SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 07 DE JULHO DE 2014
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Inflação já opõe varejista a produtor e afeta as gôndolas em supermercados "Há duas semanas, fui ao supermercado e não tinha o molho que costumo comprar. Semana passada, ele estava de volta, mas era o macarrão da marca que eu gosto que estava em falta. Agora apareceu, mas voltei sem o presunto. Tem acontecido muito, com vários produtos", conta a cozinheira Jovina Ribeiro. A queixa tem sido compartilhada por grande parte dos consumidores e reflete uma elevação do índice de ruptura nos supermercados, termo usado no setor para medir a falta de certas marcas e produtos. O índice subiu de 7,9% no primeiro trimestre de 2013 para uma média de 9,1% no mesmo período deste ano, segundo a Apas (Associação Paulista de Supermercados). Em maio, último dado disponível, recuou para 8,5%, mas permanece muito acima dos 4,6% registrados no mesmo mês do ano passado. "Eu já fiquei sem comprar a garrafa d'água", diz a administradora Maíra Meyer.
O superintendente da Apas, Carlos Corrêa, explica que a ruptura pode ser provocada por diversos fatores. No histórico recente, os protestos nas ruas atrapalharam a logística, enquanto a variação de demanda devido à Copa dificultou o planejamento das empresas. No plano macroeconômico, o baixo crescimento e a persistência da inflação acirram o cabo de guerra entre a indústria e o varejo. Na tentativa de postergar ou atenuar a elevação dos preços ao consumidor final, e consequentemente proteger suas vendas, os supermercadistas endureceram as relações com seus fornecedores, com o objetivo de distribuir ao longo da cadeia o aumento de custos de produção. O resultado é um alongamento das negociações. "A demanda do consumidor está menor e os custos sobem. Como o varejo enfrenta alta concorrência e trabalha com margens baixas, precisa negociar para evitar o repasse de preço ao consumidor", diz Sussumu Honda, presidente do conselho consultivo da Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Um dos sinais do varejista para rejeitar a alta é deixar de comprar o produto temporariamente, segundo Fernando de Bairros, presidente da Afrebras (que reúne fábricas de refrigerante). "É um meio de pressão. Ele substitui o produto e tira da gôndola até que a indústria abaixe", diz. "Está difícil colocar aumento. O varejo não aceita 2
porque não está em um ano bom", diz Alexandre Colombo, presidente da Anib (indústria de biscoitos). A tensão varia nas regiões do país, segundo Juracy Parente, professor da FGV-SP. E a disputa piora nas indústrias de produtos mais perecíveis. Se o impasse não cede, o estoque do varejo pode acabar, levando o produto a faltar nas lojas por alguns dias, até que se chegue ao acordo. "Esse tipo de ruptura que vem por causa de negociação é normal e aceitável pois não significa que há crise de abastecimento e falta de produto. As empresas estão brigando por preço baixo", diz Honda. Segundo pesquisa do site de defesa do consumidor Reclame Aqui com 2.000 clientes, mais de 76% foram às compras nos últimos dois meses e ficaram sem algum item.
Os 20 anos do real Na última terça feira, 1º de julho de 2014, comemoramos os 20 anos do lançamento do real. Desde então temos convivido com inflações civilizadas apesar de ainda relativamente elevadas. O Plano Real teve três etapas. A primeira, o Programa de Ação Imediata (PAI), lançado em junho de 1993, criou as condições fiscais para os passos sucessivos. Entre inúmeras medidas de contenção de gasto e aumento de receita, a principal foi a aprovação, já no início de 1994 (pelo Congresso revisor da Constituição que trabalhou de outubro de 1993 a maio de 1994), do Fundo Social de Emergência (FSE), que desvinculou 20% da receita da União para permitir a construção de uma sólida poupança pública. De fato, em 1994 o superávit primário do setor público consolidado elevou-se em três pontos percentuais do PIB em relação ao ano anterior, atingindo 5,2% do PIB. O grosso desta melhora fiscal, como tem sido recorrente desde então, deveu-se à elevação da carga tributária, que aumentou 2,6 pontos percentuais do PIB de 1993 e 1994. A segunda parte do plano foi a edição em 1º de março de 1994 (aprovada pelo Congresso em 20 de maio) da medida provisória que criou a Unidade Real de Valor (URV). Aí estava a parte mais engenhosa do plano. A URV era uma unidade de conta -apesar de não existir enquanto realidade física- que grosso modo acompanhava o câmbio. A economia dolarizou-se sem se dolarizar. De forma transparente e prevista, criaram-se as condições para que em 1º de julho de 1994 a nova moeda, o real, fosse implantada. O resto da história é bem conhecido. O grande erro de gestão do plano de estabilização foi a piora fiscal que ocorreu de 1995 a 1997. O superávit primário reduziu-se 5 pontos percentuais do PIB em 95 (ante 94) atingindo 0,2% do PIB. Em 96 o primário zerou e em 97 tivemos déficit primário de 1% do PIB. A forte piora fiscal foi consequência do impacto desastroso que a estabilidade de preços teve sobre a execução orçamentária do setor público. Anos de inflação fizeram com que o Congresso aprovasse um Orçamento inexequível que era executado com controle na boca do caixa. Antes do Plano Real, dado que a receita de impostos era bem indexada, e o gasto, não, pequenos atrasos na liberação dos pagamentos ou na autorização do início de um programa ou de uma obra ajustavam o Orçamento à realidade da receita. O fim da inflação retirou do Tesouro esse instrumento de execução orçamentária. A contrapartida da piora fiscal foi a forte elevação da fatia do consumo das famílias e do setor público no produto, de 77,5% do PIB em 1994 para 83,5%. O desequilíbrio do setor público foi refletido na piora externa. O câmbio valorizou-se, o déficit de transações correntes ultrapassou 4% do PIB, as dívidas pública e externa aumentaram. O erro do plano não foi empregar em demasia a âncora cambial. O erro foi demorarmos tanto para enfrentar o problema fiscal. Quando as condições externas pioraram e não havia mais condições de financiarmos externamente nossos desequilíbrios, alteramos o câmbio e fizemos um forte ajuste fiscal. O superávit primário elevou-se de 0% do PIB em 1998 para 2,9% do PIB em 99. Foi a melhora fiscal em 99 que garantiu que o real não fosse um novo Plano Cruzado e a inflação voltasse. É devido ao ajuste fiscal que estamos hoje comemorando os 20 anos do real e os 20 anos de estabilidade de preços. E este é o maior legado do Plano Real. A estabilidade de preços teve forte impacto sobre a pobreza. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a renda do trabalho para o 1º centésimo e o 1º décimo da distribuição de renda elevou-se em 50% ante o valor médio vigente no período de 1984 a 1993. Avalio que o Plano Real é obra completa. 3
Representou fantástico programa de ajuste monetário de uma economia acometida de hiperinflação crônica (quase que uma contradição em termos). Os elevados juros reais que nos perturbam até hoje resultam da baixíssima taxa de poupança de nossa sociedade. Esta, como tenho seguidas vezes argumentado neste espaço, resulta de uma escolha social. Assim, será tarefa da política na próxima década criar as condições para que os juros reais caiam permanentemente. Dependerá de medidas que elevem fortemente a poupança pública.
