08 de agosto de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 08 DE AGOSTO DE 2014

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Inflação desacelera e fica praticamente estável em julho A inflação de julho ficou praticamente estável e atingiu o menor índice mensal desde 2010. O resultado para o mês, entretanto, não foi suficiente para deixar o IPCA abaixo da meta estipulada pelo governo. No mês passado, o IPCA (a inflação oficial do país) ficou em 0,01%, resultado idêntico ao de julho de 2010 e superior apenas ao mês de junho daquele ano, quando foi de 0%. Em junho, havia sido de 0,40%. No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 6,50%, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (8), exatamente o teto da meta, que é de 4,5%, mas que permite variações de até dois pontos percentuais para mais ou para menos. Nos 12 meses encerrados em junho, o IPCA havia ficado em 6,52%. Nos acumulado dos sete primeiros meses do ano, o índice acumula alta de 3,76%, praticamente estável em relação aos 3,75% de junho. De acordo com o IBGE, a desaceleração do mês passado foi influenciada pelos grupos transportes, com queda de 0,98% (contra alta de 0,37% em junho), e despesas pessoais, que recuou de uma alta de 1,57% em junho passou 0,12% em julho. Quatro grupos tiveram deflação e contribuíram para a redução do índice. Além de transportes, também recuaram alimentação, vestuário (impulsionado pelas liquidações de julho) e comunicação (com destaque para a queda de 8,52% na telefonia fixa de São Paulo).

Indicadores - Evolução do IPCA VIAGENS MAIS BARATAS Em julho, as passagens aéreas ficaram 26,86% mais baratas, na medição do IBGE, contribuindo com um impacto para baixo de 0,14 ponto percentual para a desaceleração do IPCA. Os preços das diárias de hotéis, após uma alta de 25,33% em junho, também recuram em julho. A queda nos preços no mês foi de 7,65%. O grupo de transportes foi impactado pela redução nos preços de etanol (-1,55%), pneu (1,01%), gasolina (-0,80%), lubrificação e lavagem (-0,67%), conserto de automóvel (-0,54%), acessórios e peças (-0,40%), automóvel novo (-0,29%), motocicleta (-0,14%) e automóvel usado (-0,09%). ALIMENTAÇÃO De acordo com o IBGE, o grupo de alimentação e bebidas, com queda de 0,15%, teve em julho o quarto recuo seguido. "A queda é ainda mais intensa se considerados os alimentos consumidos em casa, com -0,51%", informou o órgão. 2


Em nem todos os locais pesquisados, porém, houve redução nos preços. Enquanto em Campo Grande (MS) a queda foi de de 2,26%, em São Paulo ocorreu aumento de 0,25%. A capital paulista foi o único local de alta. O item alimentação fora de casa continuou em alta, mas desacelerou de 0,82% para 0,52%. O destaque vai para a cerveja, cujos preços subiram 1,63%. ALTAS Os grupos habitação e artigos de residência foram os que apresentaram as maiores altas de um mês para o outro. Em habitação, o destaque foi para os reajustes da energia elétrica, que subiu 4,52% no período e teve impacto de 0,12 ponto percentual no IPCA. Os artigos para residência com maior alta foram eletrodomésticos(1,83%) e mobiliário (0,74%). RESULTADO GRUPO NO MÊS (em %) GRUPO Junho Julho ÍNDICE GERAL 0,40 0,01 Alimentação e Bebidas -0,11 -0,15 Habitação 0,55 1,20 Artigos de Residência 0,38 0,86 Vestuário 0,49 -0,24 Transportes 0,37 -0,98 Saúde e Cuidados Pessoais 0,60 0,50 Despesas Pessoais 1,57 0,12 Educação 0,02 0,04 Comunicação -0,02 -0,79 Fonte: IBGE

As razões do engasgo do consumo Volto hoje à questão da queda do consumo, que tem afetado de forma importante a economia brasileira neste ano de 2014. O motivo para tal é o clima de quase pânico que tomou conta do setor automobilístico nas últimas semanas. Uma das áreas mais dinâmicas da indústria brasileira, ele representa o maior símbolo do crescimento do consumo que marcou o período Lula. Hoje ele é a prova mais contundente de que vivemos -desde 2011- o início de uma grande ressaca. Embora vários analistas tenham advertido sobre o fim do ciclo do consumo, o governo manteve inalterada sua política econômica. Quando os sinais de queda ficaram mais claros, no início do mandato da presidenta Dilma, a resposta do Palácio do Planalto foi forçar a expansão do crédito dos bancos públicos e reduzir o superavit primário operacional do Tesouro via gastos adicionais. Como a economia reage sempre com um intervalo de tempo, entre o início de um ciclo econômico e seu ocaso, somente agora é que essa dura realidade se mostra aos olhos de grande parte da sociedade. E a queda nas venda de automóveis dos últimos meses -seguida da redução sob várias formas do emprego- é uma realidade que ninguém pode mais esconder. Como a indústria não se preparou para este momento da verdade, mantendo a produção próxima da capacidade máxima, o ajuste será doloroso. Mas é preciso separar o ajuste cíclico que vamos viver nos próximos meses da dinâmica de longo prazo do setor automobilístico. As vendas de automóveis cresceram entre 2005 e 2013 de uma forma impressionante, passando de 1,66 milhão de unidades anuais para mais de 3,6 milhões, com uma expansão média anual de 10,6% em oito anos. Entre julho de 2007 e fins de 2013, por vários meses as vendas ficaram no intervalo entre 3,5 milhões e 4 milhões de unidades por ano. O quarto maior mercado consumidor do mundo. Se 3


considerarmos três anos, entre outubro de 2005 e outubro de 2008, as vendas cresceram 50%, ou seja, a uma taxa anual de 15% anuais. IMPRESSIONANTE. As principais forças por trás desse crescimento de vendas tiveram duas naturezas distintas: entre 2005 e fins de 2008, as forças tinham natureza estrutural, de longo prazo, em razão principalmente do aumento simultâneo da renda, do emprego e do crédito ao consumo. A partir do início de 2010, com o enfraquecimento das forças expansionistas citadas acima, inicia-se, de forma natural, um período de ajuste nas taxas de crescimento das vendas de automóveis. Dessa forma, chegamos ao início de 2012 com um crescimento zero nas vendas e, nos meses seguintes, a uma taxa de expansão negativa. O governo reagiu a essa situação elevando a oferta de crédito dos bancos públicos para sustentar a venda de veículos. A resposta do consumidor foi positiva, mas de curta duração, como todo movimento associado a estímulos fora de hora e sem respeito à dinâmica do mercado. A taxa de crescimento das vendas voltou a atingir 10% ao ano, entre junho de 2012 e junho de 2013, para rapidamente voltar a zero nos três meses seguintes e entrar definitivamente no terreno negativo a partir daí. Chama-se a esse fenômeno, no jargão do mercado financeiro, de suspiro do morto, ou seja, o fracasso de tentativas artificiais do governo para tentar alterar movimentos estruturais de ajuste do mercado. No caso específico das vendas de automóveis, tentar reconstruir uma dinâmica de consumo que havia se esgotado por razões estruturais. De agora em diante vamos viver duas fases distintas no mercado de automóveis no Brasil. Na primeira, teremos um ajuste nos estoques acumulados pela indústria em razão da queda expressiva das vendas nos últimos meses. Na segunda, as empresas vão ter que fazer um ajuste estrutural na sua capacidade produtiva, para se adaptar a um mercado que deve passar a crescer a taxas não superiores ao aumento da renda dos brasileiros. Quanto mais demorarem os ajustes de estoque, maiores serão os prejuízos na fase de ajuste nos níveis de produção da indústria. A pergunta que fica no ar é: como uma indústria tão sofisticada não percebeu a impossibilidade de manter as taxas de crescimento do passado e não se preparou melhor para a fase que vamos viver nesse mercado daqui para a frente?

