03 de outubro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 03 DE OUTUBRO DE 2014

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Índice do Medo do Desemprego cresce 1,2% Fonte Portal Economia SC 02 de outubro de 2014 às 11h 00 O Índice do Medo do Desemprego aumentou 1,2% em setembro na comparação com junho. Foi a sexta alta consecutiva do indicador, que alcançou 77 pontos, o maior desde novembro de 2009. As informações foram divulgadas nesta quinta-feira, dia 2, pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), na pesquisa trimestral Medo do Desemprego e Satisfação com a Vida. Nos últimos seis meses, o Índice de Medo do Desemprego teve alta de 11,6%. Na comparação com setembro do ano passado, o indicador ficou 6,2% maior. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios entre 5 e 8 de setembro. De acordo com a CNI, embora o temor com o desemprego esteja crescente, os brasileiros estão mais satisfeitos com a vida. O Índice de Satisfação com a Vida, que registrou 103,8 pontos em setembro, é o maior desde março de 2013. O indicador ficou 0,7% superior ao registrado em junho deste ano e 0,6% acima do índice de setembro de 2013. De acordo com a pesquisa, foram dois trimestres consecutivos de crescimento do índice, o que não ocorre desde novembro de 2009. (Agência Brasil)

Isaac Newton e a economia brasileira Fonte Portal Economia SC01 de outubro de 2014 às 11h 15 Dia 5 de julho de 1687, Isaac Newton publica sua obra prima, Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. Descreve as três leis do movimento e redefine a ciência, em especial a Física. O notável é que as três Leis de Newton ajudam a compreender também a economia. Primeira Lei do Movimento: um objeto continua em repouso, ou continua a se mover a uma velocidade constante, a menos que seja levado a mudar de estado por alguma força externa. Resumindo, objetos em movimento tendem a continuar em movimento e objetos parados tendem a continuar parados. Idem para a economia. Em países que crescem de forma sustentada e ritmo acelerado, a confiança dos empresários e consumidores no futuro é grande, o que os leva a investir e consumir muito, fazendo com que estes países continuem crescendo rapidamente. Já em países que, como o Brasil de hoje, crescem pouco ou nada, empresários e consumidores perdem a confiança e pisam no freio. Dilma tem razão quando diz que o pessimismo atrapalha o crescimento, mas esquece de dizer que o pessimismo foi inicialmente causado pelo crescimento pífio anterior. Para a economia brasileira voltar a crescer velozmente e sustentar sua expansão, a desconfiança tem de passar. Para que a confiança dos empresários volte, é necessário estimular a produção e não apenas o consumo, como tem acontecido aqui há mais de 10 anos. Como? Reduzindo impostos, burocracia e intervencionismo estatal e aumentando investimentos em infraestrutura, educação e treinamento. Se o próximo governo fizer isso, os investimentos crescerão e, com eles a geração de empregos, a confiança dos consumidores e as compras. Segunda Lei de Newton: a mudança de movimento é proporcional à força externa. A economia funciona da mesma forma. O desempenho da economia brasileira será diretamente 2


proporcional à força que a impulsionar. Quanto mais significativas as mudanças de política econômica, maior pode ser a recuperação. Porém, segundo Newton, força é um vetor que corresponde à massa multiplicada pela aceleração. Em vetores há dois componentes: um de magnitude, outro de direção. Com a economia não é diferente. Não importa apenas se as mudanças são significativas, mas se levam à direção certa. Mudanças incoerentes, na melhor das hipóteses, anulam-se e a economia do país não sai do lugar. Na pior, fazem a economia encolher, como aconteceu no Brasil no primeiro semestre. Terceira Lei de Newton: para toda ação, há sempre uma reação igual e contrária. Trazendo para nossa realidade, mudanças que são boas para todo o país não são necessariamente boas para todos no país. Os prejudicados farão o que puderem para evitá-las. Corruptos não querem que sequem suas fontes, burocratas não querem leis mais simples, beneficiários de programas de governo, sejam do Bolsa-Família, de quotas educacionais ou de financiamentos subsidiados do BNDES querem sempre mais recursos. Desmontar nosso Estado paternalista e ineficiente é um desafio hercúleo. Os benefícios de cada mudança são difusos, divididos por todos os brasileiros; as perdas, são concentradas nos atuais beneficiários. Para cada mudança individual, todos ganhariam um pouco, mas poucos perderiam muito. Por isso, quem tem a perder opõe-se com toda força às mudanças. Grandes mudanças, e particularmente as que precisam de aprovação no Congresso, só são possíveis quando um presidente recém eleito toma posse, chancelado pelo apoio de dezenas de milhões de brasileiros. Voltar a crescer bem é totalmente possível, mas se o próximo governo não tomar as medidas necessárias já em seus primeiros meses de mandato, teremos de esperar mais quatro anos por outra chance. *Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa Manhattan Connection da Globonews e presidente da Ricam Consultoria.

Restoque compra Dudalina e deve colher enorme ganho fiscal Fonte Jornal Valor Econômico Tatiane Bortolozzi, Vanessa Adachi e Talita Moreira de São Paulo 03/10/2014 às 05h00 Sônia Hess vai continuar no comando da Dudalina - negociação com a Restoque levou menos de um semestre A varejista Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc e Bo.bô, vai criar a maior empresa de moda de alto padrão do país ao incorporar 100% das ações da Dudalina. Os acionistas da Dudalina receberão ações da Restoque como pagamento e ficarão com 50% do capital da nova companhia. Juntas, as empresas tem 308 lojas próprias - com a previsão de alcançar 338 até dezembro - e estão presentes em cerca de 4 mil lojas multimarcas do país. A receita combinada das duas companhias seria de R$ 1,15 bilhão em 2013 e R$ 573 milhões no primeiro semestre de 2014. A Restoque emitirá 174,9 milhões de ações e vai trocar 13,2 de ações ordinárias para cada uma da Dudalina. A consultoria Apsis calculou o valor econômico da Dudalina entre R$ 1,72 bilhão e R$ 1,83 bilhão. O valor global de emissão das ações ficará dentro dessa faixa, em R$ 1,75 bilhão. A compra da Dudalina proporcionará enorme ganho fiscal à Restoque. Segundo o Valor apurou, os benefícios virão de duas frentes. Inicialmente, a Dudalina será mantida como uma empresa independente e continuará a se valer do fato de estar inscrita no Refis I (Programa de Recuperação Fiscal). Por conta disso, o Imposto de Renda (IR) é pago pelo lucro presumido e não pelo lucro real, a uma alíquota de 0,5% do faturamento. Ao deixar o Refis, a Dudalina será incorporada à Restoque para que a empresa resultante possa abater o ágio da aquisição do IR a pagar. Segundo estimativa de pessoa ao par da 3


operação, o ágio está estimado em R$ 1,65 bilhão e a expectativa é que a nova empresa fique sem recolher o imposto por aproximadamente dez anos. Outro benefício esperado com a compra é que, aos poucos, parte da produção das duas empresas possa ser integrada, já que a Dudalina possui fábricas próprias. Além de dar escala às operações, a compra da Dudalina vai reduzir a alavancagem da Restoque. A dívida líquida combinada das duas empresas será inferior a uma vez o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) somado, segundo fonte a par do assunto. Sozinha, a Restoque fechou o ano passado com uma relação dívida/Ebitda de 2,745 vezes. A Restoque tinha dívida líquida de R$ 399,4 milhões no fim do segundo trimestre, enquanto a Dudalina tinha caixa líquido de R$ 50 milhões. A expectativa da Restoque é que, em 2015, a nova companhia formada a partir da incorporação da Dudalina gere um Ebitda de R$ 400 milhões e um lucro líquido de quase R$ 300 milhões. A informação é de fonte ao par da operação. Em todo o ano passado, último resultado anual disponível, o Ebitda da Restoque sozinha foi de R$ 121 milhões e o resultado líquido foi um prejuízo de R$ 18,4 milhões. No primeiro semestre deste ano, o Ebitda da Restoque ficou em R$ 83,2 milhões e a companhia lucrou no período R$ 1,3 milhão. A avaliação dos sócios das duas empresas é que a transação resulte em grandes sinergias operacionais, financeiras e fiscais. Por isso, as conversas foram relativamente rápidas. Dos primeiros contatos até o anúncio da operação, transcorreu menos de um semestre. De um lado, a Restoque tem perfil consolidador e já tinha em seu planejamento estratégico fazer novas aquisições. Para auxiliá-la, a empresa contratou a assessoria financeira do Itaú BBA. De outro lado, os fundos controladores da Dudalina - geridos pela WarburgPincus e pela Advent - concluíram que poderiam potencializar seus ganhos com as sinergias que a operação deve trazer. A Dudalina conduziu as negociações sozinhas, sem assessores financeiros. Em dezembro do ano passado, a Dudalina teve 72,3% do capital vendido para os fundos americanos AdventInternational e WarburgPincus. Sônia Hess, da família fundadora da grife, na época, ficou com 6,3% da empresa. Outros sócios minoritários, com 21,42%. Sônia continuará no comando da Dudalina, assim como o presidente da Restoque, LivinstonBauermeister mantém suas funções no cargo. O conselho de administração da Restoque passará de cinco para nove membros, ao incorporar os integrantes do conselho da Dudalina. Depois de concluída a incorporação, a Restoque segue sem acionista controlador. Acionistas das duas companhias votarão o acordo em assembleia no dia 21. A transação anunciada ontem aguarda a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Restoque chegou a entrar em negociação para fundir operações com a Inbrands, mas abandonou a tentativa no início de setembro. Controlada pela Vinci Partners, a Inbrands é uma holding que reúne as marcas Richards, Ellus, R, Salinas e Mandi, e comercializa a Tommy Hilfiger no Brasil. Para os analistas do BTG Pac e da Votorantim Corretora, a Restoque pagou barato para incorporar a Dudalina. "Dadas as altas margens, as perspectivas de crescimento - a receita da Dudalina deve avançar 25% em 2014, enquanto o faturamento da Restoque tende a seguir estável - e as potenciais sinergias, os múltiplos pagos parecem baratos", disseram ontem os analistas Fábio Monteiro e Thiago Andrade, do BTG Pactual. O negócio parece ainda mais interessante se observada a margem Ebitda (relação entre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização e a receita líquida) da Dudalina, de cerca de 27% no primeiro semestre de 2014, ante 23,7% da Restoque, acrescentam os analistas Luiz Cesta e Paulo Prado, da Votorantim Corretora. A Dudalina traz à nova companhia um importante conhecimento estratégico. A Votorantim observou que 68% das vendas da famosa marca de camisas sociais vêm de lojas multimarcas ante 9% da dona da Le Lis Blanc -, e o canal de franquias é mais amplo - 36 lojas, ante 4


nenhuma da Restoque. As cinco fábricas da Dudalina também ajudarão a acelerar a produção e a aumentar as sinergias de escala. Segundo os cálculos da Votorantim, a relação entre dívida líquida e Ebitda da nova companhia será de 1,2 vez, ante o atual patamar de 2,6 vezes da Restoque. Após a incorporação da Dudalina, a expectativa de lucro por ação da Restoque sobe de R$ 0,12 a R$ 0,43 neste ano, calcula o BTG Pactual. As ações da Restoque fecharam ontem em alta de 10,62% na bolsa. O Ibovespa subiu 1,25%. (Colaborou Cibelle Bouças)

