10 de outubro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 10 DE OUTUBRO DE 2014

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Editorial: Empatados Fonte Jornal Folha de São Paulo 10/10/2014 02h00 Aécio Neves (PSDB) saiu na frente no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto. Menos pelo resultado das pesquisas de intenção de voto, que registram pequena vantagem para o senador, e mais pelos apoios que granjeou nestes primeiros dias de campanha. O resultado do Datafolha, é claro, dá ao tucano um novo ânimo para enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT). Tendo alcançado 51% das preferências no levantamento finalizado ontem (9), Aécio aparece numericamente à frente da petista (49%). É pouco, sem dúvida, pois se trata de situação de empate técnico. É muito, porém, para quem terminou o dia 5 quase 8,5 milhões de votos atrás da adversária e calculava em ao menos 17 milhões o contingente de eleitores que precisaria conquistar nesta nova fase do pleito (na mesma conta, Dilma precisaria de cerca de 9 milhões). Intenções são voláteis, contudo, e a trajetória de Marina Silva (PSB) está aí para demonstrá-lo. Tornam-se mais relevantes, por isso mesmo e sobretudo numa competição tão parelha, as alianças seladas em acréscimo às que vigoraram no primeiro turno. Não se trata propriamente de buscar a transferência de sufrágios. Mesmo que Marina tome alguma decisão e a explicite, seus pouco mais de 22 milhões de votos não cairão de forma automática na urna de quem ela indicar. Acordos são importantes por garantir ao candidato uma estrutura com a qual não se contava. Quanto a isso, Dilma não avançou quase nada, mas a máquina federal joga a seu favor. Aécio, por sua vez, recebeu respaldos estratégicos. O PSB, por exemplo, partido que hospeda Marina, fechou com o tucano e pode ser decisivo em Pernambuco, onde a ex-ministra do Meio Ambiente teve 48% do eleitorado; Aécio não foi além de 6%. Entre os nanicos que concorreram à Presidência, Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) se inclinaram pelo tucano; juntos, tiveram 1,4 milhão de simpatizantes. Luciana Genro (PSOL), que ficou em quarto lugar, com 1,6 milhão de eleitores, limitou-se a desaconselhar o voto no PSDB. Quanto mais equilibrada estiver a disputa em sua reta final, porém, menos provável será que se mantenham distantes aqueles que até aqui não se aproximaram de nenhum candidato. Com o eleitorado dividido em duas partes iguais, o Brasil corre o risco de vivenciar cenas lamentáveis de agressividade ideológica e campanhas destrutivas ou de saudável politização com "P" maiúsculo, como se pensava nem mais existir por aqui. O rumo que o país tomará depende, em larga medida, do comportamento de Aécio Neves e Dilma Rousseff a partir de agora.

Distraídos do mundo Fonte Jornal Folha de São Paulo 10/10/2014 02h 00 Quase todas as demais notícias parecem desinteressantes quando aparecem as primeiras pesquisas eleitorais de um segundo turno que pode levar à primeira troca de governo em doze anos. Quando o Petrolão ganha viva voz na narrativa daquele ex-diretor da Petrobras, que contou sua versão da mumunha como se estivesse em um seminário empresarial do demo, em um workshop da roubança. Quando, como se não bastasse, mais um alto comando da Polícia Militar do Rio é preso por bandalheiras várias. Mesmo os "analistas", essa categoria nada analítica, e até muito operador local do dinheiro grosso parecem não dar trela para a contínua degradação das notícias econômicas ou outras mais ou menos relacionadas. 2


Por ora não importa muito que o governo federal praticamente tenha deixado de poupar gastos correntes (aqueles que excluem juros) ou que a inflação agora pode se acomodar no degrau dos 7%. Que os reservatórios das usinas hidrelétricas continuem baixando, mesmo com o país crescendo nada. Que a maior metrópole do país, maior economia brasileira, e vizinhanças até a rica região de Campinas estejam sob racionamento d'água. Parece ainda menos interessante relatar novos sinais de que a economia mundial está se movendo de lado, mas está, para tempos bicudos de natureza algo diversa do que vimos até o ano passado, por aí. Financistas do mundo parecem unidos na incerteza do que fazer diante da mudança, dando a entender que não sabem direito de qual mudança se trata. A Bolsa de Valores de Nova York levou um tombo significativo na terça, levantou-se com um pulo na quarta apenas para cair ontem de novo. É a maior sequência de sacolejos desde 2011. As taxas de juros da dívida pública das duas maiores economias do Ocidente, Estados Unidos e Alemanha, definham, as germânicas em particular. Grosso modo, é sinal de incerteza grande sobre o que vai ser de dólar, política monetária americana, da europeia, da China e sobre o tamanho da nova frustração da "retomada econômica". A maior economia da Europa, que parecia ter escapado da lerdeza geral da eurozona, pode ter encolhido no segundo e terceiro trimestres (encolheu no segundo). O dólar forte em relação às moedas mais importantes do mundo é resultado do melhor desempenho da economia americana em relação ao restante do mundo rico. A desaceleração no mundo "emergente" ajuda a derrubar o preço de commodities, o grosso das nossas exportações, que vão ainda mais para baixo devido ao dólar mais forte. Mesmo quem não acredita no bode expiatório que o governo arrumou para explicar o fracasso de sua política econômica, a "crise mundial", sabe que o clima não está bom lá fora também. Convém ainda não esquecer a vizinhança imediata, a Argentina, que mesmo depauperada e diminuída ainda causa estragos, como em parte da nossa indústria. A Argentina derrete por ora em banho-maria, mas derrete. Tudo pode não passar de uma gripe forte. Mas o vírus está meio mudado e, enfim, trata-se de mais um ano de economia mundial meio de cama.

Emprego cai 0,4% na indústria brasileira em agosto, ante julho Fonte Jornal Valor Econômico Alessandra Saraiva 10/10/2014 às 09h 10 RIO - (Atualizada às 9h50) O número de pessoas empregadas na indústria brasileira diminuiu 0,4% em agosto em relação a julho, na série com ajustes sazonais. Foi o quinto recuo consecutivo nessa comparação, apontou a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com agosto de 2013, o emprego industrial diminuiu 3,6%. No acumulado do ano, há recuo de 2,7% e, em 12 meses, queda de 2,4%. O emprego industrial diminuiu em 13 dos 14 locais pesquisados, em agosto ante 2013. Por setores, o número de vagas na indústria caiu em 14 dos 18 ramos investigados pelo instituto nessa mesma comparação. Por regiões, o principal impacto negativo partiu do recuo no emprego industrial de São Paulo (4,8%). Ali, houve redução de pessoal ocupado em 15 das 18 atividades pesquisadas - com destaque para meios de transporte (-7,3%) e máquinas e equipamentos (-6,4%). Fora de São Paulo, também houve retrações expressivas do emprego nas indústrias do Paraná (-5,2%), Rio Grande do Sul (-4,7%), Minas Gerais (-3,3%) e regiões Norte e Centro-Oeste (2,2%), em agosto ante agosto do ano passado.

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Ainda na mesma comparação, a única elevação de emprego industrial entre as localidades pesquisadas pelo IBGE partiu da indústria de Pernambuco (0,6%). Setorialmente, o IBGE informou ainda que, em agosto deste ano, em relação a igual mês do ano anterior, houve recuo expressivo no número de vagas nas indústrias de meios de transporte (-7,5%), produtos de metal (-7,9%), calçados e couro (-9,0%), máquinas e equipamentos (-5,5%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-7,6%), vestuário (-4,9%), outros produtos da indústria de transformação (-5,5%) e metalurgia básica (5,5%). Em contrapartida, houve aumento em minerais não metálicos (1,1%) e de produtos químicos (1,0%), na mesma comparação. Horas pagas A pesquisa mostrou ainda que o número de horas pagas na indústria teve retração de 0,8% em agosto na comparação com julho, descontando-se os efeitos sazonais. Na comparação com igual mês de 2013, as horas pagas recuaram 4,5%, enquanto o acumulado do ano apontou para uma baixa de 3,3%. No acumulado em 12 meses, o número de horas pagas recuou 2,9%. Na comparação entre agosto de 2014 e de 2013, as horas pagas na indústria brasileira caíram em todos os 14 locais pesquisados. Setorialmente, o número de horas pagas industriais recuou em 15 dos 18 setores investigados. Segundo o levantamento, a queda mais expressiva ocorreu em São Paulo (-5,4%). Isso porque essa localidade contou com diminuição expressiva na indústria de meios de transporte (-7,8%) e máquinas e equipamentos (-8,5%), entre outros. Além de São Paulo, houve, ainda, taxas negativas no número de horas pagas nas indústrias de Rio Grande do Sul (-6,0%), Minas Gerais (-4,4%), Paraná (-5,7%) e região Nordeste (-2,8%), na mesma comparação. Por setores, o IBGE apurou recuos expressivos nas horas pagas em meios de transporte (8,0%), produtos de metal (-9,5%), máquinas e equipamentos (-7,3%), calçados e couro (10,8%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-7,7%), alimentos e bebidas (-1,9%) e vestuário (-5,2%), em agosto ante agosto do ano passado. Na mesma comparação, porém, o IBGE apurou aumentos no número de vagas nas indústrias de produtos químicos (0,7%), de minerais não-metálicos (0,9%) e de fumo (5,4%). Folha de pagamento O IBGE observou que a folha de pagamento real teve elevação de 0,5% na passagem de julho para agosto, já descontando os efeitos sazonais. Em relação a agosto de 2013, a folha de pagamento real caiu 1,6% em agosto desse ano. Mas, no acumulado do ano, o valor da folha subiu 0,4%. No acumulado em 12 meses, o valor da folha de pagamento ficou estável até agosto. No confronto anual, o valor da folha de pagamento real na indústria caiu em oito de 14 locais e em dez dos 18 setores investigados em agosto. Entre os locais, a principal influência negativa partiu do recuo no valor da folha da indústria de São Paulo (-2,7%), em agosto em comparação com agosto do ano passado. Ali, os principais recuos ocorreram na folha de pagamento real em meios de transporte (-5,9%), produtos de metal (-10,1%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-6,0%) e alimentos e bebidas (-3,2%). 4


