SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 05 DE NOVEMBRO DE 2014
FAÇA PARTE DESSE TIME ASSOCIE-SE (WWW.OESC.ORG.BR)
1
Verão pode trazer corte seletivo de luz FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO MACHADO DA COSTA de SÃO PAULO05/11/2014 às 02h00 O Operador Nacional do Sistema (ONS) avisou na quinta-feira (30) a distribuidores e geradores que há risco de serem necessários cortes seletivos de energia para garantir o fornecimento durante os horários de pico, entre janeiro e fevereiro, quando há forte aumento no consumo de eletricidade. Para manter os reservatórios em nível seguro e evitar apagões nos horários de pico, as usinas deixariam de fornecer energia de madrugada. Os cortes afetariam grandes centros urbanos do Sudeste, como Rio, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Vitória. A medida pode ser necessária se as chuvas não forem suficientes para elevar os reservatórios ao nível de 30% em janeiro. Atualmente eles estão em 18,27%. No ano passado, neste período, estavam com 41,62% da capacidade. Durante reunião do Programa Mensal de Operação (PMO), Francisco José Arteiro de Oliveira, diretor de Planejamento e Programação da Operação do ONS, afirmou que o órgão precisaria operar as usinas hidrelétricas de forma a prepará-las para os horários com maior demanda. Para evitar quedas inesperadas do sistema, o ONS cortaria seletivamente parte do fornecimento na madrugada. Isso permite o aumento do volume de água nas represas. EM 2001 A operação seria semelhante à planejada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso em 2001, quando os reservatórios encontravam-se em nível superior ao atual. Em novembro daquele ano, o nível médio dos reservatórios do Sudeste estava em 23,04%. Em 2001, esse plano foi evitado por fortes precipitações entre novembro e dezembro, mas o governo não escapou de decretar o racionamento no ano seguinte. Isso porque, diferentemente do que ocorre hoje, as térmicas não complementavam a base do sistema elétrico. Procurado, o ONS não se pronunciou, mas sua assessoria confirmou que o alerta foi dado na reunião. O órgão espera um crescimento da demanda de energia da ordem de 5% em fevereiro, mês no qual são registradas as maiores demandas. Em 6 de fevereiro 2014, foi registrada a máxima histórica de consumo: no Sudeste, a demanda atingiu pico de 51.261 MW. Como comparação, no domingo (2), último dado disponível, o consumo atingiu 38.542 MW. A Folha apurou que o órgão vem avisando o setor durante as reuniões há três meses e que sua preocupação aumentou recentemente. O ONS, porém, espera que ocorra um período chuvoso com volume normal de precipitações a partir da segunda quinzena deste mês, o que seria suficiente para atingir um nível seguro de operação dos reservatórios. A perspectiva é embasada por institutos meteorológicos contratados pelo operador, segundo o órgão. Caso em abril de 2015 as reservas hídricas do Sudeste alcancem nível próximo de 40%, o racionamento deverá ser descartado pelo ONS.
2
Pela primeira vez, dados oficiais apontam que miséria parou de cair FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA05/11/14 11h 24 Sem fazer alarde, o governo Dilma Rousseff já apurou os primeiros dados oficiais que mostram a interrupção do processo de redução da miséria. Segundo cálculos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Palácio do Planalto), o número de indigentes do país cresceu de 10,08 milhões, em 2012, para 10,45 milhões no ano passado.
Trata-se de um aumento de 3,7%, que não chega a ser expressivo. No entanto, é o primeiro desde os 10% de 2003. A queda aguda da extrema pobreza nos anos seguintes é o resultado mais celebrado pela propaganda petista. A prostração da economia ameaça interromper essa trajetória, a despeito da expansão dos programas sociais. Os números ainda não foram anunciados publicamente, mas já aparecem no Ipeadata, o banco de dados do instituto, que foi atualizado em 30 de outubro. O governo vem segurando a divulgação dos cálculos desde as eleições. A Folha já havia noticiado que um estudo independente mostrava a estabilidade da miséria. O Ipea, que todos os anos apura os resultados com base em pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), alegou estar retardando os resultados em respeito à legislação eleitoral. 3
Não está claro, ainda, que restrição legal haveria para a divulgação. Nas eleições de 2010, o instituto publicou os dados -então favoráveis- em 5 de outubro, pouco depois do 1º turno. A postergação provocou uma crise interna no Ipea. O diretor da área de estudos em políticas sociais colocou seu cargo à disposição. Nos números do Ipeadata, são considerados miseráveis os que não têm renda suficiente para uma cesta mínima de alimentos, conforme valores regionais. Falta ainda calcular a extrema pobreza com base na linha oficial de R$ 77 mensais por pessoa, adotada no Bolsa Família.
Elevação da taxa Selic deve segurar a reação do crédito Fonte Jornal Valor Econômico 05/11/2014 às 05h 00 A elevação da taxa básica de juros de 11% para 11,25% ao ano anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada e os novos aumentos esperados para os próximos meses devem brecar a tímida recuperação esboçada pelo crédito em setembro, neutralizando os seguidos estímulos dados pelo governo após a virada do semestre. Depois de amargar uma recessão técnica no início do ano, o governo tirou do forno quatro pacotes para estimular o crédito de julho a outubro, um por mês, incentivando o financiamento de veículos, o consumo das pessoas físicas e os empréstimos às pequenas e médias empresas, às vésperas das eleições. Os dois primeiros pacotes liberaram, em julho, um total de R$ 70 bilhões em depósitos compulsórios e em redução de exigência de capital, com o potencial de alavancar cerca de R$ 630 bilhões em crédito, o equivalente a pouco mais de 20% do estoque atual. Dez dias depois, em agosto, o governo reforçou a dose e liberou mais R$ 25 bilhões, com a reversão de medidas macroprudenciais adotadas em 2010, que limitavam o crédito para pessoas físicas e pequenas e médias empresas. O Banco Central (BC) até criou uma penalidade para o banco que deixar o dinheiro parado no compulsório sobre os depósitos a prazo para incentivar o financiamento de veículos. Houve também estímulos ao crédito imobiliário e ao consignado. Em setembro e outubro, o consignado foi novamente incentivado com a ampliação para seis anos do prazo das operações com aposentados e para até oito anos com funcionários públicos federais. O capital de giro para pequenas e médias empresas passou a ser considerado para efeito de enquadramento nas regras do recolhimento compulsório sobre os depósitos a prazo. O mercado só começou a reagir em setembro, até porque a liberação dos compulsórios está sendo gradual. De julho a setembro, o total de compulsórios bancários diminuiu de R$ 409,7 bilhões para R$ 371,3 bilhões, injetando R$ 38,4 bilhões no sistema bancário. Dados divulgados pelo BC mostram que a reação está localizada no financiamento de veículos, cujas concessões saltaram 10,9% em setembro, totalizando R$ 8,5 bilhões. As concessões para o financiamento ao consumo em geral também tiveram aumento significativo de 11,4%, mas somou apenas R$ 733 milhões. Já a concessão de crédito consignado cresceu 3%, totalizando R$ 11,8 bilhões, e o financiamento de capital de giro para empresas aumentou 6,9%, somando R$ 25,9 bilhões em setembro. O saldo do estoque total de crédito aumentou 1,3% de agosto para setembro e 11,7% em 12 meses, atingindo R$ 2,9 trilhões. Os bancos públicos voltaram a ser mais ativos; o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou suas operações em 2,3%, em parte por causa da correção cambial, puxando a expansão de 2% do crédito direcionado. O crédito livre aumentou apenas 0,7%, variação que não chega a repor a correção e os juros das operações. 4
Há indicações de que a demanda pelo crédito consignado teria aumentado em outubro (Valor 14/10); e não se descartava o efeito positivo do recuo da taxa média para pessoas físicas para 27,5% ao ano, a mais baixa desde fevereiro, na maior demanda por outras linhas. Embora o Banco Central tenha insistido que as medidas de liberação de compulsório e a redução das exigências de capital tivessem sido tomadas apenas porque a baixa inadimplência permitia o relaxamento de medidas macroprudenciais, é inegável o efeito positivo que têm no aumento da oferta de recursos. No entanto, a expectativa de aumento do crédito era comedida. Em uma década, ele mais do que dobrou, de 26,1% para 57,2% do Produto Interno Bruto. O endividamento das famílias está estabilizado ao redor de 46% de acordo com os últimos dados disponíveis, mas predomina a preocupação com o impacto da desaceleração econômica no emprego e nos salários. A elevação dos juros, que pegou de surpresa grande parte do mercado pois só era esperada no fim do ano, certamente vai reforçar esses problemas. O próprio Banco Central reconheceu que o aumento da taxa básica de juros vai levar à moderação do crédito. Como disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, "a decisão do Copom tem efeito mais relevante do que as medidas tomadas anteriormente".
