SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 05 DE MAIO DE 2015
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Para garantir apoio a ajuste fiscal, governo apressa nomeações Fonte Jornal Folha de São Paulo VALDO CRUZ, MARINA DIAS e FLÁVIA FOREQUEDE BRASÍLIA05/05/2015 às 02h00 O vice-presidente Michel Temer, articulador político do governo Dilma Rousseff, cobrou pressa nas nomeações de cargos do segundo escalão e empenho dos partidos aliados, principalmente do PT, para evitar uma derrota do Palácio do Planalto na votação das medidas do ajuste fiscal. O vice-presidente defendeu em reuniões do governo acelerar a publicação das nomeações, alegando que alguns parlamentares estão "ansiosos" na semana em que começam a ser votadas no plenário da Câmara as medidas provisórias do ajuste fiscal. Temer disse também que pediu ao PT que "se dedique por inteiro a essa aprovação" e que telefonou para "todos os ministros do PMDB" para que orientassem os deputados do partido com esse objetivo. Na mesma linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez cobranças ao partido da presidente. "Se o PT não tiver acordo [sobre o tema], vai ser difícil convencer os partidos da base a acompanhá-lo", disse Cunha. Um assessor presidencial disse à Folha que cerca de 50 cargos foram encaminhados para nomeação, dentro dos acordos fechados por Temer, mas estão demorando para serem publicados no "Diário Oficial" da União por causa de dificuldades burocráticas. Segundo ele, a demora é "compreensível" porque havia um "represamento" nas nomeações e que, agora, o fluxo de indicações aumentou muito para a Casa Civil, gerando uma "fila normal". A ordem é tentar acelerar a burocracia para acabar com "dúvidas" em parlamentares da base aliada, que temem votar a favor do governo e não terem seus pleitos atendidos. Além dos 50 cargos encaminhados à Casa Civil, a área política espera concluir nesta semana negociações para preencher mais 70 a 100 postos de segundo escalão. As tratativas de Temer para acelerar as nomeações resultaram, nesta segunda (4), na publicação no "Diário Oficial" da nomeação do economista Marcos Costa Holanda como presidente do Banco do Nordeste. Holanda é ligado ao líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE), e substituirá Nelson de Souza, funcionário de carreira da Caixa e considerado da cota do PT. Temer também alertou os partidos aliada que, "se não houver o ajuste, o contingenciamento [bloqueio de gastos] será muito radical. Se houver o ajuste, o contingenciamento será muito menor". O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), após reunião com a articulação política do Planalto, disse que tudo já havia sido negociado nas MPs do ajuste fiscal e não havia mais espaço para novas negociações. Sobre as cobranças dirigidas ao PT, o líder afirmou: "É claro que, para a base, a posição do PT é estratégica. [...] O PT engata a primeira marcha, o PMDB, a segunda, e a partir da terceira colocamos o carro para andar para a votação". A medida provisória que restringe o acesso ao seguro-desemprego deve ser votada no plenário da Câmara nesta terça-feira (5). Na quarta (6), o governo espera levar ao plenário a medida que muda as regras da pensão por morte.
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Roberto Mangabeira Unger: Bê-á-bá do novo modelo de desenvolvimento Fonte Jornal Folha de São Paulo 05/05/2015 às 02h00 O Brasil tem jeito? A despeito das dificuldades que enfrentamos, o Brasil tem tudo para iniciar um novo e duradouro ciclo de desenvolvimento. Contamos com os recursos mais importantes: vitalidade assombrosa, unidade nacional, abertura de espírito para o novo e recursos naturais sem par. O Brasil é o único país do mundo com que se podem comparar os EUA. O que precisamos fazer para aproveitar esse potencial? Organizar uma estratégia de desenvolvimento baseada em ampliação de oportunidades econômicas e de capacitações educacionais. Democratizar consumo e demanda exige só dinheiro. Democratizar a produção e a oferta requer inovação institucional, inclusive na maneira de organizar a economia de mercado. Qual o maior defeito do modelo econômico existente? É a baixa produtividade do trabalho. Empregamos expressiva maioria de nossa força de trabalho em serviços de baixa produtividade. E usamos as riquezas da natureza para disfarçar as consequências. Quais são as partes centrais do novo modelo? São duas. A parte econômica é o produtivismo includente: conjunto de iniciativas destinadas a equipar o tremendo dinamismo empreendedor que continua a se afirmar no país. A parte intelectual é a qualificação do ensino básico: a substituição do enciclopedismo raso por ensino analítico. Qual o conteúdo do produtivismo includente? Seu primeiro componente é ampliar o acesso ao crédito, à tecnologia e às práticas inovadoras em favor das médias e pequenas empresas, protagonistas de nossa economia. Até nossas maiores empresas precisam de choque de ciência e de tecnologia: a especialização em recursos naturais estreitou o espectro de tecnologias e práticas que dominam. Seu segundo elemento é apostar na valorização do trabalho e do trabalhador. A precarização crescente dentro da própria economia formal é inimiga do desenvolvimento. Precisamos governar as realidades emergentes da produção. Sua terceira parte é derrubar travas ao impulso produtivista que resultam da confusão jurídica. Tem de haver regra. Em vez de regra, costuma haver delegação de poderes discricionários a burocratas, juízes e procuradores –por exemplo, em nosso pseudodireito ambiental (que não estabelece normas claras para reger situações diferentes) ou em nossa legislação de controle (que presume a desonestidade e sufoca a inovação). O que devemos fazer para qualificar o ensino básico? Implantar o federalismo cooperativo na educação, redefinir o currículo como sequência de capacitações analíticas ligadas a conteúdos variáveis e aprofundados, pôr a cooperação na maneira de ensinar e de apreender no lugar da combinação de individualismo e autoritarismo que marca nossas salas de aula. É preciso também lançar mão de numerosas iniciativas destinadas a qualificar os professores e diretores e usar tecnologias, como o ensino a distância e os softwares interativos, para prover os professores de melhores instrumentos e para acelerar a mudança. Qual é a relação entre ajuste fiscal e produtivismo includente e capacitador? 3
Ajuste fiscal não é agenda. É preliminar de agenda. Precisamos acertar as contas públicas, inclusive para assegurar ao Estado margem de manobra. O objetivo maior do ajuste fiscal não é ganhar confiança financeira é não depender da confiança financeira. A alternativa produtivista e capacitadora consolida a primazia dos interesses do trabalho e da produção sobre os interesses do rentismo financeiro. Não precisamos fazer a reforma política antes de reorientar o rumo do país? Nenhuma sociedade reforma suas instituições políticas para só depois decidir o que fazer com elas. A reforma política ocorre no meio de luta para reorientar o rumo, não antes. Há exceção a esse princípio: reordenar desde já o financiamento eleitoral para tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. Mas como fazer tudo isso em meio às confusões atuais da política? As pequenas desavenças entre políticos são desimportantes. Importante é o Brasil ter projeto forte. Pode. Precisa. Terá.
