Jornais e Revistas de 08 de julho de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 08 DE JULHO DE 2014

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Resíduos Sólidos: Onde está a logística reversa?

Elogiado pelo Congresso Nacional e pelos demais estados brasileiros por ser o único estado a ter erradicado todos os lixões, Santa Catarina está à frente na implementação da Lei 12.305/2010, de autoria do Ministério do Meio Ambiente, que exige o encerramento dos lixões até 3 de agosto desse ano e obriga os prefeitos a implantarem um plano de gestão integrada dos resíduos sólidos. “Todos os municípios catarinenses possuem locais licenciados para o depósito de lixo”, afirma André Miquelante, assessor de meio ambiente da Fecam (Federação Catarinense de Municípios). Isto não quer dizer que a implementação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Estado não apresente pontos nevrálgicos. “Santa Catarina é o único Estado livre de lixões, mas ainda está longe do ideal, das tecnologias implantadas na Europa”, diz o diretor de operações da Comcap (Companhia Melhoramentos da Capital), Marius Bagnati. A logística reversa, prevista na legislação, ainda se restringe à discussão teórica. “Não temos um exemplo prático desta ação em Florianópolis”, admite o deputado federal Paulo Konder Bornhausen, ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável (SDS). No dia da produção da reportagem no Aterro Sanitário de Biguaçu, flagramos um estoque de medicamentos vencidos em um depósito para armazenamento temporário de resíduos classe 1 e 2A (produtos perigosos). Pela logística reversa, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, este tipo de resíduo é de responsabilidade compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo. Não basta o Estado e municípios pensarem planos teóricos para o sistema de logística reversa, são necessárias ações concretas. A professora universitária e engenheira sanitarista, Fernanda Vanhoni, da empresa Proactiva Meio Ambiente Brasil Ltda., que administra o aterro sanitário de Biguaçu, considera que a logística reversa está bem complicada de sair. “Da forma como eles estão fazendo, com a minha experiência, não vai dar certo. Os fabricantes criaram uma barreira e não querem receber o material de volta”, observa.

A lei fixa três instrumentos para a sua implantação: regulamento, acordo setorial e termo de compromisso. É preciso um acordo setorial, de natureza contratual, firmado entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, estabelecendo a 2


responsabilidade pelo ciclo de vida do produto. O plano possui ainda outros pontos fracos, como a estratégia de promover o fortalecimento de cooperativas e associações de catadores. Fernanda acredita que a situação dos catadores continua a mesma. “As prefeituras teriam que cadastrá-los, incentivá-los. Não vi isso acontecer”, relata. Além disso, ela critica a demora na elaboração dos planos. “Todo mundo correu para fazer o plano municipal de água e esgoto. E resíduo e drenagem foi ficando. Como são os mais difíceis, drenagem por falta de projeto mesmo, os municípios foram crescendo de qualquer jeito, vão fazendo um dreno aqui e outro ali, e o resíduo, contrata a empresa tal. Sem pensar num contexto, em ter pontos e centros de triagem. Você passou toda a responsabilidade para as empresas coletoras, transportadoras e destinadoras”, destaca. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê a criação de políticas e planos próprios em Estados e municípios. Só com eles, a União dará acesso a recursos. O plano prevê também a diminuição da geração de resíduos, a eliminação dos bota-fora, que, de acordo com o assessor da Fecam, ainda existem no Estado. “Acompanhei alguns diagnósticos para elaboração de planos e tenho identificado vários”, afirma. A engenheira está atenta à elaboração do plano no município de São José, há um ano e, no diagnóstico, constavam vários pontos de bota-fora. “Ainda existe gente que aproveita terrenos baldios para colocar sofá, entulho de obra. Ainda estamos muito atrasados culturalmente”, lamenta. A engenheira considera que não adianta ter uma política nacional, um plano nacional e não ter os planos municipais. “É o plano municipal que vai fazer acontecer”, diz Fernanda. Em 2009, a legislação estadual já indicava a destinação de resíduos em aterros sanitários. Santa Catarina conta hoje com 11 aterros municipais, quatro aterros de consórcios intermunicipais que atendem 26 cidades, e 21 aterros de empresas que atendem 252 municípios. Os resíduos de 22 municípios da região da Grande Florianópolis vão para o Parque de Gerenciamento de Resíduos da empresa Proactiva, em Biguaçu. Segundo Fernanda, 50% das 800 toneladas diárias de lixo vem somente da Capital. “A gente esperava que com a política (Política Nacional de Resíduos Sólidos) diminuísse a quantidade de resíduos que chegaria aqui, mas isso não ocorreu até então”, afirma. A engenheira sanitarista afirma que a responsabilidade pela triagem não cabe à empresa. “Não adianta depois de você misturar tudo, lixo de banheiro, com reciclável, chegar aqui, depois de compactado, querer que a gente separe. A Proactiva é uma empresa de destino final. O gerenciamento é dos municípios, eles têm que pensar em formas estratégicas, em divulgação com a população, e eu não vejo isso acontecer”, argumenta. “Algumas vezes já nos perguntaram o que nós vamos fazer para nos adequarmos ao plano nacional e a resposta que nós damos é a mesma: nós não vamos fazer nada”, completa. Todos os dias, o resíduo é descarregado do caminhão, compactado e coberto com terra no fim do dia. De acordo com a engenheira, a “pirâmide” de lixo já possui 80 metros e a meta é chegar até 100 metros, depois ocupar outro espaço. O chorume, que é um líquido preto com restos de matéria orgânica, é drenado e tratado em uma série de processos. O gás é todo extraído e queimado. O chorume bruto passa por três lagoas aeradas, com bactérias decompositoras de matéria orgânica, antes de ser feito um processo físico-químico. Depois, o líquido tratado é lançado no Rio Inferninho, que deságua no mar. “O importante é ter um controle operacional muito forte, o chorume é muito difícil de tratar, ele é diferente do esgoto por isso, tem uma carga orgânica muito alta. Se faltar energia, entra o gerador, se não os aeradores param de funcionam e as nossas bactérias morrem. A gente tem que lançar um efluente tratado com qualidade para não causar nenhum impacto no rio”, destaca. O aterro recebe também resíduos de saúde e perigosos de 17 municípios. Os de saúde são esterilizados em uma autoclave, com temperatura de 150ºC. São 180 kg por ciclo, que dura 50 minutos. Já os resíduos perigosos, como lâmpadas, pilhas, medicamentos, produtos químicos e solventes ficam armazenados temporariamente num galpão. A Proactiva envia esses materiais para aterros “classe 1” em Joinville e em Blumenau, apto para esse gerenciamento. Há apenas três aterros para gerenciamento de produtos perigosos no Estado, sendo o terceiro em Chapecó. “É um aterro parecido com o que a gente tem aqui, só que o mecanismo dele é diferente. Por exemplo, as pilhas são colocadas dentro de um tambor metálico. Esse tambor metálico é concretado e essa pilha de concreto é enterrada. Tem resíduo que vai para coprocessamento em fornos de cimenteiras. O processo é diferente do nosso. O nosso a gente recebe, compacta 3