Para inserir o Brasil no século XXI Fonte Jornal Valor Econômico Jorge Arbache05/11/2014 às 05h 00 A OCDE publicou recentemente um interessante estudo cujo objetivo foi produzir séries históricas internacionais de educação. O estudo mostra que, em 1870, a escolaridade média da população brasileira acima de 15 anos era de 0,5 ano. Naquele mesmo período, Austrália, Estados Unidos e Canadá, países jovens como o nosso, tinham escolaridade média substancialmente maior: 3,1, 5,6 e 5,7 anos, respectivamente. Logo, enquanto a imensa maioria da população brasileira ainda era analfabeta, as daqueles países já tinham atingido níveis respeitáveis de escolaridade. Cento e trinta anos mais tarde, a escolaridade média do Brasil era de 7,5 anos, marca relativamente mais próxima dos cerca de 13 anos de Austrália, Estados Unidos e Canadá. O problema é que esses países tinham atingido aquela escolaridade já no início do século XX, o que nos leva à perturbadora conclusão de que o nosso atraso educacional é de um século. Por certo, são muitas as causas deste imenso retardo educacional, sendo a estrutura econômica possivelmente a mais relevante. Na condição de economia baseada na monocultura e no trabalho escravo, a realização de lucros no século XIX pouco ou nada dependia dos benefícios da escolarização da força de trabalho, o que, provavelmente, teria contribuído para que a educação permanecesse às margens das políticas públicas. Mas o fim da escravidão e a fundação da República pouco alterariam a situação da educação no país, que ainda continuaria estagnada por décadas, presumivelmente em razão da persistente centralidade da produção de commodities para a economia. Nem a rápida urbanização, nem tampouco a industrialização observada no pós-guerra levariam à expansão significativa da educação. De fato, em 1950, a escolaridade média era de meros 2,4 anos; vinte anos depois, ela ainda estava em 3,8 anos. Uma possível explicação para este modesto avanço é que a indústria que então se desenvolvia ancorava-se no modelo de industrialização por substituição de importações voltada para o mercado interno e, portanto, pouco dependia da produtividade e da incorporação de novas tecnologias para se viabilizar economicamente. 5
O atraso educacional do Brasil nos deixou ao menos seis legados. Primeiro, na medida em que a educação está empiricamente associada à produtividade do trabalho, o nosso crescimento econômico passaria a depender basicamente da incorporação de mais força de trabalho e de mais estoque de capital. Não por acaso, tanto transformação demográfica como escassez de poupança explicam ao menos parte da desaceleração do nosso crescimento. Segundo, na medida que a educação está empiricamente associada ao desenvolvimento e uso de novas tecnologias, a economia brasileira permaneceria tecnologicamente atrasada. Ao ser exposta à competição internacional, a indústria passaria a enfrentar dificuldades e a perder espaço na economia. O setor de serviços, notadamente o de consumo, expandir-se-ia e tornarse-ia largamente predominante na economia, porém, criando empregos de baixa qualidade em razão da sua diminuta produtividade. Terceiro, na medida que a educação está empiricamente associada ao rendimento do trabalho, grande parte da população seguiria percebendo salários baixos, o que ajudaria a explicar duas das maiores chagas do Brasil, que são a pobreza e a desigualdade de renda. Quarto, na medida que a educação está empiricamente associada à geração e acumulação de riquezas, o nosso atraso educacional viria a contribuir para explicar a condição do Brasil de economia periférica. Quinto, na medida que a educação também está associada empiricamente à incidência de crimes, condições de saúde, qualidade das instituições e estabilidade política, então o nosso atraso educacional viria a afetar a qualidade de vida e o ambiente para se fazer negócios. Sexto, embora o hiato entre a nossa escolaridade média e a dos países ricos tenha diminuído, os custos econômicos deste hiato são, possivelmente, maiores hoje do que o foram no passado. A vigorosa disputa entre países emergentes por um "lugar ao sol" na economia mundial, juntamente com a popularização das tecnologias de produção e de organização da produção, passariam a requerer trabalhadores cada vez mais qualificados até mesmo para desempenhar atividades laborais relativamente simples. De fato, escolaridade média de cerca de seis anos é considerada, hoje, insuficiente para que se atinja padrões mínimos de competitividade internacional. O que fazer a esta altura? Para estancar o atraso econômico e social e avançar, será preciso tirar lições do passado, mas com o olhar no futuro. Para tanto, teremos que estimular, com muita determinação, o desenvolvimento de atividades produtivas que potencialmente mais valorizem todas as manifestações do conhecimento - de educação básica e profissional à ciência e tecnologia -, gerem muitos empregos de qualidade e que ajudem o país a se inserir nas cadeias globais de valor pela "porta da frente". Esta atividade é a indústria. Mas para que esta agenda tenha chances de sucesso será preciso, além de eleger o conhecimento como o alicerce do nosso crescimento econômico e do desenvolvimento social, também mobilizar e articular as políticas públicas em favor do trinômio investimentoprodutividade-competitividade. Certa vez, Paul Krugman disse que a produtividade não é tudo para o crescimento econômico, mas que, no longo prazo, é quase tudo. Uma adaptação desta reflexão para o caso do Brasil em pleno século XXI, o século do conhecimento, diria que a educação não é tudo, mas que, sem ela, não se vai a lugar algum.
Alertas do Japão para a zona do euro Fonte Jornal Valor Econômico Martin Wolf05/11/2014 às 05h 00 O Japão não é mais governado por consenso. Isso é verdadeiro pelo menos para sua política monetária. Haruhiko Kuroda, presidente do Banco do Japão, autoridade monetária do país, lançou na semana passada um "afrouxamento monetário quantitativo e qualitativo" ainda maior, com o apoio de apenas cinco dos nove membros do Comitê de Política Monetária.