Novos municípios Tudo se desmente neste mundo. Estão de parabéns os nossos senadores. Quando menos se esperava, e como que para confundir os céticos, eis que uma ótima notícia vem render o desencanto e reavivar a esperança. No apagar das luzes da legislatura, nossos representantes interromperam suas campanhas, foram a plenário e aprovaram as regras que autorizam a criação de novos municípios no Brasil. Registre-se, de início, o largo placar (52 a 4) e o sentido de urgência. Situação e oposição votaram em uníssono, sem se prender a ideologias ou regionalismos. "Vitória que deve ser muito comemorada", disse um deputado paraense. "A matéria estava certa de ser votada só em novembro e nunca imaginávamos que conseguiríamos votá-la já nesse esforço concentrado de agosto." Venceu o empenho. Frustrados na primeira tentativa, abatida por veto presidencial, os senadores não esmoreceram. Assimilaram o golpe e voltaram à carga, desta vez com o beneplácito aberto do executivo federal. O que mudou? Em vez dos 363 novos municípios da proposta original (segundo o Ipea), serão cerca de 200, conforme estimativa do relator do projeto. Pelos critérios aprovados, os municípios serão criados preferencialmente nas regiões com menor densidade demográfica. O número mínimo de moradores varia de 20 mil, no Sul e Sudeste, a 6.000 no Norte e Centro-Oeste. A exigência de território mínimo foi retirada, e a de número de imóveis, atenuada. 4


O principal, contudo, é o impacto econômico e social da medida. O município desmembrado faz brotar, como por mágica, recursos e empregos que de outro modo jamais chegariam até ele. Dado que 90% dos municípios têm menos de 50 mil habitantes e pouco (ou nada) arrecadam, mais de 85% das suas despesas são bancadas por mesada intragovernamental. Se não chega a ser o milagre da multiplicação dos pães, é parente próximo. Mas o melhor exemplo vem das nossas 5.570 Câmaras Municipais, sem dúvida as de maior transparência, menor corruptibilidade e que melhor prestam contas aos eleitores entre todos os poderes da federação. A um custo (declarado) de R$ 15 bilhões anuais, 58 mil vereadores têm contribuído valorosamente à melhoria de serviços de saúde, educação, segurança e coleta de lixo. Como custo-benefício para o contribuinte seria difícil exigir mais. Quem viaja pelo Brasil sabe que a criação de 1079 municípios desde a Carta de 1988 cada um dotado de prefeitura, secretarias, assessores e Câmara de Vereadores, além, é claro, dos aposentados de hoje e do porvir– foi obra civilizatória de raro descortino. Voltamos à trilha. O zelo dos senadores e a excelência da iniciativa honram o decreto imperial que concedeu aos membros da nossa Câmara Alta o tratamento de Excelência.

Editorial: Sacas de promessas No ritual de tentar agradar os pesos pesados da economia nacional, os três principais candidatos a presidente têm se equilibrado entre a necessidade de apresentar propostas concretas, de um lado, e a de manter certo grau de abstração, evitando o compromisso com medidas impopulares, de outro. No encontro organizado nesta semana pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o roteiro se repetiu, ainda que com pequenas variações. Procurando responder aos anseios do setor, a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) ensaiaram alguma objetividade, mas não abandonaram a vagueza em suas declarações. A CNA divulgou um documento de reivindicações como preparação para a sabatina. Além das tradicionais demandas na área de crédito, logística e armazenagem de safra, as maiores preocupações dizem respeito ao ambiente de negócios. São três frentes, na visão dos produtores. A insegurança jurídica, que seria ocasionada pelas invasões de propriedades e pela falta de clareza nas demarcações de terras indígenas, as relações de trabalho, sobretudo quanto à possibilidade de contratar mão de obra terceirizada para atividades como colheita, e a legislação ambiental. Dilma manteve-se protocolar. Prometeu mais do mesmo no apoio à produção e melhores critérios em relação às reservas. Na questão trabalhista, afirmou apenas que terceirizar não significa necessariamente precarizar. Se teve um mérito, foi o de defender o fortalecimento de uma classe média rural, fugindo à simplificação dicotômica grandes x pequenos produtores. Dos três candidatos, apenas Aécio teve o cuidado de dedicar-se a cada um dos pontos apresentados pela CNA. Nem por isso deixou de ser vago; prometeu, por exemplo, um genérico "superministério da Agricultura", que englobaria a pasta da Pesca e teria autonomia em relação à Fazenda para elaborar políticas financeiras para o setor. Disse ainda que expandiria a cobertura do seguro agrícola e a capacidade de armazenagem da safra. Alinhou-se, ademais, à pauta da CNA ao afirmar que a demarcação de terras indígenas deixará de ser atribuição exclusiva da Fundação Nacional do Índio (Funai). Assim como o tucano, Campos foi bem recebido –apesar das conhecidas objeções do setor às posições de Marina Silva, vice na chapa do pernambucano. O ex-governador fez as referências de praxe à necessidade de a produção agrícola ser ambientalmente sustentável. Em meio às platitudes, porém, surgem, nesse tipo de evento, aspectos que permitem distinguir uma candidatura de outra. Melhor, desse ponto de vista, que a campanha seja bastante acirrada. Se nenhum candidato estiver confortável num patamar muito mais alto de intenções de voto, o eleitor terá a oportunidade de fundamentar melhor sua escolha. 5


Produtividade sobe mais do que o previsto nos EUA Washington - A produtividade nos Estados Unidos subiu mais do que o previsto no segundo trimestre de 2014, segundo dados publicados nesta sexta-feira pelo departamento do Trabalho. Aumentou 2,5% entre abril e junho em ritmo anual, marcando uma alta em relação ao grave retrocesso no primeiro trimestre, o mais importante em 33 anos (-4,5%, cifra revisada em baixa). Os analistas esperavam uma ala de 1,4%.

Pagar no crédito poderá ficar mais caro do que no dinheiro Brasília - A opção do cliente na hora de pagar por um produto pode fazer diferença no bolso. As compras em cartão de crédito podem ficar mais caras. Isso porque o plenário do Senado aprovou hoje (6) o Projeto de Decreto Legislativo (PDS) 31/2013, que permite ao comerciante estabelecer preços diferentes para o mesmo produto se o pagamento for feito em dinheiro ou no cartão de crédito. A discussão foi polêmica. Os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Vicente Claudino (PTB-PI) tentaram impedir a votação da proposta em plenário com a apresentação de um requerimento para que o tema fosse debatido antes nas comissões de Assuntos Econômicos e de Fiscalização e Controle. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), também fez um apelo para que a matéria não fosse a plenário, mas o grupo foi vencido pela maioria. "Não é uma questão de consenso. É uma questão de defesa do consumidor, e eu não posso acreditar que as bandeiras dos cartões de crédito impeçam a manifestação do Senado. Contra ou a favor, que defina o Senado a sua posição", argumentou o autor da proposta, Roberto Requião (PMDM-PR). Para ele, a proibição acaba por repassar ao preço do produto os custos embutidos no uso do cartão de crédito (cerca de 7% do valor total) e impede que o estabelecimento conceda desconto ao cliente que pagar à vista. Na prática, o texto aprovado suspende os efeitos da Resolução 34/1989, do Conselho Nacional de Defesa do Consumidor , que proíbe a cobrança diferenciada. A relatora da matéria, Lídice da Mata (PSB-BA), diz que o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor não tem competência para instituir normas que criem obrigações a particulares. Para ela, com base na resolução, o órgão exerceu poder normativo inexistente, ao proibir a cobrança de preços diferentes por parte dos fornecedores na hipótese de pagamento por meio de cartão de crédito. "Quero dizer a Vossa Excelência [Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado] e à Casa que essa matéria não é consensual. O meu partido e eu, pessoalmente, nos manifestamos contrários, e gostaria de ouvir a opinião de alguns líderes a mais com relação a essa matéria, que é polêmica e tem a manifestação escrita de várias entidades de classe de defesa do consumidor, que contestam a diferenciação de preço no comércio para pagamento com cartão de crédito", argumentou o líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN). A matéria segue para a Câmara dos Deputados.