O barato que sai caro A maioria das pessoas prefere inflação e juros os mais baixos possíveis e salários os mais altos possíveis, reajustados acima da inflação e da produtividade. O problema é que a realidade é mais complexa. A elevação dos juros, por exemplo, é o instrumento mais eficaz para o Banco Central baixar a inflação. É natural que existam inúmeros exemplos de interesses incompatíveis de setores da sociedade. O dólar barato é bom para os importadores, mas péssimo para os exportadores e para a cadeia produtiva da exportação. Inflação baixa beneficia a maioria, mas os que podem indexar seus preços (como o governo com os impostos) podem se beneficiar de uma inflação mais alta. A maioria quer os salários reajustados acima da inflação e da produtividade, mas isso pode baixar o poder de compra dos trabalhadores pela alta da inflação. Gasolina mais barata, excelente para os consumidores, é problema para a Petrobras e as necessidades de investimento na produção de petróleo. O mesmo vale para o preço da eletricidade. O problema da intervenção de governo na formação de preços da economia, que incluem câmbio e juros, é que cada ação cria ganhadores e perdedores. O governo torna-se, assim, árbitro da disputa intensa de interesses dos diversos setores. Isso gera distorções na economia e eventualmente menos crescimento, menos emprego e menos riqueza. A história mostra que a administração pública é mais eficiente quando deixa os preços se ajustarem segundo a oferta e a procura e, ao mesmo tempo, garante uma segurança regulatória que dê conforto e previsibilidade a todos. Assim, quando um produto se torna escasso, seu preço sobe e eleva a remuneração de quem o produz, estimulando os investimentos e o aumento da produção, do emprego e da renda. O aumento da produção, por sua vez, tende a controlar preços elevados pela escassez. Outro problema das intervenções é que, por definição, são decisões individuais e erráticas, que geram incertezas nos agentes econômicos e reduzem investimento, consumo, crescimento e emprego. Cabe ao governo intervir em alguns momentos para regular excessos. Uma crise de liquidez, por exemplo, pede intervenção estatal para normalizar os mercados. A questão é saber quando parar, para o governo não passar de solução a problema. A tentação do governante de fixar preços é enorme, pois estará atendendo a queixas de setores importantes. Mas a realidade é mais complexa. O que funciona, em última análise, é um sistema de definição de preços que atenda à realidade econômica de cada momento e traga mais investimento, crescimento, produtividade e riqueza e um melhor padrão de vida à população.
Indústria pode vender energia excedente por meio de contrato A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) liberou nova regulamentação permitindo que empresas do setor produtivo vendam, por meio de contratos, a energia que não será usada na produção -uma demanda antiga dos grandes consumidores. Até quinta-feira (3), as companhias só podiam vender energia excedente da produção por meio do mercado de curto prazo, sem contratos. Agora, com a portaria 185 regulamentada, acordos bilaterais entre os próprios consumidores são permitidos. Técnicos ligados ao assunto afirmam que a publicação é um afago aos industriais. Grandes empresas pleiteavam a mudança para fugirem da instabilidade do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que baliza os valores no mercado de curto prazo, e para gerirem melhor o excedente de energia. Um outro intuito seria desestimular a briga judicial que emperra a regulamentação da portaria 455, que quebra o sigilo de preços dos contratos de fornecimento no mercado livre e que antecipa a declaração 4
de consumo de energia. Por causa de liminar conseguida pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), ela ainda não tem efeito.
INTERESSE DAS EMPRESAS A 185, por outro lado, era de interesse das empresas, mas estava sendo travada pelo governo há três meses para ajudar nas negociações. Após a Abraceel enviar carta à agência pedindo sua regulamentação, a diretoria da Aneel, de forma unânime, aprovou a publicação. Maurício Corrêa, diretor da associação, afirma que a carta não tem relação com a liminar. Isso porque, outra associação, a dos grandes consumidores de energia, a Abrace, também possui uma. "Não faz sentido travar uma portaria por causa de outra. A [portaria] 185 interessa não só às empresas, mas também ao governo", diz. Um dos motivos, exposto no voto do diretor da Aneel André Pepitone, para liberar a regulamentação foi o aumento do volume de energia disponível para comercialização no mercado livre. Desde 2012, quando foi publicada a medida provisória 579, a fim de reduzir os preços do setor, usuários do mercado livre reclamam de falta de liquidez no segmento.
Crédito para veículos cai pelo 17º mês e perde participação na economia Apesar dos incentivos do governo para estimular a indústria automotiva, o crédito para compra de veículos encolheu nos últimos três anos e perdeu participação na economia brasileira. O estoque de financiamentos para compra desses bens por pessoas físicas recuou pelo 17º mês consecutivo em maio, para R$ 193,4 bilhões. Esse é o menor valor registrado pelo Banco Central na sua nova pesquisa de crédito, que tem início em março de 2011. As vendas financiadas para empresas também estão no menor patamar da série, R$ 25,8 bilhões. O crédito como um todo está crescendo menos desde 2008, mas, entre as principais linhas, apenas o automotivo está em queda. Segundo dados da Anef, a associação dos bancos das montadoras, a participação do crédito automotivo na economia caiu de 5,3% para 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto) entre março de 2013 e o mesmo mês de 2014.
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Para a associação, o problema não está na oferta de dinheiro por parte dos bancos, mas na demanda. "Crédito existe. Há dinheiro, taxas atrativas, prazos maiores e menores. O que falta é cliente na concessionária", diz o presidente da Anef, Décio Carbonari. Dados da associação mostram que o porcentual de vendas a vista e financiadas praticamente não se alterou desde 2011. E a liberação de novos financiamentos subiu nos primeiros cinco meses deste ano em relação ao mesmo período de 2013, depois de cair por dois anos seguidos. Carbonari afirma que os bancos adotaram políticas de aprovação de crédito mais rigorosas em 2011 e 2012, devido à inadimplência recorde na época, e as mantiveram. O problema hoje, no entanto, não é a aprovação, mas o recebimento de propostas. "Quando se olha a economia, não dá para ficar entusiasmado e achar que vai vender mais carro financiado." Os vendedores de veículos, por outro lado, avaliam que falta crédito, sim, e que são necessárias medidas para reduzir o risco das operações. O presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), Flávio Meneghetti, afirma que o principal problema para as vendas é crédito. "Os bancos, pelo tremendo calote que tomaram nos últimos anos e pela dificuldade em retomar as garantias, aumentaram a exigência de crédito", afirma. Representante dos revendedores, Meneghetti diz que o setor trabalha junto a governo e bancos para atualizar a legislação que facilita a retomada de veículos. A medida elevaria os negócios ao ponto de garantir um mês a mais de vendas por ano. "O problema é falta de demanda e de crédito. Com isso, pelo menos o crédito ficaria normalizado." Ao divulgar os dados de crédito para o setor, o BC afirmou que os incentivos do governo provocaram antecipação de vendas, o que gerou queda nos anos posteriores. A expectativa de bancos e revendas é que isso se repita com a prorrogação do IPI reduzido até dezembro. "O ruim de medidas pontuais é isso", diz Meneghetti. "Mas novembro e dezembro devem ser meses aquecidos."