Ânimo nos endinheirados Fonte Jornal Folha de São Paulo 05/05/2015 às 02h00 Os donos do dinheiro grosso ficaram um pouco mais calminhos em relação ao Brasil, desde o início de abril. Em algumas partes do mercado financeiro, houve até grande animação, caso da Bolsa, no nível mais alto em seis meses. O balanço de entradas e saídas de dólar no país, dito "fluxo cambial", foi o melhor também desde outubro de 2014. A taxa de juros real (juro futuro descontada a inflação esperada em 12 meses) está meio horrível, a mais alta desde meados de 2011, primeiro ano de Dilma 1. No entanto, de março para cá o juro real sobe mais porque a inflação esperada tem caído de modo considerável – menos pior assim. No "lado real" da economia, o naufrágio continua. O comércio do Brasil com o exterior caiu 16% neste primeiro terço do ano (ante período igual de 2014), soube-se ontem. A importação de bens de capital baixou 12%, péssimo sinal, pois muito associada ao ritmo do investimento em equipamentos e instalações produtivas. Pelo andar da carruagem das importações, deveremos ter dados catastróficos de investimento em capital neste primeiro semestre (por ora, temos números até fevereiro). Ainda assim, o ar anda menos empesteado pelos lados da finança. Passou mais um ciclo de especulação histérica com a data do aumento dos juros americanos, o que vem provocando tumulto por aqui desde maio de 2013. Porém, exceto na hipótese improvável de letargia da economia americana, haverá mais paniquito, talvez a partir de junho. Por aqui, alguns medos e exasperações refluíram. Colocou-se ordem mínima na Petrobras. Apresentou-se um balanço, com o que se afastou o risco de cobrança antecipada da dívida da empresa, o que levaria o governo já na pindaíba a cobrir os papagaios, um desastre. Parece que o fim do mundo político foi adiado. O governo está no pântano com lama pelo nariz, mas parou de afundar, por enquanto, ao menos. Na ausência de impeachment, "crise institucional", quebra da Petrobras e racionamentos de água e luz, o ar pareceu mais respirável. Considere-se também que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de fim de feira, ainda mais se cotados em dólares. O Brasil pareceu barato. Em abril, entrou dinheiro "estrangeiro" como nunca na Bovespa, que voltou ao nível mais alto desde outubro de 2014. No trimestre encerrado em abril ou nos 12 meses 4
contados até então, os não residentes puseram dinheiro como não o faziam pelo menos desde 2010. Quanto a entradas de dólar, o resultado no trimestre encerrado em abril não era tão alto desde julho de 2013 (ainda faltando computar os dados da última semana de abril). Depois da corrida histérica, pois rápida demais, até R$ 3,30, o preço do dólar recuou para a casa dos R$ 3, dando um pulinho nos últimos dias porque o Banco Central talvez reduza suas intervenções e porque, bidu, houve algum agito no mercado americano de juros. Mas dólar a R$ 3 e subindo aos poucos a partir daí é, para o conjunto do país, bom negócio. Trata-se de um nível de câmbio que pode daqui a um pouco dar algum impulso à economia por meio do aumento da produção de produtos exportáveis na indústria.
Não seja professor Fonte Jornal Folha de São Paulo 05/05/2015 Quem escreve este artigo é alguém que é professor universitário há quase 20 anos e que gostaria de estar neste momento escrevendo o contrário do que se vê obrigado agora a dizer. Pois, diante das circunstâncias, gostaria de aproveitar o espaço para escrever diretamente a meus alunos e pedir a eles que não sejam professores, não cometam esse equívoco. Esta "pátria educadora" não merece ter professores. Um professor, principalmente aquele que se dedicou ao ensino fundamental e médio, será cotidianamente desprezado. Seu salário será, em média, 51% do salário médio daqueles que terão a mesma formação. Em um estudo publicado há meses pela OCDE, o salário do professor brasileiro aparece em penúltimo lugar em uma lista de 35 países, atrás da Turquia, do Chile e do México, entre tantos outros. Mesmo assim, você ouvirá que ser professor é uma vocação, que seu salário não é assim tão ruim e outras amenidades do gênero. Suas salas de aula terão, em média, 32 alunos, enquanto no Chile são 27 e Portugal, 8. Sua escola provavelmente não terá biblioteca, como é o caso de 72% das escolas públicas brasileiras. Se você tiver a péssima ideia de se manifestar contra o descalabro e a precarização, caso você more no Paraná, o governo o tratará à base de bomba de gás lacrimogêneo, cachorro e bala de borracha. Em outros Estados, a pura e simples indiferença. Imagens correrão o mundo, a Anistia Internacional irá emitir notas condenando, mas as principais revistas semanárias do país não darão nada a respeito nem do fato nem de sua situação. Para elas e para a "opinião pública" que elas parecem representar, você não existe. Mais importante para elas não é sua situação, base para os resultados medíocres da educação nacional, mas alguma diatribe canina contra o governo ou os emocionantes embates entre os presidentes da Câmara e do Senado a fim de saber quem espolia mais um Executivo nas cordas. No entanto, depois de voltar para casa sangrando por ter levado uma bala de borracha da nossa simpática PM, você poderá ter o prazer de ligar a televisão e ouvir alguma celebridade deplorando o fato de o país "ter pouca educação" ou algum candidato a governador dizer que educação será sempre a prioridade das prioridades. Diante de tamanho cinismo, você não terá nada a fazer a não ser alimentar uma incompreensão profunda por ter sido professor, em vez de ter aberto um restaurante. Por isso o melhor a fazer é recusar-se a ser professor de ensino médio e fundamental. Assim, acordaremos um dia em um país que não poderá mais mentir para si mesmo, pois as escolas estarão fechadas pela recusa de nossos jovens a serem humilhados como professores e a perpetuarem a farsa.
