SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 04 DE AGOSTO DE 2014
FAÇA PARTE DESSE TIME ASSOCIE-SE (WWW.OESC.ORG.BR)
1
Economistas cortam pela 10ª vez seguida projeção de expansão do PIB A projeção de economistas de instituições financeiras para o crescimento da economia brasileira este ano mostrou deterioração pela 10ª semana seguida com piora da expectativa para a indústria, enquanto o cenário para a inflação mostrou mais um pequeno alívio. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central nesta segunda-feira, a projeção para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014 agora é de 0,86%, contra 0,90% na semana anterior. Em 2013, o PIB cresceu 2,5%. Um dos principais pesos sobre a economia é a indústria, cuja perspectiva de retração piorou para 1,53%, ante 1,15%. Em junho, a produção industrial brasileira recuou 1,4%, o quarto mês seguido de queda na pior série de perdas desde 2010. Sobre 2015, a projeção para o crescimento do PIB no Focus permaneceu em 1,5%, com a estimativa de expansão de 1,7% na indústria. De acordo com o boletim, a mediana de projeções para a alta do IPCA em 2014 saiu de 6,41% para 6,39%. Já a expectativa para a inflação nos próximos 12 meses passou de 5,94% para 6,03%. Para 2015, a mediana de projeções para o avanço do IPCA partiu de 6,21% para 6,24%. Depois de o IPCA ter superado o teto em 12 meses em junho com alta de 6,52%, os analistas esperam agora a divulgação dos números de julho na sexta-feira (8). No caso da taxa básica de juros, a Selic, as projeções dos analistas consultados pelo BC foram mantidas em 11% para este ano e em 12% para 2015. Para os agentes consultados, novo ciclo de aperto monetário será iniciado apenas em janeiro de 2015, com alta de 0,25ponto percentual na taxa básica de juros, sem mudanças em relação à pesquisa anterior.
Competitividade depende de nós Em meados do ano passado a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) previu que em 2013 a Colômbia cresceria 4%, o Suriname 4,5%, o Chile 4,6%, a Guiana 4,8%, a Nicarágua 5%, a Bolívia 5,5%, o Peru 5,9%, o Panamá 7,5%, o Paraguai 12,5% e o Brasil, no máximo, 2,5%. Crescemos 2,3%. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que de 1978 para cá, a participação da China no comércio internacional passou de 1% para 10%, enquanto o Brasil ficou estagnado em 1,5%. Pesquisa do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre a evolução do comércio do Brasil e da China, com três blocos econômicos, no período 2008/2012, constatou que as nossas vendas aumentaram 1,9% contra 47,6% da China: (-) 0,9% x 41,3% no Nafta, 4,3% x 115,6% na Aladi e 4,6% x 74,6% no Mercosul. Na raiz dessa perda de desempenho está a crescente deterioração da capacidade de competir da economia brasileira. Estudo recente do Boston Consulting Group sobre a competitividade da produção de 25 nações, que somam 90% da oferta global de manufaturados, a partir da evolução dos salários, custos de energia, produtividade e variações cambiais, nos últimos 10 anos, apontou o Brasil entre os países que mais regrediram. Sem considerar outros graves problemas que temos, como elevada carga tributária, estrutura tributária caótica, infraestrutura precária, serviços públicos de baixa qualidade e excesso de burocracia e de corrupção. No período avaliado, no Brasil, o câmbio valorizou 20%, os salários na indústria cresceram 100%, o custo da eletricidade aumentou 90% e o do gás 60%. Por outro lado, a produtividade cresceu apenas 3%, contra a média de 27% dos países pesquisados. Fomos 2
classificados como um dos países mais caros para produzir: considerando os EUA como base 100, no Brasil o custo de manufatura é de 123, acima não só de países emergentes como Rússia (99), Taiwan (97), China (96), Tailândia e México (91), Índia (87) e Indonésia (83), mas também de países desenvolvidos como Alemanha (121), Canadá (115), Japão (111), Espanha (109) e Coréia do Sul (102). Enquanto Brasil e China, por exemplo, estão sob pressão pelo forte aumento nos custos de produção, EUA e México estão melhorando a sua competitividade por uma contenção ou redução de custos. O estudo aponta a necessidade premente de aumento da produtividade no Brasil. Antonio Delfim Netto, ex-ministro e apoiador do Movimento Brasil Eficiente – MBE, alerta que o aumento sistemático do salário real acima do crescimento da produtividade física do trabalho compromete as medidas monetárias de combate à inflação e a expansão econômica. Economistas como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, reforçam a tese, incluindo também o salário mínimo entre as preocupações, ainda mais considerando ser ele o indexador de benefícios previdenciários, seguro desemprego, abono salarial, entre outros. O ranking do Fórum Econômico Mundial, que mede a capacidade de as economias atingirem crescimento sustentado e prosperidade, vem mostrando um recuo do Brasil nos últimos anos. Este recuo refere-se a aspectos importantes ligados a fraquezas estruturais, como regime tributário, ensino de baixa qualidade, mercado de trabalho rígido e credibilidade das instituições. Nessa última questão, entre 144 países avaliados ficamos na 121ª posição nos itens “Confiança nos Políticos” e “Desvio de Recursos Públicos”, na 135ª em “Desperdício nos Gastos Públicos” e na última posição em “Excesso de Regulamentação”. Para aumentarmos a produtividade é fundamental que haja a diminuição dos gastos públicos e o aumento dos investimentos no país. O Brasil é um país rico e com enorme potencial. A correção de rumo que precisamos depende de mobilização da sociedade ou de vontade política. Foi vontade política que recentemente permitiu aprovar a Lei dos Portos e a FUNPRESP – Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal. Não há necessidade de dizer que o problema está lá fora.
Brasil importa 20% menos da Argentina e agrava crise vizinha Com o desempenho fraco da economia brasileira, será mais difícil para a Argentina sair da crise. O Brasil é o principal destino das exportações argentinas, responde por um quinto de tudo o que o país vende ao exterior. No primeiro semestre deste ano, porém, as compras brasileiras de produtos argentinos caíram 20%. A redução tem um impacto relevante nas contas argentinas, porque o Brasil compra quase 90% do trigo produzido no país e mais de 80% dos automóveis fabricados por lá. Estes são os mais importantes produtos da pauta exportadora da Argentina. O que está acontecendo na Argentina? A Argentina começou a década de 1990 com hiperinflação. Durante o governo Menem, para conter a inflação alta, lançou o Plano de Conversibilidade: um peso valia US$ 1. Para crescer, se endividou... De janeiro a junho, o Brasil comprou 50% menos trigo argentino e 28% menos automóveis do vizinho. O estrago é tamanho que a imprensa argentina chegou a afirmar que o menor PIB brasileiro é mais danoso do que o calote da dívida externa. O jornal "Perfil" publicou reportagem, sem citar fontes, dizendo que os técnicos do governo que "olham a economia real" afirmam que o estancamento brasileiro preocupa mais do que o calote. 3
São citadas a previsão de crescimento do PIB brasileiro, inferior a 1%, e a queda da produção industrial. "O número é 2%. Quando o Brasil cresce abaixo disso, as exportações argentinas quase não se mexem", diz o diretor da consultoria Abeceb Dante Sicca, ex-secretário de Indústria argentino. Para ele, a Argentina precisa se preocupar tanto com a dívida quanto com o Brasil, mas, no segundo caso, "não pode fazer nada". OFERTA SUMIU A queda das compras brasileiras da Argentina é mais intensa do que o recuo total das importações (-3,8%). No caso do trigo, segundo José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), não foi possível comprar mais porque a produção e as vendas do vizinho encolheram. Segundo a Secretaria de Agricultura da Argentina, o estoque disponível de trigo para exportação caiu à metade nesta safra, para 1,5 milhão de toneladas. O Brasil, que comprará cerca de 5,5 milhões de toneladas de trigo no exterior neste ano, teve que trazer cereal dos Estados Unidos. Para Daiane Santos, da Funcex, a queda da importação de carros se explica pelo recuo nas vendas no Brasil. "Nossa desaceleração piora o cenário para a Argentina", afirma Castro. Para ele, porém, a crise pode baratear produtos do vizinho e ajudar as vendas externas do país.
