SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 04 DE MAIO DE 2015
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Fachin, família e propriedade Fonte Jornal Folha de São Paulo Reinaldo Azevedo 01/05/2015 às 02h00 O advogado Luiz Edson Fachin, indicado pela presidente Dilma Rousseff para a vaga aberta no Supremo, não pode ter seu nome aprovado pelo Senado Federal, a menos que essa Casa resolva pôr em dúvida a sua própria legitimidade e queira flertar com o baguncismo jurídico. Aquele que Dilma, o PT, a CUT, o MST e o tucano Álvaro Dias (PR) pretendem que seja um dos 11 da corte constitucional já deu mostras de que despreza o Congresso, de que repudia fundamentos da Constituição e de que ignora valores caros à sociedade brasileira. Em artigo publicado em 1986 (http://goo.gl/4qu1xR ), ao qual permanece fiel, como pode atestar João Pedro Stedile, um de seus padrinhos, Fachin ironiza a representatividade do Parlamento; sustenta que o direito de propriedade é um dos males do Brasil e prega a sua extinção; defende o confisco de terras sem indenização; advoga a desapropriação de áreas produtivas; cobra uma Justiça de exceção para tratar das questões agrárias, acusa o Judiciário de só proteger os ricos e deixa claro que, mantido o regime suponho que queira regredir do capitalismo para o socialismo, todas as mudanças serão "perfunctórias". Sem a virada de mesa, todo avanço será contraproducente; nas suas palavras, dar-se-iam "um passo à frente e dois atrás". Ele quer revolução, não reforma. O plano de doutor Fachin, como a gente nota, é mais, digamos, socialista do que a NEP leninista. Mas existe terreno para que um ministro do Supremo atue além do que permite a lei? Fachin responde o que pensa em seu artigo: "Não basta ser tratado igualmente diante de uma lei que não considerou as desigualdades sociais e que não abrigou princípios protetores das classes menos privilegiadas". Entenderam? Para ele, o papel de um juiz é fazer justiça com as próprias mãos, ao arrepio do que está escrito. Afinal, as leis embutiriam o mascaramento da luta de classes. "Qual é, Reinaldo? Você pensa a mesma coisa de 29 anos atrás?" Não. Mas Fachin permanece fiel à causa. E foi ampliando seus domínios intelectuais. A mera extinção da propriedade privada lhe parecia café pequeno. Então ele decidiu investir no fim da família. O homem é uma espécie de Pablo Capilé das relações parentais, um pensador verdadeiramente "fora do eixo". No prefácio de um livro que faz a apologia da superação da monogamia como princípio estruturante da família (http://goo.gl/JB1t7B), o doutor, que desfilou no Senado de mãozinha dada com a sua mulher e se disse um avô extremoso, afirma ser a relação monogâmica um "jugo". Num conjunto de propostas que contam com a sua chancela, há heterodoxias como direitos de amante; reconhecimento de famílias simultâneas; atribuição de direitos e deveres idênticos a pais e padrastos, mães e madrastas (multiparentalidade); presunção de paternidade com base na simples relação eventual de um homem e de uma mulher enquanto ele não provasse legalmente não ser o pai, estaria obrigado a pagar pensão; redução dos direitos de paternidade e maternidade com base em vínculos afetivos estabelecidos pelas crianças com outros adultos e vai por aí. Fachin encontra resistências. Enquanto escrevo, fico sabendo que o PMDB está sendo assediado por 30 moedas para aprovar seu nome. Fiquem espertos, senhores! A sociedade brasileira acordou. E vai dizer o que pensa nas ruas e nas urnas.
Liberação de carne para os EUA abrirá outros mercados 2
Fonte Jornal Folha de São Paulo 03/05/2015 às 02h 00 MARIA CRISTINA FRIAS cristina.frias@uol.com.br A abertura do mercado dos Estados Unidos para carne "in natura" do Brasil, que empresários do setor esperam que seja anunciada no encontro de Dilma com Obama em junho, abrirá outras importantes portas para o país. Os norte-americanos são os maiores importadores mundiais do produto em 2013, o país comprou no exterior 1,021 milhão de toneladas de carne bovina e a entrada nesse mercado exigente permitirá também a exportação para o Canadá, o México e países da América Central que ainda não são clientes do Brasil. "Os Estados Unidos vão nos dar um passaporte para o Nafta e quase todos os países da América Central", diz Antônio Jorge Camardelli, presidente da Abiec (associação de indústrias exportadoras de carne). "Muitos países da América Central se valem do padrão americano como barreira à carne que não é aceita nos Estados Unidos." O setor estima que só o mercado americano represente para o Brasil um volume médio inicial de 40 mil toneladas ao ano. Para empresários, já foram atendidas as exigências técnicas para a liberação. "Só faltam ajustes, como a equivalência de sistemas de inspeção e certificação sanitária. Mas a decisão, acredito, já está tomada", afirma. A produção interna dos EUA está pressionada pela baixa de seu rebanho. A inserção brasileira nos EUA será por meio de matéria prima para hambúrguer. O Brasil não é competitivo na carne gourmet. O anúncio da retomada das vendas para a China, interrompidas em 2012, também é esperada para breve, durante a visita ao Brasil do primeiro-ministro Li Keqiang, no próximo dia 19 de maio. O QUE ESTOU LENDO Fernando Musa, CEO da Ogilvy Brasil "Fui obrigado a assistir a série "Demolidor", da Netflix, pelos meus filhos, que estão bem longe dos 18 anos, a idade recomendada para acompanhar o seriado", diz o publicitário Fernando Musa. O sentimento de dever mudou rapidamente. "Fui de 'pai censor' para garantir o 'fast-forward' nas cenas que eles não deveriam ver para consumidor voraz em menos de um episódio", brinca o CEO da Ogilvy&Mather Brasil. O encontro da Marvel com a Netflix começou muito bem, afirma. "Vou também para a quinta temporada de 'Game ofThrones'. Impressionante a força das personagens femininas. Movem todas as guerras e disputas de poder." A maior parcela (75%) de estudantes ouvidos para uma pesquisa do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) afirmou que o nível de empregabilidade será pior neste ano do que em 2014. "Esse quadro de pessimismo reflete a conjuntura econômica do país. Os jovens estão vendo os pais desempregados", diz Luiz Peterlli, presidente do conselho de administração do CIEE. Apesar da crise, os estágios estão aquecidos. "Cresceu 10% o total de vagas no quadrimestre", diz o executivo. Foram ouvidos 10.688 jovens. 75% acham que o nível de empregabilidade será pior neste ano que em 2014 21% são os que avaliam que a oferta de empregos será melhor neste ano 4% é a parcela dos estudantes que não souberam avaliar o cenário de empregos O grupo Iguatemi fechou uma parceria com o PayPal para oferecer aos seus clientes a opção de pagamento de tíquetes de estacionamento pelo smartphone. O Market Place, na capital paulista, é o primeiro shopping a receber a ferramenta.