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Terceirização vai achatar salários, diz professor de Dilma Fonte Jornal Folha de São Paulo 05/05/2015 ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO Para João Manuel Cardoso de Mello, que lecionou na Unicamp, ajuste fiscal do governo causa recessão e desemprego O ajuste fiscal promovido pelo governo provocará uma recessão brutal: o PIB pode despencar para -3%. O desemprego vai a 10% ou 12%. Se aprovada, a terceirização em debate no Congresso devastará o mercado de trabalho e achatará salários. Protestos virão, e a popularidade da presidente cairá a 7%. A previsão é de João Manuel Cardoso de Mello, 73, em entrevista à Folha. Autor do clássico "O Capitalismo Tardio" (1975), ele foi professor da presidente Dilma Rousseff na Unicamp. Fundador do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas daquela universidade, ele criou a Facamp (Faculdades de Campinas), na qual hoje é diretorgeral. Crítico da política econômica, ele diz que o governo cedeu a pressões do mercado financeiro e define como ilusão a ideia de que a recuperação virá no final deste ano. Folha - Como vai o Brasil? João Manuel Cardoso de Mello - Estamos numa estagnação há 30 anos, crescendo a taxas ridículas de 2% ao ano. A agricultura vai bem. O problema é a indústria. Temos 20 anos de câmbio valorizado. Não há quem resista. Câmbio valorizado, juros absurdos e um sistema tributário torto, que pune a produção. Por que há estagnação? Não temos estratégia nacional de desenvolvimento. Os problemas não foram enfrentados e se acumularam. Apareceu tudo agora. Vemos a cristalização de 30 anos de falta de estratégia, de projeto, de coordenação estatal. Qual sua avaliação do ajuste fiscal de Joaquim Levy? Isso entra na cabeça de alguém? Ele dá um choque de câmbio, um choque de custos, faz corte de gastos. Vai produzir uma recessão brutal. Está produzindo. Está tudo parado. Há preocupação com a perda do grau de investimento. E daí? É uma chantagem do mercado financeiro, que diz que precisa fazer um ajuste. Algum ajuste precisava fazer, mas não nessa violência. O governo cedeu à chantagem do mercado com a ameaça da perda do grau de investimento. O que o governo deveria fazer? Um ajuste mais moderado. Não precisa fazer uma barbaridade dessas. Isso vai jogar o negócio a -3% neste ano. A popularidade cairá ainda mais, vai chegar a 7% de aprovação. Qual o impacto da terceirização em debate no Congresso? Vai acabar com o mercado de trabalho. Estão achando que as pessoas vão fazer empresas. Vão é fazer cooperativas, que não pagam imposto. O estrago da terceirização é enorme em cima de uma crise desse tamanho. É uma devastação no mercado de trabalho. Vai desestruturar tudo e jogar os salários para baixo. É o que Levy quer: ajustar a relação salário/câmbio. A população vai aceitar a mudança? Acredito que não, portanto viveremos tempos interessantes, muito difíceis. As pessoas foram para a rua porque estão cheias. A economia já vinha mal, não foi de agora. Ela [Dilma] perdeu dois terços dos seus eleitores e vai perder mais um outro pedaço. É uma ilusão dizer que vai haver recuperação no fim do ano. Com essa recessão terrível, 6
a arrecadação está despencando. Se se precisava de R$ 60 bilhões, agora são R$ 80 bilhões, amanhã R$ 100 bilhões. Aí se corta mais e se joga para baixo outra vez. Aonde isso vai parar? Não haverá recuperação. As apostas [para o PIB] vão de -1,5% e -3%. No ano que vem não recupera. Alguém investe algum centavo? Os bancos estão cortando crédito, os juros, subindo, uma loucura. Como fica o nível de emprego? As demissões ainda não começaram porque existem os acordos coletivos. Em maio e junho vai começar a demissão em massa. O desemprego vai para 10%, 12% neste ano [está em 7,4%]. E vai rápido. A alta dos juros está paralisando a construção civil residencial. Não tem investimento em construção pesada, está se desmontando a cadeia de óleo e gás, a indústria continua encolhendo. Isso vai pegando os serviços. De onde vem a recuperação? Não sei de onde. Das concessões? Os filés aeroportos, estradas já foram feitos. Sobrou a carne de pescoço. Vão colocar dinheiro a 30 anos? A operação Lava Jato está colocando em risco empreiteiras de capital nacional. Qual o impacto disso na economia? Ninguém sabe. Tem corrupção. Tem que pôr os caras na cadeia, mas a empresa tem que ser mantida. Mas isso tem sido impossível. Os investimentos estão paralisados. E não é só na cadeia de óleo e gás. Todo o negócio de infraestrutura está sendo desarticulado.