Com carros em baixa, indústria vê 4ª queda A piora do cenário econômico na Argentina, em desaceleração desde o fim do ano passado, e seu impacto sobre o setor automotivo tem contribuído para derrubar a produção industrial brasileira, que encolhe há quatro meses seguidos, segundo o IBGE. Em junho, a produção industrial brasileira caiu 6,9% em comparação com junho do ano passado, no pior resultado desde setembro de 2009, quando fechou em -7,4%. Em relação a maio, o setor encolheu 1,4%, o pior resultado desde março. Dos 2,6% de queda acumulada na indústria em 2014, 1,9 ponto percentual, ou quase 75% desse mau resultado, vem da produção de veículos, que sofre pesadamente o encolhimento do país vizinho. A exportação de veículos brasileiros para a Argentina caiu 36% entre janeiro e julho, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Muito sensível aos juros e ao crédito, o setor de bens duráveis (que inclui automóveis e eletrodomésticos) recuou 24,5% em relação a maio e 34,3 % sobre junho de 2013. Com o impasse da dívida argentina, a tendência é que a indústria continue sofrendo. O setor foi particularmente pressionado pela menor fabricação de automóveis, que recuou 35,1%, influenciado por férias coletivas em várias unidades produtivas. "O imbróglio da dívida é difícil de resolver, o que pode trazer mais problema para a indústria", diz Guilherme Mercês, gerente de economia e estatística da Firjan (Federação das Indústrias do Rio). Além da crise argentina, dos juros e inflação em alta, da desaceleração da economia e desconfiança do empresário e do consumidor, as paradas devido à Copa, ajudaram a afundar o setor. LONGA QUEDA "A Copa contribuiu mas não é determinante. A piora dos indicadores já vem sendo verificada desde outubro do ano passado, e é disseminada por vários segmentos", disse André Macedo, gerente de pesquisa do IBGE. Desde outubro, a indústria perdeu 6,5% da produção, segundo o IBGE. E dos 24 setores pesquisados pelo instituto, 18 tiveram desempenho pior em relação a maio. 4
A desconfiança do empresário com o cenário macroeconômico é medida pela forte queda na produção da indústria de máquinas, equipamentos e caminhões, de 9,7% em relação a maio e de 21,1% em relação a junho de 2013. "A confiança dos empresários está muito baixa, e assim eles investem menos", diz Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Preocupados com o ritmo do mercado de trabalho junho foi o pior em criação de empregos, segundo o Ministério do Trabalho--, consumidores tendem a evitar dívidas. Sofreram também os produtores de televisões (queda de quase 30% no mês), depois de um início de ano de vendas fortes. Os estoques estão acima do normal na maior parte da indústria, diz Macedo, do IBGE, e contribuem para piorar o humor do empresário. "A possibilidade de recuperação do setor existe, mas sua ocorrência vem se tornando cada dia maisincerta", diz Bacciotti. A Firjan prevê queda de 2% no setor em 2014. A indústria só não foi pior em junho porque a Petrobras contribuiu com suas refinarias que operam em 96% da capacidade, ante 92% em 2011. O segmento que inclui o refino cresceu 6,6%, frente a maio, e 2,1% em relação a junho de 2013. A Petrobras está levando as refinarias ao limite para importar menos combustíveis e reduzir as perdas com a venda abaixo do custo internacional. Os combustíveis não têm reajuste há oito meses.
Dilma relança PAC com 30% das grandes obras inacabadas Às vésperas de anunciar a terceira versão do Programa de Aceleração do Crescimento, o governo federal ainda tenta concluir uma de cada quatro obras mais relevantes do PAC 1, lançado em 2007. Levantamento feito pela Folha com base no balanço oficial dos primeiros quatros meses de execução do programa, mostra que dos 101 projetos destacados pelo Planalto como mais importantes, 27 não foram concluídos e 4 foram abandonados. O programa inicial, lançado pelo ex-presidente Lula, previa um total de 1.646 projetos, orçados em R$ 503,9 bilhões. Já o PAC 2, lançado por Dilma em 2011, incorporou empreendimentos não realizados no PAC 1 e estimou investir R$ 955 bilhões. Atrasos constantes e mudanças no planejamento inicial acabaram alterando orçamentos nesses sete anos. Segundo o documento do governo, todas as obras do PAC 1 consideradas relevantes deveriam estar prontas ou em operação em 2014. Nessa lista, estão grandes projetos, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco e a refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco), todos ainda em andamento. Das 70 obras concluídas, mais da metade estourou o prazo. Entre os casos extremos está a reforma do aeroporto de Vitória (ES), que só deve ser concluída dez anos depois. Alguns projetos da lista do PAC 1 que o governo considera como concluídos, como duplicações de sete rodovias federais, ainda estão em andamento. Como a administração dessas estradas foi transferida à iniciativa privada em 2008, o Ministério do Planejamento considera essas obras prontas. As duplicações deveriam ter sido terminadas em 2013, mas as empresas que administram essas estradas dizem que as obras seguem até 2018. No grupo de 61 intervenções atrasadas, a expectativa média é que os projetos fossem concluídos 30 meses após o prazo previsto em 2007. Aeroportos e portos atrasarão, em média, quatro anos. Os projetos mais relevantes do PAC 1 custariam aos cofres públicos R$ 156 bilhões, de acordo com as estimativas iniciais. Atualmente, esse valor já está em R$ 272 bilhões. Além dos atrasos, em alguns casos os custos subiram porque o projeto inicial foi completamente revisto. 5
A reforma do aeroporto de Brasília, por exemplo, previa pequenas intervenções e um novo anexo. Privatizado em 2012, a empresa vencedora acabou refazendo o projeto, elevando a estimativa de custo em quase 20 vezes. A polêmica refinaria Abreu e Lima (PE), investigada pela Polícia Federal por suspeita de superfaturamento, só deve ficar pronta em 2015 e custará à Petrobras R$ 26,8 bilhões. A previsão inicial era de R$ 5,6 bilhões. Técnicos ouvidos pela Folha afirmam que as projeções iniciais do PAC refletiam uma falta de experiência do governo para executar grandes obras, já que as décadas de 80 e 90 foram marcadas por seguidas crises econômicas. As áreas técnicas do governo estudam o PAC 3 desde o início do ano, mas não houve ainda anúncio oficial sobre o formato do programa. Empresários de várias áreas do setor de infraestrutura estão apresentando demandas sobre as intervenções mais prioritárias e as propostas estão em análise pelo governo.
Editorial: Fora de controle Já deixou de ser novidade para se consagrar como tendência do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A cada mês surgem novos dados que mostram a constante deterioração das contas públicas. Em junho, houve deficit primário (a soma de receitas e despesas antes do pagamento de juros da dívida) de R$ 2,1 bilhões. Melhor que o rombo de maio, R$ 11 bilhões, mas ainda assim negativo. Com isso, o saldo positivo do primeiro semestre ficou em R$ 29,4 bilhões, menos de um terço da meta para o ano (R$ 99 bilhões, ou 1,9% do PIB). É o pior resultado desde 2000. Com o país à beira da recessão, a arrecadação de impostos patina. Enquanto isso, as despesas crescem de forma acelerada. Para o governo fechar as contas, sobraram as receitas não recorrentes –espera-se uma nova rodada de refinanciamento de dívidas de empresas e um bom dinheiro com o leilão de 4G na área de telefonia. O problema é agravado pela tentativa de escondê-lo. Disfarça-se o tamanho do buraco com seguidas camadas de contabilidade criativa: despesas recorrentes são adiadas para o mês seguinte e repasses obrigatórios ficam retidos –suspeita-se que até o pagamento de aposentadorias comece a ser gerenciado com tal propósito. O governo federal não engana ninguém. Há um exército de analistas para desfazer a ilusão. O único resultado que colhe é a deterioração de sua própria credibilidade, já em níveis típicos das crises. Em 2009, no auge do colapso financeiro mundial, o aumento de despesas foi justificado pelo combate ao risco de recessão. O contexto mudou, mas a gestão Dilma não percebeu. A partir de 2010/2011, o recomendável teria sido baixar os juros e diminuir os gastos. Uma nova janela se abriu com a crise europeia, dando a chance de consolidar taxas menores em 2012. A letargia do crescimento, porém, levou o governo ao pânico –afinal, já se pensava na eleição deste ano– e, desde então, todas as amarras das contas foram soltas. O Planalto embarcou em uma aventura temerária de expansão de gastos, créditos subsidiados e garantias do Tesouro cujo custo ainda não é plenamente conhecido. O conjunto da obra é o pior possível: uma economia que derrapa, com juros e inflação em alta, além de um Orçamento estourado e uma dívida pública crescente, fazendo aumentar a percepção de risco de emprestar ao Brasil. Neste ano, os juros internacionais permaneceram baixos, com o que o país ganhou tempo para arrumar seu quintal. Infelizmente, não há sinal de que tal oportunidade esteja sendo aproveitada.
A força dos fatos A eclosão da crise global gerou análises em setores importantes no Brasil de que ela significava a falência do sistema de livre mercado e a vitória definitiva do intervencionismo 6
governamental não só via regulação, que era necessária, mas, também, via ação direta na economia, com aumento do gasto público para impulsionar a atividade e intervenção no sistema de preços, entre outras medidas. Essa visão, porém, não prevaleceu nos EUA e no Reino Unido, epicentros da crise, que, sintomaticamente, se recuperam melhor que os países intervencionistas. Nos EUA, a nova regulação dos mercados reduziu o risco de crédito dos bancos e limitou a intervenção governamental ao apertar o controle das agências de crédito imobiliário paraestatais. O Congresso aprovou ainda dura contenção de gastos do governo, que não levou ao temido abismo fiscal, pelo contrário. A economia dos EUA cresceu a taxa anualizada de 4% no segundo trimestre, uma recuperação consistente, fundamentada pela maior solidez fiscal, pelos ajustes nas empresas e pela liberdade para empreender e inovar. Já o Reino Unido elegeu um governo conservador. Ele promoveu forte contenção fiscal, reduzíu os riscos do mercado e, nas palavras de seu ministro da Fazenda, George Osborne, é desavergonhadamente pró-negócios. Resultado: o país cresceu a taxa anualizada de 3,1% no segundo trimestre. Enquanto isso, países com tradição intervencionista, como a Itália e a França, têm economias estagnadas e dificuldades de conciliar a postura de Estado forte com a necessidade de promover investimentos privados e mais empreendedorismo. O entendimento claro do cenário global é fundamental quando discutimos os caminhos para a retomada do crescimento no Brasil. Aqui na região, países com forte ação intervencionista enfrentam desafios ainda maiores que o resto do mundo. O exemplo mais claro é a Argentina, ameaçada de recessão e de mais crise após a controvérsia do calote técnico, que deve aumentar suas dificuldades cambiais. Já Colômbia, Chile e Peru, com economias mais abertas, crescem a taxas saudáveis. Importante notar que o maior risco da economia global hoje vem de uma possível ação governamental do Fed (o banco central dos EUA) no mercado, com manutenção de juros muito baixos e excesso de liquidez. Esperemos que o Fed não repita os erros vistos anteriormente. Em resumo: com o passar dos anos e dos fatos, o quadro da economia global deu uma resposta suficientemente enfática às conclusões precipitadas de alguns analistas depois da crise 2007-2008. Precisamos tomar cuidado para não seguir o caminho de alguns "hermanos".