Disputa presidencial não via tanta incerteza desde 1989 Fonte Jornal Valor Econômico Fonte Jornal valor Econômico Fernando Limongi 03/10/2014 às 05h 00 Esta é uma eleição surpreendente. Quando tudo já parecia encaminhado, as pesquisas trouxeram novas surpresas. Marina perdeu forças e Aécio, dado como descartado, ganhou esperanças. Já não sabemos qual dos dois acompanhará Dilma no segundo turno. A candidatura oficial se revigorou e saltou à frente, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Neste cenário, com tanta flutuação, não é recomendável fazer prognósticos. Pesquisas estão sendo aguardadas com ansiedade, por candidatos e eleitores, sobretudo pelos que querem derrotar o PT. No início da campanha, antes da morte de Eduardo Campos, as indicações eram de que a polarização PT-PSDB, que marca as eleições presidenciais desde 1994, ditaria os rumos da campanha. Campos precisava provar que era uma alternativa efetiva a ambos. Quando faleceu ainda não tinha afinado seu discurso e encontrado espaço para viabilizar sua candidatura. Talvez tenha lhe faltado tempo para provar que era uma alternativa superior aos seus adversários. Não que Dilma ou Aécio entusiasmassem. Longe disto. As opções por estas candidaturas pareciam ser fruto da resignação diante da falta de opções. Só se pode votar nos candidatos disponíveis. Assim, o enorme desejo por mudanças, a insatisfação profunda que as manifestações de Junho de 2013 teriam revelado, não encontravam expressão política. A morte de Campos e sua substituição por Marina sacudiu o ambiente. Em poucos dias, a exsenadora passou a favorita. Empolgou. Não precisou construir uma candidatura, ganhou superexposição como consequência do desastre. As assinaturas que escaparam da Rede foram obtidas por meios transversos. A intervenção superior não deixou de ser lembrada. Uma candidatura a um só tempo acidental e predestinada. Marina não precisou definir seu espaço ou acertar discurso. Entrou por cima e com tudo. No primeiro debate na TV foi direto ao ponto, afirmou que governaria com os melhores, tanto do PT quanto do PSDB. No seu governo, afirmou ainda, Suplicy e Serra teriam lugar, a despeito da disputa travada entre ambos por uma cadeira no Senado. Em lugar dos partidos e da partilha de cargos, prevaleceria o compromisso ético. Anunciava-se o alvorecer da nova política. O novo plano em que o debate passou a ser travado não era o mais apropriado para Dilma, enredado, em função da sua estratégia eleitoral na "velha política". Ao longo de todo o mandato de Dilma, o PT investiu obsessivamente na assimilação do maior número possível de forças políticas à base de apoio ao governo. O tratamento dispensando ao PSD foi emblemático. O partido foi cortejado não porque tivesse os votos que o governo precisasse para aprovar matérias. A lógica era outra, eleitoral e não parlamentar. O objetivo era reproduzir 2010, impedir que a oposição ganhasse corpo, fragilizá-la. O desgaste da imagem do partido foi acentuado pelas dificuldades de manter a coalizão unida em diversos estados. A outra perna da estratégia de 2010 falhou. Não foi possível coordenar todos os interesses envolvidos, barganhando o lançamento e a retirada de candidaturas Brasil afora. O tamanho excessivo da base do governo fez com que fosse impossível montar o quebra-cabeça usando todas as peças. 5


O fato do PMDB ter a vice-presidência tornou esta tarefa ainda mais difícil. Em todos os governos anteriores, o PMDB sempre esteve cindido em duas facções, uma governista e outra oposicionista, de acordo com as conveniências locais de suas lideranças. O PMDB não se acomodou bem ao novo papel de principal coadjuvante, nem o PT e outros parceiros aceitaram tão facilmente a convivência a que foram forçados. O Rio de Janeiro talvez seja o caso paradigmático de todo este imbróglio. Após uma longa guerra de atritos, o governo acabou apoiando quatro candidaturas ao governo estadual sem que PSDB ou PSB tenham candidaturas fortes no Estado. Em vários outros estados, como Ceará e Maranhão, problemas similares emergiram, desgastando o governo. Antes mesmo da entrada triunfal de Marina na campanha, firmas de consultoria anunciavam que as chances de Dilma se reeleger eram baixas. Em alguns modelos estatísticos, suas chances de se reeleger foram sendo rebaixadas dia a dia. Chegou a ficar abaixo de 50%. Contudo, nestes modelos, faltava prever quem ocuparia a Presidência em seu lugar. Previa-se um absurdo: uma eleição sem vencedor. A assunção de Marina a cabeça da chapa do PSB resolveu o problema lógico. A lacuna foi preenchida. Na realidade, ninguém ansiava mais pela chegada de Marina do que o "mercado", onde a animosidade a Dilma superara a revelada por Willian Bonner. A ingerência da presidente na gestão da política macroeconômica e, em especial no Banco Central, estaria levando o país ao precipício. Até o início da semana, o cenário era favorável a Marina, à frente em todas as pesquisas no segundo turno. O PT e a candidatura Dilma estavam em baixa. Seus pontos fracos e vulnerabilidade eram realçados e apresentados como explicações para uma derrota que parecia cada vez mais provável. A personalidade e estilo da presidente vieram para o primeiro plano. Sua incapacidade para negociar e ouvir, sua teimosia e ideias próprias sobre tudo, incluindo a taxa de juros e a inflação, tudo isto e mais um pouco explicariam a derrota, algo que era impensável ano e meio atrás. As coisas poderiam ser diferentes se a presidente tivesse jogo de cintura, se fosse efetivamente do ramo. Tudo indicava e dava como certo um segundo turno entre Marina e Dilma, nesta ordem. Aécio relegado ao esquecimento. E não é que tudo mudou em pouco menos de uma semana? O PT recobrou suas forças, o balão de Marina revelou furos e Aécio pode sonhar com alcançar o segundo turno. Conhecidos os números das pesquisas desta semana, não há maiores dificuldades para interpretar o que está se passando. O PT se segura com o apoio de seu eleitorado fiel, aquele cuja vida melhorou nos últimos anos e que prefere o certo ao incerto. Um eleitorado, digamos assim, que está votando olhando mais para o passado do que para o futuro. Um novo governo do PT não entusiasma, mas é mais seguro que as alternativas postas. Marina foi rápida e ágil para aceitar que todas as expectativas de mudança e melhoria convergissem para si. As inúmeras restrições que fazia enquanto era vice foram relegadas ao esquecimento em minutos. Alckmin e seu vice do PSB deixaram de ser um bicho-papão e Márcio França passou a cuidar das finanças da sua candidatura. A "sonhática" cedeu lugar a pragmática. Parece que exagerou. Perdeu a mão. Querendo agradar a todos, perdeu sua identidade. Se o balão do PSB murchar de vez, Aécio está pronto para entrar em campo e lutar no segundo turno. Contudo, não há como deixar de notar que mesmo que sua candidatura venha renascer das cinzas, o PSDB sai enfraquecido desta eleição. A perda do governo de Minas, que pelas pesquisas mais recentes parece definitiva, retira um dos pilares sobre o qual o partido se apoiou para sobreviver na oposição. Em meio a todas estas voltas e reviravoltas, diante de todas as expectativas e previsões de que o desastre espreitava da esquina, o PT resistiu. As intenções de voto no PT sobreviveram às manifestações de Junho de 2013, ao julgamento do mensalão, a perda de dinamismo da economia e os insistentes avisos dos analistas que estamos vendo apenas a ponta de um iceberg. Resistiu à ascensão meteórica de Marina. Dilma com certeza estará no segundo turno, mas ninguém sabe ao certo se na companhia de Marina ou de Aécio. Acidentes e as reviravoltas das últimas pesquisas recomendam cautela. 6


Segundo turno para valer, com incerteza, só em 1989. De lá para cá, ou sequer tivemos segundo turnos (1994 e 1998), ou o segundo turno foi só para cumprir tabela. No máximo, esperava-se com alguma expectativa a primeira pesquisa para confirmar o que era previsível. Lula (2002 e 2006) e Dilma (2010) não foram seriamente ameaçados por seus rivais. Desta vez, tudo pode ser diferente. Cada um que faça a sua aposta.

Corrupção é destaque no debate entre presidenciáveis na Globo Fonte Jornal Valor Econômico Cesar Felício, Renata Batista e Elisa Soares 03/10/2014 às 00h 35 RIO - (Atualizada à 1h47) - A corrupção foi um dos principais temas tratados no debate promovido pela TV Globo com os candidatos a presidente na eleição de domingo. Confrontada pela candidata Luciana Genro (PSOL) sobre os casos de irregularidades na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que demitiu o ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa. “Corruptos estão em todos os lugares, eu propus leis para coibir a corrupção. As instituições é que têm que ser virtuosas”, disse a presidente. O tema voltou a ser mencionado pelo tucano Aécio Neves, que, ao responder a uma pergunta do Pastor Everaldo (PSC), afirmou que Paulo Roberto não teria sido demitido, mas pediu demissão “e foi elogiado pelos seus serviços prestados”, frisou. Aécio foi atacado pelo mesmo flanco pela candidata do PSB, a ex-senadora Marina Silva, que afirmou que o PSDB teria dado origem ao mensalão “com a compra de votos da reeleição”, em referência à aprovação da emenda constitucional aprovada em 1997. “Me surpreende esta sua defesa do mensalão do PT, ao se referir a denúncias que nunca foram comprovadas”, respondeu Aécio. Durante o debate, Marina acusou Aécio de ter estabelecido com Dilma um pacto tácito para enfraquecê-la durante a campanha. “Pela primeira vez em sua história PT e PSDB se unem para tentar me desconstituir como política”, disse. Marina reagia a uma provocação do tucano, que a questionou sobre o fato de ter nomeado para a sua equipe no ministério políticos do PT que haviam sido derrotados em eleições em 2002 e 2006. “Existe algo mais velho na política do que nomear para cargos públicos políticos que foram derrotados nas urnas?”, indagou o tucano. Marina procurou ainda garantir que, caso eleita, irá manter os programas sociais do governo. “Os programas sociais devem ser estendidos para alcançar a maior parte da população e que não foi alcançada. No caso do Bolsa Família, faltam quatro milhões de famílias”, disse, prometendo em seguida conceder um benefício equivalente ao décimo-terceiro salário em programas de transferência de renda. A candidata do PSB, Marina Silva, procurou confrontar tanto Dilma quanto Aécio , acusando a ambos de falta de clareza em suas posições, por não terem apresentado um programa de governo logo no início da campanha. Ao perguntar a Dilma, Marina questionou a presidente por supostamente não cumprir os compromissos assumidos durante a campanha presidencial de 2010. “Você não cumpriu seus compromissos. A corrupção foi varrida para debaixo do tapete”, disse Marina. Focada na polarização com Aécio, Dilma respondeu fazendo alusões a problemas na administração presidencial tucana, entre 1995 e 2002. E bateu pesado contra a oponente: afirmou que afastou um diretor do Ibama nomeado por Marina por desvio de recursos. “Este diretor nós investigamos e nós prendemos. E nem por isso a acusamos de envolvimento com a corrupção”, disse. “Tivemos denúncias de corrupção dentro da própria Casa Civil e a resposta que sempre foi dada foi que não se sabia”, comentou Marina, em uma referência velada ao escândalo que provocou a demissão de Erenice Guerra do ministério em 2010. 7


Falta de experiência A presidente Dilma Rousseff e a ex-senadora Marina Silva travaram um duelo durante o segundo bloco do debate. Marina questionou a falta de experiência política de Dilma, ao qual a presidente respondeu não ser necessário ter carreira política para chegar à Presidência. A independência do Banco Central foi outro tema em que as duas candidatas se confrontaram. A candidata do PSB questionou os ataques da petista contra a proposta dela, e Dilma respondeu que ela estava confundindo autonomia com independência. "Eu sugir que a senhora leia o que está escrito em seu programa", ironizou a presidente. Discussão em off No terceiro bloco, o destaque foi o embate entre Dilma e Marina, novamente sobre corrupção. A candidata do PSB perguntou por que a presidente não cumpriu suas promessas de campanha. Na resposta, Dilma disse que cumpriu todos os compromissos assumidos e mencionou medidas de combate à corrupção adotadas em seu governo. “Não varri para debaixo do tapete e não engavetei”, afirmou. Na réplica, Marina disse que Dilma não regulamentou seu projeto contra a corrupção e voltou a mencionar o caso do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato e beneficiado por um acordo de delação premiada com a Justiça. “Houve uma ‘demissão premiada’ no caso da Petrobras?”, questionou. A candidata petista respondeu citando o caso de um diretor do Ibama que teria sido nomeado por Marina em sua gestão como ministra do Meio Ambiente e que, segundo a presidente, foi demitido pelo atual governo por desvio de recursos. “E eu não saí por aí dizendo que você sabia disso”, disse a presidente. A resposta de Marina se deu já com os microfones desligados, contrariando as regras do debate, e provocou a intervenção do mediador, William Bonner. Sentadas lado a lado, as duas candidatas continuaram a discussão iniciada no púlpito. Um integrante da plateia, convidado da ex-senadora, chegou a dizer em voz alta: “Se vocês continuarem falando, vamos falar também”. Dilma e Marina já haviam trocado acusações no segundo bloco, quando a candidata do PSB criticou a falta de experiência política da adversária. “Você que defende a ‘nova política’ e vem falar isso?”, respondeu a presidente, ironizando a expressão comumente usada por Marina.

Após debate, Dilma nega ter preferido confronto com Aécio Fonte Jornal Valor Econômico Elisa Soares e Renata Batista 03/10/2014 às 02h58 RIO - A presidente Dilma Rousseff negou que tenha priorizado o embate com o candidato do PSDB, Aécio Neves. Segundo ela, as regras do debate exigem que se escolha um candidato e limitam o número de perguntas a que cada um pode responder em cada bloco. Em entrevista coletiva após o debate na TV Globo, na madrugada desta sexta-feira, no Rio, a presidente questionou, porém, o tempo fixado para a entrevista - 10 minutos para cada candidato - ao ser informada que tinha apenas um minuto para resposta por uma funcionária da TV Globo, reclamou e brincou: "daqui a pouco, vou perguntar para a minha filha, como foi o dia e ela vai dizer '30 segundos' para a resposta. Isso aqui é uma entrevista coletiva (e não um debate)". Mesmo pedindo mais tempo, a presidente acabou não retomando a resposta sobre o confronto com Aécio Neves. Também não respondeu a pergunta seguinte, sobre a proposta da candidata Marina Silva (PSB) de dar um 13ª aos beneficiários do Bolsa-Família. Antes, questionada sobre a proposta de transformar o caixa dois em crime - o que já ocorre hoje, a presidente disse: "Hoje, o caixa dois não é crime eleitoral, é crime financeiro. É nesse sentido que digo que vou transformar em crime". Além disso, a presidente citou mais duas, das quatro medidas que pretende implementar no programa de combate a corrupção: a criação de uma estrutura nos tribunais superiores para 8


julgar e investigar pessoas com foro privilegiado, e a transformação em crime de todas as ações de servidores público que resultarem em enriquecimento sem origem definida.

