03 de novembro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 03 DE NOVEMBRO DE 2014

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Energia solar sai com deságio médio de 17,9% em leilão Fonte Jornal Valor Econômico Natalia Viri31/10/2014 às 19h06 SÃO PAULO - O apetite dos investidores por energia solar superou as expectativas do mercado no Leilão de Energia de Reserva (LER), concluído após oito horas de disputa acirrada. O preço médio oferecido pelas empresas ficou em R$ 215,12 por megawatt-hora (MWh), rompendo com folga a barreira de R$ 250/MWh, que era apontada por executivos e analistas como patamar mínimo de atratividade para os projetos. O deságio em relação ao teto de R$ 262/MWh estipulado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) foi de 17,9%. Foi contratada uma capacidade instalada de 889,7 megawatts (MW) em energia solar, em 31 projetos. Entre executivos e analistas, a expectativa era de contratação entre 300 MW a 1.000 MW das usinas. Considerando o fator de capacidade, que gira em torno de 15%, a garantia física dos projetos é de 202,3 MW médios. Na fonte eólica, o deságio foi baixo, de 1,15%, e o preço saiu a R$ 142,34/MWh. Saíram também 31 projetos, com capacidade instalada de 769 MW e garantia física de 333,4 MW médios. Não houve ofertas pelos empreendimentos de energia térmica a biomassa. Considerando as duas modalidades, foram contratados 1.658 MW, com garantia de 535,7 MW médios, a um preço médio de R$ 169,82/MWh. Com isso, o leilão movimentou R$ 15,9 bilhões. O certame marca a estreia da energia solar em maior escala, já que hoje os projetos dessa fonte têm pouca representatividade. Até hoje, os leilões de reserva tinha um preço único para todas as modalidades de energias renováveis e os projetos fotovoltaicos não conseguiam concorrer com outras fontes mais baratas, como a eólica. Agora, em meio à crise hídrica, o governo está tentando reduzir a dependência das hidrelétricas e aproveitou o leilão para fomentar a nova modalidade. O Plano Decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê um aumento de 500 MW na capacidade instalada de energia solar até 2023, num aumento de 3,5 gigawatts (GW) no parque produtor no acumulado do período. A energia contratada no LER é utilizada para dar mais segurança ao abastecimento. A entrega de energia está prevista para 1º de outubro de 2017 e os contratos preveem suprimento por 20 anos.

Em 20 anos, país vai de 24º a 13º em ranking de pesquisa Fonte Jornal Folha de São Paulo MARCELO LEITE de SÃO PAULO 01/11/2014 às 02h 00 A produção científica dá provas de que o Brasil progrediu tanto nos governos do PSDB quanto nos do PT. Com FHC, galgou sete posições no ranking das 25 nações mais produtivas, do 24º para o 17º lugar. Com Lula e Dilma, chegou ao 13º. O retrato otimista aparece em levantamento da empresa Thomson Reuters –que detém a maior base de dados do mundo sobre trabalhos científicos– apresentado nesta sexta-feira (31) na 1ª Cúpula Thomson de Experiência com Inovação, em São Paulo. ColleenShay, da divisão de Propriedade Intelectual e Ciência da Thomson para as Américas, traça um panorama bem otimista da ciência e da tecnologia nacionais. 2


"O Brasil está numa posição excelente para realmente buscar o crescimento e a comercialização da tecnologia, assim como [buscar] a qualidade em pesquisa e desenvolvimento", disse à Folha. A especialista baseia sua interpretação tanto em aspectos quantitativos quanto qualitativos da pesquisa brasileira. A publicação de artigos científicos, por aqui, cresce em ritmo muito superior à média mundial e de países como México, Argentina, Japão, Alemanha, Reino Unido e EUA. Por outro lado, o Brasil fica muito atrás da China. Enquanto a produção brasileira avançou quase 700% entre 1993 e 2003, a chinesa projetou-se quase 2.200%. Não por acaso o tigre saltou do 15º lugar para o 2º posto em volume de estudos publicados. Outra nação asiática que se destaca é a Coreia do Sul. Ausente do ranking das 25 maiores em 1993, entrou nele já no 13º posto em 2003 e subiu mais uma posição até 2013, colocando-se imediatamente à frente do Brasil. Algo similar se observa com relação a patentes. Comparado com países latino-americanos, o Brasil aparece muito à frente. No confronto com os asiáticos, perde de pelo menos 7 a 1. Para Shay, no entanto, a quantidade não diz tudo. "A China, na realidade, enfrenta uma questão de qualidade [das patentes]", diz. "O Brasil se sai bem melhor." Ela se refere às taxas de aprovação de patentes pedidas. No Brasil a proporção é de 22%, mais próxima do padrão mundial. A China aprova 25%. Parece uma diferença pequena, mas não é, segundo Shay. Se os três pontos percentuais corresponderem de fato a concessões de patentes sem mérito, a China estaria pondo no mercado com milhares de invenções indevidas e com isso ampliando sem necessidade o campo aberto para litígios. Shay também não vê como de todo negativo o diagnóstico usual de que a pesquisa brasileira ocorre mais em universidades do que em empresas. Ela afirma que a tendência entre grandes empresas, como a Procter & Gamble, aponta para o que chama de "inovação aberta": desmobilizar equipes próprias de pesquisa e desenvolvimento para financiar e contratar projetos em instituições de pesquisa. "Ter a maioria dos profissionais de pesquisa e desenvolvimento na academia [e não nas empresas] não é necessariamente uma posição ruim para se estar." Além disso, em setores específicos o Brasil figura no primeiro time, como o de pesquisa aplicada a energias alternativas, ao lado dos EUA e da Alemanha. O país também se destaca na pesquisa em medicina clínica. No período 2003-2007, segundo a Thomson Reuters, o Brasil tinha 14.324 artigos dessa área no acervo de 1% de artigos mais citados do mundo. Em 2008-2012, já eram 34.957 um salto de 144%. ACORDO CAPES O evento em São Paulo é realizado pela Thomson Reuters em parceria com a Capes, órgão federal de fomento à pós-graduação. A Capes tem contratos com a empresa para pôr à disposição da comunidade científica nacional –por meio do portal Periódicos– vários de seus serviços, como Web of Science e JournalCitation Report. É um dos cinco maiores acordos da Thomson no mundo. A empresa alega cláusulas de confidencialidade, porém, e não confirma se é o maior. Para renovar os serviços da Thomson disponíveis no portal Periódicos em 2013, a Capes desembolsou R$ 13,1 milhões. O total de gastos com conteúdo do portal, incluindo outros serviços, foi de R$ 230 milhões. Como há mais de 234 mil pesquisadores do país (dado de 2010), não chega a R$ 1.000 anuais o dispêndio por cientista para que todos ganhem acesso à melhor ciência produzida no mundo. 3


CNC vê segundo mandato de Dilma menos intervencionista Fonte Victor Martins e Francisco Carlos de Assis, do Estadão Conteúdo 02/11/2014 às 07h 12 Rio e São Paulo - O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, disse nesta semana em entrevista ao Broadcast Ao Vivo, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff será menos intervencionista. A previsão do economista, que é ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), parte da disposição demonstrada pela presidente reeleita, pelo menos nos discursos feitos até agora, de dialogar mais, inclusive com o mercado. "Dialogar mais é bom, mas é pouco para o tamanho do desafio", ponderou o ex-diretor do BC, acrescentando que não existe "bala de prata" para resolver os problemas da economia. Para Freitas, entre os desafios a serem enfrentados pela presidente Dilma, um dos mais importantes está do lado fiscal. De acordo com ele, não basta ao governo apenas dizer que vai cumprir a meta - é preciso dizer como vai fazer isso. "Entregar o que prometeu é mais importante do que fazer um superávit grande", reforçou. Questionado se não seria melhor a presidente Dilma indicar rapidamente o substituto do ministro Guido Mantega na Fazenda, o economista da CNC disse que para o curto prazo o Banco Central é mais importante que o Ministério da Fazenda. "A indicação do ministro da Fazenda é importante para o médio e o longo prazo. Para o curto prazo, o BC é mais importante", disse o ex-diretor de Política Monetária da autarquia. Ele disse ainda que o BC conseguiu atrair a confiança do mercado nos últimos anos e que hoje a instituição "tem credibilidade e instrumentos para conter a volatilidade (do mercado)". Sobre o possível aumento do preços da gasolina, o economista disse que um ajuste do combustível não colocará em risco a meta de inflação. "O crescimento baixo gera menos pressão no IPCA e deixa espaço para a alta da gasolina", afirmou. A previsão de Freitas é a de que a inflação encerre este ano em 6,45%.