6
O banco central pretende comprar um volume anual de 80 trilhões de ienes (US$ 705 bilhões) em títulos do governo japonês, o equivalente a 16% do Produto Interno Bruto (PIB). O balanço patrimonial do Banco do Japão vai subir para 80% do PIB. Isso o tornaria relativamente bem maior que o do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra. Além disso, o banco central japonês planeja ampliar o vencimento dos ativos comprados para um prazo de sete a dez anos. O fundo governamental de investimento previdenciário (FGIP) também anunciou que vai reduzir o peso dos títulos domésticos em sua carteira de 60% para 35% e aumentar o das ações (locais e estrangeiras) de 24% para 50%. Como resultado, vai aumentar seu investimento em ações japonesas e estrangeiras em US$ 90 bilhões e US$ 110 bilhões, respectivamente. Indiretamente, o Banco do Japão vai financiar isso com a compra de bônus globais japoneses pertencentes ao FIPG. O banco central japonês justificou a decisão assim: "No front dos preços, uma certa fragilidade nos avanços na demanda depois do aumento no imposto sobre o consumo [em abril] e o declínio substancial nos preços do petróleo bruto vêm exercendo pressão negativa". Como resultado, argumenta, há risco de que a "transformação da mentalidade deflacionária, que até agora vinha progredindo de forma constante, possa sofrer atraso". Será que esse reforço no empenho para acabar com a deflação enraizada do Japão vai funcionar? Para responder, é preciso distinguir o que é efeito direto e o que é sinalização. As compras de ações pelo FGIP podem ser significativas. É difícil, no entanto, acreditar que substituir os bônus globais japoneses por dinheiro em carteiras privadas vai fazer muita diferença. O dinheiro do banco central também pode ser visto como uma espécie de título governamental perpétuo sem juros. Os bônus globais japoneses de dez anos, no entanto, rendem menos de 0,5%. A diferença entre as duas formas de "dívida" governamental, portanto, é minúscula, ainda mais porque o Banco do Japão pretende reverter sua expansão monetária em algum momento. Isso torna a sinalização o canal principal. A decisão tem por propósito enfatizar a seriedade do Banco do Japão. A divisão no Comitê de Política Monetária, contudo, vai minar a efetividade do sinal que se pretende enviar e, assim, enfraquecer seu impacto. O que o Banco do Japão está fazendo é combater as consequências de um erro de política econômica que, infelizmente, as próprias autoridades monetárias apoiaram. A decisão de elevar o imposto sobre o consumo neste ano foi errada: veio na hora errada, por ter sido tomada antes da mudança desejada na expectativa inflacionária, para uma taxa anual de 2%, ter criado raízes; foi um imposto sobre um consumo do qual o Japão tem falta, o consumo privado, em vez de sobre uma poupança da qual o Japão tem excesso, a poupança privada; e não abordou a causa estrutural desse excesso de poupança, que é o superávit crônico financeiro do setor empresarial (o excesso de lucro bruto em relação ao investimento). Desde que a bolha da economia japonesa estourou no início dos anos 90, o setor privado opera com um imenso superávit financeiro, que é a contrapartida ao déficit do governo e à exportação líquida de capital. Hoje, quase todo esse superávit é gerado pelo setor empresarial. O governo apenas vai conseguir eliminar seu próprio déficit e ao mesmo tempo evitar um retorno à depressão econômica se os demais gastos aumentarem em relação às rendas ou receitas. Um aumento nas exportações líquidas seria uma forma. Um aumento nos investimentos seria outra. Uma mudança de renda, das empresas em direção aos consumidores e um aumento nos gastos destes, seria uma terceira. Se a política monetária do Banco do Japão pode resultar em alguma delas? Apenas até certo ponto. As taxas de juros reais negativas podem elevar permanentemente grandes investimentos empresariais. As taxas de juros reais negativas também deverão desvalorizar a taxa de câmbio e, portanto, elevar o superávit em conta corrente. Na semana passada, o anúncio do Banco do Japão enfraqueceu o iene em 4% em relação ao dólar entre 30 de outubro e 4 de novembro. Nenhuma dessas variações, no entanto, vai derrubar diretamente o problema estrutural do setor empresarial. A política monetária não seria nada além de um 7
paliativo. A reforma tributária é necessária - mas a reforma deveria incluir a taxação dos lucros acumulados, em vez da redução proposta pelo governo. Existe uma política monetária alternativa: o financiamento direto dos déficits fiscais pelo banco central (também conhecido como "jogar dinheiro por helicópteros"). Isso não eliminaria os desequilíbrios econômicos, mas financiaria suas consequências da forma mais direta. Tendo em vista o excesso de dívida pública do Japão, contudo, um financiamento monetário direto como esse pelo governo ameaçaria desencadear uma mudança incontrolável na expectativa, para uma de inflação elevada. Então, que lições os demais, em particular o BCE, deveriam tirar da situação difícil enfrentada pelo Japão? A resposta é: não chegar a essa situação. Os japoneses estão onde estão por três razões. A primeira é que o Banco do Japão empenhouse em apertar demasiadamente a política monetária, em especial no início dos anos 90, para punir os pecados da bolha econômica. A segunda é que o governo adicionou a isso um aperto muito rápido na política fiscal em 1997. Por fim, os japoneses nunca resolveram o excesso estrutural de poupança no setor empresarial. Esses erros entrincheiraram as pressões desinflacionárias que, agora, o Banco do Japão procura eliminar com seus expedientes desesperados. Tudo isso hoje tem fortes ecos na região do euro. Não menos importante, a atitude predominante é desnecessariamente punitiva. A região do euro também não mostra disposição para resolver o excesso estrutural de poupança dos países credores. Além disso, a região do euro não pode se esquecer que o Japão vai continuar funcionando como país, com cidadãos absolutamente leais. A região do euro não goza dessas grandes vantagens. Não poderia permitir nem o risco de cair em algo remotamente próximo à deflação japonesa. Mas corre.
Saúde e a carga de trabalho Fonte Jornal Valor Econômico Olímpio Bittar05/11/2014 às 05h 00 Muitos seguimentos de negócios prestam serviços 24 horas, sete dias por semana, mas nenhum oferece um produto tão especial como a saúde da população. Produzir saúde implica atender muitas vezes em situação de emergência/urgência, com risco de morte. Mesmo nos atendimentos de rotina existe a expectativa por parte do cidadão que o problema seja resolvido rápida e satisfatoriamente, o que em qualquer circunstância resulta em pressão sobre os profissionais e a organização dos serviços. O foco das discussões sobre a questão da (falta de) saúde é colocado frequentemente no déficit de médicos e leitos, visão reducionista do problema que incorre em erro de diagnóstico da situação. Produzir saúde com qualidade significa aprimoramento constante em assistência, pesquisa e ensino, agregando modernas técnicas administrativas e de outras ciências sociais e exatas, o que requer qualidade e quantidade de recursos humanos, conhecimento técnico específico de cada especialidade e também conhecimento interdisciplinar. A boa gestão de saúde exige considerar todas as variáveis que interferem na produção, permitindo oportunidade de análise e síntese das questões que envolvem o sistema como um todo, facilitando a tomada de decisões. As variáveis cargas horárias e modelo de contratação são determinantes para a qualidade, produtividade e o financiamento do setor. Para operar ininterruptamente, o setor agrega diferentes regimes e horários de trabalho, (comercial, plantões ou turnos), de acordo com a legislação de cada modalidade. Além dos profissionais da saúde propriamente ditos, que têm contato direto com os pacientes, são necessários os que produzem as atividades de infraestrutura, (logística, manutenção, 8
recepção, segurança). Parte destes profissionais também têm jornadas de trabalho diferenciadas (plantões administrativos e manutenção). Os profissionais de saúde em contato direto com os pacientes distribuem-se no ambulatório, emergência, serviços complementares de diagnóstico e tratamento e internação clínicocirúrgica legalmente contratados por 44, 40, 36, 30, 24, 20 ou 12 horas semanais, com variações no setor público ou privado, ou influenciada por regras sindicais. Em alguns hospitais, visando agilizar o atendimento, evitar filas de espera e aumentar a produtividade dos equipamentos, a rotina é realizada em horários noturnos. Essas diferenças trazem consequências para as instituições, pela dificuldade de administrá-las, como a elaboração de escalas, o relacionamento entre os membros de equipes e treinamento. Esta interferência na capacitação e treinamento periódico se dá por dificuldades de encontrar horários adequados, pelo custo da fragmentação dos treinamentos, aumentando número de horas de líderes e consultores. As relações trabalhistas não são fáceis nem no setor público, com o Estatuto do Funcionário Público, nem no setor privado, com a CLT, necessitando de áreas jurídicas competentes e atuantes na defesa das instituições. Estas dificuldades são extensivas aos profissionais terceirizados. Existem ainda outras formas de relacionamento entre instituições e prestadores de serviços, como manutenção de equipamentos de alta tecnologia, e com os profissionais autônomos, como os médicos, estes sem carga horária fixa. As 14 categorias profissionais de saúde de nível universitário, com mais de 340 especialidades, interferem na busca por economia de escala quando a demanda por determinadas especialidades não alcança volumes expressivos. Diferentes jornadas de trabalho, inclusive as que comportam horários reduzidos, permitem que os profissionais de saúde tenham mais de um vínculo empregatício (regidos pela CLT ou mesmo os estatutários no serviço público); prática que é fonte de desgaste físico e mental pelo desdobramento em árduas rotinas diárias acrescidas muitas vezes de plantões, não raro em locais sem condições de trabalho ou conforto, tempo perdido em deslocamentos (alto custo socioeconômico) e com salários que não condizem com a responsabilidade. À medida que o profissional envelhece há também um limite físico na capacidade de trabalhar em regime de plantão. Entre os médicos observa-se a preferência pela realização indiscriminada de plantões (em diferentes instituições) substituindo a jornada diária, impedindo o acompanhamento dos pacientes, afetando a relação médico- paciente, acarretando prejuízo pela perda de oportunidade de aprendizado que o seguimento a cada caso oferece, como a confirmação do diagnóstico elaborado, da terapêutica prescrita e do aprendizado com as intercorrências possíveis. Isto também se traduz num baixo índice de resolubilidade dos casos, fazendo com que pacientes se matriculem em diversos serviços, formando uma fila virtual que é expressa pelo absenteísmo nas consultas em unidades de saúde. Empresas e profissionais de sucesso em outros segmentos do mercado contam com seus cargos executivos e equipes especializadas no seu negócio em período integral, resultando em maior comprometimento e melhores resultados. Um sistema de remuneração condizente com o cargo/responsabilidade, plano de carreira e condições de trabalho adequadas é o princípio básico para atrair um novo perfil de profissional da saúde, mais comprometido, que perceba que desenvolver suas atividades em uma mesma instituição em período integral (não dedicação exclusiva), sem prejuízo em seus rendimentos, pode ser positivo e agregar maior qualidade de vida. Todas as variáveis que interferem na produção assistencial de saúde devem ser levadas em conta. Para que políticas, programas e serviços apresentem melhores resultados serão necessárias mudanças culturais que tragam novos comportamentos a curto, médio e longo prazos, quebrando atitudes cristalizadas há décadas, incrustadas nas instituições, nos 9
profissionais e na sociedade. A área da saúde requer planejamento cuidadoso, modernização e inovação, trabalhadas continuamente.