Após debate, Aécio afirma ter ficado mais confiante na vitória Fonte Jornal Valor Econômico Elisa Soares e Renata Batista 03/10/2014 às 02h55 RIO - O candidato a Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, disse que sai do debate mais confiante do que chegou. Em entrevista coletiva após o debate na TV Globo, no Rio, encerrado na madrugada desta sexta-feira, Aécio afirmou que está preparado para vencer e dar novo rumo ao país. Ele afirmou que o eleitor precisa olhar para quem está assessorando e apoiando os candidatos. "Temos projeto para o Brasil, e não é de continuidade do governo que nos trouxe o mais pífio crescimento, com denúncias de corrupção que não cessam nunca. Estou pronto para encerrar o ciclo do PT", disse. E afirmou que tem coragem para conduzir reforma. Aécio voltou a dizer que o PT não inspira confiança na condução econômica. E acrescentou que o partido não tem capacidade de gestão afugenta o capital privado e não permite que se avance nos indicadores sociais. As últimas pesquisas de intenção de voto mostram, segundo o presidenciável do PSDB, "possibilidade cada vez maior e concreta" de sua presença no segundo turno. O Datafolha divulgado nesta quinta-feira mostra Aécio tecnicamente empatado com Marina Silva, do PSB.

Marina e Aécio se atacam em debate na Globo Fonte Jornal Valor Econômico César Felício de São Paulo 03/10/2014 às 05h 00 No último debate antes da realização do primeiro turno no domingo, os candidatos à Presidência Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) trocaram ataques logo no primeiro bloco do encontro promovido, ontem à noite, pela Rede Globo. Conforme apontado por pesquisas Ibope e Datafolha, Marina e Aécio disputam voto a voto, na reta final, a vaga em um provável segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT), que lidera a corrida ao Planalto. A corrupção foi o primeiro tema a ser tratado no debate. Confrontada pela candidata Luciana Genro (PSOL) sobre os casos de irregularidades na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff afirmou que demitiu o ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa. "Corruptos estão em todos os lugares, eu propus leis para coibir a corrupção. As instituições é que têm que ser virtuosas", disse a presidente. O tema voltou a ser mencionado pelo tucano Aécio Neves, que, ao responder a uma pergunta do Pastor Everaldo (PSC), afirmou que Paulo Roberto não teria sido demitido, mas pediu demissão "e foi elogiado pelos seus serviços prestados", frisou. Aécio foi atacado pelo mesmo flanco pela candidata do PSB, a ex-senadora Marina Silva, que afirmou que o PSDB teria dado origem ao mensalão "com a compra de votos da reeleição", em referência à aprovação da emenda constitucional aprovada em 1997. "Me surpreende esta sua defesa do mensalão do PT, ao se referir a denúncias que nunca foram comprovadas", respondeu Aécio. Durante o debate, Marina acusou Aécio de ter estabelecido com Dilma um pacto tácito para enfraquecê-la durante a campanha. "Pela primeira vez em sua história, PT e PSDB [se unem] para tentar me desconstituir como política", disse. Marina reagia a uma provocação do tucano, que a questionou sobre o fato de ter nomeado para a sua equipe no ministério políticos do PT que haviam sido derrotados em eleições em 2002 e 2006. "Existe algo mais velho na política do que nomear para cargos públicos políticos que foram derrotados nas urnas?", indagou o tucano. 9


Marina procurou ainda garantir que, caso eleita, irá manter os programas sociais do governo. "Os programas sociais devem ser estendidos para alcançar a maior parte da população e que não foi alcançada. No caso do Bolsa Família, faltam 4 milhões de famílias", disse, prometendo em seguida conceder um benefício equivalente ao 13º salário em programas de transferência de renda. Entre os nanicos, o momento de maior tensão se deu entre Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB). O candidato do PV exigiu que Fidelix pedisse desculpas por declarações tidas como homofóbicas, feitas no debate entre os presidenciáveis na TV Record. Levy acusou Eduardo Jorge por apologia ao crime, por advogar a liberalização do aborto e da venda de maconha. "Vamos nos encontrar na Justiça. O senhor envergonhou o Brasil". "Quem envergonha é você, cara!", disse Fidelix. Em sua vez de questionar, o candidato do PRTB escolheu Luciana Genro (PSOL), com quem protagonizou a polêmica na Record. Fidelix cobrou a adversária por ter desrespeitado um suposto acordo de bastidores, pelo qual a pergunta seria sobre economia. Luciana negou tal acordo e criticou as declarações do concorrente. "O senhor apavorou, chocou o país. Fez o mesmo discurso que nazistas fizeram com os judeus, e que os racistas fazem contra os negros. Deveria ter saído algemado direto [do debate] para a prisão", afirmou.

FMI: Lagarde alerta para o risco do "novo medíocre" na economia global Fonte Jornal Valor Econômico Sergio Lamucci 02/10/2014 às 13h 33 WASHINGTON - A economia global segue fraca seis anos após o começo da crise financeira, existindo um risco de enfrentar um período considerável de baixo crescimento, advertiu nesta quinta-feira a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Segundo ela, existe a possibilidade de o mundo ficar algum tempo preso no que ela chamou de “novo medíocre”, com taxas de expansão baixas, num cenário em que os países ainda lidam com os legados da crise, como endividamento pesado e alto desemprego. Para evitar esse quadro pouco animador e atingir um “novo dinamismo”, Lagarde destacou a importância de os países enfatizarem medidas de política fiscal, reformas estruturais dos mercados de trabalho e de produtos e investimento público em infraestrutura. A política monetária já tem feito a sua parte. De modo geral, a economia global está mais fraca do que o FMI imaginava há seis meses, disse Lagarde. “Há recuperação, não me interpretem mal, mas ela é mais fraca do que esperávamos”, observou ela. “Apenas uma pequena alta é esperada para 2015, uma vez que o panorama para o crescimento potencial foi reduzido”. De acordo com ela, as perspectivas diferente bastante entre países e regiões. “De fato, esta é uma das características que mais chama a atenção na conjuntura econômica atual: depende muito de cada país”. Entre as economias avançadas, Lagarde disse que a recuperação deve ser mais forte nos Estados Unidos e no Reino Unido, devendo ser modesta no Japão e mais fraca na zona do euro – e, dentro da união monetária, europeia, há disparidades. Emergentes A diretora-gerente do FMI lembrou que os mercados emergentes e os países em desenvolvimento têm arcado com grande parte da expansão global “durante esta crise”, respondendo por mais de 80% do crescimento mundial desde 2008. “Liderado pela Ásia, em especial pela China, nós esperamos que eles continuem a liderar a atividade global. Para eles também, no entanto, deve ser a um ritmo mais lento do que antes. Um dos problemas que podem nublar o cenário é o risco de baixo crescimento por um longo tempo. “Se as pessoas esperam que o crescimento potencial seja mais baixo amanhã, elas vão reduzir o investimento e o consumo hoje. Essa dinâmica pode afetar seriamente a retomada, 10


especialmente em economias avançadas que também enfrentam desemprego elevada e inflação baixa. É o caso da zona do euro”. Outra nuvem, segundo ela, é a financeira. “Há preocupação de que excessos no setor financeiro estejam se formando, especialmente nos países desenvolvidos. As avaliações de ativos estão nas máximas; spreads e volatilidade estão nas mínimas históricas.” Ela também destacou a importância de se ficar atento ao sistema bancário paralelo (“shadow banking”, em inglês), que assume grandes proporções em vários países do mundo. Ele é consideravelmente maior que o sistema bancário tradicional nos EUA, por exemplo. Na China, equivale a algo como 25% a 35% do PIB, sendo o quinto maior do mundo. Há também a questão da normalização da política monetária não sincronizada nas economias avançadas, com o impacto potencial sobre outros países, tanto por meio do efeito dos juros quanto das variações das taxas de câmbio. Riscos geopolíticos Lagarde ressaltou também os riscos geopolíticos. Uma piora da situação na Ucrânia pode afetar preços de commodities, mercados financeiros e o comércio. Além disso, há preocupações quanto ao que se passa no Oriente Médio e em algumas partes da Ásia, além do risco de uma expansão do surto de ebola na África. Nesse cenário, as autoridades precisam tomar medidas para responder aos desafios atuais. “Tenham objetivos mais altos, tentem com mais força, e façam isso juntos”, disse Lagarde, observando que os principais bancos centrais do mundo – dos EUA, da zona do euro, do Japão, do Reino Unido – têm feito muito. “Mas a política monetária não é suficiente”, afirmou ela, lembrando que o uso extremamente prolongado de estímulos monetários pode causar excessos financeiros. É importante usar políticas macroprudenciais, por exemplo, com os países emergentes tomando medidas para prevenir eventuais excessos e proteger a estabilidade do sistema financeiro. Para ela, é fundamental desenhar políticas fiscais que sejam favoráveis ao crescimento e ao emprego. Lagarde lembrou o ritmo de consolidação e composição de medidas fiscais devem apoiar a atividade econômica na medida do possível. “É claro, o timing específico e escopo para flexibilidade deve ser sintonizado às circunstâncias de cada país”. Segundo ela, medidas fiscais bem definidas podem contribuir também, como as reformas para enfrentar evasão fiscal, apoio para gastos públicos mais eficiente e redução da carga tributária sobre o trabalho. Além disso, ela citou reformas dos subsídios de energia, que costumam beneficiar os mais ricos, e não os mais pobres. Abertura comercial Lagarde também destacou a importância de abertura dos mercados de produtos e serviços, que podem reforçar os ganhos das reformas do mercado de trabalho. “Um exemplo é que em muitas profissões, de advogados a motoristas de táxi, são fechados à competição em muitos países”. Ela elogiou os esforços de Japão e Coreia do Sul para aumentar a participação das mulheres no mercado de trabalho. Ela enfatizou ainda que o investimento público em infraestrutura pode ajudar, assim como o privado. O FMI estima que, em 2013, o PIB dos países do G-20 ficou 8% abaixo da tendência que seria esperada se não houvesse o impacto da crise. No caso do investimento, é muito pior – ele está quase 20% inferior à tendência, disse Lagarde. Ela notou que os gastos em infraestrutura são um imperativo em muitos países, onde gargalos e obstáculos ao transporte e à oferta de energia abundam e afetam o desenvolvimento. Na semana que vem, o FMI revisará as suas estimativas para o crescimento da economia global, na reunião anual realizada em conjunto com o Banco Mundial. Na semana anterior ao encontro, Lagarde costuma fazer um discurso como o de hoje, em que antecipa alguns dos principais assuntos que serão tratados pela instituição.