O Brasil cresce pouco? As últimas revisões que fizemos no Ibre/FGV sugerem que o crescimento do Brasil em 2014 será de só 0,6%. Forte piora no cenário. Consolida-se um crescimento abaixo de 2% ao ano no quadriênio da presidente Dilma. Se o 0,6% se confirmar, o crescimento médio no primeiro mandato de Dilma será de 1,7% ao ano. Quatro anos não é pouco tempo. É difícil argumentar que somente fatores ligados ao ciclo econômico explicam esse desempenho. O debate público brasileiro tem alinhavado duas explicações para os motivos do baixo crescimento. Em geral, uma delas é preferida pelos analistas que apoiam o atual regime de política econômica, enquanto a outra é da predileção dos críticos. A coluna no "Valor" de quarta-feira passada do professor titular da UFRJ José Luís Fiori, bem como a entrevista dada no início de julho ao jornal "Brasil Econômico" pelo professor do Departamento de Economia da Unicamp Fernando Nogueira da Costa, são dois exemplos do primeiro ponto de vista. O segundo ponto de vista é bem expresso pelo conteúdo que tenho defendido neste espaço. É útil tentarmos entender as diferenças. O ponto de partida é lembrarmos que no período FHC crescíamos abaixo da economia mundial, mas acompanhávamos a América Latina. No período Lula, passamos a crescer 7
aproximadamente no mesmo ritmo da economia mundial e da América Latina. No quadriênio de Dilma, cresceremos abaixo de ambos. O debate é se a América Latina é um bom grupo de referência para avaliarmos as possibilidades e o desempenho da economia brasileira. A argumentação de Fiori e de Nogueira da Costa é que as economias da América Latina não constituem um grupo de referência adequado para avaliarmos a nossa economia. O motivo é que a estrutura produtiva e a escala da economia brasileira são distintas da maior parte das economias latino-americanas. Além de sermos muito grandes, somos uma economia que completou a urbanização, a transição demográfica e a industrialização. Essas dinâmicas, que não são independentes, ocorreram ao longo das cinco décadas de 1930 a 1980. A transição demográfica se completa na segunda década deste século, com o fim do bônus demográfico. Ou seja, não faz sentido, segundo Fiori e Nogueira da Costa, compararmos o crescimento brasileiro aos de Chile, Peru e Colômbia, por exemplo, pequenas economias exportadoras de commodities. Para eles, o grupo de referência correto para avaliar as possibilidades de nossa economia são os países industrializados e grandes em termos absolutos. Esses países apresentam estrutura produtiva isto é, participação na produção dos diversos setores (agropecuária, indústria e serviços) semelhante à do Brasil. Ou seja, dado que os países maiores incluindo EUA, Alemanha, França e Japão crescem a 2% ao ano, o crescimento de 2% ao ano é o novo padrão normal de economias grandes em termos absolutos e, portanto, trata-se do nosso atual padrão normal. Dessa forma, não podemos considerar o 1,7% de crescimento na atual conjuntura como sendo pouco. Diferentemente dos dois autores, minha visão é que o fator mais importante para diferenciar as economias, do ponto de vista de bem estar e do ponto de vista das possibilidades de crescimento, é a produtividade do trabalho. A hora trabalhada nos países latino-americanos produz de 1/6 a 1/4 da hora trabalhada nos EUA. Como argumentei ao longo de diversas colunas, penso que dois são os principais fatores que explicam a baixa produtividade do trabalhador brasileiro. Primeiro, a péssima qualidade do sistema público de educação básica, e, segundo, a pior qualidade do marco institucional e legal. Como, em relação à América Latina, temos não só níveis semelhantes de produtividade do trabalho como grandeparalelismo nas trajetórias de desenvolvimento histórico e institucional, além de dificuldades semelhantes em construir sistemas públicos de educação com qualidade, penso que os países da região formam um bom grupo de referência para olharmos nossa trajetória e nossas possibilidades. Por outro lado, considerar que 2% de crescimento ao ano seja nosso novo normal por ser o crescimento das economias do G10 representa aceitar normal que nunca reduzamos nossa distância de bem estar com relação às economias desenvolvidas.
A indústria dá o troco BRASÍLIA - Há uma relação direta entre dois anúncios cheios de significado: a produção da indústria caiu em 21 de 26 setores em junho; a arrecadação da campanha de Dilma Rousseff caiu em relação a 2010. A lógica é elementar, comprovando que, se o mar não está para peixe, o ambiente industrial não está muito animado com a reeleição e isso reflete nas doações de campanha. No primeiro mês oficial da eleição, a arrecadação de Dilma foi bem menor do que a do mesmo período de 2010 e está equiparada à do tucano Aécio Neves que foi mais que o dobro do que José Serra recebeu quatro anos atrás. Aécio, aliás, foi o que mais atraiu recursos na largada. Camposnão está mal, mas tem o fantasma de Marina. 8
O empresariado aposta suas fichas e dá o troco em Dilma pelo desempenho industrial, que embicou para baixo, e pelos indicadores da economia, um pior que o outro. Só na semana passada: 1) o governo gasta demais e está muito longe de cumprir a própria meta de economia para o ano; 2) as exportações melhoraram em julho, com as tais plataformas de petróleo, e nem isso reverte o déficit comercial no ano, de US$ 916 milhões; 3) o IBGE detecta o recuo da indústria pelo quarto mês seguido. Pobre PIB... Quem pode estar feliz? Sem felicidade, não há ânimo para a reeleição. Dilma saiu da condição de "poste" para a vitória de 2010 embalada por uma popularidade recorde de Lula e por um crescimento econômico de 7,5%. Tudo fazia sentido. Em 2014, Lula anda meio sumido, a popularidade da presidente é sofrível, a previsão de crescimento é de mísero 1% e o efeito da política econômica desses três anos e meio desaba no empresariado e no eleitorado na pior hora. O dia 19 vem aí e a proporção do tempo na TV é bem mais favorável a Dilma do que a das doações de campanha. Mas para falar da era Lula e esquecer a era Dilma. Com a TV, ou vai ou racha inclusive os aliados.
Recessão "técnica" e mental No meio da campanha eleitoral sai o resultado do crescimento da economia na primeira metade do ano. No próximo dia 29, vamos saber do andar da carroça do PIB no segundo trimestre, o que deve dar pano para a manga oposicionista ou, com muita sorte, para o governo, caso não venha o resultado previsto pelos "pessimistas". Pode ser que se ouça a conversa da "recessão técnica". E daí? Daí, nada. "Recessão técnica" é um apelido dado a dois trimestres de crescimento abaixo de zero, de encolhimento da renda nacional por um semestre. Pode ser que o PIB do tumultuado segundo trimestre decresça algo em torno de0,2% e, nada improvável, se revise o crescimento do primeiro trimestre para algo abaixo de zero também. "Técnico" é um adjetivo que parece conferir seriedade a um substantivo. A reportagem sobre governos, por exemplo, costuma dizer que a nomeação de fulana ou sicrano para um cargo foi "técnica" quando a pessoa estudou alguma coisa, em tese não tem inclinação para negócios público-privados ou não é francamente ladra. Pode ser uma besta, mas é "técnica". Por que a recessão é "técnica"? Porque, talvez, um trimestre apenas de encolhimento do PIB seja acidental. Com dois trimestres de crescimento abaixo de zero, a coisa fica com mais cheiro de queimado, mas vai pouco além a tecnicidade da definição. Qual a diferença de um ritmo de crescimento de -0,2% seguido de 0,2% de outro, digamos, de -0,1% e -0,1%? Neres de nada, picuinhas, políticas em especial. Em si mesmo, o número assim diz pouco sobre o andamento e a qualidade do estado da economia. Muita gente que se dedica ao assunto não define recessões apenas pelo andar do PIB, nem há definição incontroversa do conceito. Além do mais, em termos práticos e eleitorais, o PIB é uma abstração real, digamos, de modo irônico. Pode acontecer, como no Brasil recente, de o crescimento ir de mal a pior e o estado geral da economia prenunciar dias ainda piores, mas a população ainda não sentir na carne os problemas. Por exemplo, é provável que o PIB da segunda metade do ano seja melhorzinho que o do primeiro semestre, mas, no dia a dia, a sensação térmica vai ser pior, com o mercado de trabalho esfriando mais. Recessão "técnica", espiritual, mental, estagnação, ou seja lá o que aparecer na roleta de agosto, o fato é que o Brasil cresce muito pouco enquanto apresenta sintomas de uma economia que cresce excessivamente (inflação e deficit externo relativamente altos, para ser breve). Trata-se do pior de dois mundos. Sem dar conta disso, de desarranjos econômicos elementares, não se pode passar a discutir coisa mais séria, alternativas de desenvolvimento 9
econômico, que se prestam a muita controvérsia (coisas como inflação e gasto público se prestam a pouca controvérsia). Se todos os candidatos relevantes a presidente disserem coisas sensatas a respeito, em vez de bobagens, picuinhas e sujidades eleitorais, pode ser que a recuperação econômica comece até um tico antes. É o que o colunista tem a esperança de ver quando voltar de férias, em setembro.