Editorial: EUA em destaque Fonte Jornal Folha de São Paulo 03/11/2014 às 02h 00 Dados recentes confirmam que o desempenho da economia americana se destaca do registrado em 2014 e previsto para 2015 nos demais países avançados. Os Estados Unidos devem crescer pelo menos 2,2% neste ano, frustrando expectativas iniciais, mas deve acelerar para 3,1% no ano que vem, segundo as estimativas do FMI. A Europa do euro terá de fazer esforço para passar de 0,8% para 0,9%. O Japão adota medidas adicionais de estímulo a fim de evitar que o crescimento de 0,9% projetado para este ano seja menor em 2015. Discute-se ainda se a lerdezanas demais economias avançadas e a redução do ritmo de progresso na média dos países emergentes pode afetar os Estados Unidos. Com a recuperação americana por enquanto modesta, o aumento das taxas de juros deslocouse para o final do ano que vem. Apesar de o desemprego ter baixado para aquém de 6%, mais da metade da redução da taxa de desocupação depois da crise deve-se à diminuição do número de pessoas à procura de emprego. A proporção de pessoas que diz trabalhar em tempo parcial por falta de opção é historicamente alta. Os salários crescem a um ritmo real inferior a 1% ao ano. Mas os problemas americanos são bem menos desalentadores que os europeus, onde existe o risco de deflação. Economias emergentes desaceleram. A China deriva para um novo padrão e ritmo de crescimento, o que afeta em especial a América Latina e o Brasil. Não parece razoável acreditar que os EUA possam carregar consigo a economia mundial. No caso do Brasil, tal fato causa preocupação. A mudança chinesa provoca a queda do preço de nossas exportações mais dinâmicas e importantes (commodities, como minérios). 4


A fragilidade em outros países prejudica o comércio mundial. Esse contexto desafiador para o aumento das exportações tende a tornar mais difícil financiar o déficit externo que sustenta nosso excesso de consumo. O real tenderá a se desvalorizar também por isso, outra pressão sobre a inflação. Apesar da complexidade do cenário, surgem oportunidades para a recuperação da indústria, estagnada pela alta de custos internos e pela queda dos preços externos. A fim de aproveitar essa oportunidade, entretanto, o Brasil tem de passar por rápidas e profundas mudanças econômicas. O país precisa reagir o quanto antes se quiser enfrentar o risco sério de lidar com uma indústria permanentemente abatida e um setor de recursos naturais abalado pelo novo contexto da economia mundial.

Com a política fiscal frouxa, BC volta a subir a taxa de juro Fonte Jornal Valor Econômico 03/11/2014 às 05h 00 O Banco Central surpreendeu ao antecipar o começo de um novo ciclo de aperto monetário, que estava previsto apenas para 3 de dezembro. A boa recepção do mercado financeiro, que subiu os juros futuros de prazos mais curtos e derrubou os mais longos, mostra que a iniciativa teve sucesso para recuperar um pouco da credibilidade perdida nos últimos anos. Tomada na semana passada, três dias depois das eleições, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de subir os juros básicos de 11% para 11,25% ao ano alimentou críticas de que o governo da presidente Dilma Rousseff fez o arrocho que dizia que seus adversários iriam fazer. Não se pode ignorar, no entanto, que longe dos holofotes da campanha eleitoral dirigentes do BC deram pelo menos duas indicações, em linguagem até bem explícita para os padrões de banqueiros centrais, de que a alternativa de subir os juros estava sendo cogitada. Em fins de setembro, o diretor de Política Econômica da Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, declarou em entrevista de divulgação do Relatório Trimestral de Inflação que as hipóteses que seriam contempladas nas reuniões seguintes do Copom eram manter os juros em 11% ao ano ou, caso necessário, subi-los. Nessa mesma oportunidade, ele fez a defesa, do ponto de vista técnico, da autonomia em lei do Banco Central, uma proposta do programa de governo da candidata do PSB, Marina Silva, muito atacada pela campanha de Dilma. Em meados de outubro, na reunião de outono do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, renovou o alerta. "De modo algum o BC será complacente com a inflação. Se preciso for, e no momento certo, caso seja necessário, nós estaremos prontos para agir". Essas duas sinalizações do BC fizeram com que os juros negociados no mercado financeiro passassem a precificar uma grande probabilidade de alta dos juros em dezembro. O consenso dos analistas econômicos consultados na pesquisa Focus de expectativas, feita pelo BC, era de que os juros subiriam para 11,25% em janeiro. Embora a alta de juros fosse uma hipótese latente, poucos aventavam a hipótese de que o aperto iria ocorrer na semana passada. Certamente faltou ao BC indicar com um pouco mais de exatidão o momento em que estava disposto a fazê-lo. É possível que a sinalização não tenha ocorrido previamente porque o Copom só chegou a um consenso sobre quando subir os juros na reunião da semana passada. Reportagem publicada pelo Valor na sexta-feira mostra que três membros do Copom votaram contra a alta não porque discordavam do aperto, mas sim porque achavam que esse não era o momento mais adequado. Do ponto de vista técnico, havia justificativa para subir os juros desde já. As projeções apresentadas no Relatório Trimestral de Inflação de setembro foram levemente piores do que as da edição anterior, de junho. A variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, de 0,57%, ficou acima do 0,4% previsto pelo mercado financeiro. A desvalorização cambial entre as reuniões do Copom de setembro e de outubro somou cerca de 10%, o que tende a se traduzir em um aumento da inflação de cerca de 0,5 ponto percentual nos próximos 12 meses. 5


Na sua justificativa para a decisão, o Copom sustentou que, ao agir com antecedência, o custo de combater essas novas pressões inflacionárias será menor. Mas, por outro lado, a antecipação do aperto monetário inicialmente previsto para dezembro traz seus riscos. A economia se encontra em recessão técnica, e nem todos os efeitos da alta de juros feita até abril tiveram tempo de chegar à atividade e à inflação. Uma boa parte da depreciação cambial ocorrida recentemente no calor das eleições pode ser revertida nas próximas semanas. Mas eventuais dúvidas sobre a oportunidade da alta de juros foram dissipadas pelo resultado primário do setor público de setembro, divulgado na sexta-feira, que registrou um déficit de R$ 25 bilhões. A cifra equivale a cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo que o governo venha a realizar o prometido ajuste fiscal nos próximos meses, o estrago na inflação de 2015 provavelmente já está feito, pois a gastança se transmite para a atividade e para os preços com defasagens. A política fiscal frouxa levou a juros mais altos.

Novas estimativas do produto potencial Fonte Jornal Valor Econômico Edmar Bacha e Regis Bonelli03/11/2014 às 05h 00 Tentar calcular o potencial de crescimento de um país é uma atividade irresistível para muitos economistas, inclusive para os autores. Recentemente, concluímos um exercício deste tipo para o Brasil. Sumariamos aqui o argumento. Como uma ilustração vale mil palavras, propomos inicialmente uma visão gráfica da questão. As barras verticais no gráfico ao lado retratam as taxas de crescimento do PIB brasileiro, ano a ano, de 1950 até 2014 (ano para o qual supusemos 0,3%, em linha com as projeções do Boletim Focus). A linha que se superpõe às barras indica a média móvel decenal das taxas anuais do PIB. A trajetória das médias decenais conta uma história aparentemente simples. De 1950 a 1980, o país tinha um potencial de crescimento da ordem de 7-7,5%. Esses valores são superados durante o chamado "milagre econômico" dos anos 1970, mas as consequências nefastas dessa superação vieram logo depois - a crise da dívida externa e a hiperinflação que se lhe seguiu, as quais trouxeram o crescimento da economia brasileira para cerca de 2,5% ao ano - de 1981 até os dias de hoje. Mesmo após renegociada a dívida externa e vencida a hiperinflação, o país não conseguiu superar essa faixa mais baixa de crescimento. Nessa segunda fase, também houve um "pequeno milagre" de 2004 a 2010, quando o crescimento anual se aproximou dos 4,5%. A reversão se dá a partir de 2011, com uma série de "pibinhos" que trazem o valor da média decenal para 3,2% em 2014. O pequeno milagre se deveu a uma bonança externa que entre 2004 e 2011 premiou o país com um bônus de cerca de 10% do PIB, em termos de alta dos preços das exportações (em relação aos preços das importações) e de entrada líquida de capital estrangeiro. Finda a bonança, restabeleceu-se o "novo normal" sob o qual o Brasil vive há muitos anos - ou seja, um crescimento na casa dos 3% ao ano. Agora um pouco de economês. Uma forma simples de calcular o PIB potencial é tratando-o como o produto de dois fatores: o número de trabalhadores disponíveis multiplicado pela capacidade de produção de cada trabalhador. Para calcular o potencial de crescimento do PIB, temos que somar a taxa de crescimento do número de trabalhadores com a taxa de crescimento da capacidade de produção por trabalhador. Estimar o crescimento do número de trabalhadores não é complicado: basta perguntar ao IBGE. Que nos informa que a população adulta (15 a 65 anos) deverá crescer em torno de 0,9% ao ano em média nos próximos dez anos. Recentemente, houve uma queda ainda não explicada na relação entre o número de trabalhadores e o número de pessoas adultas no Brasil. Imaginamos que isso possa ser revertido no futuro próximo e, assim, estimamos que o crescimento do número de trabalhadores nos próximos dez anos será de 1% ao ano. 6