Piora risco para fazer negócios no Brasil A desaceleração econômica global provocou queda na estabilidade política e jurídica e aumentou o risco na hora de fazer negócios em 16 países, entre eles todos os BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os dados são de estudo que avalia a situação de 163 países e foi realizado pela consultoria Aon (líder na área de gestão de riscos) e pela Roubini Global Economics, do economista Nouriel Roubini. O Brasil passou da categoria de médio-baixo risco para médio risco, assim como a Índia e a África do Sul. Já a China e a Rússia, de médio risco para médio-alto. Feito desde 1998, o levantamento classifica os países anualmente em um 6
ranking de seis níveis (veja mapa) com base em risco de interferência política (inclui greves, protestos, guerra civil), riscos legais e regulatórios, vulnerabilidade do setor bancário, probabilidade de dar calote em dívidas ou ter a cadeia de fornecimento afetada. "A melhora do ambiente econômico nos países desenvolvidos, caso dos EUA, e a desaceleração no crescimento chinês contribuíram para a piora dos negócios nos BRICS", diz Keith Martin, consultor de comércio e investimento internacional da Aon. No caso do Brasil, a preocupação é com a capacidade de "fazer as reformas necessárias para voltar a ter um crescimento sustentável", diz Martin. "O mercado não vê sinais de que o país vai encarar de frente essas questões." O professor da PUC-SP Antonio Corrêa Lacerda avalia que o Brasil perdeu uma posição no ranking dos países que mais atraem investimentos (passou de 4º para 5º em 2013). E que, apesar de ser a sétima maior economia do mundo, está em 21º no ranking de países exportadores, segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio). "Apesar de todos os problemas, o investidor ainda olha para o Brasil mirando 2025, 2030 e vê grande potencial de consumo. O desafio imediato é vencer a estagnação. Mas o desafio no longo prazo é qualitativo, não quantitativo: gerar consumo interno de maior valor, exportação de qualidade", diz Lacerda. Para este ano, a projeção é que o investimento produtivo destinado ao Brasil deva ficar entre US$ 50 bi e US$ 60 bi, menor patamar dos últimos quatro anos. O professor Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da UnB, diz que os BRICS e entre eles o Brasil podem recuperar o pico de crescimento que tiveram em 2010 e 2011, mas apenas no longo prazo. "Já no caso da China, a realidade é outra. Apesar do crescimento em outro patamar (de 10% passa a 7,5% ao ano) e da mudança no padrão de crescimento, sustentada mais pelo consumo interno em vez de investimentos em infraestrutura, a China saiu da condição de emergente para outra escala: está, ao lado dos grandes, no centro da economia mundial", avalia. De acordo com a Aon, seis países melhoraram a sua classificação de nível de risco neste ano. No ano passado, 13 melhoraram e 12 pioraram, e, em 2012, 3 melhoraram e 21 foram rebaixados.
Editorial: Ânimo em perspectiva Os dias festivos e as amenidades da Copa desanuviaram o ambiente de desesperança e irritação exacerbados em que vivia o país ainda na semana que precedeu o início dos jogos, sugere pesquisa Datafolha publicada na quinta-feira. Mas a diversão do futebol e o refluxo dos protestos de rua por ora parecem somente ter podado os excessos de insegurança econômica e desaprovação ao governo federal, que permanecem em níveis historicamente altos. A expectativa de que a inflação vai aumentar, por exemplo, retrocedeu para 58% dos entrevistados, ante 64% há um mês. Esse indicador tem flutuado acima de 58% desde pelo menos novembro de 2013. A baixa verificada agora, portanto, é relativa a um nível extremo de preocupação. Extremo, sim. O temor de elevação de preços está num dos patamares mais altos em quase duas décadas. A opinião de que haveria carestia era compartilhada por cerca de 60% dos entrevistados só em momentos de choques, como os observados entre 1999 e 2002. Foi nesses anos que ocorreu a grande desvalorização do real, com a subsequente escalada da inflação, que voltou a acelerar em meados de 2000. De 2001 a 2002, o país viveu o impacto do racionamento de energia, de mais disparada de preços e dos problemas criados pelo quase pânico financeiro devido à disputa presidencial, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva. Também chamou a atenção na pesquisa divulgada na quinta-feira o fato de 30% dos entrevistados apostarem que a situação econômica do país vai melhorar, superando os 26% de maio. Trata-se, contudo, de nível baixo de otimismo. Quando o Brasil vivia a recessão de 2009, 31% dos entrevistados achavam que a economia do país melhoraria. No grande colapso recente da confiança, entre março e junho de 2013, a expectativa de melhora caiu de 51% para 31%. O sentimento de insegurança quanto ao futuro da economia evidencia-se em outras pesquisas de confiança, que registraram surtos de mau humor de abril a maio, com algum arrefecimento em junho. Pode até ser que se esteja assistindo ao começo do fim de um ciclo de insatisfação extremada, no qual o tumulto político e social contagiou os ânimos 7
econômicos. No entanto, no segundo trimestre, o esfriamento da atividade produtiva foi intenso e mais veloz do que se estimava. O humor dos brasileiros terá de lidar cada vez mais com o fato de que o desarranjo na economia começa a provocar efeitos palpáveis na vida cotidiana.
Diagnóstico errado BRASÍLIA - Ninguém no Palácio do Planalto ou na equipe de campanha da presidente Dilma Rousseff está disposto a assumir publicamente que a situação da economia brasileira está em franca deterioração. Nos bastidores, porém, alguns assessores presidenciais reconhecem, há tempos, que a situação preocupa. Um olhada rápida em números divulgados nas últimas semanas ajuda a entender um pouco o quadro. A produção da indústria acumula três meses de queda seguida e o emprego começa a perder fôlego. Tivemos o pior maio dos últimos 22 anos. A parada das fábricas reflete diretamente no ritmo de crescimento de toda a economia, que se arrasta. Especialistas estimam que, na melhor das hipóteses, o país crescerá neste ano pouco mais de 1%. E se a economia não cresce, o volume de dinheiro que entra nos cofres públicos diminui. A arrecadação federal de impostos caiu em maio --o primeiro tombo do ano. Como o governo não consegue --ou não está disposto-- a reduzir seus gastos, o resultado final é desastroso para as contas públicas. Nos primeiros cinco meses deste ano, o governo federal, os Estados e os municípios conseguiram economizar pouco mais de R$ 30 bilhões para reduzir a dívida pública. O compromisso do ano é salvar R$ 99 bilhões. Difícil imaginar que a meta será alcançada sem os truques aplicados nos dois últimos anos. Há tempos, empresários, economistas e especialistas reclamam da falta de rumo da política econômica. A equipe do ministro Guido Mantega, entretanto, insiste que não há nada de errado com o caminho escolhido. Seguindo a cartilha em uso, tudo será resolvido no futuro. Recomendo aos que pensam a economia dentro do governo a leitura da entrevista que o ministro Gilberto Carvalho deu a esta Folha. Sem um bom diagnóstico da situação, não há como receitar um bom remédio para resolver os problemas.