EUA tiram de novas reservas 8 vezes o que produz pré-sal Novidade do setor de petróleo e gás americano, os reservatórios de "tightoil", antes inacessíveis por questões tecnológicas e econômicas, fornecem hoje aos EUA 4 milhões de barris de óleo por dia -o quíntuplo de 2010. Desde então, os novos reservatórios levaram a produção de 5,5 milhões para 8,5 milhões de barris diários, segundo a Administração de Informações de Energia. O volume extraído dali diariamente representa o dobro da produção no Brasil e oito vezes os 500 mil barris que a Petrobras obtém da camada pré-sal, inacessível até 2006. O "tightoil", ou óleo "preso", em tradução livre, é extraído do folhelho, rocha em que o óleo entranhado nos poros tem dificuldade de se deslocar rumo ao poço. É a mesma rocha do gás de xisto, que levou a produção nos EUA a subir 20% desde 2008, para 688 bilhões de metros cúbicos ao dia, tirando da Rússia a liderança no gás.
Reservas de difícil acesso no EUA já produzem bem mais que o pré-sal Até seis anos atrás, não se tinha domínio da tecnologia para extrair óleo e gás de folhelhos, e, com a cotação do barril em US$ 60, a atividade era financeiramente inviável. A escalada do preço (o barril está acima de US$ 100) e o desenvolvimento de métodos de extração desse óleo tornaram-no realidade nos EUA. São duas as novas técnicas, usadas conjuntamente. Uma delas é perfurar também poços horizontais, o que aumenta a conexão dos reservatórios, ajudando o óleo a se deslocar para poço produtor o caminho criado para levar o óleo à superfície. 10
A outra é a injeção de areia e água nos reservatórios, que abre os poros dos folhelhos e empurra o óleo para o poço. Pesa também para a diferença de produtividade o fato de que, nos EUA, as reservas de petróleo pertencem ao dono do terreno sob o qual se encontram. Cabe a ele ditar o ritmo de sua exploração. Já no Brasil, as reservas pertencem à União e são disputadas em leilões da ANP. Os leilões eram anuais, mas, desde 2007, a única área oferecida no pré-sal foi o campo de Libra, na bacia de Santos, em 2013, arrematado pela Petrobras e quatro estrangeiras. PARALELAS A exploração do "tightoil", nos EUA e do pré-sal no Brasil ocorreram em paralelo, e a comparação é irresistível. As opiniões, porém, divergem. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, afirma que, se não tivesse ocorrido a suspensão de leilões, o ritmo de descobertas e de produção seria maior. Alexandre Szklo, professor da Coppe-UFRJ, diz que havia alta expectativa mundial em relação ao que o Brasil poderia estar produzindo. "Mas, por ser um setor baseado em pequenos produtores, a indústria americana responde mais rapidamente." Para o geólogo John Forman, ex-diretor da ANP, não havia como o pré-sal ter dado um salto. "O desafio tecnológico aqui é muito maior." É a mesma visão da Petrobras, que ressalta o crescimento da produção diária no pré-sal em dez vezes desde 2010. A área responde hoje por 22% do petróleo do país. A expectativa da empresa é chegar aos 2,1 milhões de barris, ou metade da produção total, em 2020.
Brasil quer regra para dívida renegociada após caso argentino A presidente Dilma Rousseff pretende dar apoio mais que retórico à Argentina em sua batalha contra o que os argentinos chamam de "fundos abutres". Na recente reunião do Mercosul em Caracas, Dilma reiterou a Cristina Kirchner que levará à cúpula do G20 (novembro, na Austrália) proposta para regular a reestruturação das dívidas de governos, território hoje sem lei, conforme se verifica pelas idas e vindas da negociação argentina com os "abutres". O governo brasileiro compra, com essa posição, a tese argentina de que não está havendo calote, porque a Argentina não deixou de pagar. Depositou em juízo uma quantia que o juiz norte-americano Thomas Griesa impediu que os credores (da dívida renegociada) retirassem. O que está acontecendo na Argentina? A Argentina começou a década de 1990 com hiperinflação. Durante o governo Menem, para conter a inflação alta, lançou o Plano de Conversibilidade: um peso valia US$ 1. Para crescer, se endividou... É uma discussão técnica que acaba fugindo do essencial: não dá efetivamente para falar em segundo "default" argentino, 13 anos depois do aplicado em 2001, porque as condições de um e outro são completamente diferentes. Para começar, em 2001 a Argentina deixou de pagar 100% de seus credores, aplicando um calote próximo dos US$ 100 bilhões, tido como o maior da história, pela simples e boa razão de que não tinha recursos para fazê-lo. Não foi portanto uma decisão política ou ideológica, mas uma inevitabilidade. Agora, não. A Argentina só se recusa a pagar uma pequena parcela da dívida restante (menos de 8% da original), em mãos dos "fundos abutres". Aí sim, há uma questão político-ideológica: Cristina Kirchner não acha decente que fundos que não são os portadores originais dos papéis argentinos se beneficiam de uma aposta. LUCRO Tais fundos compraram títulos dos credores originais, com imenso desconto, confiando que cobrariam o valor integral por decisão da Justiça norte-americana -exatamente por apostarem 11
que dava para ter ganho de causa pela carência de legislação internacional a respeito de dívidas renegociadas. É esse problema que Dilma pretende que o G20 encare. O governo argentino diz que um dos fundos, o NML de Paul Singer, por exemplo, pagou em 2008 apenas US$ 48,7 milhões pelos títulos em default. Hoje, de acordo com a sentença do juiz Griesa teria direito a receber US$ 832 milhões -um lucro estratosférico de 1608% em seis anos. Outra diferença essencial entre 2001 e 2014: ao dar o calote, a Argentina vinha de cinco anos de recessão (só em 2001 a economia retrocedeu 10,7%, nível de país em guerra). Agora, dá-se o oposto: desde a primeira renegociação da dívida, em 2005, até 2013, o país cresceu 61%, o que dá a significativa média anual de 6,7%. Mude-se o foco para a política e as diferenças colossais continuam: imediatamente antes e imediatamente depois do calote de 2001, o país vivia um turbilhão institucional tão fantástico que chegou a trocar cinco vezes de presidente em seis semanas. Agora, o sobrenome Kirchner (Néstor primeiro, Cristina agora) ocupa a Casa Rosada, sede do governo em Buenos Aires, desde 2003, sem interrupção e com apoio popular que levou a atual presidente a ser reeleita com 54% dos votos em 2011. De lá para cá, é verdade, o apoio foi se esfarelando bastante, mas não há nada que se comparece à derrubada em série de presidentes. Tudo somado, é razoável supor que os efeitos do novo calote, desta vez "seletivo", para usar a expressão da agência de avaliação de risco Standard andPoor's, serão igualmente diferentes. Mas é claro que efeitos haverá, até porque o default seletivo incide sobre uma situação já complicada, com redução da atividade econômica, inflação alta, dólar instável. Só os mais encarniçados adversários da presidente, porém, chegam a imaginar uma calamidade como a que antecedeu e se seguiu ao calote de 13 anos atrás.
Indústria diminui o peso de alimentos, mas mantém preços
Em tempo de inflação mais elevada — O índice medido pelo IPCA chegou a 6,52% em 12 meses terminados em junho, observa-se nas prateleiras dos supermercados uma nova onda de redução das embalagens pela indústria. O que significa, na prática, que o consumidor pode estar levando para casa até 25% a menos do produto, sem que o valor, no entanto, tenha sido reduzido. A indústria fala em estratégia, sem dar mais explicações. Para os economistas, é uma tentativa do setor, diante da pressão de custos, de manter preço e não perder mercado. O fato é que está havendo um aumento disfarçado.
