SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 06 DE OUTUBRO DE 2014
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China deve crescer ao menos 7% por anos, diz banco Fonte TetsushiKajimoto, da Tóquio - A China deve crescer pelo menos 7 por cento por ano ao longo dos próximos cinco anos enquanto reequilibra sua economia para elevar a demanda doméstica, afirmou nesta quinta-feira o novo chefe do Banco Asiático de Desenvolvimento, Shang-Jin Wei. Wei, que assumiu o cargo em agosto, afirmou que o mercado de trabalho rígido da China é uma "fonte de preocupação" maior do que a desaceleração da taxa de crescimento da segunda maior economia do mundo. As declarações, em entrevista à Reuters em Tóquio, vêm uma semana depois de o banco manter suas projeções de crescimento para a China em 2014 e 2015. A economia chinesa expandiu-se 7,7 por cento no ano passado. O Banco Asiático de Desenvolvimento projeta que o crescimento chinês vai desacelerar para 7,5 por cento neste ano e para 7,4 por cento em 2015. Pequim tem a meta de expandir a economia em 7,5 por cento neste ano, mas uma série de dados fracos até agora levou muitos analistas a projetar que o país pode ficar aquém desse objetivo. "Na minha avaliação, no médio prazo, é bastante improvável que a taxa de crescimento chinês caia abaixo de 7 por cento", disse Wei, acrescentando que, por médio prazo, refere-se a um período de cinco anos ou mais. O economista, que nasceu na China e é agora cidadão norte-americano, afirmou que a economia chinesa "está fazendo uma transição para um novo modelo de crescimento a uma taxa relativamente rápida". A China é muito menos dependente de exportações do que costumava ser, disse ele.
Ajuda federal para universitários dispara no país Fonte Folha de São Paulo ÉRICA FRAGA de SÃO PAULO 05/10/2014 02h 00 O apoio do governo federal para que alunos de baixa renda cursem o ensino superior registrou forte aumento nos últimos anos. Os empréstimos estudantis oferecidos por meio do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) se multiplicaram por nove entre 2010 e 2014, saltando de R$ 1 bilhão para R$ 9 bilhões (descontada a inflação). No período, mais de 1,7 milhão de alunos foram financiados. Já os recursos liberados pelo ProUni (Programa Universidade para Todos) triplicaram (em termos reais) entre 2005 e 2013, alcançando R$ 824 milhões. O total de estudantes beneficiados ultrapassa 1,4 milhão. Entre as matrículas efetuadas por meio dos dois programas, as duas carreiras que mais se destacam são administração de empresas e direito, áreas em que não há sinais de escassez de mão de obra no país. Já engenharia civil, com deficit de profissionais no Brasil, é o terceiro curso mais demandado por meio do Fies.
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Medicina e licenciaturas em áreas como química, física, matemática e biologia que eram consideradas prioritárias pelo Ministério da Educação (MEC)- não estão entre as dez carreiras com mais matrículas. Os dados foram levantados pelo MEC a pedido da Folha. O governo chegou a cobrar juros menores a alunos com com empréstimo pelo Fies para cursos em áreas com maior falta de profissionais.
Mas, a partir de 2010, as taxas dos financiamentos aos cursos que não constavam da lista de carreiras prioritárias foram reduzidos. Atualmente, os juros são de 3,4% ao ano para todas as áreas. O ProUniprograma de bolsas não reembolsáveis -também não prioriza carreiras específicas. As universidades privadas que oferecem vagas pelo ProUni recebem isenção de impostos. "Não há priorização de cursos. Estamos atendendo todas as demandas", diz Paulo Speller, secretário de educação superior do MEC. EFETIVIDADE A forte expansão do Fies e do ProUni tem levantado um debate sobre a necessidade de se avaliar o formato atual dessas políticas assim como seus resultados: "Acho que esses programas deveriam trazer incentivo para os cursos de maior interesse para a sociedade e um gigantesco incentivo para alunos bons irem para a pedagogia", afirma o pesquisador Claudio de Moura Castro. Simon Schwartzman, presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade), concorda: "Tenho a impressão de que a política atual é estritamente de subsídio, o que coloca em questão se esses recursos não seriam melhor empregados para melhorar a educação básica, por exemplo". Para o economista Naercio Menezes, do Insper, o aumento do número de estudantes no ensino superior proporcionado pelo Fies e pelo ProUni tende a ser positivo independente da carreira escolhida: "Acho que é benéfico para a sociedade, porque o ensino superior tende a aumentar a produtividade do profissional e sua renda". Um estudo recente de Menezes identificou as áreas com maior falta de profissionais no país, que registraram queda ou pequeno aumento na oferta de novos graduados e forte aumento salarial, como medicina. Mas ele ressalta que mesmo em áreas em que houve grande expansão no número de formados e queda nos salários -como administração de empresas- a remuneração ainda é mais do que o dobro da recebida por profissionais que concluíram apenas o ensino médio. O MEC deu passos recentemente para estender os financiamentos via Fies para cursos de mestrado e doutorado. 3
Cada papel na sua hora Fonte Folha de São Paulo 05/10/2014 02h00 A natural politização das discussões no processo eleitoral abrange a atuação política de diversos segmentos da sociedade, mas há certa dificuldade em entender seu papel socioeconômico. É comum e saudável que cidadãos, independentemente do setor, se engajem no processo político. Isso, porém, não pode ser confundido com seu papel como profissional e agente econômico. O médico pode ter sua opinião política, mas, no exercício da profissão, deve ter foco exclusivo na prática da medicina e na saúde do paciente. O mesmo deve valer para todas as profissões. O jornalista também pode ter suas posições políticas, mas isso não elimina sua função profissional básica de bem informar, o que costuma gerar problemas de relacionamento com políticos de todos os matizes. Outra área de atuação objeto frequente desse mal entendido é o setor empresarial. É normal que políticos queiram ver motivações políticas em decisões empresariais. Aqui também é importante ficar claro que a função do empresário é produzir mais, ao menor custo e com a melhor qualidade possível –sejam produtos industriais, agrícolas, financeiros ou serviços em geral. E quanto mais competitivo o mercado, menor o preço. O foco principal do empresário deve ser a lucratividade de seu negócio dentro das leis vigentes. A empresa que tem prejuízo não sobrevive, não cresce e não cumpre seu papel na sociedade. A empresa lucrativa investe, gera emprego, eleva a produção nacional, cria riqueza, paga impostos e permite ao governo aumentar investimentos e programas sociais. É essencial compreender essa dinâmica para evitar a visão errada sobre o papel de cada setor, inclusive o empresarial. Não cabe ao empresário tomar decisões políticas ao decidir investimentos –de longo prazo, no aumento da produção, ou de curto prazo, na Bolsa de Valores ou nos mercados futuros. O empresário está preocupado não só com o retorno dos investimentos, mas com a previsibilidade econômica. O que gera muito mal entendido é que as políticas econômicas adotadas no país influenciam essa previsibilidade, as vendas e os resultados futuros. Por isso, na visão de cada empresário, é legítimo que ele avalie o retorno previsto de seus negócios e investimentos dentro do cenário eleitoral. Sua ação empresarial, no entanto, deve se dar essencialmente no bom exercício de sua função profissional –como fazem os bons profissionais de todas as áreas. Há grande preocupação dos candidatos com a melhora do diálogo com os empresários e os mercados. Entender melhor o papel de cada um tornará esse diálogo mais produtivo ao país.
O ônus e o bônus de Dilma (e da Folha) Fonte Folha de São Paulo 05/10/2014 02h00 Sete dias, três manchetes negativas, três positivas. Tal foi o saldo da última semana da campanha de Dilma Rousseff na Folha. As três boas notícias eram resultados de pesquisa do Datafolha, que mostraram a petista recuperando a vantagem nas pesquisas. (Ok, vamos combinar que esse é o fato que realmente importa à candidata que disputa seu futuro político nas urnas hoje.) Dilma não teve o monopólio das más notícias. Marina Silva (PSB) apareceu em três manchetes, todas em cenário de queda livre, em oposição à subida em marcha lenta de Aécio Neves (PSDB). Lanterninha e relegado pelo noticiário até a última semana, o tucano ficou com dois títulos positivos na reta final.
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Dos três, a presidente foi a única a figurar em manchetes extrapesquisas. Apanhou por tabela ("PF investiga ligação entre tesoureiro do PT e doleiro preso"), do mercado ("Com Dilma em alta, Bolsa tem maior queda em três anos") e por sua própria conta ("Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010"). Registre-se que o título que falta para completar a semana era uma bordoada no tucano Geraldo Alckmin, candidato ao governo de SP. Com pouca diferença, esse recorte semanal pode ser estendido à cobertura política desde 23 de agosto, quando a entrada tardia de Marina Silva fechou o quadro, e o departamento da ombudsman começou a contabilizar a cobertura eleitoral. Predomínio absoluto da eleição majoritária federal, e disputas estaduais reduzidas a coadjuvantes. Dilma/PT foram responsáveis por 46% das chamadas na capa; Marina/PSB, por 37%, e Aécio/PSDB, por 17%. Nas páginas internas, os números mudam um pouco: 46%, 29% e 25%, respectivamente. Buscar equilíbrio no noticiário político-eleitoral é uma cruzada difícil. Primeiro porque não se pode dar peso igual para candidatos diferentes. Quem está no poder desfruta da janela, mas tem muito mais vidraça inevitável que tenha mais vidros quebrados. Idem se estiver na frente, como Marina Silva comprovou quando estava em ascensão. Além de ocupar o cargo mais alto do país, Dilma é fustigada por um cenário de índices econômicos ruins, e economia é item de primeira necessidade no noticiário. É natural que assim seja. Como candidata à reeleição, ela carrega o ônus e o bônus de estar sob os holofotes em tempo integral, ocupando um espaço que seus concorrentes penam para obter. É ingenuidade achar que isso só tem lado ruim. Na política, pior do que aparecer mal é aparecer pouco, como Aécio deve ter percebido nos tempos de índices magros. Das 49 chamadas negativas para a campanha do PT, 25 se referem ao governo federal. Dilma, a candidata, foi agraciada com 24, duas a mais do que sua adversária do PSB. O tucano de Minas ficou com 17. Parte dos leitores se queixa de distorções e vieses. As reclamações são inevitáveis, não só porque eles realmente existem (apontei três aqui no domingo passado) mas também porque a polarização turva o cenário, a racionalidade e a memória, que é seletiva por natureza. Eleitores não gostam de nada ruim sobre seu candidato nem de notícia "mezzo" boa sobre os adversários deles. A estridência da Folha que Joaquim Barbosa, em seu dia de ombudsman (quinta, 2), chamou de estardalhaço– acentua a polarização. O ex-ministro do STF levantou outro aspecto importante: a antipatia do jornal por tudo o que vem do setor público. Já comentei antes o azedume atávico que é parte de seu DNA, mas o viés negativo da Folha é ainda mais acentuado quando se trata de governos, o que leva a abordagens exageradas ou distorcidas. Na dose certa, o olhar crítico e a desconfiança do poder público podem ser um bônus que aproxima o jornal da imparcialidade perseguida; na medida errada, viram um ônus que obriga o leitor a dar um desconto a boa parte do que lê.
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Na Folha desde 1990, Vera Guimarães Martins ocupava, antes da nomeação para ombudsman, o cargo de secretária-assistente de Redação, responsável por cadernos especiais e edições de domingo. Foi também editora de política da "Folha da Tarde" (jornal do Grupo Folha que foi substituído pelo "Agora" em 1999), editora-adjunta do caderno "Cotidiano", editora da "Revista da Folha" e editora de revistas, entre outras funções.