Agora, a parte mais difícil, o crescimento da capacidade de produção por trabalhador. Ela envolve dois fatores. Em primeiro lugar, a contribuição da expansão do estoque de capital por trabalhador. Quanto mais houver de terra cultivada, equipamentos e estruturas maior será a produção por trabalhador. De 1950 até 2011, há períodos de alta e baixa da contribuição do crescimento do estoque de capital por trabalhador, mas em média esse número é de 1,4% ao ano. Se nos ativermos ao período mais recente, de 2011 a 2014, encontramos o valor de 1,3%. Ou seja, há uma certa normalidade que se mantém ao longo de nossa história. Por isso, supomos que o ocorrido no passado vá se repetir no futuro e teremos uma contribuição do crescimento do estoque de capital por trabalhador para o crescimento do PIB por trabalhador da ordem de 1,3% ao ano nos próximos anos. O segundo fator que contribui para o crescimento da capacidade de produção por trabalhador é a tecnologia, amplamente entendida. Sementes de melhor qualidade, equipamentos mais modernos, informatização, trabalhadores mais bem educados e melhor treinados, melhor alocação de recursos etc., tudo isso faz com que a capacidade de produção por trabalhador cresça mesmo que a quantidade de capital por trabalhador se mantenha constante. Na experiência histórica brasileira, constatamos que, entre altos e baixos, os avanços da tecnologia contribuíram com cerca de 1% ao ano para o crescimento do PIB por trabalhador entre 1950 e 2011. Infelizmente, no período mais recente, ou seja, 2011-2014, houve uma involução. É difícil entender por que, mas nesse período a tecnologia, ao invés de avançar, retrocedeu e fez reduzir a produção por trabalhador à taxa de 0,47% ao ano. Algo parecido com isso somente aconteceu durante a chamada década perdida dos 1980; em todos os demais períodos de nossa história, no pós-Segunda Guerra Mundial, a tecnologia contribuiu de forma positiva para o crescimento da produção por trabalhador. Apenas podemos especular sobre o que terá acontecido. Um fator é que a tecnologia tende a ser pró-cíclica, ou seja, em períodos de expansão econômica há maior incorporação de tecnologia e, em períodos de contração econômica, menor incorporação de tecnologia. Outro componente da explicação do retrocesso tecnológico em 2011-14 deve ser externo - a perda de dinamismo da economia mundial se refletindo numa menor incorporação de novas técnicas na economia nacional. Finalmente, há o impacto das distorções na economia introduzidas pelo excesso de intervencionismo no governo Dilma. Foram muitas as intervenções que distorceram a alocação de recursos e reduziram a produtividade da economia: do controle de preços no setor energético aos excessos da política de conteúdo nacional, do deslocamento dos bancos privados pelos bancos públicos à escolha de campeões nacionais, dos vaivéns da política monetária aos malabarismos contábeis da política fiscal. É difícil ser otimista quanto ao futuro próximo nessa área. Por um lado, não há sinais de que a economia internacional se fortaleça. Por outro, a reeleição da presidente Dilma pode significar que serão mantidas as políticas econômicas distorcedoras de seu primeiro mandato. Mas não estamos tratando de crescimento efetivo, e sim de crescimento potencial. Nesse contexto, é possível supor que, ao longo dos próximos dez anos, se restabeleça a trajetória de progresso técnico que caracterizou os sessenta anos anteriores a 2011. Nesse caso, ao 1% de crescimento da força de trabalho e ao 1,3% por cento da contribuição do aprofundamento do capital por trabalhador, devemos agregar mais 1% por conta do progresso técnico. Assim, obtemos uma estimativa para o crescimento do produto potencial brasileiro de 3,3% ao ano na próxima década.

Hora de juntar os cacos Fonte Jornal Valor Econômico Gustavo Loyola03/11/2014 às 05h 00 A campanha de reeleição de Dilma nada deixou em pé, exceto o apertado triunfo da presidente nas urnas. A campanha desconstruiu muito mais do que apenas os adversários de 7


Dilma. Implodiu o pouco que restava (se é que restava algo) da credibilidade da política econômica e fez desmoronar as expectativas dos agentes econômicos. A desconstrução operada por João Santana, com o beneplácito da presidente, contribuiu para criar uma herança maldita para a própria Dilma, que terá agora de juntar os cacos para lidar com os graves desafios da economia. Na visão fantasiosa e maniqueísta difundida pela campanha governista, a atual estagnação econômica do Brasil se deve apenas à crise externa e impecável tem sido a política econômica de Dilma. Nessas condições, não haveria necessidade de ajustes e, portanto, aqueles que os defendem seriam economistas maléficos da oposição que querem acabar com as conquistas sociais do povo brasileiro que, na ficção petista, são obra direta dos governos Lula e Dilma. Com isso, a substituição do ministro Mantega, anunciada de forma precipitada pela presidente em plena campanha, caiu no vazio, já que, pelo tom da campanha, nada haveria de ser mudado com sua saída do ministério. Por outro lado, o princípio da independência formal do Banco Central foi estigmatizado num reclame odioso em que esse avanço institucional virou sinônimo de entrega do BC aos banqueiros e da retirada implacável do pão da mesa das famílias mais pobres. Já a defesa por Armínio Fraga da necessidade de responsabilidade fiscal serviu de pretexto para a campanha petista taxar os "tucanos" de partidários do arrocho salarial e da interrupção das políticas sociais do governo. Ocorre que a economia não pode ser "trabalhada" pelos marqueteiros, como eles se jactam fazer com o imaginário dos eleitores. Os problemas da economia brasileira pertencem ao mundo real e, na ausência de mudanças substanciais na política econômica, tenderiam a se agravar de forma inexorável em 2015, prenunciando mais um ano de pífio crescimento do PIB e de elevada inflação, o que afetaria mais seriamente o mercado de trabalho. Nesse contexto, a subida dos juros pelo BC na última reunião do Copom, - fato de certa maneira surpreendente tendo em vista as manifestações anteriores do BC - pode ser vista como um primeiro sinal de que o governo, sem medo de contradizer o discurso de campanha, teria passado a buscar algum tipo de ajuste na política econômica, para evitar que a inflação saia do controle pressionada pelo mercado cambial e pela alta dos preços administrados. No entanto, ainda é obviamente muito cedo para comemorar uma inflexão do BC em busca da convergência mais rápida para o centro da meta de inflação. O mercado somente se convencerá disso se a condução da política monetária nos próximos meses mantiver coerência com a obtenção desse objetivo, já que a elevação recente da Selic pode ter tido o propósito apenas de ancorar as expectativas em torno do teto da meta (6,5%). A propósito, é irônico pensar que, se a candidata Dilma Rousseff não tivesse demonizado a independência do BC, poderia ser muito mais fácil readquirir a credibilidade da política monetária e fazer convergir as expectativas dos agentes econômicos para o centro da meta, o que aceleraria a queda da inflação. Contudo, a maior preocupação no curto prazo continua sendo a política fiscal que nos últimos anos perdeu transparência e vigor, a ponto de o Brasil estar ameaçado de perder o grau de investimento dado pelas agências de classificação de risco à nossa dívida soberana. Alguma coisa terá que ser feita logo, caso o governo queira evitar este verdadeiro desastre. O problema é que os atuais dirigentes do Tesouro carecem de credibilidade por serem contumazes artífices da contabilidade criativa. Além disso, há pouco espaço para um corte adequado de despesas, tanto nas rubricas de custeio quanto nas de investimento. Restaria, então, recorrer ao aumento de impostos e contribuições, como, aliás, já está sendo antecipado em notícias divulgadas na imprensa. Neste caso, mais uma vez, recolhidos os pandeiros e os tamborins, o governo será impelido a fazer aquilo que demonizava em seus adversários na eleição. Porém, da mesma forma que na política monetária, também no campo fiscal as frustrações sucessivas com promessas não cumpridas irão tornar mais difícil e demorado o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos Cabe assinalar que, embora a plena e crível reintrodução do "tripé macroeconômico" seja um passo relevante e necessário para a retomada da confiança, a saída do estado de torpor da 8


economia brasileira exigirá muito mais do governo. De forma especial, é essencial no curto prazo a correção dos desequilíbrios nos mercados de energia elétrica e de petróleo e a melhora do quadro regulatório para os setores de infraestrutura, além do enfrentamento, no médio prazo, da grave questão do custo Brasil.

