SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 13 DE ABRIL DE 2015
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Arrecadação de SC fecha trimestre com crescimento de 4,23% Fonte Portal de Economia SC 10 de abril de 2015 às 15h 41 Santa Catarina arrecadou R$ 5,19 bilhões no primeiro trimestre de 2015, um crescimento de 4,23% em relação ao mesmo período do ano passado. O número leva em conta a arrecadação própria do Estado (ICMS, IPVA, ITCMD) e os repasses da União. No mesmo período, a inflação foi de 8,13%, levando a uma queda real de 3,63%. O desempenho reflete a retração da economia brasileira, mas também teve impacto da greve dos caminhoneiros. Só no segmento de combustíveis, a estimativa é de uma perda de arrecadação em torno de R$ 34 milhões por conta da paralisação ocorrida em fevereiro. O secretário da Fazenda, Antonio Gavazzoni, ressalta que a arrecadação baixa tem forte impacto nas contas do Estado. “A relação entre a folha e a receita corrente líquida está prestes a passar o limite máximo estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Se isso ocorrer, estaremos sujeitos a diversas penalidades, entre elas não receber mais transferências da União”, alerta Gavazzoni. O resultado desse primeiro trimestre é bem inferior aos três primeiros meses de 2014. Naquele período, a receita cresceu 17,67%. Com exceção de janeiro (crescimento de 9,89%), o resultado da arrecadação no ano passado esteve sempre na casa de dois dígitos. No acumulado de 2014, o crescimento da receita tributária foi de 11,34%. A meta do fisco catarinense para 2015 é crescer 10,5%. “É inferior ao resultado do ano passado e menor do que a meta estabelecida na Lei Orçamentária (11,18%), mas ainda assim é ousada se levarmos em conta os percalços da economia brasileira”, destaca Gavazzoni. Queda real No mês de março, repetindo fevereiro, mais uma vez o crescimento da arrecadação ficou abaixo da inflação. Antes de 2015, o fisco de Santa Catarina havia registrado uma queda real da receita em abril de 2013. Na época, o Estado sofreu o impacto da unificação das alíquotas de importação, definida pela Resolução 13 do Tesouro Nacional, e da redução da tarifa de energia em 19,13%, determinada pela Medida Provisória 579 da Presidência da República. Arrecadação tributária total* do 1º trimestre *inclui arrecadação própria e repasses da União 2015 Janeiro: 4,89% Fevereiro: 3,51% Março: 4,25% Acumulado: 4,23% (crescimento nominal) Observação: Considerando IPCA do primeiro trimestre do ano anterior (8,13%) queda real é de -3,63% 2014 Janeiro: 14,09% Fevereiro: 17,54% 2
Março: 17,53% Acumulado: 17,67% (crescimento nominal) Observação: Considerando IPCA do primeiro trimestre do ano anterior (5,19%), crescimento real é de 11,7%variação: Considerando IPCA do primeiro trimestre do ano anterior (8,13%) queda real é de -3,63% 2014 Janeiro: 14,09% Fevereiro: 17,54% Março: 17,53% Acumulado: 17,67% (crescimento nominal) Observação: Considerando IPCA do primeiro trimestre do ano anterior (5,19%), crescimento real é de 11,7%
A burocracia que contamina o ambiente de negócios Fonte O Globo 12 abr 2015 Quase tão antigos quanto a enraizada burocracia na vida nacional são os programas de governo que acenam com a sua supressão. Mesmo durante a ditadura de Vargas, com todo o emaranhado dos tentáculos do Estado Novo na administração pública, foram empreendidas ações visando à modernização da máquina pública. Desde então, praticamente não se passou uma geração sem que a desburocratização fosse um compromisso do poder público com o cidadão e as empresas. Kubitschek, Jango e os governos militares, por exemplo, criaram comissões e até mesmo ministérios (caso de Castelo e Figueiredo, este com a Pasta da Desburocratização que foi entregue a Hélio Beltrão). No entanto, a todas essas iniciativas a burocracia resistiu, e poucos foram os legados (o ministério de Beltrão, por exemplo, deu ao país os juizados de pequenas causas e o Estatuto da Microempresa). O governo Dilma, reconheça-se, tem feito esforços nesse sentido — o mais recente deles, o lançamento do Programa Bem Mais Simples e o Sistema Nacional de Baixa Integrada de Empresas, em fevereiro. Também foram passos positivos a implantação do Supersimples, em 2007, e a criação do MEI (Microempreendedor Individual). Não se sabe ainda se terão força para sobreviver, tornando-se, em lugar de passageiros programas de governo, institutos de uma perene política de Estado. Apesar desses esforços, o país padece, e muito, com uma cultura de administração pública que estimula a burocracia. A ponto de ter enredado na sua malha de vítimas até mesmo o governador do Rio, Pezão, às voltas com dificuldades para liberar, na selva normativa, as necessárias licenças para construção de sedes para as UPPs. É uma doença que, se abate o cidadão comum e uma alta autoridade, também contamina todo o ambiente de negócios do país. Com preocupante contumácia, o Brasil frequenta com imagem negativa as estatísticas internacionais que medem o custo social e econômico da burocracia. Ano passado, num ranking de 144 economias relacionadas no Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, a brasileira desceu um degrau, caindo do 56º para o 57º lugar, atrás, por exemplo, de Bulgária, Costa Rica e Panamá. O país não se sai melhor na radiografia deste ano do ambiente de negócios feita pelo Banco Mundial, o “Doing Business”. Em quesitos que resumem, entre outras, dificuldades para
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a abertura de empresas e pagamento de impostos, o Brasil caiu, no primeiro caso, da 160ª para a 167ª posição, e, no segundo, da 175ª para a 177ª colocação entre 189 economias estudadas. Acima do país estão “potências” econômicas como Belize, Quirguistão, Barbados e outras. Outras fragilidades se somam no baixo poder de competição do Brasil. Mas nele é considerável o peso da burocracia, um entulho que obstrui as vias do empreendedorismo e anuvia o ambiente de negócios do país.