Fluxo financeiro nunca se recuperou depois da crise de 2008 São Paulo - As últimas décadas viram um aumento vertiginoso do comércio e das trocas de dados entre os países, mas a situação é um pouco diferente no que se trata de recursos financeiros e circulação de pessoas. As conclusões são de uma ampla pesquisa da McKinseyque analisou 131 países e 5 tipos de fluxos globais: de bens, serviços, pessoas, finanças e informação. Em 2012, estas trocas chegaram a um valor total de US$ 26 trilhões - o equivalente a 36% do PIB global, parcela que pode chegar a até 50% em 2025. 6


De forma geral, o estudo conclui que uma conexão maior ajuda no crescimento. Os países desenvolvidos continuam sendo os mais conectados, mas os emergentes estão ganhando terreno rapidamente. Em 1990, eles respondiam por apenas 14% do fluxo, taxa que pulou para 38% em 2012. A China, claro, é a maior responsável (veja o mapa). A crise financeira de 2008 foi um grande baque para o comércio global, mas ele já se recuperou e superou 2007. O mesmo não aconteceu com as trocas financeiras, que continuam 70% abaixo do seu pico pré-crise. Hoje, elas são 7% do PIB global, só um terço da participação que chegaram a ter em um passado recente. Os serviços são cada vez mais importantes para o PIB, mas sua troca é a mais baixa entre todos os itens, já que eles dependem basicamente do capital humano - que, naturalmente, não é tão móvel assim. Apesar de uma circulação maior, a taxa da população mundial que mora fora do seu país de origem está estacionada em 2,7% desde 1980. A dimensão que ganha cada vez mais importância é a da informação. O tráfego de internet entre fronteiras cresceu 18 vezes só entre 2005 e 2012, e a troca de bens intensivos em conhecimento cresce em um ritmo 1,3 vezes mais rápido do que a de bens comuns. No ranking geral das economias mais conectadas, o Brasil aparece em 43º, abaixo de todos os BRICS e de outros emergentes como Arábia Saudita (16ª) e Turquia (27ª). Alemanha, Hong Kong, Estados Unidos e Singapura lideram a lista.

Energia sobe 4,52% em julho e pressiona IPCA Rio - A energia elétrica ficou 4,52% mais cara em julho, o principal impacto de alta sobre a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 08. O aumento na energia contribuiu com 0,12 ponto porcentual para a taxa de inflação de 0,01% no mês. "Energia elétrica foi o item que mais pressionou a inflaçãono mês", afirmou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. "Sem energia elétrica, por exemplo, (o IPCA) poderia ter vindo até mais baixo", acrescentou. Houve influência das regiões metropolitanas de Curitiba, onde o aumento de 23,83% refletiu o reajuste de 24,86% autorizado em 22 de julho e retroativo a 24 de junho; de São Paulo, cuja alta de 11,79% foi decorrente do reajuste de 18% nas tarifas em vigor a partir do dia 04 de julho; do Recife, com alta de 3,94% resultante do reajuste de 35% no valor da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública - COSIP, em vigor desde 13 de junho; e de Porto Alegre, com aumento de 2,55% em função do reajuste de 23% nas tarifas de uma das empresas locais desde 19 de junho. Como resultado do aumento nas tarifas, o grupo Habitação também teve a maior variação entre os pesquisados no IPCA, com alta de 1,20% em julho. Também ficaram mais caros condomínio (0,95%) e aluguel (0,92%). O aumento nas despesas com Habitação só não foi maior porque houve queda de 1,34% na taxa de água e esgoto. A tarifa aumentou nas regiões metropolitanas de Fortaleza (5,23%), Porto Alegre (2,65%), e Salvador (1,96%). No entanto, as contas de água e esgoto ficaram 9,11% mais baratas na região metropolitana de São Paulo. "Em São Paulo, as contas caíram ainda mais porque mais pessoas passaram a reduzir o consumo (de água) e com isso se beneficiaram do desconto de 30% nas contas que está acontecendo lá", explicou Eulina.

Aposta de estrangeiro na alta do dólar bate recorde na BM&F SÃO PAULO - As apostas de investidores estrangeiros na alta do dólar bateram ontem novo recorde na BM&F, num dia em que a moeda americana fechou em forte alta de quase 1%, diante do clima de aversão a risco no exterior e das incertezas domésticas. 7


Os estrangeiros fecharam a quinta-feira com posição comprada em dólar de US$ 33,07 bilhões, um aumento de US$ 663,7 milhões ante a posição do dia anterior. É o maior resultado desde o início de 2011. Os números consideram contratos de dólar futuro e cupom cambial (DDI). Dos três grupos principais de agentes no mercado de derivativos cambiais da bolsa - do qual fazem parte também bancos e investidores institucionais -, os não residentes foram os que mais compraram dólares ontem, em termos nominais. Os investidores institucionais, categoria que inclui fundos de investimento, por exemplo, compraram liquidamente na véspera US $ 267,6 milhões, reduzindo sua posição vendida em dólar a US$ 13,64 bilhões. Os bancos, por outro lado, “financiaram” essas compras líquidas de dólares e venderam ontem o equivalente a US$ 760,55 milhões. Com isso, a posiçãovendida em dólar futuro e cupom cambial das instituições bancárias subiu a US$ 21,59 bilhões. Considerando os contratos de swap cambial vendidos pelo Banco Central, no entanto, o quadro é outro, e os três grupos principais mantêm elevadas posições compradas em dólar. Os estrangeiros elevaram ontem a US$ 35,07 bilhões as apostas na alta do dólar. Os bancos terminaram com US$ 30,62 bilhões nessa posição, enquanto os investidores institucionais fecharam com US$ 23,11 bilhões.

Deflação no atacado é uma das mais longas em 15 anos O atual processo de deflação na série dos Índices Gerais de Preço (IGPs) é um dos mais longos dos últimos 15 anos. Desde 2000, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve três quedas consecutivas de preços em quatro momentos, lembrou esta semana, em audiência pública no Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, referindo-se aos IGPs em geral. O IGP-DI (assim como os demais) registrou deflação por três meses ou mais em 2003 (três meses), 2005 (cinco meses), 2009 (não foram três meses seguidos, mas quatro interrompidos por uma "alta" de 0,01%) e agora. Em comum, esses períodos de deflação no IGP tiveram queda de preços tanto no atacado agrícola quanto no industrial. E, na sequência, a inflação média ao consumidor foi bem inferior àquela registrada nos meses anteriores. O movimento é mais difuso em 2009, mas foi "claro" em 2003 e 2005. O primeiro mês de deflação no atacado e no IGP, em 2003, ocorreu em maio de 2003. Considerando esse mês e os quatro anteriores, a inflação média ao consumidor foi de 1,3% ao mês. Nos cinco meses seguintes (dando um mês de defasagem entre o atacado e o consumidor), a inflação média caiu para 0,3%. Em 2005, fazendo o mesmo exercício, a inflação média mensal antes do início do ciclo de deflação foi de 0,63% e caiu para 0,3% na média dos cinco meses depois da primeira deflação. Agora, em 2014, a inflação média ao consumidor ficou em 0,66% nos cinco meses anteriores à deflação no atacado. Se os economistas estiverem certos na projeção de 0,10% para o IPCA de julho, a inflação média ao consumidor nos dois primeiros meses pós início da queda no IGP terá ficado em 0,25%. Muitos economistas já tentaram estabelecer uma relação entre preços no atacado e ao consumidor e a "passagem" de um para outro nunca foi claramente estabelecida. 8