De Dilma para Dilma Fonte Jornal Valor Econômico Cristiano Romero05/11/2014 às 05h 00 A presidente Dilma Rousseff tem consciência de que precisa mudar a política econômica. Sabe que o risco, neste momento, é o país entrar numa grave crise econômica. "Não tem saída", disse a esta coluna um interlocutor privilegiado da presidente. "Tenho certeza absoluta de que o governo vai fazer o ajuste." Apesar de ter consciência dos problemas, Dilma não tem a urgência dos mercados: ela ainda não escolheu quem substituirá Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda. Nem muito menos quem presidirá o Banco Central (BC) a partir de janeiro. "Ela não tem a urgência do curto prazo. Vai fazer tudo ao seu tempo", contou um auxiliar. Há um jogo de bastidor em curso, além da tentativa de setores do PT de impedir uma guinada ortodoxa: a presidente analisa, de fato, a nomeação de Henrique Meirelles para a Fazenda, mas há um rito a ser seguido. O primeiro passo é tratar do assunto com o ex-presidente Lula. Este já fez chegar a Dilma sua predileção por Meirelles, que presidiu o BC de forma bemsucedida em seus dois mandatos. Mas não houve ainda uma "conversa pessoal" entre os dois. "A presidente não vai fazer nada sem antes conversar com uma pessoa: Lula", revelou uma fonte. Há outras duas condições. Dilma não aceitará a ideia, muito forte nos mercados, de que Meirelles entrará para o governo como o "salvador da pátria". "Ela não teve 54 milhões de votos para se submeter a isso", observou um colaborador. O outro aspecto relevante é o estabelecimento de um "acordo de convivência" entre os dois. Em 2013, Lula tentou convencer Dilma a levar Meirelles para o governo. O argumento, já em abril daquele ano, é que isso ajudaria a restaurar a credibilidade da política econômica, abalada por contabilidades criativas e que tais. Lula está convencido de que, se tivesse seguido seus conselhos, Dilma teria vencido a eleição no primeiro turno, sem sustos. Ao tempo em que o ex-presidente fez a indicação, havia apenas uma palavra para definir o que a presidente sentia por Meirelles: "desprezo". Conforme noticiou a repórter Andréa Jubé, do Valor, Dilma mudou de ideia. "Hoje é diferente. As circunstâncias mudaram", comentou um assessor. "Continuo achando difícil [a escolha de Meirelles], porém, hoje, não descarto." Dilma não gosta de Meirelles porque o considera "liberal". Em 2010, pressionou-o mais de uma vez porque o BC iniciou um ciclo de aperto monetário em meio à campanha presidencial na verdade, fez isso em abril, junho e julho, mas parou em setembro, véspera da eleição, mesmo tendo sinalizado antes que seria necessário elevar a taxa básica de juros (Selic) naquele momento. Na transição de governo, a então candidata eleita teria dito a Meirelles que gostaria de chegar ao último ano do primeiro mandato com Selic real inferior a 2% ao ano. O então presidente do BC teria afirmado que não é possível trabalhar com meta de juros, mas, sim, de dívida pública, pré-condição para a queda da taxa Selic. Dilma não gostou e Meirelles ficou fora do governo. O então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ainda se esforçou, em vão, para indicá-lo a outro cargo. Pode não ser de agora a mudança de opinião de Dilma quanto a Meirelles. Durante a campanha, o ex-presidente do BC recebeu alguns sinais do entorno da presidente, todos na direção de que ele pode vir a ser convidado a integrar o novo governo. Mas havia também a percepção de que isso só ocorreria se a situação econômica do país piorasse. O fato é que piorou e tudo indica que continuará piorando se nada for feito. Se a nomeação de Meirelles não se confirmar, Nelson Barbosa pode vir a ser convidado. A relação de Dilma com o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda não é hoje das 10
melhores, a presidente se chateou com a forma como ele deixou o governo e mais ainda com as críticas que vem fazendo à sua política econômica - sabe-se agora, por exemplo, que, numa reunião fechada promovida pela Anbima, ele teria tachado de "desastrosa" a decisão do BC de reduzir juros em agosto de 2011. Apesar disso, Dilma gosta de Barbosa e se sente ideologicamente próxima dele. As rusgas de Nelson Barbosa com Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, que deve continuar no governo, embora em outro cargo, não representam um impeditivo, garante um assessor. O trabalho de quem assumir a Fazenda não será nada fácil. O quadro é de deterioração dos principais fundamentos da economia. No afã de produzir resultados a curto prazo, o governo lançou mão de uma série de experimentos heterodoxos que, no fim, não apenas não produziram os resultados esperados, mas também colocaram em risco conquistas alcançadas nos últimos 20 anos, como o controle da inflação e o equilíbrio das contas públicas. O quadro abaixo mostra o país que a presidente Dilma encontrou e o que está entregando quatro anos depois. Ela entrega, na verdade, a si mesma porque, reeleita, terá que lidar com a própria herança. Os indicadores fiscais e externos mostram forte deterioração, mas, a rigor, tudo piorou: inflação, investimento e PIB.
Mendonça de Barros vê três cenários possíveis em novo mandato Fonte Jornal Valor Econômico Tainara Machado de São Paulo05/11/2014 às 05h 00 O restabelecimento da credibilidade na política econômica poderia levar o índice Ibovespa para os 65 mil pontos, na avaliação de Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES). Mendonça de Barros traçou três cenários possíveis para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, durante palestra sobre o Panorama Conjuntural 2015 promovida pela Lifetime Investimentos. Segundo o economista, Dilma pode trilhar um caminho semelhante ao adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato. Nesse cenário, haveria a indicação de um nome com ampla credibilidade no mercado para o Ministério da Fazenda, o que ajudaria a restabelecer a confiança na política econômica e na implementação do ajuste nas contas públicas e na redução da inflação. Haveria maior foco em investimentos, com privatizações mais aceleradas. "Esse é um cenário que poderia levar o índice Bovespa para 65 mil pontos." Outra alternativa seria Dilma ser "ela mesma", com continuidade de uma política em que o Estado tem papel indutor da atividade econômica, com maior intervencionismo estatal. "É um keynesianismo completamente errado no diagnóstico e na execução, que tem basicamente como instrumentos o gasto público e o crédito", na avaliação de Mendonça de Barros. Esse seria o pior cenário, afirma o analista, já que resultaria em queda da confiança dos empresários. "Seria um cenário em que eu começaria a me preocupar, porque teríamos inflação mais alta, crise de confiança no Estado, investimento baixo." A terceira alternativa seria "intermediária", afirma. Nesse caso, o ministro da Fazenda não teria amplo reconhecimento do mercado, mas a presidente anunciaria compromissos na área fiscal e monetária para dar ancoragem ao nome escolhido. "O mercado receberia sinais de alguma mudança, mas continuaria cético, levaria um período maior para restaurar credibilidade." A esse cenário Mendonça de Barros associa o nome de Nelson Barbosa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. No caso da nomeação de Henrique Meirelles, expresidente do Banco Central entre 2003 e 2010, "claramente o Lula terá vencido a contenda de 11
braço e imposto seu nome preferido, na tentativa de recuperar economia. Se nada disso acontecer, apertem os cintos." Para o economista, é difícil saber qual o cenário mais provável. Em sua avaliação, o caminho a ser escolhido vai depender, principalmente, do quanto o susto de quase ter perdido a eleição vai forçar uma mudança de rumo na gestão atual, disse.