Para abrir as portas ao investimento Fonte O Globo 12 abr 2015 Jorge Paulo Lemann e seus sócios históricos Marcel Telles e Beto Sicupira, através da 3G Capital em nova associação com Warren Buffet, a terceira fortuna do mundo, fundiram a Heinz, de propriedade do grupo, com a Kraft, numa operação de US$ 45 bilhões de dólares. Com isso, está criada a terceira maior companhia de alimentos do EUA e a quinta do mundo. Sobre a trajetória de Lemann e o trio já existem livros. Sobre a operação que tem como lógica para os dois grupos a sinergia e a economia de custos, a imprensa vem digerindo e explicando. O principal foi dito. O objetivo deste artigo é fazer uma análise diferente. O primeiro ponto a se ressaltar é que os maiores e mais recentes negócios da 3G Capital foram feitos todos no exterior. Com eles, o trio galgou posições no ranking dos bilionários mundiais. O que podemos concluir disso? Haveria uma aversão a investir no Brasil? Creio que não. As Lojas Americanas foram o embrião da entrada deles no comércio e varejo e a compra da Brahma, do ingresso na indústria. O que podemos deduzir é que o ambiente comercial e jurídico do Brasil torna impossível a expansão da vida empresarial na escala atual em que ela é exigida. Temos uma mentalidade de ódio ao empreendedorismo. Os séculos de uma formação patrimonialista estatal ancorada na escravidão e no latifúndio deixaram estruturas poderosas no inconsciente coletivo da nossa sociedade. A dádiva das Capitanias Hereditárias. O lucro é visto como algo indesejável, pecaminoso, como se a pobreza derivasse da ganância dos empresários. Mauá foi perseguido por Dom Pedro II como um verdadeiro inimigo. Abraham Lincoln, o mais icônico presidente americano, apesar de sua origem humilde, tem uma famosa passagem quando adverte: “Não criarás prosperidade se desestimulares a poupança. Não ajudarás o assalariado se arruinares aquele que o paga. Não ajudarás o pobre se eliminares os ricos”. No Brasil atual, seria taxado de reacionário. Numa fusão como a que foi feita, é fundamental a confiança e a seriedade dos elementos contábeis e fiscais. Vejam: a maior parte dos US$ 45 bilhões será uma troca de participação acionária entre os dois grupos, sendo a diferença em favor do grupo Kraft paga por um dividendo especial. Sem essa confiança e fidúcia, como fazer um negócio como esse? A nossa ex-maior empresa nacional encontra dificuldades contínuas de apresentar seu balanço ao mercado. Do ponto de vista jurídico, temos que reconhecer que as dificuldades não seriam menores. Temos um sistema jurídico no qual as discussões se eternizam e, quando temos decisões definitivas, as situações fáticas já estão tão alteradas que muitas vezes elas não têm mais aproveitamento. Os credores que aguardam seus precatórios sabem que são donos de
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causas que atravessam gerações. O juízo arbitral foi criado, mas muitas vezes as empresas que a ele recorrem, depois tornam a discutir a mesma matéria no Judiciário. Na área tributária há muito que se sabe que a capacidade de uma empresa reverter uma autuação fiscal só existe judicialmente, uma vez que a instância administrativa é sempre arrecadadora. Talvez por essa razão sejam feitas permanentes anistias fiscais quando se reduzem multas exorbitantes e juros, como forma de o setor privado desistir das demandas e assim o Estado aumentar sua arrecadação. Penso que essa associação econômica mundial possa ser uma excelente oportunidade para pensarmos nosso país. Por que não possuímos um ambiente econômico moderno que permita que grandes investimentos possam vir para o Brasil? O mundo é invenção. Precisamos reinventar nosso futuro.
A presença feminina nas melhores escolas de MBA dos EUA Fonte Claudia Gasparini, de EXAME.com12/04/2015 ÀS 06H 00 São Paulo - Das 15 melhores escolas de MBA dos Estados Unidos, a Universidade da Virgínia é a que tem menos mulheres na sala de aula. Lá, estudantes do gênero feminino não passam de 31,1% do total. O dado provém de um ranking de escolas de negócios divulgado recentemente pelo site U.S. News. Por outro lado, a Universidade da Califórnia, em Berkeley, é a instituição com mais alunas de MBA. Mesmo lá, porém, as mulheres permanecem minoria: são 43%. De acordo com a Forbes, a presença feminina em cursos do tipo triplicou nos Estados Unidos desde os anos 1980. Ainda assim, hoje apenas um a cada três estudantes é mulher.