Assim, o que vimos em 2003 e 2005 pode ter sido coincidência e não pode ser projetado como tendência. Ao mesmo tempo, naqueles dois momentos os juros estavam em ciclo de alta, o câmbio em acomodação e a economia andava devagar. Em 2003, por exemplo, o país vinha de uma forte alta da Selic (em dezembro de 2002 passou de 22% para 25%, subiu até 26,5% em fevereiro e começou a recuar a partir de junho) e começava a sentir os efeitos da correção da taxa de câmbio, que subiu a quase R$ 4 no ano anterior, durante as eleições presidenciais. Além disso, 2003 foi um ano recessivo. Em 2005, ano do mensalão, o câmbio recuava (caiu 12% no primeiro semestre daquele ano), havia baixo crescimento (2,5%, depois revisado para 3,2%) e Selic alta (começou o ano em 18,25%, mas a alta começou em 2004 e só terminou em outubro de 2005, quando foi de 19,5% para 19%). Em 2003, em três meses, a deflação no IGP acumulou queda de 1,58%. Agora (que também são três meses), a queda no IGP é de 1,64%. Em 2005, foram cinco meses de recuo e queda acumulada de 2,04%. Enfim, em 2003 e 2005, juros altos e câmbio em recuo estiveram presentes no cenário. Em 2014, os juros já pararam de subir (embora em 2003 e 2005 eles também tiveram momentos de estabilidade após subir e antes de começar a cair), e o câmbio ficou estacionado (voltou a pressionar, de leve, em agosto). De diferente, temos a inflação de serviços, que se mostra mais resistente à política monetária, e a inflação da energia, que está contratada e acontecerá com ou sem alta de juros. Sem as duas, talvez, o IPCA futuro pudesse trazer notícias mais positivas para o governo.

BC subtrai 'inflação resistente' de texto Hamilton não muda indicação de política monetária quando perguntado sobre Selic O Banco Central (BC) eliminou a menção à "inflação resistente" na apresentação de seu Boletim Regional ontem, passando a destacar a evolução mais benigna dos índices de preços em meses recentes. Também deixou claro que "não seriam uma preocupação adicional" os efeitos inflacionários de uma eventual nova rodada de depreciação da taxa de câmbio. Em apresentação no Rio, o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton Araújo, destacou que a inflação mensal vem mostrando tendência declinante desde março. "A inflação estava em 0,92% em março. Os analistas antecipam uma inflação de 0,15% ou menos para julho, um sexto do observado em março", observou Hamilton. Na divulgação do Boletim Regional anterior, em maio, no Recife, o diretor havia chamado a atenção, num slide, para "a inflação ao consumidor elevada e ainda mostrando resistência ligeiramente acima daquela que se antecipava". A apresentação de ontem, com um slide quase idêntico, elimina essa frase. A expressão "inflação resistente" tem sido um dos motes do BC desde que iniciou um ciclo de aperto monetário, em abril de 2013, e foi uma das justificativas para aumento maior do que o esperado da Selic em janeiro. Também faz parte das razões apresentadas pelo BC para manter os juros em 11% ao ano desde abril.

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Questionado, por duas vezes, se a autoridade monetária havia mudado a sua visão sobre a "inflação resistente", Hamilton procurou destacar a melhora da inflação mensal nos últimos meses. Além do recuo do IPCA, o índice oficial do regime de metas, ele chamou a atenção para as deflações nos preços de atacado. "Temos tido uma acomodação importante nos preços do atacado. Boa parte se transmitiu para os índices de inflação ao consumidor, portanto não surpreende a inflação bem baixa em julho", disse. "Ainda deve ter parte dessa acomodação dos preços no atacado se transmitindo para a inflação ao consumidor agora em agosto e, a depender da continuidade desse processo, nos meses seguintes." Na terça-feira, em depoimento no Senado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, também havia destacado os progressos dos indicadores de inflação recentes. O foco dele foi o recuo, por três meses seguidos, dos índices gerais de preços (IGPs), algo visto apenas quatro vezes nos últimos 20 anos. No seu discurso na CAE, Tombini repetiu praticamente todo um trecho da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mas tomou o cuidado de não mencionar o trecho que dizia que a inflação vai se manter resistente nos próximos trimestres. Ontem, Hamilton minimizou os possíveis impactos que um eventual alta do dólar poderá ter sobre a inflação. Ele lembrou que as projeções contidas no Relatório de Inflação de junho no chamado cenário do mercado, que traz a evolução da taxa de câmbio prevista pelos analistas, já está contemplada uma certa desvalorização do real, mas mesmo assim a inflação segue tendência de convergência para a meta. O cenário de mercado do relatório usa uma taxa de câmbio média de R$ 2,39 no último trimestre de 2014 e de R$ 2,48 no último trimestre de 2015. Nesse cenário, a inflação fecharia em 6,4% em 2014, em 6% em 2015 e em 5% nos 12 meses encerrados em junho de 2016. Esse quadro também contempla - dado não mencionado pelo diretor - uma meta para a Selic de 12% em fins de 2015 e meados de 2016. "Depreciações cambiais certamente têm impacto na inflação. Esse é um processo que vem ocorrendo há algum tempo", disse Hamilton. Ele destacou que esse é um dos processos de ajuste de preços relativo em curso, ao lado do realinhamento dos administrados ante o de preços livres. "Se esse processo vai ter continuidade ao longo do tempo, é provável que sim. Mas não seria motivo para nenhuma preocupação adicional." Uma eventual disparada do dólar, em meio ao processo de normalização das condições monetárias nos Estados Unidos, tem sido citada por analistas como um fator que poderia obrigar o BC brasileiro a subir a taxa básica de juros. Hamilton disse que o BC trabalha com perspectivas de "normalização" nas condições monetárias dos Estados Unidos. Apesar de dar sinais de que a inflação se comporta bem, Hamilton não mudou a indicação de política monetária, quando perguntado quanto tempo o BC acredita ser necessário deixar a Selic em 11%. Depois de ler o parágrafo 31 da ata do Copom que trata da manutenção das condições monetárias, ele foi enfático: "Está claro o que não está contemplado: redução no instrumento de política monetária". Sobre decisões futuras, ele se limitou a dizer que o BC aumentou os juros em 3,75 pontos percentuais "e se esse ajuste é satisfatório ou suficiente para combater as pressões inflacionárias, é uma avaliação que o Copom vai fazer ao longo do tempo". 10


