percentual de pessoas com Ensino Médio Completo entre a população acima de 25 anos em Florianópolis, o município catarinense com melhor índice educacional, de acordo com o IBGE. Na cidade, 65,21% dos habitantes com mais de 25 anos têm Ensino Médio. E na soma das médias dos municípios, Santa Catarina apresenta um percentual de apenas 24,38% da população. De qualquer maneira, o economista destacou que é melhor para o Estado ser o primeiro no indicador educação do que nos outros pesquisados pelo índice (padrão de vida e longevidade e segurança, nos quais o Estado ficou em terceiro do país). Segundo ele, a educação é o fator capaz de puxar para cima todos os outros indicadores.

Cresce superávit primário do setor público

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No primeiro quadrimestre, superávit primário do setor público foi de R$ 42,527 bilhões. Foto: Divulgação O superávit primário do setor público consolidado (governos federal, estaduais e municipais e empresas estatais) de R$ 16,896 bilhões, em abril, foi o maior para o período desde 2011. Esse resultado foi divulgado nesta sexta-feira, dia 30, pelo Banco Central (BC). O superávit primário é a economia de recursos para pagar os juros da dívida pública. O esforço fiscal permite a redução do endividamento do governo no médio e longo prazos. A meta para o superávit primário do setor público este ano é R$ 91,306 bilhões – 1,9% do PIB. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Tulio Maciel, abril é um mês em que é comum o aumento das receitas do governo, o que favorece o resultado primário. “O mês de abril é um mês sazonalmente favorável para as contas fiscais tendo em vista o aumento da arrecadação de Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Abril sempre tem resultado melhor do que os meses que o precedem e os outros meses também do ano”, disse Maciel. De acordo com dados do Tesouro Nacional divulgados nesta quinta, dia 29, os dividendos das empresas estatais também contribuíram para o resultado primário. Em abril, foram R$ 2,341 bilhões, a maior parte da Petrobras. Os dividendos são a parcela do lucro que as empresas destinam aos sócios e proprietários de ações. No caso das estatais, o maior acionista é o Tesouro Nacional. No primeiro quadrimestre, o superávit primário do setor público chegou a R$ 42,527 bilhões, contra R$ 41,048 bilhões em igual período de 2013. Somente o Governo Central (Tesouro, Banco Central e Previdência) registrou superávit primário de R$ 29,175 bilhões, superando a meta para o período de R$ 28 bilhões. Os dividendos das estatais contribuíram com R$ 8,231 bilhões, de janeiro a abril. (Agência Brasil)

IBGE: Consumo das famílias e investimentos em queda explicam PIB RIO - O recuo de 2,1% nos investimentos no primeiro trimestre do ano e o consumo das famílias com queda de 0,1%, na comparação com o último trimestre do ano passado, decontandose os efeitos sazonais, explicam grande parte do resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) do trimestre. Na comparação com os últimos três meses do ano passado, o PIB avançou apenas 0,2% na série dessazonalizada. Os destaques positivos ficaram novamente com a agropecuária, que avançou 3,6% em igual base de comparação, e os gastos do governo, que cresceram 0,7%. O aumento foi impulsionado por gastos maiores da administração federal. A gerente de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, entretanto, considerou o aumento dos gastos governamentais "normal" em se tratando de um ano eleitoral. "Observamos o mesmo movimento em 2010", explicou. A queda no consumo das famílias foi puxada pelo ritmo mais fraco da concessão de crédito nominal a pessoas físicas. Rebeca explicou que ano passado o crédito crescia "a taxas de dois dígitos" e de janeiro a abril deste ano avançou apenas 7,3%. Ela afirmou que, apesar da expansão do crédito ainda ser positiva após descontada a inflação, ela é bem menor do que a observada anteriormente. O crescimento mais baixo do crédito anulou até parte do efeito positivo gerado pelo ganho de renda real da massa salarial, que segundo o IBGE avançou 4% na comparação entre o primeiro trimestre deste ano, e igual período de 2013. O aumento nos juros também contribuiu negativamente para o consumo das famílias. No primeiro trimestre de 2013, a taxa de juros média era 7,1%, e está em 10,4% no primeiro trimestre de 2014.

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O aperto monetário prejudicou os investimentos, afetados pelo recuo nas importações de bens de capital e menor produção nacional de bens de capital e a queda na construção civil. Na comparação com o último trimestre do ano passado, a queda dos investimentos também foi de 2,1%. Ainda na ótica da demanda, o destaque ficou com os gastos do governo, que expandiram 3,4% na comparação com o primeiro trimestre de 2013. Rebeca explica que esse aumento foi puxado pelo governo federal, e é comum em anos eleitorais. O ciclo de aumento de juros, iniciado em abril do ano passado, também teve repercussão na ótica da produção, sobretudo, no resultado da indústria. O setor recuou 0,8% no primeiro trimestre na comparação com os três últimos meses de 2013, decontando-se os efeitos sazonais. "Não sabemos precisar a dimensão do impacto dos juros na produção industrial, mas teve influência. A gente sabe que aumento de juros tem impacto. Vamos ver isso mais para o futuro, porque [o aumento de juros] não tem efeito imediato", afirmou Rebeca. A queda da produção industrial no primeiro trimestre está associada à redução nas atividades da indústria de transformação e construção civil. Esses dois setores representam 72% da indústria do país. Frente ao primeiro trimestre do ano passado, o setor subiu 0,8%. Nesse período, a indústria da transformação recuou 0,5%, ao passo que a construção civil teve queda de 0,9%. "A parte de infraestrutura teve efeito forte nessa queda da construção. Já a indústria da transformação teve impacto da produção de veículos automotores. A produção de caminhões, por exemplo, impactou a produção de bens de capital e os investimentos", afirmou Rebeca. A agropecuária cresceu 3,6% no primeiro trimestre deste ano, frente aos últimos três meses de 2013, descontando-se os efeitos sazonais. O crescimento foi sustentando pelas culturas de soja, algodão e arroz. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a agropecuária subiu 2,8%. Nesse período, a produção de soja teve alta de 6,3%, ao passo que as de arroz e algodão subiram 7,7% e 23,5%, respectivamente. Já os serviços, na passagem do último trimestre de 2013 para o primeiro deste ano, cresceram 0,4%. Frente ao primeiro trimestre do ano passado, o setor subiu 2%. "Os grandes destaques foram os setores de informação, puxados por telecomunicações. É preciso registrar que o setor de desenvolvimento de software ajudou e ele vem crescendo muito. O transporte aéreo de passageiros também teve participação positiva", afirmou Rebeca. Dados das Contas Nacionais indicam que os serviços de informação cresceram 4,4% no primeiro trimestre frente a igual período do ano passado, ao passo que transporte, armazenagem e correio tiveram alta de 4%. Nessa base de comparação, o setor de intermediação financeira e seguros subiu 2,6%, seguido por comércio (2,2%), serviços imobiliários e aluguel (2%), administração, saúde e educação públicas (1,9%) e outros serviços (0,5% ). A taxa de poupança brasileira no primeiro trimestre, de 12,7%, foi a menor da série histórica do IBGE, iniciada em 2000. O recuo, para Rebeca, se explica basicamente pelo consumo das famílias, que tem crescido muito ao longo do tempo. Outra justificativa é a necessidade de financiamento do país, que tem sendo atendida, em partes, pelo setor externo e não com recursos locais. "Isto explica o descolamento entre a taxa de investimento (FBCF) e a taxa de poupança", afirmou Rebeca. A necessidade de financiamento do país aumentou para R$ 66,3 bilhões no primeiro trimestre de 2014. Em igual trimestre do ano passado,a necessidade era de R$ 55,9 bilhões. Houve piora no saldo externo de bens e serviços, com aumento de R$ 8 bilhões (para R$ 46,6 bilhões) o que explica maior parte do aumento da necessidade de financiamento. Houve também mais renda de propriedade sendo enviada