Exportações para a China caíram 35% no primeiro trimestre Fonte Revista Exame Luiz Guilherme Gerbelli do Estadão Conteúdo11/04/2015 ÀS 08H00 São Paulo - A queda nos preços das commodities fez as exportações brasileiras para a China despencarem 35,4% no primeiro trimestre do ano. Entre janeiro e março, as vendas do Brasil para o gigante asiático somaram US$ 6,190 bilhões, ante US$ 9,582 bilhões exportados no mesmo período do ano passado. A retração para a China foi a mais intensa no primeiro trimestre entre os principais destinos dos produtos brasileiros - ao todo, as exportações caíram 13,7%. A economia chinesa é uma grande importadora de produtos básicos e o crescimento mais fraco do país tem prejudicado o valor das commodities no mercado internacional. Neste ano, o governo da China anunciou que a meta de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) é de 7%. Se confirmado, será um resultado bastante inferior ao dos últimos anos. No auge do avanço chinês, os preços das commodities subiram, transformando o país no principal parceiro comercial do Brasil e garantindo elevados superávits para a economia brasileira. "O crescimento da China está mais fraco, logo a pressão sobre a demanda de commodities é menor. Além disso, o comércio mundial está crescendo menos do que crescia antes da crise internacional. Tudo isso colabora, em parte, para a queda do preço das commodities", afirma Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Em março, o preço da soja e do minério de ferro ficaram, respectivamente, 20% e 50% menores do que no mesmo mês de 2014. O resultado do comércio exterior brasileiro é dependente do desempenho econômico chinês porque a pauta de produtos vendidos para a China é concentrada. No ano passado, 41% da exportação brasileira para a China foi de soja, 30% de minério de ferro e 8,5% de óleo bruto de
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petróleo. Em 2011, no auge dos preços das commodities no mercado internacional, a lista de produtos exportados era a mesma para a China - a diferença era a maior participação do minério de ferro, que respondeu por 45% do total. Em seguida, apareceram a soja (25%) e o óleo bruto de petróleo (11%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Irritação com corrupção foi motivação para maioria Fonte Jornal Folha de São Paulo 13/04/2015 às 02h 00 O impeachment da presidente Dilma Rousseff conta com o apoio de 77% das 100 mil pessoas que estiveram neste domingo (12) na avenida Paulista, mas nem metade deles acha que ela seria afastada. É o que mostra a pesquisa Datafolha realizada durante a manifestação. Ainda assim, só 13% dos manifestantes saíram de casa com a intenção de pedir o impeachment da presidente. O motivo mais citado por eles para ir à Paulista foi indignação com a corrupção, apontado por 33% dos entrevistados. Um em cada dez pessoas estava lá para protestar contra o PT. Mais de 60% dos manifestantes disseram que estavam repetindo a dose, já que estiveram também no protesto do dia 15 de março. O perfil do público que participou dos dois eventos é muito parecido, a não ser pela grande presença de pessoas mais velhas no ato de ontem.
De acordo com o Datafolha, 41% do público presente tinha mais de 51 anos. É o dobro do que se viu na manifestação de março. Maria Luiza Lima, 77 anos, esteve nas duas acompanhada pela filha e disse que volta se houver uma terceira. Moradoras da Vila Carrão, na Zona Leste, pegaram ônibus e metrô para participar do protesto. "Sou eleitora, quero continuar votando e para isso é preciso limpar a política", diz Maria Luiza. Boa parte dos manifestantes deste domingo apareceram em família e havia também muitos casais. Muitos vestiam camisetas da seleção brasileira de futebol e outras peças de roupas amarelas. Muitas exibiam faixas amarelas na cabeça com a inscrição "Fora Dilma", que podiam ser compradas por R$ 5 dos camelôs. Questionados pelo Datafolha, 96% deles consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. A presença de pessoas que vieram de outras cidades também aumentou, de 13% em março para 17% neste domingo. Foi o caso da psicóloga Sueli Santos, de 56 anos, que veio de
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Vinhedo para participar da manifestação. "A revolta está nessa corrupção, nesse desgoverno do PT. Chegou a hora de dar um grito", afirmou. Quase 80% dos manifestantes têm ensino superior, 35% trabalham com carteira assinada e 41% ganham acima de 10 salários-mínimos. No segundo turno da última eleição presidencial, 83% declaram ter votado em Aécio Neves (PSDB) e só 3% em Dilma. Apesar disso, 95% afirmaram não serem filiados a nenhum partido e. Dos manifestantes, 74% sabem que o vice-presidente assumiria o governo em caso de afastamento de Dilma, sendo que 90% sabem que o vice é Michel Temer (PMDB). A grande maioria, 86% preferem a democracia a uma ditadura, regime que é apoiado por apenas 9% dos que estiveram na Paulista. Para 3%, tanto faz democracia ou ditadura. A esquerda era minoria entre os manifestantes da Paulista, com apensas 7%. A maioria, 34%, disse ser de centro, 20% de centro-direita e 26% de direita. O Datafolha entrevistou 1.320 pessoas na região da Paulista, entre 12 horas e 18 horas. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Editorial: Emprego em queda Fonte Jornal Folha de São Paulo13/04/2015 às 02h 00 Nos últimos dois anos, apesar da deterioração geral da economia brasileira, o desemprego permaneceu baixo, enquanto a renda do trabalho avançou de forma razoável. O período de graça, no entanto, parece ter ficado para trás. Segundo dados da Pnad-Contínua, pesquisa de abrangência nacional do IBGE iniciada no ano passado, a taxa de desemprego atingiu 7,4% no trimestre encerrado em fevereiro no mesmo período de 2014, o índice estava em 6,8%. O aumento da desocupação decorre da criação de vagas a um ritmo menor que o da expansão da força de trabalho. O crescimento da renda salarial (1,1%), por sua vez, representa cerca de um terço do registrado há um ano. Os dados da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, mostram resultados piores: geração de vagas e de renda em terreno negativo, indicando desaceleração ainda mais intensa nas grandes capitais. O mercado de trabalho normalmente leva mais tempo para sucumbir ao quadro de desalento porque o primeiro ajuste diante de uma contração econômica se dá nas horas trabalhadas. As empresas cortam a produção e evitam demitir, para não incorrer em custos nem desperdiçar o investimento em treinamento dos profissionais. Quando a recessão é persistente, porém, passa a ser inevitável reduzir a folha de pagamento. Além disso, houve, nos últimos anos, outro fator importante para a baixa desocupação: uma parcela menor que a usual da população considerada economicamente ativa partia em busca de trabalho. Uma das explicações para tal comportamento está nas camadas mais jovens da população. Segundo Naercio Menezes Filho, em artigo publicado no jornal "Valor Econômico", em 2013 havia 19 milhões de pessoas de 15 a 24 anos empregadas ou procurando emprego, 4 milhões a menos do que em 2005. Talvez uma influência seja a situação econômica dos adultos do domicílio, o que afeta as decisões dos jovens sobre prolongar os estudos ou procurar trabalho. O crescimento da renda, em especial das mulheres, talvez por causa do aumento do salário mínimo (acima da inflação), pode ter facilitado a permanência na escola. Desenha-se agora efeito oposto. A degradação do quadro econômico, ao destruir empregos e dificultar a continuidade dos ganhos de renda dos adultos, pode forçar muitos jovens a acelerar sua entrada no mercado de trabalho num momento desfavorável. Por todos esses fatores, é plausível que o desemprego continue crescendo depressa nos próximos meses e, de novo, os erros cometidos pelo governo na gestão da economia recairão desproporcionalmente sobre os mais frágeis.