Fora de São Paulo, o IBGE apurou ainda recuos expressivos no valor da folha das indústrias de Paraná (-2,3%), Rio Grande do Sul (-1,9%), Minas Gerais (-1,3%) e Região Nordeste (-0,8%). Em contrapartida, houve aumento no valor da folha da indústria da Bahia (1,3%), em agosto em comparação com agosto do ano passado Por setores, ocorreram recuos significativos nos valores das folhas de pagamento real nas indústrias de meios de transporte (-4,8%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (-9,4%), produtos de metal (-6,3%), alimentos e bebidas (-1,2%) e indústrias extrativas (-3,3%), em agosto ante agosto de 2013. Por outro lado, o IBGE apurou aumentos nos valores das folhas de pagamento das indústrias de produtos químicos (3,4%) e de minerais não-metálicos (3,7%), na mesma comparação.

Facebook traça plano para faturar com fotos Fonte Jornal Valor Econômico Gustavo Brigatto de São Paulo08/10/2014 às 05h 00 O Facebook começará a vender publicidade no Instagram, rede social de compartilhamento de fotos, no início de 2015 no Brasil. Essa plataforma, comprada pelo Facebook há dois anos por US$ 1 bilhão, está vendendo anúncios, desde junho, em países de língua inglesa como Reino Unido, Austrália, Canadá e Estados Unidos. A novidade reforça a estratégia da companhia de priorizar o crescimento na área de dispositivos móveis. "Você tem que pensar o Facebook como uma empresa móvel. Os produtos são desenvolvidos primeiro para esses dispositivos, depois para o PC", disse ao Valor, Leonardo Tristão, diretor-geral do Facebook no Brasil. Segundo ele, os detalhes de como os anúncios serão vendidos no país ainda estão sendo definidos, mas a ideia é que as agências de publicidade tenham um papel importante. "Queremos estimular campanhas criativas, que só as agência conseguem desenvolver", disse. O mercado brasileiro é um dos cinco mais importantes para o Instagram. A área de mobilidade tem sido o motor de crescimento do Facebook globalmente. No segundo trimestre, 62% da receita da companhia veio dos anúncios exibidos em tablets e smartphones, um avanço significativo em relação à fatia de cerca de 20% um ano antes. Curiosamente, a área já foi considerada o ponto fraco da rede social. Após a oferta pública de ações em maio de 2012, os papéis amargaram uma queda acentuada em meio a dúvidas sobre a capacidade da companhia de avançar nessa área. Agora, a situação é inversa. A rede social tem basicamente duas formas de ganhar dinheiro com publicidade: anúncios exibidos na linha do tempo do usuário e na lateral direita da página acessada pelo PC, ou na linha do tempo no aplicativo para celular. Anúncios em dispositivos móveis geralmente custam mais caros que os exibidos em PCs por serem considerados mais pessoais, e por isso terem mais chance de sucesso. O Facebook também ganha uma participação nas vendas de jogos e produtos feitas dentro da rede. Sem revelar dados de receita, Tristão diz que o Brasil tem acompanhado a tendência mundial. Em termos de uso diário, disse ele, 76% dos 51 milhões de acessos feitos no país são por meio de celulares. Segundo executivos consultados pelo Valor, o Facebook tem uma receita entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões no Brasil. É uma pequena parcela dos quase US$ 8 bilhões que o Facebook 5


tem de receita por ano globalmente, mas representa um avanço acelerado para a operação local, que começou oficialmente em agosto de 2011. Desde então, a rede passou de 25 milhões para 89 milhões de usuários cadastrados e chegou a 150 funcionários. A sede da empresa, na zona sul da cidade, acaba de dobrar de tamanho, com a inauguração de um segundo andar há cerca de um mês. Tristão foi um dos primeiros empregados da companhia no país. Ele foi convidado para participar do início da operação por Alexandre Hohagen, que era seu chefe no Google e deixou a empresa para assumir o Facebook na América Latina. "Foi um avanço sem precedentes", disse Tristão. As receitas têm vindo de empresas de diferentes setores, com destaque para companhias de pequeno porte. Neste ano, grandes eventos tiveram um impacto positivo na companhia, segundo ele, por conta das discussões geradas entre os internautas. Só o primeiro turno das eleições gerou mais de 320 milhões de interações, superando a Índia, que tem uma população e uma base de usuários do Facebook maior que o Brasil - 100 milhões. Na avaliação de Tristão, o Facebook está entrando na terceira fase de seu desenvolvimento no país. No primeiro momento, as empresas se preocuparam em entrar em contato com seus consumidores, ganhar fãs. Na segunda etapa, a rede social entrou na estratégia dos anunciantes, seja como parte de campanhas gerais, ou com ações criadas exclusivamente. Agora, o momento é de usar a presença no mundo dos dispositivos móveis para promover a publicidade no formato de vídeos para dispositivos móveis. Lançado oficialmente no primeiro trimestre (e no Brasil em junho), o sistema é outra forma de acelerar geração de receita já que esses anúncios costumam ser mais caros que os tradicionais, em que são exibidas apenas imagens estáticas. O Google é a principal referência nessa área, com o YouTube. "O vídeo vai impulsionar o crescimento do Facebook para o futuro", disse Tristão. Segundo ele, grandes marcas como Fiat, Kit-Kat e Budweiser já exibem anúncios nesse formato no país, mas ele também pode ser usado por companhias de menor porte. "Já são 600 mil pequenas empresas cadastrados no Brasil", disse. Desde que o Facebook desembarcou no Brasil, em 2001, a publicidade na internet teve um crescimento de 66,5%, passando de R$ 3,46 bilhões para R$ 5,76 bilhões no ano passado, segundo o Internet Advertising Bureau (Iab). A projeção para 2014 é que o ritmo de crescimento fique em torno de 25%, chegando a R$ 7,2 bilhões. A estimativa é que o Google fique com metade dos investimentos feitos pelos anunciantes.