O bem-estar americano desde 1979 Fonte Jornal Valor Econômico J. Bradford DeLong03/11/2014 às 05h 00 A história é esta: desde 1979 - o pico do último ciclo econômico antes da posse de Ronald Reagan como presidente - o crescimento econômico dos Estados Unidos foi um fenômeno esmagadoramente voltado apenas para os ricos. O salário real (corrigido pela inflação), a renda e o padrão de vida das famílias americanas pobres e de classe média tiveram, quando muito, aumentos superficiais. Embora o PIB per capita real anual tenha crescido 72%, de US$ 29 mil para US$ 50 mil (em preços de 2009), quase todo esse crescimento foi para os que ocupam agora a camada mais elevada da distribuição de renda dos EUA. Tudo isso é verdade, mas há algumas restrições a fazer. Uma delas se encontra na Distribuição da Renda Familiar e dos Impostos Federais, publicada pelo Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, nas iniciais em inglês) dos EUA no ano passado. A renda real depois dos impostos do quintil [a faixa de 20%] inferior das famílias americanas era, em 2010, 49% maior que em 1979, revelando uma expansão à taxa média anual de 1,3%. A renda depois dos impostos dos três quintis [os 60%] intermediários era, em 2010, 40% maior, o equivalente a um crescimento médio anual de 1,1%. É inegável que as famílias do 81ºao 99º percentis ganharam 64% em renda depois dos impostos, com as pertencentes ao 1% superior revelando um ganho de 201%, o que representa uma taxa de crescimento média anual de 3,6% - bem superior à de qualquer outro grupo de renda. E, agora, com a recuperação concentrada também entre os ricos, os americanos que compõem a faixa de 1% superior muito provavelmente se aproximam de um aumento acumulado de 300% desde 1979. Mas os aumentos da renda real de 1,3% ao ano recebidos pelos quintis intermediários e os de 1,1% percebidos pelo quintil inferior não são tão desprezíveis assim, não é verdade? O diferencial em relação à taxa média de crescimento anual do PIB per capita, de 1,6%, é pequeno, não? Bem, sim e não. Um otimista (ou um entusiasta) poderia argumentar que, embora a renda de mercado tenha ficado, de fato, brutalmente mais desigual desde 1979, com as faixas da metade inferior da distribuição de renda perdendo terreno absoluto em renda real, e com a taxação ficando menos progressiva, o crescimento do Estado de bem-estar social moderou significativamente esse aumento da desigualdade. Mas, quando se examina a taxa de crescimento de 1,3% da renda real depois dos impostos calculada pelo CBO para o quintil inferior, uma parcela de 0,9 ponto percentual provém do crescimento dos programas de financiamento da assistência médica Medicare, Medicaid e StateChildren's Health InsuranceProgram. O CBO conta todo esse crescimento como um aumento da renda real das famílias americanas pobres depois dos impostos. Mas, pelo fato de esse não ser um dinheiro que os pobres dos EUA podem gastar, tem de ser feito algum ajuste para menos. Além disso, apenas metade desses gastos aparece como mais assistência médica recebida pelos beneficiários dos programas; a outra metade entra no sistema geral americano de financiamento da assistência médica para cobrir assistência não compensada anteriormente. E o sistema de financiamento à assistência médica dos EUA é singularmente ineficiente: outros países da OCDE obtêm mais em termos de saúde e serviços de assistência médica por dólar que gastam do que os EUA obtêm por cota de US$ 2 que gastam. Em decorrência disso, a 9


melhor estimativa da contribuição dos programas ampliados de assistência médica americanos para o bem-estar essencial dos pobres dos EUA é de apenas 0,2 ponto percentual ao ano. Daí a necessidade de algo como as atribuições de seguro-saúde individual da Lei de Proteção ao Paciente e de Assistência Médica Acessível de 2010 (conhecida como Obamacare), ou de dar o braço a torcer e adotar um sistema de fonte pagadora única (o governo). Seja como for, os EUA precisam extrair de seus enormes gastos com assistência médica algo comparável ao benefício obtido pelos outros países da OCDE. Francamente, sou ambivalente no que se refere à relação entre o crescimento dos programas de financiamento governamental à assistência médica e a desigualdade. Nos dias ímpares, minha conclusão é que o bem-estar essencial desde 1979 cresceu a 0,5% ao ano para os pobres dos EUA, comparativamente aos 4% ao ano para os americanos ricos (e aos 6% para os super-ricos). Isso porque a maior parte da expansão não é equivalente a uma renda maior para os pobres dos EUA sob qualquer ponto de vista, e porque os EUA obtêm uma relação custo/ benefício relativamente pequena de seu financiamento da assistência médica. Nos dias pares, no entanto, minha conclusão é muito diferente. Em 1979 os pobres dos EUA estavam tão atrás das social-democracias normais da OCDE em termos de saúde e assistência médica que, apesar de cada dólar adicional gerar apenas US$ 0,25 em serviços reais de assistência médica, esse US$ 0,25 valia cerca de um dólar para os pobres em termos de bemestar essencial. Por essa interpretação, a expansão dos programas americanos de assistência médica manteve o bem-estar essencial, adequadamente medido, de seus pobres em trajetória ascendente desde 1979, a uma taxa não muito inferior à do PIB real per capita. Mas as diferenças de cobertura e de financiamento de assistência médica existentes nos EUA em 1979 tornaram o país um lugar muito mais desigual do que os dados de distribuição de renda revelavam. (Tradução de Rachel Warszawski)

Mercado vê maior aperto monetário em 2015, aponta Boletim Focus Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 03/11/2014 às 08h53 SÃO PAULO - Depois de o Comitê Política Monetária (Copom) surpreender e elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25%, na quarta-feira passada, os analistas de mercado veem um aperto monetário maior em 2015, de acordo com as projeções expressas no boletim Focus, do Banco Central. A mediana das estimativas para o próximo ano subiu de 11,50% para 12%. Entre os analistas Top 5 – os que mais acertam a previsões – a mediana de médio prazo subiu de 12% para 12,25%. O mercado em geral não mudou a estimativa mediana para a Selic em 2014, de 11%. Mas tomando-se a média das previsões, houve elevação, de 10,91% para 10,94%, o que mostra que ao menos parte dos analistas mudou sua expectativa para cima. No sistema do Focus, os agentes de mercado inserem suas estimativas a cada semana e há a possibilidade de parte deles não ter atualizado as projeções após a decisão do Copom. Entre os Top 5, a mediana de médio prazo saiu de 11% para 11,50%. Assim, esses analistas esperam mais um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic este ano. Apesar da elevação do juro, não se espera um alívio na inflação. Pelo contrário. Enquanto as estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 permaneceu em 6,45% na estimativa do mercado em geral e em 6,49% entre os Top 5, a mediana para 12 meses à frente subiu de 6,37% para 6,38% e a de 2015 avançou de 6,30% para 6,32%. Os Top 5 também esperam inflação de 6,38% em 2015. Alguns analistas consideraram que ao elevar o juro, o Copom respondeu a uma desvalorização cambial e seu possível impacto sobre uma inflação que beira o teto da meta de 6,5% no fim do 10


ano. No Focus, a mediana das estimativas para o dólar subiu de R$ 2,40 para R$ 2,45 no fim de 2014 e de R$ 2,50 para R$ 2,55 no fim de 2015. Atividade Enquanto esperam um juro maior, os analistas também veem uma atividade mais fraca. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano caiu de 0,27% para 0,24%. Para 2015, a previsão seguiu em 1%. Já a estimativa para a produção industrial deste ano melhorou um pouco, embora ainda siga bastante negativa: saiu de queda de 2,24% para recuo de 2,17%. A previsão para 2015 seguiu em crescimento de 1,42%.

Trabuco rejeitou convite para a Fazenda Fonte Jornal Valor Econômico Angela Bittencourt de São Paulo03/11/2014 às 05h 00 Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para ocupar o cargo de Ministro da Fazenda a partir de 1º de janeiro de 2015, mas não aceitou. Não foi aberta, segundo apurou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, qualquer negociação que pudesse alterar a negativa de Trabuco, que tem um estupendo desafio de gestão à frente do Bradesco - o segundo maior banco privado do país. "Não faz qualquer sentido supor que Trabuco faria alguma exigência à presidente da República para assumir um cargo de tamanha importância. E quem conhece Trabuco sabe também que ele não tem esse perfil", relatou ao Valor um executivo próximo ao presidente do Bradesco, a quem descreve como um profissional "muito propositivo". "Até por essa característica pessoal, não faria sentido ele deixar o comando do Bradesco para assumir uma função no governo", disse a fonte, que pediu para ficar no anonimato. Ao contrário de outros integrantes do mercado financeiro, esse interlocutor confessou não ter se surpreendido com o interesse de Dilma Rousseff em indicar um "banqueiro" para a Fazenda. "Ele é um alto executivo, sempre aberto às discussões e sempre se pautou e orientou sua equipe a prestar ajuda a qualquer governo, não este ou aquele governo, mas a qualquer um. E esse comportamento é atribuído ao reconhecimento que Trabuco sempre demonstrou pela coisa pública, pelo bem comum", observou. Luiz Carlos Trabuco Cappi foi indicado a Dilma para comandar a Fazenda pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por uma pequena lista de indicações encaminhada à presidente ainda no ano passado. Nessa lista, figuram também o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa.