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"Nos próximos 30 a 60 dias o meio de pagamento chegará às outras unidades do grupo", afirma Cristina Betts, diretora da companhia. O sistema identifica quanto o cliente tem de pagar por meio da leitura de um código impresso no tíquete, que depois deve ser inserido na cancela no momento da saída. O Iguatemi é a primeira empresa no Brasil a usar essa tecnologia da empresa de pagamentos, segundo Thiago Chueiri, da PayPal Brasil. "O usuário terá a mesma facilidade que outros parceiros nossos, como deixar salvo o número do cartão de crédito para não precisar digitar nas transações seguintes." Pelo serviço, o Iguatemi pagará um percentual por transações aprovadas. Suco... A Maguary lança nesta segunda-feira (4) os primeiros néctares prontos para beber em embalagens PET tamanho família. ...de caixona A entrada do segmento de PET de 1,5 litro se baseou em uma pesquisa com consumidores. Para a empresa, é um desafio disseminar o suco na embalagem, muito comum na Europa e nos EUA. Sobe O segmento atacadista de tecidos fechou abril com alta de 2,5% ante março, segundo o Sincatvaesp (sindicato do setor do Estado de SP).
Dilma, Primeiro de Maio de 2014 Fonte Jornal Folha de São Paulo 03/05/2015 às 02h 00 VINICIUS TORRES FREIRE vinit@uol.com.br A PRESIDENTE acanhou-se na internet para falar do Primeiro de Maio deste ano. Em 2014, exibiu-se em rede nacional de TV. Dilma Rousseff felicitava-se pelos seus feitos e prometia a reprise das maravilhas. Era o início da campanha eleitoral. O grosso do discurso já era então fantasia. O que parece agora? O leitor, que é perspicaz, pode tirar conclusões ao comparar o que dizia a presidente com o Brasil de 2015. "Meu governo também será sempre o governo do crescimento com estabilidade, do controle rigoroso da inflação e da administração correta das contas públicas." O resultado das contas públicas em 2014 foi o pior desde 1997. A economia encolhe. A inflação passou de 6,4% em maio de 2014 para 8,1% em março de 2015 (IPCA mais recente). Quanto à administração das contas públicas, o governo Dilma 1 é acusado de crime contra a lei fiscal pelo Tribunal de Contas da União. "Quero garantir a você, trabalhadora, e a você, trabalhador, que nossa luta pelas mudanças continua, nada vai nos imobilizar. A tarifa de luz, por exemplo, teve a maior redução da história. A seca baixou o nível dos reservatórios e tivemos de acionar as termoelétricas, o que aumentou muito as despesas. Imaginem se nós não tivéssemos baixado as tarifas de energia em 2013." A energia elétrica deve ficar uns 40% mais cara em 2015, segundo estimativas de órgãos públicos, mais que desfazendo a baixa de preço de 2013. A seca foi um problema, mas seu efeito daninho foi multiplicado pela política de Dilma 1. "Acabo de assinar uma medida provisória corrigindo a tabela do Imposto de Renda, como estamos fazendo nos últimos anos, para favorecer aqueles que vivem da renda do seu trabalho. Isso vai significar um importante ganho salarial indireto e mais dinheiro no bolso do trabalhador." Como o reajuste foi menor que a inflação, tal como nos últimos anos, o Imposto de Renda na verdade aumentou de novo. É melhor aumentar o IR do que tantos impostos dementes. Mas o anúncio era propaganda enganosa. "A Petrobras é a maior e mais bem-sucedida empresa brasileira. É um símbolo de luta e afirmação do nosso país. É um dos mais importantes patrimônios do nosso povo... Não vou ouvir calada a campanha negativa dos que, para tirar proveito político, não hesitam em ferir a imagem dessa empresa que o trabalhador brasileiro construiu com tanta luta, suor e lágrimas."
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Investimentos ruins, mal administrados, mal planejados e megalômanos, além de corrupção, fizeram a Petrobras perder cerca de R$ 40 bilhões e pagar menos impostos, o que prejudicou o patrimônio do povo. A empresa perdeu crédito, valor e terá de encolher, pois hiperendividada devido às políticas de Dilma 1. "Anuncio ainda que assumo o compromisso de continuar a po- lítica de valorização do salário mínimo..." Reeleita, a presidente reafirmou a promessa, que talvez se transforme em norma formal ainda neste ano. Talvez. Muito governo terá dificuldade de bancar até o reajuste do mínimo pela inflação, que tem sido superior ao crescimento da receita de cidades, Estados e governo federal. O reajuste real em tese será nenhum até 2017, pois o aumento depende do crescimento da economia, que será nenhum.
Jornalismo aprofundado e sério tem um mercado enorme Fonte Jornal Folha de São Paulo 03/05/2015 às 02h 00 RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON Desde que o bilionário Jeff Bezos, criador e dono da Amazon, comprou o "Washington Post", no fim de 2013, Marty Baron, 60, tornou-se um dos editores mais invejados (e acompanhados) do mundo. Apenas no último ano, contratou 100 repórteres e 40 engenheiros para modernizar a Redação de 680 jornalistas e viu a audiência na internet crescer 60% (para 50 milhões de visitantes únicos/mês). Em fevereiro, o jornal foi considerado a empresa "mais inovadora da mídia" norte-americana pela revista "FastCompany". Em abril, ganhou mais um Pulitzer, maior prêmio do jornalismo do país. Com quase 40 anos de carreira, Baron diz que há um "enorme mercado" para jornalismo sério e aprofundado e que produzir histórias "frívolas" para aumentar a audiência na internet destrói a identidade do jornal e aliena o "leitor de sempre". Ele recebeu a Folha em seu escritório, no centro da capital americana. Folha - O que mudou desde que Bezos comprou o jornal? Marty Baron - Bezos trouxe perguntas sobre como fazemos as coisas, estratégias, processos que não eram questionados. Trouxe ideias em várias áreas, nós tínhamos as nossas e ele foi muito receptivo. E trouxe capital, o que é muito importante, nessa transição complicada do impresso para o digital. Precisamos fazer investimentos no futuro e experimentos digitais custam dinheiro. Bezos acha que o jornal pode dar dinheiro? Muita gente acha que ele comprou pelo prestígio. Ele disse no início que pensou em três pontos. O primeiro era a importância da instituição. O segundo era se ele poderia ser otimista e concluiu que sim. E, três, se ele teria algo a contribuir, a oferecer. Dado o seu conhecimento de internet, achou que sim. Bezos não estava vindo com uma poção mágica. Explicitamente, ele disse não ter uma. E ainda não descobrimos como fazer dinheiro. A Amazon mudou todo o ambiente do varejo, mas levou anos e anos para fazer sucesso. Houve várias previsões de que fracassaria. Bezos só é dono do jornal há um ano e meio. Se formos espertos e tivermos sorte, seremos bem-sucedidos também. Há um investimento enorme em medir o comportamento do leitor digital: o que ele lê, o que ignora, quanto tempo gasta por reportagem. Qual foi a maior surpresa? Vários clichês foram confirmados. A porcentagem de quem lê um texto até o final é muito menor do que a gente pensa. Uma típica reportagem é lida até o final por 1%, 2% dos leitores.