IBGE: Cenário no emprego industrial foi grande parte negativo em junho RIO - O cenário do emprego industrial brasileiro foi “predominantemente negativo” em junho, com recuos “disseminados” por regiões e setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O alerta partiu do economista do instituto, André Macedo. Ele frisou que o instituto não faz previsões, mas admitiu que o cenário negativo observado em horas pagas em junho não sinaliza um bom ambiente para a evolução de vagas na indústria nos próximos meses. Isso porque, historicamente, os industriais reduzem ritmo de horas antes de demitir. O especialista disse que a intensidade dos recuos no emprego industrial e nas horas pagas em junho, em comparação com igual mês no ano passado, foi fortemente influenciada por contexto desfavorável, prejudicado por fatores sazonais. Ele lembrou que a Copa do Mundo, iniciada em 12 de junho, reduziu o número de dias úteis no mês – o que diminuiu o ritmo de atividade das fábricas, em comparação com junho do ano passado. No entanto, Macedo admitiu que, mesmo sem o impacto sazonal da Copa, a trajetória do emprego industrial e das horas pagas industriais ainda assim seria descendente. “Podemos dizer que a magnitude das quedas foi influenciad a por fatores sazonais, mas a trajetória negativa tem a ver com fatores já conhecidos, como o desempenho menos favorável da atividade industrial, que já vem de há alguns meses”, afirmou. Entre as atividades pesquisadas pelo instituto, o destaque negativo ficou com material de transporte, que contou com as mais intensas retrações no emprego industrial e nas horas pagas em junho. Macedo lembrou que esse segmento engloba a indústria automotiva, que, atenta aos estoques elevados e à menor demanda, tem promovido sucessivos “lay-offs” (suspensão temporária de contrato de trabalho) em suas fábricas. Outro ponto destacado pelo especialista foi a predominância de São Paulo entre os principais destaques negativos de emprego industrial e de horas pagas em junho. O técnico lembrou que há uma predominância de montadoras no Estado – o que ajudou a derrubar o emprego industrial na localidade. A indústria automotiva em São Paulo representa em torno de 12% do total do parque industrial paulista, sendo que a indústria automotiva tem peso em torno de 11% na indústria nacional. No entanto, o técnico ressaltou que a indústria de material de transportes não foi a única a apresentar recuo expressivo em horas pagas e em emprego industrial. “É disseminado”, admitiu, considerando que esse ambiente reflete um predomínio de menor intensidade do setor industrial como um todo no país. Outro aspecto que inibe contratações no setor industrial é o patamar baixo de confiança entre os empresários, fenômeno observado desde abril desse ano – e que não mostra sinais de recuo. “A redução nas expectativas do empresariado afeta decisões de contratação futura. Essa redução na confiança também influencia o cenário negativo no emprego industrial em junho”, reconheceu.

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Fila para embarque de açúcar no Brasil é de 32 navios, diz Williams SÃO PAULO - A fila de navios que aguardam para embarcar açúcar nos portos brasileiros passou de 30 para 32 na semana encerrada em 6 de agosto, de acordo com a agência marítima Williams Brasil. Foi agendado o carregamento de 1,24 milhão de toneladas de açúcar, sendo que a maior quantidade será embarcada no Porto de Santos, de onde sairão 1,03 milhão de toneladas, ou 83% do total. Paranaguá responderá pelos 17% restantes, com 212,6 mil toneladas. A maior quantidade a ser exportada é da variedade VHP, açúcar bruto de alta polarização, com 1,19 milhão de toneladas. Os embarques do cristal B-150 somam 58,90 mil toneladas.

Maduro prepara 'sacudón' na economia venezuelana A economia venezuelana está perto de sua hora da verdade, a julgar pela movimentação política de Nicolás Maduro, o líder escolhido para suceder Hugo Chávez no comando do país. Os venezuelanos esperam um "sacudón" que enfrente os principais problemas - câmbio fora do lugar, escassez de divisas, inflação alta e déficit público alarmante. Não será nada fácil fazêlo, nem suas consequências são simples de administrar politicamente, de forma que um dos maiores desafios é impedir que o "sacudón" não atinja o próprio governo. Ele está dividido, com a facção esquerdista, mais identificada com o chavismo, opondo resistências à correção de rumos que Maduro pretende fazer. Como informou o Valor na edição de anteontem, no front político houve uma trégua nos confrontos com a oposição, apesar de o principal líder das manifestações de rua, Leopoldo Lopez, permanecer na cadeia, de conflitos que resultaram em 41 mortes e mais de 200 feridos, das contínuas violações dos direitos de manifestação, do cerceamento e controle da imprensa e da subordinação de todos os poderes, inclusive o Judiciário, aos interesses do governo. O chamado ao enfrentamento nas ruas de Lopez terminou por cindir os opositores e deixar para trás a oposição moderada de Henrique Capriles, que perdeu a eleição presidencial para Maduro por 1,5% dos votos. O refluxo das manifestaçõesque varreram a capital e algumas cidades do interior no início do ano deu mais tempo a Maduro para encarar outro desafio que coloca em risco seu poder - os chavistas descontentes. Maduro trocou ministros mais alinhados com a esquerda e sofreu contestações às claras, até fazer um acerto de contas no congresso do Partido Socialista Unificado da Venezuela, que domina o Congresso. Maduro capturou também o comando do PSUV, embora isso possa ser uma vitória temporária. Tão importante quanto assumir o comando político do partido foram as palavras de Maduro no congresso da legenda, incomuns para quem se acostumou aos discursos de Chávez quando ainda era o líder supremo da "revolução bolivariana". A senha para abrir espaços para mudanças foi clara: "O esquerdismo abre o caminho para a contra-revolução", disse, atacando a "burocracia que se fecha em si mesma". O objetivo declarado é mudar a economia, disse Maduro. após identificar "problemas sérios no desenvolvimento" do modelo chavista. Um dos eixos dos desequilíbrios, conhecido e não enfrentado há anos, é o desalinhamento cambial, estreitamente relacionado às receitas fiscais. As exportações da PDVSA, empresa estatal de petróleo, somam 94% de tudo o que a Venezuela vende ao exterior e, ao mesmo tempo, com participação igualmente expressiva na arrecadação do Estado. O chavismo usou a PDVSA para custear suas políticas sociais, desviando recursos de investimentos e avançou na estatização dos setores produtivos. Enquanto a oferta de bens estagnou ou declinou, a 12


distribuição de renda avançou. As importações explodiram, assim como os subsídios. O exemplo extremo é o do preço dos combustíveis, hoje o menor do mundo - enche-se um tanque de 50 litros de gasolina por pouco menos de US$ 1. A PDVSA fatura US$ 136 bilhões, teve lucro no ano passado de US$ 35 bilhões, mas as reservas internacionais do país giram em torno de US$ 21 bilhões. O caixa da estatal suporta o orçamento fiscal do país, que mostra déficit anual de 15% do PIB. Com o câmbio sobrevalorizado e restrições de oferta doméstica, a inflação subiu a 60% ao ano. Para remendar o sistema cambial, criaram-se três tipos de câmbio (mais o paralelo), cujas cotações variam de 6,30 bolívares por dólar, para bens essenciais, até 50 bolívares (leilões de moeda feitos pelo governo), passando por 11 bolívares, para as exportações da PDVSA. Para reformar a economia, não há muita alternativa - as tarifas públicas e os combustíveis precisam ser fortemente reajustados, com cortes drásticos nos subsídios à energia, e a moeda precisa se desvalorizar. Não é fácil sair da armadilha, porque a inflação vai disparar. As medidas são bastante impopulares e podem desestabilizar Maduro e estilhaçar o chavismo. O modelo atual, porém, é insustentável, com escalada inflacionária, falta de produtos e de crédito externo. Ao deixar os desequilíbrios irem tão longe, os bolivarianos não tem nenhuma opção sem grandes custos.