Desempenho ruim da balança reflete escolhas erradas Fonte Francisco Carlos de Assis, do São Paulo - O déficit comercial no mês de setembro, de US$ 939 milhões, conforme divulgou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), reforça uma deterioração que tem origem em uma escolha equivocada e em uma deficiência histórica. O erro de diagnóstico foi optar por privilegiar o mercado interno em detrimento de uma maior inserção internacional. E a desvantagem é a ineficiência causada pelo excesso de burocracia, o que custa tempo e dinheiro a exportadores e importadores. Essa é a avaliação do economista e diretor da Troster Associados, Roberto Troster. O próprio Banco Central revisou no mês passado a projeção de saldo comercial para 2014 de US$ 5 bilhões para US$ 3 bilhões. "O mundo mudou e as empresas deixaram de olhar o mercado interno e passaram a focar o mercado global, tanto para comprar insumos quanto para vender produtos", afirmou, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. De acordo com ele, o mundo se globalizou e o Brasil não acompanhou. Os países que passaram a mirar o mercado global, como a China, são os que estão ganhando o jogo do comércio mundial. 6
Na outra ponta, os países que passaram a olhar somente para o mercado interno - como Brasil e Argentina estão andando para trás, afirma Troster. O economista reconhece que não se pode ignorar os efeitos da crise internacional iniciada em 2008. Mas, de acordo com ele, não é certo jogar toda a culpa na crise. "Isso é desculpa para justificar o mau desempenho. A crise e seus efeitos existem, mas grande parte da falha é interna", criticou. É muito caro exportar a partir do Brasil, afirma. Neste aspecto, de acordo com ele, a situação é muito parecida com a da Argentina. Em vários pontos a China leva vantagem em relação aos dois países da América do Sul. O custo do contêiner na China, por exemplo, é de US$ 620. Na Argentina é de US$ 1.650 e no Brasil, de US$ 2.215. Os dados usados por Troster são do Banco Mundial. "Estamos andando para trás. Quer dizer, os empregos estão se instalando em outros países em vez de se instalarem no Brasil e na Argentina e estamos colocando a culpa nos outros. Aqui continuamos com a cultura do carimbo, da burocracia", disse. "Nossa economia é muito fechada e assim vamos continuar perdendo terreno", disse Troster. Ele acrescentou que outro problema foi o Brasil ter focado em acordos com economias menos dinâmicas e virado as costas para países com economias mais dinâmicas. Na visão do economista, fazer acordos com China, Alemanha e Estados Unidos gera mais crescimento do que com mercados pequenos. Troster diz ter dificuldade em concordar com a alegação de brasileiros e argentinos de que muito da deterioração dos saldos comerciais nos dois países se deve ao baixo custo trabalhista na China. "O processo de inclusão financeira na China está sendo mais rápido do que no Brasil, apesar de eles terem começado bem depois", afirmou. Com o suporte de dados do Banco Mundial, Troster disse que os 10% mais ricos da China são mais pobres que os 10% mais ricos no Brasil e na Argentina e os 10% mais pobres são mais ricos que os 10% mais pobres no Brasil e na Argentina. Segundo os dados, na Argentina os 10% mais ricos respondem por 32,3% da renda total. No Brasil eles respondem por 42,9% e na China, por 29,9%. Já os mais pobres na Argentina têm 1,46% da renda. No Brasil eles têm 0,77% e na China, 1,69%. Para o economista, deve se levar em conta o peso da burocracia nos dois países sulamericanos e o da China. Na Argentina, leva-se 176 dias para obter um alvará de comércio exterior. No Brasil são 84 dias enquanto na China são apenas 28 dias. "Enquanto não fizermos as reformas aqui no Brasil e na Argentina, vamos continuar vendo as projeções de saldos comerciais sempre sendo revisados para baixo", disse.
Construção tem pior freada em 14 anos FONTE RENÉE PEREIRA - O ESTADO DE S. PAULO 04 Outubro 2014 18h 41 O setor da construção civil deverá fechar 2014 com o pior resultado dos últimos 14 anos. Diante do fraco desempenho da economia, término de empreendimentos da Copa do Mundo e dificuldade para aumentar os investimentos em infraestrutura, a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor reverta o quadro de crescimento robusto dos últimos anos e caia 7
6,2%, segundo cálculos da consultoria GO Associados, apresentados no boletim da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop). No ano passado, a construção civil teve participação de 5,4% no PIB total do País e empregou mais de 2 milhões de trabalhadores. O melhor resultado ocorreu em 2010, quando o PIB do setor avançou 11,6%, influenciado, em especial, pelo boom imobiliário. De lá para cá, o crescimento das atividades do setor foi um pouco mais modesto. Em 2013, avançou 1,6% e criou apenas 48 mil postos de trabalho (abaixo dos 95 mil de 2012), segundo o boletim da Apeop. No segundo trimestre deste ano, o nível de atividade do setor despencou 8,6% comparado a igual período de 2013. O sócio da GO Associados, Gesner Oliveira, responsável pela elaboração do boletim da Apeop, explica que o desempenho é resultado da combinação de uma série de fatores. Entre eles, o atraso e adiamento de obras de infraestrutura, elevação do endividamento das famílias e arrefecimento do mercado imobiliário. Segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi), de janeiro a julho deste ano as vendas de imóveis novos caíram 49% e o número de lançamento de novas unidades, 21,5%, comparado a igual período de 2013. “Tivemos um ano atípico, com carnaval tardio, Copa do Mundo e uma reviravolta nas eleições. Esse cenário de incerteza causou uma freada no setor”, afirmou Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP. Ele projeta uma melhora no segundo semestre, mas não o suficiente para reverter o quadro negativo de 2014. A expectativa é que as vendas fechem o ano com recuo entre 20% e 25% e os lançamentos, entre 15% e 20%. Neste momento, avalia o executivo, é difícil traçar um panorama para 2015. “Vamos ver o resultado das eleições e o enfoque que será dado ao setor. Podemos ter uma onda de otimismo ou de pessimismo.” Além do mercado imobiliário, os números do segundo semestre devem refletir o fim das obras da Copa do Mundo, como a construção dos estádios. Esses projetos foram concluídos e não entrou nada no lugar, já que o ritmo dos investimentos em novos projetos de infraestrutura está lento. Os programas voltados para portos e ferrovias, por exemplo, que representam grande volume de mão de obra e contratos bilionários, ainda não saíram do papel. Há expectativa de que depois das eleições algumas licitações sejam feitas, mas os efeitos práticos no setor não são imediatos. Uma notícia positiva para o setor é a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida, com 350 mil novas unidades a partir do ano que vem, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon), José Romeu Ferraz Neto. Mas esse é apenas um dos negócios do setor. Se não houver reação em outras áreas, a recuperação da atividade fica mais difícil. Ele afirma que o nível de emprego está estável, com quedas pontuais em algumas regiões. “Mas estimamos que vai ocorrer uma queda no nível de emprego até o fim deste ano.” De acordo com o boletim da Apeop, apesar do ritmo mais lento na criação de empregos, a única categoria da construção que fechou vagas até agosto deste ano foi a de “outras obras de infraestrutura”, que demitiu 3,2 mil pessoas. Nos demais setores, como construção pesada, obras de energia, telecomunicações, água, esgoto e transportes, o saldo do ano continua positivo, mas a abertura de novos postos de trabalho está mais lenta. “Houve uma deterioração do cenário macroeconômico, especialmente no curto prazo”, diz o presidente da Apeop, Luciano Amadio. Segundo ele, uma sondagem feita no setor mostra que os empresários de obras públicas estão pessimistas com o comportamento da economia brasileira neste ano. Para 80%, o sentimento em relação à economia piorou ou piorou muito para os próximos três meses. A expectativa melhora um pouco quando considerados os próximos 12 meses. Na opinião do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, esse pessimismo reflete a reversão dos números do setor. “No começo do ano pensávamos que conseguiríamos crescer 2,5%. Mas aí a economia desaqueceu, as obras da Copa terminaram e o resultado foi piorando.” 8
Inflação de serviços demora a ceder e deve fechar ano com alta de mais de 8% FONTE: MÁRCIA DE CHIARA - O ESTADO DE S. PAULO04 Outubro 2014 18h 20 Os serviços serão o principal foco de pressão da inflação em 2015, junto com os preços administrados pelo governo. Apesar de uma ligeira desaceleração no ritmo de alta esperada para este ano e para o próximo, a inflação de serviços segue alta, acima do índice geral de preços. No período de 12 meses até agosto, a inflação dos serviços subiu 8,5%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 6,5%. Os preços se mantêm em nível elevado, apesar do freio na economia. Em 2014, os serviços devem registrar a menor taxa de crescimento em 11 anos. A resistência da inflação é explicada pelo mercado de trabalho aquecido - embora em desaceleração -, pela indexação dos preços, e pela maior demanda por serviços por parte das classes sociais que foram incorporadas ao mercado de consumo. Nos últimos dois anos, a inflação de serviços ficou estacionada em 8,7%. A previsão é de um pequeno recuo para algo entre 8,1% e 8,3% em 2014. Para 2015, a expectativa é de um índice até um ponto porcentual menor. “É uma desaceleração importante, mas os serviços vão continuar se destacando como uma das principais fontes de pressão no IPCA”, diz a economista da consultoria Tendências, Adriana Molinari. Suas projeções indicam um IPCA de 6,8% em 2015. Os serviços devem responder por 36% do total, a mesma fatia dos administrados. “Em qualquer lugar do mundo a variação dos preços dos serviços corre acima da inflação total por se tratar de um item que não é comercializável (que não pode ser importado)”, diz o economista da LCA, Fábio Romão. Ele diz que a diferença está elevada por causa de uma combinação inédita de fatores. Nos últimos três anos, a inflação dos serviços superou em quase 50% a inflação geral ao consumidor. “Em 2014 essa relação deve cair para 30% e, em 2015, para 20%.” Descompasso. A demora da inflação de serviços para desacelerar ocorreu, na avaliação de Romão e Adriana, por vários motivos. No caso da alimentação fora de casa, o serviço que mais subiu entre 2003 e 2013 (depois do emprego doméstico), com alta de 158,4%, se deveu à subida dos alimentos, combinada com a alta do custo da mão de obra. Adriana diz também que apesar de o mercado de trabalho ter dado sinais desfavoráveis nos últimos meses, o desemprego está baixo. Romão lembra que o rendimento médio real do trabalhador se acelerou no fim de 2013. “Isso atrapalhou a desaceleração dos preços dos serviços no início deste ano”, diz o economista, explicando que há uma defasagem entre o comportamento da renda e do preço dos serviços. Já o economista da FGV, André Braz, aponta outro fator que contribuiu para resistência dos preços: o fato de ter hoje mais gente consumindo serviços. “A expansão das classes menos favorecidas criou uma forte demanda por serviços que não foi acompanhada pela oferta.” Braz cita alguns exemplos, Um deles é o seguro facultativo de carro, cujo preço nos últimos 12 meses até setembro subiu 10,21% e a despesa de condomínio que aumentou 5,71%. A compra do primeiro carro e da casa própria e as despesas por conta dessas aquisições pesaram no bolso da classe C.