Copa leva R$ 420 milhões a micro e pequenas empresas Pequenas e micro empresas do país garantiram R$ 420 milhões no caixa de seus empreendimentos até o final de junho com negócios feitos para atender a Copa do Mundo. São 43.910 empresas que participaram de programas de capacitação, cursos, atendimentos e rodadas de negócios feitas pelo SEBRAE nacional nos últimos três anos. Até abril do ano passado, os negócios previstos (incluindo produtos e serviços prestados) haviam somado R$ 100 milhões em 13 mil empresas de dez setores. Na ocasião, foram 930 possibilidades de negócios identificadas em atividades envolvendo construção civil, madeira e móveis, agronegócios, comércio, turismo e gastronomia, cultura e entretenimento, tecnologia da informação, moda (inclui têxtil e confecções; couro e calçados, além de gema e joias), artesanato e serviços. A estimativa agora é que, até o encerramento do evento esportivo, mais R$ 80 milhões sejam faturados no setor de pequenos negócios diretamente envolvidos com o SEBRAE. Com isso deve chegar a R$ 500 milhões o valor total no caixa dos micro e pequenos empresários e dos MEIs (microempreendedores individuais) com atividades relacionadas à Copa. O MEI é a pessoa que trabalha por conta própria e fatura, no máximo, R$ 60 mil por ano. Os números, obtidos pela Folha, serão apresentados em um encontro promovido pelo governo federal nesta segunda-feira no Rio. O resultado é significativo se comparado a outros setores da economia, segundo Luiz Barretto, presidente do SEBRAE nacional. A Apex, agência brasileira que promove exportações entre empresas (e geralmente de maior porte), por exemplo, estima contratos em torno de US$ 3 bilhões com a vinda de 2.300 empresários de 104 países ao país para os jogos. Na avaliação de técnicos e dirigentes do SEBRAE, a Copa serviu como "vestibular" para os pequenos empresários, que têm como desafio manter negócios após o evento. Entre as "lições" do torneio, estão melhoria na gestão, adoção de critérios que 8
envolvem preocupação com o ambiente na hora de fazer negócios, aperfeiçoar canais de distribuição e de logística, conhecer melhor o cliente e atender às necessidades e a possibilidade de acessar novos mercados. "O empresário aprendeu, por exemplo, a fabricar itens que obedecem às normas de certificação para atestar a qualidade e padronização exigidas em seu setor; a se capacitar para conseguir concorrer até com os importados e a reutilizar melhor recursos naturais [como a água]", diz Barretto. Um dos exemplos citados é o de uma empresa do Rio de Janeiro que aumentou em até 30% o faturamento mensal fornecendo lajes para a construção de rampas de acesso para o estádio do Maracanã. Entre as regiões que mais se destacaram, em valores negociados, estão Pernambuco e Distrito Federal.
Dados sugerem que PIB derreteu nos últimos meses; Copa pode reverter pessimismo Não são só os torcedores brasileiros que anseiam pelo sucesso da seleção na Copa. A economia também depende do entusiasmo gerado pelo êxito do evento. Economistas e governo consideram essa uma das únicas formas de içar empresários e consumidores do pessimismo e, assim, reacender a atividade econômica. Os dados de maio e junho já disponíveis mostram uma economia estagnada, com risco de retração. E os próprios feriados da Copa ajudaram a reduzir as vendas nas lojas e o trabalho nas fábricas. Os sinais de fraqueza, entretanto, são anteriores ao início do Mundial. A perspectiva de crescimento econômico em 2014, que no início do ano já soava moderada pelos analistas (2%), reduziu-se para 1,1% na última semana. E há quem preveja resultado ainda pior. O derretimento do PIB está associado a dúvidas sobre o futuro, que minaram a confiança e o investimento.
O primeiro baque foi a prometida mudança global, com a recuperação dos EUA e a redução do crescimento da China. A combinação provocaria uma revoada de investidores do Brasil e a alta do dólar. Se as tendências se confirmam a cada nova informação, sobram dúvidas sobre quando os efeitos recairão mais fortemente sobre o país. No mercado doméstico, a seca fez subir o preço da energia e despertou o risco de racionamento. A aceleração da inflação (que chegou a 6,3%) levou o Banco Central a subir os juros e frear o crédito, e os efeitos disso ainda não foram totalmente assimilados. Para André Perfeito, da corretora Gradual, a notícia que pode surpreender positivamente são as exportações, que cresceram 22,9% entre abril e junho, em relação aos primeiros três meses do ano. A outra seria a vitória do Brasil na Copa.
Projeção de crescimento do PIB cai pela sexta vez
A projeção de instituições financeiras para o crescimento da economia este ano continua em queda. Pela sexta vez seguida, a estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, foi reduzida. Desta vez, a projeção 9
passou de 1,10% para 1,07%. Para 2015, a expectativa é de crescimento um pouco maior: 1,5%, a mesma da semana passada. Essas projeções são do boletim Focus, resultado de pesquisa semanal do Banco Central (BC) com instituições financeiras. Para a produção industrial, a projeção de retração passou de 0,14% para 0,67%. No próximo ano, as instituições financeiras esperam por recuperação da produção industrial, com crescimento de 2,10%, contra 2,20% previstos na semana passada. A projeção para a cotação do dólar segue em R$ 2,40, neste ano, e em US$ 2,50, em 2015. As instituições financeiras também mantiveram a projeção para a taxa básica de juros, a Selic, ao fim de 2014, no atual patamar de 11% ao ano. Para o fim de 2015, a expectativa segue em 12% ao ano. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a estimativa permanece em 6,46%, este ano, e em 6,10%, em 2015. A pesquisa semanal do BC também traz a mediana (desconsidera os extremos) das expectativas para a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGPDI), que passou de 5,45% para 5,33%, em 2014, e segue em 5,50%, em 2015. Para o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a estimativa foi ajustada de 5,44% para 5,35%, este ano, e de 5,50% para 5,57%, em 2015. A estimativa da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) passou de 6,04% para 5,77%, em 2014, e de 5% para 4,79%, em 2015.