Atirem a primeira pedra... Em períodos de incertezas econômicas nacionais ou internacionais, cresce o papel do Estado na implementação de políticas econômicas que assegurem o bem-estar social, a estabilidade dos preços, o crescimento e o emprego. Atingir esses objetivos requer muita habilidade e correta percepção dos formuladores da política econômica sobre a natureza e temporalidade da imprevisibilidade. Compreender a natureza e temporalidade desses eventos não é trivial. Basta atentar para os informativos à imprensa dos economistas seniores do FMI e do Banco Mundial sobre os cenários da economia mundial previstos e os resultados efetivos. Eles estão frequentemente modificando suas projeções ou corrigindo seus equívocos. Mesmo assim, há um aspecto comum na análise desses profissionais: o centro da incerteza tem mudado de endereço a cada quadrimestre. Entre 2008 e 2009, o mundo presenciou uma crise financeira sem precedentes dos países desenvolvidos. As expectativas eram de uma supercontração econômica global. Felizmente, os bancos centrais conseguiram administrar a crise, evitando o pior. Entre 2010 e 2012, a economia mundial cresceu, mas, mesmo assim, pairava a possibilidade de uma ruptura na zona do euro. A Grécia deveria deixar a União Monetária Europeia, o que seria uma alternativa catastrófica para o mercado financeiro global. Auspiciosamente, o euro perdura e os países periféricos estão ajustando-se fiscalmente, apesar de prevalecer enorme desemprego na região. Em 2013, caminhava-se em direção à recuperação internacional, porém, em 2014, surgem as crises geopolíticas da Rússia-Ucrânia e um agravamento no conflito Israel-Gaza. Talvez os economistas ainda não se tenham dado conta da gravidade internacional desses conflitos. As sanções econômicas dos EUA e da Europa contra a Rússia farão com que esta busque outros parceiros globais, como China, Índia, Brasil e África do Sul. Empurrar a Rússia para fora da Europa, aproximando-a da China, será um erro estratégico de enormes proporções para o equilíbrio de poder no Hemisfério Ocidental. Os efeitos práticos dessas coações econômicas impostas sobre a Rússia poderão esgarçar as relações entre as nações europeias e estas com os Estados Unidos. O crescimento europeu 13


ainda depende do insumo energético (petróleo e gás) e do comércio de manufaturas, bens duráveis e armamentos da Rússia. Esse ambiente de fragilidade das lideranças e das instituições internacionais (ONU e OTAN) poderá causar uma escalada na crise política no Oriente Médio. Esses cenários não contribuem para o crescimento da economia mundial nos próximos anos. Diante desse contexto de grandes incertezas, é possível fazer alguma previsão factível sobre o crescimento potencial da economia brasileira? O crescimento econômico deve ser avaliado no longo prazo. Na análise da taxa média de variação decenal do PIB brasileiro por um período de seis décadas, verifica-se que o País deixou de crescer acima da média decenal mundial desde 1990 (Plano Collor). A recuperação surge de forma mais consistente após 2000, mas ainda distante da média da economia mundial. Se não fossem as crises internacionais recentes, a média do crescimento econômico nacional teria ultrapassado a mundial; no entanto, a taxa de crescimento médio da economia brasileira caminha próximo da mundial. São inúmeros os indicadores que reforçam as análises de que a economia brasileira não será arrastada pela nova crise geopolítica que se apresenta; entretanto, ultrapassar a média mundial de crescimento levará algum tempo. Vamos avaliar alguns desses indicadores. A dívida líquida do setor público representou 60% do PIB em 2003 e retraiu-se para 34% do PIB em 2013. Nesse período, a dívida bruta reduziu-se de 64% para 57% do PIB. Esses resultados mostram que a taxa básica de juros poderá retornar para um nível inferior a 9% ao ano, com ligeira depreciação da moeda nacional. Em 2002, as reservas internacionais somavam US$ 17 bilhões; em 2013, chegaram a US$ 375 bilhões. Isso descarta uma crise cambial. O percentual da dívida externa de curto prazo sobre a dívida externa total é 10%, sendo o menor entre todas as nações do mundo. Esses valores reforçam a confiança nas contas externas. O déficit na conta-corrente do balanço de pagamentos tem oscilado em torno de 3,5% do PIB. No entanto, em face dos indicadores externos apresentados, esse percentual não é preocupante. Ao olharmos para os indicadores da performance interna da economia, verificamos que o superávit primário tem oscilado para baixo. Em 2003, era de 4,24% do PIB; em 2013, retraiu-se para 1,5% do PIB, ainda podendo reduzir parte da divida pública interna federal. A taxa de inflação, desde 2005, continua variando dentro dos limites da meta inflacionária, de 4,5% ao ano, cujo teto é 6,5% ao ano. A resistência da inflação reflete o elevado nível da indexação e de incertezas econômicas. Há uma onda de pessimismo em relação à economia brasileira. Em face aos riscos prementes na economia global e o fato de que nenhum país está crescendo conforme seu potencial, por que esperar mais do Brasil? A média do desemprego da Europa equivale a duas vezes e meia a do Brasil, e a dos EUA a uma vez e meia a do nosso país. Nessas nações, a pobreza continua expandindo-se, ao passo que, no Brasil, está reduzindo-se com o aumento real da renda por habitante. Se a política macroeconômica em algum momento errou, foi em meados de 2012, quando a recessão mundial se reverteu. Nessa ocasião, poderiam ter sido reduzidos os estímulos ao consumo e fomentados os investimentos. As reformas fiscais e previdenciárias são mais fáceis de serem implementadas em ambiente de previsibilidade do crescimento e da inflação. No entanto, em meio a tantas incertezas, só o fato de a economia brasileira se encontrar em 14


pleno emprego e não estar em recessão é prova de que a política econômica mais acertou do que errou.

IBGE: Cenário no emprego industrial foi grande parte negativo em junho RIO - O cenário do emprego industrial brasileiro foi “predominantemente negativo” em junho, com recuos “disseminados” por regiões e setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O alerta partiu do economista do instituto, André Macedo. Ele frisou que o instituto não faz previsões, mas admitiu que o cenário negativo observado em horas pagas em junho não sinaliza um bom ambiente para a evolução de vagas na indústria nos próximos meses. Isso porque, historicamente, os industriais reduzem ritmo de horas antes de demitir. O especialista disse que a intensidade dos recuos no emprego industrial e nas horas pagas em junho, em comparação com igual mês no ano passado, foi fortemente influenciada por contexto desfavorável, prejudicado por fatores sazonais. Ele lembrou que a Copa do Mundo, iniciada em 12 de junho, reduziu o número de dias úteis no mês – o que diminuiu o ritmo de atividade das fábricas, em comparação com junho do ano passado. No entanto, Macedo admitiu que, mesmo sem o impacto sazonal da Copa, a trajetória do emprego industrial e das horas pagas industriais ainda assim seria descendente. “Podemos dizer que a magnitude das quedas foi influenciad a por fatores sazonais, mas a trajetória negativa tem a ver com fatores já conhecidos, como o desempenho menos favorável da atividade industrial, que já vem de há alguns meses”, afirmou. Entre as atividades pesquisadas pelo instituto, o destaque negativo ficou com material de transporte, que contou com as mais intensas retrações no emprego industrial e nas horas pagas em junho. Macedo lembrou que esse segmento engloba a indústria automotiva, que, atenta aos estoques elevados e à menor demanda, tem promovido sucessivos “lay-offs” (suspensão temporária de contrato de trabalho) em suas fábricas. Outro ponto destacado pelo especialista foi a predominância de São Paulo entre os principais destaques negativos de emprego industrial e de horas pagas em junho. O técnico lembrou que há uma predominância de montadoras no Estado – o que ajudou a derrubar o emprego industrial na localidade. A indústria automotiva em São Paulo representa em torno de 12% do total do parque industrial paulista, sendo que a indústria automotiva tem peso em torno de 11% na indústria nacional. No entanto, o técnico ressaltou que a indústria de material de transportes não foi a única a apresentar recuo expressivo em horas pagas e em emprego industrial. “É disseminado”, admitiu, considerando que esse ambiente reflete um predomínio de menor intensidade do setor industrial como um todo no país. Outro aspecto que inibe contratações no setor industrial é o patamar baixo de confiança entre os empresários, fenômeno observado desde abril desse ano – e que não mostra sinais de recuo. “A redução nas expectativas do empresariado afeta decisões de contratação futura. Essa redução na confiança também influencia o cenário negativo no emprego industrial em junho”, reconheceu.