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Banco Central quer uso do cartão para compras de carros e até imóveis FONTE CÉLIA FROUFE - O ESTADO DE S. PAULO03 Outubro 2014 22h 37 BRASÍLIA - O Banco Central quer estimular o uso dos cartões de crédito e débito em transações de maior valor, como a compra de veículos e imóveis. Em sua primeira avaliação sobre a indústria de cartões desde que passou a regular o setor, há um ano, o BC mandou esse recado ao setor, segundo apurou o Estado. Espera-se que o setor privado incorpore essa “dica” em seu negócio. Se não houver sinais de melhoria nos produtos e serviços, o BC pode lançar novas normas que têm de ser seguidas pelas empresas. No documento, publicado em julho, o BC avalia que, apesar da forte utilização de meios eletrônicos em transações de baixo valor, principalmente dos cartões, o cheque ainda é a principal forma de pagamento em valores mais elevados. Isso ocorre, diz o Relatório de Vigilância do Sistema de Pagamentos Brasileiro, porque a decisão de aceitar cartões é baseada em um porcentual sobre o valor do bem ou serviço. No caso de cheques, o custo independe da quantia expressa no papel. “O BC incentiva a indústria a buscar soluções que colaborem com o objetivo de promover a redução da utilização de instrumentos baseados em papel, que carregam pesados custos para o próprio mercado, bem como para a sociedade, principalmente nas transações de altos valores unitários”, diz o relatório. Como a prática, hoje, é cobrar um determinado porcentual sobre a venda, essa taxa inviabiliza o pagamento com o plástico em caso de produtos e serviços mais caros. O BC lembra que boletos, DOC e TED bancários poderiam ser alternativas, mas não caíram no gosto do consumidor. “As transferências de crédito não se mostraram como instrumentos de conveniência satisfatória, principalmente em transações presenciais, que os tornassem atrativos como forma de liquidação de grandes valores, como por exemplo, na compra de veículos e imóveis. Assim, ante a falta de alternativas, essas operações ainda utilizam amplamente o cheque.” Dados do “Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil” revelam que as operações com cheques recuaram 35% em quantidade entre 2007 e 2013. Nesse mesmo período, houve uma alta de 62% nos valores médios dos cheques. As transferências de crédito (TEDs e DOCs) cresceram 33% e as transações com cartões, apenas 12%. Lojas. A demanda também é do comércio. O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, diz que o ideal é que o cartão de débito deixasse de ter um porcentual sobre o preço do produto e houvesse uma taxa fixa nos casos de bens de maior valor. “Estamos pleiteando uma tarifa fixa por transação”, diz. A mudança não é tão fácil, alega o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira. “Esse primeiro relatório do BC externa o pensamento do regulador e existem lacunas que todos temos de tentar completar pela frente”, diz. “Mas a discussão é complexa.” Segundo a Abecs, o tíquete médio das compras de cartões de débito no Brasil é de R$ 43,50 e determinar um valor fixo sobre essas operações poderia inviabilizar os pagamentos de produtos mais baratos. “Isso vai na contramão do que se deseja, que é ampliar o uso dos cartões, pois acabaria impedindo a utilização do cartão em compras de menor valor. Na média, a receita com as operações tem de ser suficiente para todo mundo”, diz Vieira. O relatório do Banco Central também ressalta o “alto potencial” dos pagamentos móveis, como aqueles feitos via celular. O modelo adequado para o País, porém, deve ser inovador, e não limitar-se ao uso em negócios já existentes. “Isso permitiria trazer novos benefícios para a sociedade, como aumento da conveniência, segurança, e qualidade do serviço”, avalia o BC. O banco cita modelos de pagamentos onde o comércio receba os valores em tempo real em sua conta, por exemplo. O mesmo ocorreria em um pagamento pessoa a pessoa. “O BC 10
incentiva que a indústria avalie a possibilidade de criação de um arranjo de pagamento, de amplo acesso às instituições de pagamento e instituições financeiras detentoras de contas de depósito ou de pagamento em nome de clientes, que possibilite a realização de transferências de varejo de forma ininterrupta e em tempo real a um custo razoável.”
Arrancada de Aécio deve gerar reação positiva nos mercados Fonte Jornal Valor Econômico Luciana Seabra e Silvia Rosa05/10/2014 às 21h31 SÃO PAULO - A arrancada surpreendente do candidato Aécio Neves (PSDB) na reta final do primeiro turno para a eleição para a Presidência da República e sua confirmação na disputa no segundo turno com Dilma Rousseff (PT) devem levar os mercados a reagir positivamente na segunda-feira, com os investidores apostando na possibilidade de uma vitória da oposição. Segundo analistas, a menor diferença de votos do candidato tucano para a presidente Dilma no primeiro turno deve fazer com que Aécio entre com maior força política no segundo turno. “Nas simulações para o primeiro turno, a diferença entre o candidato tucano e a presidente Dilma era de 15 a 20 pontos percentuais. Essa reviravolta coloca Aécio como um candidato mais consistente para vencer a eleição em um segundo turno e os mercados devem reagir a esse resultado, com bolsa subindo e dólar e juros caindo”, diz Eduardo Velho, economistachefe da INVX Global Partners. A perspectiva de um segundo turno para a eleição presidencial e o avanço de Aécio nas últimas pesquisas eleitorais levaram a uma recuperação da bolsa brasileira e do real na sexta-feira. O Ibovespa subiu 1,91%, encerrando a 54.534 pontos. O dólar também acompanhou esse movimento e fechou em R$ 2,46 na sexta-feira, em queda de 1,19% , contribuindo com o recuo das taxas dos contratos futuros de juros , principalmente nos vencimentos mais longos para 2017 e 20121, mais sensíveis ao cenário de maior aversão a risco. “O fato de confirmar o segundo turno com um candidato amigável ao mercado, que tem o Armínio Fraga como eventual ministro da Fazenda, traz pelo menos três semanas de esperança para a bolsa”, diz Otávio Vieira, sócio-gestor da Fides Asset Management. Um segundo turno com Aécio será mais bem visto pelo mercado do que com Marina Silva (PSB), considera, porque a candidata vinha mostrando fraqueza, enquanto a tendência de Aécio era ascendente. Vieira pondera que a decisão de Marina sobre apoiar ou não Aécio vai ser determinante para o movimento de preço. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, considera que o mercado não conta com o apoio formal de Marina a Aécio. Em 2010, ela optou pela neutralidade. Agora, se o apoio vier, a reação será positiva. Zeina não arrisca um novo patamar para a bolsa, mas tem uma certeza: “a tendência é subir”. A disputa política interna deve pesar mais do que outras variáveis, a menos que haja um cenário externo muito menos favorável ou uma reavaliação negativa do Brasil pelas agências de rating. “A volatilidade vai ser o nome do jogo até o quadro ficar claro” , diz Zeina. O economista-chefe da INVX Global Partners vê uma disputa acirrada no segundo turno entre o candidato tucano e a presidente Dilma, destacando que ele tem como vantagem uma articulação política maior que Marina, o que facilitaria a aprovação de reformas. “Ele já foi presidente da Câmara dos Deputados e é próximo do PMDB, e teria mais capacidade para implementar mudanças.”
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A pesquisa Ibope divulgada ontem mostra que Dilma venceria a disputa com 45% das intenções de voto contra 37% em ambas simulações com Aécio e Marina. O economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, destaca que o candidato tucano tem política econômica bem definida, que tem enfatizado a recuperação do tripé macroeconômico (baseado em câmbio flutuante, cumprimento da meta de superávit fiscal e da meta de inflação). “A retomada do tripé macroeconômico é algo bem visto pelos investidores e, se isso se concretizar, o real tem espaço para se apreciar”, afirma Kawall. Para ele, o fato de o candidato tucano ter alguns nomes da equipe econômica já definidos pode levar o governo a dar mais clareza sobre a sua proposta de política econômica em eventual segundo mandato. Por enquanto, Dilma sinalizou apenas uma troca de comando no Ministério da Fazenda em eventual segundo governo. Desde 2002, quando o dólar chegou a quase R$ 4, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da República, o mercado financeiro não era tão influenciado pelo cenário eleitoral. Após um período de euforia com a arrancada de Marina na corrida eleitoral, após a morte de Eduardo Campos em 13 de agosto, a tensão voltou ao mercado desde meados de setembro com o crescimento de Dilma nas últimas pesquisas de intenção de voto. Depois de atingir o pico no ano de 61.895 pontos, em 2 de setembro, a bolsa brasileira voltou a recuar com o temor de reeleição do governo e manutenção da atual política econômica, criticada pelo intervencionismo no mercado e manobras fiscais. Já o dólar chegou a alcançar R$ 2,4912 em 2 de outubro, maior patamar desde 8 de dezembro de 2008, em plena crise financeira mundial.
Candidatos têm análises opostas sobre o país Fonte Jornal Valor Econômico Claudia Safatle de Brasília 06/10/2014 às 05h 00 Entre os dois candidatos à Presidência da República que vão disputar o segundo turno não há convergência nem mesmo no diagnóstico dos males da economia. Para a candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff (PT), o principal problema que minou o crescimento do Brasil, levando-o à recessão, foi a fragilidade econômica dos países ricos. Ela declarou que o governo não precisará promover um ajuste fiscal "profundo" e considera que o país está pronto para um novo ciclo de desenvolvimento. Aécio Neves (PSDB), ao contrário, vê o país condenado ao crescimento medíocre, inflação alta e à beira de uma crise fiscal, sem possibilidade de avançar na melhora dos indicadores econômicos e sociais, no médio prazo, se nada for feito de imediato. Ele sugere um ajuste das contas públicas nos próximos dois a três anos, de forma gradual, para recuperar a capacidade do Estado de produzir superávit primário de 3% do PIB, como já indicou Armínio Fraga, seu ministro da Fazenda caso vença as eleições no dia 26. A primeira providência é conhecer a realidade das contas públicas, pois suspeita-se que a gestão atual tenha postergado cerca de R$ 100 bilhões em pagamento de subsídios. Segundo Armínio, essas despesas serão contabilizadas de maneira transparente. Outra ideia que consta do programa econômico do PSDB é limitar o crescimento do gasto à variação do PIB, não por lei mas na gestão da despesa. 12
Assessores ligados ao PT, ao inverso de Dilma, consideram a situação fiscal grave e também alertam que a trajetória de crescimento da dívida líquida como proporção do PIB, se nada for feito, levará o país a uma crise fiscal com desdobramentos nefastos: aumento da já elevada taxa de juros, desvalorização da moeda e mais inflação. De janeiro a agosto, a dívida líquida subiu dois pontos percentuais como proporção do PIB, processo que se não for estancado resultará em uma "espiral negativa", disse uma fonte. Algumas medidas podem ajudar a atenuar a situação das contas públicas que tiveram uma deterioração impressionante de 2012 para cá, como o fim do controle dos preços dos combustíveis, mas são insuficientes. A adoção de um programa fiscal plurianual é defendida por economistas tanto do governo quanto da oposição. Seria uma forma de sinalizar aos agentes econômico com um paulatino retorno a superávits suficientes para estabilizar a dívida pública/PIB e voltar a ter um cenário onde não haja o menor risco de solvência do país no futuro. O desafio fiscal é o mais complexo e delicado que o próximo presidente enfrentará, mas não é, certamente, o único. Há inúmeras outras questões a resolver. Um exemplo é as duas dezenas de políticas industriais setoriais em vigor, que não surtiram efeito, com a indústria em processo de contração há um longo tempo. Isso sem falar na taxa de investimento que definha, na queda da produtividade da economia, na urgência de uma reforma tributária, entre outras. Se para Dilma o país está próximo a um novo ciclo de crescimento, para a oposição ele está afundando na perda de dinamismo, requer reformas e a volta ao tripé macroeconômico. Quem vencer o segundo turno vai ter que começar a governar antes de vestir a faixa presidencial. Até dezembro será preciso decidir qual vai ser o reajuste da gasolina e, também, se haverá algum mecanismo mais automático de correção dos preços dos combustíveis. Terá, também, que negociar com o Congresso uma redução na meta de superávit primário deste ano, pois o mínimo permitido pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não deve ser atingido. Outra providência que não espera a posse se refere ao Orçamento de 2015, cujas receitas estão superestimadas e a LDO também fixou uma meta de superávit primário de difícil obtenção, entre 2% e 2,5% do PIB. Todas essas mudanças terão que ser feitas em paralelo à montagem do governo. No caso da reeleição de Dilma Rousseff, a transição deve ser feita pelo atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas ele não continuará no cargo no próximo governo. A presidente quer um empresário no comando da economia. Aécio Neves já informou que nomeará o economista Armínio Fraga para a Fazenda e parte do grupo de especialistas que trabalhou no programa do candidato deve ser convidado a compor a equipe de governo. O presidente eleito terá, ainda, que lidar com incertezas que poderão afetar significativamente o desempenho econômico, assim como a cena política do próximo ano. A investigação dos desvios de recursos da Petrobras, o comportamento das taxas de juros nos Estados Unidos e seus impactos no Brasil, assim como os desdobramentos na crise de abastecimento de água no país podem ser vistos hoje como as maiores indefinições para o novo presidente. O aumento da gasolina deve ocorrer em novembro. A discussão sobre o Orçamento de 2015 e o superávit primário deste ano pode começar a ser feita também em novembro, quando o governo tem que publicar a reavaliação de suas receitas e despesas. 13
Dilma não divulgou o programa econômico do eventual segundo mandato e tem argumentado que ele estaria visível na proposta do orçamento para 2015. O projeto que tramita no Congresso, porém, contém bases irreais, a começar do aumento nominal de 12,2% da receita total da União, algo superior a 6% em termos reais - uma estimativa praticamente impossível para um PIB que o mercado estima que crescerá no máximo 1% no ano que vem. O relator do orçamento, por sua vez, já elevou a receita em mais R$ 16,4 bilhões. Não se sabe ainda qual será o alcance e o desgaste político e econômico dos desdobramentos da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa. O aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode ocorrer no primeiro semestre do ano que vem. A falta de chuvas nos últimos dois anos já custou ao governo R$ 61 bilhões, custos que começam a ser repassados aos consumidores em 2015.