Camex concede novos ex-tarifários Fonte Resenha CamexData/MDIC 04/05/2015 O Diário Oficial da União do dia 30.4.2015 trouxe duas Resoluções Camex que irão estimular investimentos industriais no Brasil. A Resolução Camex nº 30/2015 traz uma lista com 177 extarifários para bens de capital, que terão o Imposto de Importação reduzido, de um patamar de 14%, em sua maioria, para 2%, até 31 de dezembro de 2016. Desses, 158 são referentes a novos pedidos e 19 são renovações. Já a Resolução Camex nº 29/2015 contém a relação de extarifários para bens de informática e telecomunicações, que terão o Imposto de Importação reduzido, de uma faixa entre 16% e 10%, para 2%, até 31 de dezembro de 2015. Juntos, os 187 ex-tarifários vão incentivar investimentos globais de US$ 1,902 bilhão e investimentos em importações dos equipamentos de US$ 186 milhões. Em relação aos investimentos globais, os principais setores contemplados foram: construção civil (46,38%); automotivo (31,35%); energia (GTD) (5,40%); outros (3,26%); cerâmica (2,60%); bens de capital (2,40%); autopeças (1,68%); siderúrgico (1,43%); madeira e móveis (1,11%). Os produtos importados virão principalmente da Alemanha (30,63%); Estados Unidos (26,32%); Itália (12,92%); Japão (9,45%); Áustria (4,53%); Holanda (3,22%); Taiwan (2,85%); Coreia do Sul (2,84%) e Espanha (1,65%). Os projetos beneficiados destacam a construção de nova unidade industrial para a produção de amônia e de CO2, em Minas Gerais; o aumento da capacidade produtiva de motores, também em Minas Gerais; a construção de fábrica de processamento de milho para a produção de etanol, em Goiás; a implantação de unidade para a produção de pellets, a partir da madeira de acácia negra, no Rio Grande do Sul; o aumento da produção de módulos fotovoltaicos para suprir o mercado interno e exportações, em São Paulo; e o fornecimento de linha de produção para a fabricação de peças estampadas de carrocerias de veículos no Paraná.
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O que são ex-tarifários O regime de ex-tarifários visa estimular os investimentos para ampliação e reestruturação do setor produtivo nacional de bens e serviços, por meio da redução temporária do Imposto de Importação de bens de capital e bens de informática e telecomunicações sem produção no Brasil. Cabe ao Comitê de Análise de ex-tarifários (Caex) verificar a inexistência de produção nacional e o mérito dos pleitos tendo em vista os objetivos pretendidos, os investimentos envolvidos e as políticas governamentais de desenvolvimento. As fabricantes brasileiras de máquinas e equipamentos industriais também participam do processo de análise de produção nacional.
Exportações em abril superam importações em US$ 491 milhões Fonte Jornal Folha de São Paulo ISABEL VERSIANIDE BRASÍLIA04/05/2015 às 15h46 A balança comercial brasileira registrou em abril o segundo saldo mensal positivo consecutivo, de US$ 491 milhões, informou nesta segunda-feira (4) o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). No mês, as exportações voltaram a recuar na comparação com o mesmo período de 2014 e somaram US$ 15,2 bilhões –queda de 23,2% pela média diária. As importações, contudo, encolheram ainda mais (23,7%), totalizando US$ 14,7 bilhões, em um reflexo da desaceleração da economia. No acumulado do ano, a balança ainda segue com forte déficit, de US$ 5,066 bilhões. No período, as exportações encolheram 16,4% para US$ 57,9 bilhões, afetadas principalmente pela redução dos preços das principais commodities vendidas pelo país. As exportações de soja, por exemplo, despencaram 41% e as de minério de ferro, 45%. As vendas de produtos industrializados e semimanufaturados também recuaram, mas a um ritmo menor –11,3% e 2,5%, respectivamente. As importações tiveram queda total de 15,9% no quadrimestre e somaram US$ 63 bilhões. Houve recuo na compra de todas as categorias de uso, com destaque para petróleo (58%), em um reflexo da queda dos preços no mercado internacional, e de bens de consumo duráveis, com queda de 21%.
Raça, classe e negligência Fonte Jornal Folha de São Paulo Paul Krugman 04/05/2015 às 11h 44 A cada vez que você se sente tentado a dizer que os Estados Unidos estão avançando quanto à raça –que o preconceito já não é tão importante quanto no passado–, surge uma atrocidade que destrói sua complacência. Quase todo mundo percebe, espero, que o caso Freddie Gray não foi um incidente isolado, e que ele só é único na medida em que, pelo menos por uma vez, parece possível que justiça seja feita. E os tumultos em Baltimore, por mais destrutivos que sejam, serviram a pelo menos um propósito útil: chamar a atenção para as grotescas desigualdades que envenenam as vidas de muitos norte-americanos. Mas me preocupo com a possibilidade de que a posição central da raça e racismo nesse caso específico transmita a falsa impressão de que pobreza debilitante e alienação social são experiências exclusivas dos negros. Na verdade, boa parte do horror que se vê em Baltimore e muitos outros lugares, ainda que não todo ele, 8