e cobre. A parte de impermeabilização e solo é dupla, a nossa é simples”, destaca. O processo para a elaboração dos planos municipais em Santa Catarina começou no segundo semestre de 2013 pela SDS em parceria com as associações de municípios. O diagnóstico da implantação do PNRS no Estado foi apresentado durante o Fórum Sustentar, realizado na Assembleia Legislativa entre os dias 22 e 23 de maio, pelo assessor de meio ambiente da Fecam (Federação Catarinense de Municípios), André Miquelante. O atual cenário catarinense está assim: A Amfri, da região de Itajaí, está na fase de validação do diagnóstico local. A Amrec, com sede em Criciúma, tem o convênio assinado. A Amosc, de Chapecó, analisa a gestão em consórcio. Já a Amarp, do Alto do Rio do Peixe, aprovou o diagnóstico inicial. A SDS e os especialistas do setor ambiental acreditam que Santa Catarina deverá só finalizar a elaboração do plano estadual e dos planos municipais de resíduos sólidos no ano que vem. “As licitações dos planos municipais estão sendo feitas”, afirma a secretária de Estado de Desenvolvimento Sustentável (SDS), Lúcia Dellagnelo. No segundo semestre de 2013, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável (SDS) fez uma parceria com as Associações de Municípios para a criação dos planos. Estão em elaboração os planos da Amerios, com sede em Maravilha; Amurel, da região de Laguna; Amesc, do extremo Sul; Amai, com sede em Xanxerê; Amauc, com sede em Concórdia; Ammvi, do Médio Vale do Itajaí e Amplasc, do Planalto Sul. Amures, da Região Serrana, está elaborando a Política de Saneamento Básico em conjunto com a Política de Resíduos Sólidos. A Amauc, de Concórdia, está na fase de diagnóstico, mas não houve repasse de recursos até o momento. A Amurc, de Curitibanos, já selecionou empresa para convênio, mas os trabalhos não foram iniciados por falta de repasse de recursos. A Amavi, do Alto Vale do Itajaí, já tem plano aprovado por lei. Amvali, do Vale do Itapocu, pretende entregar o plano em junho. Estão sem definição os planos da Ameosc, do Extremo Oeste e da Amplanorte, no Planalto Norte. Ainda falta licitação dos planos da Amunesc, com sede em Joinville, e a Granfpolis, da Grande Florianópolis.

Produção de veículos cai em junho; montadoras esperam queda de 10% no ano A produção de veículos caiu em junho, fechando o primeiro semestre do ano em forte retração. Com o fraco resultado do período, as montadoras refizeram suas projeções para o ano. Agora, estimam produção 10% inferior à de 2013, a 3,339 milhões de veículos, segundo a Anfavea (associação de montadoras). Se confirmada, essa queda na produção será a maior desde 1998. Antes, a previsão era de alta de 1,4%. Já a expectativa para as vendas foi revista de alta de 1,1% para queda de 5,4%, a 3,564 milhões de unidades, que se confirmada marcará o segundo ano consecutivo de recuo nos licenciamentos de veículos no país após nove anos de crescimento ininterrupto. A Anfavea já tinha alertado no início do mês passado que cortaria para baixo neste mês as projeções de desempenho do setor para o ano As vendas de veículos no varejo, segundo a Fenabrave (associação das concessionárias), têm sido pior do que o esperado. Em junho, a queda na produção foi de 23,3% sobre maio, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (7). A produção de junho somou 215,9 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, acumulando na primeira metade do ano 1,566 milhão de veículos montados. No semestre, o recuo foi de 16,8% sobre o mesmo período do ano passado. A queda sobre junho de 2013 foi de 33,3%. A queda na produção aconteceu com um forte recuo nas vendas no mercado interno e nas exportações, diante da fraqueza da economia brasileira no período e de dificuldades nas vendas para a Argentina, principal destino das vendas externas do setor. O crédito mais seletivo –em maio, por exemplo, recuou pelo 17º mês – também afetou o desempenho. Para fazer frente à queda na demanda, enquanto algumas montadoras concederam férias coletivas em junho, outras deram folga a operários nos dias de jogos da Seleção brasileira. A produção apenas de automóveis e comerciais leves caiu 22,6% em junho, na comparação com maio. Foram produzidos 205.207 unidades desse segmento no 4


mês passado, ante 265.272 no período anterior. Sobre junho de 2013, quando saíram das linhas de produção 303.642 carros e comerciais leves, a queda foi de 32,4%. O balanço semestral também é negativo: 1.470.855 unidades fabricadas, contra 1.767.621 de janeiro a junho de 2013, o que significa queda de 16,8%. Os estoques caíram em volume –399,9 mil em maio contra 395,4 mil em junho–, mas aumentaram em dias, passando de 41 dias em maio para 45 em junho. Em junho de 2014 foram exportados 22.098 carros e comerciais leves, montante 32,6% inferior às 32.764 unidades exportadas em maio deste ano. Em relação à junho de 2013 (46.016), o declínio é de 52%. Há queda também no semestre. As vendas para outros países somaram 156.741 unidades, contra 247.060 em igual período de 2013 retração de 36,6%. Já a produção de caminhões (8,2 mil unidades em junho) caiu 49,3% na comparação anual e 35,5% em relação a maio. Nas fábricas de ônibus, houve decréscimo de 37,9% na comparação com junho de 2013. No total, 2,5 mil ônibus foram produzidos no Brasil durante o mês passado, 25,2% abaixo de maio. Os maus resultados da indústria se refletem na geração de empregos. Houve queda de 0,4%,para 130.677, o total de vagas de trabalho nas indústrias de veículos o que inclui carros, comerciais leves, caminhões e ônibus. Considerando também o setor de máquinas agrícolas, o total de vagas caiu 0,5% na passagem de maio para junho, somando 151,5 mil empregados. Para tentar estimular o setor, o governo decidiu manter a redução do IPI(Imposto sobre Produtos Industrializados) que incide sobre automóveis até o fim do ano. O objetivo da medida, segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda), é viabilizar as vendas no segundo semestre. Ele afirmou que as vendas foram "fracas" na primeira metade do ano e listou como motivos a diminuição do crédito e menos dias úteis (foram sete dias a menos). Assim, estão mantidas as seguintes alíquotas de IPI: • 3% para veículos até 1.000 cilindradas flex • 9% para veículos entre 1.000 e 2.000 cilindradas flex • 10% para veículos até 2.000 cilindradas a gasolina. A previsão era que a alíquota para veículos flex até 1.000 cilindradas, por exemplo, voltasse a 7% a partir do dia 1º de julho. O governo deixará de arrecadar quase R$ 1 bilhão com a manutenção do imposto reduzido. No mês de maio, o tombo sofrido pela indústria automotiva acabou afetando outros setores, ajudando a produção industrial a recuar 3,2% no período, segundo dados do IBGE.

Em reunião, Argentina insiste que juiz suspenda sentença a favor de fundo Em reunião com o moderador apontado pela Justiça americana em Nova York, Daniel Pollack, o ministro da Economia argentino, Axel Kicillof, insistiu nesta segunda-feira (7) que o juiz Thomas Griesa suspenda a execução da sentença para o pagamento de US$ 1,3 bilhão dos credores que não aceitaram a reestruturação da dívida. "Deixou-se claro que a sentença de Griesa, como se interpreta, seria impossível de cumprir", diz um comunicado divulgado pelo governo argentino ao fim da reunião que durou três horas e meia. Segundo o texto, como o caso não envolve só os fundos "holdout" litigantes, como o NML, manter a execução da decisão judicial poderia obrigar o pagamento de todos os outros títulos que não entraram no atual processo e "criaria obstáculos para o pagamento dos credores [que reestruturaram a dívida] em 2005 e 2010". "O ministro reiterou a vontade da Argentina de seguir dialogando para assegurar condições justas, equitativas e legais, o que implica contemplar os interesses de 100% dos detentores de títulos", diz a nota do governo. Kicillof teria exposto "detalhadamente" a posição da Argentina no litígio com os holdouts –credores que não participaram das reestruturações da dívida–, a origem dos títulos da dívida em discussão e "as numerosas e medidas efetivas" que o país tem tomado desde 2003 para "normalizar as relações financeiras internacionais" do país. Kicillof veio a Nova York acompanhado dos secretários do Ministério das Economia Pablo López (Finanças) e Federico Thea (Legal e Administrativo), e do subprocurador do Tesouro, Javier Pargament. Ele já voltaria na noite de segunda à Argentina. Representantes dos fundos litigantes não participaram da reunião e não 5