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Rainha, enfim Fonte Jornal Folha de São Paulo é Secretário de Redação da Folha 13/04/2015 às 02h 00 SÃO PAULO - Premonitórias foram as palavras do publicitário João Santana logo após a primeira eleição de sua pupila Dilma Rousseff. Ela estaria fadada a ocupar "a cadeira da rainha", uma lacuna na "mitologia política e sentimental brasileira". A profecia agora se cumpre. Como ocorre com o monarca no Reino Unido, Dilma Segunda se senta no trono, mas não governa. Acalentou personificar a força da mulher e das minorias, mas entregou o cetro a quatro homens brancos, que farão o oposto do prometido na campanha. Esse arremedo de república (ou, caricaturalmente, de monarquia) parlamentarista é a resultante não controlada nem planejada de um processo político estrambótico, em meio à deterioração da economia e da popularidade presidencial e à eclosão nas ruas de um movimento de centro-direita. O arranjo político deve, por um momento, estancar a sangria em que se converteu a governabilidade nos últimos 90 dias. A popularidade da presidente parou de piorar, há sinais de distensão no Congresso, e a agenda de centro-esquerda do PT foi trocada por uma de centro-direita, liberal na economia e conservadora nos costumes e na distribuição de danos. Desse modo o "governo de fato" se sintoniza com o que parece ser o sentimento majoritário circunstancial da sociedade. Amolda-se também ao tacão dos credores do governo e do país, que exige recomposição mínima de equilíbrio financeiro. Fruto do improviso, esse balanço exótico de forças, que faz de Dilma uma presidenteobservadora, não apresenta resposta duradoura à crise. Uma camada de gelo fino se cristalizou sobre um mar tumultuoso que continua a agitar-se logo abaixo. A degradação da renda e do emprego da população apenas se inicia e veio para ficar por um longo tempo. O escândalo da corrupção partidária ainda tem muitos cartuchos para queimar. Faltará pão para saciar a fome de políticos vorazes.
100 dias Fonte Jornal Folha de São Paulo 13/04/2015 Diz o provérbio popular que não há nada tão ruim que não possa piorar. Esse parece ser o lema dos cem primeiros dias do segundo governo Dilma, tal a capacidade que este tem de gerar a cada dia indicadores e projeções que agravam o cenário de crise econômica e paralisia política que assombra o país. Se não bastasse a corrupção em níveis estratosféricos, por si só uma mancha que envergonha o país, a nação se vê tomada por um sentimento de logro e decepção. É a constatação de que o país foi levado às cordas, de forma irresponsável por motivações políticas menores: a manutenção de um projeto de poder a qualquer preço. A ruína é ética, econômica, política. O PT conseguiu, em poucos anos, o que parecia impossível: quase destruiu a nossa maior empresa, protagonizou os maiores escândalos de malversação dos recursos públicos da história do país, desorganizou todo o sistema elétrico, promoveu a desindustrialização e postergou um programa mínimo de investimentos na infraestrutura. Empresas e famílias estão sofrendo com a alta dos custos financeiros. Em março, houve o maior saque líquido de recursos da caderneta de poupança em um único mês em toda a série histórica do BC, desde 1995. Foi o mês que registrou também a pior inflação dos últimos 12 anos, e o desemprego avançou em todas as regiões. Não estamos diante apenas de um governo inapto à boa gestão. O que estamos assistindo é o fim melancólico de um ciclo de poder, com um legado que promete ser terrível. Nada mais
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simbólico deste ambiente do que uma presidente da República que terceiriza as suas principais responsabilidades. A economia está nas mãos de um fiador e a política entregue a um partido que não é o seu. Ao abrir mão de gerir as duas áreas sobre as quais se fundamentam todas as decisões da administração, o que se constata é que a presidente mantém o cargo, mas renunciou ao governo. O resultado é um país sem rumo, imerso em desafios. A verdade é que enquanto surfou na herança bendita do governo do PSDB e foi beneficiado por circunstâncias externas, o governo do PT conseguiu apresentar alguns resultados ao Brasil. Mas, quando começou a agir como o que de fato ele é, trouxe o país para o poço em que nos encontramos hoje. O que é espantoso é que o PT continua como dantes, impávido, incapaz de esboçar qualquer autocrítica que reconheça a sua enorme responsabilidade pelo descalabro em que se encontra o Brasil. Acusados de corrupção são oficialmente recebidos sob aplausos em reuniões do partido, que se limita a enxergar os milhões de brasileiros indignados como mal agradecidos e desinformados.