BMW inicia produção no Brasil Fonte Jornal Valor Econômico Eduardo Laguna | Araquari (SC) 10/10/2014 às 05h00 A BMW abriu oficialmente ontem as portas de sua fábrica de carros premium no norte de Santa Catarina em evento marcado por um momento de provocação - quando um diretor do grupo lembrou as autoridades presentes da saga burocrática enfrentada pelo empreendimento - e discursos de ministros do governo federal que, ao celebrarem a "transformação social" do país nos últimos anos, deram tom eleitoral à cerimônia. Executivos da montadora alemã também aproveitaram o evento para reforçar expectativas de crescimento do mercado brasileiro, porém em ritmo mais moderado nos próximos anos, e falaram pela primeira vez da possibilidade de transformar o Brasil em plataforma de exportação do grupo, embora num futuro distante. 6


Os investimentos da BMW para produzir em Araquari, cidade a cerca de 20 quilômetros de Joinville, passam de R$ 600 milhões, preveem a criação de 1,3 mil empregos - entre vagas criadas somente na montadora até 2016 - e injetam na já ociosa indústria automobilística brasileira capacidade instalada de 32 mil carros por ano. A produção em escala comercial já tinha começado no dia 30 de setembro, com o sedã da Série 3 equipado com motor bicombustível, a tecnologia de propulsão dominante no Brasil. No mês que vem um utilitário esportivo, o X1, soma-se à linha, que até o fim do ano que vem também terá a companhia de outros três modelos: um hatch da Série 1, o X3 (outro utilitário esportivo) e, por último, o Mini Cooper, na versão Countryman. Ao falar sobre o desafio de instalar no Brasil a primeira linha de produção de carros da BMW na América do Sul, o vice-presidente do grupo responsável pela fábrica, Gerald Degen, exibiu a uma plateia formada por autoridades públicas, funcionários, concessionários e jornalistas um slide com toda a papelada de licenças pelas quais o empreendimento teve de passar para abrir as portas ontem. No total, o projeto foi submetido a cerca de 150 diferentes tipos de licenciamentos por órgãos como Funai, Ibama e ANTT. A "alfinetada" do executivo alemão arrancou algumas expressões de espanto, mas teve uma pronta resposta do ministro do Trabalho, Manoel Dias. "No Ministério do Trabalho, 90% desses documentos não existirão mais até o fim do ano porque eles estão sendo digitalizados", disse o chefe da pasta quando teve a oportunidade de discursar. Apesar da cerimônia de inauguração, o parque industrial da BMW ainda vai demorar mais um ano para ser concluído. Os setores de pintura e de armação das carrocerias só devem ficar prontos em setembro de 2015. Por enquanto, só a linha de montagem está em funcionamento, abastecida por carrocerias da Alemanha e autopeças importadas da rede internacional de fornecedores da multinacional. O nível de nacionalização dos carros é baixo. No Série 3, nem o pneu é nacional. As exceções são os assentos do automóvel e uma peça ou outra dos sistemas de suspensão, propulsão e transmissão fornecida por fabricantes locais. Arturo Piñeiro, presidente da montadora no Brasil, garantiu, porém, que a fábrica vai atender às exigências de nacionalização colocadas do novo regime automotivo, mais flexíveis a marcas premium como a BMW, dado o maior nível de tecnologias empregadas nesses carros sem produção nacional. O executivo adiantou que exportar automóveis a partir de Santa Catarina também está nos planos, a depender da competitividade da nova fábrica. Mas é um projeto de longo prazo porque a montadora, entre outros pontos, terá de atingir níveis mínimos de peças regionais para ter direito ao acesso a mercados de parceiros comerciais do Brasil, como o Mercosul. "Exportar vai depender da economia e da velocidade em que conseguirmos avançar na nacionalização dos carros. Até 2018 ou 2020, nossa vocação será produzir ao mercado brasileiro", comentou Piñeiro. O presidente da BMW disse a jornalistas que o consumo de carros de luxo perdeu ritmo nos últimos meses em decorrência das incertezas sobre os rumos da economia, agravadas pelos período eleitoral. Cautelosos na hora de adquirir veículos que custam mais de R$ 100 mil, os clientes estão adiando a decisão de compra, disse o executivo, que voltou a afirmar, no entanto, que os preços dos carros da BMW não caem com a produção local. Ele acredita que o mercado premium no Brasil pode levar mais tempo para dobrar de tamanho e alcançar a marca de 100 mil carros, antes prevista para 2018.

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De um volume que há quatro anos não passava das 3 mil unidades, o grupo BMW, incluindo a marca Mini, fechou 2013 com vendas de 17,5 mil carros e espera superar o patamar de 18 mil automóveis em 2014. Ao participar da cerimônia de inauguração da fábrica, a ministra Ideli Salvatti, de Direitos Humanos, viu nos números a "prova inequívoca" de que o governo promoveu a inclusão social, sem se esquecer de dar condições de desenvolvimento a todas as classes sociais, o que inclui as mais abastadas que consomem carros da marca germânica. "Empresas como a BMW não investem em um país à beira do colapso", disse. Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, concordou. "Somos um país de grandes transformações sociais e também um país de futuro".

Documento sugere ao próximo governo saídas para desenvolvimento da Amazônia Fonte Jornal Valor Econômico Daniela Chiaretti de São Paulo 10/10/2014 às 05h 00 A Amazônia tem sido vista pelos governos federais como um almoxarifado de recursos naturais ou um corredor para escoamento de grãos. Se os investimentos públicos em energia, petróleo e gás, logística e telecomunicações podem alcançar R$ 130 bilhões até 2020, a onda de grandes obras intensifica conflitos sociais e danos ambientais. As riquezas da Amazônia não têm deixado a região, que é 60% do Brasil, mais próspera. Ao contrário. As investidas em grandes projetos parecem divorciadas de ganhos em indicadores sociais e econômicos na região. Na Amazônia Legal, com 9 Estados, 773 municípios e 24 milhões de pessoas, o PIB per capita é a metade da média brasileira. Seriam necessários investimentos de R$ 2 bilhões ao ano, ao longo de quatro anos, para igualar a Amazônia à média nacional em número de leitos, médicos e professores. Metade das 20 grandes cidades brasileiras com piores índices de saneamento está ali. Em 2010, segundo a Embrapa e o Inpe, pastos mal utilizados somavam perto de 12 milhões de hectares - três vezes a área do Estado do Rio. A taxa de homicídios em Altamira aumentou 136% depois da emissão da licença prévia de Belo Monte. Em Marabá, o índice de violência é dez vezes maior que o de São Paulo. Esse pacote de más notícias está em "Amazônia e as Eleições 2014: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável", documento elaborado por entidades que pesquisam a região há anos - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, além dos consultores Valmir Ortega e Mauro Pires. "A riqueza da Amazônia têm gerado poucos benefícios sociais e econômicos para a grande maioria dos seus mais de 24 milhões de habitantes", diz o estudo. "A Amazônia é uma questão nacional", diz o documento, que propõe sugestões para o próximo presidente da República reverter esse cenário. "O desafio de promover o seu desenvolvimento deve ser encarado como uma questão de Estado", diz o relatório divulgado com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. O trabalho quebra mitos, como o que diz que é preciso desmatar para que a região se desenvolva. Se em 2004 o valor total da produção agropecuária na região bateu em R$ 21,2 bilhões e a Amazônia registrou o pico de 27,8 mil km 2 de desmatamento, foi a partir daí que os dois vetores começaram a seguir rotas opostas. Chegaram a 2010 com R$ 25,7 bilhões de valor de produção agropecuária na Amazônia e 7 mil km 2 de desmate. "Ocorreu um descolamento entre esses dois vetores, porque aumentou a produtividade", diz Paulo Barreto, pesquisador8


sênior do Imazon e um dos autores do trabalho. "Esse é um ponto-chave e quebra a conversa que não pode parar o desmatamento ou congela-se a região", diz. "Outro ponto importante é que o crédito agrícola seja de fato condicionado às boas práticas ambientais", reforça Barreto. "Esse documento reconhece que o desenvolvimento sustentável da Amazônia traz desafios em dimensão também amazônica", diz o documento, rico em propostas de política energética, economia de serviços, recursos para proteger as unidades de conservação e integrá-las à economia local. O plano de expansão de geração de energia elétrica do governo inclui a construção de 30 hidrelétricas na Amazônia até 2023. As seis maiores usinas em construção ou em estudo seriam responsáveis por 50% do total de energia previsto para ser adicionado à matriz até 2020. Os benefícios para a região, no entanto, são questionáveis. A energia gera ICMS nos Estados consumidores - é preciso alterar a legislação para que os Estados produtores ganhem. O baixo custo de produção de energia hídrica, argumento frequente do governo, "se revela muito maior após a construção das obras", indica o estudo. Segundo outro trabalho, publicado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), investimentos em eficiência energética, como o replanejamento do uso e da geração, dispensariam a contratação de novas usinas até 2022. O elenco de sugestões tem propostas de mudanças de abordagem para eliminar o conflito de interesse do licenciamento. O modelo atual tem distorções - quem paga a análise de risco costuma ser o empreendedor. "É a raposa tomando conta do galinheiro", resume Barreto. A ideia é que empreendedores invistam em um fundo e os recursos pagariam as análises.