efetivamente se relaciona mais a questões de classe que de raça, e aos efeitos devastadores de uma desigualdade extrema e crescente. Um exemplo são as questões de saúde e mortalidade. Muita gente apontou para o fato de que, em alguns bairros negros de Baltimore, a expectativa de vida pode ser comparada desfavoravelmente à de países empobrecidos do Terceiro Mundo. Mas o que realmente espanta, em escala nacional, é a forma pela qual as disparidades de classe nos índices de mortalidade dispararam, mesmo entre os brancos. O mais notável é que a mortalidade das mulheres brancas subiu acentuadamente desde os anos 90, e a ascensão se concentra firmemente entre as mulheres mais pobres e de menor nível educacional; a expectativa de vida entre os brancos com nível educacional mais baixo vem caindo em ritmo que lembra o do colapso da expectativa de vida na Rússia pós-comunista. E, sim, essas mortes adicionais resultam da desigualdade e da falta de oportunidade, mesmo nos casos em que sua causa direta está no comportamento autodestrutivo das vítimas. O abuso de remédios vendidos sob receita e do tabaco, e a obesidade, respondem por muitas mortes prematuras, mas existe um motivo para que comportamentos como esses sejam tão comuns, e o motivo se relaciona a uma economia que deixa dezenas de milhões de pessoas para trás. É desanimador ler alguns comentaristas escrevendo ainda como se a pobreza fosse simplesmente uma questão de valores, como se os pobres misteriosamente fizessem más escolhas, e a situação deles pudesse ser corrigida caso simplesmente adotassem os valores da classe média. Esse argumento talvéz mas só talvez fosse defensável quatro décadas atrás, mas a esta altura deveria ser evidente que os valores de classe média só florescem em uma economia que ofereça empregos de classe média. O grande sociólogo William Julius Wilson argumentou muito tempo atrás que as muito lamentadas mudanças sociais entre os negros, como o declínio da família tradicional, na verdade eram causadas pelo desaparecimento de empregos bem pagos nas regiões centrais das grandes cidades. O argumento dele abarcava uma previsão implícita: caso outros grupos raciais viessem a enfrentar perda semelhante de oportunidade de emprego, seu comportamento mudaria de maneira semelhante. E isso foi comprovado. Os salários persistentemente baixos –na verdade, eles caíram, em termos reais, para metade dos homens empregados– e a instabilidade no emprego foram seguidos por declínios acentuados no número de casamentos, elevação no número de crianças nascidas fora do casamento, e mais. Como aponta Isabel Sawhill, da Brookings Institution, "os negros enfrentaram, e continuarão a enfrentar, desafios singulares. Mas quando observamos as razões para que os negros com menor capacitação profissional não estejam se casando e chegando à classe média, elas são em geral as mesmas razões para que o casamento e o estilo de vida da classe média tenham se tornado inacessíveis também para muitos brancos". Por isso, como eu disse, é desanimador ver comentaristas que ainda promovem um mito que já foi provado falso, o de que investimos vastas quantias no combate à pobreza, e tudo isso sem resultado (por uma questão de valores, sabe?). Na verdade, os gastos federais com programas direcionados a cidadãos de baixa renda, excetuado o Medicaid, flutuam entre 1% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) há décadas, subindo nas recessões e caindo nas recuperações. Não se trata de muito dinheiro a proporção é muito inferior à do investimento de outros países avançados para esse fim e nem todas as verbas são destinadas a famílias que vivem abaixo da linha da pobreza. 9
A despeito disso, indicadores que corrigem certas falhas estatísticas conhecidas demonstram que conquistamos algum progresso real na luta contra a pobreza. E faríamos progresso ainda maior se fôssemos nem que apenas em parte tão generosos com os necessitados quanto imaginamos ser. O ponto é que não há desculpa para o fatalismo, na contemplação dos males que a pobreza causa nos Estados Unidos. Dar de ombros e atribuir todos eles a um problema de valores é uma atitude de negligência maligna. Os pobres não necessitam de lições de moral, mas sim de recursos que temos a condição de oferecer e de melhores oportunidades econômicas, que também podemos oferecer por meio de muitos mecanismos, de treinamento a subsídios, passando por um aumento do salário mínimo. Baltimore, e os Estados Unidos, não precisam ser tão injustos quanto são.
CVM investiga ex-conselheiros da Petrobrás por induzir investidor a erro FONTE REUTERS 05 maio 2015 às10h 02 SÃO PAULO - A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo sancionador contra exintegrantes do Conselho de Administração da Petrobrás e um conselheiro atual, para averiguar se induziram investidores da companhia a erro por terem aprovado medidas que inviabilizavam o plano de negócios da estatal.
São alvos da investigação o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, a ex-ministra do Planejamento e atual presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia e atual presidente da Eletrosul, Marcio Zimmermann. Além deles, são investigados também Sérgio Quintella, Jorge Gerdau e José Maria Ferreira Rangel e Francisco Roberto de Albuquerque. Segundo o órgão regulador do mercado de capitais, o processo visa a apurar a responsabilidade dos investigados na suposta indução dos investidores a erro. Ao aprovarem o Plano de Negócios 2014-18, eles também teriam concordado com uma política de controle de preços de combustíveis do governo que inviabilizava o cumprimento das metas. Dos investigados, apenas o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, segue no Conselho da Petrobrás, que foi renovado recentemente.