Em novembro do ano passado, a “Defesa do Consumidor” publicou reportagem mostrando esse mesmo fenômeno em sorvetes, achocolatados, cereais e refrigerantes. Dessa vez, trata-se 12
de itens variados que vão do biscoito recheado, como o Trakinas, que foi reduzido de 154g para 143g (diminuição 7,14%), ao leite Molico (que sofreu redução 6,7% na versão em lata e 16,7% no refil) e o queijo cottage Campo Verde que encolheu 20%, seguindo pelos flocos de milho SnowFlakes, que passou de 330g para 300g, até a barra de chocolate Garoto, que de 200g passou para 180g e mais recente para 150g, numa perda de peso total de 25%, como observou a carioca Marenildes Pacheco da Silva: — Ao contrário do que dizem, cheguei à conclusão que chocolate realmente “emagrece”. O QUE DETERMINA A LEGISLAÇÃO A redução em si não é ilegal, desde que seja informada com clareza ao cidadão. A prática, que ficou conhecida como “maquiagem de produtos", não é nova. Teve seu ápice nos períodos de congelamento de preços, em especial no Plano Cruzado, em 1986, justamente quando as indústrias, para tentar fugir do tabelamento e pressionadas por custos, optavam por reduzir o peso dos produtos. Para o economista-chefe do Arab Bank Corporation (ABC Brasil), Luis Otávio de Souza Leal, a prática de redução de embalagem se deve também à questão do câmbio — que permite produtos importados com preços competitivos — e a busca pela redução de custos. Segundo Leal, muitas vezes um fabricante, para não aumentar o preço e perder cliente, opta por reduzir o conteúdo. Além do mais, lembra, é preciso levar em conta que, se a inflação em geral ronda a casa dos 6%, a de serviços, onde se inclui o custo com a mão de obra, está na casa dos 9%. Ele destaca, no entanto, que desde o Plano Real o consumidor ficou mais consciente sobre seus direitos e mais reativo a aumentos. — Agora, quando vivemos um período de inflação mais alta e perda do poder aquisitivo, o consumidor está mais atento. Hoje, a classe média faz o caminho inverso das classes C e D no início do Real. As pessoas reduzem as compras e trocam as marcas premiumpor outras mais em conta afirma. O professor de Economia da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha admite que a inflação está elevada e o consumidor perde poder aquisitivo, mas não identifica uma volta da maquiagem de produtos. Para ele, os casos são episódicos. — Houve, sim, uma pressão maior dos alimentos na inflação no início do ano, mas restrito a frutas, verduras e legumes por questões sazonais. Por outro lado, os grãos (soja, trigo e milho), com maior peso no custo da indústria, têm caído fortemente nos últimos meses — observa Cunha. Maria Inês Dolci, coordenadora Institucional da Proteste — Associação de Consumidores, orienta que o consumidor observe sempre o peso dos produtos: — Quando o fabricante reduz o peso de um produto e não reduz o valor, está fazendo um aumento proporcional de preço naquela diminuição de quantidade. Nesse caso é preciso comparar com outros produtos e, se for caso, mudar de marca. Em casos em que não há informação ao consumidor da redução, é preciso ir além e denunciar a empresa por propaganda enganosa e maquiagem de produtos, prática para as quais cabem punições — diz. A “maquiagem de produtos" é proibida desde 2002 pela Portaria 81, que determina que as alterações quantitativas devem ser informadas, pelo prazo mínimo de três meses, em área de 20% da embalagem. A proibição também está prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC) que, em seu artigo 18, determina que fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que, entre outras coisas, lhes diminuam o valor. Os Procons podem aplicar multas que variam de cem até três milhões de Ufirs. De 2002 até o fim de 2013, foram R$ 35 milhões em multas. Para Patrícia Hassoun, advogada do Instituto Iberoamericano de Relacionamento com o Cliente (IBRC), muitas vezes a redução de peso das embalagens é um estratégia empresarial de reposicionamento no mercado para atender a nichos, como o crescente número de pessoas que moram sozinhas. — De qualquer forma, o consumidor deve ficar atento e denunciar os abusos. Toda diminuição deve estar claramente notificada e o design da embalagem não deve dificultar esse alerta. O 13
boicote aos produtos também pode ter um efeito modificador no comportamento da empresa — avalia. EMPRESAS NEGAM IRREGULARIDADES A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) afirma recomendar às empresas associadas — que representam 70% do faturamento do setor alimentício do país — o cumprimento das determinações da Portaria 81/2002. A Nestlé observa que, quando da alteração de peso da lata do leite Molico, a embalagem informava com destaque o peso anterior, a atual e a diferença percentual. Em relação às queixas de redução do sachê do leite, afirma que a mudança aconteceu em janeiro deste ano, de 600g para 500g, e que também foi informada no rótulo por seis meses. O mesmo, garante, foi feito com a embalagem do SnowFlakes, que passou de 330g para 300g. A Mondeléz Brasil, fabricante do biscoito Trakinas, diz que os ajustes atendem à demanda dos consumidores e a adequação do portfólio da marca, e que houve aviso no rótulo. Em relação ao biscoito Chocooky que, segundo consumidores foi reduzido de 200g para 120g, a empresa alega que a embalagem menor não substituiu a versão anterior que continua à venda. A Chocolates Garoto informa que a mudança de peso da caixa de Bombons Sortidos, de 400g para 355g, foi avisada na embalagem. E que o mesmo ocorreu com a barra de chocolate com castanhas, que passou de 180g para 150g. A Laticínios Campo Verde informa que a redução do queijo cottage, de 250g para 200g, foi feita para padronizar a fabricação e que o aviso foi feito na embalagem.
Produção industrial cai 6,9% em junho A produção industrial no Brasil caiu 6,9% em junho na comparação com igual período do ano anterior, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do quarto mês consecutivo de queda e do pior resultado desde setembro de 2009, quando o indicador recuou 7,4%. A produção industrial caiu 1,4% em junho ante maio, também consolidando o quarto mês consecutivo de queda na comparação mensal. No acumulado do ano, houve retração de 2,6%. "A magnitude da queda tem relação direta com menos dias de trabalho por conta da Copa (do Mundo) e com redução da jornada de trabalho e férias dadas nas montadoras", afirmou o economista do IBGE André Macedo. "A Copa potencializou o movimento de queda da indústria, que continua sendo afetada por nível de estoque alto, baixo nível de confiança do empresário, menor demanda doméstica e crédito mais restrito", argumenta Macedo. As quatro grandes categorias econômicas analisadas recuaram em junho. Bens de Capital obteve o pior desempenho, com queda de 21,1% no confronto anual e de 9,7% no confronto mensal. Em seguida, ficaram Bens de Consumo, Indústria Geral e Bens Intermediários. Na categoria de Bens de Consumo, a produção de bens de consumo duráveis caiu 34,3% no confronto anual e 24,9% no confronto mensal, enquanto a produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis teve retração de 3% e de 1,3% nas mesmas bases de comparação, respectivamente.
BNDES também financiará aeroportos de Cuba, diz jornal Não será apenas o porto de Mariel, em Cuba, que terá dinheiro brasileiro em sua modernização. Os aeroportos do país também devem receber capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo reportagem do jornal O Globo. Ambas as obras estão no portifólio da Odebrecht, a quem o banco de fomento repassará o dinheiro. O BNDES repassou 682 milhões de dólares ao porto, que contou até mesmo com a presidente Dilma em sua inauguração, em janeiro deste ano. O dinheiro adicional será usado para construção de uma área especial industrial junto ao porto. Segundo fontes do mercado ouvidas pelo jornal, seriam destinados aos aeroportos outros 150 milhões de dólares (336 milhões de reais), parte liberada ainda neste ano, em um contrato já fechado há um mês com a Odebrecht. Contudo, ao Globo, o banco de fomento confirma 14
apenas que o financiamento está em fase de contratação. O empréstimo estaria dentro da linha de exportações brasileiras de bens e serviços de engenharia, cujo objetivo, segundo o BNDES, é beneficiar empresas nacionais a ganharem competitividade. A Odebrecht confirmou as negociações para o Projeto de Ampliação e Modernização da Infraestrutura Aeroportuária de Cuba. A empresa divide com a Embraer a liderança de brasileiras nesta modalidade de crédito desde 2009. O banco não informa, porém, o volume de recursos brasileiros investidos em empreendimentos de Cuba.
Depois de Dilma, agora é Mantega quem nega tarifaço em 2015 Em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Estado de São Paulo, o ministro da Fazenda negou que um aumento generalizado de tarifas esteja planejado para depois das eleições: "Essa história de que não reajustamos as tarifas é conversa pra boi dormir (...) Os reajustes ordinários de energia elétrica também estão ocorrendo. Tudo está normal. Então, não procede a ideia de que haja necessidade de tarifaço. Sei que eu não faria nenhum tarifaço em 2015." Em evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI) essa semana, a presidente Dilma Rousseff também negou a hipótese e disse que ela foi criada para causar "expectativa negativa no momento pré-eleitoral". De acordo com relatório lançado hoje pelo JP Morgan, a crise no setor elétrico causou um custo extra de R$ 66 bilhões e a conta do consumidor pode subir até 29% no ano que vem. O Ministério de Minas e Energia afirma que o aumento será escalonado ao longo dos próximos 3 anos: 2,6% em 2015, 5,5% em 2016 e 1,4% em 2017. Já a Aneel prevê uma alta de 8% nos próximos 2 anos. A consultoria Tendências trabalha com uma estimativa de aumento de 17% na energia elétrica em 2015. Cenário Na entrevista ao Estadão, Mantega também disse que a Argentina não está dando calote e que o problema no vizinho "não tem impacto nenhum" aqui por enquanto. Ele também acredita que há no Brasil um "pessimismo artificial" gerado por "fatores extraeconômicos". Depois do governo registrar seu pior resultado da história em contas públicas para o mês de junho, o ministro afirma que "as despesas não estão fora de controle, as receitas que frustraram por conta do ritmo da economia no primeiro semestre". Ele diz que "estamos num ponto de inflexão" e que o segundo semestre será melhor do que o primeiro graças a fatores como queda na inflação, melhora na Bolsa, mais otimismo dos consumidores, menor restrição de crédito e um melhor cenário internacional.
Editorial: De joelhos Uma procissão de autoridades, liderada pela presidente da República, pelo governador paulista e pelo prefeito da cidade de São Paulo, dirigiu-se, na última quinta-feira, ao bairro paulistano do Brás para prestigiar a cerimônia inaugural do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus. Com proporções bíblicas, a obra tem 74 mil metros quadrados de área construída e foi erguida a um custo de R$ 680 milhões, segundo a igreja. O complexo, revestido com pedras importadas de Israel, conta, entre outras facilidades, com estúdios de rádio e televisão, além de heliponto. O megatemplo simboliza, com sua ostentação, o ponto a que chegou a carreira de Edir Macedo, pastor neopentecostal, banqueiro e empresário do ramo de comunicações, que lançou a pedra fundamental de sua igreja no ano de 1977, num modesto prédio da zona norte do Rio de Janeiro. 15
Macedo é hoje um dos homens mais influentes e ricos do país. Beneficiado pela isenção de impostos que a Constituição assegura a templos de qualquer culto, construiu em torno da Universal um conglomerado de empresas. Sua fortuna pessoal chegava a R$ 2 bilhões em 2012, segundo a revista "Forbes". Os negócios e o prestígio do bispo assentam-se sobre um conhecido tripé: igreja (com cerca de 2 milhões de fiéis), telecomunicações e atuação política. Nomes ligados à Universal têm obtido algum êxito eleitoral nos diversos níveis de governo e ocupam postos relevantes no Partido Republicano Brasileiro (PRB), fundado pelo ex-vicepresidente José Alencar. As atividades de Macedo têm sido alvo de investigações e processos judiciais, aos quais responde nos foros apropriados. No caso do Templo de Salomão, sabe-se que foi construído com um inadequado alvará de reforma, concedido em 2008 pelo setor de aprovações da Secretaria Municipal de Habitação, então a cargo de Hussein Aref Saab, afastado em 2012 sobsuspeita de enriquecimento ilícito. Por suas características, a edificação deveria ter sido enquadrada como polo gerador de trânsito, o que exigiria outro tipo de autorização e contrapartidas urbanísticas. Por fim, foi inaugurada com alvará provisório emitido pela prefeitura. Ao fazê-lo, Fernando Haddad (PT) repetiu iniciativa de seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD), que forneceu documento análogo em favor do templo católico Mãe de Deus, do padre Marcelo Rossi –em matéria de adulação a igrejas, o poder público é ecumênico. Oficialmente laico, o Estado brasileiro ainda mantém, na prática, relações no mínimo ambíguas e questionáveis com instituições religiosas certamente menos por temor a Deus do que pelos seculares interesses eleitorais dos políticos.