Para 77% dos brasileiros, cortar imposto reduz desigualdade Tainara Machado de São Paulo 10/10/2014 às 05h 00 Para 68% dos brasileiros, a desigualdade é um grande problema, mas parte ainda mais expressiva da população (77%) acredita que reduzir impostos é o melhor meio para assegurar menor distância entre ricos e pobres, segundo pesquisa do Pew Research Center divulgada hoje. O levantamento ainda mostrou que os brasileiros estão entre os mais otimistas com o futuro da próxima geração, embora a confiança tenha recuado nos últimos 12 meses. O percentual dos que consideram a diferença entre as faixas de renda um problema relevante no Brasil é maior do que a média dos países emergentes (60%) e avançados (56%). O principal "culpado" pela desigualdade, segundo 29% dos entrevistados, na média global, são as políticas governamentais, seguida pela diferença de salários (23%). No Brasil, essa relação se inverte. Com as políticas sociais adotadas nas últimas décadas, apenas 21% dos brasileiros atribuem a desigualdade ao governo. Já 44% consideram que a principal razão para a distância entre ricos e pobres está na diferença de remuneração dos trabalhadores. Para 19% dos brasileiros, o sistema educacional é relevante para explicar a diferença de renda na sociedade, percentual mais alto do que na média global (10%). Por outro lado, parte expressiva dos brasileiros (77% dos entrevistados) considera que reduzir impostos para empresas e os mais ricos poderia induzir o investimento e o crescimento e, assim, diminuir a desigualdade. Apenas 18% consideram que aumentar impostos para esses dois grupos, para financiar programas sociais, poderia reduzir essas diferenças.

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Os percentuais são bem diferentes do observado na média dos países emergentes, entre os quais 40% apoiam redução de imposto, contra 31% que avaliam que a redução de tributos poderia ser mais efetiva para lidar com a questão. Além da distribuição de renda, o Pew também pesquisou as perspectivas da população para os próximos anos, e observou forte diferença entre desenvolvidos e emergentes. Segundo o levantamento, nos 25 países emergentes pesquisados, 50% da população espera que as crianças tenham condições financeiras melhores do que as experimentadas pela geração atual, enquanto 25% avaliam que o quadro tende a piorar nos próximos anos. O Brasil está entre os mais otimistas neste conjunto, já que 72% estão mais otimistas com o futuro, embora nos últimos 12 meses a confiança tenha caído sete pontos percentuais. Já nos países desenvolvidos, o cenário é mais adverso. Apenas 28% dos entrevistados esperam que os jovens cresçam em um ambiente financeiro mais favorável, contra 65% que esperam piora das condições, na média. Segundo o relatório, de maneira geral o maior ou menor grau de otimismo está ligado ao desempenho recente da economia, na avaliação dos pesquisadores. O levantamento foi realizado em 44 países, com 48.643 entrevistados entre os dias 17 de março e 5 de junho deste ano. No Brasil, foram 1.003 entrevistas.

Inflação das famílias de renda mais baixa acelera a 0,46% em setembro Fonte Jornal Valor Econômico 10/10/2014 às 08h 30 SÃO PAULO - A inflação da cesta de produtos e serviços mais consumidos pelas famílias de baixa renda, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), subiu 0,46% em setembro, após ter ficado estável em agosto, informa a Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Conta de luz e carne mais caras foram os itens que mais pesaram no mês passado. Com o resultado, o indicador acumula alta de 4,49% no ano, e de 6,53% nos últimos 12 meses. No mesmo período do ano passado, a alta foi de 0,16%. O IPC-C1 mede a inflação das famílias com renda até 2,5 salários mínimos (R$ 1.810 mensais) e em setembro ficou abaixo da inflação geral, medida pelo IPC-BR, que marcou alta de 0,49%. Na comparação do acumulado nos últimos 12 meses, a inflação das famílias de renda mais baixa também é menor que a de 6,97% registrada pelo IPC-BR. De acordo com a FGV, sete das oito classes de despesa que compõem o IPC-C1 ficaram mais caras, com destaque para alimentação, que saiu de deflação de 0,03% para alta de 0,49%, influenciada principalmente pelas carnes bovinas, que de alta de 0,48% em agosto passaram a subir 2,81% em setembro. Outros grupos em alta foram habitação (0,23% para 0,70%), transportes (-0,25% para 0,41%), saúde e cuidados pessoais (0,20% para 0,42%), comunicação (-0,93% para 0,03%), vestuário (-0,48% para -0,11%) e educação, leitura e recreação (0,38% para 0,48%). Nesses grupos, os destaques partiram da tarifa de eletricidade residencial (-0,20% para 2,79%), tarifa de ônibus urbano (-0,41% para 0,36%), medicamentos em geral (-0,20% para 0,33%), tarifa de telefone residencial (-1,97% para -0,81%), roupas (-0,66% para 0,09%) e show musical (0,75% para 2,75%), respectivamente. Apenas o grupo despesas diversas (0,12% para 0,06%) registrou desaceleração, influenciado especialmente por clínica veterinária, cuja taxa passou de 1,55% para 1,10%. 10


Pesos individuais Individualmente, os itens que mais contribuíram para a inflação das famílias de renda mais baixa foram, além da conta de luz, o aluguel, gás de bujão, frango inteiro e tarifa de ônibus urbano. Os itens que impediram uma alta maior do IPC-C1foram tomate, batata, taxa de água, conta de telefone e óleo de soja.

Em alta no varejo, carne bovina poderá subir ainda mais Fonte Jornal Folha de São Paulo 10/10/2014 02h 00 Eleito o herói nacional no início do governo de Fernando Henrique, o frango volta a ser lembrado também no de Dilma Rousseff. Para aliviar as pressões da inflação no setor de proteínas, técnicos do governo recomendam a troca da carne bovina pela de frango, de preços mais baixos. No início do governo FHC, o frango deu sustentação ao Plano Real, ao ser comercializado com valores inferiores a R$ 1 por quilo. Foi considerado o "herói nacional". Atualmente, o valor da ave viva está em R$ 2,70 por quilo nas granjas de São Paulo, e também está em alta no varejo paulista. A carne bovina, devido à chamada sazonalidade do setor, está com forte alta. A evolução ocorre porque esse é um período de entressafra e não há uma oferta satisfatória de boi gordo para o abate, segundo José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP. Soma-se a esse período atípico do ano um "gargalo estrutural" do setor. A demanda cresce, devido ao aumento de renda, mas a oferta de gado disponível no mercado para abate não tem o mesmo ritmo. Para uma maior oferta de animais é necessário um ganho de produtividade no setor, o que só ocorre com investimentos. O atual cenário da pecuária, cujas margens de rentabilidade são baixas, não justifica esses investimentos. "Com isso, há um ganho de produtividade, mas modesto", afirma Ferraz. A arroba de boi gordo é negociada a R$ 132 no Estado de São Paulo, segundo a Informa Economics FNP. Esse valor supera em 20% o de igual período do ano anterior. Na avaliação do analista, os preços do boi gordo ainda deverão sofrer alguns ajustes, podendo subir para até R$ 140 por arroba nas próximas semanas. Enquanto a carne bovina tem alta de preço, a de frango poderá ficar mais favorável ao bolso dos consumidores neste ano devido ao avanço da produção agrícola. A consequente queda de preços dos grãos favorece os custos de produção das aves, segundo ele. A redução de preços dos grãos deverá reduzir também os custos do confinamento, mas a oferta de gado desse mercado não está respondendo como se imaginava há dez anos, diz Ferraz. O analista da Informa acredita que ainda dá para resolver esse círculo vicioso do setor, onde as margens não atraem investidores, e sem investimentos não há crescimento da oferta. O Brasil tem vantagens em relação aos demais países produtores, principalmente devido ao custo menor da mão de obra, do valor da terra e do clima favorável. Mas um dos sérios problemas a serem resolvidos é a busca de uma evolução profissional dos trabalhadores. A pecuária tem de seguir a agricultura, onde a incorporação de novas tecnologias vem aumentando.