À espera de Dilma na política comercial Fonte Jornal Valor Econômico Sergio Leo03/11/2014 às 05h 00 A vitória de Dilma Rousseff na eleição presidencial derruba qualquer possibilidade de que o governo possa promover uma ampla revisão unilateral de tarifas de importação, para forçar empresas brasileiras a competir com suas similares estrangeiras e forçar redução de preços ao consumidor brasileiro. Essa hipótese não chegou a ser explicitada pelo candidato derrotado, Aécio Neves, mas estava implícita em conversas de conselheiros econômicos da campanha. Com Dilma, queda generalizada de tarifas dependerá de negociações bilaterais de comércio, nas quais o governo espera obter vantagens também para os exportadores brasileiros em mercados que mantêm barreiras consideráveis a empresas competitivas do Brasil. Dilma não deixou claro nem a seus interlocutores mais próximos o que pretende fazer em matéria de comércio exterior. Embora o governo afirme que tem pronta a oferta de cortes de tarifas para um acordo de livre comércio com a União Europeia, não mostra, até agora, intenção de cobrar pressa na apresentação da proposta do lado europeu, onde a prioridade 11


para um acordo com os Estados Unidos, a estagnação econômica e as divergências entre os 27 membros da comunidade europeia reduzem as expectativas de grande dinamismo nessa discussão. Pode-se esperar mais em relação a negociações sobre redução de barreiras não tarifárias, regras e padrões que afetam negativamente o comércio do Brasil com outros países e impõem custos de transação que dificultam a formação de cadeias integradas de produção com parceiros externos. Avançam discussões com os EUA e o governo pretende definir em breve, com apoio do setor privado, três setores para concentrar esforços de "harmonização" de regras e reconhecimento mútuo de certificados para importação. Na Europa, o regime conhecido como Reach, de controle sobre produtos potencialmente danosos à saúde, ao ambiente e à segurança, funciona como uma barreira aos importados e, como se queixam os EUA nas discussões com os europeus, criam desequilíbrio de custos entre produtores locais e estrangeiros. Uma das demandas da indústria química brasileira na negociação de comércio com a União Europeia é a criação de mecanismos para facilitar o acesso de empresas menores a esse processo de certificação. O setor privado, que, por muito tempo, defendeu em público a liberalização comercial e, reservadamente, listava para o governo os riscos de abertura à competição de certos produtos, parece temeroso de perder investimentos e mercados para competidores estrangeiros. Antes, empresários condicionavam a entrada nas negociações comerciais à remoção do chamado "custo Brasil". Hoje já admitem que as duas tarefas podem ser coordenadas. Não há, porém, um plano de voo para o governo, que oriente tanto negociações comerciais quanto o conjunto de medidas necessário a dar maior competitividade às empresas brasileiras. Não são problemas meramente conjunturais pelos reflexos da crise financeira internacional, que prejudicam o setor privado brasileiro, amarrado a desafios estruturais graves, em matéria de tributos, custos de mão de obra e burocracia. A recusa em usar corte de tarifas como instrumento para cobrar competitividade das empresas não significa que o governo não venha reduzindo, pontualmente, custos de importação de insumos e máquinas e equipamentos, quando a indústria comprova ameaças a seus planos de investimento e produção por abastecimento adequado no país. Segundo cálculo do Ministério do Desenvolvimento, apenas em 2013 cerca de US$ 17,5 bilhões em produtos importados, pouco mais de 7% do total, entraram no país sob o regime de extarifário, com tarifas reduzidas ou zeradas. Além das distorções criadas pela moeda desvalorizada de alguns competidores, como a Alemanha, a China e Argentina, o governo brasileiro se queixa de que outros fatores tornam injustas as comparações frequentes entre o Brasil e outros países, considerados mais abertos ao comércio internacional. Parceiros comerciais com baixas tarifas médias de importação têm, porém, alta proteção a mercadorias específicas exportadas pelo Brasil, os chamados picos tarifários, que podem chegar a 300% na Rússia, 350% na União Europeia e 254% no México. O Brasil, por seu lado, tem tarifa máxima de importação de 35% (apenas um produto agrícola, o pêssego, tem mais que isso, 55%). Em alguns casos, cotas permitem pequena entrada de produtos a tarifas menores. Empresas brasileiras defendem a abertura comercial, mas indicam que será dura a negociação para alcançar essa meta. Sem redução de preços para produtos intermediários como aço, plásticos e químicos, os bens finais produzidos no Brasil ficam em desvantagem em relação a seus competidores internacionais, que compram mais barato de fornecedores locais ou internacionais. Os dirigentes do setor siderúrgico afirmam que o excesso de estoques da China seria desovado no mercado brasileiro, em caso de redução sensível de tarifas do aço e seus produtos; o setor químico alerta para o alto custo da matéria-prima (a nafta da Petrobras) no Brasil e a competição dos produtos de países asiáticos, beneficiados por moedas desvalorizadas, e dos EUA, onde o Estado controla com mão de ferro as vendas de gás e petróleo - um dos 12


obstáculos ao acordo de parceria transatlântica, entre EUA e União Europeia, é a oposição da indústria química americana ao aumento de vendas de gás e óleo aos europeus. Até para seguir com os planos existentes de acordos comerciais, que terão alcance modesto se ficarem presos ao modelo tradicional de troca de ofertas de redução de tarifas de importação, os empresários envolvidos e os negociadores brasileiros precisam de um plano de voo. Essa é uma das tarefas inadiáveis da presidente Dilma na preparação de seu segundo mandato.

Nova onda de captação dos fundos de "privateequity" Fonte Jornal Valor Econômico Vinícius Pinheiro de São Paulo03/11/2014 às 05h 00 As gestoras Gávea e Advent estão em fase final de captação de novos fundos de "privateequity" - que compram participações em empresas. Com esses dois fundos, o total de recursos para investimentos no Brasil e América Latina neste ano deve atingir US$ 8,6 bilhões, equivalente a R$ 21 bilhões ao câmbio de sexta-feira. A nova safra de fundos bilionários, iniciada com a captação de US$ 1,8 bilhão do Pátria, em julho, surge em um cenário adverso. O baixo crescimento e a piora nos fundamentos da economia deixam os investidores estrangeiros cautelosos com o país. Mas como esses fundos investem nas companhias para vendê-las no futuro, a atual fase pode representar uma oportunidade de compra em condições mais favoráveis.

Dólar descola de exterior e recua ante real Fonte Jornal Valor Econômico José de Castro 03/11/2014 às 09h38 SÃO PAULO - O dólar tem baixa moderada frente ao real na primeira meia hora de negócios desta segunda-feira, com investidores dando uma pausa nas compras depois do salto de quase 3% da moeda na última sessão. As atenções seguem voltadas para a composição da equipe econômica do novo governo da presidente Dilma Rousseff (PT). As expectativas continuam concentradas em quem será o substituto de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Às 9h38, o dólar comercial recuava 0,62%, a R$ 2,4631. O dólar para dezembro perdia 0,42%, a R$ 2,4845. O real é a moeda de melhor desempenho ante a americana nesta sessão, destoando da queda de seus principais pares. O dólar australiano cedia 0,75%, o peso mexicano caía 0,16%, a lira turca retrocedia 0,27%, enquanto o dólar da Nova Zelândia recuava 0,35%. Dentre as principais moedas de risco além do real, apenas o rand sul-africano se apreciava (+0,15%). Investidores aguardam dados nos Estados Unidos. A leitura final do PMI do setor manufatureiro nos EUA referente a outubro e números sobre gastos com construção em setembro - ambos a serem divulgados nesta segunda-feira - podem endossar a avaliação de que o Federal Reserve deve promover a primeira alta de juros desde 2006 entre o fim do segundo trimestre e início do terceiro em 2015. Declarações dos presidentes dos Feds regionais de Dallas, Richard Fisher, e de Chicago, Charle s Evans, também estão no radar.