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Colheita recorde de trigo deve ser ainda maior, prevê Conab A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ajustou para cima sua estimativa para a colheita de trigo no país neste ano. Em levantamento divulgado ontem, o volume passou a ser projetado em 7,5 milhões de toneladas, 35,7% maior que o do ano passado e novo recorde histórico, já sinalizado nas previsões anteriores. Com isso, as importações do país deverão diminuir 17,2% na mesma comparação, para 5,5 milhões de toneladas. Será o primeiro ano em que a produção nacional vai superar as importações desde 2010. O salto da produção nacional é derivado de dois anos de preços mais elevados no mercado doméstico, em parte por conta das incertezas em relação ao fornecimento da Argentina, que tradicionalmente é a principal origem do trigo importado pelo Brasil. As restrições impostas pelo governo do vizinho para evitar elevações de preços no mercado interno levaram, nos últimos anos, a interrupções temporárias dos embarques. Conforme a Conab, o volume destinado à moagem industrial no mercado brasileiro deverá chegar a 11,8 milhões de toneladas. As estimativas para o trigo neste ano são consolidadas pela Conab nos números gerais de produção de grãos no país na safra 2013/14, apesar de a colheita estar apenas no início, enquanto a dos demais grãos estar praticamente concluída. No total, a Conab passou a projetar a produção brasileira de grãos em 193,5 milhões de toneladas, 2,6% a mais que em 2012/13 e também um recorde. Conforme o IBGE, serão 193,2 milhões de toneladas. A soja tende a recuperar a liderança na produção, com o recorde de 85,7 milhões de toneladas em 2013/14, aumento de 5,1% na comparação com o ciclo anterior, de acordo com a Conab. Já a produção total de milho, nas contas da autarquia, cairá 3,6% na comparação, para 78,6 milhões de toneladas. Essa queda é puxada pela safra de verão, cuja projeção para a colheita, que já terminou, foi reduzida para 31,7 milhões de toneladas, 8,4% menos que em 2012/13. Já a chamada "safrinha", cuja colheita está em fase final, deverá chegar a 46,9 milhões de toneladas, praticamente o mesmo patamar em igual comparação. Os números da Conab confirmaram que um dos maiores destaques da temporada 2013/14 será mesmo o incremento da produção de algodão - 30,1%, para 1,7 milhão de toneladas - e que, entre os grãos básicos no prato do brasileiro, haverá crescimento de 3,1% no caso do arroz, para 12,2 milhões de toneladas, e de 22,7% no feijão, para 3,4 milhões de toneladas.

Pré-sal já ajuda a compensar produção menor de velhos campos da Petrobras Quando a Petrobras SA PETR4.BR -3.62% revelou a maior descoberta de reservas de petróleo da sua história, em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva brincou que a descoberta havia provado que Deus é brasileiro. Novos dados de produção estão levando muitos na indústria a compartilhar esse otimismo. Segundo a Petrobras, os campos do pré-sal estão produzindo mais de 500.000 barris de petróleo por dia, cerca de três vezes mais que em 2012, e já representam perto de 25% da produção total da empresa, de dois milhões de barris por dia. É um crescimento rápido para a Petrobras em uma das regiões petrolíferas mais desafiadoras do mundo. Os depósitos se encontram a cerca de 320 quilômetros longe da costa sudeste do Brasil, enterrados no solo oceânico sob uma grossa camada de sal, o que dá nome aos campos.

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"Em termos de produtividade e da velocidade com que a Petrobras saiu de uma produção zero para 500.000 barris por dia é [algo] meio sem precedentes", diz Ruaraidh Montgomery, analista da firma de pesquisa Wood Mackenzie. Os ganhos de produção nos campos do pré-sal são extremamente necessários para compensar a queda de desempenho dos campos mais antigos da Petrobras. A produção total da empresa caiu de 1,98 milhão de barris equivalentes de petróleo por dia em 2012 para 1,93 milhão no ano passado. Em 2014, com o pré-sal, a produção total aumentou. Em junho, foi de 2,008 milhões de barris diários. A empresa divulga hoje seus resultados do segundo trimestre. Com o pré-sal, o Brasil pretende ser um dos cinco principais produtores de petróleo do mundo até 2020, quando a produção deve chegar a quatro milhões de barris por dia. Mas, para atingir essa meta ambiciosa, a Petrobras terá que superar desafios financeiros, técnicos e políticos. A lucratividade da empresa foi esmagada pelo governo brasileiro, que forçou a Petrobras a vender gasolina importada a um preço abaixo do custo para combater a inflação. Ela também fez muitos empréstimos para financiar a exploração e o desenvolvimento dessas reservas, transformando-se na petrolífera mais endividada do mundo. A Petrobras estima gastar US$ 102 bilhões na região do pré-sal até 2018. E outras dezenas de bilhões de dólares serão necessários para sua exploração total. O desafio é maior porque a Petrobras está praticamente sozinha nessa empreitada. As duras regras de partilha de produção do governo brasileiro exigem que a Petrobras seja o único operador de todos os projetos do pré-sal, com uma participação mínima de 30%. Esses termos afastaram a maioria das grandes petrolíferas globais. No primeiro — e até agora único — leilão de campos do pré-sal, houve apenas uma oferta, de um consórcio liderado pela própria Petrobras. Os ganhos com o petróleo do pré-sal brasileiro estão indo de certa forma no caminho oposto ao dos gerados pelo boom do petróleo de xisto dos Estados Unidos. Nos EUA, a porta está aberta para todos. Os proprietários de terras aceitam receber royalties baixos, mas o resultado tem sido um aumento massivo na produção e na segurança energética americana. Ainda assim, não há dúvida que a descoberta do pré-sal remodelou a indústria de petróleo do Brasil. Agora, mais plataformas de exploração em águas profundas, navios de abastecimento e unidades de armazenamento flutuantes estão operando no país que em qualquer outro lugar no mundo, de acordo com a firma IHS. As duas principais bacias têm cerca de 50 bilhões de barris de petróleo recuperável. O maior campo atualmente em produção, o Lula, possui estimados oito bilhões de barris de petróleo — quase oito vezes mais que o maior campo do Golfo do México. Para chegar ao petróleo, a Petrobras investiu bilhões de dólares em pesquisa, novas tecnologias de imagem em 3-D, uma frota marítima potente e helicópteros maiores para levar funcionários e equipamentos até os campos. Novas técnicas de perfuração foram necessárias para atingir as reservas, que podem estar a até 6.000 metros abaixo da superfície do oceano. Só a camada de sal, que muda constantemente, pode ter 2.000 metros de espessura. Os buracos perfurados na camada de sal podem se fechar sozinhos, então um tipo especial de lama tem que ser usado para conservá-los abertos. O gás nos campos do pré-sal é muito corrosivo, o que torna necessário o uso de canos de aço especiais. "Ninguém no mundo 17


produziu nessas condições", diz Edmundo Marques, um exexecutivo da Petrobras que hoje é chefe de exploração da petrolífera Ouro Preto Oléo e Gás. O próximo desafio da Petrobras está em seus antigos poços de petróleo, onde a produção está caindo rapidamente. No campo de Roncador, o maior produtor do país, a produção passou de 395.000 barris diários em 2010 para atuais 256.200 barris. Isso tem gerado mais pressão para a Petrobras continuar suas atividades nos campos do pré-sal para que a empresa atinja suas metas de produção. "É uma corrida, já que os antigos gigantes estão em declínio", diz Bob Fryklund, diretor de estratégias de exploração e produção de petróleo da IHS. "A Petrobras trabalha constantemente para compensar o declínio natural na produção de seus campos antigos", disse uma porta-voz da Petrobras em uma nota. "A companhia está investindo muito em novos projetos e iniciando a operação de um grande número de sistemas de produção nas [áreas] do pré-sal e do pós-sal."