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Relator abre julgamento no Supremo com voto favorável à reaposentadoria Fonte Jornal Folha de São Paulo SEVERINO MOTTA de BRASÍLIA09/10/2014 18h51 O relator do processo da reaposentadoria, ministro Luís Roberto Barroso, abriu o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira (9) com voto favorável para que os aposentados que continuaram a trabalhar tenham direito de pedir um novo benefício após os anos extras de contribuição à Previdência. Após a declaração do voto, o julgamento foi suspenso e será retomado na próxima semana. Apesar de defender a possibilidade da reaposentadoria, Barroso propôs um sistema intermediário. Segundo ele, não seria justo que os aposentados que aguardaram mais tempo para se aposentar recebessem o mesmo em relação àqueles que se aposentaram mais cedo e depois pediram a revisão do benefício. Por isso, em seu voto, citou os três itens que compõem o fator previdenciário: tempo de contribuição, idade e expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoria. De acordo com ele, no caso de um pedido de reaposentadoria, seria alterado somente o tempo de contribuição, mantendo os demais itens com os valores do primeiro pedido. Com isso, segundo Barroso, as reaposentadorias aumentariam o benefício em 24,7%, em média. Devido a essa equação, o ministro disse que não haveria grandes impactos ao sistema. Além disso, a fórmula evitaria que aposentados tivessem que devolver o que já receberam do INSS no caso dos pedidos de reaposentadoria. Como as alterações propostas suprem lacunas legais, o ministro ponderou que o novo sistema só deve entrar em vigor em 180 dias. O período poderia ser usado Legislativo para a produção de uma nova lei sobre a previdência desde que ela contemplasse a possibilidade da reaposentadoria. Antes do voto de Barroso, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, se manifestou contrariamente à reaposentadoria. De acordo com ele, o sistema brasileiro é solidário, ou seja, uma pessoa não têm o direito de usufruir tudo o que pagou. Para ele, permitir a reaposentadoria traria ainda uma imprevisibilidade indevida ao sistema previdenciário. "É fundamental que se mantenha a regra pela qual aquele que optou por se aposentar mais cedo para acumular o rendimento de seu trabalho com a aposentadoria não possa agora renunciar ao benefício anterior e quebrar a lógica do sistema", disse. IMPACTO De acordo com o governo, cerca de 500 mil aposentados estão atuando no mercado de trabalho. Há ainda cerca de 123 mil ações que tramitam na Justiça sobre o tema. Ainda segundo o governo, caso o STF venha a permitir a reaposentadoria, estima-se um impacto de R$ 70 bilhões. O valor diz respeito ao pagamento de ações que já estão na Justiça, outras que serão apresentadas e a redução de arrecadação para os próximos 20 anos. Como o processo em discussão no STF teve a chamada repercussão geral reconhecida, a decisão valerá para todas as ações que tramitam no Judiciário. Na semana que vem, quando o julgamento for retomado, o primeiro a votar será o ministro Teori Zavascki. São necessários pelo menos seis votos para definir um julgamento no Supremo.

Mercados indicam que alta de juros nos EUA virá mais tarde Fonte Jornal Valor Econômico 10/10/2014 às 05h00 A ata da reunião de setembro do Federal Reserve americano postergou o provável calendário de início da elevação das taxas de juros. Considerações importantes do Fed sobre a saúde precária da economia mundial, reforçadas esta semana pelos relatórios do Fundo Monetário Internacional, jogaram para baixo as bolsas americanas e ampliaram a volatilidade dos mercados. Em consequência, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos chegaram a cair a 2,28%, menor taxa em 15 meses, para fechar quase sem variação, a 2,32%. Pesquisa da Bloomberg mostra que o mercado futuro de " fed funds" indicou que a maioria dos investidores mudou sua expectativa inicial da alta de juros de julho para setembro. 12


O Fed vacilou e, apesar das discussões permanentes sobre como melhorar a divulgação de seus próximos passos, voltou a confundir os mercados. Curiosamente, os mercados projetavam, antes da reunião do BC americano de 17 de setembro, uma evolução mais lenta para a elevação dos juros que a que o Fed revelou depois. Até antes da divulgação da ata da reunião, havia algum consenso de que o pontapé inicial nos juros seria dado em meados de 2015 e as altas subsequentes seriam moderadas. As projeções dos membros do Fed indicaram, ao contrário, que o ritmo de altas seria bem mais rápido do que se imaginava. Implícito na projeção estava a melhoria segura das condições da economia americana. O cenário, porém, sofreu alterações com a proximidade da normalização monetária nos EUA. O dólar reforçou um movimento de alta em relação às principais moedas, inclusive as dos países emergentes. Tem agora a maior cotação ante o euro em dois anos e a maior em seis anos ante o iene. A escalada da moeda americana ganhou embalo com a perda de fôlego da recuperação da zona do euro e com a desaceleração da China (menor) e de grandes economias, como Brasil e Rússia (maior). Com a economia global fraquejando, os preços do petróleo caíram - ontem atingiram o menor valor desde 2012 -, reforçados ainda pela exuberante produção americana. Os resultados desse movimento conjunto foram perda de dinamismo das exportações americanas, com impactos futuros na taxa de crescimento do país, e uma inflação em queda, ainda que não abrupta. Se pelo lado do emprego há progressos evidentes, embora moderados, do lado da evolução de inflação a perspectiva ficou provisoriamente menos favorável, porque dólar em alta e petróleo em baixa deprimem o nível de preços. Em consequência, o mercado de títulos do Tesouro com proteção contra a inflação (Tips) apontou bastante para baixo, sugerindo um nível de preços na casa de 1,5%. Os sucessivos programas de relaxamento monetário (três) foram lançados quando a inflação sinalizada pelos Tips caiu abaixo desse nível. Tornou-se então inviável acenar com a proximidade do fim dos juros perto de zero nessas condições. O Fed deu sobrevida na ata à expressão "por um período prolongado de tempo" ao intervalo que decorrerá entre o fim das compras de títulos em outubro e os próximos passos da política monetária. "A inflação tem se mantido abaixo da meta de longo prazo do Comitê", apontou a ata do Fed, "e as leituras dos preços ao consumidor no intervalo entre as duas reuniões foram de alguma maneira mais suaves que nos quatro meses precedentes, em parte devido ao declínio dos preços da energia". A valorização do dólar foi apontada por dois membros do Comitê de Mercado Aberto do banco como fator de contenção da inflação, enquanto que mais membros disseram que a fraqueza da economia e a baixa inflação na zona do euro podem contribuir para apreciação adicional da moeda americana, com "efeitos adversos sobre o setor externo da economia". A desaceleração da China ou do Japão, além de eventos imprevistos no Oriente Médio e Ucrânia indicam "riscos similares". O cenário está de novo mudando nos mercados. Indicadores ruins que sugerissem um adiamento na alta dos juros pelo Fed empurravam as ações para cima e continham o fôlego do dólar. Nesta semana não foi assim. A economia global desacelerou, a zona do euro está estagnada, os países emergentes crescem abaixo do ritmo do período pré-crise, e tudo isso ameaça o crescimento futuro dos EUA. Mais ainda, um terço das receitas das empresas que compõem o índice S& P 500 vêm de fora dos EUA - a baixa expansão deprime sua performance e o dólar forte, suas receitas.

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Lembrando a desagradável aritmética monetarista Fonte Jornal Valor Econômico Ricardo D. Brito 10/10/2014 às 05h 00 Nas últimas semanas, temos assistido a um debate acalorado sobre a autonomia do Banco Central. A oposição de um lado prometendo a sua independência e o governo do outro ameaçando que tal significaria a entrega do Banco Central a interesses não coincidentes com os objetivos nacionais. Esse debate faz algum sentido técnico, mas sua motivação (e espaço ocupado no debate presidencial) é mais eleitoreira. Há um entendimento generalizado que a inflação alta decorre porque o Banco Central está indevidamente servindo à agenda eleitoral do governo. E, em sendo assim, a oposição busca conquistar o eleitorado assustado com o descontrole dos preços se comprometendo a nunca usar o mesmo subterfúgio. Nunca, neste caso, só é crível se for concedida independência legal ao BC. Mas qual é a evidência, mundo afora, da relação entre independência do BC e inflação baixa? Ao perderem o controle dos BCs, os governos passam a se utilizar mais intensamente de déficits públicos. Surpreendente para muitos, a evidência média é que conceder independência jurídica para o BC não causa queda da inflação. Se ao invés de independência jurídica (que é a que está sendo prometida), observamos medidas de independência operacional (mais relacionada com quanta independência os BCs têm na prática), acha-se alguma correlação entre independência e inflação baixa. Mas não se comprova que independência cause inflação baixa. Ao contrário, tudo indica que é o bom desempenho no controle da inflação que provoca a crescente independência operacional dos BCs (Dreher e co-autores 2008) 1. Detalhando um pouco mais as evidências, observa-se que a relação entre independência e inflação baixa é significativa apenas para níveis intermediários de desenvolvimento das instituições nacionais. Dito de outra forma, reformas dos BCs não parecem ter efeito em países onde as instituições são consideradas muito fortes ou muito fracas. A intuição para tal é que no extremo forte as regras vigentes já não deixavam espaço para usos indevidos do BC, e no extremo fraco a independência jurídica não se efetiva de fato (Acemoglu e co-autores 2008) 2. Em sendo o Brasil considerado um país de desenvolvimento institucional médio, onde o controle da inflação tem deixado a desejar, é razoável suspeitar que haja espaço para melhorar a política monetária pelo aprimoramento do arranjo institucional. Mas deveria a independência encabeçar as discussões sobre o tema política monetária? Acemoglu e co-autores (2008) dão um passo além e questionam se a independência dos BCs de fato coíbe o expansionismo oportunista do governo. A conclusão desenganadora é que, ao perderem o controle dos BCs, os governos passam a se utilizar mais intensamente de déficits públicos. Não esqueçamos a desagradável aritmética monetarista de Sargent e Wallace (1981) 3: o valor da dívida pública é igual à soma dos valores presentes dos superávits do governo e da senhoriagem do BC. Senhoriagem é a receita do BC pela criação de moeda, que, se expandida em excesso, resulta em inflação. Na medida que os planejamentos monetário e fiscal são partes integrantes da mesma restrição orçamentária do setor público, políticas monetária e fiscal totalmente independentes são uma impossibilidade. Há que haver coordenação. 14