Riscos reais e imaginário
Em relatório anual divulgado na semana passada, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) arrolou o Brasil entre os países suscetíveis a risco de crises financeiras nos próximos anos. A inclusão do Brasil nesse grupo se deveu primordialmente ao comportamento recente da razão crédito/PIB que é um dos indicadores antecedentes de crises bancárias utilizados por aquela instituição. Segundo o BIS, os dados históricos sugerem que uma diferença maior do que dez pontos percentuais entre a razão crédito/PIB e sua tendência de longo prazo usualmente sinaliza a eclosão de uma crise bancária no prazo de três anos. No caso brasileiro, essa diferença está atualmente em cerca de quatorze pontos percentuais, justificando assim o alerta trazido pelo BIS em seu relatório anual. Haveria, de fato, o risco apontado pelo BIS ou, ao contrário, estamos apenas diante de mais um "erro de modelo"? Trata-se de uma questão relevante. Se confirmada a existência de risco iminente de estresse financeiro, o remédio seria a adoção imediata pelo Banco Central das chamadas medidas macroprudenciais com vistas a moderar o crescimento do crédito. Tipicamente, tais medidas envolveriam elevação do capital exigido dos bancos para determinadas operações, aumento dos recolhimentos compulsórios e imposição de limites para os prazos das operações de financiamento. Ademais, caso já estivessem implantados entre nós todos os princípios de Basileia 3, o indicador citado levaria ao acionamento pelo Banco Central do chamado "colchão anticíclico" de capital, com vistas a diminuir a capacidade de alavancagem dos bancos. As consequências seriam negativas para a atividade econômica e, tendo em vista a presente fraqueza do PIB, uma recessão seria inevitável. Porém, felizmente este não é o caso. O indicador do BIS não reflete uma situação de crescimento endógeno do crédito típica dos momentos de euforia nos mercados financeiros 10
que costumam levar a bolhas especulativas. Na realidade, em ampla medida, tal indicador está apenas captando as consequências da exagerada atuação procíclica dos bancos públicos nos últimos anos. Se houve crescimento excessivo de crédito no Brasil, o responsável maior foi determinação política do governo de turbinar a concessão de crédito pelos bancos oficiais federais, inclusive com o aporte de recursos do erário. Os dados rotineiramente divulgados pelo Banco Central corroboram essa afirmativa. Entre 2008 e 2013, a relação crédito/PIB no Brasil elevou-se de 40,7% para 56,2%, sem dúvida um ganho expressivo. Ocorre que praticamente toda essa elevação se deu por causa dos bancos públicos, cuja participação passou de 14,7% do PIB para 28,8% no período. Considerando um período mais recente, entre 2011 e 2013, o saldo de crédito concedido pelos bancos públicos cresceu 63%, que se comparam com apenas 12% de aumento do saldo dos bancos privados. O crescimento ocorreu notadamente no credito imobiliário ofertado às pessoas físicas pela Caixa Econômica Federal (CEF) e nas operações do BNDES com pessoas jurídicas. Em ambos os casos, deve ser observado que os juros praticados guardam pouca ou nenhuma relação com as taxas de mercado, estas influenciadas diretamente pela política monetária do Banco Central. Isso significa que a demanda por tais tipos de crédito deve ter sido pouco afetada pelo ciclo recente de alta dos juros pelo BC, onde a taxa Selic foi elevada em 375 pontos base. Desse modo, o termômetro do BIS acusa uma "febre" no mercado de crédito que é em grande medida consequência do abuso das políticas de gestão da demanda agregada que se seguiram à crise de 2008. Logo após a quebra do Lehman em setembro daquele ano, havia de fato razões para que as políticas monetárias e fiscais se afrouxassem e os bancos públicos expandissem a concessão de crédito, para compensar o recuo dos bancos privados. Porém, já ao final de 2009, deveria ter sido iniciada a reversão de tais políticas. Não foi o que ocorreu. Ao contrário, no governo Dilma houve a continuidade dos repasses de recursos do Tesouro ao BNDES e a determinação para que os bancos públicos baixassem suas margens e expandissem o crédito, inclusive nas modalidades onde não tinham tradição. Finalmente, além das questões relativas à gestão macroeconômica, o alerta do BIS chama a atenção para as dificuldades de se implantar no Brasil alguns dos princípios de Basileia 3. Especificamente no caso do colchão anticíclico de capital, parece haver incompatibilidade absoluta desse mecanismo com algumas das "jabuticabas" presentes em terras tupiniquins. Uma delas é a atuação dos bancos públicos turbinada com recursos "inesgotáveis" por um acionista disposto a assumir todos os riscos, como vimos nos últimos anos. Outra é a existência de direcionamento de crédito, como no caso dos financiamentos imobiliários, em que os bancos são obrigados a aplicar uma parcela de sua captação de depósitos de poupança. Pode ser difícil exigir dos bancos temperança, quando eles estão sujeitos a sanções caso não contratem um determinado montante mínimo de crédito.
Empresas temem crise no apoio à exportação Em um movimento que alguns empresários já atribuem à "contabilidade criativa" do governo, o Ministério da Fazenda começou a atrasar o pagamento aos bancos por uma importante linha de apoio à exportação, o Proex-Equalização - que cobre a diferença entre altos juros cobrados nos empréstimos aos exportadores no país e o custo do financiamento para os concorrentes, no exterior. Além disso, empresas de comércio exterior começaram a receber, agora, em meados do ano, carta do Banco do Brasil com a informação de que "por falta de orçamento", foram suspensas as operações de Proex-Equalização para apoio às vendas externas. Anunciado pelo Ministério do Planejamento como "o principal instrumento público de apoio ás exportações brasileiras", o Proex é periodicamente afetado por restrições orçamentárias. Mas os empresários do setor se queixam de que não é comum o atraso ao pagamento dos bancos que operam com essas linhas, como vem acontecendo. O Ministério da Fazenda não respondeu aos pedidos da coluna de explicações à Secretaria do Tesouro Nacional sobre as acusações de que pode estar em curso mais um episódio de "contabilidade criativa" para evitar que más notícias transpareçam nas contas públicas. Para remunerar as instituições 11
financeiras que usam o Proex-Equalização, o Ministério da Fazenda emite títulos da dívida do Tesouro Nacional, as NTN-I. Em maio, com atraso de algumas semanas, o Tesouro emitiu 15,6 milhões dessas notas, no valor de pouco mais de US$ 49 milhões. E deixou, até agora, sem data de pagamento as operações feitas em maio e em junho. Paralelamente, outro problema vem afetando o programa de apoio aos exportadores: a realização de operações vultosas com empresa de grande porte, a serem concretizadas só depois de 2014 e 2015, também bloqueou recursos no orçamento do Proex. Empresas exportadoras, especialmente de máquinas e equipamentos, têm recebido dos bancos informação de que não há como fechar novos contratos. É grave. Como informou o Valor, a queda nas vendas de máquinas e equipamentos foi apontada, na divulgação dos resultados da balança de comércio exterior, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como uma das razões para a deterioração nas exportações de bens industrializados, que perdem espaço para produtos básicos na pauta de exportação do país. O assunto tem sido discutido no governo, pelo Cofig, o comitê encarregado da política de crédito à exportação. Em abril, três entidades que reúnem exportadores, a Abimaq e Abdib, ambas representando fabricantes de máquinas e equipamentos, e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), enviaram carta ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, queixando-se de "sucessivos e frequentes atrasos" na entrega das NTN-I aos bancos para cobrir operações do Proex-Equalização. "Diante disso, os agentes financeiros credenciados ao Programa Proex Equalização já não estão aplicando a respectiva equalização de juros aos novos financiamentos", denuncia a carta. Ou seja, exportadores que querem competir no exterior estão com dificuldades em obter, no Brasil, prazos e juros equivalentes a seus concorrentes lá fora, porque os atrasos no cumprimento dos compromissos do governo tem atemorizado os bancos. É a desmontagem de um dos poucos mecanismos existentes para enfrentar o chamado custo Brasil, que frustra as expectativas de desempenho exportador do país e aumenta o peso dos produtos básicos, de baixo valor agregado, nas contas de comércio exterior. Pior que a falta de mecanismos para apoio à exportação é a incerteza sobre sua aplicação, que pode causar prejuízos consideráveis às empresas que montam suas estratégias de produção e vendas contando com o que foi prometido pelo governo. As entidades de comércio exterior alertaram o ministro para os efeitos negativos dos atrasos recorrentes no Proex, que, argumentam, pode "pôr em risco a credibilidade institucional deste valioso mecanismo". Além do atraso no cumprimento de compromissos com os bancos que operam com o Proex-equalização, o Cofig, comitê que coordena sete ministérios e quatro instituições financeiras oficiais, vem discutindo as dificuldades causadas pelo recorrente esgotamento das verbas do Proex ainda em meados do ano, problema que alarmou exportadores em 2011 e 2012. Os integrantes do comitê estudam ampliar em 20% as verbas do programa, o que pode ser feito sem necessidade de consulta ao Congresso Nacional, mas há quem defenda no governo federal que a demanda supera essa percentagem e seria necessário encaminhar ao Congresso com urgência um pedido de suplementação de verbas. No ano passado, para evitar paralisação na aprovação de operações com o programa, foram criadas cartas de crédito pelas quais o governo se comprometia a bancar os créditos garantidos aos exportadores com contratos ainda a serem confirmados no futuro. Em 2014, sem essa alternativa, contratos de grandes empreiteiras e, possivelmente, da Embraer, ainda em disputa com concorrentes no exterior, asseguraram e bloquearam os recursos disponíveis, deixando sem apoio exportadores de menor porte. Não adiantará, porém, obter verbas orçamentárias, se a administração "criativa" das contas públicas decidir conter, na boca do caixa, o dinheiro pago aos bancos pelo apoio ao comércio exterior. Decisões aparentemente pragmáticas como essa abalam a credibilidade do governo brasileiro e aumentam o custo para empreender no país. Parecem resolver problemas urgentes, mas criam outros, que se revelam piores, logo adiante.