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Em compasso de espera Fonte Jornal Valor Econômico Beatriz Cutait de São Paulo 02/10/2014 às 05h 00 A ansiedade toma conta do eleitor brasileiro, que neste mês saberá quem vai governar o país nos próximos quatro anos. Essa expectativa já tem sido sentida "na pele" pelo mercado financeiro e tende a acentuar ainda mais a volatilidade da bolsa em outubro. Nas últimas semanas, o ritmo de divulgação de novas pesquisas de intenção de voto se acelerou e investidores têm descontado de maneira irracional nos preços de ativos, seja para cima ou para baixo. Em agosto e setembro, o nervosismo ficou explícito ao levar o Ibovespa a subir 9,8% em um mês e a cair 11,7% no seguinte. Esse ambiente de incertezas domésticas, somado à forte valorização do dólar, preocupações com um aumento de juros nos Estados Unidos mais cedo que o previsto, desaceleração chinesa e consequente impacto sobre os preços das commodities, leva corretoras a adotarem uma postura ainda mais defensiva em outubro. A Carteira Valor do mês tem a entrada de três ações, que já figuraram no portfólio em diferentes momentos do ano: Cielo ON, com quatro indicações, e Kroton ON e Suzano PNA, com dois votos cada. Única estatal presente, Petrobras PN tem a liderança das recomendações ao lado de BB Seguridade ON, com cinco apostas. Itaú Unibanco PN, BRF ON e Estácio Participações ON receberam quatro recomendações, seguidas por Bradesco PN, com três votos, e Vale PNA, com dois. Na mesma toada da bolsa, a Carteira Valor registrou queda em setembro de 14,34% e tem leve baixa de 0,35% no ano. O chefe de análise da Planner Corretora, Mario Mariante, espera um mês nervoso por conta da disputa presidencial e preferiu seguir fora de papéis do chamado "kit eleição". "Na terceira semana ainda começam a sair os resultados do terceiro trimestre, então preferimos ter uma carteira bem defensiva", afirma. A safra de balanços deve começar no dia 14. Dentre as escolhas da Planner, destacam-se as ações da Cielo, que caíram cerca de 3% em setembro, mas ainda sobem 26,2% no ano. Mariante segue confiante na rentabilidade do mercado de cartões e tem na companhia uma aposta focada no médio e longo prazo. O BB Investimentos inseriu as ações da Cielo no portfólio de outubro por considerar que, em momentos de grande volatilidade na bolsa, os papéis de empresas de serviços financeiros se apresentam como ações defensivas. A casa espera que o setor siga apresentando taxas de crescimento acima de dois dígitos nos próximos anos. Em educação, Kroton voltou a amargar baixa em setembro, de 8,25%, mas avança nada menos que 62,5% em 2014. A Votorantim Corretora manteve a indicação dos papéis. A instituição vê a companhia como a principal consolidadora do setor, orientada por uma forte dinâmica operacional, com maior rentabilidade e excelente execução de gestão nas aquisições. A fusão com a Anhanguera é vista como muito positiva e a Votorantim ainda ressalta que as ações da Kroton seguem em um grande momento. Também na seleção das novatas, os papéis da Suzano se diferenciam na Carteira Valor por terem sido os únicos com alta em setembro, de 10,4%. Além de ver a empresa de papel e celulose como um nome defensivo contra a fraca atividade interna, a Ativa Corretora assinala que a Suzano é amplamente beneficiada pelo cenário de depreciação cambial, uma vez que eleva suas receitas, e ainda enxerga um possível aumento do preço da celulose no horizonte, com os recentes fechamentos de plantas de produção.

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Acordo do algodão é histórico, diz Azevêdo Fonte Jornal Valor Econômico Assis Moreira e Cristiano Zaia de Genebra e Brasília 03/10/2014 às 05h 00 O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, considerou histórico o acordo do algodão entre o Brasil e os Estados Unidos, que encerrou uma disputa iniciada em 2002 por ele quando era diretor da Divisão de Contenciosos do Itamaraty. "Fiquei satisfeito que as duas partes chegaram a esse acordo, porque mesmo quando o caso chega à etapa de disputa (na OMC), o objetivo final é sempre de encontrar um entendimento mutuamente satisfatório", afirmou Azêvedo ao Valor. "A retaliação não tem vencedores", acrescentou. Para ele, trata-se de um entendimento histórico pelo valor financeiro obtido pelo Brasil e pela importância do tema para os produtores de algodão dos dois países. Indagado se o fato de o Brasil aceitar a compensação de US$ 300 milhões poderia enfraquecer a luta contra subsídios agrícolas, Azêvedo afirmou: "Eu tenho certeza que os dois lados examinaram todos os aspectos do caso com muito cuidado e estão satisfeitos com o equilíbrio alcançado". O acordo, que definiu um pagamento único de US$ 300 milhões ao Brasil, teoricamente põe fim a um contencioso que se arrastava desde 2002 na OMC, quando o governo brasileiro contestou os subsídios americanos ao algodão. Um primeiro acordo, de 2009, determinou que os EUA pagassem US$ 830 milhões ao Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), criado para gerir os recursos. No fim do ano passado, os pagamentos que eram mensais foram atrasados em função da aprovação da nova Farm Bill pelo Congresso americano. Ontem, o governo brasileiro reafirmou que, se necessário, pode abrir um contencioso contra a nova lei agrícola americana para outras culturas, com exceção do algodão. Em entrevista, o ministro da Agricultura, Neri Geller, disse que o acordo assinado na quarta com os EUA para encerrar o contencioso do algodão, não exclui a possibilidade de o Brasil abrir outros painéis na OMC em outras culturas, caso necessário. "Vamos ficar quatro anos sem questionar os EUA no caso do algodão, mas podemos questionar outras culturas", disse Geller. O ministro acrescentou, contudo, que não há nenhum ponto da nova lei agrícola americana que signifique no momento prejuízo para agricultores de algodão ou de outras cultivares brasileiras.

Atividade de serviços no Brasil avança em setembro Fonte Jornal Valor Econômico 03/10/2014 às 10h 33 SÃO PAULO - A atividade do setor de serviços voltou a se expandir em setembro, após queda em agosto, de acordo com o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo HSBC e divulgado pela consultoria. O indicador saiu de 49,2 em agosto, o menor nível em dois anos, para 51,2 um mês depois. Leituras acima de 50 indicam expansão da atividade. O indicador de serviços é calculado com base em dados como vendas, emprego, estoques e preços, de mais de 350 empresas do setor. Em setembro, o aumento da atividade dos serviços foi atribuído ao período eleitoral. O segmento de hotéis e restaurantes teve o melhor resultado entre as seis categorias da pesquisa. A única redução foi registrada em atividades relacionadas a alugueis e negócios. As novas encomendas continuaram a se expandir em setembro pelo 25º mês consecutivo, e à maior taxa em seis meses. Esse resultado contrasta com o da indústria, cujo indicador 13


identificou queda de novas encomendas em setembro. O emprego continuou estável no setor de serviços no mês passado, segundo a pesquisa do HSBC. Os custos dos insumos continuaram a aumentar no setor, continuando a tendência que tem sido observada em todos os meses desde o início da pesquisa, em março de 2007, diz a instituição. Porém, a taxa de inflação de custos se desacelerou. Na indústria, por sua vez, os preços de insumos diminuíram pela primeira vez desde agosto de 2009. Os aumentos de custos enfrentados pelo setor de serviços foram repassados aos consumidores por meio de preços mais elevado em setembro, o que ocorreu pelo 58º mês consecutivo. Porém, a pressão inflacionária se atenuou. Apesar de ter melhorado em relação ao mês anterior, o otimismo em relação aos negócios permaneceu frágil em setembro. Onde houve uma sinalização de otimismo, as evidências indicaram as expectativas de obtenção de novos clientes como o fator principal por trás das previsões positivas.

Confiança cai em setembro e comércio prevê o pior ano em vendas desde 2003 Fonte Jornal Valor Econômico Alessandra Saraiva do Rio 03/10/2014 às 05h 00 Um cenário composto por juro alto, menos dias úteis e repiques de inflação, embora concentrados no primeiro semestre, levará o comércio brasileiro ao seu pior ano em vendas desde 2003. A previsão é de Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A CNC informou ontem que o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) caiu 0,7% em setembro, após subir 2% em agosto. Depois de o indicador registrar resultados ruins nos primeiros meses do ano, a entidade não espera forte recuperação no segundo semestre. Ao comentar os dados, Bentes afirmou que a entidade manteve sua projeção de crescimento de 3,7% para o volume de vendas do comércio varejista restrito este ano - uma elevação que, se confirmada, seria o resultado mais desfavorável desde 2003 (-3,7%). Ele, no entanto, não descarta nova revisão para baixo na previsão da CNC. "Tudo vai depender da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de agosto, que deve sair em dez dias", explicou Bentes. Ele informou que, se a PMC, a ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrar deterioração nas vendas do comércio naquele mês, a CNC deve revisar para baixo a projeção. Caso haja sinais de melhora, a estimativa da confederação pode ser revisada para cima. Qualquer melhora, no entanto, será tênue. "O que está cada vez mais claro é que teremos neste ano o pior resultado para o comércio desde 2003", disse. O técnico destacou que, desde fevereiro, o comércio varejista restrito não registra saldo positivo no volume de vendas, no âmbito da PMC. Na prática, a confiança do empresário do comércio reflete esse desempenho, avaliou o economista. Em setembro, a CNC apurou piora principalmente nas avaliações dos empresários sobre o momento presente. Nos três tópicos usados para cálculo do índice, houve recuos no indicador de investimentos, de 0,9% em comparação com agosto; e de 7,1% em relação a setembro do ano passado. Caiu de forma mais intensa, no entanto, o indicador que mede o sentimento do empresário em relação às condições atuais: queda de 4,7% em comparação com agosto deste ano e de 17% em relação a setembro do ano passado. Na pesquisa, 62,4% dos empresários entrevistados consideram que as condições do setor estão piores do que há um ano. Na opinião de 28,9% deles, houve piora acentuada nos últimos 12 meses até setembro. Com isso, a avaliação das condições atuais do setor atingiu o mais baixo patamar desde o início da pesquisa em 2011. 14


Para Bentes, a confiança deve entrar em trajetória de elevações e quedas intercaladas até o fim do ano. Ele não acredita em nova sequência de quedas consecutivas no indicador - que acumulou dez baixas consecutivas até o aumento registrado em agosto, porque o segundo semestre conta com maior numero de dias úteis, em comparação com o primeiro semestre, o que deve ajudar os ganhos do empresário do comércio e melhorar os níveis de confiança do setor, diz o economista.

BNDES 'vive' sem Tesouro, sugere estudo Fonte Jornal Valor Econômico Denise Neumann de São Paulo 03/10/2014 às 05h 00 Mesmo com o fim dos aportes do Tesouro Nacional, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderia sustentar um nível de desembolsos anuais próximo a R$ 150 bilhões. Esses recursos seriam bancados, principalmente, com o retorno das atuais operações de empréstimo do banco, item hoje responsável por 77% dos recursos liberados pela instituição. Com base nesses dados, o economista Felipe Salto, especialista em finanças públicas da Tendências Consultoria, defende que é possível acabar com os repasses do Tesouro Nacional à instituição, política que tem provocado um crescente custo fiscal. Para Salto, a questão que se coloca hoje não é da importância do BNDES, mas do foco de sua atuação (quais setores), da transparência, das fonte de recursos e do tamanho do banco em uma economia como a brasileira. Salto é um crítico do custo fiscal (e da pouca transparência) envolvido nos repasses do Tesouro à instituição. Desde 2008, os repasses acumulados somam R$ 410,8 bilhões. Esses valores geram duas despesas ao governo. Primeiro, um subsídio dado pela diferença entre o custo pelo qual o Tesouro emite dívida para bancar os repasses e a remuneração que ele recebe do BNDES, dada pela taxa de juros de longo prazo, a TJLP; segundo, pela equalização (também bancada pelo Tesouro) relativa à diferença entre o juro pelo qual o BNDES devolve os recursos ao Tesouro (TJLP) e o juro cobrado nos empréstimos subsidiados (4%). Em 2014, pelas contas de Salto, a soma dessas duas despesas representará uma despesa fiscal R$ 28,8 bilhões. Mesmo que o governo não faça novos repasses ao BNDES, os aportes do passado vão gerar despesa para os próximos anos. Salto, em um estudo para a Tendências, fez dois cenários alternativos em função das eleições presidenciais. Eles consideram o fim dos repasses (vitória da oposição) ou sua manutenção ainda que em menor escala (situação), diferentes evoluções de taxa de juros, tanto da TJLP como da Selic (menor diferencial no caso da oposição, maior diferença se a situação vencer), e reversão do acordo entre BNDES e Tesouro para ampliar os prazos de pagamento do estoque da dívida. Se a oposição for vitoriosa e cessar a política de repasses e esse acordo for revogado, os custos anuais para o Tesouro seriam gradativamente reduzidos e poderiam alcançar R$ 18 bilhões em 2008. No caso de vitória da situação, e mesmo considerando aportes bem menores (R$ 20 bilhões em 2015, R$ 15 bilhões em 2016, R$ 10 bilhões em 2015 e R$ 5 bilhões em 2018) o custo seria crescente até 2016 e então oscilaria em torno de R$ 30 bilhões anuais. Essa despesa mensal cresceria ainda mais - R$ 10 a 12 bilhões anuais -, se a negociação feita em setembro, que adia os pagamentos, não for revertida. Para Salto, o peso do retorno das operações no funding do BNDES sugere que uma eventual operação de "desmame" pode ocorrer de maneira mais rápida do que se imagina e sem muito prejuízo para os projetos nos quais o papel da instituição é realmente fundamental. Entre essas áreas, ele cita a infraestrutura. Para o economista, também professor de macroeconomia dos cursos de especialização da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, no rearranjo de foco da instituição, setores de comércio e varejo - cuja participação nos desembolsos passou de 12% para 27% entre 2007 e 2013 - são candidatos a cederem espaço para projetos de 15


infraestrutura, onde, ao contrário, os empréstimos recuaram de 40% para 32,7% do total na mesma comparação. O BNDES, procurado, respondeu ao Valor por meio de uma nota da assessoria de imprensa. Nela, a instituição pondera que, mesmo sem ter acesso ao estudo de Salto, considera que é "simplista utilizar a cifra de 77% (peso do retorno das operações no fluxo de caixa do BNDES em 2013) para estimar a capacidade de desembolso futuro do banco." De acordo com a instituição, o retorno das operações é "utilizado não apenas para os desembolsos, mas para outras finalidades, como pagamentos de obrigações, como tributos e serviço das dívidas com o Tesouro e FAT etc." Além disso, o BNDES pondera que o perfil da carteira de crédito do BNDES tende a reduzir esse retorno, no futuro, porque está mais concentrada em financiamentos de longo prazo, sobretudo na infraestrutura. Ainda na nota, o BNDES usa o retorno de 77% como um argumento de que a instituição "tem gerido seus recursos de maneira eficiente" e pondera que "o BNDES também tem trabalhado junto a atores do sistema financeiro e do mercado de capitais para fomentar o aumento do peso de outras fontes no financiamento de longo prazo", situação que ajudará o país a continuar recebendo investimentos "sem que o peso de financiá-los recaia excessivamente sobre o BNDES." Salto defende o fim dos repasses e uma maior transparência nas políticas de concessão de empréstimos, com foco em infraestrutura, pelo impacto sócio-econômico disseminado que essa área garante. A pressão fiscal embutida nos repasses subsidiados, argumenta ele, prejudica a sociedade porque provoca aumento da dívida, da inflação e acaba exigindo aumento da carga tributária.