Mexida no câmbio FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO CELSO MING 04 maio 2015 às 21h 00 O Banco Central voltou a atuar para impedir o mergulho da cotação do dólar. Nesta segundafeira, a alta foi de 2,56%. Câmbio é uma coisa complicada, que sempre precisa ser trocada em miúdos. Desde agosto de 2013, o Banco Central atuou no mercado para evitar a disparada da moeda estrangeira em reais. A política era segurar a inflação, porque um dólar alto demais encarece os produtos
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importados. Até o fim de março, o dólar tendia à alta porque a economia estava em franca deterioração, a campanha eleitoral não ajudou e os primeiros meses do segundo mandato Dilma foram turbulentos, na economia e na política. Para evitar alta excessiva, o Banco Central fez leilões de swaps. Apesar do nome feio, não é uma coisa complicada. Nesse caso, a autoridade cambial ofereceu títulos em reais que pagavam a variação do dólar no período. É uma operação com moeda nacional que equivale à venda de dólares no mercado, porque, no vencimento, o título cobriria a mesma quantia de dólares que o dinheiro aplicado pagaria na data da emissão. Com isso, o Banco Central chegou a dever o equivalente a US$ 114 bilhões apenas em swaps. Esses leilões foram suspensos em 31 de março deste ano. A partir daí, o Banco Central limitouse a rolar essa posição: no vencimento, pagava a dívida e emitia o equivalente em swaps. O estoque permaneceu o mesmo. De abril para cá, o dólar fez o caminho inverso. Depois de bater nos R$ 3,31, as cotações voltaram a cair, em consequência de três fatores. Primeiro, a percepção de que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, não voltaria tão cedo a enxugar dólares no mercado internacional, portanto, continuaria a forte liquidez em moeda estrangeira mundo afora; segundo, os juros em alta no mercado brasileiro passaram a atrair dólares destinados a aplicações especulativas (carry trade); e terceiro, a publicação do balanço auditado da Petrobrás e algum progresso no ajuste produziram certa recuperação da confiança interna. Com isso, o dólar chegou a recuar até os R$ 2,88, cotação registrada em 28 de abril. Nesta segunda-feira, o Banco Central anunciou que passaria a rolar apenas parte das posições de swaps. E rolou 80%. Com isso, passou dois recados. O de que não está disposto a permitir a queda das cotações abaixo dos R$ 3; e de que vai monitorar a dose da rolagem, sem compromisso com uma proporção prefixada. Se não ocorrer nenhum novo acidente político ou econômico, a tendência é de que os dólares continuem entrando no País. Em princípio, a disposição de recompor parcialmente a posição de swaps incentiva as operações de especulação com juros porque garante estabilidade quando do retorno, ou seja, quando o especulador quiser reconverter os reais por dólares para sair do País. O sinal de que abaixo dos R$ 3 por dólar o Banco Central não fica confortável sugere que o objetivo é estimular as exportações. Mas os estímulos não podem ser tão fortes a ponto de complicar a situação dos devedores em moeda estrangeira, principalmente a Petrobrás. Isso significa que a autoridade cambial está empenhada em garantir uma evolução das cotações do dólar sem solavancos. O déficit do comércio exterior do Brasil neste ano continua alto (US$ 5,1 bilhões), mas vai sendo lentamente revertido. Nos dois últimos meses já houve saldo positivo, próximo dos US$ 500 milhões. As exportações de industrializados (queda de 9,0% no quadrimestre) ainda não foram influenciadas pela desvalorização cambial de 16% no período. E as exportações de produtos básicos (queda de 23,6%) enfrentam a derrubada dos preços internacionais das commodities.
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Déficit comercial dos Estados Unidos acima do esperado faz dólar renovar mínima FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 05 maio 2015 às 11h 08 SÃO PAULO - O dólar à vista abriu em leve queda, mudou de sinal e voltou a operar no campo negativo em seguida, acompanhando o comportamento errático da moeda americana no exterior. Há pouco a moeda renovou mínima, a R$ 3,0590, pressionado pela reação externa ao déficit comercial americanomuito acima do esperado. Com agenda fraca de indicadores no Brasil, os próximos dados dos EUA podem provocar novos ajustes. No cenário doméstico, os investidores acompanham os desdobramentos da queda de braço no Congresso Nacional sobre o tamanho ajuste fiscal. Às 11h15, o dólar para junho caía 0,36%, cotado a R$ 3,076. Nos EUA, o déficit comercial somou US$ 51,37 bilhões em março. O resultado veio pior que a previsão de saldo negativo de US$ 42,5 bilhões. A agenda americana do dia também traz a divulgação PMI industrial final da Markit e do índice ISM de serviços. O indicador norte-americano também fez o dólar perder terreno ante outras divisas de países emergentes e exportadores de commodities. Exercendo pressão contrária no Brasil, a rolagem parcial (80%) do vencimento de swap de junho, anunciada pelo Banco Central na semana passada, ainda repercute os negócios, dando certa sustentação à moeda americana ante o real. No mercado local, o foco principal é a força tarefa do Palácio do Planalto visando a aprovação do ajuste fiscal. As MPs 664 e 665, que limitam o acesso aos benefícios previdenciários e trabalhistas, podem ser votadas nesta semana. Ontem, o vice-presidente Michel Temer prometeu um corte via contingenciamentos no Orçamento, que será anunciado ainda este mês, caso essas MPs não sejam aprovadas integralmente no Congresso. A Comissão Mista pode votar hoje a MP 664 e, com isso, passaria a trancar as votações em plenário da Câmara amanhã. A MP 665, por sua vez, passou pela Comissão Mista na semana passada e já tranca a pauta do plenário. Levy disse nesta segunda-feira que estão em curso reformas importantes que vão ajudar a dar mais competitividade para a economia e serão importantes na "agenda triplo A", que ele qualificou como a que basicamente visa elevar o crescimento e geração do emprego, passado o ajuste fiscal implementado neste ano. Bolsa. A Bovespa abriu em leve queda nesta terça-feira, após avanço de 2% ontem, quando encerrou no maior patamar do ano. No fim da manhã, porém, já operava em alta. Em um dia de agenda fraca, os participantes do mercado devem acompanhar ainda mais de perto o comportamento das bolsas americanas. No mercado brasileiro, ações do setor financeiro chamam a atenção, especialmente com o resultado do balanço do Itaú Unibanco. Às 11h15, o Ibovespa subia 0,81%, a 57.911 pontos.
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UE prevê inflação maior e desemprego menor na zona do euro em 2015 FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 05 maio 2015 às 09h 56 Segundo a Comissão Europeia, inflação deve ficar em 0,1% e desemprego em 11% neste ano BRUXELAS - A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, elevou a projeção para a inflação ao consumidor na zona do euro em 2015 para 0,1%, de -0,1% anteriormente. A meta de inflação anual do Banco Central Europeu (BCE) é de taxa ligeiramente abaixo de 2%. Para a Alemanha, as previsões para as taxas anuais de inflação ao consumidor também foram elevadas, de 0,1% para 0,3% em 2015, e de 1,6% para 1,8% em 2016. "O efeito do amortecimento do preços causado pela baixa do petróleo deve desaparecer até o ano que vem", disseram os analistas da UE. A taxa anual de inflação ao consumidor de 2015 no reino Unido, no entanto, foi reduzida para 0,4%, de 1% na estimativa anterior. A redução não alterou, porém, a expectativa para 2016, que permanece em 1,6%. As previsões da UE estão em linha com as estimativas do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês). O banco central também diminuiu suas projeções para a inflação inglesa, devido às quedas nos preços do petróleo no mercado internacional.
