SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 13 DE AGOSTO DE 2014
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PIB do Japão recua 6,8% no segundo trimestre em base anual TÓQUIO - A economia do Japão contraiu acentuadamente no segundo trimestre, com famílias e empresas cortando gastos após o imposto do aumento do imposto sobre vendas a partir de 1º de abril. O Produto Interno Bruto (PIB) real do Japão encolheu 6,8% nos três meses entre abril e junho em base anual, um pouco menor do que a contração de 7,1% prevista por economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”. O PIB real é calculado descontando a inflação do período analisado. Economistas esperavam o recuo após a expansão de 6,1% no primeiro trimestre, também em base anual, quando muitas famílias anteciparam as compras de produtos caros, como máquinas de lavar, antes da entrada em vigor da nova alíquota do imposto de vendas, de 8%, ante 5% anteriores. O governo planeja aumentar o imposto novamente, para 10%, em outubro 2015. Na comparação trimestral, o PIB real caiu 1,7% no segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior, também um pouco menos do que a queda prevista pelos economistas de 1,9%. Já o PIB nominal (sem levar em conta o efeito da inflação no período) recuou 0,1% no segundo trimestre na comparação com o trimestre anterior e 0,4% na comparação anual.
Volume de cana processada no Centro-Sul do país cai 11,49% em julho SÃO PAULO - O volume de cana-de-açúcar processado pelas usinas do Centro-Sul do Brasil totalizou 35,98 milhões de toneladas na segunda quinzena de julho,o menor valor já registrado nesta época desde a safra 2007/08, quando 25,27 milhões de toneladas foram processadas. No acumulado do mês, a retração é de 11,49%, para 77,39 milhões de toneladas. As informações foram divulgadas há pouco pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Essa retração na moagem se deve às chuvas que ocorreram em parte da região produtora de cana e à redução no ritmo de moagem por várias usinas diante da perspectiva de menor oferta de matéria-prima para processamento nesta safra”, disse o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, em nota. No acumulado desde o início da safra 2014/15 até 1º de agosto, a moagem alcançou 280,43 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 3,8% menos queno mesmo intervalo do ciclo passado. De acordo com a divulgação da Unica, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) levantou com a 154 unidades produtoras uma redução no rendimento da área colhida em julho. Na região Centro-Sul como um todo, a redução deve ficar próxima de 10% e, no Estado de São Paulo, pode superar 13% no comparativo com o mesmo período de 2013. “Com isso, a quebra agrícola acumulada desde o início da safra até 1º de agosto deve atingir cerca de 7% na região Centro-sul do país”.
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A quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de cana processada atingiu 141,20 quilos por tonelada na quinzena, 6,07% acima do verificado no mesmo intervalo de 2013. No acumulado desde o início da safra, o teor de ATR alcançou 128,79 quilos por tonelada, avanço de 2,4% ante igual período do ano anterior. Do volume total de cana processada nos últimos 15 dias de julho, 46,18% destinou-se à produção de açúcar, leve queda em relação ao percentual observado na quinzena anterior (46,38%). No acumulado desde o início da atual safra até 1º de agosto, a proporção atingiu 43,97%. Em relação ao mix de produção, Rodrigues destaca que “a proporção de cana destinada à fabricação de açúcar nas unidades anexas foi reduzida em cerca de um ponto percentual na segunda quinzena de julho, no comparativo com a primeira quinzena do mês”. O executivo destaca que esse resultado não se refletiu de forma mais intensa nos dados agregados da quinzena porque as chuvas observadas no mês prejudicaram mais a moagem das destilarias autônomas, que não produzem açúcar. As produções de etanol e de açúcar diminuíram na segunda metade de julho em relação a mesma quinzena de 2013. A fabricação de açúcar reduziu 12,03% neste período, somando 2,24 milhões de toneladas. O volume produzido de etanol caiu 15,65%, totalizando 1,60 bilhão de litros (733,63 milhões de litros de etanol anidro e 868,11 milhões de litros de etanol hidratado).