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ao resto do mundo, pelo aumento de pagamento de juros para fora, que teve acréscimo de R$ 1,5 bilhão, para R$ 21,4 bilhões.

Mercados reagem de maneira própria ao resultado do PIB SÃO PAULO - No último pregão de maio, os mercados financeiros no Brasil operam sob óticas próprias. A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil relativo ao primeiro trimestre do ano mexe com o mercado de juros. Embora tenha vindo em linha com o esperado pelos analistas, a abertura dos dados preocupa. Diante desse quadro e com um mundo também enfraquecido, a aposta de que o Banco Central terá de elevar juros logo após as eleições é colocada em dúvida. Na Bovespa, os preços do minério de ferro, em queda constante, derrubam os papéis da Vale, que provocam um efeito dominó no índice. Os bancos ainda sofrem com o cenário de crédito aquém do esperado e recuam. No mercado de câmbio, a última sessão de maio é marcada por firme alta do dólar ante o real. Há ajustes no mercado local de derivativos e expectativa de enxugamento de liquidez a ser feito pelo Banco Central. Juros O resultado do PIB reforça a percepção de que a economia caminha a passos cada vez mais lentos. E que, nesse ritmo, a aposta em um novo aperto monetário - como projetado pela maioria dos economistas - ganha uma dose maior de risco. Os juros ainda apontam para uma elevação da Selic de 1,20 ponto percentual em 2015. Mas, diante da fraqueza da economia, começa a surgir entre especialistas a visão de que o Banco Central poderá olhar muito mais para indicadores de atividade do que para os da inflação nesse período de pausa da política monetária. “Será que, quando falou da decisão ter sido tomada ‘neste momento’, o BC não estava pensando nessa deterioração surpreendente da economia?”, observa um operador. “Essa teoria não está no cenário do mercado e, se ganhar corpo, pode impor um ajuste muito grande nos juros.” O PIB cresceu 0,2% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior, exatamente em linha com a média das projeções colhidas pelo Valor Data. Só que a abertura dos dados preocupou. Um dos pontos de alerta é que o consumo das famílias caiu 0,1%. Outro elemento é que houve um acúmulo de estoques nesse período, o que aponta para um desempenho ainda pior no próximo trimestre. Na BM&F, DI janeiro/2017 opera a 11,66%, de 11,68% ontem. DI janeiro/2016 cede de 11,45% para 11,41%. DI janeiro/2015 é negociado a 10,85%, de 10,86%. Bolsa O Ibovespa opera em queda no último pregão do mês. A baixa era de 1,47% às 13h45, com peso sobretudo de Vale PNA. A ação da mineradora está entre as maiores quedas do índice, com 3,60%. Petrobras cai 2,20%. A XP Investimentos comenta, em nota, que o preço do minério de ferro caiu 4,1% de ontem para hoje, sendo negociado no mercado à vista chinês em US$ 91,8 a tonelada. Com esse valor, renova a mínima em cerca de 20 meses. Incluindo a queda de hoje, o minério acumula perdas de 32% em 2014, diz a corretora. “Esse movimento de queda no preço da commodity se dá por diversas razões, com destaque para o aumento da oferta do produto, principalmente vindo da Austrália, que está fazendo pressão contra os preços” afirma a XP. “O crescimento da oferta do minério de ferro vem ainda acompanhado por um

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período de grandes preocupações em relação ao crescimento da atividade econômica chinesa, que passa por desaceleração”, continua a casa. “A queda de Vale não é um bom sinal. Se uma blue chip cai dessa maneira, acaba arrastando o restante da bolsa”, diz o estategista do BB Investimentos, Hamilton Moreira Alves. Os bancos também não dão trégua. Seguem em queda, depois de já terem recuado ontem, afetados por números piores de crédito. Bradesco PN cai 1,93%, Itaú PN perde 2,18% e Banco do Brasil recua 1,25%. Câmbio A última sessão de maio é marcada por firme alta do dólar ante o real, num dia de fraca valorização da moeda no exterior, por ajustes no mercado local de derivativos e pela expectativa de enxugamento de liquidez a ser feito pelo Banco Central. Às 13h45, o dólar comercial subia 0,71%, para R$ 2,2400, depois de alcançar uma máxima de R$ 2,2460. O dólar para junho avançava 0,58%, a R$ 2,2390, e o dólar para julho ganhava 0,64%, para R$ 2,2575. “A ideia de que o BC vai deixar de rolar quase US$ 5 bilhões em swaps é o que está fazendo preço hoje. O pessoal está tomando proteção no mercado porque sabe que esse ‘hedge’ feito antes não vai ser continuado”, diz o profissional da área de câmbio de uma asset, referindo-se ao vencimento de cerca de US$ 4,65 bilhões em swaps que provavelmente não será rolado pelo BC. A autoridade monetária fará hoje o que deve ser último leilão de rolagem de papéis que vencem em 2 de junho. Caso confirme as expectativas, o BC terminará maio completando a rolagem de US$ 5 bilhões de um lote de US$ 9,653 bilhões. Como colocou ao longo do mês cerca de US$ 4,2 bilhões em swaps por meio de ofertas líquidas, o saldo é um enxugamento de liquidez em swaps da ordem de US$ 453 milhões. Essa redução de liquidez no mercado futuro pode ocorrer ao mesmo tempo que, no mercado à vista, discute-se se o BC fará rolagem de cerca de US$ 3,5 bilhões em linhas de dólares que vencem também no início de junho e que precisarão ser devolvidas. Não bastassem os fatores domésticos, o mercado reflete ainda a recuperação do dólar frente a outras divisas emergentes. O dólar saltava 1,27% contra o rand sul-africano, 0,43% ante a lira turca e subia 0,20% frente ao peso mexicano. (Aline Cury Zampieri, Lucinda Pinto, José de Castro e Gabriel Bueno | Valor)