Uma política monetária ativa de alta dos juros para combater a inflação deve ser seguida por uma política fiscal passiva de geração de superávits - ou uma política fiscal ativa deve ser seguida por uma política monetária passiva. Se, por exemplo, o BC decide subir os juros para combater a inflação, mas o governo não reage coordenadamente gerando superávits para pagar pelos juros maiores, o BC se verá obrigado a gerar senhoriagem futura e, com isso, inflação. Ou seja, só a concordância entre BC e governo possibilita uma inflação baixa. Enfim, a impressão é que a dicotomia entre independência ou não do BC é pouco produtiva, na medida que traz implícita um confronto entre BC e governo. Coloca-se a questão de como equiparar as forças das autoridades monetária e fiscal para que possam resistir em suas respectivas agendas. Este debate deveria ser em torno de melhorar o arranjo institucional para que governo e BC cooperem para o objetivo nacional de estabilidade de preços e crescimento de longo prazo. Adicionando aos estudos acima, Taylor (2013) 4 observa que as melhorias no desempenho macro da última metade de século estiveram mais associadas a uma maior aderência a regras de política monetária do que à independência formal do BC. É preciso fazer algo para restaurar a credibilidade perdida do BC brasileiro. Mas será que em vez de estreitar as bandas de tolerância da meta de inflação, em atuais largos 2% para mais ou para menos, não seria mais eficaz dificultar que se burle o compromisso do BC com a estabilidade de preços? E para além da política monetária, qual o compromisso dos candidatos de coordenação da política fiscal para a estabilidade de preços? 1- Dreher, A.; Sturm, J.E.; de Haan, J. (2008). Does high inflation cause central bankers to lose their job? Evidence based on a new data set. European Journal of Political Economy, Vol. 24, 778-787. 2- Acemoglu, D.; Querubin, P.; Johnson, S.; Robinson, J. (2008). When Does Policy Reform Work? The Case of Central Bank Independence. Brookings Papers on Economic Activity, Spring 2008, 351-417. 3- Sargent, T.; Wallace, N. (1981). Some unpleasant monetarist arithmetic. Federal Reserve Bank of Minneapolis Quarterly Review, Vol. 5, no. 3. 4- Taylor, J. (2013). The Effectiveness of Central Bank Independence vs. Policy Rules. Business Economics, Vol. 48, No. 3.

O inevitável ajuste de 2015 Fonte Jornal Valor Econômico Tony Volpon 10/10/2014 às 05h00 Apesar de não figurar como grande tema da atual campanha eleitoral pelo menos não no peso que o assunto merece a questão sobre se a economia brasileira terá ou não que sofrer um ajuste em 2015 tem dividido os campos governista e da oposição. A posição dos governistas pode ser resumida da seguinte maneira: os problemas da economia brasileira são principalmente decorrência da crise global; as várias políticas empreendidas pelo governo têm tido como meta fundamental proteger o trabalhador brasileiro da crise global, apesar de gerar uma modesta deterioração fiscal; e que, finalmente, com a recuperação global que já esta em curso, o governo vai poder, a partir de 2015, retirar o excepcional nível de apoio à economia. 15


O campo oposicionista coloca ênfase em fatores domésticos para explicar o pouco dinamismo da economia, especificamente erros de gestão da política econômica. Uma combinação de deterioração do "tripé" macroeconômico e intervenções microeconômicas mal pensadas e mal executadas têm levado a uma piora nas métricas econômicas, tanto do ponto de vista absoluto como relativo a outros países emergentes. Sendo assim, o Brasil precisa de um vigoroso ajuste. Ajuste feito de maneira correta pode lançar as bases para a expansão futura. Se não, ele será realizado pelo mercado. Como quase sempre nesses debates, há alguma verdade dos dois lados. Vamos tentar separar o joio do trigo. A piora absoluta em quase todos os índices durante o governo Dilma crescimento, inflação, déficit em conta corrente, é um fato; basta comparar com anos anteriores. Pode haver argumentos se houve uma piora relativa, mas, depois de olhar detalhadamente, concluo que isso também aconteceu quando olhamos o conjunto dos mercados emergentes (olhar para os países desenvolvidos, como ocasionalmente faz o governo, não faz nenhum sentido). Mas essa piora não aconteceu nas condições do mercado de trabalho, como defende o governo. É verdade que houve uma conjunção de fatores demográficos e comportamentais que ajudarão a diminuir a oferta de trabalho de tal maneira que a queda da demanda evidenciada, por exemplo, pela queda nos números de empregos criados com carteira assinada apurados no Caged - não acabou impactando a taxa de desemprego. Mas há também verdade na alegação governista que as políticas do governo ajudaram a sustentar o mercado de trabalho nesses últimos anos. Isso porque, com a piora do ambiente externo em 2011, começando com a crise da zona do euro, mas tendo a desaceleração da economia chinesa como fator agravante, o ajuste tradicional seria de diminuir nossa absorção interna - a soma do que consumimos e investimos. Tal ajuste implica, necessariamente, queda do consumo, que levaria a algum aumento do desemprego. Agora, boa parte desse aumento provavelmente seria transitório, fruto de rigidez nominal que impede um ajuste suave a choques exógenos. Mas não seria possível evitar algum aumento no desemprego durante algum tempo. Por ter usado todas as ferramentas à sua disposição para aumentar a demanda, via aumento de gastos; corte de tarifas e impostos; pressionando por juros menores; levando os bancos públicos a emprestar mais (ignorando o Banco Central quando este começou a aumentar a Selic), etc o governo de fato impediu um aumento cíclico na taxa de desemprego. Mas, ao mesmo tempo, criou uma série de distorções e piora na política econômica, especialmente a fiscal, que levou à queda do crescimento potencial que vemos hoje, explicando o atual quadro de relativa estagflação. Poderíamos imaginar, em um mundo ideal, a formação de certo consenso sobre esse ponto, com o governo admitindo a necessidade de repensar políticas que em breve se mostrarão ineficazes em proteger o mercado de trabalho, com a oposição admitindo que essa mesmas políticas ajudarão a proteger o consumo e o nível de emprego durante os últimos anos. Lógico que na realidade eu não acredito que ninguém (fora este articulista) vá admitir isso publicamente. Questão interessante: do ponto normativo, o governo fez certo em trocar um menor desemprego nos últimos anos por um risco maior de desemprego futuro? Não há como responder isso do ponto de vista econômico, é uma questão política. Não que essa escolha foi consciente; sem dúvida, quando foi deflagrada a "nova matriz", o governo achou ter 16


encontrado a fórmula do crescimento acelerado, e não uma mera ação defensiva para isolar temporariamente o mercado de trabalho. Mas, no final das contas, isso acabou sendo politicamente eficaz, visto a capacidade da candidata à reeleição chegar em primeiro lugar no primeiro turno. Podemos agora entender porque o início de um processo de ajuste em 2015 se apresenta como inexorável; falta ao Brasil decidir que tipo de ajuste gostaria de ter. A virada do ciclo de commodities/termos de troca e de liquidez internacional vai impor uma queda no consumo relativo da economia, que, em cerca de 85% do PIB hoje, está em patamar historicamente elevado e insustentável, e que no passado flutuou junto com esses dois ciclos internacionais intercalados. Uma maneira de encarar o ajuste seria de repensar o conjunto da política econômica. Feito de maneira correta, com ênfase em reformas voltadas para ampliar o crescimento potencial e garantir um ambiente macroeconômico estável, o ajuste pode lançar as bases para o crescimento futuro. Se recusando a fazer isso, ele simplesmente será feito de forma mais dolorosa via mercado, tendo uma forte desvalorização real da taxa de câmbio como instrumento de repressão da absorção interna via uma serie de canais. Devemos esperar, e torcer, que nossos próximos governantes entendam o que está em jogo.