Sem receitas extraordinárias, Brasil teria déficit primário de 0,3% do PIB Fonte Jornal Valor Econômico Tainara Machado de São Paulo 06/10/2014 às 05h 00 O baixo superávit primário realizado pelo governo nos oito primeiros meses deste ano teve contribuição relevante de receitas extraordinárias, seguindo o padrão que tem sido observado desde 2009, com a resposta do governo à crise econômica. A arrecadação com o Refis, concessões e antecipação de dividendos elevaram a economia para pagamento do serviço da dívida em cerca de 0,6 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro e agosto deste ano. Ou seja, sem essa ajuda, o superávit primário de 0,3% observado no período passaria para um déficit de 0,35% do PIB. Em 2007, o esforço fiscal recorrente (sem receitas e gastos extraordinários) do governo era de 3,3% do PIB. Desde então, o crescimento da despesa tem sido mais rápido do que o da arrecadação e o governo passou a lançar mão de fontes atípicas de receita para elevar o superávit primário. No ano passado, por exemplo, enquanto o resultado oficial mostrou poupança do setor público consolidado de 1,7% do PIB, o resultado recorrente foi bem menor, de 0,9%. Para Gabriel Leal de Barros, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) e autor do levantamento, essa comparação mostra o tamanho da deterioração fiscal observada nos últimos anos e a dificuldade que será voltar a fazer esforço fiscal suficiente para reduzir o endividamento líquido do governo, em torno de 2% a 2,5% do PIB. Em agosto, a dívida líquida estava em 35,8%. "O que tem, de certa forma, segurado o superávit primário é uma participação não trivial de receitas atípicas", diz. Em 2014, o Refis, programa de parcelamento de débitos tributários do governo, aumentou a arrecadação em 0,5 ponto do PIB entre janeiro e agosto. Nos anos anteriores, foram mais relevantes as concessões e outorgas e a antecipação de dividendos pelas estatais, como BNDES. Neste ano, porém, mesmo com essa ajuda, o esforço fiscal está muito baixo por causa da fraqueza da atividade econômica e das desonerações adotadas desde 2012. Barros comenta que os impostos ligados ao desempenho das empresas, como CSLL e PIS-Cofins, estão em queda em relação ao ano passado.
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Para Barros, a piora recente dos indicadores mostra que o país precisa de um "ajuste fiscal sério" para manter as duas principais conquistas nos últimos 20 anos: a estabilidade econômica e os avanços sociais. O desafio, porém, não é desprezível e só poderá ser feito ao longo dos próximos anos, já que dificilmente será possível elevar a poupança pública, atualmente próxima a zero, para perto de 2% do PIB em apenas um ano. A dificuldade também é maior do que em outros momentos de contração fiscal, como 1999 ou 2003, porque há pouco espaço para aumentar a carga tributária e as possibilidades de redução de gasto são pequenas. Há, no entanto, uma série de pequenas medidas que poderiam ser estudadas pelo próximo governo, algumas já até debatidas pelo Ministério da Fazenda. Revisar o abono salarial e o seguro-desemprego, com regras mais rígidas para concessão dos benefícios, por exemplo, poderia reduzir esses gastos em até 0,2% do PIB, ou R$ 10 bilhões, em um horizonte relativamente curto, de um ou dois anos. Outra conta relevante, a de subsídios, que atinge 1% do PIB atualmente, pode ser feita por meio da redução dos repasses para o setor elétrico, ainda que de forma escalonada para não pressionar demais as tarifas, comenta. Barros defende a manutenção do programa habitacional do governo, o Minha Casa, Minha Vida, mas mais concentrado na faixa 1, para a camada mais pobre da população, o que reduziria o gasto em 0,2% do PIB ao longo dos próximos quatro anos. "Diante das restrições fiscais, será preciso fazer escolhas, eleger prioridades, mesmo que tenha algum custo", diz. Sem sinalizações positivas na área fiscal, afirma Barros, há risco significativo de perda do grau de investimento pelo Brasil, o que acarretaria aumento do custo de financiamento da dívida e juros mais altos também para o setor privado. Barros acredita que a mudança de regime fiscal, com modernização das métricas de acompanhamento das finanças públicas, é outra alternativa para aumentar a credibilidade das contas do governo e melhorar a comunicação com a sociedade. Uma possibilidade, diz, seria adotar metas para o superávit primário estrutural, que considera a evolução do ciclo econômico e do preço de ativos (por exemplo, o governo faria um esforço fiscal maior quando há forte crescimento e alta do preço das commodities, abrindo espaço para política fiscal contracíclica em momentos de crise). Como o Banco Central já faz esse cálculo para avaliar a gestão da política monetária, Barros não enxerga barreiras significativas para adoção desse modelo. "Seria uma modernização na área fiscal, que está parada desde a adoção da Lei de Responsabilidade Fiscal", diz.
Focus: Expectativa para superávit primário cai de 1,1% para 1% em 2014 Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 06/10/2014 às 09h30 SÃO PAULO - Os analistas do mercado financeiro reduziram levemente a projeção para o superávit primário após os resultados das contas públicas em agosto. Na semana passada, o Banco Central mostrou que o setor público consolidado teve déficit primário de R$ 14,46 bilhões naquele mês. Em 12 meses, houve superávit de 0,94% do PIB, o pior resultado desde o início da série histórica, em 2001. 15
No boletim Focus divulgado nesta segunda-feira pelo BC, a mediana das estimativas para o superávit primário caiu de 1,1% para 1% do PIB neste ano, e de 1,8% para 1,75% em 2015. Apesar da alteração mínima, o resultado estimado pelo mercado está bem abaixo daquele previsto pelo governo, de 1,9% do PIB em 2014, uma projeção mantida mesmo após os resultados de agosto. A estimativa para a dívida líquida do setor público seguiu em 35% em 2014 e 35,50% do PIB em 2015.
Câmbio aplaude Aécio e dólar cai quase 4%, maior queda desde 2010 Fonte Jornal Valor Econômico José de Castro 06/10/2014 às 09h 24 SÃO PAULO - (Atualizada às 10h23) O dólar desabou frente ao real logo após a abertura dos negócios desta segunda-feira. A cotação recuou 3,88% na mínima, maior queda percentual diária desde maio de 2010 e bateu R$ 2,3662, menor patamar desde o último dia 19 de setembro. Às 10h22, o dólar comercial recuava 2,4%, a R$ 2,4026. O real, de longe, é a moeda com melhor desempenho ante o dólar nesta segunda-feira. A onda de vendas ocorre em reação ao desempenho de Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno das eleições presidenciais. O candidato tucano ficou com 33,55% dos votos válidos, menos de dez pontos percentuais aquém de Dilma Rousseff (PT), que teve 41,59% dos votos. A performance de Aécio foi muito acima da sugerida por pesquisas eleitorais e garantiu o tucano no segundo turno com Dilma, à frente de Marina Silva (PSB), que teve 21,32% dos votos. O mercado financeiro vê Aécio como mais inclinado e capacitado a promover reformas econômicas que, na visão de investidores, são necessárias para a recuperação da credibilidade e confiança perdidas na economia brasileira. Desde a entrada de Marina como candidata líder da chapa do PSB, Aécio Neves vinha se posicionando no terceiro lugar, de acordo com pesquisas eleitorais. O real foi a moeda que mais caiu ante o dólar em setembro, justamente pelo aumento das apostas de que Dilma ganharia as eleições, com uma ala chegando a não descartar uma vitória já no primeiro turno.
Emprego e produtividade colocam EUA e Brasil em pontas opostas no pós-crise Juliana Elias de São Paulo 06/10/2014 às 05h00 A necessidade de se elevar a produtividade brasileira, apontada nos debates entre economistas hoje - inclusive entre os assessores dos candidatos à eleição presidencial - como uma agenda prioritária para os próximos anos, pode ser o elemento-chave para explicar a peculiaridade do atual quadro de recessão com pleno emprego observado no Brasil. Na opinião de especialistas ouvidos pelo Valor, a baixa produtividade está no centro das causas do que alguns chamaram de "jobfulrecession", algo como "recessão com emprego" em 16
inglês. Seria o oposto do que, nos Estados Unidos, se convencionou chamar de "joblessrecovery": uma recuperação da economia sem geração de vagas, fenômeno que se tornou recorrente nas crises mais recentes do país. A ideia é que, nos momentos de recessão, forçados a cortar custos, os empresários americanos partem para os investimentos em inovação e tecnologia, muito mais eficientes hoje do que em décadas passadas. Com isso, mesmo que depois se recuperem os volumes de vendas anteriores, passam a precisar de bem menos gente para entregá-los. Os recentes sinais de reação do mercado de trabalho americano, como o dado divulgado na semana passada de que a economia americana gerou 248 mil postos de trabalho em setembro, acima do previsto por alguns economistas, mostram, no entanto, que só agora a combinação de crescimento com alta produtividade está sendo capaz de permitir desacoplar o termo "jobless" da fase de recuperação. Os novos postos derrubaram a taxa de desemprego a 5,9% em setembro. É o melhor número desde 2009, quando a recessão oficialmente acabou, mas ainda acima dos 4,9% registrados em 2007, logo antes dela começar e nível que os Estados Unidos há cinco anos penam para conseguir retomar. "O mercado de trabalho americano não possui lei quase nenhuma e dá uma rapidez enorme em demitir e admitir. Já no Brasil a demissão tem um custo enorme e o empresário pensa duas vezes antes", explica o economista Jorge Jatobá, sócio da consultoria Ceplan e secretário do Ministério do Trabalho durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Férias remuneradas, plano de saúde e licença-maternidade são alguns dos benefícios que as empresas americanas são desobrigadas de conceder. "Mas há outro fator mais sistêmico, que é a nossa perda de produtividade. Isso significa que para produzir a mesma quantidade precisamos de muito mais gente, o que acomoda o emprego em patamares que normalmente não seriam necessários", diz Jatobá. "A primeira grande consequência de uma recessão é o desemprego, e é por isso que é difícil imaginar com clareza que o momento atual do Brasil tenha sido uma", diz Paulo Picchetti, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e um dos membros do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), comissão associada à FGV destinada a pesquisar e datar os momentos de recessão no país. Foi de Picchetti a sugestão para o novo nome - "eu falo que o Brasil estaria criando um termo novo, uma 'jobfulrecession', uma recessão com o desemprego no menor nível da serie histórica". O Produto Interno Bruto (PIB), como manda o manual, caiu: foi uma queda de 0,2% no primeiro trimestre seguida de outra de 0,6% no segundo. Além disso, há diversos fatores que coincidem com o desempenho dos piores momentos de um país, caso da crise na indústria, dos investimentos virtualmente paralisados e também da confiança de empresários e de consumidores em níveis baixíssimos. Apesar disso, contrariando as teorias, não há desemprego. Pelo contrário, em agosto ele marcou 5%, a menor taxa no mês de toda a série, iniciada em 2002. Poderia ser apenas um dos vários indicadores do comportamento econômico fugindo do padrão, o que não é de todo incomum. O único detalhe é que o emprego está no centro do que divide a economia que está bem da economia que está mal. Não só níveis baixos de tecnologia e inovação estão na conta da baixa produtividade que salva o emprego, mas também a infraestrutura contraproducente e o baixo nível de escolaridade e especialização dos trabalhadores. A economista Eliana Cardoso, ex-assessora especial do Banco Mundial para a América Latina, destaca também que não é só uma questão de se 17
perder produtividade na indústria, mas o simples fato de a indústria perder participação faz a economia como um todo ser menos produtiva. "É na indústria que está o grosso da produtividade e da inovação", diz. "Boa parte dos empregos no entanto veio dos outros setores, dos serviços e do comércio, em que o valor que o trabalhador acrescenta ao produto é menor", afirma Eliana. É essa troca nos pesos da balança uma das explicações para a fotografia final, mas pouco precisa, de um país sem desemprego. "O fortalecimento do consumo fez com que os serviços absorvessem a mão de obra", diz Picchetti, da FGV. É o que explica, em parte, a indústria já vir demitindo e a taxa de desemprego se mexer muito pouco. "A indústria já está em recessão. São três anos demitindo, quatro trimestres de quedas e de quedas fortes. Nela não falta mais nada." Nos Estados Unidos, a primeira recessão com traços de uma "joblessrecovery" foi a de 1990 e 1991, período da Guerra do Golfo: o fim dela foi identificado em março de 1991, mês em que o PIB americano atingiu a mínima. Dali para frente voltaria a crescer, mas as empresas continuaram demitindo por mais um ano e meio depois disso. Para se ter uma ideia, na recessão de 1973, após o choque do petróleo, o PIB voltou a crescer em março de 1975 - em maio o desemprego já passou a cair. O Codace, o comitê de ciclos econômicos de que Picchetti faz parte, foi criado em 2009 com a intenção de que o Brasil tivesse um órgão especializado e independente para datar com mais precisão e profundidade os momentos em que a economia brasileira passou por uma recessão. Segue os moldes do Centro Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês), que desde os anos 1970 data o início e a duração dos momentos de expansão e de recessão da economia americana. "Uma recessão é um declínio significativo na atividade espalhado por toda a economia, por mais do que alguns meses, e visível na produção industrial, no emprego, na renda real e nas vendas do comércio varejista e atacadista", diz a definição oficial do NBER, que faz questão de frisar o "significativo" e "espalhado" que adjetivam o "declínio". Um dos objetivos do órgão é justamente combater a visão simplista de que para uma recessão bastam dois trimestres seguidos de queda - na recessão americana de 2001, por exemplo, foram duas quedas intercaladas por uma alta. "A recessão clássica nunca é expressa em uma única variável, ela é uma queda generalizada e por isso é tão difícil avaliar a recessão técnica que tivemos", disse Picchetti. De 1980 até aqui, o Codace reconheceu oito momentos em que isso aconteceu, mas nenhum deles, garante o especialista, foi tão intrigante quanto o atual - "a discussão era se havia começado no primeiro ou no segundo trimestre. As outras foram muito fáceis."