Uma intrigante calmaria nos mercados financeiros Iniciado o desmonte da política de relaxamento monetário nos Estados Unidos, estranha calmaria tomou conta dos mercados globais. Após a instabilidade do início do ano, as taxas de juros nos Estados Unidos, expressas pelos títulos do Tesouro de 10 anos, que chegaram a 3% nas turbulências do ano passado, recuaram para abaixo de 2,5% e se mantêm nesse nível. Os juros dos títulos soberanos dos países endividados da Europa caíram bastante, enquanto que o índice de risco-volatilidade como o "VIX" se situa hoje no menor nível desde 2007, antes do estouro da crise financeira. Países emergentes importantes voltaram a se tornar destino de abundantes fluxos de capitais externos, suas políticas monetárias contracionistas foram relaxadas e as pressões contra suas moedas arrefeceram. As bolsas americanas namoram com novos recordes. Os riscos para a estabilidade continuam presentes, sugerindo que o padrão de altos e baixos após o cataclisma de 2008 pode prosseguir. Determinantes das condições futuras são o ritmo de crescimento da economia dos Estados Unidos e da recuperação europeia, assim como a nova velocidade de expansão da economia chinesa. A face financeira dessas condições é o progresso ou não dos programas de afrouxamento quantitativo, que deve ganhar nova fase na Europa em junho e já se encontra em reversão gradativa nos EUA. Embora a economia americana pareça estar perto de recuperar a boa forma, há boas dúvidas nos mercados sobre quando isso de fato ocorrerá. A retração do PIB no primeiro trimestre, de 1%, foi

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basicamente puxada pelo clima extremo do inverno e redução dos estoques. Mas Janet Yellen, presidente do Federal Reserve, mostrou preocupações com o baixo nível da inflação e com os sinais de fraqueza do mercado imobiliário, cujos índices, com exceção do de preços, foram negativos em março. O sinal mais firme da recuperação é o desemprego, que continua caindo. Se o termômetro dos juros exprime a temperatura real, os 2,43% de ontem do título do Tesouro de dez anos revela que as condições monetárias estão apenas um pouco mais apertadas que antes do discurso de 22 de maio de 2013, quando Ben Bernanke anunciou que já se poderia pensar em começar a desmontar os estímulos (o juro então era de 2,02%). Isso é compatível com o avanço da economia americana de lá para cá. O recuo dos juros pode também indicar várias coisas sobre as quais não há consenso. Primeiro, mostra incertezas no caminho da recuperação americana. Depois, que as sucessivas manifestações de Bernanke e depois Yellen sobre a necessidade de manter juros baixos mesmo depois que os EUA recobrem o vigor convenceram os mercados. Terceiro, como vislumbram alguns analistas, a taxa de juros de equilíbrio da economia americana hoje seria menor do que antes (um pouco acima dos 4%). As hipóteses não são excludentes, mas, possivelmente, complementares. Na Europa, novos estímulos monetários estão a caminho, depois que os números do primeiro trimestre mostraram que a recuperação das economias do euro estagnou e os riscos de deflação continuam no horizonte. Os juros dos títulos soberanos, porém, recuaram, em grande parte como reflexo de melhoria dos indicadores de performance das economias da periferia do euro. O crédito, por seu lado, continua se contraindo. O que preocupa nesse cenário? A farta liquidez continua empurrando os investidores para as zonas de risco, seja em busca de retornos mais altos nos países emergentes, como Brasil, seja nos títulos de dívida corporativa de maior risco. Tanto na área do euro como nos EUA, segundo o Banco Central Europeu, os spreads dos títulos corporativos de maior risco caíram para o nível muito baixo em que estavam em 2007. Um alerta sobre os perigos foi dado na quarta-feira pelo relatório de estabilidade financeira do BCE. O primeiro deles, que é o mais geral e menos europeu, seria "a reversão abrupta da procura por altos rendimentos". "À medida que o espaço para a busca por rendimentos se amplia, crescem os riscos de uma possível reavaliação dos prêmios de risco, com implicações para os mercados financeiros globais", aponta o BCE. Esses riscos estão presentes desde que trilhões de dólares e euros foram usados para impedir uma recessão pavorosa. Intensificaram-se agora e têm difícil controle, porque são consequência necessária da política monetária pós-2008, que não será revertida tão cedo.

2015 já começou SÃO PAULO - O Brasil vai crescer menos ainda em 2014 do que se previa. Essa é a resultante, considerados a estagnação da economia no primeiro trimestre deste ano e o alinhamento dos astros apontando pessimismo sobre os próximos meses. A massa de salários e de crédito empacou. A indústria não desatola do buraco em que se meteu há cinco anos. Exauriram-se todos os sortilégios desenvolvimentistas, como a explosão de empréstimos estatais, o abatimento setorial de impostos e a contenção de preços à unha. A economia brasileira começa a pagar uma conta que, imaginava-se, só seria sentida na pele das pessoas, porque debitada mais fortemente, a partir do ano que vem, depois da eleição presidencial. Em casa que falta pão, aumenta a confusão. Se a renda per capita para de crescer, as disputas sociais se tornam mais escancaradas e lesivas. Para que um grupo possa ganhar, o outro tem de perder. Acabou a fase em que todos evoluíam, embora uns mais depressa do que os outros. Uns querem aumentar o subsídio dos transportes, outros não suportam mais pagar impostos. Uns querem desapropriação de terrenos para a "reforma urbana", outros só aceitam financiar a juros soberbos os governos desapropriadores.

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Uns querem gastar 10% do PIB no ensino das crianças, outros não abrem mão da gratuidade nas universidades estatais para os adultos e exigem ainda mais dinheiro do governo. Uns não aceitam gasolina mais cara, outros precisam do reajuste para investir, empregar e crescer. Não há recurso para tudo isso. Nunca há, na verdade. Mas, em tempo de produção inerte, é mais difícil esconder esse fato dos grupos em conflito num labirinto congestionado por 200 milhões de almas. O longo ano de 2015 já começou. Tomara que acabe ainda nesta segunda década do século, o que dependerá das respostas dos governantes eleitos em outubro.