Dólar ameaça ganho da Petrobras com sobrepreço dos combustíveis Fonte Jornal Folha de São Paulo SAMANTHA LIMA DO RIO 13/04/2015 Depois de quatro anos de perdas com a defasagem nos preços dos combustíveis, que lhe causou rombo estimado em até R$ 90 bilhões, a Petrobras conseguiu, entre novembro e fevereiro, recuperar R$ 6,4 bilhões na venda de gasolina e diesel, graças à queda de mais de 60% na cotação do óleo entre julho e janeiro. A alta do dólar, porém, está eliminando o benefício. O ritmo dos ganhos, no começo do ano, era um alento à diretoria da empresa, então chefiada por Graça Foster, às voltas com a necessidade de preservar o caixa, que sofria, além da defasagem acumulada, com a pressão de enormes investimentos e dívidas. A oportunidade, porém, deve ser definitivamente extinta ainda neste ano, caso dólar e barril continuem subindo, como previsto. Segundo o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), que fez a conta dos ganhos a pedido da Folha, em janeiro, quando o barril chegou a US$ 42, a Petrobras, que não atrela seus preços à cotação externa, vendia gasolina e diesel 56,8% e 50,8% mais caros, respectivamente, do que lá fora. Embolsou, no período, R$ 2,6 bilhões a mais. Com a alta do dólar e a recuperação do barril, a defasagem caiu para 17% e 19%, respectivamente, em fevereiro, derrubando o ganho extra para R$ 1,1 bilhão no mês. Em março, quando o dólar acumulava ganho de 20% e o barril foi a US$ 57, a gasolina e o diesel brasileiro estavam apenas 0,7% e 13,7% mais caros. O CBIE não estimou o ganho com esse período ainda, mas o mercado crê que tenha sido de pouco mais de R$ 500 milhões. Recuos nas cotações do dólar, para R$ 3,10 e do barril, para US$ 53, na primeira semana deste mês, aumentaram o sobre preço para 2,5% na gasolina e 17% no diesel. Esses cenários, porém, não são esperados para os próximos meses. A previsão do mercado, segundo o boletim Focus, do BC, é de câmbio de R$ 3,25 até o fim do ano. "Se a economia americana continuar crescendo, o barril também vai subir", afirma Celson Plácido, estrategista-chefe da corretora XP. A Petrobras é impedida pelo governo, seu controlador, de ajustar os preços da gasolina e do diesel às cotações internacionais. Para evitar o impacto inflacionário, foi obrigada a vender combustíveis mais baratos do que lá fora, entre 2011 e 2014. Foi salva das perdas graças à queda do barril, desde julho, quando estava perto de US$ 110. Nessa época, decidiu-se que os preços também não seriam ajustados para baixo, a fim de que a empresa pudesse ganhar com a situação. ÓLEO PESADO
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A receita da companhia com venda de combustíveis sofre impacto da cotação no exterior porque suas refinarias precisam de grande volume de petróleo leve, comprado no exterior, para produzir gasolina e diesel, já que o óleo extraído no Brasil, ainda predominantemente da bacia de Campos, é pesado. E, justamente por ser pesado, é exportado com desconto de US$ 10 em relação à cotação do barril de Brent, referência internacional. A Petrobras também importa parte dos combustíveis que vende, porque não consegue atender toda a demanda interna. "No balanço final, a Petrobras é uma importadora, e por isso a alta do dólar a prejudica. Além disso, sua dívida é 70% em dólar", diz Adriano Pires, sócio do CBIE. "A oportunidade com a defasagem positiva está definitivamente acabando. Outro reajuste é urgente."
Projeção econômica parou de piorar pela primeira vez no ano Fonte João Pedro Caleirode EXAME.com13/04/2015 ÀS 11H 47 São Paulo - Desde que o ano começou, as projeções econômicas não paravam de piorar. Em 02 de janeiro, os economistas previam que 2015 fecharia com crescimento de 0,5%, inflação em 6,6% e dólar a R$ 2,80. Com o aumento do pessimismo e agravamento da crise política, as expectativas foram piorando. Na semana passada, exatos três meses depois, a projeção já era de recessão de 1,01%, inflação de 8,2% e câmbio a R$ 3,25. Os números são do Boletim Focus, divulgado toda semana pelo Banco Central com a média das previsões de mais de 100 bancos e analistas. No relatório desta segunda-feira, uma surpresa: pela primeira vez em 14 semanas, houve queda da projeção de inflação (agora em 8,13%) e nenhuma mudança para PIB e dólar. Inflação A projeção da inflação para 12 meses à frente caiu mais, de 6,11% para 5,99%. O mercado não via a inflação anualizada em 12 meses abaixo de 6% desde julho de 2014. Isso ocorre alguns dias após a divulgação da inflação de março, que foi a maior para o mês desde 1995 e a maior taxa mensal em 12 anos. A maior culpada pelo índice foi a alta da energia elétrica, e o Focus não mexeu na expectativa para os preços administrados, o que significa que a leve correção de expectativas está nos preços livres. PIB Em relação ao PIB, as projeções de recessão variam no mercado. FMI e CNC estão mais ou menos alinhados com o Focus, com -1%, próximo também da projeção da Cepal (-0,9%) e do HSBC (-1,2%). A OCDE é a mais otimista, com -0,5%, e a Fiesp é a mais pessimista, com -1,7%. A projeção do Focus ficou estacionada em 2015 mas piorou para 2016 de 1,1% para 1% de crescimento. Vale lembrar que a bola de cristal do Focus erra bastante nas previsões de longo prazo. Em 5 dos últimos 7 anos, o crescimento do PIB do Brasil ficou fora do intervalo projetado pelos analistas um ano antes. Na balança comercial, a projeção do Focus melhorou um pouco: em um mês, o saldo positivo esperado na mediana foi de US$ 3 bilhões para US$ 4,30 bilhões. A previsão de déficit em conta corrente também melhorou um pouco recentemente.