Governo quer ampliar acordos de comércio com países mais próximos Fonte Jornal Valor Econômico Thiago Resende de Brasília 03/10/2014 às 05h 00 Para aproveitar melhor o potencial de mercados na América Latina, o governo também vai negociar acordos com a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru) para facilitar o intercâmbio de serviços e investimentos. Esse será um dos temas de uma reunião entre o bloco e o Mercosul, do qual o Brasil faz parte, prevista ainda para este ano, afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Daniel Godinho, ao Valor. O governo está mirando em uma "ampliação temática" dos acordos internacionais com esses mercados que estão territorialmente mais próximos e, assim, ter um efeito mais generalizado nas exportações brasileiras. Mesmo conversas que beneficiam apenas determinados setores, como é o caso de um acordo automotivo - bastante desejado pelos empresários - entre o Brasil e a Colômbia, ocorrem dentro dessa discussão mais ampla. "Hoje não podemos falar só em acordos para bens e mercadorias, pois temos que tratar também de [fomento a] investimentos e serviços, por exemplo. [...] Automóveis é um setor importante. Queremos aumentar as exportações [de carros] e em todos os demais setores. Não há, nesse momento, nenhuma negociação específica, setorial", disse Godinho. Um acordo para melhorar as condições para empreendimentos e prestação de serviços com a Aliança do Pacífico é mais uma ação do governo para fortalecer a integração com países latinoamericanos. Desde o ano passado, o Brasil quer antecipar a redução a zero de tarifas de comércio com nações andinas, como Colômbia, Peru, Equador e Bolívia, o que está previsto para acontecer até 2019. O cronograma de corte nas alíquotas de imposto de importação nas transações comerciais está em acordos assinados entre o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela) e diversos países andinos. As negociações para antecipar esses prazos avançaram há cerca de um mês com a ida de uma comitiva brasileira ao Peru e à Colômbia. Segundo o secretário, os 16


dois vizinhos "aceitaram bem" a ideia, mas ele não quis prever se já haverá um acordo em relação a esse tema na reunião entre os dois blocos econômicos neste ano. Godinho disse também que o fim de tarifas comerciais entre o Brasil, o Peru e a Colômbia favoreceria especialmente as vendas brasileiras de produtos industrializados. "Os dois países são, sobretudo, mercados importantes para exportações de manufaturados, mas o setor agrícola também seria beneficiado", completou. De janeiro a setembro, os embarques de produtos brasileiros para o Mercosul caíram 12,7% em relação a igual período do ano passado. Se considerar apenas as exportações para a Argentina, a queda é de 25,7%, principalmente por causa do ramo automotivo. Por outro lado, as vendas de mercadorias para a América Latina e Caribe, exceto os países do Mercosul, apresentaram um leve aumento de 0,3% na mesma comparação. De acordo com o secretário, o governo tem interesse em "recuperar o comércio com a Argentina, que atualmente está em retração por questões de conjuntura" e, ao mesmo tempo, estreitar os laços com outros países da América Latina que podem ser destino de produtos nacionais.

Ministério rebate críticas do TCU ao plano de renovação de concessões Fonte Jornal Valor Econômico Rafael Bitencourt de Brasília 03/10/2014 às 05h00 O governo mobilizou os técnicos do Ministério de Minas e Energia para responder às críticas do Tribunal de Contas da União (TCU) ao plano de renovação antecipada das concessões do setor elétrico, anunciado em 2012. O secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann, disse ontem que se não fosse a renovação antecipada das concessões, o consumidor teria uma alta de custo em energia da ordem de 90% a 100%. Na quarta-feira, o ministro do TCU José Jorge classificou de "assombroso" o custo de R$ 61 bilhões decorrentes da Medida Provisória 579 de 2012, que viabilizou o corte médio de 20% das contas de luz. Segundo relatório do tribunal, a iniciativa também propiciou o fim autonomia do setor, tornando-o "dependente do Tesouro". O plano de renovação das concessões do setor elétrico foi apresentado pela presidente Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e televisão. Os questionamentos ao programa, segundo o TCU, foram enviados ao ministério. Zimmermann, no entanto, assegurou que o relatório sequer chegou "formalmente". Segundo o secretário, o plano garantiu cerca de 10 mil megawatts (MW) médios de energia mais barata, com redução do patamar de R$ 100 por megawatt-hora (MWh) para R$ 30/MWh. "A medida baixou a tarifa estruturalmente e diminuiu impacto da alta de custo decorrente da falta de chuvas", afirmou. Zimmermann ressaltou que os problemas enfrentados com a baixa no nível dos reservatórios das hidrelétricas, por falta de chuvas, seriam ainda mais graves se não fossem as medidas do governo. Segundo o secretário, a energia das usinas que aderiram ao plano passou a ser entregue em sua totalidade às distribuidoras a um preço mais baixo. Caso contrário, disse, seria oferecida ao mercado à vista (spot) a preços elevados. "Dos 14 mil MW médios que venceram ou iriam vencer, cerca de 10 mil MW médios aderiram", disse Zimmermann. O secretário falou também sobre a decisão do ministério de cancelar o leilão de energia existente - de usinas já em operação -, que ocorreria em novembro de 2012. Para o tribunal, o cancelamento do certame na época contribuiu para que as distribuidoras ficassem expostas à compra de energia no mercado spot. Zimmermann afirmou que na época o cenário de chuvas dos meses seguintes era desfavorável à contratos com períodos mais longos.

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O assunto dominou a entrevista marcada para apresentar o conjunto de ações que serão adotadas para garantir a segurança do abastecimento de energia neste fim de semana de eleição.

Riqueza na Europa supera patamar anterior à crise, diz estudo Fonte Jornal Valor Econômico Assis Moreira 03/10/2014 às 09h 09 GENEBRA - Os europeus estão mais ricos do que antes da pior crise econômica dos últimos tempos, com fortuna de 56 trilhões de euros no fim de 2013 ante 54,5 bilhões de euros em 2007. É o que mostra estudo do banco suíço Julius Baer sobre a evolução da riqueza na Europa, em um cenário em que a região continua se arrastando na tentativa de sair da recessão. A alta de 1,7% na fortuna privada europeia no ano passado representa um nível recorde. A riqueza cresce mais rapidamente do que a economia. Para o banco suíço, enquanto o retorno do capital exceder as taxas de crescimento econômico na Europa, as famílias europeias com capital vão continuar expandindo suas fortunas. A recuperação excepcional da bolsa desde 2009 e o bom desempenho do setor imobiliário permitiram a forte alta da fortuna. Mas a evolução da riqueza entre os países europeus desde a crise financeira de 2007 difere substancialmente. De um lado, a criação de riqueza na Alemanha foi de 2 trilhões de euros e na Suíça, de 1 trilhão de euros. Por outro, com a queda do PIB, baixa de salários e o colapso nos preços de ativos, a riqueza das famílias na Espanha caiu 28% e na Grécia, 23%. A destruição de riqueza foi de 1,4 trilhão de euros na Espanha desde 2007 e na Grécia, de 170 bilhões de euros. Em Portugal, houve criação de riqueza de 22 bilhões de euros no período. O banco suíço mostra que Alemanha, Reino Unido, França e Itália acumulam 40 trilhões de euros de riqueza regional, representando dois terços da fortuna total da região. Há mais milionários na Europa, sobretudo nesses quatro países. A Alemanha tem 1,4 milhão de famílias milionárias, seguido por 1,3 milhão na França, 818 mil na Itália e 796 mil no Reino Unido. A renda média na Europa varia fortemente. A fortuna média de um europeu é de 167 mil euros, mas vai de 432 mil euros em Luxemburgo a 33,3 mil euros na Eslováquia. Conforme o estudo, a distribuição da riqueza mostra concentração de metade da fortuna europeia nas mãos de 10% das famílias. Essa concentração é maior na Áustria e na Alemanha, com 40% e 35% da fortuna total nas mãos dos 1% mais ricos. Já Reino Unido, Grécia e Holanda tem a menor concentração, com 15% ou menos da riqueza detida pela fatia de 1% mais ricos.

Dólar se fortalece e mercados começam a corrigir rumos Fonte Jornal Valor Econômico 03/10/2014 às 05h 00 A arrancada do dólar diante do euro, iene e das moedas dos países emergentes é embalada pela lógica da iminência da normalização monetária americana. Mas a economia mundial tem sido regida por acordes dissonantes - Europa e Japão vão no caminho oposto. A Europa deve buscar mais US$ 1 trilhão em estímulos e o Japão segue com seu acelerado programa para reerguer a economia e produzir inflação. Esses movimentos contraditórios podem limitar o potencial de valorização do dólar frente às moedas emergentes e suavizar temporariamente os efeitos de uma alta dos juros nos EUA. 18


O potencial de valorização do dólar depende também da capacidade de os EUA puxarem o crescimento da economia mundial, tarefa para a qual hoje não encontra muitos parceiros. O pulso recente da indústria de economias importantes revelou fraqueza preocupante. Enquanto que o indicador (PMI) para a China registrou estabilidade, o do Reino Unido indicou o menor ritmo em 17 meses, o da Índia o menor em 9 meses e o da zona do euro, o menor em 14 meses. O fôlego da recuperação europeia se perdeu e até a Alemanha foi atingida, com um recuo das atividades industriais que não se via há 15 meses. O Fundo Monetário Internacional vai rebaixar suas projeções de crescimento global e a diretora-gerente, Christine Lagarde, advertiu ontem que um período de atividade medíocre cobre de sombras o futuro. Empurrados pelo dólar forte e pela flacidez da economia global, os preços das commodities estão em baixa. A cotação do petróleo caiu ontem para US$ 92,44 o barril (tipo Brent), a menor em 28 meses. Economias emergentes importantes, como as do Brasil e Rússia, ainda estão desacelerando. A China, que sustenta ainda taxa vibrante de expansão, perto de 7,5% - mas bem menor do que a de antes da crise de 2008 - é, de todo modo, incapaz de dar um estímulo adicional à economia global. Assim, pelo lado da economia real, o impulso externo à recuperação americana tende a ser nulo, dado o ritmo claudicante do comércio internacional, reforçado pela valorização do dólar. Além disso, dólar forte e commodities em baixa têm impacto deflacionário que não pode ser desprezado quando o Fed caminha para elevar juros. O núcleo do índice de gastos pessoais de consumo, observado de perto pelo Fed, caiu em agosto para 1,47% e recua desde maio. Os mercados financeiros exibem há algum tempo um otimismo não traduzido pelos fundamentos econômicos. Os preços dos ativos estão superavaliados e o dos riscos, claramente subavaliados. Com as quedas recentes nas bolsas nos países desenvolvidos, uma correção de rumos parece ter se iniciado. Recuos recentes dos rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos e dos Bunds alemães revelam nova busca por refúgio e prenunciam nova onda de reavaliação dos ativos, que poderá ou não ser turbulenta. Como há movimentos em direções opostas da política monetária nos países desenvolvidos, as consequências da gradual retirada de liquidez nos EUA para os países emergentes podem ser amortecidas. A valorização do dólar é confrontada pelo fluxo de recursos em direção - e não em fuga -das economias emergentes. A estimativa do Instituto de Finanças Internacional, que reúne os maiores bancos internacionais, sobre esse fluxo aumentou em 2014 para US$ 1,16 trilhão, cifra que deverá se manter em 2015. Nela estão incluídos investimentos diretos e em portfólio. Tomando como exemplo o Brasil, nota-se que os investimentos externos diretos mostraram grande estabilidade desde 2009, na casa dos US$ 60 bilhões anuais mesmo agora, com a economia em retração. Os investimentos especulativos ou de curto prazo continuam sendo atraídos pelos retornos altos obtidos, apesar da volatilidade cambial recente desestimular operações de arbitragem como o "carry trade". E a valorização do dólar não refletiu fluxos líquidos negativos de divisas - até o fim de setembro há ingresso líquido de dólares. É certo que há o risco de tudo desandar se o ciclo de alta de juros nos EUA for mais rápido ou intenso que o esperado, probabilidade nada desprezível. Mas o fato da recuperação global ser muito lenta e de a maior parte dos países ter hoje menor capacidade de crescimento potencial que antes da crise de 2008 sugere que há chances de a liquidez global continuar suficientemente folgada por muito mais tempo do que se imagina.