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Os ciclos financeiros e o Brasil No domingo passado (29/6/14), o BIS (Bank for International Settlements) divulgou seu relatório anual com o título de "Time to step out of the shadow of the crisis". Vale a pena ler, pela forma como analisa a crise internacional e pelo bom trabalho de pesquisa que o sustenta. O relatório traz três mensagens principais. Primeiro, os ciclos financeiros têm vida própria, até certo ponto independente da dos ciclos econômicos. Eles são também mais longos (15 a 20 anos, contra 1 a 8 anos nos ciclos econômicos). Em grande parte, na visão do BIS, as últimas crises financeiras, em especial a atual, resultaram de as autoridades manejarem os instrumentos de política econômica com foco no ciclo econômico, desconsiderando seu impacto no ciclo financeiro. A crítica destina-se, em especial, à atuação do Fed sob a chefia de Alan Greenspan. Segundo, as autoridades econômicas nos países desenvolvidos estão repetindo o mesmo erro ao deixar as condições monetárias muito frouxas por tempo demais, para acelerar a alta do PIB nominal, sem atentar para seu efeito no ciclo financeiro. A liquidez global está muito alta há muito tempo, e os juros e a volatilidade no preço dos ativos baixos demais. Isso tem levado à assunção de riscos e adiado o ajuste nos níveis de endividamento global. Nesse sentido, o BIS recomenda que se comece a normalizar as condições monetárias para se evitar um novo ciclo de expansão financeira, seguido de nova crise. Esta é a recomendação que gerou mais polêmica. Martin Wolf chamou isso de tolice em seu artigo de quarta no Valor. Seu ponto é que isso geraria uma recessão, o que dificultaria o ajuste financeiro. Janet Yellen teve uma reação mais construtiva, argumentando que a resposta correta seria apertar a regulação macro-prudencial. O BIS concorda, mas lembra que o aumento da desintermediação financeira, via maiores emissões de títulos corporativos no mercado internacional, reduz a eficácia dessa medida. No todo, advoga que as medidas de regulação prudencial necessitam da ajuda da política monetária. A terceira mensagem do BIS é que diversas economias emergentes experimentaram um boom financeiro nos últimos anos, em grande parte fruto das políticas expansionistas dos países ricos. Em especial, o rendimento real dos títulos públicos dos emergentes caiu de 4% no início de 2005 para 1% em maio de 2013. Essas economias correm o risco de amargar sua própria crise financeira em um horizonte de poucos anos. Os países asiáticos parecem especialmente expostos, com destaque para a China, mas o Brasil também é citado diversas vezes com preocupação. O BIS foca sua análise em três indicadores principais: a evolução da relação crédito/PIB, dos preços de imóveis e do comprometimento da renda com o serviço da dívida. No Brasil, esses três indicadores subiram bastante nos últimos anos, ainda que menos mais recentemente. A razão crédito bancário / PIB aumentou à taxa de 3,5 pontos percentuais (pp) ao ano entre os finais de 2004 e 2012. Em 2012, em especial, com o BC praticando juros muito baixos, essa razão saltou 4,8 pp. Desde então, ela se expande ao ritmo de 1,6 pp ao ano. O destaque mais recente tem sido o crédito imobiliário, que subiu de 1,66% do PIB em maio de 2007 para 8,81% do PIB sete anos depois; mais de 1% do PIB ao ano, sendo que no último biênio esse ritmo acelerou para 1,46% do PIB ao ano. A expansão do crédito imobiliário ajuda a explicar a forte alta no preço dos imóveis. Tomando a média simples do índice Fipe-ZAP para São Paulo e Rio de Janeiro, e deflacionando pelo IPCA, vê-se que a valorização dos imóveis superou por larguíssima margem o aumento da massa salarial. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o pico de alta se deu em junho de 2011 (27,7%, em termos reais), desacelerando desde então para um aumento de 6,3% em maio de 2014, ainda uma subida forte. Com mais dívidas, as famílias passaram a comprometer mais da sua renda com juros e amortizações: saindo de 15,6% em janeiro de 2005 para um pico de 22,9% em junho de 2012, decaindo levemente desde então. Em março deste ano, último dado disponível, estava em 21,4%. Essa desaceleração no crédito e no preço dos imóveis é um bom sinal, assim como o é a alta nos spreads bancários. Mas a situação financeira ainda é preocupante. Primeiro, porque o boom não acabou. Segundo, pois a expansão de crédito nos últimos anos tem sido quase integralmente feita pelos bancos públicos, que não parecem reagir a incentivos de mercado. Há um risco, portanto, de se cair num quadro de dominância financeira: as autoridades quererem fazer um ajuste, mas não 13
poderem: uma alta da TR e da TJLP poderá elevar à inadimplência. Mas, se não o fizerem, não só terão um custo fiscal considerável, como terão de racionar a oferta de crédito, visto que com juros baixos a demanda por crédito direcionado continuará crescendo. Algo semelhante pode ocorrer com a Selic. Assim, quanto mais cedo se agir, menor o problema mais à frente.