Dólar em alta é risco importante para trajetória da inflação Fonte Jornal Valor Econômico Arícia Martins de São Paulo 06/10/2014 às 05h00 A queda das commodities agrícolas e a demanda interna mais fraca devem reduzir o impacto da disparada do dólar na inflação, avaliam economistas, mas o câmbio é considerado um importante risco para a trajetória dos preços na reta final do ano. Analistas consultados pelo Valor mantiveram suas estimativas para a alta do Índice Nacional de Preços ao 18
Consumidor Amplo (IPCA) em 2014, mas não descartam que a maior volatilidade devido às eleições leve a uma depreciação mais relevante do real. A moeda americana encerrou a semana cotada em R$ 2,46, com alta de 2,6% em relação à semana anterior. A Tendências elevou recentemente sua projeção para a cotação ao final de 2014, de R$ 2,18 para R$ 2,32, mas a previsão para o aumento do IPCA no ano ficou em 6,1%. O cenário principal da consultoria conta com vitória da oposição nas eleições presidenciais e, por isso, é esperado que o dólar não se mantenha nos altos patamares atuais, afirma a economista Adriana Molinari, em função de uma melhora das expectativas. Adriana pondera, no entanto, que o quadro eleitoral ainda pode trazer muita instabilidade à variação da taxa de câmbio, o que a torna o principal risco para a inflação em 2014. Do outro lado, as cotações de commodities devem continuar em patamar baixo até 2015. Além disso, a desaceleração da atividade doméstica não favorece repasses de preços, fatores que podem mitigar reajustes no IPCA. A safra de grãos nos EUA e os estoques no mercado externo contribuem para que os preços continuem em trajetória de queda até o fim do ano", afirmou. Nos cálculos da economista, uma depreciação cambial de 10% adiciona 0,5 ponto ao indicador oficial de inflação num horizonte de quatro trimestres. Tendo em vista o cenário atual da consultoria, o impacto estimado do dólar na inflação será de apenas 0,14 ponto percentual nos últimos três meses de 2014, já que o real deve se desvalorizar em 2,8% sobre a média do último trimestre de 2013. Na sexta-feira passada, a equipe econômica do Itaú Unibanco aumentou ligeiramente sua estimativa para o IPCA de 2014, de 6,3% para 6,4%, mas não em função do câmbio. A revisão foi feita após a surpresa com a alta de 0,39% da prévia da inflação de setembro, que ficou acima do previsto. Sobre o dólar, os economistas do banco apontam em relatório que o movimento recente, que veio na esteira do cenário internacional, confirmou a expectativa de depreciação do real neste e no próximo ano. O Itaú manteve suas estimativas para o dólar ao fim de 2014 e 2015 em R$ 2,40 e R$ 2,50, respectivamente. A trajetória do câmbio é uma fonte de incertezas maior para a inflação do próximo ano do que para o índice de 2014, diz Fabio Romão, da LCA Consultores, porque depende de quem vencerá as eleições e da reação do mercado ao resultado. A consultoria projeta há um bom tempo que a taxa de câmbio vai chegar a R$ 2,45 na média de dezembro de 2014, muito acima do patamar médio registrado em setembro, de R$ 2,33. Esse cenário já está incorporado na estimativa de 6,3% para o avanço do IPCA deste ano. Romão diz que não deve mudar sua projeção para a inflação deste ano, porque os preços do atacado seguem em nível bastante comportado, enquanto a desaceleração da renda pode mitigar reajustes em itens do IPCA como passagens aéreas, bens duráveis e semiduráveis. A LCA também trabalha com alta de 6,3% para o IPCA de 2015, com o dólar cotado em R$ 2,55 ao fim do ano. Neste caso, porém, a previsão é mais incerta.
Mais famílias planejam poupar no 3º trimestre Fonte Jornal Valor Econômico Arícia Martins de São Paulo 06/10/2014 às 05h 00 O orçamento do consumidor brasileiro está mais apertado, mas o esforço para poupar entre aqueles que contam com alguma folga ficou maior neste terceiro trimestre. É o que mostra pesquisa feita pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomercio RJ) em parceria com a Ipsos em todo o país. De acordo com o levantamento, o total de famílias com 19
sobra na renda após a quitação de todas as despesas do mês caiu de 32,6% em julho de 2013 para 27,7% em igual mês deste ano. Entre esse grupo, 62% dos consultados afirmaram que poupar seria o principal destino do dinheiro excedente, maior nível para o mês de julho desde o começo da série histórica da pesquisa, em 2007. O dado reforça pesquisa anterior feita pelas duas entidades, que aponta crescimento de 3,1 pontos percentuais na parcela de famílias brasileiras que possuem algum dinheiro guardado: de 16,2% em julho de 2013 para 19,3% no mesmo período de 2014. Este percentual também é o recorde de alta da sondagem, que teve início em 2006. Para Christian Travassos, gerente de economia da Fecomercio do Rio, os números refletem uma adaptação do consumidor brasileiro à conjuntura mais adversa, com aumento da inflação, estagnação da atividade econômica e perda de fôlego do mercado de trabalho. "Tanto a pesquisa sobre o perfil econômico do consumidor como a de poupança apontam para uma cautela, que já é medida nos indicadores econômicos", diz Travassos. Na avaliação do economista, a menor folga detectada no orçamento das famílias não está relacionada a um patamar mais elevado de endividamento, mas sim a um aumento na fatia destinada aos gastos correntes, na esteira da inflação mais pressionada, que tem reduzido continuamente o poder de compra. Segundo o levantamento a respeito do perfil econômico do consumidor, a quantidade de entrevistados que estava pagando algum tipo de parcelamento, que era de 47,9% em julho de 2013, caiu para 39,5% neste ano, menor percentual para um mês desde julho desde 2009. Nesse quesito, a fatia daqueles que possuem financiamento de veículo foi a que mais recuou em um ano, de 14,6% em julho de 2013 para 10,4% em igual mês de 2014. Apenas 14,5% dos consultados pela Fecomercio pretendiam comprar bens duráveis nos próximos três meses, 1,2 ponto a menos do que o registrado em igual mês de 2013. "Os juros ascendentes e a retirada de incentivos fiscais têm efeito muito direto sobre a tomada de decisão do consumidor", diz Travassos. Segundo ele, o volume de vendas no varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção) deve crescer entre 4% e 5% em 2014 e também no próximo ano. Em 2013, esse índice cresceu 4,3%.
Cristina busca opções para o pós-kirchnerismo Fonte Jornal Valor Econômico Marli Olmos de Buenos Aires06/10/2014 às 05h00 A um ano da eleição presidencial na Argentina, o atual governo ainda não lançou nenhum candidato. Mas o kirchenerismo começa a jogar balões de ensaio para saber que cota de poder conseguirá manter a partir da mudança de governo. Um dos ensaios mais recentes foi o primeiro ato publico de Máximo Kirchner, filho da presidente Cristina, que discursou em favor de uma utópica reeleição da mãe, impedida pela Constituição de voltar a disputar o cargo. Defender a reeleição de alguém que não pode concorrer tem várias interpretações. Para o analista político Juan Germano, isso sinaliza que o governo efetivamente não apoiará nenhum candidato. Pode, ainda, ser um teste para avaliar a reação pública diante da possibilidade de Cristina disputar a eleição presidencial seguinte, em 2019. Mas o desgaste provocado por uma crise econômica que tende a se agravar é o maior obstáculo nessa longa jornada. 20
Num discurso de 30 minutos, o filho de Cristina, que tem 37 anos, pediu desculpas por não ter o dom da oratória. O público que lotou o estádio do Argentinos Juniors, usado para o evento, era formado por militantes da La Cámpora, facção da juventude kirchenerista, comandada por Máximo. Foi ali que ele lançou sua fantasia: "Se Cristina está tão mal e não serve, se querem acabar com o kirchenerismo, por que não competem com ela e a vencem?" A reeleição que Máximo defende dependeria de uma reforma constitucional que deixou de ser viável quando a oposição venceu as eleições legislativas, há um ano. Chegou-se a comentar que Máximo estaria na disputa para prefeito de Rio Gallegos, cargo que o pai, Néstor, ocupou nos anos 90, antes de ser presidente da República. Mas, segundo analistas, as pesquisas com os eleitores não são favoráveis ao herdeiro de Cristina. O discurso de Máximo deixou em dúvidas quem apostava no ministro do Interior e Transporte, FlorencioRandazzo, como provável candidato do governo à eleição de 2015. E pode ter minado a hipótese de o ministro da Economia, Axel Kicillof, concorrer à Presidência, como chegou-se a comentar. Os kircheneristas, incluindo Cristina, apostam na La Cámpora como um celeiro de futuros líderes. Mas, por enquanto, a facção não consegue avançar num jogo eleitoral porque se sustenta na força da máquina do governo. "La Cámpora é um movimento associado ao poder. Não tem base social ou de contestação sindical, como foi a origem do PT no Brasil", diz o analista político Sérgio Berensztein. Ele lembra que os militantes desse grupo só se destacam por meio de cargos públicos, como no caso de Mariano Racalde, presidente da Aerolíneas Argentinas. As pesquisas de intenção de voto indicam que, por enquanto, as maiores chances de vitórias na eleição presidencial em 2015 estão com o deputado Sérgio Massa e com o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli. Ambos são peronistas. Mas enquanto Massa faz forte oposição ao atual governo, Scioli já se mostrou mais próximo ao kirchenerismo em algumas ocasiões. As intenções de votos para o atual prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, candidato não peronista, avançaram recentemente, o que FulvioPompeo, diretor de assuntos internacionais do PRO, partido de Macri, avalia como uma aspiração de mudança no país. Se Cristina, que obteve 54% dos votos na sua reeleição em 2011, pudesse se candidatar hoje, possivelmente iria para o segundo turno, segundo pesquisas. Mas não venceria a eleição, diz Juan Germano, diretor da Isonomia, que organiza pesquisas. "A rejeição ao governo vai além da impossibilidade de Cristina candidatar-se. Trata-se de uma situação econômica complexa", destaca. Não há dúvidas, porém, de que Cristina receberia suficiente quantidade de votos para disputar uma vaga no Congresso, mas nem todos apostam nessa estratégia. Embora 2019 esteja muito distante, notadamente num país marcado por mudanças constantes, como é a Argentina, discute-se a possibilidade de Cristina começar a preparar o terreno para tentar uma futura candidatura a presidente. Para Berensztein, é possível que ela pense em espelhar-se em Michelle Bachelet, presidente do Chile, que voltou ao poder este ano, depois da gestão do empresário SebastiánPiñera. Nesse caso, Cristina contaria com o desgaste do seu sucessor, a quem caberá as medidas de ajuste mais duras ao final do ciclo do kirchnerismo. Essa é, no entanto, uma aposta que poucos acham que daria certo.