A nova inflexão da economia Fonte Jornal Valor Econômico Armando Castelar Pinheiro 03/10/2014 às 05h 00 Desde 1998 não se via numa eleição candidatos com propostas econômicas tão distintas. Isso é relevante em qualquer eleição, mas ainda mais importante atualmente, pois a economia brasileira vai passar por uma inflexão durante o próximo mandato presidencial. 19


Me explico. Nos últimos nove anos e meio, a taxa de consumo aumentou em média 0,66% do PIB ao ano, enquanto a formação bruta de capital teve alta média anual de 0,03% do PIB. A contrapartida foi uma queda das exportações líquidas de 0,68% do PIB ao ano. Essa dinâmica é insustentável. A história brasileira é marcada por ciclos de alta e queda da taxa de consumo, associadas em geral a mudanças nas condições de financiamento externo. Picos anteriores de alta ocorreram em 1952, 1974 e 1997; pontos de baixa em 1965, 1984 e 2004. O investimento acompanha esses ciclos, com variações ainda mais pronunciadas, ainda que com defasagem. Para padrões históricos, nossa atual necessidade de financiamento externo está elevada, por conta de uma taxa de consumo que está próxima ao pico atingido em episódios anteriores de inflexão. Nos 12 meses até junho de 2014, o consumo respondeu por 85,3% do PIB, 0,5% do PIB a mais do que em 1997, com destaque para o consumo da administração pública, que subiu 2,2% do PIB nesse período. O investimento, por sua vez, já iniciou um processo de ajuste, com queda de 1,8% do PIB desde o seu pico em 2010. Ainda assim, está 0,3% do PIB acima do registrado em 1997. No todo, o último dado disponível das contas nacionais mostra consumo e investimento somando 103,0% do PIB, contra 102,2% do PIB em 1997. A situação foi aliviada pela queda recente dos estoques (0,3% do PIB), mas ainda assim nossa necessidade de financiamento externo, que segue aumentando, já supera em 0,4% do PIB a observada em 1997. Em 1952 e 1997, a expansão no consumo se deu após altas nos nossos termos de troca. O mesmo ocorreu com a recente elevação do consumo. Por outro lado, os programas de redução da demanda doméstica tiveram seu auge após uma queda nos termos de troca, como em 1965, 1984 e 2004. Isso magnificou a necessidade de redução da demanda doméstica. Tudo indica que esse padrão irá se repetir. Nossos termos de troca estão em queda desde 2012 e devem continuar caindo, pois o quadro externo está ficando menos favorável ao Brasil. De um lado, pelo menor crescimento chinês, reduzindo a demanda por commodities. De outro, pois a farta liquidez internacional começa a ser enxugada, aumentando a volatilidade e reduzindo o preço de ativos em países mais vulneráveis. A menor liquidez e a valorização do dólar também vão pressionar para baixo o preço das commodities. Tudo isso afeta o Brasil diretamente, mas também via menores importações de manufaturados de países latino americanos. Assim, é fácil perceber que em breve será necessário reduzir a taxa de consumo. Como em outros momentos de nossa história, a queda nos termos de troca aumentará o ajuste necessário. Governo e oposição têm diagnósticos distintos sobre o atual quadro de estagflação com déficit externo elevado; portanto, também têm propostas distintas para combatê-lo. A oposição credita nossos problemas aos erros de política econômica; o governo os atribui à economia internacional e à falta de crédito ao consumo, como bem exposto na última coluna de Claudia Safatle (www.bit.ly/1wNb6HE). A oposição defende um forte ajuste econômico; o governo não vê necessidade de mudanças e acredita que as coisas se acertarão sozinhas, conforme as economias desenvolvidas voltem a crescer. A proposta das oposições é reduzir a taxa de consumo acelerando o crescimento do PIB e limitando o do consumo, especialmente o da administração pública. Isso permitiria aumentar a taxa de investimento sem ampliar a necessidade de financiamento externo. Para chegar lá propõe um choque de oferta, focado em melhorar os fundamentos macroeconômicos e o ambiente de negócios, o que estimularia o investimento e o aumento de produtividade. O desafio é aprimorar o ajuste desse tipo feito em 1998-2004, quando o consumo total cresceu em média 1,6% ao ano, menos que os 2,2% de alta anual do PIB. Ao contrário de alguns colegas, que apostam que a política econômica será substancialmente mudada em caso de reeleição, eu acredito na presidente, quando esta nega essas alterações (www.bit.ly/1lBOti1). O risco é que mais quatro anos de Nova Matriz Econômica produzam resultados iguais aos dos últimos anos, em especial baixo crescimento. Nesse cenário, a história ensina que o ajuste será feito pelo mercado: o Brasil perde o grau de investimento em 20


2016, o câmbio se desvaloriza, os juros sobem, o crédito contrai, aumenta o desemprego e o consumo privado cai mais que o PIB, reduzindo a necessidade de financiamento externo. Nos dois cenários, um menor crescimento do consumo vai ser impopular e pode gerar turbulências sociais. Saber administrar esse processo será essencial para garantir uma transição menos custosa.

O visionário estímulo chinês Fonte Jornal Valor Econômico Zhang Jun 03/10/2014 às 05h00 Em março do ano passado, a primeira sessão do 12º Congresso Nacional do Povo da China começou com a exposição, pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, de seu décimo e último "relatório sobre o trabalho do governo". Quando Wen terminou, os três mil representantes presentes o ovacionaram estrondosamente, numa resposta não só ao relatório, mas uma prova de louvor e respeito por suas realizações como chefe do governo da China. A partir de então, porém, a avaliação da liderança de Wen - particularmente sua condução da economia - tem variado amplamente. Embora seus correligionários continuem afirmando enfaticamente que ele, basicamente, alavancou uma mudança rumo à democracia e a uma economia de mercado na China, seus antagonistas o criticam por não ter cumprido suas promessas de reformas políticas e econômicas. Num momento em que o sucessor de Wen, Li Keqiang tenta engendrar reformas sistêmicas profundas, um esforço para compreender as decisões políticas de Wen não poderia ser mais pertinente. A política econômica mais controvertida de Wen foi o pacote de estímulo de 4 trilhões de ienes (US$ 586 bilhões) que o governo implementou em resposta à crise financeira de 2008. Apesar de essa política ter obtido êxito em dar sustentação ao crescimento econômico da China, foi amplamente criticada como sendo uma resposta exagerada - uma reação que produziu uma expansão monetária excessiva. De fato, o surto de empréstimos bancários fez com que o "M2" (uma medida representativa da oferta monetária) na China crescesse de 150% do PIB em 2008 para cerca de 200%, ou mais de 1 trilhão de yuans, hoje. A enorme injeção de liquidez na economia chinesa contribuiu para um aumento do endividamento, especialmente entre governos locais e empresas, alimentando simultaneamente enormes bolhas imobiliárias e resultando em substancial excesso de capacidade. Nos últimos 18 meses, o governo de Li vem tentando enfrentar esses problemas mediante uma reforma da estrutura industrial chinesa, reduzindo o excesso de capacidade produtiva, restringindo empréstimos, contendo o setor bancário paralelo e reduzindo os investimentos imobiliários. E Li teve algum sucesso - em detrimento de crescimento econômico. Embora a atual taxa de 7% seja confortável, é muito menor do que as taxas de dois dígitos que prevaleceram antes de 2008. Dada a necessidade de mais reestruturação econômica - e tendo em vista as tendências demográficas de longo prazo, que reduzirão a oferta de mão de obra - é improvável que as taxas de crescimento pré-2008 sejam retomadas. Li não vê problemas nisso, pois reconhece que a transformação estrutural e a modernização industrial - e não um modelo insustentável de crescimento alimentado por crédito - é a chave para alcançar um status de país de alta renda. Porém há mais, em uma avaliação do estímulo de Wen, do que o dilema crescimento versus reforma. Essa política do governo também ajudou a expandir o comércio exterior chinês e a ampliar seu vigor financeiro externo (com uma sólida posição da balança de pagamentos, grandes reservas internacionais e uma moeda estável), criando, assim, espaço para que Li exercesse sua ambiciosa agenda de reformas. Ao mesmo tempo, a crise financeira mundial deflagrou uma mudança no preço relativo de ativos em todo o mundo. À medida que os países desenvolvidos foram mergulhando em crises 21


de endividamento, com a queda dos valores de ativos e queda das taxas de câmbio, cresceu o poder de compra internacional da China. Isso, juntamente com estímulo de Wen, reforçou consideravelmente a capacidade de investimento e de financiamento chinesas. Países como a Nova Zelândia e o Peru, sem a possibilidade de depender da demanda dos países desenvolvidos para absorver suas exportações, firmaram acordos bilaterais de livre comércio com a China. Analogamente, quando os países desenvolvidos reduziram seu investimento no exterior, a China entrou em cena injetando capital na economia mundial. De fato, muitos países começaram a se interessar em melhorar as relações bilaterais com a China com o objetivo de ganhar acesso a seu capital. Por exemplo, em 2009 a Jamaica viu sua moeda em queda livre, desemprego em forte alta e riscos consideráveis no setor bancário decorrentes de sua exposição à dívida pública. Quando seus aliados tradicionais, EUA e Reino Unido, rejeitaram pedidos de ajuda, o país voltou-se para a China, que disponibilizou US$ 138 milhões em crédito para impulsionar a economia. No ano que vem, o investimento externo chinês chegará a US$ 100 bilhões anuais aproximando-o de uma paridade com a entrada de capital externo. Não demorará muito para que a China passe por uma mudança histórica: de exportador líquido de mercadorias para exportador líquido de capital. E o financiamento chinês no exterior não para aí. Em 2009-2010, a China também investiu pesadamente no Fundo Monetário Internacional, tendo o Banco do Povo da China anunciado em 2009 que iria comprar até 32 bilhões de direitos de saque especiais (a quase-moeda do FMI) - equivalentes a cerca de US$ 50 bilhões. No mesmo período, a China firmou vários acordos bilaterais de troca de moedas, ofereceu linhas de empréstimos e ajuda especial, e contribuiu para fundos de investimentos regionais. Nos próximos anos, o envolvimento da China com o mundo em desenvolvimento continuará a ser ampliado e aprofundado. O Congresso Nacional do Povo vem discutindo uma possível utilização de parte das reservas cambiais chinesas para financiar projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento. Esse "Plano Marshall" chinês poderá tentar reforçar a capacidade de absorção de produtos chineses por países em desenvolvimento ou poderá promover uma agenda mais ampla de desenvolvimento. Algumas autoridades do banco central chinês chegaram a defender a criação de um fundo de riqueza suprassoberano para investir nos países em desenvolvimento. A manutenção do desenvolvimento da China exige que o país continue a ampliar sua capacidade e influência em ajuda ao exterior. A crise econômica mundial acelerou consideravelmente o cronograma desse processo, obrigando os líderes chineses a executá-lo simultaneamente com a transformação estrutural da economia. Nesse aspecto, Wen Li deu um empurrão inicial inestimável. Zhang Jun é professor de economia e diretor do Centro de Estudos Econômicos da China da Universidade Fudan, de Xangai. Copyright: Project Syndicate, 2014.