Norte-Sul avança sob fantasmas do passado Fonte Jornal Valor EconômicoDaniel Rittner de Palmeiras (GO), Rio Verde (GO), Iturama (MG) e Estrela D'Oeste (SP)10/10/2014 às 05h00 O sonho da integração nacional pelos trilhos corta pastos e canaviais para se aproximar vagarosamente do ponto de chegada. Quem está no meio do caminho já ouviu muitas promessas em vão, mas observa o surgimento de um esboço de ferrovia com renovada esperança. A construção do principal trecho da Norte-Sul durou 27 anos e tornou-se um exemplo de desmandos em grandes projetos de infraestrutura. Sua extensão de 682 quilômetros, entre o interior de Goiás e o noroeste de São Paulo, servia como oportunidade de redenção à estatal Valec e vai ganhando forma ao rasgar fazendas de terra vermelha. Apesar do avanço recente das obras, no entanto, repete-se boa parte da trajetória de erros cometidos no passado: prazos descumpridos, aditivos contratuais e estouro de orçamento. Na semana passada, a reportagem do Valor percorreu todo o prolongamento da Ferrovia Norte-Sul, entre os municípios de Ouro Verde (GO) e Estrela D'Oeste (SP). Durante três dias, foi possível constatar que há trechos praticamente concluídos. O problema é a falta de continuidade: eles convivem lado a lado com terraplenagem inacabada, pontes sem cabeceira e dormentes instalados, à espera de trilhos que não chegam. A conclusão das obras se coloca como peça crucial no futuro mapa logístico do país. Quando a Norte-Sul estiver completa, produtores de grãos e de etanol em grande parte do Brasil Central poderão escolher entre o escoamento pelos portos de Itaqui (MA) ou de Santos (SP), usando a malha existente. Mas, para tirar milhares de caminhões das estradas e reduzir o custo da produção, até ela entrar nos navios em busca de um destino no exterior, é preciso que a ferrovia da integração deixe de ser apenas um projeto eternamente em obras. Quase todo o dinheiro reservado inicialmente para a continuação da Norte-Sul já se esgotou. As obras foram divididas em cinco lotes diferentes. Os contratos originais somavam R$ 2,3 bilhões e previam tudo pronto até dezembro de 2012. Nos últimos balanços do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo nunca falava em gastos acima de R$ 2,7 bilhões. Mas a fatura das empreiteiras foi crescendo, por causa de aditivos para corrigir falhas nos 17


projetos de engenharia, e já chega a R$ 3,3 bilhões - 73% disso foi executado até o fim de agosto. Quando se somam outras despesas, como a compra de trilhos e desapropriações, essa conta atinge R$ 4,1 bilhões. E não para por aí: a Valec ainda vai gastar R$ 200 milhões em "serviços remanescentes" que as construtoras não conseguiram entregar. "A marca da Norte-Sul é o açodamento dos projetos", diz o engenheiro José Eduardo Castello Branco, que comandou a estatal entre setembro de 2011 e setembro de 2012, após a faxina ética promovida pela presidente Dilma Rousseff no Ministério dos Transportes. Ele foi o responsável por uma arrumação geral da Valec, que havia enfrentado escândalos de corrupção na gestão anterior, mas afirma não ter havido tempo suficiente para uma "curva de aprendizado" com efeitos no prolongamento da ferrovia. Castello Branco avalia que o projeto básico de engenharia da Ferrovia de Integração do CentroOeste (Fico), empreendimento ainda não iniciado e prioridade na lista de concessões do governo, foi feito com mais calma e prevenindo uma série de equívocos. Houve otimização do futuro traçado e da terraplenagem necessária. "As obras de extensão da Norte-Sul começaram com um projeto básico pobre e sem projeto executivo concluído. Por isso, em boa medida, os problemas acabaram se replicando." Mais recursos injetados na ferrovia não significam necessariamente ganho de velocidade nas obras. Em qualquer grande empreendimento de infraestrutura, está na hora de correr para aproveitar os últimos momentos da chamada janela hidrológica, quando a ausência de chuvas permite avanços com rapidez. Isso transforma os canteiros de usinas hidrelétricas, por exemplo, em uma verdadeira luta contra o relógio nesta época do ano. Dias atrás, sob o sol ardente do fim de seca no interior de Goiás, meia dúzia de operários se dedicava tranquilamente à instalação de dormentes em um dos trechos em construção da Norte-Sul. Era a única atividade que se podia verificar em dezenas de quilômetros nas proximidades do município de Palmeiras. Nem adiantava acelerar essa parte da obra porque só 3,1 mil das 15 mil toneladas de trilhos necessárias naquele lote estão disponíveis. "O resto ainda está vindo da China", afirmou o responsável pelos trabalhos, que pediu para não ser identificado, lembrando a novela em torno da aquisição de trilhos pela Valec no ano passado. A sequência de falhas nas licitações da estatal para o prolongamento da Norte-Sul foi apontada por auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma das determinações do órgão de controle era a retirada de helicópteros da lista de serviços contratados pela estatal junto às empreiteiras. Para os auditores, em um dos lotes da ferrovia, o uso dos helicópteros "se deu para suprir necessidades da administração central" e não tinha "relação direta com a execução da obra". Logo se percebeu que a menor distância entre dois pontos da Norte-Sul raramente é uma linha reta. Uma das fiscalizações do TCU detectou superfaturamento no transporte de materiais pétreos para os canteiros de obras da ferrovia. Em um dos lotes, a Valec pagava às empreiteiras contratadas por uma distância média percorrida de 79,4 quilômetros, no caso da brita que vinha sendo usada. A distância real, conforme constataram os auditores em campo, era de 4,5 quilômetros entre a pedreira e a obra. A extensão da Norte-Sul, que devia estar pronta desde o fim de 2012, foi sendo adiada. Os aditivos firmados pela Valec jogaram esse prazo para junho e, depois, para dezembro de 2014. Agora, a promessa é entregá-la em outubro de 2015. Pelo que se vê ao longo das obras, sem nem mesmo terraplenagem em determinados pontos, é uma meta difícil de cumprir. Um consórcio de construtoras acabou de ser contratado por R$ 183 milhões para executar, em um prazo de até 15 meses, obras remanescentes em um trecho de 6.370 metros.

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A Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), que reúne 6,3 mil produtores e fatura R$ 2,5 bilhões por ano, faz as contas de quanto poderia economizar caso a ferrovia estivesse realmente funcionando. O presidente da cooperativa, Antônio Shavaglia, diz que o frete até os portos de Santos ou de Paranaguá, por caminhão, consome cerca de 40% do valor recebido pelos produtores. "Mas a verdade é que a gente nunca sabe quando vai terminar", lamenta. Como uma novela mexicana, a saga da Norte-Sul não está tão perto do último capítulo, como pode parecer. O governo tem planos de estendê-la até o porto de Rio Grande (RS). Estudos de viabilidade para o novo trecho já foram contratados. Pelo ritmo de construção da ferrovia, porém, talvez o fim dessa arrastada história só possa ser contado daqui a algumas décadas. (Colaborou Ruy Baron)

Antiga 'rainha do café' quer ser capital logística Fonte Jornal Valor EconômicoDaniel Rittner de Estrela D'Oeste e Iturama10/10/2014 às 05h00 O abandono da antiga estação ferroviária de Estrela D'Oeste faz com que nostálgicos da minúscula cidade interiorana se lembrem do glamour em torno das viagens de trem para São Paulo como um passado já remoto. Entre o apito da locomotiva e o desembarque na capital, eram cerca de 12 horas de sacolejo sobre os trilhos. Na década de 80, depois de ensaiar uma resistência ao avanço do "rodoviarismo", os trens de passageiros foram desativados. Apenas as composições de cargas da Ferroban, hoje pertencente à América Latina Logística (ALL), refrescam a memória quando cruzam o município de 8 mil habitantes rumo ao Mato Grosso ou ao porto de Santos. Agora, com o novo trecho em construção da Ferrovia Norte-Sul, Estrela D'Oeste acalenta a esperança de converter-se em um dos mais importantes entroncamentos ferroviários do país. De "rainha do café", como era chamada em meados do século passado, almeja agora o título de "cidade das ferrovias" ou "capital logística". A mudança de status está longe de soar como excesso de pretensão. O município será a linha de chegada da Norte-Sul, que o governo tem planos de estender para o Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul, e o ponto de conexão com a malha da ALL. Fica às margens da SP-320, uma rodovia duplicada e sem pedágio, e está muito perto da Hidrovia Tietê-Paraná. Tem seis grandes usinas de etanol em um raio de apenas 50 quilômetros. Por isso, sai em busca de investidores para a instalação de armazéns e terminais multimodais. "Antes, a ferrovia trazia desenvolvimento junto com ela. Agora, mudou de função, pode ser só uma via de passagem para cargas", diz o prefeito Pedro Itiro Koyanagi. "Demos sorte de sermos escolhidos, mas temos muito trabalho pela frente para atrair empresas para cá." A concorrência não será pequena. O secretário de Governo de Iturama (MG), Tércio José Araújo, afirma ter várias "sinalizações de investimentos" no município. Há usinas de álcool, frigoríficos e cultivo de soja na região. Ele se mostra otimista com a instalação de um terminal intermodal à beira do rio Grande, na divisa de São Paulo e Minas. O projeto do terminal foi montado por um dos proprietários da Usina Coruripe, Vitor Júnior, hoje conselheiro da empresa. O "Doutor Júnior", como é conhecido por ali, acredita em "um antes e um depois da ferrovia" quando se trata da economia na região. Ele tem na prancheta um porto fluvial, com R$ 35 milhões de investimentos previstos, para distribuir cargas de e para a Norte-Sul. 19