Buenos Aires supera SP como centro financeiro Mesmo enfrentando a pior crise desde 2001, quando a Argentina anunciou moratória em sua dívida externa, Buenos Aires avançou 21 posições e ultrapassou São Paulo como centro financeiro global, segundo executivos do setor financeiro ouvidos pela consultoria britânica Z/YenGroup. Os critérios da pesquisa são ambiente de negócios, taxação, profissionais especializados, infraestrutura, reputação (inclui qualidade de vida e segurança) e acesso ao mercado.
Em uma lista de 83 cidades, a capital argentina ficou na 25ª colocação. São Paulo se manteve estável na 38ª posição. O Rio de Janeiro ficou em 45º, 14 posições abaixo do levantamento anterior, feito em setembro de 2013. 16
Buenos Aires também está mais bem colocada do que Paris (França), Munique (Alemanha) e Dubai (Emirados Árabes Unidos). De acordo com Mark Yeandle, diretor e coordenador da pesquisa, o ranking considera o sentimento de especialistas sobre cada centro financeiro, e não os fundamentos econômicos das regiões, o que, em sua avaliação, pode explicar a boa performance da capital argentina. "Profissionais do mercado financeiro claramente indicaram que consideram que Buenos Aires está mais competitiva", afirma. A analista Jill Hedges, responsável pela mesa de análise de Mercosul na consultoria Oxford Analytica, diz que o custo também tem impacto sobre a percepção dos economistas consultados. "Para profissionais financeiros, Buenos Aires é mais barata do que São Paulo -especialmente após a desvalorização do peso para aqueles que trabalham em empresas estrangeiras- e mais acessível em termos de tamanho e infraestrutura." O contexto histórico, afirma, também ajuda. Isso porque, após a moratória declarada em 2001, o setor financeiro na Argentina e o número de entidades participantes do mercado encolheram. Com isso, as empresas que emergiram se tornaram mais enxutas e mais competitivas. O ranking reflete tanto respostas dadas por 3.246 executivos do setor a perguntas feitas pela consultoria quanto diversos indicadores, entre eles medidas de competitividade, condições do setor de infraestrutura, corrupção e qualidade da mão de obra. CALOTE O impasse na semana passada em relação ao não pagamento a credores por decisão da Justiça dos EUA, que bloqueou o dinheiro argentino após queixa de outro grupo de credores, pode afetar a competitividade de Buenos Aires, diz Hedges. "A incerteza vai aumentar e haverá pouco investimento e crédito. O acesso do país a dólares vai se tornar ainda mais difícil. Com isso, financiar o deficit público ficará cada vez mais complicado." "Apesar de o impacto não ser nada comparado ao do calote de 2001, certamente terá implicações negativas ao setor financeiro. Mesmo que a reestruturação se dê relativamente rápido, irá reacender dúvidas sobre a estabilidade econômica do país."
Os abutres nossos de cada dia Costume nas campanhas políticas, a saraivada de denúncias contra candidatos e seus aliados, verdadeiros ou supostos, só tende a aumentar. Seu peso na mídia não pode ser desprezado, assim como é um erro primário amplificar o impacto que exercem sobre os cidadãos comuns -os eleitores. A insistência do PT em exorcizar uma analista de banco que fez projeções sobre o cenário econômico associado às eleições é uma tolice completa. Qual o susto? A banca faz isso desde sempre, ou pelo menos desde que o mercado financeiro começou a subjugar países inteiros a seus desígnios. Só para ficar em eventos recentes, foi um movimento escancarado em 2008 e muito parecido com o que acontece hoje na Argentina. Um juiz de Nova York, sozinho, coloca em xeque a nação sob comando de Cristina Kirchner ao decidir a favor dos chamados "fundos abutres". Detalhe: tudo dentro da lei vigente. Ou seja, o problema não é o juiz, mas a lei. Então mude-se a lei. Ah, não, isso é muito radical, clamarão as almas habituadas a povoar muros. Convoca-se então a turma do deixa-disso para elaborar uma solução palatável -de preferência preservando quem em mais e cortando nova fatia dos que têm menos. Quando ataca projeções de uma economista que nada faz mais do que o seu trabalho, o PT cai na mesma armadilha. Dispara contra a árvore e esconde a floresta. Beira o ridículo. Pense bem: qualquer cliente que vai a um guichê discutir investimentos está interessado no cenário futuro. 17
Cada gerente vai defender a ladainha do dono. Cabe ao interlocutor acreditar ou não. Só não vale ser otário a ponto de imaginar que instituições financeiras viraram entidades filantrópicas. Se o PT ou qualquer outro partido quiser ser entendido pelo povo quando fala do mercado financeiro, o discurso é completamente outro. Falemos dos juros escorchantes cobrados nos empréstimos, das taxas indecentes que vigoram nos cartões de crédito, das tarifas que sobem ao bel-prazer de cada instituição. Situações bizarras se repetem a cada minuto. Quando um cliente quer quitar uma dívida com desconto, é orientado a deixar de pagar algumas parcelas do empréstimo contraído. Só então o banco vai se convencer de que é melhor receber alguma coisa do que nada e oferece um abatimento decente. Não adianta dizer que você quer liquidar o papagaio antes para se livrar dos encargos. Tudo isso em se sabendo que, na verdade, o banco já ganhou muito dinheiro em cima de você, o eventual calote está devidamente "precificado" e os lucros do pessoal do 1% encontram-se devidamente protegidos. Alguma proposta a respeito de problemas como estes? São questões assim que incomodam quem trabalha e vive do salário. Pouco adianta entrar em guerra de estatísticas sobre o passado. Os números não mentem; os homens, sim. E há números para todos os gostos e partidos. O que o povo quer saber é o que se projeta para o futuro. A oposição sinaliza que a batata vai assar para pôr a casa em ordem do jeito deles, conhecido de todos. Já os governistas mantêm em segredo qual caminho pretendem trilhar. Vão aprofundar as medidas de corte social ou irão tentar indefinidamente, sem chance de sucesso, conciliar iniquidades e ganhos exorbitantes com a melhoria das condições de vida do povo? Pelo jeito, vamos ter que esperar o horário eleitoral. ORIENTE MÉDIO Sem nenhuma pretensão de evitar ou esgotar um debate velho de décadas, recomendo aos interessados no assunto um vídeo à disposição na internet. O endereço é youtu.be/ToYDesW47Wc. Trata-se do depoimento do filho de um general israelense. Obviamente, cabe a cada um concordar ou discordar. Mas conhecer não faz mal a ninguém.
Ato de contrição BRASÍLIA - A promessa foi feita em conversas, diríamos, prospectivas para convencer alguns donos do PIB a bancar a conta da eleição. Nada diferente do tradicional. Só que, até agora, nenhum sinal, nem de fumaça, foi visto saindo do Planalto. Em busca da confiança perdida, interlocutores muito próximos da presidente Dilma prometeram por aí que ela faria uma autocrítica. Admitiria erros e sinalizaria mudanças num eventual segundo mandato. Diante da falta de gestos presidenciais, duas leituras são possíveis. Os interlocutores da petista podem ter vendido terreno na lua ou ela ainda reflete se e quando faria tal ato de contrição público. O fato é que a turma que prometeu segue defendendo que tal sinalização seja feita ainda na campanha. E jura ter tratado do tema com a própria. Admite, contudo, não ter havido definição final sobre o assunto. A resistência presidencial em reconhecer erros tem, porém, defensores dentro do governo. Esse grupo tacha de "loucura" e "obra de inimigos"falar de autocrítica em época de campanha eleitoral a dúvida é se somente em tempos de eleição. Enquanto isso, a presidente prefere culpar a crise internacional e o pessimismo reinante pelo fraco crescimento econômico. É o mesmo que tirar o corpo fora da dividida e dizer que a cara amarrada dos empresários travou o país. Até parece que, para Dilma, dá para pôr fim no pessimismo por decreto. É como se o empresário acordasse de mau humor, lesse os jornais de manhã e chegasse ao escritório decidido a parar investimentos nada a ver com intervenções e equívocos do governo. Socorro. 18
Só que, a contragosto, o mundo real pode forçar uma autocrítica da petista. Aqui, a economia esfria cada vez mais perto do período eleitoral. Já lá fora ela começa a aquecer. Tudo isso, porém, não vai interferir na generosidade de doadores de campanha. Ninguém quer desagradar uma possível futura presidente.
Pedidos de falência caem 7,3% de janeiro a julho, nota Boa Vista SCPC SÃO PAULO - Os pedidos de falências registraram queda de 7,3% de janeiro a julho deste ano, na comparação com o mesmo período de 2013, de acordo com dados nacionais divulgados pela Boa Vista SCPC. Em julho, na comparação mensal, os pedidos aumentaram 28,8%; em relação ao mesmo mês do ano anterior, foram 14,1% menor. As falências decretadas cederam 0,2% nos sete primeiros meses de 2014, perante um ano antes. Em julho, houve elevação de 13,8% em relação a junho, mas foi apurada queda de 27,5% ante julho de 2013. A pesquisa mostrou ainda que, no acumulado do ano, contra o mesmo período de 2013, os pedidos de recuperação judicial cresceram 7,9% e as recuperações judiciais deferidas diminuíram 8,7%.