O Brasil precisa de uma nova política cambial Fonte Jornal Valor Econômico Michael Moore e Alex Ferreira 03/10/2014 às 05h00 O papel internacional da moeda brasileira não reflete a importância econômica do país. O volume de transações diárias no mercado de câmbio envolvendo o real corresponde a aproximadamente US$ 59 bilhões por dia. Esse número pode parecer impressionante, mas não é. Segundo o relatório trianual do Banco de Compensações Internacionais (BIS) de 2013 sobre o mercado de câmbio, o rublo russo gira US$ 85 bilhões, o yuan chinês, US$ 120 bilhões e mesmo o rand sul africano ganha do real com US$ 60 bilhões. O aspecto mais evidente do atraso do real é que o peso mexicano está emergindo como a moeda de reserva da América 22


Latina com um volume diário de US$ 135 bilhões. De acordo com o BIS, entre 2010 e 2013, ele se tornou a oitava moeda do mundo por volume de negócios. A importância do real no mundo pode aumentar de várias maneiras. Firmas podem usá-lo como unidade de medida no comércio internacional. Títulos corporativos e soberanos podem também ser denominados em reais e ele pode se tornar um veículo para operações entre outras moedas. Bancos, de forma geral, e bancos centrais, em particular, podem acumular mais reservas em reais. Todas estas funções são úteis para a condução eficiente dos negócios. Maiores volumes de negociações em moeda brasileira teriam dois benefícios adicionais. Em primeiro lugar, os spreads de compra e venda do real se reduziriam, tornando menores os custos de se fazer negócios nessa moeda. O segundo é mais sutil, porém importante. O aumento da demanda de moeda brasileira por estrangeiros significa que o Banco Central (BC) vai auferir mais receita de senhoriagem dos estrangeiros. A "saudável" resulta do poder de criação de moeda originado do aumento de transações em moeda brasileira. A outra é chamada de imposto inflacionário. O que impede o desenvolvimento das funções internacionais da moeda brasileira? Nossa análise aponta, em especial, para a regulamentação excessiva e uma política cambial equivocada. O interesse global em produtos financeiros brasileiros é abundante. Em vez de o país tirar proveito dessa tendência, são os estrangeiros que estão lucrando. O volume diário de derivados de taxas de juros denominados em reais (por exemplo, swaps de taxas de juros e contratos a prazo) aumentou de 4,3 para US$ 16 bilhões entre 2010 e 2013, porém mais de três quartos dessas operações ocorreram fora do Brasil. De fato, segundo a pesquisa do BIS, 40.9% das transações mundiais em abril de 2013 foram realizadas somente no Reino Unido. Deve-se ressaltar que uma boa parte do dinamismo dessa economia tem origem nas receitas de serviços derivada da atividade de intermediação financeira e que, obviamente, esses volumes negociados não espelham a participação do país no comércio mundial. Ou seja, para abocanhar uma parte maior das receitas envolvendo negócios em reais, o governo brasileiro vai precisar dar muito mais liberdade para o setor financeiro. Voltando ao mercado de câmbio: no mundo como um todo, apenas 19% do volume de negócios ocorre nos mercados futuros e opções. Para o real, esse percentual sobe para 76,3%. Isso ocorre porque o mercado de câmbio à vista não se desenvolve. Um artigo recente de Emanuel Kohlscheen e Sandro Andrade ajuda a entender esse problema. O Banco Central atua nos mercados de câmbio com o objetivo de conter a volatilidade das cotações. No entanto, mesmo que essas intervenções sejam comuns, a volatilidade observada da taxa de câmbio do real (em relação ao dólar) recentemente ultrapassou as do peso mexicano e chileno. Ademais, trabalhos anteriores realizados por Harald Hau, bem como um dos autores deste artigo, mostram que as corretoras só se tornarão ativas no mercado de câmbio se puderem obter lucros a curto prazo. Corretoras são como abelhas: só se preocupam com o pólen, mas os benefícios de suas atividades para o resto de nós são significativos. Então, como é que o BC está assustando as abelhas? A autoridade monetária tem feito intervenções no mercado à vista usando swaps cambiais, os quais produzem um efeito similar ao da venda de dólares no mercado a vista. Tais ações resultam num comportamento mais inercial para o preço do dólar, fazendo-o se movimentar numa sequência de passos mais graduais e com a direção mudando de forma mais infrequente. De fato, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, chegou até a afirmar sobre a política atual que "o câmbio hoje é tão fixo quanto na minha época". Para dar um exemplo, o BC realizou 61 leilões de swaps cambiais entre 1º de janeiro de 2011 e 31 de março de 2013. Qual foi o efeito disso? Kohlscheen e Andrade descobriram que, invariavelmente, a maior parte do impacto sobre a taxa de câmbio ocorre dentro dos primeiros 30 minutos que se seguem ao anúncio de uma operação. Mas o intervalo em que 23


uma corretora consegue obter lucros no mercado a vista, a partir de um dado estoque de dólares, é pequeno (a meia-vida do estoque é de 30 minutos). Enfim, existe espaço para auferir mais receitas saudáveis de senhoriagem com o aumento da importância mundial do real. No curto prazo, além de perseguir o centro da meta, o Banco Central deveria resistir ao ímpeto de utilização dos swaps. No médio prazo, o governo deveria se preocupar em desenvolver políticas de desregulamentação do mercado a vista de câmbio e estabelecer metas para o desenvolvimento da cidade de São Paulo, a maior colmeia brasileira, como um centro financeiro de relevância global. Michael J. Moore é professor da Warwick Business School e professor visitante da FEA-RPUSP.Alex Luiz Ferreira é professor da FEA-RP-USP.

Dilma, Marina e Aécio fazem debate mais tenso da campanha Fonte Jornal Valor Econômico ANDRÉIA SADI, CÁTIA SEABRA, DANIELA LIMA e MARINA DIAS ENVIADAS ESPECIAIS ao RIO RANIER BRAGON de BRASÍLIA 03/10/2014 01h 50 Os três candidatos que lideram a corrida presidencial se atacaram mutuamente em todos os blocos do quinto e último debate antes do primeiro turno das eleições, realizado na noite desta quinta-feira (2) pela TV Globo. O evento, o mais acirrado e tenso da atual disputa, durou duas horas e meia e foi realizado horas após o Datafolha apontar o acirramento da busca por uma vaga no segundo turno entre Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB). Um dos principais momentos de tensão ocorreu quando a presidente Dilma Rousseff (PT), que concorre à reeleição, prolongou uma discussão sobre corrupção com Marina. As duas trocaram acusações depois que os microfones já estavam desligados e o tempo, esgotado. Empatado com Marina na disputa pelo segundo lugar, Aécio Neves (PSDB) explorou o escândalo de corrupção na Petrobras e mirou tanto em Dilma quanto em Marina.

A candidata do PSB, que por um longo tempo esteve bem a frente de Aécio nas pesquisas, anunciou uma nova promessa, a três dias da eleição, a de pagar um 13º aos beneficiários do Bolsa Família. Acusada pelo PT de representar uma ameaça à continuidade do programa, que é o carro-chefe da política social do governo, Marina repetiu a mesma estratégia adotada quatro anos antes, também em um debate, pelo então presidenciável tucano José Serra. A candidata do PSB resistia a apresentar essa proposta agora, às vésperas do primeiro turno, segundo apurou a Folha. Mas ficou sem opção devido à ameaça de perder a vaga no segundo turno para Aécio, segundo assessores. 24


"Não tem coisa pior que chegar no Natal sem ter como sequer dar uma ceia para o seu filho", disse Marina. MENSALÃO Já no primeiro bloco do evento Aécio e Marina se confrontaram diretamente. O tucano lembrou que Marina era do PT durante o escândalo do mensalão e que em sua gestão no governo Lula empregou derrotados nas urnas. Marina rebateu dizendo que o mensalão começou a ser gestado em Minas Gerais, durante campanha do PSDB. E arrematou: "Você falou que eu fui atacada injustamente pelo PT. Eu também fui atacada injustamente por Vossa Excelência, que pela primeira vez na história desse país se uniu com o PT para tentar me desconstituir". Marina usava broche com o número de sua candidatura, 40. Segundo o Datafolha, seus eleitores são os que menos conhecem seu número. Dilma foi questionada pelos adversários principalmente sobre suspeitas de corrupção na Petrobras. Preso, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa acusou uma dúzia de políticos de receberem propina de empresas com negócios na Petrobras. "Acho que corruptos há em todos os lugares, o que é necessário é que as instituições sejam capazes de investigar. [...] E quero dizer uma coisa, não acredito que tenha alguém acima de corrupção. Acho que todo mundo pode cometer corrupção, as instituições é que têm que ser virtuosas e impedirem que isso ocorra", disse a presidente. Aécio foi o que mais tempo dedicou ao assunto, afirmando que Dilma tratou com leniência Costa, que recebeu elogios na ata da Petrobras que registra sua saída do cargo. Dilma rebateu afirmando que o próprio Costa reconheceu, em depoimento no Congresso, que foi instado pelo governo a pedir demissão. "Vocês entregaram a nossa maior empresa, e isso quem diz é a Polícia Federal, a uma quadrilha, a uma organização criminosa que lá se instalou. O diretor está preso. Esse é o lado perverso do aparelhamento da máquina pública, a pior marca do governo do PT", disse o tucano. Marina afirmou que Dilma patrocinou uma "demissão premiada" ao ex-diretor, em referência à delação premiada que ele negociou com o o Ministério Público. Aécio também explorou a acusação de que a campanha de Dilma tem usado os Correios de forma irregular em sua campanha, na distribuição de material de propaganda. A estatal nega, afirmando que faz o serviço para políticos de vários partidos. No primeiro momento em que partiu para a ofensiva contra um dos adversários, Dilma escolheu Aécio e falou sobre o tema das privatizações, que os petistas usaram contra os tucanos em campanhas eleitorais anteriores. Aécio defendeu as privatizações do governo FHC (1995-2002) e puxou aplausos para o expresidente, que estava presente na plateia da Globo. Na campanha deste ano, Aécio abandonou a tática adotada pelos tucanos nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, quando os candidatos do partido deram a FHC e seu governo papel secundário por temer desgaste.

Bolsa pode cair mais 15% caso Dilma vença, diz enquete com gestores Fonte Jornal Valor Econômico MARIANA CARNEIRO de SÃO PAULO02/10/2014 às 19h39 A depender do resultado nas urnas, o preço das ações das empresas na Bolsa de Valores deve mudar.

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Pesquisa feita pela maior corretora do país, a XP Investimentos, com 80 gestores de recursos privados, de fundos de investimentos e de recursos administrados por bancos, mostra que a maioria prevê que a Bolsa deve cair mais, caso a presidente Dilma Rousseff (PT) seja reeleita. A enquete foi feita nesta semana, após as pesquisas eleitorais mostrarem que Dilma se consolidou como favorita nas eleições. Segundo o último Datafolha, divulgado nesta quintafeira (2), Dilma aparece com 40% das intenções de voto, seguida por Marina Silva (PSB), com 24% e Aécio Neves (PSDB), com 21%. Para 90% dos gestores de investimentos entrevistados pela XP, caso Dilma vença, a Bolsa deve se desvalorizar em relação ao nível atual -ao redor dos 53.000 pontos. Segundo a enquete, 84% acreditam que o Ibovespa (índice que reúne as 69 empresas com ações mais negociadas) deverá se situar entre 40.000 e 50.000 pontos. A maior parte, diz a pesquisa, espera que o índice vá a 44.800. Isso representaria uma queda de 15% em relação ao atual patamar. A enquete perguntou quais seriam os três setores cujas as ações de empresas seriam mais prejudicadas. Mais de 28% disseram que o mais afetado seria o setor de petróleo e gás. A Petrobras é a segunda principal empresa que compõe o Ibovespa -representa 7% do índice. Analistas criticam a política do governo com a Petrobras. Afirmam que a empresa está sendo usada para moderar a inflação -represando o preço da gasolina- e para incentivar a indústria brasileira -via política de conteúdo local. Ambas as iniciativas afetam o desempenho da companhia, reduzem seu lucro e os ganhos de detentores de suas ações. Os demais setores afetados seriam o financeiro (17%) e o de serviços de utilidade pública (11%), como saneamento e energia elétrica. Por outro lado, os setores de educação (23%), papel e celulose (14%) e de carnes (10%) seriam beneficiados sob um segundo mandato de Dilma. Os dois últimos poderiam ter resultados mais positivos com a alta do dólar, dado que têm receitas relevantes com exportações. COM MARINA, BOLSA SUBIRIA A enquete da XP Investimentos perguntou também qual seria o efeito sobre a Bolsa de Valores caso Marina Silva vença. Para 96%, o Ibovespa deve se valorizar em relação ao nível atual. Para 68%, o Ibovespa poderia subir para o intervalo entre 60.000 e 70.000 pontos. A pesquisa informa que o valor mais provável é de 63.200, o que representaria uma alta de 19% ante o atual patamar. Os três setores mais beneficiados por uma vitória de Marina, na opinião dos gestores, seriam o financeiro (26%), petróleo e gás (24%) e elétrico (8%). Já entre os três setores que mais perderiam com uma vitória da candidata do PSB, estariam os segmentos considerados mais ambientalmente sensíveis. Em primeiro, aparece mineração (19%), papel e celulose (15%) e siderúrgico (14%). Analistas ouvidos pela Folha afirmam que os atuais preços na Bolsa indicam uma probabilidade maior de vitória de Dilma. Investidores estão antecipando parte desse movimento esperado e estão vendendo ações, provocando a desvalorização do Ibovespa. Desde o início de setembro, o Ibovespa recuou 12%, de 61.141 pontos para 53.518. Segundo a XP, os preços atuais refletem uma probabilidade de vitória de Dilma de 57%. Na enquete, não há perguntas sobre o cenário em uma possível vitória de Aécio Neves (PSDB).