Cenário externo pressiona e dólar volta a subir ante o real Fonte Jornal Valor Econômico José de Castro 03/11/2014 às 11h 49 SÃO PAULO - O dólar zerou as perdas e passou a registrar firme alta ante o real nesta segunda-feira, primeira sessão de novembro, em meio a um dia de amplos ganhos do dólar no mundo. Dúvidas sobre a composição da equipe econômica no começo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) também voltam a pesar sobre o humor dos agentes. 13


“A volatilidade deve continuar firme no câmbio ainda por algum tempo. Se existe uma certeza é que o governo terá muito um longo trabalho para reconquistar a confiança dos empresários e do mercado, e nesse processo vamos ter solavancos”, diz o operador de câmbio da Intercam Corretora Glauber Romano. O mercado segue na expectativa pela definição e anúncios de novos nomes para a equipe econômica, em especial para o Ministério da Fazenda. Na semana passada, aumentaram as esperanças de que a presidente Dilma Rousseff (PT) escolha um nome mais amigável ao mercado para a pasta. Cogitam-se nomes como o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco; o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles; e o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa. De acordo com a jornalista Angela Bittencourt, do Valor, contudo, Trabuco teria rejeitado o convite da presidente Dilma. Às 11h43, o dólar comercial subia 0,65%, aR$ 2,4949, não distante da máxima do dia, de R$ 2,4986. O dólar para dezembro avançava 0,76%, a R$ 2,5140. Mas a alta do dólar no exterior também influencia os negócios no plano doméstico. A moeda americana renova as máximas em mais de dois anos ante o euro e em quase sete anos contra o iene, em meio a perspectivas de aumento de juro nos EUA em 2015, movimento que tornaria as aplicações em dólar mais atrativas. A leitura final do PMI do setor manufatureiro nos EUA referente a outubro e números sobre gastos com construção em setembro - ambos a serem divulgados nesta segunda-feira - podem endossar a avaliação de que o Federal Reserve deve promover a primeira alta de juros desde 2006 entre o fim do segundo trimestre e início do terceiro em 2015. Declarações dos presidentes dos Feds regionais de Dallas, Richard Fisher, e de Chicago, Charles Evans, também estão no radar. Dados fracos vindos da China e da zona do euro também pressionam ativos de risco. O dólar australiano recuava cerca de 1%, enquanto a lira turca caía 0,5%. A leitura final do PMI industrial do HSBC para o país teve leve alta para 50,4 em outubro, ante 50,2 em setembro. No entanto, o crescimento em novas encomendas de exportação e importação - “proxies” da demanda doméstica e da internacional - ficaram aquém do esperado. O PMI de serviços cedeu a 53,8 no mês passado, contra 54 em setembro. Na zona do euro, o PMI manufatureiro subiu a 50,6 em outubro,ligeiramente abaixo da previsão de 50,7 e ainda próximo da mínima em 14 meses.

Mercado vê maior aperto monetário em 2015, aponta Boletim Focus Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 03/11/2014 às 08h 53 SÃO PAULO - Depois de o Comitê Política Monetária (Copom) surpreender e elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25%, na quarta-feira passada, os analistas de mercado veem um aperto monetário maior em 2015, de acordo com as projeções expressas no boletim Focus, do Banco Central. A mediana das estimativas para o próximo ano subiu de 11,50% para 12%. Entre os analistas Top 5 – os que mais acertam a previsões – a mediana de médio prazo subiu de 12% para 12,25%. O mercado em geral não mudou a estimativa mediana para a Selic em 2014, de 11%. Mas tomando-se a média das previsões, houve elevação, de 10,91% para 10,94%, o que mostra que ao menos parte dos analistas mudou sua expectativa para cima. No sistema do Focus, os agentes de mercado inserem suas estimativas a cada semana e há a possibilidade de parte deles não ter atualizado as projeções após a decisão do Copom. Entre os Top 5, a mediana de médio prazo saiu de 11% para 11,50%. Assim, esses analistas esperam mais um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic este ano. 14


Apesar da elevação do juro, não se espera um alívio na inflação. Pelo contrário. Enquanto as estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2014 permaneceu em 6,45% na estimativa do mercado em geral e em 6,49% entre os Top 5, a mediana para 12 meses à frente subiu de 6,37% para 6,38% e a de 2015 avançou de 6,30% para 6,32%. Os Top 5 também esperam inflação de 6,38% em 2015. Alguns analistas consideraram que ao elevar o juro, o Copom respondeu a uma desvalorização cambial e seu possível impacto sobre uma inflação que beira o teto da meta de 6,5% no fim do ano. No Focus, a mediana das estimativas para o dólar subiu de R$ 2,40 para R$ 2,45 no fim de 2014 e de R$ 2,50 para R$ 2,55 no fim de 2015. Atividade Enquanto esperam um juro maior, os analistas também veem uma atividade mais fraca. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano caiu de 0,27% para 0,24%. Para 2015, a previsão seguiu em 1%. Já a estimativa para a produção industrial deste ano melhorou um pouco, embora ainda siga bastante negativa: saiu de queda de 2,24% para recuo de 2,17%. A previsão para 2015 seguiu em crescimento de 1,42%.

Percentual de famílias endividadas em SP é a menor desde 2012 Fonte Jornal Valor Econômico 03/11/2014 às 11h39 SÃO PAULO - Cauteloso com os rumos da economia e com os juros altos, o consumidor está se endividando menos e também tornando-se menos inadimplente. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra que a proporção de famílias paulistanas endividadas e inadimplentes é a menor desde o primeiro bimestre de 2012. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita mensalmente pela entidade, mostra que a fatia dos que têm algum tipo de dívida para pagar caiu de 47,8% para 45,3% de setembro para outubro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o índice estava em 54,5%, houve recuo ainda maior, de 9,1 pontos percentuais. É a menor proporção de endividados desde fevereiro de 2012, quando foi de 42,76%. O levantamento também diz que na segmentação por renda, houve queda no número de famílias endividadas que recebem até dez salários mínimos, de 52,5% para 49,8% e também entre as que ganham mais de dez salários, de 35,1% para 32,3%. Na comparação anual a queda foi, respectivamente, de 8,7 pontos e de dez pontos. Dos entrevistados, 10,7% possuem contas atrasadas, queda de um ponto em relação a setembro e de 8 pontos em relação a outubro de 2013. Esse é o menor índice desde janeiro de 2012, quando era de 10,45%. Entre as famílias que estão inadimplentes 25,7% possuem contas com até trinta dias de atraso; 24,7%, entre trinta e noventa dias; e 47,7% com contas atrasadas acima de noventa dias. Contudo, somente 3,4% das famílias não terão condições de pagar total ou parcialmente suas contas no próximo mês. Esse é o menor índice desde janeiro de 2012, quando a Peic registrou que 3,1% das famílias não conseguiriam quitar suas dívidas. Ainda que o porcentual de endividados e famílias com contas atrasadas esteja caindo, o volume de famílias paulistanas que compromete entre 11% e 50% da sua renda subiu 2,9 pontos, ao passar de 47,7% em setembro para 50,6% em outubro. A queda do número de endividados está relacionada um cenário de baixo crescimento econômico, inflação e juros em alta e menor geração de emprego no país, na avaliação da FecomercioSP. “Nos últimos meses, o conjunto desses fatores tem deixado o consumidor mais cauteloso na obtenção de novos financiamentos”, o que reduz o número de famílias com dívidas a pagar. Ainda de acordo com a pesquisa, o principal tipo de dívida continua sendo o cartão de crédito, utilizado por 63,1% das famílias analisadas. Em seguida, estão: financiamento de carro (22,4%), 15


carnês (15,6%), financiamento de casa (15,1%), crédito pessoal (12,1%), cheque especial (7,4%), e outros. A entidade ouviu 2,2 mil consumidores na capital no mês passado.

Ajuste imediato nas contas do Tesouro pode ser necessário Fonte Jornal Valor Econômico Ribamar Oliveira Brasília03/11/2014 às 05h 00 A principal pergunta sobre a política fiscal do governo ficou sem uma resposta do secretário do Tesouro, Arno Augustin, durante entrevista na sexta-feira. Ele não revelou qual será o resultado primário que o governo federal espera fazer neste ano. Esse dado é importante, não apenas para que se saiba o tamanho da frustração da meta com a qual o governo se comprometeu em 2014, mas para conhecer o esforço fiscal adicional que será necessário fazer em 2015. Além disso, o valor do superávit primário a ser perseguido neste ano indicará se o ajuste nas contas do Tesouro começará a ser feito de imediato, com redução de despesas e aumento da arrecadação, antes mesmo do início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Na entrevista, Augustin confirmou apenas que o superávit ficará abaixo de R$ 49,072 bilhões, que é o mínimo fixado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2014. Por isso, o governo mandará projeto de lei ao Congresso alterando a LDO. Embora ainda não tenha sido confirmado no cargo para a próxima administração, Augustin assegurou que a meta de superávit primário mínimo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para todo o setor público, prevista na proposta de LDO para 2015, em discussão no Congresso, não será alterada. A meta para o governo federal (incluindo as estatais) é de, no mínimo, 1,5% do PIB. A União ficará obrigada também a cobrir eventual frustração da meta de Estados e municípios, estimada em 0,5% do PIB. O problema é que quanto menor for o resultado primário deste ano, maior será o esforço a ser feito no próximo. Se a União registrar déficit em 2014, hipótese que não pode ser descartada, alcançar um superávit mínimo de 1,5% do PIB em 2015 será uma tarefa descomunal. Existe a possibilidade de déficit neste ano porque o governo federal (incluindo estatais) está com resultado negativo de R$ 20,7 bilhões de janeiro a setembro. Há necessidade, portanto, de um superávit primário mensal de R$ 6,9 bilhões até dezembro para zerar a conta. Se o objetivo, no entanto, for apresentar um superávit primário em 2014, o governo terá que fazer corte imediato nos seus gastos e elevar a receita. Tudo isso vai ser esclarecido quando a presidente Dilma enviar ao Congresso, até o próximo dia 22, o relatório de avaliação de receitas e despesas relativo ao 5º bimestre. O ano de 2014 é o pior na área fiscal desde o início da série histórica do Banco Central, em 2001. Somente em setembro, o setor público como um todo registrou um déficit primário equivalente a 0,5% do PIB (R$ 25,5 bilhões). Foi o pior resultado mensal da série. Todos os entes da federação registraram déficit: o do governo federal (incluindo as estatais) foi de R$ 21 bilhões e o dos Estados e municípios (incluindo suas estatais) de R$ 4,5 bilhões. Pela primeira vez desde 1997, o setor público também registrou déficit primário no acumulado do ano, de R$ 15,3 bilhões. O déficit nominal do setor público (conceito que registra todas as receitas e todas as despesas, incluindo o pagamento de juros) ficou em 5,94% do PIB no período de janeiro a setembro e também é o pior da série. A dívida pública bruta aumentou 1,6 ponto percentual do PIB somente em setembro e cinco pontos percentuais em relação ao montante que foi registrado em dezembro de 2013. A análise das contas mostra que o imenso déficit não decorre só de uma frustração da receita dos tributos federais. Na verdade, a receita total da União de janeiro a setembro aumentou 7,2% em termos nominais e 0,38% em termos reais, mesmo com todas as desonerações tributárias e com a estagnação da economia. Houve frustração em relação ao que foi 16