há anúncio de um encontro com Pollack. Segundo o mediador, a conversa com Kicillof foi "franca". "As principais questões foram identificadas e as partes indicaram uma intenção de continuar com os encontros", disse Pollack, em nota divulgada por sua assessoria. Depois que a Argentina decretou um calote em 2001, ela procurou seus credores para propor a eles que trocassem seus títulos e aceitassem receber menos. Os que detinham a grande maioria dos papéis (92,4%) aceitaram, e passaram a receber pagamentos da dívida. O NML, um dos fundos que não concordou com a reestruturação, ganhou em junho, na Justiça dos EUA, o direito de receber o valor integral assim que a Argentina pagasse os credores da dívida reestruturada. O prazo para o pagamento desses últimos era 30 de junho, no entanto, como ele não foi realizado, houve um "calote técnico". O governo argentino ainda tem 30 dias antes que o calote seja confirmado. Nesta segunda, o governo publicou no diário oficial uma carta aos seus credores para explicar por que uma parte deles não recebeu seus vencimentos. No texto, também foi publicado em jornais estrangeiros, o governo se isenta da responsabilidade pelo "calote técnico" em que o país entrou desde o último dia 30. O comunicado diz que os bancos responsáveis pela mediação do pagamento –feito no dia 27 de junho e bloqueado pelo juiz Griesa– são obrigados a repassar o dinheiro. O texto foi dirigido aos credores que aceitaram trocar seus papéis nas reestruturações. O banco tem a obrigação de distribuir o dinheiro, prossegue. E, como não distribuiu, está violando suas obrigações. "A Argentina se isenta da responsabilidade por esse incumprimento."

Valor mínimo para realizar TED é reduzido para R$ 750 O valor mínimo para realizar uma TED (Transferência Eletrônica Disponível) foi reduzido de R$ 1.000 para R$ 750. A TED possibilita a transferência de recursos entre contas de diferentes bancos com compensação no mesmo dia. A principal diferença da TED para outras formas de movimentação financeira está exatamente no prazo da compensação do crédito, que entra na conta do destinatário no mesmo dia em que a transferência é solicitada. Em outras modalidades, como o DOC (Documento de Crédito) ou mesmo a compensação de cheques, é preciso aguardar pelo menos um dia para a conclusão da operação. Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o valor mínimo é estabelecido para evitar que o atrativo da TED gere uma demanda em excesso e sobrecarregue os sistemas de pagamento e de compensação das transações financeiras. Quando foi criada, em 2002, a TED tinha valor mínimo de R$ 5 milhões. Depois, o piso foi sendo reduzido gradativamente. No ano passado, caiu de R$ 2.000 para R$ 1.000. A expectativa é que, até o final de 2015, o valor mínimo da TED seja zerado. Para que que o DOC não fique sem função, o Banco Central e instituições financeiras estão acertando uma redução na tarifa cobrada para a realização desse serviço. Isso porque, diante dos prazos de cada transação e com a mesma tarifa, seria mais vantajoso usar a TED, que permite transferências praticamente em tempo real. No DOC, o pagamento ao destinatário só ocorre no dia seguinte. Com isso, havia a expectativa de que o DOC seria praticamente abandonado. A expectativa do governo é que a tarifa do DOC caia pela metade. Hoje, os dois produtos têm o mesmo preço.

Sergio Amaral: O novo momento das relações Brasil-China O presidente da China, Xi Jinping, chega ao Brasil no próximo domingo (13). Estará acompanhado por uma comitiva de 200 empresários. A visita, de uma semana, marca o momento em que as relações Brasil-China alcançam um patamar mais alto. O comércio entre os dois países teve um crescimento espantoso e, em poucos anos, a China se tornou o primeiro mercado para as exportações brasileiras. Segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasil China, os investimentos anunciados no período de 2007 a 2012 atingiram cerca de US$ 68 bilhões, a metade dos quais já está em execução.De início, buscavam assegurar o suprimento de commodities como minério de ferro e petróleo. Em seguida, concentraram-se em empreendimentos em infraestrutura como energia e telecomunicações. Depois, voltaram-se 6


para oportunidades do mercado consumidor brasileiro, como é o caso das montadoras de automóveis. Mais recentemente, expandiram-se ao setor de serviços, particularmente o financeiro, com a presença de três entre os principais bancos chineses, o ICBC, o Banco da China e o Banco da Construção. O intercâmbio é sustentável e tem condições de continuar a crescer, porque está lastreado na complementaridade entre as duas economias. O Brasil tem uma disponibilidade de recursos naturais, água e terras aráveis, que fazem falta à China. Pode assim oferecer o que a China demanda e continuará a demandar por um bom tempo, ou seja, commodities metálicas e alimentos. As relações deverão melhorar. Nos próximos anos, a expansão estará centrada na formação de parcerias em dois eixos: agronegócio e infraestrutura. Se quisermos agregar valor aos nossos produtos de exportação, temos de começar pelos setores em que somos mais competitivos, como o agronegócio. Empresas chinesas e brasileiras estão negociando parcerias para o processamento conjunto de commodities agrícolas, assim como para sua comercialização e distribuição na China. Na infraestrutura, as empresas chinesas desenvolveram tecnologias, buscam mercados e dispõem de recursos para financiar parcerias com construtoras brasileiras. Esses projetos, particularmente no setor ferroviário, terão um sentido estratégico. É o caso da ferrovia Lucas do Rio Verde-Campinorte que, em seguida, se bifurcará em duas vias, para o escoamento da soja do Centro-Oeste nos portos do Pará e Espírito Santo. Caso o consórcio sino-brasileiro venha a vencer a licitação, as empresas chinesas terão uma participação em todas as etapas da exportação da soja: a originação do produto, a logística do escoamento, a comercialização e a distribuição na China. A rapidez na expansão das relações suscita a cada passo novos desafios. Eles estão sendo resolvidos, em boa medida, por um mecanismo de alto nível, a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), que se tem mostrado hábil para antecipar dificuldades e encaminhar soluções. O Conselho Empresarial tem buscado dar a sua contribuição mediante a aproximação e identificação de oportunidades de negócio. O desafio para o Brasil, além da maior competitividade do produto chinês, está na forma de operar dos dois países. Cerca de 90% das empresas chinesas no Brasil são estatais e atuam sob a orientação e supervisão da agência oficial Sasac, o que confere ao governo chinês uma visão de conjunto e capacidade de coordenação maiores do que as que nós temos. Outras vezes, o desafio está em questões operacionais relacionadas à implementação de decisões já tomadas, como a concessão de vistos a funcionários de empresas chinesas ou a formalização do acesso de produtos e investimentos brasileiros no mercado chinês. É preciso superar as dificuldades para que o intercâmbio prossiga de modo desimpedido e assegure resultados mutuamente proveitosos. Que a visita de Xi Jinping contribua para avançar neste sentido.