A ideia era usar o Rio Grande, no caminho entre Iturama e Estrela D'Oeste, para chegar à Hidrovia Tietê-Paraná. Ele afirma, no entanto, que os planos foram suspensos por causa da estiagem que paralisou completamente o corredor de transportes. "O projeto do porto intermodal é de longo prazo e estamos vivendo uma seca conjuntural. Não vou nem discutir se a prioridade deve ser mesmo do setor elétrico, mas ficou demonstrado, sempre que isso acontecer, a hidrovia ficará em segundo plano. Isso não nos dá segurança nenhuma para investir", afirma Júnior.

O império do imobilismo Fonte Jornal Folha de São Paulo 10/10/2014 02h00 Em entrevista à Folha, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, traça, em minha opinião, um retrato fiel do estado em que se encontra a política de comércio exterior brasileira: há uma ausência absoluta de visão do que o país almeja nas suas relações econômicas internacionais. Vamos aos exemplos mais gritantes. Não fechamos ainda o acordo com a União Europeia, mas, segundo o ministro, podemos lavar as mãos. Afinal, a culpa não é nossa, já que, com os parceiros do Mercosul, fizemos o dever de casa, enquanto os europeus, não. Por outro lado, um eventual acordo com os EUA não interessa, e ele demonstrou taxativamente sua oposição, ao indagar se "devemos nos submeter às regras americanas". E nada foi dito sobre o esfacelamento do Mercosul, que antes cumpria papel relevante na absorção de manufaturados brasileiros, uma função que não desempenha há anos, sem que tenhamos mexido uma palha para procurar alternativas. Nenhuma palavra também foi proferida sobre a perda de espaço de nossos produtos nos mercados globais. E, pior, não houve qualquer aceno sobre ações no sentido de mudar esse cenário. Assistimos simultaneamente à derrocada das vendas de manufaturados e ao fim de um ciclo favorável de commodities que, em seus melhores momentos, acomodava as ineficiências de nossa política externa. De acordo com a política econômica em curso, essas evidências não significam muita coisa e se o saldo do comércio exterior desabou de US$ 20 bilhões para praticamente zero, isto se deve -acredite se quiser- ao fato de que o Brasil é uma "economia relativamente aberta", segundo o ministro. A nosso ver, a economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo. Contudo, nem mesmo as elevadas barreiras comerciais são capazes de proteger o setor produtivo, particularmente a indústria, devido à sua progressiva perda de competitividade. Reside aí a razão do colapso do superavit comercial. Quais mensagens o governo transmite com essas posições? No plano das relações internacionais, o recado é claro: não há muito o que fazer, seja para resgatar o dinamismo do Mercosul, seja para desenvolver novos mercados através da aproximação com países representativos dos principais fluxos do comércio mundial. Nem mesmo são aventados acordos junto a economias emergentes. É o império do imobilismo. Para o setor privado, esse quadro reforça a disposição de não investir para ampliar exportações, privilegiando o mercado interno. Isto reproduz e realimenta o isolamento ao qual estamos submetidos. Na mesma entrevista, o ministro foi indagado pela jornalista Raquel Landim sobre minha convicção de que o Brasil necessita abrir sua economia para ser mais competitivo. Sua resposta: "Ele está equivocado. A visão dele é que a abertura comercial é um instrumento de política industrial". Como não? Disputar mercados externos e importar bens e serviços são fatores que ampliam as escalas de produção, barateiam custos, permitem acesso a insumos e bens de capital de última 20


geração e, talvez o mais importante, aumentam a competição, o que estimula o investimento em inovação e a busca por mais qualidade e produtividade. De quebra, propiciam o surgimento de novos setores, novas empresas e novos empreendedores. Ou seja, tudo que o Brasil precisa para melhorar sua capacidade exportadora e retomar o crescimento. Na história, não há exemplos de processos de desenvolvimento que tenham prescindido de uma forte exposição externa de suas economias. Tenho insistido que a maior inserção externa só trará bons resultados se for empreendida com muita responsabilidade e aliada a medidas que garantam um ambiente de negócios mais favorável, com a integração de políticas industriais e tecnológicas, além da remoção dos gargalos do custo Brasil. Por fim, gostaria de fazer uma observação sobre o receio manifestado pelo ministro de que a mudança da política externa "seria um desastre" porque transformaria o setor industrial em "linha de montagem". Talvez não se tenha percebido, mas a perda de dinamismo e densidade da indústria no Brasil não é uma visão do futuro: ela já ocorreu e a ausência de conexão do país com as cadeias globais de produção é um dos seus principais determinantes.

Dados do governo apontam para novo déficit nas contas públicas em setembro FONTE ADRIANA FERNANDES,LU AIKO OTTA - O ESTADO DE S. PAULO09 Outubro 2014 21h 50

Números preliminares do governo mostram que receitas administradas ficaram cerca de R$ 4 bilhões abaixo do esperado, enquanto despesas continuaram subindo. As contas do governo federal apontam para um novo déficit em setembro. Fontes do Ministério da Fazenda, que falaram sob a condição de anonimato, informaram ao Broadcast que dados preliminares apurados pela área técnica do Tesouro Nacional apontam para um novo resultado ruim no mês passado. Se confirmado, será o quinto déficit consecutivo das contas do chamado governo central (Tesouro, INSS e Banco Central). O anúncio do resultado, porém, só será feito pelo Ministério da Fazenda no fim deste mês, após o segundo turno das eleições. Essa piora pode dificultar ainda mais a recuperação fiscal até o fim do ano, mesmo com o ingresso esperado de receitas administradas extraordinárias, como o pagamento de débitos tributários (Refis) e as outorgas do leilão 4G de telefonia. Se confirmado o resultado, o pequeno superávit acumulado no ano até agosto poderá virar um déficit primário. O resultado primário não considera os gastos com os juros da dívida pública. Até agosto, o governo havia feito uma poupança fiscal de R$ 4,6 bilhões, resultado 87,8% inferior ao realizado no mesmo período do ano passado. Pela contabilidade do BC, que usa metodologia diferente da do Tesouro, o superávit no ano é de apenas R$ 1,5 bilhão. Procurado, o Tesouro informou que qualquer “ilação” sobre o resultado das contas de setembro neste momento, no qual a apuração de resultado ainda está longe de ser finalizada, é “pura especulação”. Receita menor. Dados preliminares obtidos pelo Broadcast confirmam a dificuldade do governo para fechar as contas de setembro. Os registros indicam que as receitas administradas 21


ficaram aproximadamente R$ 4 bilhões abaixo do esperado, com desempenho ainda fraco do Refis. E os dividendos pagos pelas estatais, que têm ajudado o caixa do Tesouro, ficaram perto de R$ 2 bilhões no mês. O que não compensa, nem de longe, a frustração. Na outra ponta, as despesas não deram trégua. As ordens bancárias registradas no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) mostram um salto na conta da Previdência Social. Foram emitidos R$ 41,2 bilhões em ordens. Ao longo do ano, os volumes oscilaram em torno de R$ 30 bilhões. Especialistas explicam que, em agosto e setembro, o governo paga a primeira parcela do 13.º salário dos aposentados. Parte dos desembolsos pode ter ocorrido no fim de agosto, mas o grosso ficou em setembro. É possível, ainda, haver um resíduo em outubro. Por causa dessa despesa - e também pelo fato que não há, no calendário tributário, nenhum pagamento forte no mês -, setembro é um mês tipicamente ruim para o resultado primário. Em setembro de 2013, o resultado foi negativo em R$ 10,8 bilhões. Apesar da deterioração fiscal observada, oficialmente foi mantida a meta de poupar R$ 80 bilhões no governo central.

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