Economistas descartam reação mais forte do setor industrial no curto prazo
A indústria brasileira é diversificada e conta com mercados local e regional importantes, mas precisa encarar desafios bem mais amplos se quiser retomar um crescimento robusto, dizem economistas ouvidos pelo Valor. A percepção é que há uma tensão entre o curto e o médio prazo e que a necessidade de estimular atividades econômicas que têm impactos mais gerais e imediatos sobre a economia - como é o caso da indústria automobilística e da construção civil encobre a preocupação com setores considerados mais promissores. Após a terceira queda consecutiva no ano - de 0,6% em maio na comparação com o mês anterior, na série com ajustes sazonais - uma reação mais forte está fora de um horizonte de curto prazo. Diferentemente de outros países, no entanto, a retomada, quando se der, partirá de um nível já bastante avançado. "Não estamos falando de montagem de uma indústria, mas de sofisticação de base industrial já existente. Não é sair do zero, como é o caso da Índia que está tentando criar setores que não tem", diz Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB). O parque industrial diversificado, complexo e geograficamente bem distribuído indica que há saída para o setor, cuja competitividade é minada por obstáculos importantes internos - como a guerra fiscal entre Estados e o enorme atraso em infraestrutura -, além de entraves externos, como o excedente produtivo do resto do mundo a pressionar o mercado brasileiro, diz Nelson Rocha Augusto, economista-chefe e presidente do Banco Ribeirão Preto. Augusto critica alguns mecanismos adotados recentemente, como taxas de juros mais baixas voltadas para o investimento no setor produtivo, pouco eficazes e responsáveis por grande custo ao Tesouro, em sua avaliação. "A decisão de investimento não é função de preço do dinheiro, mas da taxa interna de retorno esperada para aquele setor. Juro baixo estimula, mas não é fator de decisão", diz o economista. Como exemplo, Augusto lembra que a indústria que oferece equipamentos para o setor sucroalcooleiro registra hoje ociosidade de 70% e não investe, mesmo com os juros baixos, pois não tem perspectiva de retorno. Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que boa parte da indústria local tem condições de competir com o produto importado. "Mas olhando os meus indicadores de médio prazo, vai demorar um pouquinho para voltarmos aos níveis de confiança que tínhamos até o início de 2011", diz. Segundo Campelo, medidas como a desoneração da folha de salários são bemvindas - ainda mais se atingissem todos os segmentos da indústria. Um quadro benigno mais duradouro, no entanto, exige a aceleração de investimentos em infraestrutura, o incremento de alguns programas de inovação tecnológica já existentes e uma reforma tributária mais complexa. Arbache nada um pouco contra a corrente ao ressaltar que a preocupação central em relação a políticas que eventualmente reduzam os altos custos que envolvem a atividade no país (especialmente mão de obra, insumos e infraestrutura) não basta. Para ele, a agenda do "custo Brasil" é obviamente importante, mas está muito aquém do necessário para "redinamizar" a indústria. "Nossos custos são tão relativamente elevados que, ainda que eles caiam, a indústria terá problemas de competitividade". Na avaliação de Arbache, políticas industriais como as medidas de incentivo adotadas nos últimos anos pertencem ao "século passado", ao produzir poucos resultados em uma perspectiva global em que os mercados se integram, a indústria e os serviços têm uma relação cada vez mais simbiótica e o conhecimento é que gera competição. "Nos EUA, quem mais investe em tecnologia de serviços 14
é a indústria. Só que o grau de sofisticação deles é tão elevado que a maior empresa de serviços, o Google, investe cada vez mais em bens industriais, como carros e óculos", diz. "É uma simbiose e pensar em indústria em detrimento de serviços é voltar ao século XX". Considerando o estágio da competição internacional, diz Arbache, as possibilidades mais promissoras estão em nichos específicos em setores de mais alto valor agregado. Para ele, o foco brasileiro deveria ser a industrialização de toda a cadeia de produção que sustente vantagens comparativas, como a agricultura e a extração mineral, de modo a desenvolver tecnologias ainda não dominadas e que possam se espalhar para outras indústrias. Esse seria o grande objetivo de um sistema como o pré-sal, diz ele, criando possibilidade de inserção do Brasil na economia mundial de forma muito mais promissora, rica e sofisticada. "A produção de petróleo é só uma motivação, jamais deveria ser vista como um fim em si mesmo. E a mesma coisa vale para a produção de soja, milho, carne, minérios", afirma Arbache, para quem mais preocupante do que o declínio da importância da indústria na economia brasileira é a perda de sua densidade - a qualidade daquilo que ela produz. Augusto, do Banco Ribeirão Preto, vê perda de peso relativo da indústria na economia, mas não um processo de desindustrialização. "Não dá para dizer que nos últimos anos a indústria reduziu a sua capacidade de produção. Produzimos mais do que na década de 80", afirma. Hoje, diz, a palavra-chave é competitividade, algo que alguns setores - como o alimentício, por exemplo conseguiram alcançar.
O mais fácil nem sempre é o melhor Vendi um automóvel e gostaria de uma orientação sobre a melhor aplicação financeira para o resultado da venda, no curto e médio prazo. Carlos Augusto Santos (Caco), CFP, responde: Prezado leitor, o mais fácil seria indicar-lhe um CDB, um fundo de investimentos ou poupança. O mais fácil, contudo, não é necessariamente o melhor. Do ponto de vista de um planejador financeiro, seria provavelmente irresponsável. Isto porque faltam elementos para uma orientação completa. Convido você a aproveitar este momento para refletir sobre seu planejamento de vida e, nele, o financeiro. O investimento dos recursos da venda deste automóvel pode ser um ótimo começo para a realização de seus sonhos. Quando pensamos em planejamento financeiro, levamos em conta uma série de fatores: quais são seus objetivos de vida, quais sonhos você quer realizar? Quanto dinheiro você precisa para atingir cada um deles? Como pretende obter estes recursos? Em quanto tempo você gostaria de realizá-los (curto, médio ou longo prazo)? Você já tem outros investimentos? Qual objetivo de cada um já existente? Qual seu apetite de risco para cada prazo, para atingir cada meta? Ou seja, quanto você está disposto a perder para conseguir uma rentabilidade extra? Qual sua capacidade de poupança, ou seja, como é sua renda versus despesas mensais? Como você protege suas finanças de eventos imprevistos (por exemplo, na sua saúde, com seu carro, na sua casa)? Este é exatamente o tipo de pergunta que fazemos para começar qualquer planejamento financeiro. É realmente um momento para pensar o que queremos da vida, como queremos que o dinheiro trabalhe para a gente, ao invés de sempre termos que trabalhar para ganhá-lo e para viver. O dinheiro deve nos servir, nos ajudar a realizar aquilo que queremos. Podem ser metas como viagens, comprar uma casa, ajudar um parente, ter uma reserva para emergências (é sempre recomendável ter esta reserva!), para atingir a independência financeira e não ter que trabalhar para sobreviver. Quem as decide é você, quem tem que correr atrás é você, mas é você quem colherá os benefícios por todo esforço que fizer. Quando tiver todos os objetivos delineados em termos de valores e prazos, é hora de priorizá-los e de, aí sim, buscar investimentos condizentes. Planos de curto prazo em geral se coadunam melhor com alternativas de renda fixa; estratégias envolvendo renda variável normalmente podem ser melhor utilizadas para atingir bons resultados para o médio e longo prazos. E tudo deve ser desenhado e executado pensando em como cada pecinha do seu quebra-cabeça se encaixa no todo. Depois de todas essas reflexões de vida, e dos impactos financeiros de suas escolhas hoje 15
e para você poder fazer escolhas amanhã, resta fazer as contas. Isso feito, execute os passos que decidir tomar (pensar e não fazer não adianta...). E continue monitorando sempre, para realinhar estratégias e alternativas, sempre de olho nos seus objetivos e metas. Se precisar de ajuda em qualquer dos passos, procure ajuda profissional. Desculpe-me se não dei uma resposta simples para uma pergunta aparentemente simples, mas acredito firmemente que vale a pena usar o momento para pensar de forma mais ampla. Dá trabalho, mas dá resultados. Sem esse trabalho, contudo, tenho certeza de que é mais difícil atingir o que se quer. Os frutos da disciplina e do planejamento serão recompensadores!
Petrobras prevê perda de US$ 15 bilhões com suspensão de contratos.