Inflação ultrapassa o teto da meta e vai a 6,52% em 12 meses Após taxas expressivas até maio, a inflação desacelerou em junho, mas não o suficiente para fazer o índice não ultrapassar o limite estipulado pelo governo. O IPCA, índice oficial do país, apontou alta de 0,40% em junho –em maio, o percentual havia sido mais elevado: 0,46%. A inflação acumulada em 12 meses, porém, persiste em patamar alto. Fechou em maio em 6,52%, rompendo o teto da meta estipulado, de 6,5%. A meta é de 4,5%, com dois pontos percentuais de variação para mais ou para menos. Os dados foram divulgados pelo IBGE na manhã desta terça-feira (8). Em abril, a taxa mensal fora de 0,67%. O resultado para o mês também veio acima do esperado pelo mercado. As principais consultorias e bancos previam uma taxa média de 0,35% para junho, segundo o boletim Focus, do Banco Central. O resultado de junho é a taxa mais baixa para um mês desde setembro de 2013, quando esteve em 0,35%. Em ascensão desde janeiro, a taxa em 12 meses é a mais alta desde junho de 2013, quando bateu os 6,7%, e tende a manter uma trajetória de aceleração, já que em meados do ano passado a inflação foi muito baixa, o que não deve se repetir neste ano. Em meio às dificuldades de produzir no Brasil e de exportar mercadorias, a fabricante de sapatos Paquetá 7


estuda ampliar seu parque fabril na República Dominicana a partir do próximo ano. A companhia, que também atua no varejo, esperava alavancar seus embarques para atingir a meta de um faturamento de R$ 5 bilhões em 2020 --hoje está ao redor de R$ 2,5 bilhões. "As vendas internacionais não estão alcançando os volumes que esperávamos", afirma o presidente do grupo, Adalberto Leist, referindo-se ao elevado custo Brasil de produção. "Também prevíamos que o dólar atingisse R$ 2,45, mas está em R$ 2,20." Desde o começo deste ano, as exportações caíram 8%. Nos anos 80, elas representavam cerca de 80% do faturamento do grupo. Hoje, correspondem a 13%. A planta da República Dominicana produz principalmente para os Estados Unidos. "Ela é pequena, buscamos prédios prontos para fazer a expansão", diz. Atualmente, a unidade fabrica cerca de dois milhões de pares por ano. A intenção é alcançar três milhões. Com sete plantas ao todo (além da fábrica na República Dominicana, há cinco no Brasil e uma na Argentina), a companhia tem capacidade de produzir 13 milhões de pares de sapato. Na Argentina, onde muitas companhias brasileiras enfrentam dificuldade por causa das medidas protecionistas do governo Kirchner, o grupo não tem problemas, de acordo com o executivo. "Lá, fabricamos produtos esportivos. A unidade se mantém bem e, com isso, conseguimos também enviar muitas mercadorias que não existem no país", acrescenta.

BOLÃO José Luis Menghini, vice-presidente no Brasil da Impsa, empresa do mercado de energias renováveis, torce para que o jogo desta quarta-feira (9) entre Argentina e Holanda repita o resultado da final de 1978: 3 a 1. "Mas não tenho tanta certeza de que seja possível, acho que, com muita sorte, vamos ganhar de 1 a 0", afirma o argentino. Para a partida entre Brasil e Alemanha, ele prevê uma decisão nos pênaltis: "Com uma diferença de um gol para o Brasil." O executivo, porém, prefere não arriscar nenhum placar para a final. "Vamos esperar para ver como serão as semifinais", diz. Menghini diz que o Mundial não afetou muito os negócios da companhia. "Apenas nos dias de jogo do Brasil, a fábrica trabalhou até o meio-dia." O índice que mede a confiança do consumidor americano se manteve estável em julho, pelo quarto mês consecutivo, de acordo com a consultoria Ipsos. O indicador variou de forma negativa apenas 0,5 ponto de junho para julho e atingiu 50,5 neste mês. A escala vai de 0 a 100 --quanto mais alto o valor, melhor o humor. A segurança dos americanos com o emprego é um dos principais motivos para o equilíbrio do nível de confiança dos consumidores. Em julho, apenas 29% dos entrevistados relataram que alguém em seu círculo de familiares ou amigos perdeu o emprego recentemente. Esse indicador tem registrado uma queda progressiva nos últimos meses, de acordo com a consultoria. Ainda é grande, porém, a parcela de americanos com receio de realizar gastos. Do total de mil consultados, 42% disseram que se sentem menos confortáveis para fazer uma grande compra, como a de um carro ou de uma casa, na comparação com seis meses atrás.

AMEAÇA VIRTUAL Os setores de finanças e seguros respondem por metade dos casos de ataques cibernéticos no mundo, segundo relatório de serviços de segurança da IBM. Ataques contra a informação e a comunicação aparecem em terceiro lugar no ranking, com 18,6%. Entre as formas de invasão mais comuns, estão as feitas por softwares criados para usos mal intencionados e a varredura sustentada, uma atividade de reconhecimento projetada para coletar informações do alvo. Em 2012, o segmento mais visado por cibercriminosos foi o de manufatura, que teve uma taxa de incidência de ataques de 23,8%. O estudo analisou 133 países. Mais... A empresa de guindastes PHD investirá R$ 8 milhões na modernização e na ampliação de sua fábrica...maquinários Com duas plantas em Caxias do Sul (RS), a indústria planeja crescer cerca de 15% neste ano.

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Finalmente, o Brasil sem Burocracia! Tenho simpatia pelo comportamento e pela integridade da presidente Dilma Rousseff nas suas relações com o setor produtivo. Sua percepção foi, infelizmente, prejudicada por trágicas falhas de comunicação. A busca da necessária e imprescindível modicidade tarifária nos processos de transferência de monopólios públicos para o setor privado foi frustrada por alguns problemas: 1) a crença que poderia fixar, simultaneamente, a qualidade dos serviços concedidos e a taxa de retorno; 2) pelo aparelhamento ideológico das agências de Estado, cujos membros deveriam ser qualificados e independentes para garantir a higidez financeira de contratos de concessão que são necessariamente "abertos" e duram dezenas de anos. A isso juntou-se a forma apressada da redução do custo da energia elétrica e do aumento da competição nos portos, ambos, obviamente, necessários. Em 2011 o governo ajustou a política econômica: 2,7% de crescimento do PIB (contra 3,6% na média 2009/10); taxa de inflação de 6,5% (contra 5,1% na média 2009/10) e taxa Selic média de 12 meses de 11,6% (contra 9,8% em 2010). Em 2012, a situação complicou-se. Tivemos um problema climático e o setor agropecuário caiu 2,1%. Os efeitos da valorização do câmbio sobre o setor industrial levou-o a uma queda de 0,8%. Em resposta à política cambial e à conjuntura mundial, nossas exportações caíram 5,2% e as importações 1,3%, o que ajudou a reduzir o crescimento do PIB a 1%. No quadriênio 2011/14, devemos apresentar um crescimento médio do PIB per capita em torno de 1%. Preso numa armadilha construída pela revolução demográfica e uma deterioração da situação externa, o governo demorou a reconhecer: 1) que a disponibilidade de mão de obra e o "vento de cauda" que permitiram o magnífico programa de crescimento com distribuição de renda de 2003/10 tinham terminado; e 2) que diante desses fatos, o estímulo à demanda produz um resultado fugaz. Ele só se sustenta com subsídios crescentes, prejudica a alocação dos fatores de produção, deteriora a política fiscal, aumenta a pressão inflacionária e o déficit em conta corrente, como ocorreu. É preciso dizer, por outro lado, que tais problemas são, pelo menos em parte, consequências da política social e econômica que soube mobilizar o trabalho nacional, ao mesmo tempo em que aproveitou a janela de oportunidade criada pela conjuntura internacional. Conseguimos obter uma razoável taxa de crescimento (4,5% ao ano entre 2003-2010), juntamente com uma melhora substancial na distribuição de renda (os 20% de menor rendimento cresceram 68%, enquanto o dos 20% de maior rendimento cresceram 31%) no meio da mais grave recessão mundial dos últimos 80 anos. Isso só foi possível graças à inclusão social (salário mínimo, Bolsa Família etc.), apoiada na expansão do crédito interno, que passou de 25% para 45% do PIB no período. Uma vez que a força de trabalho tende a crescer em torno de 1% ao ano, a volta ao crescimento só poderá ser obtida pela ampliação da produtividade de trabalho. Estamos hoje numa situação privilegiada no mundo. No Brasil, quase toda a população entre 15 e 64 anos que pode e deseja trabalhar está empregada. Esse é um bem precioso, ainda que produza algum estresse. De que depende, afinal, o aumento da produtividade do trabalho? Fundamentalmente, do aumento do capital físico (estradas, portos, energia, equipamentos produtivos, comunicação, tecnologia etc.) posto à disposição de cada trabalhador que precisa ter qualificação adequada para operá-lo. O governo já entendera isso em 2012, com um vasto programa de investimento público, através de concessões que deveriam estimular o espírito animal do empresariado privado para também ampliarem os seus investimentos, o que não aconteceu pelas falhas de comunicação acima relatadas. Só no segundo semestre de 2013 as concessões de infraestrutura acertaram o passo, com um atraso de pelo menos dois anos. O governo sente na carne a tremenda ineficiência gerada pela complexidade da administração pública que construiu. Talvez seja isso que tenha levado a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, a colocar como parte importante do seu Plano de Transformação Nacional, o programa Brasil sem Burocracia. Um pequeno (mas significativo) exemplo de como as agências do governo batem suas cabeças duras, é a narrativa cheia de peripécias feita pela excelente jornalista Lu Aiko Otta ("O Estado de S. Paulo", 22/6, pág. B12), do esperado asfaltamento de cerca de três quilômetros de acostamento no chamado Morro dos Cavalos, nas vizinhanças de Florianópolis e de um território dos indios guaranis. Depois de quatro décadas foi parar, a pedido do 9