Sete lições para recuperar uma economia Uma geração atrás, uma situação de 7,6% de desemprego seria considerada uma recessão grave nos Estados Unidos. Agora, é um sinal de melhora e motivo de inveja para ministros da Fazenda de vários países. Nos 17 países que usam o euro, o desemprego está em 12% e continua subindo; o da Espanha chegou a 27%. A economia britânica se contraiu em 10 dos últimos 19 trimestres. Será que isso é o melhor que podemos fazer? Muitos livros foram escritos, e outros virão, sobre como evitar uma nova crise financeira. Mas eis aqui uma questão importante: O que os últimos anos nos ensinaram sobre como acelerar a recuperação depois que uma economia sofre um grave choque financeiro? Não é uma tarefa fácil e, como esse episódio ainda não acabou, ninguém pode saber as consequências finais do que já foi feito. Dito isto, algumas lições iniciais parecem claras: 1. Faça o diagnóstico correto Ken Rogoff, economista de Harvard que escreveu o livro mais influente sobre a história das crises financeiras ("Oito séculos de delírios financeiros: Desta vez é diferente", com Carmen Reinhart) e cujos dados sobre a relação entre a dívida pública e o crescimento foram questionados por outros economistas recentemente, diz que o que precisamos lembrar é o seguinte: "Quando há uma recessão acompanhada de uma profunda crise financeira, segue-se um longo período de crescimento lento." Esse tipo de recessão mais parece uma doença crônica. "Se você perceber que não vai conseguir crescer para sair da crise depressa", diz Rogoff, "isso muda o cálculo do risco". Isso significa tomar medidas prejudiciais politicamente (e talvez economicamente) no curto prazo, como, por exemplo, dar baixa contábil de dívidas incobráveis, pois são medidas que vão compensar mais tarde. "Trata-se realmente de saber se teremos crescimento lento durante 5 ou 15 anos", diz ele. Nem os EUA nem a Europa compreenderam isso quando sofreram os primeiros grandes choques financeiros. 2. Na dúvida, faça mais, não menos Isso parece imprudente, sobretudo considerando que a crise foi causada pelo excesso de crédito e de riscos. Mas a história recente demonstra que as previsões iniciais raramente são negativas o suficiente, e que depois de um choque financeiro é mais provável surgirem 18


surpresas desagradáveis do que agradáveis. Desde 2009, as autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, têm demonstrado constantemente um otimismo excessivo sobre o crescimento. Se o Fed tivesse que fazer tudo outra vez, provavelmente teria cortado mais os juros, imprimido mais moeda e comprado títulos de dívida antes. A maioria dos consultores econômicos do presidenteBarack Obama teria lançado mais estímulos fiscais, se o Congresso tivesse permitido. Há, com certeza, uma visão contrastante, segundo a qual não foi a dose, mas sim o próprio remédio fiscal que estava errado. A história recente ainda não dá muito apoio à noção de que menos estímulo teria sido melhor. O resultado da experiência do Reino Unido com a austeridade fiscal é, até agora, pouco atraente, com um crescimento econômico mais lento que o previsto, apesar dos esforços do Banco da Inglaterra para compensar os severos cortes de gastos governamentais. 3. Crise financeira é questão de economia, não de moral Existe a tentação de fazer sermões depois que tanta gente cometeu tantos erros: evite os pecados que criaram a crise; puna os culpados; adote a retidão e a frugalidade na economia. No longo prazo, isso é correto, com certeza. Mas logo após um megachoque financeiro, se todos reduzirem as dívidas ao mesmo tempo, a economia vai continuar se contraindo. Há um forte argumento a favor de estimular os empréstimos e os gastos no rescaldo de uma crise financeira e abandonar temporariamente o medo de que isso possa induzir as pessoas a pecar mais no futuro. 4. Cuide dos bancos Durante a Grande Depressão, como o presidente do Fed, Ben Bernanke, demonstrou em seu trabalho acadêmico, a economia dos EUA sofreu porque o Fed não conseguia perceber que os bancos moribundos estavam entupindo as artérias de crédito da economia. Durante os anos 90, em casos que Bernanke examinou no meio da crise recente, tanto a Suécia como o Japão tiveram crises bancárias gravíssimas. A Suécia fez uma limpeza nos seus bancos e restaurou sua economia, rumando para o crescimento. O Japão não fez isso e entrou em dez anos de estagnação. Nos anos 2000, os EUA aprenderam com esse episódio, mas a Europa não. O contraste entre os EUA e a Europa quanto ao teste de estresse dos bancos é instrutivo. O objetivo dos testes é garantir aos mercados que os bancos possuem (ou serão obrigados a captar) capital suficiente para aguentar um período de economia fraca. Nos EUA, os testes de estresse de 2009 conseguiram credibilidade junto aos mercados, e o governo prometeu capital vindo do contribuinte para ajudar os bancos que não conseguiam captá-lo no mercado. Já os testes de estresse europeus não obtiveram credibilidade, em parte devido à delicada questão de reconhecer que os títulos do governo podiam valer menos que o seu valor nominal. Agora, os bancos americanos são considerados saudáveis e começam a emprestar mais facilmente. Em contraste, alguns dos principais bancos europeus ainda são considerados instáveis. Eles relutam em emprestar. E agora os governos estão embarcando em mais uma rodada de testes de estresse. 5. Cuide ainda dos devedores Se uma pessoa não pode pagar um empréstimo, fingir que ela vai pagar não faz bem nem ao credor nem a quem deve — e pode prejudicar gravemente a economia. Mas o custo político de perdoar dívidas, principalmente à custa do contribuinte, pode ser um obstáculo intransponível. Nos EUA, quando mais de um quarto dos donos de residências hipotecadas tinha empréstimos superiores ao valor da casa, economistas pediram para que muitas hipotecas fossem 19


refinanciadas ou tivessem seu valor reduzido. Nem o governo de George W. Bush nem o de Obama encontraram um veículo para isso com um resultado que considerassem compensador em vista do custo econômico e político. Seus críticos dizem que essa cautela excessiva prolongou a crise imobiliária e retardou a recuperação. Na Europa, houve certa relutância em parecer que se estava recompensando economias perdulárias de países periféricos ao perdoar suas dívidas. Isso deixou os bancos sobrecarregados com títulos de dívida públicos. Os governos devedores foram forçados a cortar drasticamente os gastos e aumentar os impostos, com o risco de provocar uma espiral descendente em que o aperto de cinto agrava a recessão, a qual, por sua vez, aumenta o déficit público. 6. Política fiscal duradoura Em retrospecto, o pequeno estímulo fiscal de Bush de 2008 e o grande estímulo fiscal de Obama de 2009 foram inadequados. Dar incentivos fiscais para comprar casas e carros deu à economia um impulso temporário. Mas ele se esgotou e deixou a economia em dificuldades. Mais recursos para a infraestrutura, por exemplo, teria dado um impulso mais duradouro à economia. 7. Tenha uma estratégia de saída e saiba explicá-la Ainda há uma preocupação persistente de que tudo isso vai acabar mal, o que pode levar empresas e consumidores a reduzir os gastos, prejudicando a economia. As grandes empresas continuam a acumular enormes reservas de caixa, como se estivessem se preparando para uma catástrofe. O Fed já expôs sua estratégia de saída, dizendo aos mercados o que precisa acontecer antes que ele aumente os juros e esboçando um plano para diminuir sua carteira de US$ 3 trilhões, algum dia. Mas ninguém pode garantir que o Fed vai acertar ou ter a coragem política de atuar no momento preciso.

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