É hora de fugir do crédito, dizem analistas Com as parcelas dos empréstimos pesando mais no bolso do consumidor, especialistas recomendam evitar a tomada de crédito. De acordo com dados do Banco Central, entre abril do ano passado e o mesmo mês de 2014, a taxa média de juros cobrados no crédito pessoal ficou 46% mais cara. Na prática, isso significa que um consumidor que contratasse um empréstimo de R$ 1.000 em abril do ano passado pagaria, ao final de 12 meses, R$ 1.678,44. No mesmo exemplo hoje, a pessoa desembolsaria R$ 1.991,79. Parte dessa alta é explicada pelo movimento de elevação da taxa básica da economia, a Selic, que passou de 7,25% ao ano em março de 2013 para os atuais 11%. "O crédito tem acompanhado basicamente o aumento da Selic. Agora, deve começar a ter uma interrupção nesse encarecimento, porque a taxa parou de aumentar", afirma Nicolas Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). Mas não é apenas esse componente que conta. A inadimplência também pesa. "O crescimento da renda diminuiu. Com o aumento da inflação, mais pessoas deixam de pagar as contas", diz Alexandre Chaia, professor do curso de planejamento financeiro do Insper, instituto de ensino. Para Chaia, diante desse cenário de encarecimento do crédito, o consumidor deve ficar mais seletivo na hora de contratar um empréstimo. "LINHAS "FÁCEIS" A principal orientação é ponderar se realmente o crédito é necessário. Muitas vezes o consumidor entra no cheque especial, por exemplo, para comprar produtos supérfluos, que poderiam ser adquiridos posteriormente. "Às vezes as pessoas estão tão acostumadas a contar com o limite do cheque especial que não consideram essa modalidade como uma dívida", diz Erasmo Vieira, consultor da Planilhar Planejamento Financeiro. Isso ocorre, segundo Vieira, porque o cheque especial e o limite do cartão de crédito são linhas "de fácil acesso", que acabaram caindo no gosto dos brasileiros. "Muitos consumidores têm recursos aplicados na poupança e hesitam em sacar o dinheiro para pagar dívidas. É um erro clássico", diz. "Não há aplicação de renda fixa cujo rendimento supere os juros cobrados pelo cheque especial ou pelo rotativo do cartão de crédito." A urgência de cada caso vai definir se o crédito saiu barato ou caro, afirma José Vignoli, especialista em finanças pessoais do portal Meu Bolso Feliz, da SPC Brasil. "Se a pessoa usa o cheque especial para pagar o hospital, é um crédito barato. Se o utiliza para pagar o restaurante, é caro." Se a pessoa concluir que precisa mesmo do empréstimo, deverá avaliar as opções. O crédito consignado é, em geral, a modalidade com taxa mais baixa porque, como a parcela é debitada na folha de pagamento, o banco tem mais segurança de que vai receber e, por isso, cobra menos. Os dados do BC comprovam: a taxa média desse tipo de empréstimo ficou estável entre março e abril, em 25,3% ao ano. Já o juro do cheque especial mudou de patamar: passou da casa dos 140% (exatamente 147,9% ao ano) em dezembro de 2013 para 161,8% ao ano em abril. FINANCEIRAS O consumidor que não consegue comprovar renda ou que já esgotou o limite de crédito no seu banco tem a possibilidade de contratar empréstimo em financeira. Mas é preciso tomar cuidado com as taxas, mais altas do que dos bancos de varejo.

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"Se a instituição financeira sabe que aquela pessoa está endividada e não tem mais limite de crédito ou ela não pode comprovar renda, vai pagar mais", afirma Chaia, do Insper. Para Tingas, da Acrefi, não adianta recorrer a mais um empréstimo se o endividado não mudar seu modo de lidar com as finanças. "Se você está numa situação de buraco permanente no orçamento que não consegue pagar, por mais que reestruture sua dívida, terá ou que arranjar mais receita ou reduzir a despesa. Não tem mágica."

Mercado projeta crescimento menor do PIB em 2014, de 1,5% SÃO PAULO - Os analistas de mercado reduziram suas estimativas para o crescimento da economia neste e no próximo ano, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC), que apura projeções entre cerca de cem instituições. A revisão ocorre após a divulgação do fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no primeiro trimestre. A mediana das projeções do mercado para o crescimento do PIB saiu de de 1,63% para 1,50% em 2014 e de 1,96% para 1,85% em 2015. Na sexta-feira passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre deste ano, em relação aos três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. O resultado foi influenciado pela queda de 2,1% nos investimentos e de 0,1% no consumo das famílias. Um dos destaques negativos do PIB foi a indústria, que caiu 0,8% no período, bem mais que o esperado. No Focus, os analistas reduziram as estimativas para o aumento da produção industrial brasileira, de 1,40% para 1,24% neste ano, mas mantiveram as expectativas para 2015, de avanço de 2,20%. Na sexta-feira, ao comentar o PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, evitou confirmar a previsão do governo, de crescimento de 2,3% neste ano. O ministro creditou o fraco desempenho da economia no início do ano ao cenário externo e à inflação. Nesse quesito, não houve grandes alterações de expectativas no Focus. A mediana dos analistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano seguiu em 6,47% de alta. Para 2015, houve um ligeiro ajuste para cima, de 6% para 6,01% de aumento. Quanto à Selic, a mediana para este ano passou de 11,25% para 11%. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu o ciclo de alta dos juros ao manter a taxa básica da economia em 11%. O Focus mostra que os analistas continuam a esperar uma elevação no custo do dinheiro até o fim de 2015, para 12%. Os analistas Top 5 – os que mais acertam as previsões – mantiveram sua expectativa de Selic em 11,25% até o fim de 2014, mas reduziram suas apostas para 2015, de 12,75% para 12,50%. Quanto ao IPCA, eles revisaram para cima suas expectativas referentes a este calendário, de 6,58% para 6,60%, e conservaram a previsão de 2015 em 6,90% de alta. (Ana Conceição | Valor)

Câmbio faz rentabilidade do exportador cair em abril A valorização mais recente do real frente ao dólar resultou em queda de rentabilidade do exportador brasileiro em abril. Com ganho de margem desde novembro do ano passado, o exportador viu o sinal se inverter em abril, quando a rentabilidade caiu 0,9%, na comparação com o mesmo mês de 2013. No acumulado do quadrimestre ainda há ganho de rentabilidade, de 4,4% contra iguais meses do ano passado. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Analistas veem, porém, tendência de rentabilidade em queda para os próximos meses. Além da redução nos preços de exportação, a variação do câmbio deve deixar de ter o efeito mais positivo que vinha

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apresentando até o início do ano para a rentabilidade do exportador. Isso porque o processo de desvalorização do real se intensificou no segundo semestre de 2013, quando o preço do dólar atingiu patamar mais alto do que os atuais. No primeiro semestre do ano passado, o dólar - levando em conta a Ptax - custou, em média, R$ 2,03. No segundo semestre de 2013 a cotação subiu para R$ 2,28.