Ministério da Justiça, na Casa Civil da Presidência da República. O "imbróglio" começou quando - ainda nos anos 70 - o Dnit pensou que tivesse conseguido as licenças necessárias para fazer a obra. Ledo engano. Ela foi embargada pelo Ministério Público Estadual! Envolveram-se, depois a Funai, o Ibama, a Advocacia-Geral da União e "tutti quanti". Hoje, depois de 40 anos, há uma esperança que o acostamento será feito nos próximos cinco anos pelo próprio Dnit!

IPCA avança 0,40% em junho e tem alta de 6,52% em 12 meses RIO - O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,40% em junho, após alta de 0,46% em maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em junho do ano passado, o índice tinha subido 0,26%. Com o resultado, a inflação acumulou alta de 3,75% no primeiro semestre e avanço de 6,52% em 12 meses, superando assim, o teto do intervalo da meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central (BC), de 6,5%. O IPCA de junho ficou acima da média de 0,39% apurada pelo Valor Data junto a 17 consultorias e instituições financeiras. O intervalo das projeções era de 0,36% a 0,45%. O acumulado em 12 meses também ficou acima da média esperada, de 6,51%. Fonte: IBGE período variação (%) junho 2014 0,40 maio 2014 0,46 junho 2013 0,26 acumulado 2014 3,75 acumulado 12 meses 6,52 "Em desaceleração pelo terceiro mês consecutivo, o grupo Alimentação e Bebidas foi de 0,58% em maio para -0,11% em junho, o menor resultado desde julho de 2013 (-0,33%). Os alimentos consumidos em casa chegaram a apresentar queda de 0,60% em junho, ao passo que, em maio, tiveram alta de 0,41%", destacou o IBGE em nota. Fonte: IBGE grupo

variação (%) maio

variação (%) junho -0,11 0,55 0,38 0,49 0,37 0,60

Alimentação e bebidas 0,58 Habitação 0,61 Artigos de residência 1,03 Vestuário 0,84 Transportes -0,45 Saúde e cuidados 0,98 pessoais Despesas pessoais 0,80 1,57 Educação 0,13 0,02 Comunicação 0,11 -0,02 O IPCA apura a inflação para as famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e de Brasília. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,26% em junho, depois da alta de 0,60% um mês antes. Nos primeiros seis meses do 10


ano, o indicador subiu 3,79%, ao passo que, em 12 meses, o índice teve alta acumulada de 6,06%. Em junho do ano passado, o INPC registrou aumento de 0,28%. O INPC se refere às famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos que vivem nas mesmas regiões metropolitanas e capitais pesquisadas no IPCA.

Saída micro Micro versus macro. O cenário desafiador imposto à bolsa brasileira ao longo do primeiro semestre deixou uma separação bem nítida entre os principais ganhadores e perdedores do mercado. Do lado positivo, ações de empresas com desempenhos operacionais e eventos favoráveis, de setores em desenvolvimento e mais blindadas contra o freio imposto à economia conseguiram deixar a inexpressiva alta de 3,2% do Ibovespa para trás, conquistando dois dígitos de valorização. O setor de educação foi um dos destaques, com o avanço de 59% das ações ON de Kroton na primeira metade de 2014, de 44,5% dos papéis ON de Estácio Participações e de 24,3% das ONs de Anhanguera - que deixaram de ser negociados na semana passada, por conta da fusão com a Kroton. No segmento financeiro, Cielo ON (41,2%), Cetip ON (35,3%) e BB Seguridade ON (35,7%) chamaram atenção, essa última com uma trajetória vencedora desde a abertura de capital. E há ainda casos mais específicos, como o da Marfrig, cujas ações subiram 49% no semestre, mas caíam mais de 20% em 12 meses. No mês passado, o BTG Pactual recomendou a compra das ações, demonstrando confiança em sua política de gestão de dívida. A Marfrig fez recentemente uma emissão de bônus para quitar dívidas mais caras. Ações de companhias de energia, como Cesp PNB e Cemig PN, também destoaram da média do mercado, com valorização semestral de 36,5% e 31,4%, respectivamente, influenciadas pelos preços mais altos de energia no mercado spot, aponta Gustavo Daibert, gestor de ações da BBM Investimentos. Já no terreno negativo, o tema macroeconômico teve um impacto preponderante sobre a trajetória dos papéis, com a desaceleração brasileira e a redução da demanda global pesando principalmente sobre empresas de siderurgia, mineração e construção. A questão cambial, diante da surpreendente depreciação do dólar em relação ao real, também atrapalhou o desempenho de ações com receita ou dívidas atreladas à moeda. E mesmo com a influência do tema eleitoral sobre a bolsa de forma geral desde março, quando o mercado passou a se recuperar, esse não foi um fator-chave na lista das maiores altas e baixas do Ibovespa entre janeiro e junho. O ranking dos "perdedores" foi liderado pelos papéis ON da MMX (-51,7%), Usiminas PNA (-46,7%), CSN ON (-32,7%) e Gerdau PN (-28,7%), ao lado das ações preferenciais (PN) da Oi (-45,7%), empresa envolta em uma série de fatores negativos, como o resultado operacional, aumento de capital e questionamentos em relação à governança corporativa com a fusão com a Portugal Telecom. Em construção, PDG Realty ON perdeu 19,3% e Even ON cedeu 16,2%, envolvidas em um ambiente mais complicado para vendas de imóveis. Há ainda as empresas prejudicadas pela tese cambial, caso de Fibria ON (22,5%) e Braskem PNA (-30,4%), também pressionadas pelo mercado mais desaquecido. Daibert, da BBM Investimentos, conta que mexeu pouco na estrutura da carteira de ações ao longo do semestre, mas vê o fator político com um cuidado extra. "A questão traz muita movimentação para a carteira, dá giro para ela. Estamos operando diariamente eleição", diz. A BBM segue com grande exposição a empresas de educação, setor visto como mais blindado ao desaquecimento econômico por Daibert, com uma performance operacional muito forte e que tem ficado imune ao ambiente político. "Continuo achando que é uma boa aposta, porque o resultado das eleições tem baixo impacto sobre o setor. E a influência do governo tem sido positiva sobre ele", afirma. E mesmo com a visão mais pessimista do mercado financeiro com relação a uma continuidade da gestão Dilma Rousseff, assim como em educação, Daibert enxerga potencial de ganhos com papéis de bancos. O desenho da carteira, aponta, está vinculado a um olhar muito micro, aliado a papéis considerados baratos, de segmentos como o 11