O PT no cheque especial Fonte Jornal Valor Econômico Rosângela Bittar05/11/2014 às 05h 00 O advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, fundador e integrante do PT histórico, cunhou uma frase ao fim da apuração das eleições resgatada ontem por líderes do partido para explicar a impaciência do PT e de Lula com a demora das mudanças no governo com as quais já concordou Dilma e só ontem começaram a engatinhar. "O PT entrou no cheque especial", disse ele, na comemoração do resultado. O partido estava mesmo sem crédito, ganhou algum no final, a vitória foi apertada, num alerta claro do eleitorado: o PT já estava, sem trocadilho, no vermelho. Portanto, a cobertura teria que ser feita rapidamente, numa prova de que governo e partido entenderam o recado das urnas. Mas os sinais teriam que ser concretos, efetivos. E onde eles estão sendo emitidos, em um ou outro ponto da órbita presidencial, são ainda retóricos, segundo registros de avaliação na cúpula petista. Por isso a firme intervenção de Lula, nas indicações de nomes para o ministério e de políticas a serem abrigadas no plano do segundo mandato, e a pressa do PT em reunir sua executiva para exigir pressa nas mudanças. O Brasil, no cenário que se descortina dos gabinetes petistas, se dividiu em duas propostas. A oposição se organizou, deu um salto de qualidade, sistematizou as críticas ao governo e ao PT, conseguiu minar a hegemonia do partido e superar receios de remar contra a maré da popularidade e do carisma de Lula. Dilma foi porta-voz da proposta petista, em que preponderou, no momento da campanha e agora, na retomada, uma visão diferente da sua. A começar pela economia, que o PT, e o expresidente Lula, acreditam não dar mais para sustentar como está. Nessa questão, as mudanças precisam ser radicais, visíveis e rápidas. No partido condenam-se com veemência declarações do ministro Guido Mantega, em plena disputa, que atribuiu à votação obtida por Dilma uma aprovação em massa à política econômica que executa. A mensagem do eleitor foi o contrário e Dilma precisa compreendê-la, diz o PT nas discussões de avaliação. Houve desaprovação tanto ao governo como ao seu método de governar. No PT, a urgência da mudança é traduzida na frase: "Nada pode esperar 31 de dezembro". Assim, a nomeação do novo ministro da Fazenda que, se for mesmo Henrique Meirelles, nome que vem se consolidando como indicado de Lula já aceitável para Dilma, teria que anunciar logo, até para mostrar a real decisão de fazer as mudanças. Pede-se pressa também na transformação do modo de operar o governo. Além de superar a característica ríspida das relações, a mudança no trato com a corrupção não poderia esperar 31 de dezembro. Não adianta mais dizer que mandou apurar ou que a reforma política resolve tudo. Dilma não poderia, por exemplo, esperar para mexer na Petrobras. Urge impor ordem na casa, o que implica nomear novos presidente e diretores, e fazer uma limpeza nos escalões abaixo. Muitos no PT defendem que se dê a presidência da estatal a um político e não a um técnico. Em lugar de Graça Foster, Jaques Wagner, que, respaldado por vitória eleitoral, teria força para renovar a empresa. Além de providenciar logo as mudanças, a presidente teria que partir firme para a segunda parte da equação, o diálogo com que acenou no discurso da vitória. Mas tanto a mudança 12
quanto o diálogo teriam que ser de verdade. Não se veem passos concretos em nenhuma das duas direções. Ao contrário, as notícias que o silêncio presidencial estimulam são de não diálogo, não mudança, de marcha batida rumo ao desequilíbrio entre os poderes com o domínio absoluto do Supremo Tribunal Federal, captura do Congresso com manipulação de fusões e criações de novos partidos, além de interferência direta na escolha do comando da Câmara e do Senado. O governo velho em vigor não se move, os ministros têm autoridade de menos e medo demais, apenas um empresário - anotou-se no PT - o da CSN, Benjamin Steinbruch, manifestou confiança de que o segundo mandato será melhor que o primeiro. O resto se calou à espera da dura realidade. A presidente estaria ainda paralisada numa encruzilhada de três pontas: ficar independente do PT e de Lula, colar no PT e em Lula, disputar suas ideias dentro do PT na liderança inédita de um grupo que poderia ser o Mensagem, de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo, por exemplo. A cada momento dá sinal de que tomará uma direção diferente. Chegou ao partido a avaliação de que a presidente atribui a Lula a virada em Pernambuco, a conquista do Rio e os 3,5 milhões de votos a mais em São Paulo entre o primeiro e segundo turnos. Assim, seria normal esperar retribuição e parceria total. Mas também já se registrou comentário da presidente que sua vitória se deve à gestão no primeiro mandato e que ganhou a reeleição para fazer o seu projeto sem restrições. Um pé lá, outro cá. Na ausência de concretude, o PT fez reunião da executiva, anteontem, apelando a que venham logo as mudanças, pelo menos na economia. E ontem, depois de um dia inteiro de especulações sobre reuniões entre Dilma e governadores para articular partido de "esquerda" a partir do Pros de Cid Gomes com o PDT de Carlos Lupi; de Dilma com novos futuros ministros sob a coordenação de Aloizio Mercadante, surgiu a informação que o partido esperava, de que o ex-presidente Lula instalara-se na Granja do Torto, residência de verão da presidente, para reunir-se com Dilma. A presidente para lá seguira, de helicóptero, sob chuva, para formar equipe e antecipar as mudanças. A reunião durava mais de três horas no fechamento desta edição e Lula poderia hospedar-se na casa presidencial. O PT respirou. A presidente Dilma está sendo aconselhada a começar o controle da mídia por atos que não dependam de aprovação do Congresso, de mudanças constitucionais ou de ações discricionárias que provoquem corrida à Justiça. Como os colegas Cristina Kirchner e Fernando Collor, Dilma pode começar pela restrição da publicidade do governo na mídia impressa e o aumento da vigilância da Receita Federal sobre determinados órgãos. Cristina Kirchner não só não anuncia na mídia como pressiona os anunciantes privados a asfixiarem a imprensa retirando-lhe a publicidade. O deputado petista do grupo Mensagem, Paulo Teixeira, advogado, eleito com boa votação em São Paulo, é o mais novo cotado para o Ministério da Justiça no governo Dilma.
Lucro dos grandes bancos privados sobe 27% no ano Fonte Jornal Valor Econômico Carolina Mandl e Fabiana Lopes de São Paulo05/11/2014 às 05h 00 Até agora, o baixo crescimento da economia nem de longe abalou os números dos três maiores bancos privados do país. Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander lucraram R$ 27,4 bilhões nos primeiros nove meses do ano, 26,9% mais que em igual período de 2013. No terceiro trimestre, a soma dos resultados alcançou R$ 9,8 bilhões, 29,9% maior que o do mesmo trimestre do ano passado. Os três bancos driblaram o período adverso com uma série de estratégias, que vão do controle de riscos mais rígido ao reajuste das taxas de juros. Reforçada por um período de alta da Selic, a intermediação financeira se tornou mais lucrativa. O resultado da atividade - já descontadas as perdas com inadimplência - somou R$ 70,1 bilhões nos primeiros nove meses do ano. A cifra representou uma expansão de 15,9% ante o período de janeiro a setembro do ano passado. 13
Até os ganhos com tesouraria se tornaram mais relevantes, contribuindo para os resultados na intermediação. O Itaú Unibanco, por exemplo, teve uma margem com o mercado de R$ 2,6 bilhões no acumulado do ano, mais que o dobro do valor registrado um ano atrás. Também colaborou para o ganho financeiro uma concorrência menos acirrada com as principais instituições públicas - Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Depois de iniciarem em 2012 uma cruzada pelo corte dos juros nas operações de crédito, até os bancos controlados pelo governo reajustaram suas taxas neste ano. Com isso, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander também se sentiram mais livres para promover remarcações. E um impulso extra para os balanços veio da menor expansão das despesas administrativas. No crédito - a linha do balanço mais afetada pela desaceleração econômica -, os bancos precisaram rever para baixo suas projeções de crescimento em 2014. Mesmo assim, o trio teve um desempenho que superou a média dos bancos privados. Somada, as carteiras de Itaú, Bradesco e Santander fecharam setembro com quase R$ 1 trilhão, alta de 8,5% em 12 meses e de 3% em relação a junho.