programado pelo governo, mas não houve queda de arrecadação, na comparação com igual período de 2013. O verdadeiro responsável pelo déficit foi o crescimento explosivo dos gastos. A despesa total da União aumentou 13,2% em termos nominais e 6,08% em termos reais nos nove primeiros meses, na comparação com o mesmo período de 2013. Dito de uma forma mais direta: o governo Dilma Rousseff gastou R$ 88,3 bilhões a mais neste ano, na comparação com igual período do ano passado. Só em setembro, véspera da eleição presidencial, o gasto total da União subiu 17,7% em termos nominais ou 10,3% em termos reais. Houve elevação expressiva dos gastos com os investimentos (mais 34,1%), com educação (mais 25,7%), com saúde (mais 18,2%) e com abono e seguro-desemprego (14,9%), de acordo com dados do Tesouro. O governo indicou que vai reduzir os investimentos em 2015, com o objetivo de alcançar o superávit mínimo de 1,5% do PIB, de acordo com a proposta orçamentária. A maioria dos analistas considera, no entanto, que o corte nos investimentos não será suficiente e que, para atingir a meta, será necessário aumentar impostos.

União Europeia deixa Zona Franca fora de contestação ao Brasil na OMC Fonte Jornal Valor Econômico Daniel Rittner e Assis Moreira de Brasília e Genebra 03/11/2014 às 05h 00 Em um gesto para não deteriorar as relações com o Brasil, que envolveu negociações de bastidores, a União Europeia (UE) desistiu de contestar na Organização Mundial do Comércio (OMC) as vantagens fiscais concedidas pelo governo brasileiro às empresas instaladas na Zona Franca de Manaus (ZFM). De todos os questionamentos feitos pela UE, durante o pedido de consultas feito no primeiro semestre, esse era o ponto que mais irritava a presidente Dilma Rousseff. A UE abriu na sexta-feira o que será a maior disputa comercial contra o Brasil na OMC, contestando parte central da política industrial do governo de Dilma Rousseff, apenas cinco depois de sua reeleição. A decisão de denunciar o Brasil ocorreu nos últimos momentos da presidência do português José Durão Barroso na Comissão Europeia, o braço executivo da UE. O Valor apurou que até o dia anterior a demanda contra o Brasil estava pendente. A visão de Bruxelas é de que a contestação vem mais como uma questão de oportunidade do que uma simples constatação de que Dilma não mudará nada. E evita que o novo presidente da comissão, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, já entre deflagrando uma disputa que poderia ser interpretada como beligerância. Além disso, há a avaliação de que a denuncia formal contra o Brasil não foi trazida antes à OMC para evitar mais polêmicas em pleno processo eleitoral no Brasil. Na prática, os europeus contestam o centro da política industrial do governo de Dilma Rousseff, incluindo exigências de conteúdo local, que são normalmente proibidas pelas regras da OMC. A Zona Franca, no entanto, acabou ficando de fora. Nos bastidores, o governo brasileiro mandou um recado muito claro aos europeus: mesmo se sofresse uma condenação na OMC, não recuaria um milímetro nas políticas voltadas ao polo industrial de Manaus, que tem caráter de "segurança nacional" e "desenvolvimento regional". A própria Dilma, durante a cúpula Brasil-UE no ano passado, em Bruxelas, fez questão de frisar: "Assinalei a minha surpresa de que a Europa, região tão preocupada com questões ambientais, conteste uma produção ambientalmente limpa, que gera emprego e renda e que é instrumento fundamental para a gente conservar a floresta em pé". Esse recado foi reforçado pela presidente durante a visita de Durão Barroso ao Brasil, em julho. Conforme revelaram fontes dos dois lados, diante do risco de estrago nas relações, a UE decidiu tirar do painel que iniciará no órgão de solução de controvérsias da OMC toda a parte relativa à ZFM. Nas conversas informais, foi citado um caso: numa disputa ocorrida na década 17


passada, em Genebra, os Estados Unidos venceram um duelo contra a UE em torno das restrições europeias a alimentos geneticamente modificadas. Por causa da resistência dos consumidores europeus, Bruxelas preferiu simplesmente não cumprir as determinações da OMC. Todos chegaram à conclusão de que, caso os questionamentos à ZFM fossem levados adiante, não se chegaria a lugar nenhum e o desgaste para as relações diplomáticas seria enorme. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou na sexta-feira que o Brasil demonstrará aos europeus a adequação do regime automotivo do país às regras da OMC: "Achamos que nosso regime é perfeitamente compatível e vamos demonstrar isso no painel". Reservadamente, no entanto, interlocutores da diplomacia brasileira acreditam que será muito complicado sustentar a defesa do Inovar-Auto. O regime tem validade até 2017 e oferece desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a montadoras que se comprometeram com planos de investimento no Brasil. Assessores presidenciais afirmam que o governo não cogita mexer no programa por causa do painel aberto na OMC. A avaliação oficial é que nenhuma decisão de Genebra será implementada antes de 2017 - se os europeus saírem vitoriosos do painel, ainda existe a possibilidade de apelação por parte do Brasil. Conforme a avaliação reservada ouvida pelo Valor, o objetivo dos europeus seria apenas garantir que o Inovar-Auto não se estenda por um período adicional. Mas, deixando de existir, as regras da OMC não permitem compensações em caráter retroativo. Caso saia derrotado, o Brasil ficaria impune, desde que encerre o programa na data prevista. A UE, por sua vez, conseguiria aumentar sua munição na OMC contra casos de políticas industriais que envolvam regras de conteúdo local e proteção adicional contra importados. Vários governos da UE não escondiam que não dava para deixar passar as práticas brasileiras, que consideram uma violação de regras da OMC e que a denúncia era necessária para restabelecer "condições de igualdade'' na competição entre produtos brasileiros e europeus. No argumento europeu, não dá para aceitar barragem a importações em mercados que crescem, ainda mais num cenário de recessão na Europa. Para vários governos europeus, o combate à exigência de conteúdo local praticada pelo Brasil é questão de princípio. O país é a sétima maior economia do mundo e tem influência sobre outros emergentes. Se os programas não forem questionados diante dos juízes da OMC, outros vão tomar o mesmo caminho, avaliam fontes de Bruxelas. A UE deflagrou em 19 de dezembro do ano passado o mecanismo de disputa contra o Brasil, pedindo consultas para discutir queixas de que o governo brasileiro adotou medidas fiscais discriminatórias contra produtos estrangeiros e de fornecer "ajuda proibida" aos exportadores nacionais. Agora, a UE diz que as consultas fracassaram e acusa o governo brasileiro de ter expandido e prolongado várias dessas medidas. Exemplifica que a menor taxação para produtos de informática e máquinas foi estendida para até 2029, enquanto as importações continuam a ser fortemente taxadas. Bruxelas acusa o Brasil de restringir comércio exigindo que produtores brasileiros usem componentes domésticos como condição para obter desonerações. Questiona o país por proteger "manufatureiras não competitivas'' da competição internacional e limitar a escolha de produtos acessíveis para o consumidor brasileiro. Exemplifica que um smartphone custa 50% mais no Brasil do que na Europa, mesmo com produtores locais beneficiados com menor taxação. Desde 2011, a UE vinha reclamando do Inovar-Auto, programa que estimula a inovação na produção nacional de carros, mas dificulta a importação. A demanda será examinada no dia 14 pelo Orgão de Solução de Controvérsias, justamente quando a presidente Dilma estará na Austrália participando do G-20. (Com Folhapress)