Desemprego nos EUA recua para 5,9%, menor taxa desde julho de 2008 Fonte Jornal Valor Econômico GIULIANA VALLONE de NOVA YORK 03/10/2014 às 11h29 O emprego nos Estados Unidos cresceu mais do que o que previsto em setembro e a taxa de desemprego caiu de 6,1% em agosto para 5,9% no mês passado, a menor desde julho de 2008. 26


De acordo com dados do Departamento do Trabalho divulgados nesta sexta-feira (3), foram criadas 248 mil vagas no mês, acima das 215 mil estimadas pelo mercado financeiro norteamericano. Apesar do vigor mostrado pelo mercado de trabalho, a renda média dos trabalhadores caiu US$ 0,01 centavo em setembro, para US$ 24,53 por hora. Em agosto, houve alta de US$ 0,08 (segundo dados revisados). Na comparação com setembro de 2013, a renda média avançou 2%. O dado pode ser decisivo na hora de o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) considerar subir a taxa básica de juros da economia norte-americana. Mesmo com o mercado de trabalho mais forte, a renda e a inflação continuam em alta moderada, o que pode adiar a decisão de mexer nos juros. Em sua última reunião, em setembro, o BC americano afirmou que pretende manter por "tempo considerável" a taxa no patamar atual, entre zero e 0,25%. A autoridade, no entanto, continua reduzindo seu programa de compra de ativos no mercado, outra estratégia utilizada para ajudar na recuperação da economia. Atualmente, os EUA gastam US$ 15 bilhões em compras de títulos. O programa deve acabar no próximo mês. O Fed se reúne novamente nos dias 28 e 29 de outubro. DADOS Os números do Departamento do Trabalho mostram ainda que parte da queda na taxa de desemprego em agosto foi causada pela saída de pessoas da força de trabalho, que desistiram de procurar emprego. A taxa de participação na força de trabalho caiu para 62,7% em setembro ante 62,8% em agosto. O número é o mais baixo desde 1978. A criação de vagas em setembro ocorreu principalmente nos setores de serviços administrativos ou técnicos, varejo e saúde. Os dados de agosto foram revisados e a criação de vagas no mês ficou em 180 mil, em comparação com os 142 mil divulgados anteriormente. O mês de agosto marcou o fim de uma sequência de seis meses em que houve criação de mais de 200 mil vagas. Os dados de julho também foram revisados, de 212 mil para 243 mil.

O mundo não gira, Brasil não roda Fonte Jornal Valor Econômico 03/10/2014 02h 00 O mundo corre um risco sério de baixo crescimento por muitos anos ainda, discursou ontem a diretora-executiva do FMI, Christine Lagarde. E daí? Daí que, apesar de todas as ressalvas, Lagarde está dizendo que se frustrou mais uma vez a ideia do "agora vai", fracasso em maior ou menor grau recorrente desde 2009. E daí, e o Brasil com isso? Daí que, para começar, de um modo um tanto irônico, se pode lembrar que, segundo Dilma Rousseff e seus economistas, o Brasil cresceu muito pouco desde 2011 porque o mundo vai mal. Se a perspectiva mundial é de um padrão "medíocre", estaríamos fritos ou ao menos cozidos. Lagarde discursou às vésperas da reunião semestral do FMI. Insinuou que o Fundo deve rever outra vez para baixo as previsões de crescimento. Lembrou que, em geral, a economia anda mais devagar do que o previsto faz seis meses. Não é bem novidade, embora a lerdeza nos países ditos "emergentes" venha sendo uma surpresa ainda maior. Em cerca de 70% das 50 maiores economias "emergentes" o crescimento foi menor do que o previsto um ano antes pelo FMI (nas projeções para 2012 e 2013). Em 75% dos emergentes, o crescimento em 2013 foi 1,5 ponto percentual menor que em 2010. As informações são de um artigo de GhadaFayad e Roberto Perrelli, economistas do FMI. O artigo de Fayad e Perrelli, publicado em setembro, dá alguma razão para os argumentos de Dilma e cia (note-se que não se trata da opinião do FMI, mas desses economistas). Dizem que 27


no último triênio houve uma rara sincronia de baixa no crescimento entre os "emergentes", coisa em geral vista apenas em momentos de crise aguda. As causas da lerdeza, "na média", segundo os economistas: 1) Consumo (importações) menores nos parceiros comerciais; 2) Retirada de estímulos fiscais (gasto do governo, grosso modo); 3) Economias superaquecidas no início do período; 4) Taxa de câmbio supervalorizada no início do período ("dólar barato"). Outro fator relevante seriam os "gargalos estruturais" (como falta de infraestrutura). Ou boa administração econômica nos "bons tempos" (isto é, com menos desequilíbrios externos e financeiros). O Brasil se encaixa nessa descrição? Sim. Padecemos de fraqueza da economia mundial. Mas o governo gastou mais a fim de incentivar a economia, não o contrário. Estava superaquecido em 2010 (crescendo além da conta, encomendando inflação). O dólar estava barato. A gestão econômica foi fraca. Etc. Ou seja, não muda muito o diagnóstico mais consensual de que temos problemas em várias frentes. Para Fayad e Perrelli, os emergentes vão continuar lerdos caso não removam "gargalos", incrementem a produtividade e passem a produzir bens de maior valor agregado. Bidu. Para Lagarde, no mundo em geral, evitar o novo padrão "medíocre" depende de ir devagar com o corte de gastos (recomendação para o mundo rico), reforma do mercado de trabalho e mais investimento em infraestrutura, iniciativas que andam mal paradas. Ou seja: teremos um 2015 e 2016 ainda fracos. A economia mundial lerda é um problema a mais, mas temos de lidar com os nossos problemas de sempre.

O pânico de volta aos mercados Fonte Jornal Valor Econômico 03/10/2014 02h 00 As últimas pesquisas eleitorais provocaram um grande ajuste -para baixo- nos preços dos principais ativos brasileiros. O índice Bovespa perdeu mais de 10% e as ações das principais empresas estatais sofreram um tombo ainda maior. Os juros futuros deram um salto de mais de cem pontos, com os títulos do governo, com vencimento em 2019, pagando juros de 12,3% ao ano. Por último, a cotação do dólar em relação ao real chegou a furar o limite superior das expectativas recentes e foi negociado para o mês de outubro a mais de R$2,50. Tenho à minha frente, vários gráficos construídos pelo AndreMuller -economista-chefe da Quest Investimentos- mostrando a evolução dos preços dos mesmos ativos citados acima no período entre maio de 2002 e maio de 2003. Como vivi intensamente aquele momento -por estar no comando da gestão das carteiras de renda fixa e câmbio da Quest Investimentos- ao rever os gráficos do André não pude deixar de fazer uma comparação com os dias de hoje. Ela apareceu naturalmente em razão da minha reação intuitiva aos movimentos de mercado, talvez os últimos traços de minha vida passada de operador de mercado. E quero passar isto para o meu leitor da Folha. Como agora, em maio de 2002 os mercados estavam convencidos da vitória do candidato do PT e de um desastre na economia. E, por isto, os movimentos dos preços são hoje muito parecidos, com exceção da intensidade do ajuste que foi muito mais forte no período pré Lula presidente. E seguindo a tal intuição digo que, como sempre em momentos de muita incerteza e volatilidade, os exageros são regra no comportamento dos mercados. E, se estiver certo, quando os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais forem conhecidos, os mercados poderão sofrer mais uma correção discreta. É a velha máxima compre no boato, venda no fato mais uma vez presente na vida do especulador experiente. Se a presidente Dilma obtiver a votação expressiva que as pesquisas recentes apresentam e abrir uma diferença muito grande em relação ao seu concorrente -seja ele, seja ela-, no segundo turno o mercado vai reagir diante de um fato já precificado hoje; se seus resultados forem menos brilhantes e, por isto, as chances de um candidato da oposição no segundo turno 28


forem maiores do que as esperadas hoje, um novo suspiro do morto vai influenciar as cotações de mercado. Mas o fato determinante para criar as condições para um grande ajuste nas cotações dos ativos que hoje fazem parte do chamado kit Dilma -dólar, juros e ações da Petrobras- serão os primeiros movimentos da presidenta reeleita na formação de seu governo. Não menosprezo a possibilidade de um novo cavalo de pau, que foi a expressão usada pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil de Lula, o hoje sumido ex-ministro José Dirceu, para caracterizar a política econômica da época. E digo isto por entender que em política sempre existe espaço para surpresas como esta. Vejamos alguns fatos que podem levar a presidente Dilma a liderar o dito cavalo de pau -versão 2. O primeiro é o susto que ela e seu grupo de militantes do PT passaram quando, poucos dias atrás, a derrota nas eleições e o fim do sonho petista de hegemonia política eram um fato altamente provável. Em segundo lugar, a vitória -se vier- será por uma margem muito pequena e, mais do que isto, com a sociedade dividida ao meio. Em terceiro lugar, o aprendizado doloroso de uma máxima dos políticos mais experientes: apertar os cintos nos primeiros dois anos para soltá-los no final do mandato quando as eleições se realizam. Se isso ocorrer, alguns sinais serão visíveis a olho nu, pelo menos para os analistas mais atentos. Em primeiro lugar, um presidente do Banco Central com credibilidade com o mercado financeiro para trazer a inflação para perto do chamado centro da meta. Em segundo lugar, um ministro da Fazenda com personalidade para enfrentar o caráter despótico da presidente. E acima de tudo, uma meta para o superavit primário do Tesouro bastante elevada e com o compromisso de ser obtida sem as manhas de malandro tangerina utilizadas no primeiro mandato.

BCE anuncia medidas para incentivar crédito e evitar deflação na Europa Fonte Jornal Valor Econômico LEANDRO COLON de LONDRES 02/10/2014 às 15h49 O Banco Central Europeu anunciou nesta quinta-feira (2) detalhes do programa de compra de dívidas privadas para estimular o crédito e estancar os sinais de estagnação de sua economia. A operação na zona do euro começa em meados deste mês e deve durar dois anos, anunciou o presidente do BCE, Mario Draghi. O foco são compras de bônus cobertos e títulos lastreados em ativos (conhecidos em inglês como ABS). Draghi disse que há uma estimativa de injetar até € 1 trilhão nessas transações. Basicamente, a transferência dessas dívidas para o balanço do BCE aumentará a margem dos bancos para oferecer mais crédito a empresas e pessoas físicas, ou seja, emprestar mais dinheiro e movimentar a economia. "As novas medidas vão apoiar os segmentos de mercado específicos que desempenham um papel fundamental no financiamento da economia", declarou Draghi, após reunião em Nápoles (Itália). Draghi informou ainda que o órgão decidiu manter sua principal taxa de refinanciamento em 0,05%, assim como em -0,20% a de depósitos - ambas foram reduzidas em setembro em outro movimento do banco central diante do cenário de lenta recuperação. Ao interferir agora na compra de títulos, o BCE tenta também, além de baratear o crédito, manter o ritmo de recuperação da economia do bloco para afastar no curto prazo a possibilidade de deflação - a inflação desacelerou a 0,3% no mês de setembro, sendo que a meta é próximo de 2% ao ano. "Nossas medidas buscam o o caminho através da economia para um retorno das taxas de inflação a níveis mais próximos do nosso objetivo", defendeu Draghi. Segundo ele, as medidas, consideradas excepcionais, são unânimes dentro do conselho de governo do BCE. 29


DETALHES Diante da expectativa do mercado, o BCE detalhou como deve ser a operação de compra de bônus cobertos e de ABS. O primeiro, comum na Europa para captação de recursos, atinge sobretudo dívidas hipotecárias, com uma garantia: mesmo que a instituição bancária vá à falência, os títulos continuam à disposição dos investidores. É considerado, em tese, mais seguro do que o ABS, este atrelado a ativos de empréstimos a pessoas físicas e jurídicas, incluindo, por exemplo, cartão de crédito e venda de veículos. De acordo com as regras divulgadas nesta quinta, para serem comprados pelo BCE, os títulos devem ser, entre outras coisas, operados apenas no bloco, em euro e com país emissor na zona da mesma moeda. Já os bônus cobertos devem ser emitidos por instituição de crédito da área do euro e ser liquidada dentro dela. A economista AzadZangana, da gestora de fundos britânica Schroders, criticou a falta de mais detalhes sobre de quem vai comprar dívidas e quanto o BCE vai realmente injetar nessa operação. Ressaltou ainda que medidas excepcionais como as anunciadas nesta quinta refletem a apreensão com o futuro da zona do euro. "A mensagem clara é que a política monetária na Europa vai continuar frouxa por muito tempo, em contraste com a dos Estados e do Reino Unido, mercados que esperam crescimento na taxa de juros no próximo ano", disse.

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