Pecuarista europeu pede subsídios e ataca o Brasil Fonte Jornal Valor Econômico Assis Moreira de Genebra05/11/2014 às 05h 00 Produtores europeus de carne bovina começam a se desesperar com o embargo russo às suas exportações, que derrubou o preço do produto nos 28 países da União Europeia, e pedem com urgência subsídios para buscar novos mercados. Querem também barreiras contra importações para evitar o aprofundamento da crise causada pelo embargo, uma retaliação da Rússia após as sanções decorrentes do conflito na Ucrânia. O Brasil é um dos alvos da irritação europeia, por se beneficiar do embargo contra a Europa e porque conseguiu manter sua fatia de 42,7% nas importações europeias totais de carne bovina. O Valor apurou que, até agosto, as exportações europeias de carne bovina e derivados aumentaram 80,4% para a Rússia, depois de terem declinado no ano passado. A expectativa dos exportadores era ampliar os negócios com as festas de fim de ano. Em vez disso, as exportações europeias devem ser nulas.
Intervenções impediram ajuste em 2014 Fonte Jornal Valor Econômico Flavia Lima de São Paulo05/11/2014 às 05h 00 Na virada de 2013 para 2014 também existia, entre os analistas, a percepção de que o déficit em transações correntes tinha atingido seu pico e desaceleraria em 2014, em um ajuste também impulsionado pela desvalorização do real. A moeda efetivamente perdeu valor, mas o déficit subiu de cerca de 3,5% para 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A lógica econômica mais simples continua valendo. A equação não deu certo, dizem os especialistas, por efeito direto das intervenções microeconômicas feitos pelo governo na economia. "O câmbio real continua sendo a variável de ajuste do setor externo", diz Tony Volpon, economista-chefe do Nomura. "Mas um conjunto de políticas feitas pelo governo Dilma isolaram os preços dos impactos da depreciação cambial". Dentre essas medidas, diz Volpon, uma das mais importantes foi a política do governo de impedir o repasse dos preços internacionais da gasolina ao mercado local. Se o preço da gasolina tivesse sido reajustado de acordo com o dólar, a demanda pelo produto teria desacelerado junto com a sua importação. Como resultado, a balança comercial teria melhorado, o que não aconteceu. "Sem as distorções ocorridas, para um mesmo câmbio, o déficit em conta corrente seria menor", ressalta Volpon. 14
Do lado do financiamento do déficit em conta corrente, a farta liquidez internacional também ajudou o investidor fechar essa conta mesmo diante de um nível de câmbio mais apreciado. É como se, em meio ao real mais caro, o investidor externo tivesse cobrado um preço menor para trocar seus dólares porque os juros a 11% ou 12% tornam a economia brasileira imbatível como alternativa de investimento. "Então, ele se dispõe a financiar o excesso de demanda agregada do país com o câmbio a R$ 2,20 e não R$ 2,50", diz Volpon. Desde o período eleitoral, no entanto, o real tem oscilado fortemente e atualmente testa a barreira dos R$ 2,50. Em um segundo momento, a expectativa é que essa mudança de preço, pelos desdobramentos que vai ter sobre a economia, deve diminuir o déficit em conta corrente. Isso se o governo não voltar a isolar os possíveis impactos do câmbio sobre a economia doméstica. Para Volpon, dada a menor oferta de capital externo, é provável que o governo vai deixar o câmbio funcionar, sem aumento no nível de intervenção. "Aí podemos vislumbrar no futuro que o déficit vai cair".
Indústria recua pelo quinto trimestre seguido Fonte Jornal Valor Econômico Arícia Martins e Diogo Martins de São Paulo e do Rio05/11/2014 às 05h 00 Após dois meses seguidos de expansão, a produção industrial voltou a frustrar expectativas e recuou 0,2% entre agosto e setembro, feitos os ajustes sazonais, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF). O dado trouxe algumas notícias positivas, como a alta mensal na maioria dos ramos pesquisados pelo IBGE - 70,8%, segundo cálculos da LCA Consultores - e o salto de 10,1% na produção de veículos, mas mesmo assim foi visto como um resultado fraco, que pode acarretar revisões para baixo em estimativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. No quinto trimestre consecutivo de retração, a indústria encolheu 0,2% de julho a setembro em relação aos três meses anteriores, descontados fatores sazonais, variação considerada por economistas como uma "normalização" do setor, depois do tombo de 1,9% no segundo trimestre. Diante do acúmulo de estoques, do desaquecimento da demanda interna e externa e das incertezas em relação a 2015, perspectivas de recuperação mais consistente nos próximos meses estão descartadas. Apesar da queda no dado geral, 15 dos 24 ramos de atividade pesquisados aumentaram sua produção na passagem mensal, com destaque para o de veículos automotores, reboques e carrocerias, com alta de 10,1% em relação a agosto - maior variação nessa comparação desde fevereiro de 2012. Na análise por grandes categorias econômicas, a única que diminuiu sua produção no período foi a de intermediários, que representa cerca de metade da PIM e caiu 1,6%, puxando a indústria para baixo. Outras bases de comparação, no entanto, mostram fraqueza: a produção cedeu 2,1% em relação a setembro de 2013, sétima retração seguida nessa ordem. De janeiro a setembro, a atividade ficou 2,9% menor do que em igual período do ano passado, o que já indica um resultado negativo na ordem de 2% para a produção no fim de 2014. Segundo André Macedo, gerente da coordenação da indústria do IBGE, a redução na produção de açúcar afetou negativamente tanto o comportamento dos bens intermediários quanto o da indústria total em setembro. "A estiagem obrigou a antecipação da safra da cana-de-açúcar, que está menor por causa dos problemas climáticos", disse Macedo. Houve recuo nas indústrias extrativa, de celulose e de produtos de metal, que também integram a categoria de intermediários. Por outro lado, o economista do IBGE apontou que a retração da produção no mês deve ser relativizada, já que, dos 24 setores analisados, 14 cresceram, dois ficaram estáveis e apenas sete caíram. "Uma queda no total da indústria não é algo bom, mas observando os resultados internos da pesquisa, vemos um comportamento melhor em setembro do que em outros meses quando tivemos quedas neste ano. Há uma predominância de taxas positivas", disse. 15
O índice de difusão da indústria, que mede a quantidade de setores com expansão na comparação mensal, subiu de 66,7% para 70,8% entre agosto e setembro, calcula Rodrigo Nishida, da LCA. A melhora, porém, precisa ser vista com cautela, diz, já que o setor continua mostrando comportamento volátil. Na média do terceiro trimestre, o índice também ficou em patamar elevado, em 73,6%, contra 34,7% no segundo trimestre, quando a Copa reduziu o número de dias úteis e teve impacto negativo sobre a atividade industrial. Na visão do economista, o dado mais correto para analisar o desempenho da produção é a média entre a difusão dos dois trimestres, que foi de 54,2%, exatamente a média histórica do setor nos últimos anos. "Esse indicador mostra uma situação de letargia da indústria: alguns setores com desempenho melhor e outros piores, mas na média, estagnação", avaliou. Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, lembra que setembro geralmente é um período de crescimento para a indústria, que começa a se preparar para as festas de fim de ano. Por isso, Thais avalia que o dado divulgado pelo IBGE foi fraco, mesmo considerando que a maioria dos setores avançou, inclusive os de bens de capital e de bens duráveis. "Apesar da recuperação na margem, a situação continua complicada", afirma Thais, que pode cortar sua estimativa para a alta do PIB entre o segundo e o terceiro trimestres em função da PIM. Por ora, ela trabalha com expansão de 0,2% a 0,3% no período, mas considera que uma nova retração da atividade é pouco provável, porque o segmento de serviços deve reagir. A economista também não viu a alta de 10,1% da produção de veículos como algo animador, já que as vendas de outubro deixaram a desejar. Com base em dados da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, calcula que as vendas de veículos subiram apenas 0,7% entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais. De acordo com Nishida, da LCA, a atividade de veículos deve ter sido impactada por questões pontuais em setembro, como o lançamento de novos modelos e antecipação de produção em função do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que pode aumentar na virada do ano. "O setor ainda não sinaliza melhora consistente, porque a demanda interna subiu, mas está em nível muito modesto, e a externa continua muito ruim." Para os economistas ouvidos, a produção deve encerrar o ano com queda de cerca de 2,5%, tombo que tende a ser apenas parcialmente compensado em 2015.