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Denúncia desestimula subsídios Fonte Jornal Valor Econômico Marta Watanabe de São Paulo03/11/2014 às 05h 00 A denúncia da União Europeia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o Brasil, contra a concessão de subsídios para vários setores da economia, pode colocar em xeque outros programas de conteúdo local e tornar o governo brasileiro mais cuidadoso ao oferecer incentivos à indústria, segundo analistas. Vera Thorstensen, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenadora do Centro do Comércio Global da instituição, diz que a denúncia deve ser vista como algo esperado. "É função do órgão de solução de controvérsias da OMC colocar o assunto para discussão. Cada parte colocará seus argumentos jurídicos e isso será positivo porque despolitiza o debate", diz Vera. De qualquer forma, afirma ela, serão colocados em xeque os incentivos que o Brasil oferece e que possuam regra de conteúdo local para o setor privado. "Isso não acontece para compras públicas, porque o Brasil não é signatário dessas regras." Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultoria e ex-secretário de comércio exterior, diz que o texto da denúncia ainda não é público, mas ele acredita que o centro da discussão deve ser o Inovar-Auto. Nesse caso, diz ele, o Brasil tem bons argumentos jurídicos. "As regras da OMC fazem exceção em relação à concessão de subsídios. Entre as exceções estão o estímulo à inovação tecnológica e ao incentivo de instrumentos à proteção do meio ambiente. E o Inovar-Auto está atrelado a essas duas exceções." Barral estima que a discussão dure mais de três anos, incluindo a decisão e a apelação. Ele acredita que a denúncia não interfere na negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul e UE. Para Vera, o Brasil deve apresentar seus argumentos jurídicos e "seguir a vida normal". Para ela, é uma oportunidade para que, paralelamente ao contencioso, tanto o bloco sul-americano quanto o europeu façam suas listas de reclamações e as levem para a mesa para que se chegue a um acordo de livre comércio. Na queixa apresentada na OMC, a UE acusa o Inovar-Auto de violar pelo menos seis artigos de acordos da OMC. Reclama também de medidas de apoio para os setores de informática, automação, programa para inclusão digital, e outros, listando outros cinco artigos que teriam sido violados. Outra crítica é que a taxação sobre carro importado pode chegar a 30% do valor do veículo, mas que a taxação total pode chegar a 80% combinada com as alíquotas aduaneiras e outros encargos. (Colaborou Assis Moreira, de Genebra)

Setor de veículos cresce e analistas prevêem 3º mês seguido de expansão da indústria Fonte Jornal Valor Econômico Arícia Martins de São Paulo03/11/2014 às 05h 00 Influenciada principalmente pelo setor automobilístico, a produção industrial deve crescer pelo terceiro mês seguido em setembro, avaliam economistas, mas a sequência de altas ainda não é vista como uma trajetória de retomada consistente. Analistas destacam que o desempenho observado nos últimos meses é insuficiente para recuperar o tombo de 1,9% da produção entre o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais. Além disso, fatores como o enfraquecimento da demanda, o elevado acúmulo de estoques e a confiança em nível deprimido ainda colocam dúvidas sobre a continuidade da expansão. A média de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que, após avanço de 0,7% em agosto, a produção industrial subiu 0,2% em setembro, sempre em relação ao mês anterior, descontados os fatores sazonais. As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de queda de 0,5% 19


até alta de 1,5%. Sobre o mesmo mês de 2013, a expectativa média é de retração de 1,6%, o que marcaria o sétimo recuo mensal consecutivo nessa ordem. Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, projeta que a produção avançou 0,3% entre agosto e setembro, mas avalia que o crescimento não será espalhado entre os diversos segmentos que compõem a pesquisa do IBGE. A partir de dados da Anfavea, entidade que reúne as montadoras instaladas no país, Mariana calcula que a atividade do setor de veículos saltou 12% na passagem mensal, feitos os ajustes sazonais, principal influência de alta em sua previsão para a PIM-PF. "A alta da indústria no mês deve ficar concentrada nesse setor, porque outros indicadores antecedentes não mostram variação positiva", diz. Com base em números da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), a economista calcula que a expedição do material, considerada um bom antecedente da emissão de embalagens, diminuiu 0,3% na passagem mensal. Outro indício ruim seria o recuo de 5,5% do volume exportado de produtos manufaturados no período, sempre de acordo com os ajustes sazonais feitos pelo ABC. Em relatório, a equipe econômica do Bradesco afirma que, a despeito do aumento de 0,14% da atividade na indústria paulista em setembro, segundo o Indicador de Nível da Atividade (INA) da Fiesp, projeta ligeiro recuo da produção nacional medida pelo IBGE em igual período, de 0,1%. O banco vê como sinais negativos a retração de 1,4% no consumo industrial de gás natural e de 1% no consumo de energia elétrica entre agosto e setembro, respectivamente. Analisando o conjunto de indicadores que antecedem o comportamento da indústria, Mariana sustenta que o pequeno avanço esperado para a produção em setembro não indica uma tendência de recuperação do setor, embora seu desempenho tenha oscilado menos nos últimos meses. "Talvez quando a queda da confiança seja revertida, possamos perceber alguma recuperação", afirma. De acordo com a medição da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança dos empresários industriais cresceu 1,8% entre setembro e outubro, após nove quedas seguidas na comparação mensal. Rafael Bacciotti, da Tendências, ressalta, no entanto, que o indicador acumulou perda de 18,8% no período em que esteve em declínio. "Ainda não dá para falar em reversão", afirma Bacciotti, que trabalha com expansão de 1,5% da produção em setembro ante o mês anterior. Mesmo esperando alta de maior intensidade no último dado, o economista também é cético em relação à possibilidade de uma reação mais forte da indústria nos últimos meses do ano. Isso porque, apesar da melhora na produção de veículos, não houve reação das vendas, o que indica que o setor continuará estocado. Para a Tendências, a produção industrial vai encolher 2% em 2014, projeção que conta com expansão de 0,3% do indicador entre julho e setembro e um pequeno crescimento no último trimestre, ainda não estimado. A definição do cenário eleitoral, segundo Bacciotti, pode diminuir incertezas, mas ainda há dúvidas sobre a condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ele ainda cita que estão no radar do empresariado o risco de racionamento e expectativas de elevação dos preços de energia elétrica, fatores que limitam uma retomada da confiança no médio prazo. Mariana, do ABC, prevê que a produção industrial vai crescer 1,5% em 2015, depois de registrar tombo de 2,5% neste ano. "Não é um número ótimo, mas o cenário já começa a mudar", observa ela, ainda que o avanço seja influenciado também por uma base baixa de comparação e por aumento no número de dias úteis. Para recuperar competitividade e participação no Produto Interno Bruto (PIB), a economista avalia que a indústria precisará se "reinventar", com maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

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Novo cenário começa a ganhar forma Fonte Jornal Valor Econômico de São Paulo e do Rio03/11/2014 às 05h 00 A consolidação do setor de telefonia continua avançando, de acordo com os últimos movimentos das empresas. O BTG Pactual, contratado pela Oi, está próximo de finalizar a proposta pela TIM Brasil, que será encaminhada à Telecom Italia. O Valor apurou que a TIM deve ser avaliada em R$ 37,5 bilhões, o equivalente a um prêmio de 25% sobre o valor de mercado da companhia. O BTG foi contratado pela Oi como comissário mercantil para compra da TIM Brasil. A aquisição final deve ser dividida com as duas outras teles com atuação nacional, Telefônica Vivo e Claro. Conforme o Valor apurou, o ideal é que a divisão seja feita de forma que nenhuma delas fique com fatia de mercado superior a 50% em qualquer Estado. As ações do setor de telefonia dispararam na sexta-feira com a chance de a consolidação do setor estar mais próxima. Os papéis da TIM subiram 15,33%, para R$ 13,47, enquanto os papéis preferenciais (PN) da Oi avançaram 13,04%, cotados a R$ 1,30. As ações PN da Vivo registraram alta de 8,14%, a R$ 50,61. Vale lembrar que a Claro não tem capital aberto. O presidente do conselho da Telecom Italia, Giuseppe Recchi, e o executivo-chefe da empresa, Marco Patuano, afirmaram, na sexta-feira, que ainda não tinham recebido qualquer proposta. Patuano se mostra insatisfeito com a insistência em relação ao assunto sem que a empresa tenha recebido uma oferta concreta. Uma eventual divisão da TIM entre as suas principais concorrentes no Brasil é vista como preocupante por integrantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e dificilmente seria aprovada sem a imposição de condições. Na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a partir do instante em que o órgão receber o pedido de anuência prévia para fatiamento da TIM entre as três principais concorrentes, deverão ser escalados os principais nomes de seu corpo técnico e jurídico para realizar uma análise da operação, segundo informou ao Valor uma fonte próxima ao comando do órgão regulador.

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