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Mas há dois lados da moeda. Várias reportagens longas, bem-feitas, estão entre as mais lidas. Há um enorme número de gente que gasta muito tempo em narrativas aprofundadas. Não é verdade que texto longo afaste leitor. Assuntos popularescos que fazem barulho na internet espantam o leitor tradicional? Há um enorme mercado para assuntos sérios. Mas não é porque são sérios que precisam ser chatos. Na nossa profissão, se a história parecer interessante demais, tem gente que acha que está sacrificando a seriedade. Mas contar uma história séria de forma envolvente é um enorme desafio. Essas são as mais lidas. Não há a pressão para competir com o "BuzzFeed" [site famoso por criar listas]? Não queremos só histórias frívolas. Seria destrutivo para nossa marca, nossa identidade. Não queremos ser o "BuzzFeed". Eles fazem coisas interessantes, usam técnicas e dados que acompanhamos, escrevem títulos de um jeito muito interessante. Não precisamos ser o "BuzzFeed", ele já existe. Não temos equipe para isso e estaríamos alienando o leitor de sempre. Além da tecnologia, o que pode melhorar no jornalismo e na maneira de contar histórias? A narrativa mudou muito com a interatividade. O mais interessante é a integração das ferramentas em um único texto, nos lugares apropriados, dar o contexto. Se numa reportagem você narra a gafe de um político ou uma violência policial e tem o vídeo, pode mostrar ali, na hora. Coloque o gráfico, a cópia do documento para quem quiser se aprofundar. Não separado, em outro lugar, como acontecia muito no passado. Tem que estar tudo bem trançado. É para isso que investimos tanto em tecnologia. A soma da publicidade e dos assinantes digitais bastará para pagar os custos dessa operação tão cara? Sempre haverá demanda por notícias. Não tenho a resposta de como fazer dinheiro agora, sinto muito (ri). Fazer o impresso e o digital ao mesmo tempo é um desafio. Ao mesmo tempo, temos que investir no nosso futuro, ter as capacidades digitais que assegurem nosso sucesso. Se fossemos apenas digital, as receitas e os custos seriam menores, sem gráficas, papel, caminhões de entrega. A produção teria menos gente. Também não sabemos se o tipo de publicidade de hoje será o do futuro. Com esses investimentos, como o conteúdo está mudando? Falei muito de negócios, mas a minha paixão, o que me mantém nesse meio, são o jornalismo e a reportagem, e temos muito do que nos orgulhar. O Pulitzer deste ano foi para uma reportagem nossa sobre falhas do Serviço Secreto como o nome diz, é secreto, e nossa repórter conseguiu desvendá-lo. As revelações de Snowden sobre a NSA foram revolucionárias. Temos feito reportagens sobre pobreza, drogas, saúde mental, temas ainda evitados na mídia e na sociedade. Gosto do jornalismo que explica o mundo, explica assuntos com nuances. Tudo o que puder fugir de slogans de políticos, de comentaristas com frases feitas.
Crédito é entrave à programa de concessão Fonte Jornal Folha de São Paulo 03/05/2015 às 02h 00 DIMMI AMORADE BRASÍLIA e VALDO CRUZ A falta de crédito é a maior ameaça ao programa de concessões ao setor privado que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar nos próximos dias, o que pode inviabilizar sua decolagem antes do final do segundo mandato. De um lado, a crise secou recursos públicos para bancar obras de longo prazo. De outro, o mercado aponta barreiras para usar dinheiro privado nesses investimentos. Dirigentes de bancos disseram à Folha que a combinação de dinheiro mais caro, falta de garantias e empreiteiras em dificuldades financeiras devido à Lava Jato deve travar e dificultar o início do novo programa de privatização.
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Em reunião com a equipe econômica, o setor financeiro já avisou que a única saída para tentar garantir que daqui a dois anos o programa comece a vingar é definindo regras "totalmente amigáveis" ao mercado. Diante da falta de recursos públicos, os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) desenham um novo modelo baseado em financiamento privado, de bancos e investidores de longo prazo (como fundos de pensão), para bancar os projetos de concessões. Há também linhas de crédito de organismos internacionais e de investidores externos disponíveis. Mas a entrada desse tipo de dinheiro esbarra em dificuldades da economia e da burocracia. A maior delas é a elevada taxa de juros, 13,25% ao ano desde a semana passada. Como o governo precisa sempre se financiar, os investidores preferem emprestar ao Estado, que tem maior segurança, a dar recursos a negócios que muitas vezes só dão lucro depois de 10 ou 20 anos. Para fazer isso, exigem uma taxa maior que a paga pelos títulos do governo o que, na prática, torna qualquer projeto inviável hoje. A taxa de juros elevada tende a ser reduzida caso o ajuste fiscal dê resultados e a inflação se reduza, o que pode facilitar os empréstimos quando, de fato, as concessões vão necessitar de recursos, o que só deve ocorrer no segundo semestre de 2016. No entanto, para chegar ao estágio de obra, será necessário criar ou fazer funcionar mecanismos para atrair esse dinheiro privado para as concessões. A aposta do governo é fazer deslanchar as chamadas debêntures de infraestrutura e, com elas, financiar até metade das obras. Essas debêntures, criadas em 2012, são títulos lançados no mercado por quem quer fazer obra de grande porte. O investidor que compra não paga imposto e, com isso, exige rentabilidade menor. Quem pega o dinheiro consegue o recurso mais barato, viabilizando o investimento. Essas emissões precisam ser autorizadas pelos ministérios da área e, até agora, já foram liberadas cerca de 250 operações. Nem todas se concretizaram e, no total, foram emitidos R$ 12,5 bilhões, o que é um número baixo para o volume de obra do país. Os dados são da Anbima (Associação Brasileira de Mercados Financeiro e de Capital).