Eleição impulsionou interesse em enviar dinheiro para fora Fonte Jornal Valor Econômico Luciana Seabra de São Paulo05/11/2014 às 05h 00 No primeiro dia após o resultado das eleições, quando abriu seu computador pela manhã, Octavio Cardoso, vice-presidente da consultoria Westchester Financial Group, encontrou 80 emails de brasileiros em vez dos dois ou três costumeiros. De Boca Raton, na Flórida, Cardoso respondeu à pergunta que donos de grandes patrimônios faziam à empresa, especializada no planejamento sucessório e tributário internacional: como mandar recursos para fora do país. No mesmo dia, outra consultoria tributária, a Drummond, recebia em seus escritórios em Nova York, Miami, Boston e São Paulo 30 e-mails e ligações com o mesmo tema, bem acima dos cinco ou seis que costuma receber diariamente. A busca por informações de como aplicar recursos fora cresceu nos últimos meses, desde o começo da campanha eleitoral, em quatro gestores de fortunas, três escritórios de direito e duas consultorias especializadas no mercado internacional ouvidas pelo Valor. "Na semana do primeiro turno, viajei ao Rio Grande do Sul só para conversar com uma família que queria saber sobre mandar dinheiro para fora", diz um gestor de patrimônio que preferiu não ser identificado. Os fundos que investem recursos no exterior, produtos que se multiplicaram no Brasil de um ano para cá, nem sempre são suficientes para atender à demanda desse cliente, dizem os gestores de fortunas. Isso porque essas pessoas têm buscado garantir que parte de seu portfólio não tenha qualquer vínculo com o Brasil. O temor de mudanças repentinas de regras para investimento, da imposição de limites para converter moeda e da tributação de grandes 16
fortunas estão entre os argumentos desses donos de patrimônios ávidos por informações sobre remessa de recursos. Apesar de os prestadores de serviços apontarem o anseio por informação, não há dados disponíveis para avaliar o real fluxo de recursos para fora do país. As informações mais recentes de investimentos brasileiros em carteira no exterior são de 2013, quando somavam US$ 25,44 bilhões, superiores aos US$ 22,12 bilhões de 2012. A quantidade de declarantes, que já tinha subido 22% entre 2011 e 2012, avançou 16% em 2013, para 30.573, sendo 27.014 pessoas físicas. Os investimentos no exterior via fundos, segundo levantamento mais recente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), referentes a 24 de outubro, alcançavam R$ 59,76 bilhões, uma fatia equivalente a apenas 2,23% do total da indústria de fundos. Algumas famílias têm remetido uma parcela relevante do dinheiro para fora, segundo Samir Choaib, sócio do Choaib, Paiva e Justo Advogados. "Temos casos de clientes que mandaram algo como 80% da liquidez, com medo de uma medida arbitrária. Muitos estão com metade do dinheiro fora", diz o advogado, considerando que manter uma fatia de 20% a 30% do patrimônio no exterior costumava ser um comportamento mais comum entre donos de grandes patrimônios. Choaib não vê motivo para tal comportamento. "Esse receio que muita gente tem, de medidas mais arbitrárias, acho difícil acontecer, não tem ambiente jurídico para isso", diz. "Não tem base legal para qualquer tipo de medida do tipo bloqueio e confisco. Ainda que algo passasse, cairia no judiciário", completa. Há muitas formas legais hoje de se ter uma parcela dos recursos fora do país. O caminho mais simples é abrir uma conta em um banco fora. Em geral os bancos e gestores de fortunas oferecem o serviço a clientes de alto patrimônio. Para bolsos menos fartos, é mais difícil. Questionados pela reportagem, Bradesco, Itaú e Santander informaram que não têm o serviço para clientes do varejo alta renda, ou seja, das bandeiras Prime, Uniclass, Personnalité, Van Gogh e Select. O HSBC abre conta para clientes brasileiros nos EUA, na Europa ou na Ásia, desde que ele queira remeter valores superiores a US$ 100 mil. É preciso ser correntista do banco no Brasil. O próprio gerente faz a ponte com a instituição fora e o cliente interage com uma área internacional que busca entender suas necessidades, apresentar as alternativas de investimento e tratar das questões burocráticas. "Os Estados Unidos são hoje bem rigorosos com a documentação exigida, que é bem grande", diz José Augusto Miranda, chefe de gestão de patrimônio do HSBC, área responsável pelo segmento Premier. Em geral, segundo ele, a conta é aberta em até 30 dias. O Citi Brasil informou, em nota, que não abre conta de clientes em outros países. "O que fazemos é, quando procurados pelo cliente local que tem uma necessidade específica, referenciá-lo para a filial internacional, que conduz todo o processo de análise e abertura de contas lá fora, seguindo os procedimentos normais do país em questão", afirmou. Ainda que nem sempre seja possível abrir conta no exterior por meio do próprio banco no Brasil, qualquer pessoa pode fazer isso indo diretamente à instituição financeira no exterior, diz Monique Haddad Azevedo, sócia do Velloza&Girotto Advogados Associados. Ainda há, entretanto, uma aura negativa em relação a investimentos fora. "Os clientes nos perguntam se há alguma ilegalidade em ter conta no exterior. Não tem", afirma Monique. "A ilegalidade está na medida em que ele não declarar a propriedade e os rendimentos advindos dela", completa, lembrando que a legislação define que, não importa onde a renda for ganha, ela deve ser tributada no Brasil. Além da declaração anual do imposto de renda, quem tem ativos superiores a US$ 100 mil fora - o que inclui participação em empresas, títulos de renda fixa, ações e imóveis - é obrigado a preencher anualmente a declaração de capitais brasileiros no exterior do Banco Central.