industrial. Embora não se posicione no setor siderúrgico, prejudicado pela queda inesperada do dólar e o arrefecimento do mercado doméstico, a BBM tem um pouco de Vale no portfólio. As ações PNA da mineradora caíram 17% no semestre. Para o sócio e gestor de ações da DLM Invista Daniel Castro, o mercado premiou na primeira metade do ano empresas com maior resiliência dos resultados a momentos de incerteza, com boa estratégia e segurança de margem, e descontou em segmentos mais cíclicos. Assim como a BBM, a gestora segue com ações de educação e de bancos e serviços financeiros como as principais apostas. Mas confiar que as ganhadoras do semestre vão seguir como os destaques dessa segunda parte de 2014 ainda exige sangue frio. "É cedo para falar de um segundo semestre melhor. Permanecem as preocupações", diz Castro, que menciona o câmbio ainda como elemento de risco, principalmente se o cenário mostrar uma retomada mais forte que o esperado dos Estados Unidos, o que tem impacto sobre a curva de juros e pode ser um gatilho para a depreciação do real em relação à moeda americana. O estrategista-chefe de renda variável para América Latina do J.P. Morgan, Pedro Martins Júnior, assinala que, embora o mercado brasileiro pareça atrativo em termos de múltiplos, o cenário não é simples. Além da revisão para baixo do crescimento dos lucros das empresas neste ano - atualmente em 5,2% para 2014 e em 15% para 2015, segundo estimativas do banco - diante da expectativa de menor expansão do PIB, o quadro inflacionário não está cedendo e, portanto, as pressões de custos estão maiores. E na comparação com a renda fixa, o investidor ainda encontra um juro real de 6,5% ao ano. "Para comprar bolsa, ele precisa vislumbrar uma taxa de juros menor", afirma. O estrategista ressalta que há ainda muitas incertezas no que tange ao cenário brasileiro após as eleições. Desta forma, o J.P. Morgan prefere ter uma parte da carteira ainda posicionada em empresas menos dependentes da expansão da economia e mais defensivas à inflação. A parcela mais arriscada do portfólio parte da aposta de que o juro real brasileiro precisa ceder e há ainda uma fatia atrelada ao câmbio. O banco tem classificação "underweight" (abaixo da média do mercado) para Brasil e Colômbia, neutra para Chile e México e "overweight" (acima da média) apenas para o mercado acionário peruano, dentro da estratégia de América Latina. Mas a posição já foi pior para a bolsa doméstica no início do ano. Segundo Martins Júnior, o banco ficou menos pessimista diante das pesquisas eleitorais e da visão de um menor risco cambial. Ao longo do semestre, o J.P. Morgan aumentou a exposição em ações de empresas financeiras e de serviços, e reduziu a posição em consumo doméstico. As grandes dúvidas residem hoje no tamanho do crescimento mundial, principalmente da economia americana, e os efeitos sobre a subida das taxas de juros do país. Mas pensando no curto prazo, as eleições nacionais estão nos holofotes. Segundo o estrategista, para melhorar a visão sobre a bolsa, o país precisa de uma sinalização do governo de um cenário macroeconômico mais claro, e um ambiente microeconômico mais estável. A equipe do HSBC destaca que as incertezas políticas e as preocupações com o crescimento determinam seu posicionamento, que atualmente é de maior cautela em relação às ações brasileiras. "Acreditamos que a relação risco/benefício passou a ter um equilíbrio mais preciso. Nossa análise ponderada de cenário mostra pouco potencial de alta a partir deste ponto", afirmou o banco, em relatório enviado a clientes ao fim de junho. O HSBC estima um potencial de alta adicional para o mercado de ações brasileiro de 4% a 21%, patamar que não considera tão atrativo quando comparado aos 17% decorrentes da combinação do retorno de títulos públicos em 10 anos e a média histórica do prêmio de risco de mercado. Além de acompanhar o desenrolar político e um risco de recessão brasileira, o HSBC assinala que o racionamento de energia elétrica continua em pauta, ainda que a questão esteja deixada de lado. Para o banco, o risco poderá começar a ter impacto sobre o mercado próximo de setembro, quando o nível dos reservatórios de água tende a apresentar a maior queda. Com isso, a carteira do banco tem como objetivo estar pouco exposta a surpresas negativas de crescimento, com papéis de Bradesco, Itaú Unibanco, BM&FBovespa, Cielo, Ambev, Estácio, Weg, Minerva e Vale, além de contar com a entrada de Cetip, para ter melhor proteção contra riscos políticos. Embora a disputa à presidência seja monitorada de perto e seja vista como uma ameaça ao desempenho de algumas ações, certas empresas têm se beneficiado do evento. O fortalecimento da oposição em pesquisas eleitorais deu força à compra de ações de estatais. Os papéis preferenciais da Petrobras, por exemplo, subiram 7,7% 12


no semestre e acumulavam alta de 13,7% em 12 meses, no fechamento de junho. Eletrobras PNB ainda teve valorização de 22,1% entre janeiro e junho e de cerca de 40% em 12 meses.

Incertezas quanto a 2015 derrubam confiança e PIB Uma das características mais relevantes do ambiente econômico brasileiro neste momento são as incertezas em relação ao futuro da política econômica. As dúvidas ajudam a explicar o baixo apetite das empresas, principalmente do setor industrial, para investir, um problema que vem marcando o desempenho do país há quase quatro anos. A variação real da Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mostra os investimentos das companhias em bens de capital (máquinas e equipamentos) e os gastos com construção civil vêm caindo desde o último trimestre de 2010. No ano passado, depois de uma pequena recuperação, voltou a recuar e, no primeiro trimestre de 2014 (último dado disponível), entrou em território negativo. O estoque de investimento está abaixo de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), um dos níveis mais baixos dos últimos 20 anos. Um dos principais motivadores do investimento privado é a confiança do empresário na capacidade de o país crescer de forma sustentável, sem gerar desequilíbrios. Confiança é hoje uma mercadoria escassa no Brasil. Os indicadores apurados por várias instituições mostram que não apenas os empresários, mas também os consumidores, andam receosos. Há dúvidas sobre o comportamento da inflação, a manutenção do mercado de trabalho aquecido, o desempenho das contas externas, o cumprimento pelo setor público das metas fiscais, entre outros temas. O Indicador de Confiança da Indústria, apurado pela Fundação Getulio Vargas, está no patamar mais baixo desde o início do governo Dilma. Mesmo indicadores dos setores que mais se beneficiaram dos constantes estímulos oficiais ao consumo, como o de serviços, experimentam agora curva descendente. O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, apurado pela Confederação Nacional da Indústria, está no menor patamar desde a crise de 2009. Quando se observa, dentro desse indicador, o quesito "inflação", o gráfico mostra o pior momento em mais de dez anos. No item "desemprego", o sentimento só é pior que o capturado em 2009. É curioso que, cinco anos depois e sem a influência de um evento externo da gravidade do vivido pelo mundo em setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers quebrou e arrastou as economias do planeta para uma crise sem precedentes, o Brasil comece a exibir indicadores de confiança parecidos com os daquele ano, quando o PIB entrou em recessão. O governo da presidente Dilma Rousseff decidiu mudar a essência da política econômica herdada de gestões anteriores. A partir de meados de 2012, reduziu dramaticamente o esforço fiscal, forçou uma redução na taxa básica de juros (Selic) e fez um movimento para desvalorizar a taxa de câmbio. Apesar de bem-intencionadas, as medidas não surtiram o efeito esperado e o que se viu, desde então, foi o aumento da inflação, a contração do investimento e a queda do PIB, além da deterioração contínua da situação fiscal. No ano passado, o governo reconheceu tacitamente os erros cometidos ao mudar o rumo de algumas políticas. O Banco Central foi obrigado a elevar a taxa Selic a um nível mais alto que o encontrado pela atual gestão e o câmbio voltou a flutuar (ainda que sob um programa que impede sobressaltos nas cotações). Na área fiscal, o governo mudou o discurso, mas não a prática - está longe de cumprir a meta de superávit primário, de 1,9% do PIB, prometida para este ano. A presidente Dilma acredita que as expectativas em relação à economia só vão melhorar em novembro, após a eleição. Confiante na vitória, ela acha que terá, depois do pleito, oportunidade para dialogar em condições mais favoráveis com o setor empresarial. Na prática, o governo se recusa a dizer, agora, o que pretende fazer na economia num possível segundo mandato. Mudanças na gestão macroeconômica e na equipe são admitidas em Brasília, mas nada será antecipado durante o período eleitoral. Não se está exigindo da candidata que lidera as pesquisas uma nova "Carta aos Brasileiros", mas a emissão de alguns sinais que ajudem a tranquilizar o setor produtivo. A estratégia de não fazer nada 13