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Demanda cai, oferta cresce e era do ferro chega ao fim Fonte James Wilson e Neil Hume Financial Times 06/10/2014 às 05h 00 O ferro é um dos elementos mais abundantes na Terra, mas extraí-lo do solo de forma eficiente pode ser uma árdua tarefa. Serpenteando pelas baixas montanhas esverdeadas do sul do Brasil há um mineroduto de 530 quilômetros, uma conexão decisiva do projeto MinasRio, de US$ 8,2 bilhões, da Anglo American, para extrair minério de ferro do interior do país e transportá-lo a um novo porto no Oceano Atlântico. Com custo final bem acima do orçamento original, de US$ 3,6 bilhões, e com dois anos de atraso, o Minas-Rio enfim está próximo de começar a transportar minério para os navios. Por anos, projetos de mineração gigantescos como esse consistiram na espinha dorsal da expansão econômica mundial. O minério de ferro, commodity mais importante do mundo depois do petróleo, vinha sendo devorado pelas siderúrgicas chinesas, consolidando-se como a principal matéria-prima da onda de crescimento mundial puxada por obras de infraestrutura. O Minas-Rio, no entanto, está para entregar suas primeiras remessas em um mundo bem menos acolhedor. O preço do minério de ferro despencou mais de 40% no ano, o pior desempenho entre os metais e as commodities a granel em 2014. De um preço médio de US$ 135 por tonelada em 2013, o contrato referencial do minério de ferro na semana retrasada caiu para menos de US$ 80 pela primeira vez desde a crise financeira mundial. "O mercado de minério de ferro está em meio a uma transição sem precedentes na recente história das commodities", segundo o banco australiano Macquarie. Por trás da mudança há um grande aumento nas exportações de minério de ferro - não apenas as novas 26,5 milhões de toneladas que o Minas-Rio vai trazer ao mercado quando estiver operando integralmente em 2016. Vale, Rio Tinto e BHP Billiton, os três produtores dominantes no mundo, elevaram sua produção combinada de menos de 700 milhões de toneladas, há três anos, para bem mais de 800 milhões de toneladas, com planos para aumentá-la ainda mais em poucos anos, para 1 bilhão de toneladas. A Fortescue, quarta maior produtora, viu sua produção subir de 41 milhões para 124 milhões de toneladas no mesmo período e prevê chegar a 155 milhões neste ano. A Hancock Prospecting projeta ter 55 milhões de toneladas adicionais por ano na mina Roy Hill, na Austrália, que começará a enviar suas remessas em 2015. Mark Cutifani, executivo-chefe da Anglo American, diz que as mineradoras "cozinharam demais a torta da oferta", em meio à onda de alta das commodities - e o minério de ferro é o exemplo mais revelador disso. O tsunami de oferta não é o único fator a pesar sobre os preços. Receios quanto à desaceleração da demanda na China, maior produtor de aço e maior importador de minério de ferro por mar do mundo, também influenciam. "Tendo em vista que dois terços do minério de ferro comercializado acabam na China, a demanda chinesa por minério e a produção doméstica chinesa são fatores importantes para o preço mundial", afirma a consultoria CRU, de Londres. A desaceleração no setor imobiliário residencial da China, onde a expansão da construção civil deixou muitas áreas em situação de excesso de oferta e de queda de preços, levou ao enfraquecimento da demanda por aço. Diferentemente do ocorrido durante a grande onda de 22
vendas de 2012, quando estímulos do governo ajudaram os preços a se recuperar, é improvável que desta vez Pequim altere sua política drasticamente. "Se a oferta foi o motivo da fraqueza do minério de ferro na primeira metade do ano, o problema agora é a demanda", diz Colin Hamilton, chefe de análise de commodities no Macquarie. Recente informe do Goldman Sachs alertou para o potencial de uma longa tendência de declínio dos preços. Em 2014, houve "um ponto de inflexão, em que a nova capacidade de produção finalmente se equiparou ao crescimento da demanda e as margens de lucro iniciaram sua reversão para a média histórica [...] o fim da Era do Ferro chegou." Tendo em vista que o minério de ferro representa entre 50% e 90% do lucro das três maiores mineradoras do mundo, uma forte queda nos preços alarmaria os acionistas, que clamam por melhores retornos num setor cujo desempenho já é considerado insuficiente. A BHP Billiton engavetou um plano de recompra de ações em agosto, atribuindo a decisão à deterioração da perspectiva de preços das commodities. Para os produtores de menor escala em países emergentes, os problemas são existenciais; e até reformulações, com mudanças de controle, estão em discussão. Na África Ocidental, alguns dos países mais pobres do mundo haviam depositado suas esperanças de desenvolvimento, em parte, no minério de ferro. Mas em Serra Leoa e Libéria, mineradoras menores, como a AfricanMinerals e a London Mining batalham para levantar dinheiro e evitar um colapso. No início de setembro, as ações da London Mining, listada em Londres, caíram mais de 60% depois de a mineradora ter comunicado que precisava de mais fundos e negociava uma injeção de capital com um investidor. Que as mineradoras tenham colaborado tanto para reduzir os preços ao elevar demais a oferta é, para alguns, o exemplo perfeito da capacidade cíclica que o setor demonstra de sempre mirar as estrelas, mas acabar acertando o próprio pé. "O crescimento do minério de ferro é bom, mas é preciso prestar atenção à oferta. O minério de ferro está sob pressão, porque todos estão somando-se a esse aumento [de produção]", afirma Ivan Glasenberg, executivochefe da Glencore, a maior mineradora sem minas de minério de ferro. EvyHambro, chefe da equipe de renda variável de recursos naturais do BlackRock, diz que "as grandes vêm mostrando maior disciplina fiscal, mas precisam manter-se nesse caminho. O mercado de minério de ferro já está em superávit [de oferta], portanto as mineradoras precisam decidir se é ou não sensato gastar mais dinheiro somando toneladas adicionais". Os grandes produtores argumentam que agem de forma lógica. Por terem vastas operações e custos menores, presumem que podem suportar a queda nos preços, enquanto as rivais precisam abandonar o mercado. O executivo-chefe da Rio Tinto, Sam Walsh, insiste que isso está funcionando. Calcula que 85 milhões de toneladas já deixaram de entrar no mercado por não terem preços competitivos e espera que mais 125 milhões sigam o mesmo caminho até o fim do ano. "Obviamente, vem ocorrendo um ajuste [...] Tudo isso é oferta e demanda em funcionamento", diz Walsh. Ele acredita que o mercado apresenta às mineradoras um "dilema do prisioneiro". Nenhuma empresa pode abster-se de produzir mais: as demais preencheriam a lacuna e o preço cairia da mesma forma. As concorrentes ganhariam um "pênalti" para cobrar. "As pessoas, de forma bem simplista, dizem 'Se você tirar 100 milhões de toneladas, não estaríamos todos bem melhor?'", diz. "A resposta é não. Parte dessa capacidade vai entrar, 23
vinda de outras partes." A Rio Tinto, a produtora com menor custo, "deveria ser a última a cortar capacidade". As ações das mineradoras também podem ser vistas como uma tentativa de separar-se das concorrentes. O trio de empresas que domina o mercado - Rio Tinto, BHP Billiton e Vale - pode crescer em número: a Fortescue vai produzir neste ano a metade do que a Vale, tendo começado do zero em 2008. O executivo-chefe da Fortescue, Nev Power, diz que sua empresa ajudou a trazer os preços do minério de volta para um patamar "mais sustentável e competitivo". Um executivo de um projeto de minério de ferro africano comenta que as maiores mineradoras já "abriram a porta para a Fortescue. A última coisa que querem fazer [agora] é abrir a porta para produtores na África Ocidental". "Então, eles estão elevando a tonelagem. Querem acabar com os outros produtores e fazer todo mundo morrer de medo para que ninguém mais construa outra mina de minério de ferro." Até agora, no entanto, a oferta não influenciou o mercado como ditaria a lógica econômica. Houve cortes de produtores secundários em países como Irã, Indonésia e México, assim como em minas privadas de alto custo na própria China. Outras atividades da mineração chinesa e da indústria siderúrgica, no entanto, são controladas por grandes siderúrgicas estatais, em que a prioridade são os empregos, não lucros. "A reação dos produtores de alto custo [...] certamente vem sendo bem mais lenta do que eu esperaria e do que a maioria no setor imaginaria", disse Power. "Mas, inevitavelmente, isso precisa acontecer [...] então, o preço do minério de ferro vai ficar baixo por tempo suficiente para que essa oferta saia do mercado. Essa é uma realidade econômica." A demanda também não dá sinais de que voltará aos altos patamares dos últimos dez anos. O vice-presidente da Associação Chinesa do Aço e Ferro disse em conferência na semana retrasada que o consumo aparente de aço bruto pela China - ou seja, excluindo as exportações líquidas - caiu 1,9%, para 61,9 milhões de toneladas em agosto. Foi o primeiro declínio em 14 anos. Hamilton diz que as usinas chinesas vêm reduzindo a produção de forma acentuada porque a demanda está fraca e não podem vender mais para um mercado de exportação saturado. "Nesse ambiente, vão querer ter menos minério de ferro, em particular porque os preços do aço estão caindo mais do que os do minério de ferro atualmente", diz. Os contratos futuros de vergalhões, um produto siderúrgico usado na construção, atingiram seus menores preços históricos. Os baixos preços do minério de ferro são o "novo status quo", disse o presidente da Baoshan Iron & Steel, segunda maior siderúrgica da China, na conferência. Tim Murray, da J Capital Research, vê uma correção em andamento nos preços do mercado imobiliário chinês, com o índice de novas construções tendo ficado negativo por cinco meses consecutivos. "Veremos uma redução de 20% na demanda da construção nos próximos 12 meses." Além dos problemas de curto prazo de demanda, há uma preocupação maior, a de que o apetite chinês por aço - e, portanto, também por minério de ferro - esteja chegando a seu pico. A firma de consultoria CRU, contudo, avalia que o "pico do aço" vai demorar pelo menos mais cinco anos para chegar, já que o país continua a ter crescimento absoluto na construção civil. 24
As mineradoras identificam perspectivas de crescimento de longo prazo em outras regiões, como Índia e África. Ainda assim, embora ambas possam acabar seguindo a trajetória da China, não o fariam com o mesmo vigor. As grandes mineradoras de minério de ferro ainda não se deixaram dominar pelo pânico. Segundo analistas do UBS, a Rio Tinto e a BHP Billiton podem equilibrar custos e receitas entregando minério de ferro da Austrália para a China a preços mínimos de até US$ 45 e US$ 50, respectivamente. "Mesmo com o minério de ferro a US$ 80 já é um negócio realmente muito bom", afirma Chris LaFemina, analista do Jefferies. Se as mineradoras tiverem avaliado mal, no entanto, e os preços do minério de ferro caírem ainda mais, a sacudida poderia afetar os acionistas. A corretora britânica Liberum acredita que, pelos atuais preços do minério de ferro, nem Rio Tinto nem BHP Billiton podem cumprir suas promessas de retorno de capital para 2015 e ao mesmo tempo manter suas metas de endividamento líquido, embora outros analistas mostrem-se mais confiantes quanto à capacidade de as mineradoras cumprirem seus planos. Na Anglo American, não se fala sobre a segunda fase do Minas-Rio, que antes era tão aguardada, mas da satisfação com outros produtos da mineradora, como diamantes e cobre, que proporcionam certa proteção contra a batalha sendo travada no mercado de minério de ferro. "Tenho nove outras commodities com prognósticos diferentes [dos do minério de ferro]", diz o executivo-chefe Cutifani. "Vamos esperar que o mercado de minério de ferro caia de volta a um equilíbrio razoável."