Apesar da apreciação mais recente do real, abril ainda registrou desvalorização cambial de 11,5% em relação ao mesmo mês de 2013. Esse nível de desvalorização, porém, não foi suficiente para compensar os efeitos da queda de 6% nos preços de exportação e da elevação de 5,8% no custo de produção. Por isso houve queda na margem de lucro do exportador. No acumulado até abril o nível de desvalorização de 16,7% ainda foi suficiente para compensar a queda de 5,3% nos preços e a elevação de 6% nos custos de produção. Mas a tendência, diz Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da Uerj (Cedes /Uerj), é que o comportamento da rentabilidade de abril permaneça para os próximos meses. Ou seja, o nível de desvalorização cambial provavelmente não irá compensar a pressão da queda de preços e da alta de custos sobre a margem de lucro. "A partir de agora, em relação ao ano passado, teremos base de comparação com patamares mais depreciados do real frente ao dólar. Além disso, os preços de exportação devem continuar caindo e não há sinalização de que o custo de produção possa recuar." Daiane Santos, economista da Funcex, diz que o recuo da rentabilidade total é esperado para os próximos meses, levando em conta cenário no qual o processo mais recente de valorização da moeda deve se manter por conta de uma política cambial voltada para o controle da inflação. Ao mesmo tempo os preços de exportação devem continuar em tendência de recuo. A alta do preço do petróleo bruto, importante item da pauta, será superada pela diminuição do preço da soja triturada, do café em grãos e do minério de ferro e derivados, prevê Daiane. Além disso, há a expectativa de elevação de custos de produção por conta do aumento do preço da tarifa de energia elétrica. Em abril, diz Daiane, os salários exerceram forte pressão sobre o custo. A mão de obra é, em média, cerca de 17% do custo da indústria exportadora. "No acumulado do ano, o preço das exportações e o custo de produção variaram em sentidos opostos, configurando o pior cenário possível para a rentabilidade não fosse pela forte desvalorização cambial no período. Com a valorização do real também em maio e novas quedas de rentabilidade, porém, os ganhos do acumulado do ano também tendem a cair". Os dados da Funcex indicam que a queda dos preços de exportação se acentuou recente mente. Enquanto a queda de preços foi de 6% em abril contra igual mês do ano passado, o recuo em doze meses foi de 4,3%. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que os preços podem ter maior queda no segundo semestre, por influência de itens importantes na pauta de exportação brasileira, como minério de ferro, soja e café. O minério de ferro, diz, está cotado a menos de US$ 90 a tonelada, levando em conta valores FOB. Castro estima que a média de preço do item neste ano fique entre US$ 87 e US$ 89 a tonelada, bem menor que a média de US$ 98 a tonelada verificado em 2013. A soja também deve perder preço no segundo semestre, com a queda do volume de embarques brasileiros que se concentram, por questões sazonais, de janeiro a junho. "O café, outro item importante, deve ter recuo de preços depois da super alta em fevereiro e março." Castro diz ainda que a desvalorização do real frente ao dólar não está andando como se esperava para o ano. A estimativa anterior da AEB para o câmbio ao fim do ano era uma cotação de dólar entre R$ 2,40 e R$ 2,50. Agora, com o movimento recente mas persistente de apreciação da moeda nacional, Castro

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estima dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30. "O cenário, que é o que temos condições de traçar hoje, é totalmente desfavorável à rentabilidade do exportador, principalmente de manufaturados." Se o dólar se mantiver no atual patamar, diz Castro, a tendência é que os exportadores de industrializados voltem a reajustar para cima seus preços de exportação. Como as possibilidades de elevação não são muito amplas, sob pena de perder a competitividade, há tendência de aperto de margem. "A regra nessas situações é tentar manter mercados."

Menor taxa de poupança desde 2000 compromete PIB futuro A taxa de poupança da economia brasileira no primeiro trimestre foi de apenas 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB), a menor desde 2000, pelo menos, e 1 ponto porcentual abaixo da observada em igual período do ano passado (13,7%). Para economistas, a queda acentuada da poupança nos últimos anos foi uma das más notícias mostradas pelo IBGE ao divulgar as contas nacionais de janeiro a março, na sexta-feira, porque compromete a capacidade de o Brasil voltar a crescer de forma mais significativa no futuro, em um momento em que o ciclo puxado pelo consumo dá sinais mais evidentes de esgotamento. Com baixa disponibilidade de poupança doméstica, aumenta a dependência do financiamento externo. O problema, dizem economistas, é que o déficit em conta corrente já se encontra em patamar elevado, de 3,7% do PIB nos 12 meses encerrados em abril, maior nível desde 2002. Neste cenário, aumentar a taxa de investimento, de apenas 17,7% do produto no primeiro trimestre, uma das menores da América Latina, exigiria maior ingresso de recursos estrangeiros, caso a poupança interna não volte a subir, dizem.

Para Margarida Gutierrez, professora de economia do Instituto Coppead e do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como o consumo das famílias teve queda de 0,1% no primeiro trimestre e os investimentos recuaram 2,1% no mesmo período, é principalmente o aumento do consumo pelo governo, que cresceu 0,7% no trimestre, que está levando a poupança doméstica a diminuir. Margarida ressalta que o setor público tem poupança negativa porque a receita é menor do que a despesa corrente (que não inclui investimentos, por exemplo). Em sua avaliação, o baixo nível de poupança é uma restrição cada vez maior para o crescimento da economia brasileira porque o déficit em conta corrente já aumentou significativamente nos últimos anos, sem que a taxa de investimento tenha acompanhado. "Historicamente, o aumento da taxa de investimento vem acompanhado da importação de bens de capital, porque são mais baratos e tem maior conteúdo tecnológico. Só que não dá mais para elevar a taxa de investimento com financiamento externo, porque o aumento do déficit nos últimos anos financiou o consumo", afirma. Além disso, diz Margarida, o governo deveria estar mais atento à mudança do contexto internacional. À medida que o Federal Reserve, o Banco Central americano, reduzir estímulos para a economia, a quantidade de recursos disponíveis para os países emergentes vai diminuir, com efeitos adversos sobre essas economias, como foi observado em janeiro e fevereiro deste ano, por exemplo. Por isso, é preciso reduzir a dependência dos recursos externos, diz a professora.

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Para Carlos Antônio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Cemec/IBMEC), o desempenho recente da economia brasileira mostra alguns limites para a expansão da atividade cada vez mais evidentes: há falta de mão de obra, gargalos de infraestrutura e baixa taxa de poupança. Entre o primeiro trimestre de 2011 e igual período deste ano, a poupança caiu 4,3 pontos do PIB. Rocca tem se dedicado a estudar a evolução recente da poupança doméstica, ao lado de outro pesquisador do Cemec, Lauro Santos Jr. Embora as contas nacionais só mostrem a composição desse indicador até 2009, o pesquisador realizou estimativas para a evolução mais recente dessa variável, com base em dados do BC e do IBGE. As evidências sugerem que o setor público tem poupança negativa desde 2000, mas ela não se alterou muito nos últimos anos e está em torno de menos 1,5% do PIB. Já a perda de rentabilidade das empresas brasileiras nos anos mais recentes parece dar uma sinalização mais clara das razões pelas quais a poupança caiu tanto desde 2011, diz. A partir de uma análise dos dados obtidos com a consolidação de balanços das empresas que compõem a base de dados da consultoria Economática, os pesquisadores concluíram que, neste período, houve redução dos lucros, mas a distribuição de dividendos praticamente se manteve. Como o investimento caiu, mas menos do que o lucro retido, as empresas reduziram o financiamento de investimentos com recursos próprios e passaram a depender mais de dívida. O Relatório Trimestral de Financiamentos dos Investimentos do Cemec de setembro de 2013 mostra que a participação do mercado de capitais no total do financiamento do investimento privado, que era de 5,1% em 2000, passou para 14,5% em 2013. Já o BNDES financiava 7,6% dos investimentos em 2000 e agora tem participação de 19,7% no total. Para financiar o banco de fomento, o Tesouro aumentou seu endividamento bruto, que em boa parte é financiada com recursos externos, diz Rocca. Alexandre Chaia, professor da pós-graduação em Finanças do Insper, avalia que o aumento da oferta de recursos pelo banco de fomento a taxas de juros subsidiadas desestimula a poupança por parte das empresas. Chaia, porém, não considera que o déficit em conta corrente seja uma restrição relevante ao crescimento do PIB. Em sua avaliação, o problema é que neste momento os empresários não têm disposição para embarcar em novos projetos. O investimento baixo e em queda mostra uma economia com clara dificuldade de crescimento no médio prazo, diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, e não há sinais de que o consumo das famílias vai voltar a ter fôlego suficiente para impulsionar o PIB nos próximos trimestres.