Nova classe média faz malabarismo financeiro e seleciona conquistas FONTE ALEXA SALOMÃO - O ESTADO DE S.PAULO 02 maio 2015 às 22h 00 Cortar o restaurante nas horas de lazer, mas garantir a TV por assinatura e a internet em casa. Reduzir as idas ao shopping, mas aumentar as compras no atacado. Manter o achocolatado de marca nobre, mas misturá-lo com outro, mais barato. Em maior ou menor grau, ponderar escolhas como essas já faz parte do cotidiano de milhares de famílias brasileiras. Essas manobras foram identificadas em pesquisas recentes que acompanham hábitos da chamada nova classe média. Na avaliação de especialistas em consumo e em comportamento na base da pirâmide, as escolhas indicam que a classe C já começou a abdicar de algumas conquistas, consideradas menores, na tentativa de preservar outras, mais importantes. “Pesquisas com a classe C sempre identificaram que o seu maior temor era, genericamente, perder as suas conquistas recentes”, diz Maurício Prado, sócio-diretor da Plano CDE, consultoria especializada em pesquisas sobre a baixa renda. “O risco difuso virou realidade por causa da possibilidade de perda de emprego e de queda na renda: é preciso fazer escolhas.” Três levantamentos realizados neste início de ano pela Plano CDE traçam um retrato de como a classe C sente e reage à primeira crise econômica desde que ascendeu na pirâmide social (veja quadro). O mais recente, feito há três semanas, mostra que a maior preocupação de
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famílias com renda entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil é não ter dinheiro para pagar as contas contas essas que têm uma composição mais sofisticada. “Há o smartphone, a TV por assinatura, a prestação do carro”, diz Prado. “Há 15 anos, deixar de comprar sabão em pó de marca era perda de status, agora, já nem tanto”. Na reacomodação de prioridades, o celular, por exemplo, reina. A tarifa não é barata, mas ele não está entre os itens que já foram restringidos e só aparece no fim da lista de eventuais economias futuras. O salão de beleza, que viveu um boom, perde força, porque unha e cabelo podem ser feitos em casa a um custo inferior. O plano de saúde privado também começa a ser descartado - bem ou mal, há o SUS. A relação com produtos básicos, mais tradicionais, por sua vez, dá sinais de que está em transformação. Historicamente, reduzir a compra do básico, especialmente de comida, era o último artifício de economia na baixa renda. Neste início de ano, porém, a Nielsen, uma das maiores empresas de pesquisa de mercado do mundo, identificou desaceleração justamente nisso. Básico. A Nielsen acompanha um conjunto de produtos que forma uma espécie de cesta básica, com arroz, feijão, desodorante e xampu, por exemplo. Há um dado curioso quando se observa a quantidade de itens. Em janeiro e fevereiro do ano passado, em relação a 2013, quando a economia ia bem, o volume teve uma alta de 6,9%. Em janeiro e fevereiro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de apenas 1,2% - as pessoas compraram um número menor de itens. “A dona de casa é uma malabarista das finanças, poupa, sim, mas em parte garante um mimo, algo que na sua avaliação ela merece ter”, diz Olegário Araújo, diretor de atendimento ao atacado e varejo da Nielsen. Os mimos podem ter outra dimensão, como mostra Vânia Lages, de 55 anos. Ela ganha R$ 1,7 mil por mês como assistente administrativa de uma escola de primeiro grau. Sua conquista foi comprar um apartamento “perto de tudo”, no bairro de Pituba, em Salvador. O condomínio subiu para R$ 470 reais. Pesa. Mas ela não vai se mudar. “Tenho me privado de tantas alegrias, mas quero morar num lugar decente”, diz Vânia. Para compensar, trocou o plano do celular de pós para pré-pago, evita ir ao shopping e leva uma lista ao supermercado para não comprar o que não precisa.
Mudança no cálculo do PIB reduz participação da indústria na economia LUIZ GUILHERME GERBELLI - O ESTADO DE S. PAULO01 maio 2015 às 20h 30 A participação da indústria de transformação na economia brasileira é menor do que se imaginava. A mudança no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no País) promovida pelo IBGE deu ao setor industrial uma fatia de apenas 10,9% da economia nacional. Sem as alterações de metodologia das contas nacionais, a participação estaria em 12,7%. O cálculo faz parte de um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que confirma a forte deterioração do setor nos últimos anos. “A queda da indústria traz consequências graves para todo o País. O setor é um estimulador do crescimento e um multiplicador da renda”, afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
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A perda de participação da indústria na economia escancarou um descompasso econômico. O setor tem uma baixa representatividade num cenário no qual o PIB per capita brasileiro ainda é mediano. Ou seja, o País ganhou uma característica de economia madura antes da hora. Normalmente, ao se desenvolverem, os países enfrentam processos de desindustrialização, mas com um nível de renda mais elevado. Ranking. O levantamento da Fiesp também analisou o tamanho do setor industrial em 20 países, além do Brasil, com renda per capita de mesmo nível. Com base nos dados disponíveis de 2013, o resultado mostrou que a fatia da indústria brasileira é uma das menores do mundo. Há dois anos, a fatia da indústria de transformação era de 11,5% do PIB, mesmo nível observado no Chile e superior apenas à da Grécia (8,5%). Os países com maior participação do setor industrial foram Tailândia (32,9%), China (31,8%) e Coreia do Sul (31,1%) (ver quadro). “Até a crise de 2009, a indústria brasileira conseguia manter uma certa participação no PIB porque as exportações de manufaturados estavam num nível razoável. Depois da crise, a indústria não se recuperou mais e começou a cair vertiginosamente”, diz Nelson Marconi, coordenador executivo do Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). O desempenho ruim do setor ficou mais evidente depois da crise internacional porque a demanda por produtos manufaturados brasileiros diminuiu nos principais mercados de exportação, como Europa e Estados Unidos, afetados diretamente pela turbulência internacional. Na época, o câmbio também se valorizou e elevou a perda de competitividade do setor. “A taxa de câmbio se valorizou até 2012. A balança comercial do setor de manufaturados piorou muito nesse período, o que afetou muito a indústria. As medidas que o governo adotou para estimular a indústria foram na verdade atendidas em boa parte pelos importados”, afirma Marconi. No dia a dia das empresas, a perda de participação da indústria se traduziu em ajustes. A Fiamm, empresa de autopeças que produz e importa buzinas, chegou a ter três turnos de funcionários – no auge de vendas para o setor automotivo. Hoje, tem apenas um. “Em 2013, tivemos um pico de volume, mas já havia uma influência de importados. Este ano o volume está uma tragédia”, afirma Josué Leite de Paula, diretor-geral da empresa. Por ora, a projeção da Fiesp é que a indústria de transformação continue perdendo participação em 2015. A entidade estima que o setor deverá responder por 10,6% do PIB. O setor lida com uma combinação perversa: aumento no custo de energia, juros elevados e crédito mais restrito, além do desaquecimento geral da economia, que reduz a demanda por produtos industriais. “Nesses primeiros quatro meses de 2015, a situação está crítica. O volume está muito abaixo do ano anterior, que já foi menor do que o de 2013. Se comparar 2015 com 2013, há uma queda de quase 30% nos volumes pedidos”, afirma Edson Furlanetto, presidente da fabricante de autopeças Kostal.