Focus: Mercado eleva previsão para o dólar e para a inflação em 2014 Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 06/10/2014 às 08h 54 SÃO PAULO - Os analistas do mercado financeiro elevaram suas estimativas para o dólar e para a inflação ao mesmo tempo em que voltaram a reduzir a aposta para o crescimento da economia, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. A mediana das previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano subiu de 6,31% para 6,32% e a projeção para o indicador em 12 meses saiu de 6,33% para 6,38%. Também aumentou a expectativa para o IPCA de setembro, de 0,43% para 0,44%, que será divulgado na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A projeção para 2015 seguiu em 6,30%. Após semanas em alta, o câmbio tem sido considerado um importante risco para a trajetória da inflação, apesar da queda das commodities agrícolas e da demanda interna mais fraca, como mostra reportagem publicada nesta segunda-feira pelo Valor. No Focus, a mediana das projeções para o dólar ao fim de 2014 subiu de R$ 2,35 para R$ 2,40 e, para o fim de 2015, de R$ 2,45 para R$ 2,50. Apesar da inflação mais alta, os analistas não veem mudança nos juros este ano e acreditam que a Selic vai seguir nos atuais 11%. Apenas em 2015 haveria um aperto monetário. Eles veem a taxa básica em 11,88% ao fim do próximo ano, uma aposta mais alta que a de 11,38% da semana anterior.
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Entre os analistas Top 5 – aqueles que mais acertam as previsões – tudo ficou igual. A mediana de médio prazo para o IPCA seguiu em 6,31% e 6,40% e a da Selic em 11% e 12%, em 2014 e 2015, respectivamente. Atividade Enquanto isso, a expectativa para o crescimento da economia e para o desempenho da indústria continua se deteriorando. Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB), a mediana das estimativas do Focus caiu de 0,29% para 0,24%.Foi a 19ª revisão consecutiva para baixo. Para 2015, a projeção passou de 1,01% para 1%. Quanto à indústria, a mediana para este ano saiu de queda de 1,95% para contração de 2,14%. Para o ano que vem, saiu de alta de 1,50% para avanço de 1,4%. Na semana passada, o IBGE informou que a produção industrial de agosto aumentou 0,7%, número acima da expectativa média do mercado. Em julho, o setor apresentou crescimento também de 0,7%. Apesar disso, analistas não viram nesse desempenho um indicativo de recuperação já que o aumento foi creditado a uma base de comparação baixa. Antes de voltar a subir em julho, a indústria vinha de perdas em quatro meses consecutivos, quando acumulou queda de 3,4% na produção.
Luiz Carlos Bresser-Pereira: O grande acordo das elites Fonte Folha de São Paulo 06/10/2014 02h 00 O Brasil precisa dramaticamente de um acordo nacional que recoloque os preços básicos (macroeconômicos) no lugar certo e faça o Brasil retomar o desenvolvimento. É necessário que a taxa de juros básica volte a ser civilizada; que a taxa de câmbio volte a ser competitiva; que a taxa de lucro esperada se torne satisfatória para os empresários e que eles voltem a investir; que os salários cresçam de acordo com a produtividade; e que a taxa de inflação se mantenha em nível aceitável. O país precisa de um acordo nacional que tire a economia da armadilha de juros altos, do câmbio apreciado (baixo) e da taxa de lucro esperada insatisfatória que inviabiliza o crescimento. Esse acordo não vai unir a todos. Ou será um acordo desenvolvimentista, que reunirá empresários, trabalhadores e a burocracia pública em torno das ideias de nação e desenvolvimento, ou será um acordo liberal, reunindo rentistas, financistas e interesses estrangeiros e atenderá apenas aos interesses dos ricos. Ou continuaremos a nos defrontar com um vazio político, como temos visto nesta campanha, na qual os candidatos não têm uma proposta. Não existe um acordo nacional, mas existe um "grande acordo" que pode ser enunciado de maneira bem simples: aos rentistas, juros altos; às grandes empresas, taxa de juros subsidiada do BNDES; aos pobres, despesas sociais elevadas; e para todos, câmbio apreciado. Desse acordo perverso só uma proposição coincide com o bem público: as despesas sociais elevadas. Elas constituem um salário indireto eficiente e mais justo porque proporcionam a elevação do padrão de vida de forma mais igual e a um custo menor do que o que haveria se ele se expressasse em salários diretos. Um nível de taxa de juros real elevado é a demanda dos capitalistas rentistas, que vivem de juros, aluguéis e dividendos, e dos financistas, que administram a riqueza dos primeiros. É a demanda da coalizão de classes neoliberal, que perdeu grande parte do seu poder nos países ricos desde que suas políticas causaram a crise de 2008, mas que ainda continua poderosa no Brasil. 26
Eu falo em "nível" da taxa de juros porque o Banco Central precisa conservar seu poder de conduzir a política monetária. Em vez de fazer que ela varie em torno de 5% reais, ela deve variar em torno de, no máximo, 2% reais. Os juros subsidiados do BNDES (a TJLP, Taxa de Juros de Longo Prazo) é a demanda das grandes empresas que condicionam seus investimentos a uma taxa de juros moderada. Como o poder rentista impede a diminuição do nível da taxa de juros, a solução necessária é a TJLP. Mas como ficam, então, as pequenas e médias empresas? Poucas têm acesso ao BNDES. E como ficam todos os que pagam impostos? Finalmente, uma taxa de câmbio sobreapreciada no longo prazo aumenta artificialmente os rendimentos de todos, sejam eles trabalhadores, empresários ou rentistas. E permite que todos consumam mais do que a economia permite, ao mesmo tempo em que inviabiliza os investimentos na indústria e condena o país ao baixo crescimento. O que tinham os candidatos a dizer a respeito? Muito pouco. Ou porque não se davam conta do problema e pensavam que basta fazer ajustamento fiscal para que o equilíbrio macroeconômico seja recuperado (Aécio e Marina), ou porque sabiam que o problema existe, mas, como foi o caso de Dilma que, como não teve poder para resolvê-lo, calou-se. A presidente bem que tentou baixar os juros e depreciar o câmbio, mas parou na metade do caminho e teve que recuar, pois não fez ao mesmo tempo o ajuste fiscal necessário e porque não teve o apoio das elites brasileiras, que estão acomodadas com seu "grande acordo". E porque nem as elites, nem o povo está disposto a incorrer nos custos de um acordo nacional: preferem o consumo imediato que o câmbio apreciado proporciona.
Wilen Manteli: Eleições e o apagão logístico Fonte Folha de São Paulo 06/10/2014 02h 00 Em tempo de eleição, muito se fala de evitar apagões na área de energia e de abastecimento de água. Mas existe ainda outra ameaça ao desenvolvimento do Brasil: a do apagão logístico, que diz respeito à situação do entorno dos terminais portuários e das rodovias e ferrovias. Nos últimos cinco anos, a movimentação dos portos partiu de 768 milhões para 931 milhões de toneladas, crescendo 21%. O investimento, no entanto, não correspondeu a essa ampliação, sendo que o governo investiu R$ 800 milhões (média dos últimos dez anos), enquanto a iniciativa privada destinou R$ 1,6 bilhão, ou seja, o dobro. Os portos são essenciais para o saldo positivo da balança comercial de qualquer país, pois são responsáveis pela circulação da riqueza produzida internamente –exportações– e também pelas importações. O porto de Roterdã, na Holanda, principal complexo de cargas do continente europeu, opera em uma das regiões com maior concorrência entre portos e, ainda assim, continua crescendo e atraindo novos investimentos. O mercado mais competitivo faz com que a eficiência aumente e os custos sejam reduzidos. O resultado disso é que, na ponta final, alimentos e outros produtos de primeira necessidade chegam com preço inferior à casa da população e o custo de vida diminui. Embora a eficiência dos terminais portuários brasileiros seja comparada à dos portos de países do primeiro mundo, enfrentamos entraves em quatro áreas principais. Na infraestrutura, falta investimentos em acessos terrestres e aquaviários. Há insegurança jurídica, pois contratos são firmados e depois há dificuldades para serem renovados ou mudam-se as regras. A governança é prejudicada por causa da superregulação, que leva à morosidade nas decisões. A relação capital-trabalho limita a contratação de trabalhadores e dificulta a capacitação desses profissionais. Para um terminal portuário entrar em funcionamento são necessários, mais ou menos, oito anos, sendo quatro deles só para a obtenção de licenciamento ambiental. Para liberar um navio, o processo depende de cerca de 26 órgãos fiscalizadores e mais de 935 documentos. 27
O apagão logístico vai ocorrer no país se o governo não fizer a sua parte e se, além disso, desestimular que a iniciativa privada faça a dela. Com a edição da nova Lei dos Portos há pouco mais de um ano, o governo buscou trazer melhorias ao setor. Na prática, porém, avançamos pouco. A principal mudança foi a permissão concedida aos terminais privados, que pertencem a empresas, de operarem também para outras companhias. Diante desse cenário, a ABPT (Associação Brasileira dos Terminais Portuários) elaborou um documento que foi apresentado às equipes dos principais presidenciáveis, com o objetivo de consolidar os avanços e promover a evolução do setor. As ideias foram bem recebidas por todos, que se dispuseram a manter um fórum após a definição das eleições, para aprofundar os pontos. As mais de 80 empresas associadas à ABTP pretendem investir cerca de R$ 44 bilhões no setor nos próximos dez anos. É um montante do qual o país não pode prescindir, mas tudo depende de como o próximo presidente da República –seja Dilma Rousseff, seja Aécio Neves– vai receber as demandas da sociedade e implementar essas e outras propostas que interessam ao desenvolvimento econômico e social do país.
A nova desordem mundial Fonte Jornal Valor Econômico Víctor Pou06/10/2014 às 05h 00 Recentemente, completou-se o centenário do começo da Primeira Guerra Mundial, uma tragédia para o mundo e especialmente para a Europa. Embora hoje se argumente sobre a improbabilidade da repetição de uma hecatombe similar, comprova-se com preocupação uma rápida e perigosa deterioração da situação geopolítica mundial. O centro da deterioração não está na Europa, como em 1914, mas em sua vizinhança. Analistas prestigiados veem ecos inquietantes do verão europeu de 1914, diante da magnitude dos conflitos atuais na Ucrânia, Mediterrâneo e Oriente Médio, as áreas geográficas limítrofes com a Europa no leste e no sul. O grande paradoxo é que a economia e a política do mundo avançam por caminhos opostos: enquanto a primeira é global há décadas, a segunda retrocede para o tribalismo. O mundo vem se convertendo em um tabuleiro de grande complexidade e o jogo das relações internacionais remete ao equilíbrio de poderes do século XIX e princípios do XX que resultou na Primeira Guerra Mundial. De acordo com o presidente do centro de estudos BrookingsInstitution, de Washington, StrobeTalbott, existe perigo real de conflito entre grandes países. Na sua avaliação, os paralelos entre 1914 e 2014 são preocupantes. Talbott considera que hoje há três fenômentos perigosos: descontentamento mundial com os diferentes sistemas de governança; crescimento de novos nacionalismos radicais e acúmulo de conflitos concretos que ameaçam a estabilidade mundial. O veterano diplomata Henry Kissinger acaba de publicar o livro "World Order" (ordem mundial, em inglês), no qual explica a decomposição progressiva da velha ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial e avisa sobre as enormes dificuldades para tentar construir uma nova, que deveria estar baseada tanto em força quanto em legitimidade. O estrangulamento da velha ordem poderia conduzir a um novo período de anarquia e confrontação. É um estrangulamento que acredito já estar em curso, pela ação de quatro forças. A primeira consiste no declínio progressivo dos Estados Unidos (agravado pelos sucessivos erros do presidente Barack Obama na política exterior) e na persistente incapacidade da Europa em assumir um verdadeiro papel global. A segunda é a determinação do islamismo fanático e 28
radical em impor seu totalitarismo em grande escala. A terceira é a estratégia da Rússia de Putin para recuperar espaços territoriais perdidos após o desmoronamento da antiga União Soviética. A quarta é o avanço da China em direção à liderança do mundo, primeiro de caráter econômico e, depois, global. A essas quatro forças, poderíamos adicionar os esforços do Irã para transformar-se em potência militar atômica e líder regional. Na avaliação de outros analistas de destaque, como José IgnacioTorreblanca, representante em Madri do centro de estudos EuropeanCouncilonForeignRelations, as dificuldades que a velha ordem vêm enfrentando têm como foco principal o fator estatal. Por um lado, temos Estados que se desordenam e, por outro, temos Estados que negam a ordem internacional e suas normas, ou seja, que desordenam os demais. O primeiro problema, a desestabilização, é o padrão dominante nos conflitos no Oriente Médio. Por trás do denominado Estado Islâmico da Síria e do Iraque esconde-se uma verdade de consequências muito incômodas: na zona em que pretende edificar um califato islâmico, o Estado deixou de existir como forma de organização política e administrativa, dando lugar a uma violência sectária e religiosa de raízes tão profundas quanto difíceis de lidar. Além da Síria e do Iraque, outros Estados ficaram reduzidos a nada, como a Líbia, ou ainda querem nascer, como a Palestina. O segundo tipo de instabilidade provém dos Estados que desordenam ou pretendem desordenar, como Rússia, Irã e China. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente fixou as regras da nova ordem mundial e, agora, sequer parece disposto a adaptar essas normas, além de não ter capacidade para impôlas, nem saber como persuadir os demais a aceitá-las, convertendo-se em espectador passivo de seu próprio declínio. A capacidade de impacto mundial da União Europeia continua centrada no campo econômico, mas pesa muito menos no político, no militar e no demográfico. Uma Europa ensimesmada, que não consiga assumir um verdadeiro papel global no curto prazo, está condenada à irrelevância no século XXI. Na UE abriu-se um novo ciclo, depois das eleições de maio para o Parlamento Europeu, presidido pelo alemão Martin Schulz, e da designação de uma nova Comissão Europeia, presidida pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker. Também foram nomeados o novo presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, e a alta representante de Política Exterior e Segurança Comum, a italiana FedericaMogherini. Os principais desafios que se apresentam para os próximos cinco anos certamente são importantes. No plano interno, consistem em recuperar a confiança da cidadania, colocar em ordem a nova arquitetura do euro e evitar tendências centrífugas, como a possível saída do Reino Unido. Em termos internacionais, enfrentar a agressividade da Rússia, desenvolver uma nova política para o Mediterrâneo e Oriente Médio e afirmar-se como parte imprescindível na administração de assuntos globais. Os próximos cinco anos serão decisivos na vida da UE. Poderão ser testemunhas de uma reação necessária aos desafios mencionados ou testemunhas da continuidade da marcha rumo a sua própria irrelevância em um mundo cada vez mais desordenado.