PIB
Inflação
Câmbio
02/jan
0,50%
6,60%
2,80
09/jan
0,40%
6,60%
2,80
16/jan
0,38%
6,67%
2,80 10
23/jan
0,13%
6,99
2,80
30/jan
0,03%
7,01%
2,80
06/fev
0
7,15%
2,80
13/fev
-0,42%
7,27%
2,90
20/fev
-0,50%
7,33%
2,90
27/fev
-0,58
7,47%
2,91
06/mar
-0,66
7,77%
2,95
13/mar
-0,78
7,93%
3,06
20/mar
-0,83
8,12%
3,15
27/mar
-1%
8,13%
3,20
02/abr
-1,01%
8,20%
3,25
10/abr
-1,01%
8,13%
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China aumentará importação de soja até julho, diz estatal Fonte REUTERS13/04/2015 ÀS 11H 01 Pequim - As importações mensais de soja pela China em maio, junho e julho deverão subir para entre 6,5 milhões e 7,5 milhões de toneladas, em uma alta de pelo menos 45 por cento ante março, disse um trader sênior nesta segunda-feira. A demanda doméstica por farelo de soja, no entanto, deverá continuar fraca pelo menos pelos próximos três meses, disse o diretor-geral da estatal chinesa Chinatex Edible Oil, Guo Feng, em uma conferência do setor, em Pequim. A China, maior comprador global de soja, elevou as importações do Brasil e da Argentina devido a preços favoráveis e expectativas de melhores margens de processamento. Os preços da soja na bolsa de Chicago (CBOT) recuaram na semana passada para o menor nível desde agosto, devido à ampla oferta global. A China importou 4,49 milhões de toneladas de soja em março, mostraram dados oficiais da alfândega divulgados nesta segunda. Guo disse que a menor demanda por farelo nos próximos meses é resultado do menor consumo por granjas de suínos. "O plantel de suínos caiu 20 por cento, o que soma-se à redução no plantel de matrizes, e estamos pessimistas quanto à demanda por farelo nos próximos meses", disse o executivo. "Com as importações de soja em alta de 40 ou até 50 por cento, a demanda por farelo de soja, mesmo no pico de consumo, pode não subir mais do que 15 por cento ante o nível de março ou abril", disse Guo. O setor de produção de suínos é o maior consumidor chinês de farelo de soja, importante ingrediente da ração dos animais. Uma recuperação lenta na criação de suínos pode prejudicar a demanda por soja na China no quarto trimestre do ano, quando os Estados Unidos, segundo maior exportador do grão, estará vendendo sua nova safra.
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Produtores de suínos sofreram em 2014 as piores perdas em três anos, devido à desaceleração econômica do país, disse um analista do Centro Nacional de Informações sobre Grãos e Óleos da China.
‘Governo ganhou o benefício da dúvida’ Fonte Jornal O ESTADO de SÃO PAULO Luiz Guilherme Gerbelli11 Abril 2015 às 18h 29 O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, acredita que a nova equipe econômica conseguiu uma trégua dos mercados e das agências de classificação de risco com os ajustes em andamento. Essa “boa vontade”, diz Goldfajn, deve evitar a perda de grau de investimento do País. O cenário, porém, ainda está longe do ideal. Nas projeções do banco, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 deve encolher 1,5% e a inflação encerrar o ano acima de 8%. “Eu acho que o benefício da dúvida foi ganho, mas ainda não vejo muita gente achando que o cenário é otimista. Nem acho que ele vai surgir tão rápido”, afirmou. Na terça-feira, o banco reúne no Hotel Unique, em São Paulo, economistas, analistas políticos e empresários na 6.ª edição do Itaú BBA+ Macrovision, para debater o cenário econômico e político do Brasil e do mundo. A seguir trechos da entrevista concedida ao Estado.