2015 é ano de ajuste no Brasil, diz FMI Fonte Revista Exame Altamiro Silva Junior, do Estadão Conteúdo03/05/2015 ÀS 12H 12 9
Nova York - O ano de 2015 é um ano de ajuste para o Brasil e na medida em que as medidas da equipe econômica para arrumar a economia vão progredindo, a confiança dos empresários e consumidores deve se recuperar dos atuais níveis baixos, afirma o diretor do departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner. Para ele, o Banco Central do Brasil tem mostrado um "compromisso muito claro" de trazer a inflação para perto da meta de 4,5%. "À medida que a implementação dessas políticas de ajuste comece a se refletir nos números, isso vai fazer com que a confiança vá se recuperando e, eventualmente, depois de um período, pode haver um processo de recuperação do investimento", afirmou o diretor, citando que os empresários têm reduzido os gastos por conta do aumento da incerteza. Werner falou com jornalistas para comentar um novo relatório que o FMI divulgou na semana passada, chamado "Perspectiva Econômica Regional: Hemisfério Ocidental". O documento prevê que o Brasil terá em 2015 a desaceleração mais severa da economia em mais de duas décadas. "A economia do Brasil vem enfrentando uma desaceleração importante", disse Werner na entrevista, afirmando que vários indicadores do país estavam mostrando piora, como o déficit em conta corrente, a inflação e as contas fiscais. Por isso, a necessidade de medidas do governo para arrumar a economia. "O governo brasileiro anunciou um ajuste importante para recuperar a confiança e a sustentabilidade das finanças públicas. Além de um aumento importante dos juros para conter a inflação e as expectativas de inflação de médio prazo", disse Werner. Após subir 8% este ano, refletindo o ajuste em preços administrados, a previsão do FMI é que a inflação, medida pelo IPCA, reduza o ritmo de alta em 2016, para 5,4%. O próprio ajuste na economia, com corte de gastos e elevação dos juros, vai contribuir para afetar a atividade econômica em 2015. "Neste contexto, antecipávamos que a desaceleração que já vinha registrando a economia brasileira ia continuar", ressaltou Werner. Na medida em que o ajuste avance, o diretor afirma que a expectativa é de recuperação da credibilidade dos agentes "no conjunto de políticas macroeconômicas", com o Brasil voltando a crescer em 2016. O FMI projeta contração de 1% este ano na economia e expansão de 1% no ano que vem. Outro impacto na atividade econômica no curto prazo vem da queda do preço do petróleo e da Petrobras, ressalta o diretor do FMI. As cotações mais baixas da commodity devem afetar o investimento do setor, que já vem sofrendo as implicações das denúncias de corrupção na Petrobras.
País regride em avanço do poder de compra Fonte Jornal Folha de São Paulo ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO 04/05/2015 às 02h 00 O Brasil voltou a ficar estagnado na sua trajetória rumo ao desenvolvimento econômico, na contramão de um grupo de países emergentes de diferentes regiões que continua avançando para um nível de renda mais elevado, como Chile, Uruguai, Coreia, Taiwan, Polônia e Estônia. O aparente fim do ciclo de alta dos preços das matérias-primas -carro-chefe das exportações brasileiras-, aliado à falta de reformas que poderiam aumentar o ritmo de crescimento, dificulta a retomada do desenvolvimento brasileiro (leia mais ao lado).
O poder aquisitivo do brasileiro como fatia da renda americana -referência para comparações globais- começou a se recuperar em meados da década passada. Em 2011, chegou ao patamar de 30% pela primeira vez desde o fim da década de 1980.
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Depois de três anos nesse nível, no entanto, a proporção voltou a recuar levemente em 2014, para 29,5%. Os cálculos foram feitos com base em dados do PIB (Produto Interno Bruto) per capita dos países, expresso em Paridade do Poder de Compra (PPC), divulgado em abril pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Essa medida é comumente usada para comparar o poder aquisitivo médio de diferentes nações (leia no texto abaixo). Um país consegue se desenvolver à medida que a sua renda média se aproxima do patamar de países ricos. Esse processo, chamado de convergência econômica, ocorre em etapas. A primeira é a transição de um nível de renda baixo para médio. A seguinte, bem mais difícil de ser atingida, é a evolução para um patamar de renda alto. A transformação do Brasil em um país de renda média ganhou fôlego entre as décadas de 1950 e 1970, embalada pela urbanização e pelo surgimento da indústria básica. "O crescimento inicial é mais fácil. Você consegue evoluir acumulando capital. Mas, depois, o retorno sobre esse capital decresce e outras fontes são necessárias", afirma Filipe Campante, professor de políticas públicas da universidade Harvard. Em 1980, a renda per capita brasileira medida em PPC chegou a equivaler a 38% da norteamericana. Com a crise econômica dos anos 1980, o processo de convergência sofreu um revés que se estendeu até meados da década passada, quando teve início uma modesta recuperação, abortada com a perda de fôlego do crescimento nos últimos três anos. "A convergência da renda brasileira para o nível americano aumentou nos anos 2000 graças ao boom das commodities", afirma Robert Wood, analista sênior da consultoria EIU (EconomistIntelligence Unit). Segundo o economista Otaviano Canuto, consultor do Banco Mundial, a transição para um nível de renda alto depende, principalmente, da adoção de um conjunto de normas na economia que sejam favoráveis ao desenvolvimento de capital humano e tecnológico.