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Um debate necessário Fonte Jornal Valor Econômico Gustavo Loyola06/10/2014 às 05h 00 A campanha eleitoral colocou na berlinda a questão da independência do Banco Central. Lamentavelmente, graças à empulhação perpetrada por um marketing político da pior espécie, o debate sobre esse importante tema descambou para o terreno do deboche e da sordidez. A independência (ou autonomia) do Banco Central é característica dos países democráticos e institucionalmente avançados. Ao contrário do que o marqueteiro oficial quer fazer crer, a independência do BC protege a instituição de pressões espúrias e permite o exercício mais efetivo e transparente de suas funções de preservação do poder de compra da moeda e da estabilidade financeira. Aliás, a ideia de que a independência do BC é contrária aos princípios democráticos é apenas um dos muitos equívocos que permeiam a discussão do assunto no Brasil nas últimas décadas. A necessidade da independência dos bancos centrais tem sido colocada no contexto da própria natureza da política monetária, cujos resultados ocorrem somente depois de decorrido um prazo razoável de tempo da sua execução. A influência benéfica da política monetária sobre os preços e o produto aflora com certa demora, havendo um período de tempo em que seus efeitos não são perceptíveis, embora seus custos já estejam sendo plenamente sentidos pela sociedade. Por causa disso, os bancos centrais ficam sujeitos a pressões das lideranças políticas e da opinião pública para utilizar indevidamente seus instrumentos de política monetária, abandonando objetivos de longo prazo em favor de ganhos passageiros e ilusórios de curto prazo. Além disso, a independência do BC protege a política monetária de pressões naturais relacionadas aos ciclos eleitorais, já que há sempre a tentação de utilizá-la para gerar episódios efêmeros de crescimento, com vistas à coleta de benefícios políticos imediatos. Vale ressaltar que a independência formal não impede de forma absoluta que o BC seja utilizado com fins eleitorais, mas torna transparente qualquer tentativa de fazê-lo. A independência dos bancos centrais viria como resposta a esses riscos. Isoladas das pressões políticas por resultados de curto prazo, essas instituições podem se dedicar a seus objetivos de forma mais eficiente e eficaz, sendo esta a razão pela qual se atribui mandatos estáveis e relativamente longos aos dirigentes dos bancos centrais. Uma crítica frequente à independência dos bancos centrais costuma compará-la ao estabelecimento de um "quarto poder", que se tornaria fonte de dificuldades para a condução das políticas públicas, mormente da política econômica. Trata-se, obviamente, de uma leitura equivocada. A autonomia do BC é sempre outorgada em caráter precário pelo Congresso Nacional, que é a verdadeira fonte do poder. O estatuto de independência do BC pode ser revogado a qualquer momento e sua autonomia é exercida sobre um terreno extremamente restrito e sujeito a fortes restrições, inclusive no que concerne à prestação de contas e a responsabilização perante o Executivo e o Legislativo. Desse modo, do ponto de vista político, a independência do Banco Central aumenta o controle da sociedade sobre a instituição, na medida em que suas ações se tornam mais transparentes e seus dirigentes passam a prestar contas regularmente à sociedade por meio do Poder Legislativo. Dar mandatos a seus dirigentes não os desobriga da prestação de contas à sociedade e nem lhes confere estabilidade absoluta em seus cargos. No Brasil, sob o ponto de vista institucional, resta pouco para que seja conferida a independência legal ao Banco Central. Os avanços das últimas décadas formaram um quadro 30
em que é possível a existência de uma autoridade monetária formalmente independente. A Constituição de 1988 proíbe expressamente o financiamento do Tesouro pelo Banco Central e veda sua atuação como banco de fomento, assim como impõe a necessidade de aprovação prévia dos nomes de seus dirigentes pelo Senado Federal. Por outro lado, a Lei de Responsabilidade Fiscal e outras normas legais estabeleceram uma moldura adequada disciplinando o relacionamento entre o Tesouro e o Banco Central. Dessa maneira, o que falta basicamente para a independência do BC é a atribuição de mandatos para seus dirigentes e a formalização de mecanismos de coordenação e de solução de conflitos entre a instituição e o Tesouro, especialmente nos campos da política cambial e de reservas internacionais. Vale ressaltar que o próprio regime de metas de inflação já explicita que o BC teria independência "de instrumentos" e não a "de objetivos", pois a meta de inflação não seria fixada pela instituição, mas sim por outra instância de governo. Por outro lado, como órgão regulador e supervisor bancário, a questão da autonomia do BC não seria estranha ao ambiente legal brasileiro, uma vez que outros reguladores - como é o caso da CVM - já adquiriram esse status.
A hora das tecnologias verdes Fonte Jornal Valor Econômico Lucas Salgado06/10/2014 às 05h00 As tecnologias verdes estão ganhando importância como alavanca de crescimento da economia global. Elas já movimentam um mercado de € 200 bilhões em todo o mundo. Entre os anos de 2008 e 2011, esse mercado avançou a uma taxa anual de 10%. Para efeito de comparação, no mesmo período a economia global cresceu abaixo de 3% ao ano. Enquanto isso, no Brasil, as tecnologias de produção mais eficientes e de menor impacto ambiental representam 0,8% do PIB e movimentam € 8 bilhões por ano. Impulsionado pelo setor de biocombustíveis e energia renováveis, o Brasil é o 4º país no ranking de vendas de tecnologias verdes em relação ao PIB. Na Dinamarca, país que lidera o ranking, o mercado "verde" já representa 3,1% do PIB, segundo estudo da WWF em parceria com a consultoria Roland Berger. Apesar de estar bem posicionado, o Brasil apresenta crescimento muito inferior em relação ao mercado global e ao seu potencial. Enquanto na China, nos Estados Unidos e na Alemanha o mercado de tecnologias verdes cresce mais de € 16 bilhões ao ano desde 2008, o mercado brasileiro cresce na casa dos € 500 milhões. A situação se repete quando analisamos o crescimento relativo. China e Alemanha tiveram um incremento das vendas de tecnologias verdes em relação ao PIB de 1,2 e 0,3 ponto percentual, respectivamente, entre 2008 e 2011. Em contrapartida, o Brasil não apresentou crescimento e, na verdade, registrou uma leve desaceleração. Se o país conta com uma série de vantagens comparativas, como um diversificado potencial bioenergético, ventos e radiação solar abundante, o que justifica a reduzida representatividade do Brasil nessa área? Muitos empresários alegam que a inexistência de um arcabouço institucional e regulatório, a baixa competitividade das tecnologias verdes em relação às tradicionais e a dificuldade de acesso a financiamento explicam esse quadro. Tais entraves, porém, não são obstáculos intransponíveis. O país já apresenta um arcabouço institucional e contexto de mercado favorável para as tecnologias verdes, em maior ou menor 31
grau, dependendo da indústria em questão. A Política Nacional de Resíduos Sólidos demanda a estruturação de uma cadeia produtiva; a micro-geração distribuída por consumidores de energia a partir das fontes solar e eólica já foi regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica; e o cenário de oferta restrita de energia e água são incentivos inequívocos para projetos de eco-eficiência nas indústrias. Outro exemplo marcante vem da área de transporte. Montadoras justificam que a baixa penetração de veículos elétricos no país é fruto da carga tributária que incide sobre esses veículos, o que faz com que o valor aqui no Brasil seja o dobro do valor do bem no porto de origem. Outro argumento é a existência de uma indústria nacional de biocombustíveis como o etanol. Entretanto, a existência de uma matriz elétrica limpa, programas como o Inovar Auto e o interesse e capital para inovação das "utilities" de energia formam um ambiente de negócios atrativo para a inovação. Somam-se os ganhos econômicos do lado do consumidor e do país. Com eficiência energética cinco vezes maior que os veículos convencionais, o consumidor economiza na hora de encher o tanque. Já o país ganha com a redução das emissões de poluentes e da dependência de combustíveis fósseis. O entrave, neste caso, parece ser a ausência de um modelo de negócio. Apostando no potencial das tecnologias verdes, várias organizações empresariais têm explorado a possibilidade de novos modelos de negócio. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) desenvolveu um modelo para destravar projetos de eficiência energética. Já o Instituto Ethos lançou o projeto "Negócios Sustentáveis: transformando ideias em modelos inovadores", que conecta empresas com especialistas em design, branding, modelagem de negócios e finanças para desenvolvimento de um modelo de negócio sustentável com a mesma solidez dos negócios tradicionais. O objetivo é que tal modelo funcione nos padrões atuais de mercado e sem a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias ou alterações do marco legal. A iniciativa baseia-se na premissa de que o desenvolvimento de modelos de negócios pioneiros e de sucesso incentivam a transformação da regulação e dos mecanismos de mercado. Nesse primeiro ano, o segmento de gestão de energia foi apontado como o mais atrativo, seja pela presença de um arcabouço regulatório favorável, como pela existência de linhas de financiamento com taxas subsidiadas. Esses fatores, somados às sinergias das empresas participantes, possibilitam que um negócio sustentável seja tão ou mais competitivo que os modelos tradicionais. Entre as oportunidades avaliadas destacam-se a microgeração distribuída solar, eficiência térmica na indústria e geração de energia por meio de resíduos sólidos urbanos. Somente a microgeração e geração distribuída possuem potencial de atingir 67 milhões de consumidores, atraindo investimentos de R$ 48,9 bilhões até 2030, segundo estudo da consultoria DNV Kema. O desenvolvimento de um negócio sustentável, competitivo e escalável demonstra a empresários, governo e sociedade civil que a transição para uma economia verde pode ser iniciada dentro dos padrões atuais de mercado. Por meio de iniciativas pioneiras cria-se não apenas uma nova via de desenvolvimento para a indústria nacional, mas também um instrumento que proporciona vantagem competitiva no momento em que houver uma transformação institucional favorável.
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