Os custos e os ganhos do ajuste de 2015 A necessidade do ajuste na economia brasileira a partir do ano que vem já é consenso. Controle maior dos gastos públicos e o realinhamento de preços administrados são alguns dos pontos mais repetidos da cartilha que, segundo os economistas, colocaria o país de volta na trilha do crescimento em níveis mais altos. O que os especialistas calculam agora é quanto essas correções de rota vão custar e o tempo que levará até que se notem seus benefícios. O horizonte é de um processo custoso, cujos retornos não serão imediatos e que envolve expectativas de desaceleração ainda mais forte da atividade, queda da renda, aumento do desemprego e até elevação de impostos. A questão que se coloca é se o presidente eleito estará disposto a encarar a tarefa.
Estimativa feita pela SulAmérica Investimentos dá uma boa medida das escolhas difíceis pela frente. Um exercício econômico feito pela gestora de recursos indica que um aumento da taxa Selic no ano que vem, para 12% ao ano, faria a inflação recuar pouco (para 6,2% no fim do próximo ano), a um custo elevado: uma probabilidade grande de o Produto Interno Bruto (PIB) crescer apenas 0,3%. No caso de a Selic se manter constante em 2015, a simulação indica que a inflação não convergiria para a meta e nem cairia em 12 meses, permanecendo em torno de 6,5%. Em 19
compensação, a ação evitaria uma queda maior da atividade, que permaneceria com alta em torno de 0,8% - o mesmo número esperado para 2014. O realinhamento de preços é outra preocupação. Nas contas do economista Fabio Kanczuk, professor da Universidade de São Paulo (USP), a recomposição de preços de tarifas públicas represadas, como energia elétrica, gasolina e transporte, pode adicionar de 1 a 1,5 ponto percentual a uma inflação já bastante pressionada. Hoje, a expectativa de economistas reunidos pelo boletim Focus, do Banco Central, é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre o próximo ano em alta de 6,2%. Feito o realinhamento de uma vez, como Kanczuk acredita ser necessário, a inflação poderia rondar os 8% em 2015. Para completar o quadro, feitos os ajustes no próximo ano, a taxa de desemprego - hoje nos níveis históricos mais baixos, em torno de 5% ao ano - poderia chegar a pelo menos 6%, diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. Para o economista, o mais importante seria uma mudança na trajetória fiscal, que hoje recolocou no radar uma relação entre dívida e PIB ruim. Para Gala, seria preciso ainda uma elevação do juro básico para 12%, ou 12,5%, e o fim das intervenções do BC no mercado de câmbio, de modo que a depreciação do real permitisse um ajuste da conta corrente e uma recuperação da produção industrial. "O desemprego caminhava para 6% nos próximos dois anos, mas o ajuste deve acelerar o processo." Além do mercado de trabalho, já em desaceleração, a atividade econômica também seria atingida e, na avaliação de Gala, teria 1% de avanço como teto em 2015, "na melhor das hipóteses". À frente do relatório que faz ponderações sobre os impactos de uma alta do juro no próximo ano sobre o PIB, Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica, avalia que o caminho da recuperação econômica passa por uma taxa Selic de 12% ao ano, acompanhada de superávit primário entre 2% e 2,5% do PIB. A receita, diz ele, resultaria em taxa de desemprego um pouco mais alta e salários mais baixos, com desaceleração mais forte no setor de serviços e consequente queda da inflação. Ainda assim, diz Rosa, o país voltaria a crescer com mais força "apenas em 2017 ou 2018", diz ele, que qualifica o "sacrifício" como algo necessário. Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro da Fundação Getulio Vargas (FGV), reconhece que a economia deve acusar o golpe dos ajustes e os benefícios podem demorar um pouco a aparecer. "Sem os ajustes, porém, o sofrimento é menor no curto prazo, mas se prolonga." Para ela, a grande discussão será mesmo em torno da questão fiscal. Como exemplo, a economista lembra que o superávit primário em 2011 - primeiro ano do governo Dilma - foi de 3,1% do PIB, com receitas recorrentes de 2,4% e não recorrentes de 0,7%. "Se a gente voltasse para um patamar de dois e pouco de superávit, mas com menos receita não recorrente, já seria bom." Marcio Garcia, professor da PUC do Rio, também avalia que o processo, em termos de renda e emprego, seria sofrido, mas o outro lado da moeda - a falta de mudanças - seria ainda pior. Garcia reconhece que a redução de gastos não é tarefa fácil, uma vez que o Orçamento é rígido, mas sugere cortes nos subsídios dados aos empresários e suspensão dos reajustes do funcionalismo público, antes de eventualmente se voltar para programas sociais, como o Bolsa Família. Diante da rigidez orçamentária, há até quem considere a necessidade de criar, ou aumentar, impostos. Kanczuk, da FEA, avalia que como o corte de gastos é "politicamente muito difícil", o caminho natural seria algum imposto novo ou a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (a famosa CPMF, existente entre 1997 e 2007). Rosa, da SulAmérica, diz não duvidar que seja lá quem for o eleito, deve propor a volta da contribuição. De modo geral, o diagnóstico é que o erro ocorreu lá atrás, em meio à crise mundial, quando a aposta no consumo foi redobrada em detrimento do investimento. O resultado, diz Claudio Dedecca, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, é que o governo ficou prisioneiro de um baixo crescimento e de políticas de curto prazo para mantê-lo. Para João Saboia, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não é uma questão de "corta aqui ou corta ali", mas de cuidar de questões mais estruturais, como a taxa de investimento e produtividade baixas. Para ele, há muito destaque 20
dado à questão dos reajustes do salário mínimo, especialmente por conta da ligação com a Previdência. "Mas isso poderia ser melhor gerido sem mudança na regra", diz. Dedecca avalia que um ajuste incluiria um corte feroz de gastos correntes do governo, manutenção de salários, em especial do setor público federal, e mudança na lei de salário mínimo. Mas, diferentemente de alguns analistas, afirma que fazer esse ajuste, sem que o investimento tenha se recuperado, significa corroer o único elemento estável que ainda está garantindo algum crescimento: o consumo. Assim, o economista não vê espaço para ajuste em um projeto como o do atual governo, bastante dependente de renda e emprego. Rosa, da SulAmérica, vai ainda mais longe ao admitir que não vê quem encare os ajustes, nem na situação nem na oposição. Já Gala, da Fator, avalia que diante da iminência de perder o grau de investimento, mesmo o governo atual, se reeleito, vai acabar fazendo o ajuste. "Se a coisa degringolar mesmo, com perda de grau de investimento, desvalorização cambial descontrolada e piora nas expectativas de empresários e nos investimentos, podemos entrar numa crise profunda", diz Gala. "No fundo, não é uma opção".
Concessionárias criticam modelo que libera aeroportos por autorização
Depois de se comprometerem com cerca de R$ 48 bilhões em pagamento de outorgas nos leilões de aeroportos, as concessionárias subiram o tom das críticas ao plano do governo federal de permitir a construção de novos terminais por regime de autorização, que não prevê a realização de licitação. As preocupações do setor cresceram após recentes declarações de Moreira Franco, ministro da Secretária de Aviação Civil (SAC), sobre a intenção da presidente Dilma Rousseff de autorizar as obras de um novo aeroporto em São Paulo. Reunidas na Associação Nacional das Empresas Administradoras de Aeroportos (ANEAA), as concessionárias responsáveis pelos aeroportos de Guarulhos, Viracopos, Brasília e São Gonçalo do Amarante (RN), criticaram duramente o modelo de autorização, que segundo elas tem caráter predatório e coloca incertezas sobre o futuro dos investimentos no setor. O presidente da ANEAA, Jorge Jardim, disse ao Valor que a adoção de um modelo de autorização obrigará as concessionárias de aeroportos a cobrarem a revisão dos contratos assinados com o governo após os leilões. "Embora sejamos totalmente favoráveis ao desenvolvimento da infraestrutura aeroportuária brasileira e comprometidos com a livre concorrência, admitimos que essa mudança levará fatalmente ao reequilíbrio econômicofinanceiro dos contratos atuais, com provável redução no valor de outorga devido", afirmou Jardim. Ajudicialização das concessões é o principal temor do governo, que trabalha para desenhar um modelo que não prejudique nem concessionários nem empreendedores autorizados. Segundo informou uma fonte ao Valor, Dilma é simpática à ideia da autorização e deve anunciar nas próximas semanas uma decisão favorável ao modelo. Em junho, no entanto, a presidente vetou uma emenda do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que previa a autorização. 21
Há cerca de um mês, representantes da associação se reuniram com o secretário-executivo da SAC, Guilherme Ramalho, para expor as preocupações do setor. O secretário disse a eles que o governo pretende continuar dando prioridade ao modelo de concessões, mas não tiveram garantia de que Dilma barraria a autorização para a construção de um aeroporto em Caieiras, município da região metropolitana de São Paulo. Orçado em R$ 9 bilhões, o projeto tem como sócios as construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que também atuam como concessionárias no aeroporto de Confins (MG), por meio do consórcio Aero Brasil. O Valor apurou que o grupo está em vias de se associar à ANEAA. As empresas concessionárias têm dúvidas sobre a viabilidade do empreendimento em Caieiras. O argumento é que as ampliações - para cerca de 80 milhões de passageiros por anodos aeroportos de Guarulhos e Viracopos seriam suficientes para absorver a demanda nos próximos anos. Sob o regime de autorização, os novos aeroportos vão precisar arcar com todos os gastos desde o início do projeto, incluindo a compra do terreno e toda a infraestrutura envolvida. A indefinição que resta no governo é se eles deverão pagar alguma taxa para que não levem vantagem competitiva em relação aos terminais concedidos. Cogita-se, por exemplo, a aplicação da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) sobre as tarifas aeroportuárias. Além da revisão dos contratos e das outorgas, os concessionários poderão solicitaro enquadramentos no novo modelo de autorização. "A exploração de uma mesma atividade sob regimes jurídicos diferentes consiste em uma técnica denominada assimetria regulatória", disse o presidente da ANEAA. "É evidente que a adoção tardia e inadvertida da regulação assimétrica redundará em inúmeros prejuízos às atuais concessionárias", afirmou Jardim.