Mesmo após alta da Selic, mercado projeta aumento na taxa de juros em 2015 FONTE LORENNA RODRIGUES - O ESTADO DE S. PAULO 04 maio 2015 às 09h 25 BRASÍLIA - Apesar da alta da taxa básica de juros Selic na semana passada, para o mercado o ciclo de aperto monetário não está perto do fim. O mercado financeiro elevou a previsão para a Selic no fim deste ano para 13,50% ao ano, contra projeção anterior de 13,25% ao ano. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa básica de juros de 12,75% ao ano para 13,25% ao ano. Há um mês, a estimativa observada no Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, 4, também era de que a Selic encerrasse 2015 em 13,25% ao ano. Para o fim de 2016, a mediana das projeções foi mantida em 11,50% ao ano. Esta é a décima oitava semana consecutiva em que a taxa fica estacionada neste patamar. Inflação e PIB. Pela terceira semana consecutiva, os analistas ouvidos pelo BC elevaram a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. A expectativa é que o índice oficial de inflação encerre 2015 em 8,26%, contra 8,25% na semana anterior. Há um mês, essa projeção estava em 8,20%. O próprio Banco Central, responsável pela divulgação do Focus, espera uma inflação de 7,9% este ano.
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Quanto ao crescimento da economia, analistas projetam uma queda de 1,18% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015. Na semana anterior, a retração esperada para este ano era de 1,10%. A mediana das projeções para a queda na produção industrial este ano se manteve em 2,50%, na comparação com a semana passada. Para 2016. Em relação ao próximo ano, a previsão para o IPCA foi mantida em 5,60%, mesmo número de quatro semanas atrás. De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação do BC divulgado em abril, a taxa ficará em 4,9% pelo cenário de mercado que considera juros e dólar constantes ou em 5,1%, levando-se em consideração as estimativas da Focus imediatamente anterior ao documento. Os economistas mantiveram em 1% a projeção para a queda do PIB em 2016 e, quanto à produção industrial, a previsão de um avanço de 1% também permaneceu inalterada em relação à semana anterior. Câmbio. As previsões para o comportamento do câmbio neste e no próximo se mantiveram estáveis. A mediana das estimativas para o dólar no encerramento de 2015 seguiu em R$ 3,20, mesmo valor da semana passada. Já para 2016, a cotação final seguiu em R$ 3,30 há quatro semanas.
O custo de erros passados Fonte Jornal o Estado de S. Paulo Affonso Celso Pastore03 maio 2015 às 02h 06 Não sou dos que atribuem à valorização cambial a origem de todos os males da economia brasileira. Mas reconheço que um real mais fraco ajuda a recompor a competitividade das exportações, que se tornaram importantes na recuperação da recessão profunda e persistente na qual o País está ingressando. A recessão não é causada por nenhum exagero no ajuste fiscal. Ao contrário, as metas de superávit primário propostas por Joaquim Levy - de 1,2% do PIB para 2015 e de 2% para 2016 são insuficientes. Se o Brasil não executar um programa de reformas que acelere o crescimento econômico e reduza a taxa real de juros, somente evitará a perda do grau de investimento caso eleve ainda mais os superávits primários. É essa a percepção impressa nas cotações do CDS brasileiro, que permanece acima do nível compatível com o grau de investimento. É, também, a percepção do ministro da Fazenda, revelada quando ele advertiu os parlamentares sobre os efeitos de uma não aprovação das medidas propostas ao Congresso. A desaceleração do crescimento econômico não começou com o ajuste do ministro Levy. Já vinha se acentuando em 2014, como consequência da massa de erros cometida no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Dentre eles, destacam-se: uma política fiscal cujo expansionismo foi parcialmente ocultado por artimanhas que violaram a Lei de Responsabilidade Fiscal; e as transferências por fora do orçamento de recursos usadas pelos bancos oficiais para gerar uma expansão de crédito jamais vista na história. A única classificação para esse tipo de política é a de "populismo econômico". Não havia escassez de demanda nem a necessidade de ações contracíclicas, e o resultado dessa tragédia foi que o sistema produtivo foi se desorganizando, provocando a queda dos investimentos e da produtividade.
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O programa de ajuste fiscal é bem-vindo, e deve se aprofundar. Mas a tarefa de executá-lo não é fácil. Primeiro, porque aqui e ali surgem "surpresas" herdadas das artimanhas fiscais anteriores, e fica cada vez mais claro que por causa da recessão ocorrerão perdas de receita. Dificilmente a meta de 1,2% do PIB para 2015 será atingida. Segundo, porque a perda de sustentação política do governo vem dificultando a aprovação das medidas necessárias. Vítima dos próprios erros, como a corrupção na Petrobrás, o PT não tem mais força política para dar sustentação ao governo, e Dilma está se apoiando no PMDB, que é um partido dividido e envolto nas próprias contradições. Quando o problema é econômico, mas a solução é política, não basta apenas um ministro da Fazenda competente para que os resultados sejam atingidos. Por isso seria necessário que além do inescapável sofrimento do ajuste fiscal o governo acenasse com os benefícios de um programa de retomada do crescimento econômico. Talvez tire da cartola um programa de investimentos em infraestrutura, mas por enquanto isso não passa de uma mera hipótese. A outra saída está no crescimento das exportações, e é nela que quero insistir. Desde o auge da sobrevalorização cambial, em 2011, o real vinha se depreciando. Mais recentemente esse movimento se acentuou com a valorização do dólar americano, e derivava em larga medida da queda de preços de commodities combinada com a forte desaceleração no crescimento das exportações mundiais. O final da "bonança externa" tornou o Brasil mais dependente do que nunca do câmbio para reduzir os elevados déficits nas contas correntes. O enfraquecimento do real era a luz no fim do túnel, indicando um caminho para a recuperação do PIB. Contudo, depois de o real atingir a cotação de R$ 3,30/US$ voltou a se valorizar, chegando no fim da semana em torno de R$ 3,00/US$. Não se pode negar que esses movimentos sofrem a influência das incertezas sobre o início do ciclo de elevação da taxa dos FedFunds, alterando as perspectivas com relação ao dólar, mas esse efeito é pequeno em comparação à queda dos riscos ocorrida no Brasil. Em artigo anterior apresentei o gráfico no qual as cotações diárias do CDS brasileiro foram superpostas ao câmbio nominal, sendo muito clara a elevada correlação positiva entre as duas variáveis. Embora o comportamento do real não se deva apenas ao comportamento do CDS brasileiro, o seu retorno para a faixa dos R$ 3,00/US$, depois de ter atingido R$ 3,30/US$, deve-se predominantemente à queda das cotações do CDS, e essa queda foi a decorrência da publicação do balanço da Petrobrás. Se tal publicação não ocorresse, os vencimentos da dívida da Petrobrás seriam acelerados - ocorrendo o seu default - o que por causa do seu tamanho contagiava o risco soberano, jogando para cima as cotações do CDS brasileiro e afugentando os capitais, provocando a depreciação cambial. A publicação do balanço da Petrobrás "tirou o bode da sala", eliminando um overshooting temporário da taxa cambial. Esse movimento está longe de indicar o fim de um período de depreciação e o início de uma fase de valorização. Porém, a má notícia é que ao lado de forças que levam ao enfraquecimento do real - como a valorização do dólar e a queda dos preços de commodities a taxa real de juros no Brasil ainda persiste muito elevada, atraindo capitais e empurrando o real na direção contrária. Não nos esqueçamos de que as NTN-B continuam rendendo 6% ao, ano ou mais. Embora um eventual fortalecimento do real beneficiasse o controle da inflação, teria o custo de remover o único caminho que neste momento permanece aberto para gerar uma retomada do nível de atividade. Atualmente, o risco é de que o PIB tenha em 2015 uma contração próxima de 1,5%. Mesmo que as exportações não cresçam, isto é suficiente para derrubar em torno de US$ 10 bilhões os déficits nas contas correntes e, de fato, se o câmbio real não sofrer depreciações adicionais, mantendo-se nos níveis de hoje, será aproximadamente isto o que ocorrerá. Contabilmente é