Número de falências sobe 24%, puxado por micro e pequenas empresas FONTE MARIA REGINA SILVA - O ESTADO DE S. PAULO05 maio 2015 às 09h 43 Os pedidos de falências totalizaram 161 em abril e atingiram o maior valor do ano, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. O resultado significa um crescimento de 15% na comparação com março de 2015, quando foram realizados 140 pedidos. Em relação a abril de 2014, a alta foi de 23,8%, já que houve 130 requerimentos, configurando também o pior dado dos últimos três anos para meses de abril. De acordo com a Serasa, o aumento no número de pedidos de falência reflete o enfraquecimento da economia, influenciado pela elevação "contínua" do custo financeiro das empresas, pela alta do dólar e por outros gastos como os com energia elétrica e combustíveis, que estão prejudicando a saúde financeira das companhias. Do total de 161 pedidos de falência feitos no quarto mês deste ano, 85 foram de micro e pequenas empresas, 33 de médias e 43 de grandes. Conforme a Serasa, as recuperações judiciais tiveram crescimento de 30,7% em abril ante março, sendo que foram feitas 98 solicitações no quarto mês deste ano e 75 no anterior. As micro e pequenas empresas lideraram a lista de requerimentos de recuperação judicial com 54 pedidos. Na sequência aparecem as médias (29) e, depois, as grandes empresas (4).
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Salários mais baixos nas novas contratações Fonte O Globo MARCELLO CORRÊA marcello.correa@oglobo.com.br CLARICE SPITZ clarice.spitz@oglobo.com.br Colaborou Flávia Aguiar 05 mai 2015 •
Os salários pagos nas novas contratações com carteira caíram 1,2% entre janeiro e março, pela 1ª vez desde 2003. No Rio, o recuo foi de 3,87%. Em Pernambuco, de 8,94%. O aumento da procura por vagas já faz empresas contratarem trabalhadores por salários menores. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, os salários iniciais registrados no três primeiros meses do ano estão 1,26% menores do que há um ano, retirados os efeitos da inflação. O salário de admissão caiu em todas as regiões do país. Pernambuco foi o estado com maior perda real: quem entrou em uma nova empresa este ano está ganhando 8,94% menos do que aqueles que conseguiram sua vaga nos três primeiros meses do ano passado. O valor médio de contratação entre janeiro e março deste ano foi de R$ 1.080,65, contra R$ 1.186,76 pagos em igual período de 2014. No Rio, a queda foi de 3,87%. Por regiões, a maior perda de renda foi registrada no Nordeste, -3,48%, e a menor, no CentroOeste, - 0,15%. No Sudeste, o recuo foi de 1%. Foi a primeira queda nos salários iniciais num primeiro trimestre do ano desde 2003. Mesmo em anos de desaceleração como 2009, quando a economia sentiu os efeitos da crise global, o salário de admissão havia crescido. Agora, porém, economistas vêem uma tendência de redução salarial nos próximos meses em consequência do aumento do desemprego. — Enquanto a economia não começar a crescer, a situação não deve mudar afirmou o economista Raone Costa, da Fipe. Ele explica que, ao contrário de 2009, quando houve um período mais curto de baixo crescimento, mas onde as empresas retiveram mão de obra, o cenário atual é consequência de um longo período de economia em ritmo fraco. TROCA DE SÊNIOR POR JÚNIOR Ao considerar apenas os dados de março, o setor que registrou a maior queda no salário inicial na comparação com o ano passado foi o de construção civil, com recuo de 2,43%, de acordo com levantamento feito pela Catho/Fipe, com base nos dados do Caged. Costa pondera que apesar de os dados mensais serem mais voláteis, o setor tem puxado a desaceleração no mercado de trabalho em 2015. — A construção civil tende a ir muito bem quando a economia está bem, e a ir muito mal quando a economia está mal. Ele é justamente o setor da inovação, que é aquecido quando você precisa criar novas fábricas, novas plantas. Vale lembrar que a construção civil foi um dos setores que mais cresceram de 2008 para cá, então, é natural que seja o que mais sofra — afirma Costa. Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de Pernambuco Jairo Santiago, a forte queda salarial no estado tem
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influência do fraco desempenho da construção civil. No Nordeste, o salário médio da construção é R$ 1.173,41. — Muitos trabalhadores foram demitidos em 2014, e esse processo continuou em 2015. Como a metade é formada por pedreiros e ajudantes de pedreiros, esse pessoal continua desempregado ou se mantém ocupado, mas precariza seu trabalho — destaca Santiago. — Em Pernambuco, o apogeu aconteceu entre 2010 e 2012. Vínhamos num ritmo de frevo de rua, e agora estamos com ritmo de frevo cantado, mais lento, para falar ‘pernambuquês’. No Rio, o vendedor Fernando Garcia, está desde fevereiro procurando uma nova oportunidade de se reinserir no mercado, mas sem sucesso. Com experiência de dez anos no setor de venda de automóveis, esta é a segunda vez que Garcia foi dispensado desde 2008. No seu último emprego, ele recebia um salário de cerca de R$ 3.500. Hoje, diz estar disposto a aceitar R$ 2.500. — Estou mandando currículos para vendas em geral, fiz entrevistas e, como sou otimista e tenho experiência, espero ser chamado logo. Por enquanto, tenho me sustentado com as economias que fiz enquanto trabalhava, mas elas não vão durar mais do que um mês — afirma Garcia. Outro indicador observado por especialistas para medir o mercado de trabalho é a pressão salarial, relação entre os salários de admissão e de desligamento, que vem caindo desde 2012. Com a economia aquecida, essa proporção fica mais próxima de 1, indicando que os salários de contratados e demitidos estão mais parecidos. Em março, o indicador ficou em 0,9, abaixo da média de 2006 a 2015, que foi de 0,916. Significa que as