Contas públicas ruins reforçam o pessimismo O Tesouro Nacional e o Banco Central divulgaram, na semana passada, um conjunto de dados nada animador sobre as contas públicas. No primeiro semestre deste ano, todos os indicadores fiscais pioraram. O déficit nominal - o melhor conceito para ser utilizado, pois inclui o custo das dívidas dos governos para a população - atingiu 3,61% do Produto Interno Bruto (PIB) nos seis primeiros meses de 2014. No mesmo período do ano passado, estava em 2,82% do PIB. O superávit primário foi o menor para o primeiro semestre de um ano desde 1998, antes, portanto, do Brasil fazer o seu acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e iniciar um programa de ajuste fiscal. De janeiro a junho, o governo federal só conseguiu economizar R$ 15,4 bilhões para pagar os juros de suas dívidas, segundo o Banco Central. Em relação ao PIB, é o menor superávit primário para o primeiro semestre de um ano desde 1998. A meta do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) para este ano é de R$ 80,8 bilhões. Assim, até junho, só 19,1% da meta foi obtida. O desafio é conseguir economizar mais R$ 65,4 bilhões no segundo semestre, o que dá uma média de R$ 10,9 bilhões de superávit primário por mês. Quando se olha o resultado do Tesouro Nacional no primeiro semestre, o que mais chama a atenção é que a receita está crescendo abaixo da expansão do PIB e a despesa (não inclui os benefícios previdenciários), por sua vez, está aumentando em ritmo acelerado, de 5,1% acima do crescimento do PIB, segundo estima a própria Secretaria do Tesouro. O governo gastou R$ 34,2 bilhões a mais no primeiro semestre deste ano na comparação com igual período de 2013. Ao abrir os dados, é possível verificar que os gastos de custeio e investimento apresentaram uma expansão de 17,9% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado. Nesse conceito de custeio da máquina não está incluída a despesa com o pagamento dos servidores, que foi a que menos aumentou. Não se pode, portanto, atribuir o desidratado superávit primário do primeiro semestre deste ano apenas ao comportamento da receita, que ficou abaixo das expectativas iniciais, por causa do fraco crescimento econômico e das desonerações tributárias. O fato, que os números 22
divulgados pelo Tesouro e pelo Banco Central mostram com clareza, é que o governo não fez o menor esforço para controlar os seus gastos no período. No primeiro semestre, a dívida líquida do setor público em relação ao PIB e a dívida bruta apresentaram elevações significativas. A dívida líquida passou de 33,6% do PIB em dezembro de 2013 para 34,9% em junho deste ano e a bruta, de 56,7% do PIB para 58,5% do PIB. Essa piora reflete o impacto da elevação da taxa de juros, promovida pelo Banco Central, e o fato da economia estar crescendo em ritmo muito fraco, abaixo do seu potencial. Mas indica também, com clareza, que o superávit primário que está sendo produzido pelo setor público não é suficiente para manter as dívidas estáveis em relação ao PIB ou em trajetória de queda. Vale ressaltar que a trajetória da dívida pública é condicionada à taxa de juros de equilíbrio e à capacidade de crescimento da economia do país no longo prazo. Mas o desempenho das contas fiscais nos últimos meses alimenta o pessimismo que toma conta do mercado e que foi tão criticadonos últimos dias pela presidente Dilma Rousseff. A preocupação é maior porque a meta fiscal deste ano só será alcançada se o governo conseguir obter uma elevada receita extraordinária, que é aquela que não consta do fluxo normal da arrecadação, pois resulta de ações do Poder Público na Justiça contra devedores ou de parcelamentos especiais das dívidas tributárias. Neste ano, o governo espera obter cerca de R$ 27 bilhões em receitas extraordinárias, sendo R$ 18 bilhões apenas com a reabertura do Refis. É um montante semelhante ao registrado em 2013, que foi um recorde histórico. Como as despesas públicas criadas no Brasil costumam ser permanentes,a questão que se coloca é se no próximo ano o governo terá novamente receitas extraordinárias suficientes para fechar suas contas e cumprir a meta fiscal. A dificuldade de alcançar o superávit primário deste ano indica que, em 2015, o presidente eleito, qualquer que seja ele, terá que fazer um ajuste fiscal.
Não atirem nos mensageiros O governo Dilma parece não gostar de ouvir más notícias, pois vive atirando nos mensageiros. O episódio da análise divulgada pelo Banco Santander é emblemático. O documento apenas buscou descrever um movimento de mercado que têm ocorrido nos últimos meses: queda de Dilma nas pesquisas é boa notícia para as bolsas e para o mercado cambial; ocorre o oposto quando as intenções de voto na presidente sobem. Culpar a analista pelo mau humor dos mercados com o governo é uma bobagem autoritária que não tem o condão de mudar a realidade. O mensageiro não tem culpa pelas más notícias que traz. O governo faria melhor se buscasse entender as razões do pessimismo generalizado em relação ao momento econômico e agisse para corrigir seus próprios equívocos. Ao tentar enterrar as críticas, as autoridades tentam fugir de um debate que é legítimo e necessário. Com isso, contribuem ainda mais para o pessimismo e a apatia que tomam conta dos agentes econômicos. A propósito, vale notar que, na mesmíssima semana do incidente com a análise do banco, a insuspeita FGV divulgou que, em julho, o índice de confiança da indústria havia caído pela sétima vez consecutiva, batendo em seu nível mais baixo desde março de 2009. Observem, caros leitores, que se trata da confiança da indústria e não do mercado financeiro. Corroborando o pessimismo, os dados do IBGE mostraram a produção industrial caindo 2% no segundo trimestre do ano frente ao primeiro. Não é muito difícil entender as razões para as oscilações do mercado financeiro diante dos resultados das pesquisas eleitorais. Cresceu a percepção de que uma mudança da política econômica para melhor dependeria da troca do inquilino do Palácio do Planalto. Caso queira contrarrestar essa percepção, o governo poderia começar desde logo a mudar os rumos de suas políticas, com vistas a clarear o horizonte e buscar a retomada do investimento que vem seguidamente caindo nos últimos meses. Como afirmamos algumas vezes neste espaço, os desequilíbrios acumulados nos últimos anos devem cobrar um preço caro em 2015. No campo da política fiscal, os resultados apresentados até aqui em 2014 confirmam as dificuldades que o governo tem para entregar um superávit primário minimamente aceitável, o que o obriga a recorrer a expedientes variados que, 23
embora legais, têm fôlego curto e custos crescentes para a economia. O déficit primário obtido em junho foi o pior resultado da série histórica desse indicador. Continuando assim, o Brasil pode perder o grau de investimento no ano que vem, prejudicando ainda mais o desempenho econômico do país. No mercado cambial, o crescimento da posição de derivativos cambiais vendidos pelo BC para moderar a depreciação do real cria receios sobre a futura capacidade de reação a uma reversão mais forte da política monetária norte-americano, com a subida dos juros externos. Uma depreciação mais acentuada da moeda brasileira traria pressões inflacionárias adicionais numa conjuntura em que as expectativas de variação do IPCA para 2015 já se aproximam do limite superior da banda de tolerância estabelecido no regime de metas para inflação. Além disso, em uma questão especialmente sensível para o investimento industrial, cresce a conta a ser paga no futuro pelos consumidores de energia elétrica, tendo em vista a persistência da disparidade entre as tarifas e o custo da energia gerada pelas termelétricas. Outra "espada de Dâmocles" pendendo sobre a cabeça de consumidores e contribuintes é a necessidade de ajuste dos preços dos derivados de petróleo, haja vista o risco de inviabilização dos investimentos da Petrobras e de todo o setor de petróleo e gás. Repercussões negativas sobre a inflação parecem ser inevitáveis por conta da correção dos preços de energia e dos combustíveis. Em tal situação, é razoável que as pessoas - que não são apenas as do mercado financeiro tenham expectativas negativas, a menos que o governo possa lhes assegurar que as medidas corretivas necessárias estão sendo adotadas. Uma postura de negar a existência de problemas ou de empurrar com a barriga a sua solução somente contribui para aumentar as desconfianças que se refletem nas bolsas e ecoam nas análises de mercado. Há vários exemplos na história recente de situações em que o governo virou o jogo das expectativas levando o mercado a se tornar o primeiro e mais eficaz arauto de boas notícias para economia. O próprio PT teve prova disso no final de 2002 e no início de 2003, após Lula ter divulgado a "carta aos brasileiros" e formado uma equipe econômica com credibilidade. Não me consta que os petistas tenham se queixado da onda de otimismo que, na ocasião, se disseminou rapidamente no mercado. Finalmente, é interessante notar que a própria presidente Dilma tem admitido a necessidade de melhorar o diálogo com o empresariado. Mas ao fazê-lo com um tacape nas mãos, o máximo que conseguirá será um monólogo que dificilmente levará a uma reversão favorável das expectativas.
24