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um resultado bom, mas infelizmente é o produto da recessão, derrubando as importações, e não do crescimento das exportações, que estaria associado à retomada do crescimento. Nova matriz. Se nos últimos anos o Banco Central não tivesse se associado ao governo na aventura da "nova matriz" macroeconômica, e tivesse usado a elevação de juros para combater a inflação em vez de beneficiar-se do controle de preços e das vendas de swaps cambiais para conter a depreciação cambial, estaria atualmente com as expectativas de inflação muito mais próximas da meta, o que diante da recessão que se aprofunda lhe abriria o espaço para a redução da taxa Selic. Infelizmente, contudo, erodiu a confiança na sua capacidade de entregar a meta. Na busca de reconquistar a credibilidade perdida vê-se diante do paradoxo de ter que elevar a taxa de juros mesmo diante do aprofundamento da recessão. O resultado é a manutenção dos juros reais elevados, o que combinado com a queda dos riscos atrai capitais de curto prazo e valoriza o real. Poderia, pelo menos, usar o paliativo da recompra dos swaps cambiais. Não tenho a ilusão de que isso teria um efeito muito grande sobre a taxa cambial, mas pelo menos estaria dando um sinal na direção correta. A reflexão que fica nesse ponto é que quando a autoridade monetária envereda por um caminho errado, como ocorreu com a injustificada redução da taxa Selic em 2011, acaba acarretando custos dos quais não escapa mais adiante. O exercício da política monetária não tolera experimentalismos, e já que temos de sofrer as consequências de juros mais altos na busca da recomposição da credibilidade perdida da autoridade monetária, que pelo menos nos reste o consolo de que não estamos retardando um pouco mais a retomada do crescimento do PIB.
Pré-sal: a transformação que não ocorreu FONTE JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS O ESTADO DE S.PAULO03 maio 2015 às 02h 05 Em meados da década passada uma euforia tomou conta do governo, a partir da confirmação da existência de grandes reservas de petróleo no chamado pré-sal. Este foi um grande feito técnico da Petrobrás, que se firmou como líder da exploração em águas profundas e fonte de legítimo orgulho por parte da engenharia da empresa e de todos nós. É preciso lembrar que este evento foi contemporâneo ao auge do super ciclo de commodities, puxado pela China, que implicou ganho extraordinário de renda para o País, recriando nas autoridades o sonho do Brasil grande. A megalomania tomou conta do pedaço e tornou-se fatal, como sabemos bem nos dias de hoje. O pré-sal acabou sendo caso clássico de um bônus que se transformou em grande dor de cabeça para o País, especialmente porque virou também o elemento mais importante para o sonho de perpetuação do partido no poder, hoje totalmente revelado pela Operação Lava Jato. Na verdade, o programa de exploração do pré-sal já nasceu comprometido pela excessiva ambição. Ele buscava, ao mesmo tempo: - Produzir muito óleo e gás, muito rapidamente, com a melhor tecnologia disponível, numa geologia difícil e pouco conhecida e a um custo razoável, tudo ao mesmo tempo. -Usar a exploração da nova área para dar um salto na produção industrial, por meio da utilização da obrigatoriedade do conteúdo nacional. O caso da construção naval é o auge do exemplo da ousadia: quando as primeiras encomendas foram feitas, as empresas tinham
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apenas terrenos e nenhuma experiência na área. A probabilidade de baixa produtividade e má qualidade na construção, além de elevados custos, era muito alta. - Garantir a predominância da Petrobrás e de um alto "take" governamental, obrigando a companhia a deter pelo menos 30% de cada campo e de ser a principal operadora. Como se tudo isso não fosse suficiente, o governo ainda usou a Petrobrás para (tentar) controlar os preços. Isso custou a bagatela de mais de R$ 60 bilhões de geração de caixa da companhia, reduzindo sua capacidade de investimento. Este excesso de objetivos, vários deles evidentemente conflitantes entre si, tornou impossível um resultado bem sucedido como de fato foi o caso. Mas isto ainda não foi tudo. Vários fatores adicionais estiveram em jogo, a saber: - A companhia não tinha recursos de gestão para tocar tudo a que se propunha. Lembremonos que, além do pré-sal, a Petrobrás está em todas as áreas: da distribuição de gás encanado à produção de fertilizantes, passando por etanol, biodiesel, gasodutos etc. Simplesmente não havia capital humano para todo esse esforço. Um exemplo relevante ocorreu durante a gestão Gabrielli: a qualidade da manutenção das plataformas na Bacia de Campos despencou, o que obrigou Graça Foster a montar, no início de sua gestão, um programa de recuperação da produtividade dos campos. A queda na produtividade foi o que impediu a elevação da produção nacional de petróleo por algum tempo, pois a nova produção do pré-sal não conseguiu compensar a queda nos campos antigos. - O populismo do ex-presidente Lula na definição das novas refinarias foi outro quesito relevante. As refinarias Premium 1 e 2, do Ceará e do Maranhão, custaram apenas em estudos quase R$ 3 bilhões, que foram baixados do patrimônio da empresa. As peripécias protagonizadas pelo senhor Chávez na refinaria Abreu e Lima resultaram num ativo com uma concepção de engenharia esdrúxula de refino (pensado para processar óleo venezuelano e da Bacia de Campos), em constantes alterações de projeto e num custo enorme. Em média, as refinarias construídas em meados da década passada custavam U$ 30 mil por barril de capacidade de refino. Abreu e Lima está perto de U$ 90 mil por barril e ainda não está pronta. É claro que a corrupção sistêmica também explica parte deste resultado. O complexo petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) é a quarta perna do desastre das refinarias. Um dia valerá a pena contar como um criativo projeto petroquímico a partir do refino do óleo pesado da Bacia de Campos, proposto por Paulo Cunha, do Grupo Ultra, com custo de algumas centenas de milhões de dólares, transformou-se no elefante branco de hoje - que teve R$ 21,8 bilhões baixados do balanço de 2014. - A corrupção sistêmica na empresa, como sabemos hoje, custou muito dinheiro e já é o maior caso mundial dos tempos contemporâneos, um verdadeiro recorde. Afora o custo financeiro, a corrupção sistêmica destrói a eficiência de qualquer companhia. Finalmente, a ambição do programa de investimentos e o controle de preços de combustíveis obrigaram a Petrobrás a se endividar pesadamente. Como a empresa continuou distribuindo dividendos, sua dívida (quase toda em dólares) é hoje a maior do mundo. Há muitos anos Adriano Pires escreve que essa rota era claramente insustentável. A queda no preço do petróleo para a faixa de U$ 50 e a Lava Jato foram o golpe de morte no sonho do Brasil grande. A crise dos dias de hoje tem nos eventos da queda da Petrobrás e a derrocada de sua cadeia produtiva no seu centro.