17
Piora nas projeções da taxa de inflação para 2016 dificulta trabalho do Copom Fonte Jornal Valor Econômico Alex Ribeiro de Brasília05/11/2014 às 05h 00 As expectativas de inflação dos economistas do setor privado para 2016 começaram a se deteriorar nas últimas semanas, dificultando um pouco mais os planos do Banco Central de fazer a inflação convergir para o centro da meta, de 4,5%, em dois anos. Na última sexta-feira, a mediana das expectativas dos cerca de 100 analistas econômicos consultados na pesquisa Focus do Banco Central subiram para 5,53%, depois de se manter estável em 5,5% por mais de um ano. A piora ocorreu dois dias depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter promovido uma alta inesperada de juros, de 11% ao ano para 11,25% ao ano. Mesmo antes da reunião do Copom outros indicadores antecedentes das expectativas de inflação para 2016 já vinham sofrendo deterioração. A média das expectativas de inflação para 2016 subiu de 5,60% para 5,65% entre os encontros do Copom de 3 de setembro e de 28 de outubro. O desvio padrão das projeções para o IPCA, que mostra o grau de dispersão das expectativas, subiu de 0,36 para 0,40. As expectativas dos chamados Top 5, pelotão de elite formado pelos cinco departamentos econômicos do setor privado que mais acertam as projeções, subiram de forma generalizada. No caso dos Top 5 de médio prazo, passou de 5,6% para 6,03%. A alta dos juros feita pelo Copom tenta evitar que a recente desvalorização do real, que chegou a 10% em pouco menos de dois meses, contamine as expectativas de inflação e se dissemine pelos outros preços da economia. O BC tem sinalizado preocupação também com o que chama de resistência da inflação, o que, na prática, reflete o falta de ancoramento das expectativas inflacionárias. De forma geral, as expectativas de inflação de 2014 e 2015 tambem ficaram menos favoráveis. O Banco Central tem repetido que, neste e no próximo ano, a inflação deverá ficar mais alta devido à desvalorização cambial e ao realinhamento de preços administrados, cujos reajustes foram represados pelos governos desde 2013. Mas a autoridade monetária tem alertado que agirá para garantir que a inflação caminhe para o centro da meta em 2016. Até meados de setembro, as expectativas de inflação do mercado financeiro para 2016 já estavam acima do centro da meta, em 5,5%. Esse era um problema conhecido, que já vinha sendo combatido pelo BC. Muitos analistas econômicos veem esse percentual como uma espécie de objetivo informal do governo, depois que o centro da meta foi superado por vários anos seguidos. Tanto que, para 2017, as projeções do mercado para a inflação já estão em 5,5%. Dentro do BC, a aposta é que os juros mais altos vão derrubar a inflação e reconquistar a credibilidade das metas. O BC prevê, no seu mais recente relatório de inflação, que a variação do IPCA irá cair gradualmente nos próximos dois anos, chegando a 5% nos 12 meses encerrados em setembro de 2016. A evolução do dólar pode ser um obstáculo para coordenar as expectativas. O mercado vem revendo para cima suas projeções para a evolução da taxa de câmbio. A cotação do dólar para fins de 2014 passou de R$ 2,35 para R$ 2,45 entre as duas últimas reuniões do Copom. Para 2015, passou de R$ 2,50 para R$ 2,55 e, para 2016, de R$ 2,57 para R$ 2,63. O impacto exato da recente desvalorização cambial sobre a inflação ainda é incerto. O Banco Central vem indicando que a depreciação recente do dólar pode ter um efeito potencial de 0,5 ponto percentual na inflação. Um boxe publicado pelo Banco Central em seu relatório de inflação de junho de 2012 mostra que o repasse efetivo pode ser bem menor do que isso, chegando a algo como 0,3 ponto percentual, dependendo de fatores como grau de aquecimento da economia, a percepção do mercado sobre o nível adequado de câmbio e a instância da política monetária. Os modelos de 18
projeção de inflação do BC mostram que depreciações cambiais começam a afetar os preços com um trimestre de defasagem e atingem o pico no quinto trimestre.
"Não há risco de colapso industrial", diz ministro do Desenvolvimento Fonte Jornal Valor Econômico Daniel Rittner e Lorenna Rodrigues 05/11/2014 às 11h57 BRASÍLIA - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, refutou a tese de desindustrialização da economia brasileira. Ele reconheceu durante a abertura do Encontro Nacional da Indústria (Enai), nesta quarta-feira em Brasília, que a situação do setor requer “muita atenção” e a retomada de sua expansão constitui um “grande desafio”. Ressaltou, no entanto, que “todas as experiências históricas” indicam que o Brasil não sofre o risco de colapso industrial. De acordo com Borges, a experiência da desindustrialização em vários países está relacionada a uma “anemia estrutural” da demanda agregada. “Esse diagnóstico não se repete na economia brasileira. O mercado doméstico é altamente dinâmico”, afirmou o ministro, que abriu o encontro, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Borges reconheceu, no entanto, que “a agenda da competitividade envolve mudanças importantes”, principalmente nas áreas tributária e trabalhista. Ele citou ainda a necessidade de busca por acordos comerciais, citando especificamente duas estratégicas: a conclusão de um tratado de livre comércio Mercosul-União Europeia e a liberalização total do comércio entre os países da América do Sul. “Estaremos de mãos dadas para o enfrentamento desse desafio”.
Atividade de serviços do Brasil é a menor em 26 meses, diz HSBC Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 05/11/2014 às 12h 49 SÃO PAULO - A atividade do setor de serviços no Brasil caiu em outubro para o menor nível desde agosto de 2012, de acordo com o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo HSBC. No mês passado, o indicador recuou para 48,2 pontos, após ter registrado 51,2 pontos em setembro. Leituras abaixo de 50 pontos indicam contração da atividade. De acordo com o HSBC, a retração no setor de serviços é apontada pelos entrevistados como consequência do período eleitoral, que deprimiu a demanda. Dos seis setores monitorados, o de intermediação financeira teve o pior resultado. O PMI Serviços é calculado com base em dados de mais de 350 empresas do setor de serviços privados. Emprego e novas encomendas também caíram no setor em outubro. Para André Loes, economista-chefe do HSBC no Brasil, a contração do indicador composto que inclui serviços é indústria -registrou o nível mais baixo desde maio de 2009, “sugerindo um fraco quarto trimestre”. O PMI Composto caiu de 50,6 em setembro para 48,4 em ouubro. Nesta semana, o HSBC informou que o PMI da indústria brasileira indicou contração pelo segundo mês consecutivo ao recuar de 49,3 para 49,1. O HSBC informou ainda que, apesar da redução na atividade dos serviços em outubro, as expectativas do setor melhoraram e atingiram o maior nível em três meses, mas elas seguem em níveis historicamente baixos.
19
ONS nega “corte seletivo” de energia no verão Fonte Jornal Valor Econômico Rodrigo Polito05/11/2014 às 11h19 SÃO PAULO - O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) negou nesta quarta-feira que tenha cogitado realizar “cortes seletivos” de energia para garantir o fornecimento nos horários de pico no verão. O órgão também negou e classificou com “inverídica” a informação de que prevê a suspensão do fornecimento de energia durante a madrugada em grandes cidades do Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, conforme publicado hoje pelo jornal “Folha de S.Paulo”. “A informação contida na matéria de que o ONS ‘cogita cortes seletivos de energia para garantir o fornecimento nos horários de pico em janeiro e fevereiro’ não é verídica. O complemento de que ‘essa medida será necessária se as chuvas não forem suficientes para recompor os reservatórios das hidrelétricas ao patamar de 30% em janeiro’, não tem fundamento, nem corresponde a declarações do Operador”, informou o órgão, em nota assinada pelo diretor-geral, Hermes Chipp. O ONS também negou que a assessoria de imprensa do órgão tenha confirmado o alerta que teria sido feito por um diretor em reunião realizada com agentes do setor na semana passada, segundo a matéria da “Folha de S. Paulo”. O operador informou que, na reunião, anunciou que o atendimento à demanda de ponta (horário de pico) neste mês está assegurado pela implementação de diversas medidas operativas. Com relação ao verão, o operador disse que o atendimento no horário de pico nos meses de verão, “quando se espera uma elevação natural da carga em função das altas temperaturas”, será analisado mês a mês. “Apesar dos níveis de armazenamento reduzidos dos reservatórios das regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, o período chuvoso está se iniciando dentro da normalidade, conforme as previsões dos institutos de meteorologia, CPTEC/INPE e Cemaden”, completou o órgão.
"Indústria precisa de sinal firme do governo para investir", diz CNI Fonte Jornal Valor Econômico Lorenna Rodrigues e Daniel Rittner05/11/2014 às 12h05 BRASÍLIA - O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse que o setor produtivo precisa de sinais firmes de que as ações futuras do governo darão maior estabilidade à economia e que isso é essencial para a retomada dos investimentos. “Sabemos que o próximo ano será marcado por ajustes importantes na macroeconomia e precisamos encontrar formas para enfrentá-los”, completou, durante abertura do Encontro Nacional da Indústria, em Brasília. Ele destacou que a eleição, mesmo com uma disputa muito acirrada, transcorreu sem problemas institucionais. Andrade disse que a prioridade da indústria para os próximos quatro anos é o aumento da competitividade, a adequação da carga tributária e a modernização das relações do trabalho. “A indústria tem perdido participação na formação do PIB de forma sistemática. Temos que usar o capital político da indústria para viabilizar reformas”, completou.
20