Como o sr. vê o começo da nova equipe econômica? Vejo a equipe econômica batalhando, fazendo vários ajustes ao mesmo tempo. Há esforços na área fiscal e parafiscal – aí me refiro às questões de bancos públicos, TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Esforços de realismo tarifário, colocando um pouco os preços nos lugares onde eles devem estar, e no balanço de pagamentos, com o câmbio flutuando para fazer o déficit em conta corrente diminuir. Tem a menor intervenção do Banco Central (no câmbio). E, finalmente, a questão do regime de metas de inflação com a busca de 4,5% no fim do ano que vem. Esse é o objetivo. É uma equipe que está fazendo os ajustes, tentando ir na direção certa. Mas há várias questões que são sempre mais difíceis: o cenário político, as dificuldades internas e externas. Isso tudo trabalha fora do contexto da equipe, e ela tem de lidar com isso. Houve uma deterioração da economia brasileira muito rápida no 1.º trimestre que não era esperada? O processo de deterioração da economia não começou no trimestre passado. É algo que a gente teve durante vários anos com políticas que nos levaram para uma desaceleração econômica. No primeiro trimestre, houve choques de confiança ligados tanto a investigações, denúncias, quanto a questões de racionamento, que entraram nesse processo e fizeram esse trimestre ter desaceleração mais forte. No seu último artigo, o sr. disse que o mundo nos vê como um ‘reality show’, mas está preocupado com outro BBB: a nota de classificação de risco do Brasil. A economia brasileira escapa do rebaixamento? Essa brincadeira de que o mundo está olhando para a gente como um reality show é porque vemos as demonstrações na rua, a questão das denúncias de corrupção. É um reality show. Mas, em termos econômicos, o que importa no fundo é a percepção de risco. E nessa parte tenho a impressão que estamos começando a ver que o Brasil pode estar saindo dessa confusão e indo para o período no qual vamos ter de discutir como recuperar o crescimento. A decisão sobre o risco pode estar sendo adiada para o ano que vem. 12
O País sai dessa confusão mesmo se não cumprir a meta de superávit de 1,2% do PIB? Se cumprir a meta ganha bastante credibilidade. Mesmo se ficar um pouquinho abaixo disso – a gente projeta 0,8% do PIB –, a equipe econômica tem seu mérito. É um ajuste que vem (de um déficit primário) de -0,6% do PIB e vai para 0,8% do PIB. Ou seja, é um ajuste de quase 1,5% numa situação em que está se pagando gastos de períodos anteriores. Além disso, o ajuste está sendo feito numa economia em recessão e, portanto, o esforço é bem maior do que se a economia estivesse crescendo. Então a percepção de risco sobre a economia brasileira ficou para 2016? Eu acho que a equipe econômica conseguiu a boa vontade das agências de risco e está conseguindo a boa vontade dos mercados. Não para achar que vai mudar da água para o vinho, mas para não perder o grau de investimento. Acho que esse benefício da dúvida foi ganho, mas ainda não vejo muita gente acreditando que o cenário é otimista. Nem acho que ele vai surgir tão rápido. Estamos saindo da crise e indo para o cenário de estabilidade. Como o sr. vê a qualidade do ajuste? Eu acho que a gente está hoje com um conjunto de ajustes para tentar evitar a crise e fazer com que a recessão fique para trás. São medidas emergenciais. Não são medidas que podem fazer o Brasil avançar mais. Quais medidas poderiam ser tomadas para acelerar o crescimento? São medidas pelo lado da oferta. Fazer com que o Brasil cresça aumentando produtividade. O que está por trás disso? São desde questões que dificultam fazer negócio no Brasil e investimentos – como a reforma tributária – ou questões que tenham a ver com problemas fiscais mais de médio prazo, como as questões previdenciárias. Ou, às vezes, são coisas pequenas: burocracia, se você quer uma liberação do projeto de infraestrutura. O tempo que se leva para abrir ou fechar um negócio. Não dá para chamar de reformas, mas são medidas que fazem você produzir mais. Além disso, é preciso fazer uma abertura da economia. O Brasil tem de voltar a fazer parte dos acordos comerciais. E, finalmente, educação. A gente sabe que o mais relevante para o crescimento da produtividade da economia no médio prazo é a capacidade de um país produzir, se educar, gerar conhecimento e, portanto, melhorar independentemente dos recursos naturais. Diante desse quadro, quando a economia brasileira deve voltar a crescer? Uma pergunta é quando o País sai da recessão e começa a virar a página, e a segunda é quando o Brasil consegue ter um crescimento mais robusto. Esse crescimento robusto vai demorar mais porque, de novo, não estamos fazendo reformas. Portanto, o que a gente tem de pensar é no primeiro ponto que eu coloquei: de quando sai do crescimento negativo para positivo. Eu acho que este trimestre ainda vai ser de crescimento negativo e vai se juntar ao crescimento negativo do trimestre passado. No segundo semestre, talvez, a gente saia da recessão, mas não será para um crescimento muito positivo. Essa agenda de reformas está posta nesse governo? Eu acho que o governo entende da necessidade dessa agenda. Ele fala em investimento em infraestrutura, em educação. A equipe econômica fala das questões de burocracia, de facilitar. Eu acho que tudo isso não é falta de conhecimento, de 13