'PIB comprova que o consumo bateu no teto' Todos os elementos de crescimento que prevaleceram nos últimos 17 anos não existem mais. O cenário não é de crise, mas falta investimento. O ânimo do empresário, porém, foi atingido por "agressões" vindas do governo e, com o juro mais alto, preferiu manter dinheiro aplicado a elevar produção, diz o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros. Integrante do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, ele defende que uma eventual vitória de Aécio Neves (PSDB) trará o choque positivo que falta para que o investimento volte a fluir, mas não descarta que a presidente Dilma Rousseff possa se recompor com o setor privado, se agir diferente. Sobre as razões que o fizeram investir em meio a tanto mau humor - Mendonça de Barros é presidente da Foton Aumark do Brasil, representante da maior fábrica de caminhões da China -, ele assume que, apesar de tudo, a situação da economia brasileira é "muito superior à do passado". Valor: Mesmo com tantas iniciativas do governo, o investimento desacelerou. O que aconteceu? Luiz Carlos Mendonça de Barros: Vendo que não há mais espaço para crescimento de demanda por uma restrição de oferta, o empresário deveria investir. Só que o governo Dilma, com todas as agressões que fez ao setor privado, como a confusão na energia elétrica, tirou o ânimo de investimento do empresário. Todos os índices de confiança, até em serviços, tomaram um tombo nos últimos tempos. A demanda ainda teria condições de crescer se tudo o mais ficasse constante. Mas o BC foi obrigado a

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interferir subindo o juro e aí o quadro de desânimo que já existia só piorou. Com a combinação de falta de confiança e juro em alta, todo mundo preferiu manter dinheiro aplicado ou deixar de gastar no aumento de produção. Esse é o resumo dos números [do PIB]. Valor: O que está errado? Mendonça de Barros: O PIB é uma comprovação dura de um quadro que existe há algum tempo: o consumo bateu no teto. Entre 1993 a 2011, o consumo de energia elétrica cresceu a uma taxa de 3,7% ao ano, o que é impressionante. No período todo, o consumo andou à frente do investimento, e qualquer ociosidade que existia foi ocupada. Em 2010 houve uma esticada do governo para manter esse crescimento e, quando Dilma tomou posse, a economia bateu na parede. Esse quadro é normal para uma economia que cresceu tanto por muito tempo. O fato é que todos os elementos de crescimento que prevaleceram nos últimos 17 anos não existem mais. O modelo dos anos Lula está esgotado e, se depender só do consumo, o PIB brasileiro vai continuar medíocre. Valor: Além do investimento, a poupança também é baixa... Mendonça de Barros: A queda da taxa de poupança significa que o consumo da sociedade aumentou - e não foi do setor privado, foi do setor público. E isso quer dizer que não sobra dinheiro para investimento. Não acho que seja uma crise séria, eu sempre disse isso. Ao não ler corretamente a armadilha da falta de investimento, o governo elevou o próprio consumo. E ao fazer isso, jogou mais lenha na fogueira da inflação. Ficou um negócio contraditório: o governo aumenta o consumo e o BC, os juros. A situação é fruto da incapacidade analítica do governo de entender os reais desafios da economia. Valor: Como salvar 2014? Mendonça de Barros: Esperamos alta de 1,5% do PIB e não existe mais tempo para melhorar isso no curto prazo porque estamos em ano eleitoral. 2014 já está dado e mesmo o BC parando de subir o juro, ele já está suficientemente alto para inibir o crescimento. Todas expectativas vão ser jogadas para o próximo ano. Valor: O sr. vê uma inflação pressionada por muito tempo? Mendonça de Barros: Ela vai ficar por aí. Além dela, as importações em alta em detrimento da produção local também preocupam. E só existe uma forma de sair disso: via investimento privado. Valor: O que esperar para 2015? Mendonça de Barros: Se houver novo mandato da presidente Dilma sem que ela consiga passar uma mensagem clara de que vai mudar a política econômica para tentar sair da armadilha atual, vamos ter um choque negativo de confiança. E nesse cenário em que o investimento é a saída, teremos uma piora das condições de hoje. Valor: As previsões mudam caso a oposição ganhe as eleições? Mendonça de Barros: Com a vitória do Aécio, o cenário é diferente. Ele mostra que terá equipe econômica respeitada pelo mercado e é esse choque positivo de confiança no setor privado que vai provocar a volta de investimento. O Eduardo [Campos] não conheço. Valor: De qualquer forma, o sr. não vê um primeiro ano difícil de mandato, cheio de desafios? Mendonça de Barros: A situação da economia brasileira é muito superior à do passado. Hoje, 70% dos brasileiros vivem na economia formal e essa é uma mudança social que pouquíssimos países emergentes fizeram nos últimos anos. Agora é uma questão de ajustar a política econômica e usar esse novo ativo que o Brasil tem, que é uma classe média tão grande, para voltar a crescer. Se esse cenário for bem entendido e explorado pela política econômica, a rapidez com que vamos voltar a crescer vai surpreender todo mundo. Valor: O sr. está envolvido com a candidatura de Aécio?

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Mendonça de Barros: Não. Eu estou envolvido nessa minha brincadeira nova de caminhões. Eu quero é a economia voltando a crescer. Valor: Mas, em meio a todo mau humor, o sr. assumiu há pouco a presidência de uma empresa de caminhões. O que lhe faz investir? Mendonça de Barros: Minha leitura sobre o Brasil é muito positiva. O grosso da população está estudando mais, se aperfeiçoando, e essa dinâmica me faz acreditar. Vamos torcer para que, se Dilma ganhar, tenha condições de falar 'olha setor privado, vocês são fundamentais à retomada. Me desculpem se não nos entendemos bem no primeiro mandato, mas eu garanto que no segundo vamos trabalhar juntos'. Se ela conseguir isso, a coisa anda.