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A publicação do balanço de 2014 da empresa é um passo muito importante para o início do resgate da companhia e do segmento de óleo e gás. Construir uma versão segundo a qual a corrupção foi um evento provocado por meia dúzia de pessoas e que uma página foi virada é um engano que vai custar muito caro. O que vem adiante é necessariamente um ajuste defensivo para a Petrobrás, uma vez que, com o novo balanço, o grau de alavancagem da empresa ficará elevadíssimo e terá de ser reduzido nos próximos anos. Serão necessários a redução no programa de investimentos, a venda de vários ativos, cortes variados de despesas e uma política de preços de combustíveis que não traga mais qualquer tipo de congelamento. Ao mesmo tempo, é preciso que o fluxo de pagamentos para os fornecedores seja minimamente retomado, já que há meses muitos projetos não têm suas despesas pagas pela companhia. Além disso, o número de fornecedores que já pediram ou irão pedir recuperação judicial é significativo. O setor de petróleo seguirá sendo muito importante para o País. Ficará longe, entretanto, de ser o puxador de crescimento que se imaginou. Não deixa de ser uma boa notícia para o Brasil.
Volkswagen coloca 8 mil funcionários em férias coletivas em SP FONTE IGOR GADELHA - O ESTADO DE S. PAULO04 maio 2015 às 09h 39 Cerca de 8 mil trabalhadores da linha de produção da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) entraram em férias coletivas a partir desta segunda-feira, 4, por 10 dias, segundo o sindicato dos metalúrgicos da região. A medida é um mecanismo para ajustar a produção à baixa demanda por veículos novos, cujas vendas acumulam queda de quase 20% em 2015 até abril. Em todo o País, já são mais de 13 mil metalúrgicos suspensos pelas montadoras, por motivos semelhantes. A Volks é a montadora que possui mais metalúrgicos afastados atualmente, Além dos 8 mil em São Bernardo, a companhia tem 370 trabalhadores em lay-off (suspensão temporária dos contratos) em Taubaté (SP). Desse total, 120 estão suspensos desde o fim de abril e 250, desde março. Em ambos os casos, por cinco meses, de acordo com o sindicato dos metalúrgicos da região. A empresa ainda mantém 570 funcionários em lay-off, desde início do mês passado, em São José dos Pinhais (PR). Procurada, a Volks não comentou a paralisação e declarou apenas que tem feito "uso de ferramentas de flexibilização para adequar o volume de produção à demanda do mercado". Fontes do setor automotivo, porém, confirmaram a parada da produção na fábrica de São Bernardo de 4 a 14 de maio. Na unidade, a montadora chegou a anunciar a demissão de 800 metalúrgicos em janeiro, para "adequar o efetivo", mas voltou atrás após greve dos trabalhadores. GM, Mercedes, Ford e Volvo. A General Motors (GM) também é uma das montadoras com mais empregados afastados. De acordo com a empresa, 819 metalúrgicos estão em lay-off na fábrica de São Caetano do Sul (SP) desde novembro do ano passado. Eles deveriam ter retornado ao trabalho no último dia 10 de abril, mas a companhia prorrogou o afastamento até 9 de julho. A montadora tem ainda 473 metalúrgicos com contratos suspensos na unidade de São José dos Campos (SP), desde março até agosto. Na Mercedes-Benz, são 850 trabalhadores afastados ao todo. Segundo empresa e sindicatos, 750 estão suspensos desde maio do ano passado na fábrica de São Bernardo. A montadora
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chegou a anunciar a demissão de 500 desses funcionários em abril, mas revogou os cortes. Na negociação, porém, a companhia prorrogou o lay-off deles até 15 de junho e, até 30 de setembro, para os outros 250. A Mercedes tem ainda 100 metalúrgicos em lay-off até o fim de maio na fábrica de Juiz de Fora (MG). A Ford, por sua vez, tem 424 metalúrgicos em banco de horas desde 23 de fevereiro, por tempo indeterminado, em São Bernardo do Campo. No fim de março, a montadora demitiu 137 funcionários da unidade de Taubaté, após oito meses de lay-off. Na fábrica da Volvo em Curtiba (PR), 1,5 mil trabalhadores estão em bancos de horas desde o dia 24 de abril para adequar produção à demanda. De acordo com a companhia, eles devem retornar ao trabalho nesta quarta-feira (6). Outros mecanismos. Além do afastamento temporário de trabalhadores, muitas montadoras estão recorrendo a planos de demissão voluntária (PDVs) e a paradas estratégicas da produção. Na fábrica de caminhões da MAN LatinAmerica em Resende (RJ), por exemplo, a carga horária está reduzida em 10% desde dezembro. Nas duas fábricas de ônibus da Marcopolo em Caxias do Sul (RS), acordo entre sindicato e empresa prevê até seis dias de parada da produção por mês, entre abril e maio. A crise pela qual a indústria automotiva brasileira passa também afetado outros segmentos da cadeia automotiva. Com a produção de veículos em queda, a Pirelli vai colocar em lay-off por cinco meses, a partir das primeiras semanas de maio, 1,5 mil trabalhadores das quatro fábricas que possui pelo País: em Santo André (SP), Campinas (SP), Gravataí (RS) e Feira de Santana (BA). O número equivale a 12,5% de toda a mão de obra da fabricante de pneus.
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