empresas estão pagando salários 10% menores aos novos funcionários, na comparação com o que pagavam aos antigos. — Quando as empresas estão em um momento de dificuldade, normalmente o que se faz é jogar para baixo o padrão de funcionários. Demite-se uma pessoa cara e contratam duas pessoas mais baratas. Esse indicador resume esse tipo de estratégia. A troca do sênior pelo júnior — afirma Costa, da Fipe. EFEITO DA CRISE DA PETROBRAS Segundo o economista da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo, a relação entre os salários de admissão e de demissão é um bom indicador prévio do comportamento da taxa de desemprego. Quanto menor a relação entre o salário de quem começa a trabalhar e aquele que está sendo desligado, maior a perspectiva de elevação da taxa de desemprego. — A aceleração inflacionária derruba o salário dos trabalhadores. Não chega a surpreender o salário cair 3% no Rio, mas em Pernambuco, sim, foi bem forte. É possível que tenha havido um efeito da crise do setor do petróleo, mas não é só isso, porque o Rio de Janeiro tem mais petróleo que Pernambuco e teve uma queda menor — afirma Camargo. Segundo o consultor trabalhista do site Trabalho Hoje e ex-diretor do departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly, a maior quantidade de pessoas à procura de emprego explica a queda no salário de admissão , e a tendência vai continuar nos próximos meses. Ele lembra que nos últimos 12 meses, os dados do emprego formal do Caged apontam um saldo líquido (diferença entre contratações e demissões) negativo em 50 mil
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vagas, o pior resultado para 12 meses desde janeiro de 2000, quando houve uma perda de 123,6 mil empregos. — Enquanto o mercado estiver demitindo mais que contratando, a tendência é o salário continuar a cair — afirma Torelly — É um momento horrível para se mudar as regras trabalhistas, porque significa pessoas sem emprego e sem nenhuma renda para se segurar.
Freio nas vendas leva Volks e GM a afastar 8.500 metalúrgicos no ABC Fonte O Globo RONALDO D’ERCOLE ronaldod@sp.oglobo.com. Br 05 mai 2015 - SÃO PAULO- Com a retração de vendas de veículos, duas montadoras do ABC paulista anunciaram novos afastamentos de empregados. A Volkswagen colocou todos os funcionários das linhas de produção de sua fábrica em São Bernado do Campo em férias coletivas, medida que começou a valer ontem. Os trabalhadores, aproximadamente oito mil dos cerca de 13 mil funcionários da unidade, ou 61% do total, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, só retornarão à atividade daqui a dez dias. Apenas os funcionários da área administrativa permanecem trabalhando. Na unidade são produzidos os modelos Gol, Saveiro e Jetta. “A Volkswagen tem feito uso de ferramentas de flexibilização para adequar o volume de produção à demanda do mercado”, informou a montadora em comunicado. Também no ABC, a General Motors anunciou que colocará, a partir de hoje, 467 funcionários da fábrica de São Caetano do Sul em licença remunerada. A empresa já tem 850 funcionários daquela unidade em lay off (suspensão temporária do contrato de trabalho). — Está difícil a situação aqui. Estamos tentando evitar este tipo de coisa, vamos conversar — disse Agamenon Nunes, diretor- executivo do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Os metalúrgicos da unidade da Volks no ABC ficaram em greve por dez dias em março, e a montadora recuou da decisão de demitir 800 empregados que estavam em lay off. Um novo plano de demissões voluntárias (PDV), com mais benefícios, foi adotado. Assim, a montadora conseguiu a adesão de cerca de 800 trabalhadores, de acordo com o Sindicato. A Volks tem ainda outros 940 empregados — 370 de sua fábrica em Taubaté ( SP) e 570 da unidade de São José dos Pinhais (PR) — em lay off. A unidade da montadora em Taubaté produz os modelos Up!, Voyage e Gol. No dia 30 de março, a Volks colocou 4.200 funcionários da unidade em férias coletivas, além de paralisar a produção no local por 20 dias. Ainda no Vale do Paraíba, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, 470 empregados da fábrica da chinesa Cherry, inaugurada há menos de um ano, estão em greve há 29 dias. A Mercedes também já concedeu dez dias de férias coletivas no início do ano, tanto no ABC quanto na unidade de Juiz de Fora (MG), onde trabalham 900 pessoas. PRODUÇÃO DEVE CAIR 10%
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No mês passado, a montadora alemã chegou a anunciar a demissão de 500 dos 715 empregados de sua fábrica do ABC que estavam em lay off. Mas recuou, depois que os empregados entraram em greve e paralisaram a fábrica por um dia. Os trabalhadores, então, voltaram ao lay off. Na fábrica de caminhões da Ford, em São Bernardo do Campo, 424 trabalhadores estão afastados do trabalho por folgas acumuladas no banco de horas. De acordo com a Anfavea, a associação que reúne as montadoras, as vendas recuaram mais de 17% nos três primeiros meses do ano. Os dados sobre vendas e produção da indústria em abril serão divulgados nesta semana. Depois dos dados negativos do primeiro trimestre, a entidade revisou suas projeções para o ano. A Anfavea prevê produção de 2,8 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus em todo o país, o equivalente a uma queda de 10% em relação aos 3,1 milhões produzidos de 2014. A projeção é mais pessimista do que a alta de 4,1% prevista em janeiro. O segmento que mais deve sofrer é o de veículos pesados, que inclui caminhões e ônibus. Já para as vendas, a nova previsão da entidade é que sejam comercializados 3,03 milhões de veículos este ano, número que representa queda de 13,2% na comparação com 2014. Em janeiro, a Anfavea estimava que os licenciamentos de veículos novos ficariam estáveis em 2015.
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