agora apenas contribui para aumentar as incertezas, o que por sua vez deprime ainda mais o humor dos empresários, mantendo a economia em marcha lenta. Semanalmente, o BC tem colhido, via Boletim Focus, projeções cada vez piores para o desempenho do PIB neste ano. Nos dados divulgados ontem, a mediana das opiniões projeta crescimento de apenas 1,07% em 2014.

Com preço defasado, Petrobras deixa de ganhar R$ 104 bilhões em 3 anos

O represamento dos preços do diesel, gasolina e gás liquefeito de petróleo adotado pelo governo para o mercado interno, deixando-os inferiores aos praticados no mercado internacional, teve um custo de oportunidade de R$ 104 bilhões para o caixa da Petrobras entre 2011 e 2013, valor próximo ao aumento da dívida líquida da estatal verificado no período. Essa é a principal constatação de estudo sobre o tema liderado por Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia (GEE) da UFRJ, que coloca a defasagem de preços como um dos principais responsáveis pelo aumento da dívida da estatal no período e diz ser necessária outra política para os preços de derivados de petróleo. O estudo utilizou três referências para analisar o desenvolvimento dos preços do diesel, gasolina e gás liquefeito de petróleo, já feita a conversão cambial mês a mês: o preço de realização interna dos combustíveis, o de referência no mercado internacional do Golfo do México e o efetivamente pago com as importações dos derivados de petróleo no período. Mesmo com seis reajustes no diesel e quatro na gasolina no mercado interno, os preços permaneceram abaixo do praticado no exterior durante o período. O gás não teve reajuste. Apenas com as importações, a Petrobras teve um perda em valor presente de R$ 14,9 bilhões, causado pela diferença entre o valor pago pelos derivados no exterior e aquele praticado no mercado doméstico. O estudo mostra que, desde 2011, as importações de gasolina e diesel têm superado as exportações desses combustíveis, mas a maior perda para a empresa foi o custo de oportunidade. O valor presente foi calculado levando em conta uma taxa de retorno de 10% ao ano que a empresa teria, caso investisse o montante em uma aplicação financeira. No período, levando em conta um cenário no qual a estatal praticasse preços similares ao patamar internacional, a estatal teria receitas maiores em R$ 66,3 bilhões com o diesel, R$ 34,9 bilhões com a gasolina e R$ 3 bilhões com o gás liquefeito de petróleo. Nos últimos três anos, a dívida líquida da companhia aumentou de R$ 103 bilhões para R$ 222 bilhões. "Essa defasagem não só tem restringido o caixa da Petrobras, como aparece como um fator preponderante no aumento da fragilidade da empresa", afirma Almeida, que também chama a atenção para um efeito secundário da defasagem de preços no setor de petróleo e gás brasileiro. "Isso está acontecendo em um momento no qual se necessita de caixa elevado para os investimentos ligados à exploração do pré-sal." Como consequência do que Almeida chama de "represamento de preços", o setor de 14


refino de derivados de petróleo é considerado atualmente pouco atrativo para novos investimentos externos, o que aumenta a importância da saúde financeira da Petrobras no parque de refinarias do país. Hoje, a estatal é responsável por 90% do que o Brasil refina. Uma alternativa aos reajustes concedidos pelo governo, segundo o pesquisador, é a criação de um fundo para amortecer grandes variações nos preços internacionais ou no câmbio. O dinheiro, que poderia vir do Tesouro, serviria como um colchão para resguardar a inflação sem afetar diretamente o caixa e o nível de investimentos da Petrobras. "É legítima a preocupação do governo com a inflação, mas não se pode transferir os custos para a empresa, que precisa de mais liberdade para fixar seus preços", afirma Almeida.

Avanço da Elo amplia reserva de mercado em cartões Quatro anos depois da quebra da exclusividade no mercado de cartões, os bancos protagonistas do segmento conseguiram instaurar uma nova reserva de mercado. Antes pequena, ela tem se expandido rapidamente e preocupa o Banco Central, que regula o setor. A estratégia de proteção envolve quatro nomes: Elo, Hiper, American Express (Amex) e Agrocard - três bandeiras de cartão e um produto voltado para o agronegócio - que só podem passar em máquinas da Cielo ou da Rede (ex-Redecard). Desse quarteto, é a Elo quem avança em uma velocidade impressionante e dá mais urgência ao debate. Os quatro produtos representaram cerca de 10% do volume capturado pelo mercado de cartões no primeiro trimestre (R$ 223 bilhões), segundo executivos ouvidos pelo Valor. E traçam um paralelo incômodo ao que se observava no mercado brasileiro até julho de 2010, quando apenas a Cielo podia capturar cartões Visa e a Rede, MasterCard.

Essa é uma estratégia que só foi possível porque os grandes bancos brasileiros, principais emissores de cartão, também são sócios das credenciadoras. O Itaú Unibanco controla a Rede e emite os cartões da Hipercard e da bandeira Hiper. O Banco do Brasil (BB) e o Bradesco, controladores da Cielo, se uniram em 2011 à Caixa para erguer do zero a bandeira Elo. O Bradesco é o dono da Amex no Brasil e o BB criou o Agrocard para atender sua base de clientes do agronegócio. Em todos esses casos, o emissor privilegiou sua própria credenciadora para capturar os cartões. Graças ao tamanho de seus três emissores, a Elo vem caminhando a passos largos e se firma como uma bandeira nacional, em contraposição às internacionais Visa e MasterCard. A Elo não divulga dados oficiais, mas cálculos do Goldman Sachs estimam que a bandeira movimentou R$ 9,2 bilhões nos três primeiros meses do ano, o equivalente a 4,3% do mercado, ou 7,7% do volume capturado pela Cielo. Um ano antes, a bandeira movimentava R$ 1,5 bilhão. Desses volumes, 90% seriam compras com cartão de débito. Nem a Elo nem a Cielo comentam as projeções. Há quem veja essas exclusividades como um dos grandes limitadores da competição num setor altamente concentrado. "A estratégia dos bancos emissores de cartões com essas bandeiras é direcionar um fluxo de transações que estava aberto e que todos podiam capturar, para um sistema exclusivo", afirma um alto executivo do setor. Desde 2010, cartões das bandeiras MasterCard e Visa passaram a ser capturados tanto por Cielo quanto pela Rede ou qualquer outro novo participante do setor (Santander, Elavon, Global Payments ou Banrisul). No caso da Elo, Bradesco e Banco do Brasil têm emitido cartões para 15