Calendário da economia ficou ruim para o governo Tão logo foi anunciado o comportamento da atividade econômica no primeiro trimestre do ano, com crescimento de apenas 0,2% sobre o último trimestre de 2013, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou entrevista coletiva para comentar os números do Produto Interno Bruto (PIB) e disse: "Os dados que temos mostram que a atividade melhorou em abril e maio". Ao mesmo tempo a edição de sexta feira do Valor mostrava os primeiros rascunhos do desempenho da economia no primeiro mês (abril) do segundo trimestre: queda de 12,7% na produção industrial medida pela Fiesp sobre abril do ano passado e de 5,2% na produção de papelão, além de retração de 13% na industria química e de 8,8% no faturamento de máquinas. Em maio o licenciamento de veículos teve recuo de 6,4% sobre abril. Importante: a piora da produção em abril e maio foi preconizada pela queda significativa dos indicadores de confiança dos consumidores, do comércio, da indústria e do setor de serviços. Férias coletivas ou redução de turnos estão no expediente da indústria automobilística, da área de eletrônicos e linha branca. Apenas nesse último setor 10 mil trabalhadores foram colocados em férias. Por todos os ângulos que se olha os dados divulgados pelo IBGE para o primeiro trimestre, não se encontra alento seja na performance da oferta seja na da demanda. A Formação Bruta de Capital Fixo (medida do que se investe em máquinas, equipamentos e na construção civil) teve queda de 2,1% em relação ao período imediatamente anterior. Mantega argumentou que o BNDES está liberando financiamentos "em ritmo normal" e, portanto, é de se esperar uma retomada dos investimentos no segundo trimestre. O ministro assinalou, também, que não há mais estímulos a dar. "Já há bastante estímulo, com crédito barato. Precisamos de consumo para estimular investimentos", disse. Para ele, somente "um ou outro empresário" deve adiar investimentos no país para esperar o resultado das eleições presidenciais de outubro. O consumo das famílias caiu 0,1% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre do ano passado. Se houve sustentação da demanda ela veio do consumo do governo, que teve crescimento de 0,7% na mesma base de comparação. O ministro da Fazenda atribuiu a retração do consumo das famílias à alta da inflação e à escassez de crédito. "No segundo trimestre, o consumo das famílias será mais elevado", disse ele. "No ano passado, o consumo das famílias cresceu 2,6% e deve ficar mais ou menos nesse patamar". Não é o que revela o indicador de confiança do consumidor que aponta, em última instância, para incerteza sobre o futuro do emprego. A transição do motor do crescimento do consumo, que perde fôlego para o investimento, ainda não ocorreu. Ao contrário, a taxa de investimento caiu de 18,2% do PIB para 17,7% do PIB entre os três primeiros meses de 2013 e os de 2014. As obras decorrentes das concessões de serviços de

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infraestrutura, cujas licitações foram feitas no ano passado e poderiam dar um ânimo maior à atividade, não começaram. Sem fator de dinamismo na economia, não há qualquer razão objetiva para garantir que o segundo trimestre vai ser muito diferente do primeiro, apesar da torcida do ministro da Fazenda. O crescimento do PIB este ano, último da gestão Dilma Rousseff, tende a ser fraco, magro. Economistas da área financeira já começaram a rever a expansão deste ano para menos de 1,5% e não descartam um comportamento negativo para o segundo trimestre. Há, ainda, o risco de uma "ressaca" no pós Copa do Mundo, que pode vir a prejudicar o resultado do terceiro trimestre. Não há como marcar o quanto dessa modesta performance do produto decorre da perda de confiança do empresário e do consumidor nas ações do governo - o primeiro, que não aumentou o investimento e o segundo, por estar com uma postura bem mais cautelosa para consumir - e da política de elevação da taxa de juros. Muito provavelmente, o esfriamento da atividade econômica é resultado da combinação de ambos e, ainda, da baixa reação da economia mundial que compromete a expansão das exportações. O aperto monetário que começou em abril do ano passado e terminou na última reunião do Copom, quarta feira, elevou a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais - de 7,25% para 11% ao ano. Nos últimos tempos começou a surgir a suspeita de que a elevação da taxa Selic já não estava sendo medida eficaz para domar a inflação. A argumentação do Banco Central é de que o aperto das condições monetárias tem efeitos defasados e cumulativos sobre a atividade e, em seguida, sobre a inflação. Resta, agora, esperar que os preços reajam à redução da demanda, que as empresas se desfaçam dos seus estoques e que a inflação caia. Para a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição, o calendário da economia ficou ruim. Um dos maiores receios do governo é de que o reduzido crescimento econômico afete o mercado de trabalho de forma mais visível antes das eleições. O pior que pode acontecer para a campanha da presidente é que o que hoje são férias coletivas amanhã se transformem em demissões de trabalhadores das fábricas. E, para o país, é o governo desistir de perseguir as metas da política fiscal e dobrar a aposta na expansão do gasto público, impedindo que a inflação, finalmente, ceda.

Dilma 1: fim É MAIS DIFÍCIL do que parece medir o sucesso econômico de um governo por um número tal como o do aumento do PIB. Sob Dilma Rousseff, a economia terá crescido abaixo de 2% ao ano. "Menos que nos anos FHC", diriam críticos com a inteligência de debates das redes insociáveis. Mas o problema não está bem aí. Qual teria sido do crescimento caso o governo tivesse mantido a política econômica "feijão com arroz" adotada de 1999 a 2008, por aí, em vez do "angu de caroço" dilmiano? Dificilmente muito mais que 2%. Havia os excessos do biênio final de Lula para limpar, houve crises no mundo de 2011 a 2013 etc. Enfim, quando Dilma assumiu, estavam esgotadas as folgas que permitiram ao Brasil crescer os 4% lulianos (em suma, capacidade ociosa de produção e trabalho; folga nas transações com o exterior). Por que o governo Dilma ignorou tal obviedade é tema para outro dia ou divã, mas é claro que a presidente também aceitou, com gosto, a pressão do trem da ampliação de direitos sociais e econômicos, que partiu em 1988, acelerou sob FHC e desembestou sob Lula. No que diz respeito ao Estado, havia muita demanda de benefício social e recusa social crescente de aceitar mais impostos (e mesmo indiferença do PT à ideia de tributar mais os ricos). No que diz respeito à economia, faltou PIB para tanto consumo. Sem receita fiscal e produção ("mais PIB"), apenas se consome mais por meio de mais dívida ou sacando contra o patrimônio. O governo Dilma passou a "comprar" os frutos de um crescimento que não vinha. O fez por meio do aumento da dívida: gastando o que não tinha, tomando emprestado.

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Comprou empregos subsidiando empresas privadas (fez mais dívida para manter as margens de lucro dessas firmas); tentou comprar investimento, que não veio. Comprou o aumento dos empréstimos bancários adquirindo fatias de mercado bancário para os bancos públicos, que concederam mais crédito (que usamos em parte relevante para importar mais mercadorias, dados o custo e a escassez das nacionais). Comprou benefícios sociais com dívida pública também, pois não houve alta de impostos (alíquotas), menos ainda sobre os mais ricos. Quando não conseguia comprar, tentou tabelar preços, imaginando que, mesmo assim, o mercado ofertaria crédito, energia elétrica, combustível, infraestrutura. Não rolou. Dívidas maiores elevam as taxas de juros, para dizer o efeito mínimo. Juros altos aprofundam o problema da produção restrita, que era o empecilho inicial para Dilma. Essa é apenas uma linhas das narrativas do problema que Dilma vai legar a si ou outro na área macroeconômica. Enfim, além do tempo perdido na picuinha cotidiana e na desordem administrativa centralizada de seu governo, ela não fez reforma econômica de fundo alguma, de "esquerda" ou "liberal". Para ficar no básico, inflação alta represada, o dólar por desvalorizar, cofres do governo ora esgotados e investimento baixo vão reduzir as expectativas de crescimento nos próximos anos. Sem limite estão as expectativas de melhoria de renda e serviços sociais, as quais não vão se resolver sem algum aumento da tensão social ou política, como já se vê desde 2013. Vinicius Freire vinit@uol.com.br