A suspensão de contratos firmados entre a Petrobras e a holandesa SBM Offshore empresa acusada de pagamento de propina a funcionários da estatal - reduziria em 15 bilhões de dólares o lucro líquido da petrolífera entre 2014 e 2018. O impacto financeiro foi calculado pela própria Petrobras e apresentado em resposta a um questionamento da ControladoriaGeral da União (CGU). A CGU investiga denúncia de que a SBM pagou propina a empregado da estatal em troca de assinaturas de contratos. A acusação foi feita por um ex-funcionário da empresa holandesa. Em caso de confirmação de irregularidades, entre as sanções está a declaração de que a empresa é "inidônea", o que implicaria o cancelamento de contratos futuros. Cabe ao gestor avaliar se anula também os atuais arrendamentos das plataformas. A Petrobras argumenta, no documento, que as plataformas alugadas da SBM responderão por 9% do total da sua produção de petróleo em 2014, com pico de 14,3% em 2017, e 11,2% de todo o óleo extraído em 2018. O cálculo teve como base os parâmetros do Plano de Negócio e Gestão (PGN) para o período 2014-2018. "O impacto no resultado da Petrobras foi avaliado considerando-se as variações na produção de óleo, disponibilidade de gás natural, custos operacionais e investimentos", disse a petrolífera no documento, ressaltando que os valores não incluíam "custos adicionais de desconexões" das plataformas nos poços de petróleo. Além da CGU, a relação da Petrobras com a SBM é investigada por duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso e pelo Ministério Público da Holanda. Investigações da Petrobras e da fornecedora não encontraram prova de suborno. Em meio às denúncias, a Petrobras chegou a suspender a SBM de participar de novas licitações. A empresa holandesa, então, decidiu não participar do processo para fornecer plataformas aos campos Tartaruga Verde (Bacia de Campos) e Libra (Bacia de Santos). A SBM é a maior fabricante mundial de plataformas marítimas e detém com a estatal oito contratos de locação. Produção - No documento enviado à CGU, a Petrobras informa que o impacto de uma eventual suspensão dos contratos com a SBM sobre a produção da companhia seria de menos 190 mil barris por dia em 2014. Em 2018, a queda atingiria 373 mil barris/dia, com pico de 392 mil barris/dia em 16
2017. Os contratos com a SBM somam cerca de 22,1 bilhões de dólares, segundo o documento. Um outro contrato, no valor de 2,2 bilhões de dólares, foi apresentado pela estatal como parte da relação comercial com a SBM na construção e aquisição da plataforma P-57. Em quatro dos oito contratos vigentes, a companhia holandesa fez consórcio com a brasileira Queiroz Galvão para adaptação de navios plataformas. Cinco plataformas já estão em produção: três na Bacia de Campos e duas na costa do Espírito Santo. Essas unidades custaram 10,45 bilhões de dólares à Petrobras. Procurada pelo Broadcast anteontem, a Petrobras não se pronunciou.
Lojas contabilizam prejuízo com a Copa do Mundo Não são poucos os cronistas esportivos (entre profissionais e amadores) que já apontam essa como a Copa das Copas. Mas, para alguns negócios, a agenda de jogos e toda a expectativa em torno do mundial não têm sido tão favoráveis. Comerciantes registram movimento baixo e até prejuízo. Na Rua 25 de Março, centro de São Paulo, a loja de bijuterias Cindy viu o movimento cair em cerca de 40%, segundo a encarregada, Roseli Morganti. "Temos clientes de outros Estados que acabam não vindo. Ainda temos de liberar os funcionários nos jogos do Brasil, é mais prejuízo", explica Roseli. "Vi poucos turistas por aqui. Para nós, a Copa não ajudou nada." Na última partida do Brasil, no sábado, praticamente todas as lojas ficaram fechadas. "O sábado é o dia de maior movimento para nós, então já viu o que significa isso", diz Raul dos Santos, dono de uma loja de brinquedos na Rua Carlos de Souza Nazaré, na mesma região. Para piorar, a venda de artigos verde-amarelos só começou a decolar após o início dos jogos. "Estava mais fraco do que o esperado, mas agora estamos vendendo bem, até as camisas dos outros países têm saído", disse o vendedor ambulante Roberval Pereira Silva. O economista Marcel Solimeo, superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), afirma que os setores beneficiados pela Copa são os de bebidas, carnes, supermercados e de produtos diretamente relacionados aos jogos - "até pipoca". "Todos os outros são prejudicados. O comércio só vende quando está aberto e tem clientes. Com a Copa, muitos fecham as portas e o dia de vendas é reduzido.” Mas até quem está incluído no ramo beneficiado sentiu queda no consumo. No Mercado da Lapa, na zona oeste de São Paulo, nem a decoração com faixas verde-amarelas resultou em um efeito nos caixas. Em uma votação, os lojistas decidiram não abrir no último sábado. "Diminuiu bem o movimento. Já estou até torcendo para que o Brasil caia e as coisas voltem ao normal", diz a comerciante Roberta Agostine, dona de um box de alimentos. Mesmo vendendo produtos essenciais, como materiais de limpeza, Ronan Valentim de Castro prevê prejuízo neste período. "As pessoas adiam tudo, todo evento impacta. Com futebol, as pessoas esquecem tudo." Solimeo, da ACSP, lembra que todas as Copas têm a característica de paralisar a comercialização de produtos e serviços na hora dos jogos, mas a de 2014 tem um impacto diferente. "Não é só nos dias de jogos do Brasil. Quando há jogo aqui em São Paulo, há aumento do rodízio, o que também atrapalha."- No Jardim Anália Franco, bairro nobre da zona leste, a escola de música Lado B fez promoções para a Copa e uniforme canarinho para a equipe. Mas, segundo a coordenadora Claudia Ferreira, houve uma queda "brutal" nas matrículas. "Entre maio e junho, caiu 30% a procura por aulas. Só trabalhamos normalmente na primeira semana, depois foi muito devagar". A escola ainda sente os reflexos dos dias de jogos do Brasil, porque precisa liberar os funcionários - mas as aulas têm de ser repostas. Ainda houve quem preferisse trancar a matrícula. "Alguns já voltaram. Perceberam que sem música a Copa fica mais chata", brinca. Até as vendas do boneco mascote da Copa, o Fuleco, estão em baixa. Com o desaparecimento do personagem do mundial, o interesse das crianças também diminuiu e, consequentemente, as vendas do produto caíram. A pedido da Fifa, o Fuleco foi licenciado a empresas como Grow, Elka e BBR Brinquedos, em diferentes versões, pela Globo Marcas. A Grow apostou fortemente no produto, com a produção de 600 mil unidades, das quais 550 mil já tinham sido distribuídas no início da competição. A fabricante avalia, porém, que a exposição do produto na mídia diminuiu no momento em que deveria ir às alturas. Para o gerente de marketing da empresa, Gustavo Arruda, era esperado 17
um papel de destaque do Fuleco, o que teria ajudado muito as vendas . Desde o início da Copa, os pedidos do varejo têm sido discretos. Sem especificar quantidades, Arruda diz que a Grow conseguiu, nos últimos vinte dias, diminuir um pouco o estoque de 50 mil unidades. Entre as varejistas, a avaliação também é de que o resultado poderia ser melhor. Segundo a loja de brinquedos Armarinhos Fernando, na rua 25 de março, a rede tem estoque suficiente para a demanda pelo mascote até o fim do mundial, no próximo dia 13. O gerente geral da loja , Ondamar Ferreira, afirma que não pretende fazer novos pedidos. Mas, segundo ele, a demanda por outros itens relacionados ao evento (bolas, camisas e vuvuzelas), está bem mais forte e que novas encomendas já foram feitas.
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