novos correntistas com a bandeira - algo monumental considerando-se a quantidade de folhas de pagamento dos dois bancos. Ao mesmo tempo, essas instituições têm migrado algumas bases de clientes para a nova bandeira à medida que vencem os cartões antigos. Foi o caso do cartão BNDES e do Agrocard, que antes era emitido com a marca Visa e agora vêm sendo substituídos pela bandeira Elo. Ao mesmo tempo, o Itaú negocia para começar a emitir unidades Hiper em suas parcerias com o varejo, no lugar de bandeiras internacionais. Procurados, BB, Bradesco e Itaú não comentaram. Vale lembrar que o mercado de cartões de benefício (vale-refeição e alimentação), que está fora dos R$ 223 bilhões movimentados no crédito e débito, também tem suas exclusividades, com os cartões da Ticket capturados apenas pela Rede e a Alelo, que também pertence ao Bradesco e ao BB, pela Cielo. Desde que se tornou oficialmente o regulador do setor, no ano passado, o Banco Central (BC) intensificou a pressão pelo fim das exclusividades, chamando atenção para necessidade de "interoperabilidade" no setor. O objetivo é fomentar a concorrência no segmento e eliminar a necessidade de um lojista ter mais de uma maquininha para aceitar cartões no balcão, caso queira receber todo tipo de meio de pagamento eletrônico. Em 2011, o BC, junto com outros órgãos do governo, enviou uma carta à Abecs, associação do setor, cobrando a abertura plena do mercado. Nos anos seguintes, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, voltou a cobrar a iniciativa em eventos públicos. A autoridade monetária, porém, não estabeleceu uma data para que a abertura ocorra. Procurado, o BC não concedeu entrevista. Sem um prazo determinado para o fim das exclusividades, porém, há dúvidas entre executivos de credenciadoras sobre quanto tempo levará para a abertura completa. A Abecs afirma que as negociações estão ocorrendo e que o processo não deve passar da segunda metade de 2015. "A Abecs apoia e estimula as iniciativas privadas de negociação nesse sentido", afirma Ricardo Vieira, diretor-executivo da associação. Esse cronograma, contudo, não é consenso. "Falta intenção do mercado em abrir as bandeiras, já que a demora beneficia algumas empresas", afirma executivo de uma credenciadora, que avalia que as negociações estão em um estágio "embrionário". "Há uma assimetria entre os participantes dessas negociações, o que dificulta as conversas e faz tudo demorar." Na visão dele, a questão da exclusividade em cartões pode acabar tendo destino semelhante à que existia no crédito consignado para servidores públicos, em que um acordo entre o BB e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foi necessário para abrir o mercado. "A Elavon formalizou o interesse de capturar novas bandeiras no início de 2014. Até o presente momento, a empresa continua aguardando uma posição das bandeiras para poder evoluir e ofertar livremente o maior número de opções a seus clientes", afirmou o presidente da credenciadora, Antonio Castilho, em nota. A Elavon começou a operar no Brasil em 2011, com o Citi, mas não chega a capturar nem 1% das transações no mercado. O Santander, mais relevante entre os novos participantes do segmento, com 5,8% de mercado, preferiu não se manifestar sobre a questão das exclusividades. "Nossa visão é que o impacto competitivo dessa abertura só deve vir em meados de 2016", afirma Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs responsável pelos cálculos acima. Macedo lembra que o processo de regulação do mercado de cartões, de uma maneira geral, se deu de forma lenta, com os primeiros questionamentos públicos do regulador sobre o tema em 2006. Mesmo quem alega que as negociações avançaram neste ano pondera que ainda não há consenso sobre a forma como a abertura será feita. São estudadas duas opções. A mais provável é adoção do modelo conhecido como serviço de transporte de dados (VAN, na sigla em inglês), em que a Rede e o Santander poderiam capturar Elo, por exemplo, mas quem processaria e liquidaria a transação seria a Cielo. Nesse modelo, a taxa de desconto do lojista (MDR) fica com a Cielo, que paga um valor fixo, de centavos por transação, para a credenciadora que capturou o cartão. "Esse modelo ajuda a proteger o racional econômico de se ter uma bandeira nacional", afirma um executivo. Amex e os vouchers de alimentação usam esse formato hoje. A segunda alternativa, menos provável, é que as bandeiras hoje fechadas sejam abertas como foram Visa e MasterCard em 2010. Nesse modelo, qualquer credenaciadora capturaria, processaria e liquidaria a transação. O período de adaptação tecnológica, porém, é mais demorado.

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Rússia quer reação de BRICS contra sanções MOSCOU - A Rússia aguarda uma posição de seus parceiros no bloco dos Brics - Brasil, China, Índia e África do Sul - contra as sanções de que é alvo por parte dos Estados Unidos e União Europeia em razão da crise com a Ucrânia. Essa manifestação é esperada no documento final da cúpula dos líderes a ser realizada em Fortaleza na próxima semana. O Valor apurou que a primeira versão do comunicado, preparada pelo Brasil, como país que organiza a cúpula, e levada aos russos em Moscou, não fazia nenhuma referência, mesmo indireta, às sanções. Até agora, a retaliação contra os russos atingiu algumas dezenas de funcionários, empresários e bancos. Mas os EUA e a UE continuam a ameaçar com nova rodada de medidas que poderia afetar setores inteiros da economia russa. A Austrália, que dirige o G-20 neste ano, também aplicou sanção, assim como o Canadá. O ministério russo de Finanças advertiu publicamente que novas sanções ocidentais podem ter impacto significativo na economia, que já estava à beira da estagnação antes da crise com a Crimeia. O Produto Interno Bruto (PIB) russo cresceu apenas 1,5% no ano passado e deve reduzir para 0,5% neste ano. Os investimentos continuam a declinar. A inflação vem sendo alimentada pela fragilidade do rublo e atingiu mais de 7,5%, embora as autoridades acreditem que baixará até o fim do ano. A fuga de capital pode alcançar US$ 100 bilhões até dezembro. A presidente do banco central russo, Elvira Nabiullina, disse que a estabilidade do rublo é impossível se não houver uma desaceleração na saída de capitais. O vice-ministro de Relações Exteriores, Sergey Ryabkov, em entrevista ao jornal local Kommersant, acusou Washington de considerar mais simples e barato impor sanções contra alguns países do que usar a força militar convencional contra eles. O presidente russo, Vladimir Putin, ensaia alguns movimentos de desescalada da tensão com a Ucrânia. As exportações dos EUA parecem não ter diminuído para o mercado russo, apesar do contencioso bilateral. Empresas europeias também reagem contra novas medidas, temendo perder fatias de mercado. Justamente no dia 16, quando terminará a cúpula dos Brics, os líderes da União Europeia deverão decidir se aplicam retaliação econômica mais dura contra Moscou. O governo russo gostaria de ver mensagem dos Brics de que alternativas a sanções são sempre preferíveis para resolver divergências na cena internacional. Curiosamente, nota um analista, é mais ou menos na linha do que alguns países diziam aos russos, de que há alternativas ao uso da força para anexar territórios. Agora, o documento final dos Brics está em negociação em Brasília por representantes dos líderes. A expectativa nos círculos diplomáticos é de que uma linguagem suficientemente vaga possa aparecer para atender aos russos sobre sanções, sem, porém, endossar qualquer posição e nem mesmo fazer referencia direta sobre a questão da Criméia. Na Assembleia Geral da ONU, que aprovou uma resolução condenando a Rússia pela anexação desse território localizado na Ucrânia, o Brasil, China, Índia e África do Sul se abstiveram. Já países como Venezuela, Cuba e Bolívia votaram pela Rússia, contra a condenação de Moscou. O comunicado dos Brics deverá retomar a defesa de nova governança global, desenvolvimento sustentável e inclusivo. Também cobrará a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sem explicitar como, por causa das divergências no grupo. O Brasil e a Índia se uniram à Alemanha e ao Japão na articulação para obter a aprovação da reforma pela Assembleia Geral da ONU até 2015. Isso requer dois terços do votos, o que parece cada vez mais provável. Só que depois os cinco membros permanentes - EUA, China, Rússia, França e Reino Unido - precisam ratificar essa eventual aprovação. Ocorre que a Rússia resiste à entrada da Alemanha e do Japão como membros permanente do Conselho. E a China não quer o Japão de jeito nenhum.

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