Taxa de inflação no Brasil é uma das maiores do mundo Entre 16 economias monitoradas pelo BC, a brasileira só tem custo de vida menor que a da Venezuela, da Argentina e do Uruguai. Deco Bancillon - Correio Braziliense Atualização: 21/04/2014 08:02 Depois de quase duas décadas de estabilidade, o Brasil voltou a figurar em um ranking nada lisonjeiro: o de países com as maiores taxas de inflação do mundo. No país, enquanto as famílias lutam para acomodar a disparada dos preços em um apertado orçamento — da batata inglesa às carnes, da gasolina ao plano de saúde, tudo aumentou —, nos Estados Unidos, o governo torce pela elevação da carestia e, na Europa, o valor de produtos e serviços caiu tanto, a ponto de a ameaça de deflação pôr em risco a recuperação da região. Desde o início de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff tomou posse, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a carestia oficial no país, avançou 22%. Ou seja, em média, a cada ano, a inflação engoliu 6% da renda da população. Tamanho descuido com esse mal produziu um efeito indesejado, como mostra levantamento realizado pelo Estado de Minas, com base em uma lista de 16 economias monitoradas pelo Banco Central. Os dados indicam que a nossa carestia só não foi maior do que o custo de vida observado em três vizinhos sul-americanos: Venezuela, Argentina e Uruguai. Não por acaso, esses são países que tentam combater a inflação da pior forma possível, ao recorrer a medidas como congelamento de preços e intervencionismo do governo em setores-chave da economia. Essas experiências extravagantes, com as quais o Brasil está flertando, ao segurar os reajustes da gasolina e do diesel, e ao derrubar as tarifas de energia por decreto, têm, no entanto, alcance curto e pouca eficácia para combater a verdadeira raiz dos problemas. "Uma inflação muito elevada, em geral, é reflexo de uma economia com desarranjos estruturais", diz o economista Wellington Ramos, da Austin Rating. Nos últimos anos, tornou-se evidente o descompasso entre a demanda das famílias e a oferta limitada de produtos e serviços no país, quadro agravado pela baixa produtividade da mão de obra. Ao estimular o consumo sem a devida contrapartida da produção, tudo o que o governo Dilma conseguiu foi produzir mais inflação. Há quatro anos consecutivos, o custo de vida sobe muito acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Em 2014, a estimativa da instituição é de que os preços ultrapassem os 6%. Pelos cálculos do mercado, o IPCA romperá o teto da meta, de 6,5%, entre maio e junho próximos, e encerrará o ano em 6,47% — a maior taxa desde 2011. SURREAL

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Para os especialistas, quaisquer que sejam os parâmetros de comparação, o Brasil se tornou o país da carestia. Itens simples, como um sanduíche do McDonald’s, comprovam o quanto os preços estão fora da realidade. Em 2000, um Big Mac era vendido por R$ 2,95. Agora, não sai por menos de R$ 12,40 — uma alta de 143%. No mesmo período, em dólares, o preço saltou de US$ 1,79 para US$ 5,25. Nesse valor, já é o sexto mais caro do planeta. Diversos itens, principalmente eletrônicos, comprovam o quanto os brasileiros estão sendo explorados. O iPhone custa, em média, no país, US$ 1,1 mil. O mesmo item comprado no Canadá sai por US$ 604, ou 47,9% menos. São exemplos corriqueiros, mas que escancaram o quanto o orçamento das famílias está sendo aviltado pela carestia. Nos últimos anos, com a renda crescendo muito acima da inflação e o mercado de trabalho absorvendo tantas pessoas, não se notou tanto os reajustes disseminados de preços que tomaram conta da economia. Agora, porém, com o nível da atividade fraquejando — o Produto Interno Bruto (PIB) cresce a um ritmo inferior a 2% —, já não se gera tantas vagas no mercado de trabalho. Com a produção e as vendas capengando, indústria e comércio já resistem a dar aumentos salariais expressivos. Para piorar, os consumidores estão enfrentando um choque nos preços dos alimentos. Com falta de chuvas em algumas regiões e excesso de água, em outras, o encarecimento da comida está levando muita gente a retirar produtos essenciais dos carrinhos de supermercados. "Tudo está jogando contra", afirma Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank. O quadro se agrava porque, além de não fazer o dever de casa, o governo só adicionou problemas na economia. Em vez de cair, a carga tributária aumentou, os juros subiram, os trabalhadores se empanturraram de dívidas, a qualidade da infraestrutura piorou, a burocracia se agigantou e há pressões inflacionárias represadas, devido às interferências do Palácio do Planalto nos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Esse represamento estimula a desconfiança e as remarcações preventivas, que só fortalecem o IPCA. "Infelizmente, são os consumidores que pagam a conta. E ela está ficando cada vez mais salgada", reconhece Ramos, da Austin Rating. E como não se espera mudanças significativas a curto prazo, independentemente de o Banco Central estar aumentando os juros há um ano — de 7,25% para 11% ao ano —, os brasileiros devem preparar o bolso. O Brasil permanecerá, por um bom tempo, como um dos países mais caros do mundo. RISCO POLÍTICO A escalada da inflação produziu estragos na renda dos brasileiros e derrubou a aprovação da presidente Dilma Rousseff. Na visão dos especialistas, está claro que os brasileiros não perdoam governos que ponham em risco o poder de compra da população. Foi a consolidação da estabilidade econômica que permitiu a mais de 40 milhões de pessoas migrar para a classe média na última década. "Com inflação não se brinca", afirma a diarista Maria Pereira da Cruz, 48 anos. "O governo precisa agir rápido para conter a carestia. A sensação que se tem hoje é de descontrole de preços", acrescenta a professora Mariluce Lopes, 40. Para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, se a presidente Dilma deseja realmente a reeleição, na disputa marcada para outubro próximo, deve dar sinais claros de que o governo está agindo para conter a inflação. Com o bolso apertado, os brasileiros já veem os empregos ameaçados, mesmo com o país registrando taxas de desocupação historicamente baixas. Há razões de sobra para a população estar em alerta. Em nenhum momento desse governo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), parâmetro oficial do custo de vida, ficou próximo do centro da meta, de 4,5%, perseguida pelo Banco Central. A média da carestia foi de 6% ao ano. E deve se manter nesse nível até pelo menos 2016, independentemente do arrocho promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros (Selic) de 7,25% para 11% ao ano desde abril de 2013. "A preocupação com a economia começa quando o eleitor se dá conta de que o salário dele já não é mais suficiente para comprar a mesma quantidade de itens que um mês antes", observa Rosa.

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