saber o que precisa. Mas há uma dificuldade de um consenso, de um apoio político mais amplo, não só do governo, mas do Congresso e da sociedade para poder seguir adiante com reformas que, às vezes, precisam de um pouco mais de força para saírem do papel. A desaceleração parece ter alcançado o emprego. Como o sr. vê esse cenário? Infelizmente, o Brasil já sofre com perda de postos de trabalho há algum tempo. Isso não tinha se refletido em aumento de desemprego, porque as pessoas estavam saindo do mercado de trabalho – seja para estudar ou por causa da renda que estava permitindo que uma parte da família não precisasse procurar emprego. Essa fase terminou. Agora, provavelmente, o recuo do PIB vai se refletir na queda de emprego. O emprego está sob ameaça porque dois ciclos relevantes acabaram. Primeiro, o ciclo mundial de commodities. Segundo, acabou o ciclo das nossas reformas que fez com que o Brasil crescesse. Quando esses ciclos acabaram, o PIB parou de crescer. Como não conseguimos reverter esse cenário nos últimos anos, essa piora passou a atingir o mercado de trabalho. Com o realismo tarifário, qual é a expectativa para a inflação? O realismo tarifário está levando ao aumento dos preços administrados de 13% ou mais. A inflação de março já levou os 12 meses para acima de 8% e a gente acha que, ao longo do ano, ela não vai ficar abaixo disso. E como ela deve se comportar no ano que vem? A inflação de 2016 vai ser bem menor do que a deste ano. De 8% e pouco vira 5,5%. Será uma queda boa, mas ainda não chega na meta. É um desafio grande chegar na meta no ano que vem com esse ajuste tarifário. Pensa na energia elétrica subindo 50%, 60%. É muito difícil fazer tudo em um ano. Como o sr. enxerga os próximos passos da política de juros do BC? A nossa impressão é que a política monetária chegou ao máximo dos juros nesse ciclo de alta. O ciclo começou lá atrás, quando os juros saíram de 7,25%. Agora, estamos chegando perto de 13%. E acho que vai parar por aí. E aí a discussão lá na frente será por quanto tempo os juros vão parar, se em algum momento vai poder aliviar um pouco a economia com a redução dos juros. Eu acho que isso vai acontecer a despeito da queda de inflação não ser tanto quanto gostaria o governo. O governo e o BC gostariam de que a inflação chegasse a 4,5% no fim do ano que vem. Eu acho que não chega. O BC decidiu intervir menos no mercado de câmbio. Qual é a expectativa para dólar? A nossa última projeção tem sido de R$ 3,10 no fim do ano. Claro que o câmbio pode flutuar. E esse câmbio de R$ 3,10 este ano e R$ 3,40 no ano que vem faz com que o déficit em conta corrente saia de um resultado em torno de 4% do PIB e vá para 2,5% do PIB em três anos. Não é o câmbio que vai ajustar tudo de uma vez, na marra, porque aí teria de ser mais. Nem é o câmbio apreciado que não permite fazer o ajuste. É um câmbio que consegue fazer o ajuste de uma forma gradual.
Dono ou empregado 14
Fonte Jornal Folha de São Paulo 13/04/2015 Luciano trabalha na área de tecnologia da informação e acumulou boa experiência profissional em grandes empresas, usuárias de tecnologia em grande escala. Tecnicamente falando, ele conhece os desafios, as oportunidades e as especificidades desse mercado. Sonha em abrir sua própria empresa, mas, ao mesmo tempo, se questiona se faz sentido trocar a segurança de um bom e estável emprego pela experiência de empreender seu próprio negócio, concorrer e não mais colaborar com colegas de trabalho, assumir responsabilidades gerenciais e burocráticas e mergulhar num ambiente competitivo e incerto. Decisão nada trivial, Luciano. EMPREGADO Para um profissional com boas qualificações técnicas e experiência acumulada, em um segmento extremamente inovador, é pouco provável que falte trabalho. Perspectiva de carreira ascendente, boa remuneração e muitos benefícios formam um pacote difícil de largar. Suas responsabilidades são designadas pelos superiores, alinhadas com o planejamento estratégico da empresa. Os sócios proprietários da empresa assumem os riscos e os custos do negócio e reúnem as competências exigidas de um bom gestor empresarial, muito além do conhecimento técnico da área. Dedicado exclusivamente à sua função, ele não se preocupa com atividades burocráticas, gestão de pessoas, controle de custos e orçamentos, aspectos legais e fiscais e uma série de assuntos gerenciais, conduzidos por colegas especializados nesses assuntos específicos. A expectativa de ganhar mais e pagar menos Imposto de Renda o motivam a pensar seriamente em sair da zona de conforto que cerca a vida de um empregado e arriscar uma carreira solo. EMPRESÁRIO A receita de Luciano pode, de fato, aumentar. Na condição de um pequeno empresário, sem uma estrutura cara de custo fixo, poderá prestar serviço com preços mais acessíveis do que os cobrados por empresas maiores, como a que representa atualmente. E, como sua atuação será na área de prestação de serviço, não haverá necessidade de capital para bancar a compra de equipamentos e instalações. Importante ter um primeiro cliente para viabilizar o sonho de empreender. E o desafio de Luciano será o de expandir sua carteira de clientes para evitar o risco de concentrar toda a sua receita em um único cliente. Saudável que a receita esteja distribuída em, pelo menos, três. DESPESAS O imposto sobre a renda de Luciano deve, de fato, diminuir. Se abrir uma empresa e emitir nota fiscal para cobrar os serviços prestados, deve reduzir a atual alíquota de 27,5% em, pelo menos, dez pontos percentuais. O que vai definir a carga tributária final vai depender do tipo de empresa, do município onde será aberta e do nível de faturamento. Ele precisa de um bom contador para orientá-lo no processo de abertura e manutenção da empresa. Os honorários do contador serão apenas uma das muitas despesas que Luciano terá de pagar se tomar a decisão de empreender. Além do Imposto de Renda, outros tributos são devidos, conforme a natureza do serviço e o tipo da empresa. Importante, na fase inicial, evitar custo fixo com aluguel e funcionários. Primeiro focar receita, receita, receita, para depois pensar em despesas; caso contrário, o projeto de Luciano pode não vingar. BENEFÍCIOS Luciano perderá todos os benefícios oferecidos pela empresa em que trabalha: férias, décimo terceiro salário, plano de saúde, vale-transporte, vale-refeição, seguro de vida, plano de previdência. Alguns serão mantidos necessariamente e passarão a fazer parte de seu orçamento pessoal. O 13º deixa de existir; férias, um luxo, de que empreendedor em fase inicial de projeto raramente desfruta.
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Planejamento constante, con- trole obsessivo de custos, busca incessante por novos clientes e muito trabalho esperam por Luciano, se ele optar pela carreira solo. Ser dono do seu pr贸prio neg贸cio 茅 desafiador, mas pode ser muito gratificante.
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