Receita com exportações do agronegócio cresceu 3,3% em julho SÃO PAULO - As exportações do agronegócio brasileiro totalizaram US$ 9,61 bilhões em julho deste ano, 3,3% acima do registrado no mesmo mês de 2013, informou há pouco o Ministério da Agricultura. Já as importações alcançaram US$ 1,50 bilhões, 0,52% abaixo de um ano atrás. Com isso, o saldo da balança comercial do setor ficou em US$ 8,10 bilhões, montante 4% acima de julho do ano passado. O principal setor exportador no último mês foi o complexo soja, com vendas de US$ 3,94 bilhões, ou 41% do total. O principal item foi a soja em grãos, com negociações que somaram US$ 3,15 bilhões. Para o farelo de soja, as vendas chegaram a US$ 657 milhões, e para o óleo de soja, a US$ 131 milhões. O segmento de carnes ocupou a segunda posição, com embarques que renderam US$ 1,66 bilhão. O destaque foi a carne de frango, com vendas de US$ 772 milhões. A carne bovina totalizou US$ 690 milhões, e a suína, US$ 139 milhões. Em terceiro lugar, o complexo sucroalcooleiro obteve US$ 1,05 bilhão com as exportações. O açúcar foi o principal produto embarcado em julho, com US$ 996 milhões. Ainda conforme o Ministério da Agricultura, as exportações do agronegócio nacional somam US$ 58,72 bilhões no acumulado desde o início do ano, queda de 0,3% ante janeiro a julho de 2013. As importações alcançam US$ 9,84 bilhões, e o saldo, US$ 48,88 bilhões, baixa de 0,3% ante os primeiros sete meses do ano passado. O complexo soja está na dianteira, com embarques que renderam US$ 24,14 bilhões, alta de 13,5% ante o acumulado de janeiro a julho de 2013.
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Governo 'sangra' a Caixa e poupa o Tesouro para pagar benefício social A Caixa Econômica Federal está travando uma disputa com o Tesouro Nacional porque está pagando benefícios sociais do governo, como o seguro-desemprego e o Bolsa Família, mas só recebe os repasses correspondentes com muitos meses de atraso. O caso já está sendo analisado pela Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, da Advocacia-Geral da União (AGU), onde tramita desde maio. No centro dessa discussão, está um valor superior a R$ 1 bilhão que ficou contingenciado nos cofres do Tesouro em abril, em vez de ser repassado à Caixa para o pagamento de benefícios sociais. Ainda segundo apurou a reportagem, o maior problema estaria no pagamento do segurodesemprego. Entre julho de 2013 e julho deste ano, o benefício já teria tomado R$ 2 bilhões da Caixa. O banco não confirma, nem nega os números.
O CONTRATO Cada ministério assina um contrato com a Caixa, que passa a ser o agente financeiro do pagamento dos benefícios. No início do governo de Dilma Rousseff, os ministérios pagavam à Caixa diretamente, após receber os repasses do Tesouro. Em 2013, o Tesouro passou a intermediar e centralizar os pagamentos à Caixa. Os saques dos benefícios ocorrem diariamente, mas os aportes do Tesouro não. Por isso, há meses em que o fluxo mensal ficou positivo e outros em que ficou negativo. Essa situação está prevista nos contratos, mas não há uma cláusula que estipule um limite de tempo ou valor em que a Caixa pode ficar no negativo. Também não está previsto o pagamento de juros para esses casos. Na prática, portanto, funciona como se a Caixa estivesse financiando o Tesouro. Desde julho de 2013, a Caixa considera que está sendo prejudicada, já que, desde então, a conta mensal dos repasses do Tesouro fica mais negativa que positiva. Neste ano, a situação se agravou, chegando ao pico em abril, com a conta a descoberto em mais de R$ 1 bilhão. 4
Se estivesse no caixa do banco, esse dinheiro poderia girar o motor do crédito, que já responde pela metade das receitas da instituição. INVISÍVEL Essa realidade "dia a dia" não aparece na contabilidade da Caixa, porque o Tesouro zera a conta antes do fechamento dos balanços. O presidente da Caixa, Jorge Hereda, já vinha mantendo conversas com o Tesouro desde o ano passado para tentar resolver a situação. Sem sucesso, a discussão foi parar na AGU. A Folha apurou que o banco tenta rever os contratos ou obter compensação por antecipar os pagamentos do Tesouro. Por meio de sua assessoria, a Caixa admite que está discutindo o caso na AGU, mas, oficialmente, nega pedir a revisão dos contratos. Afirma que a conciliação é só para "dirimir dúvidas". Ao represar os recursos destinados aos programas sociais, o Tesouro entra em uma espécie de "cheque especial" na Caixa. Ou seja, cumpre os pagamentos obrigatórios e atrasa os desembolsos, ganhando tempo para chegar à meta de superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida). O governo se comprometeu em economizar o equivalente a 1,9% do PIB neste ano. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria, a Secretaria do Tesouro Nacional disse à Folhaque "desconhece", até o momento, qualquer proposta da Caixa Econômica Federal para mudança na remuneração dos contratos para pagamentos de benefícios. O Tesouro informou ainda que uma discussão sobre os termos desses contratos só pode ser feita entre a Caixa e os respectivos ministérios. Ainda por meio de sua assessoria, o Tesouro afirmou que os repasses para pagamento dos benefícios sociais seguem a "programação financeira". Mas não forneceu, como pediu a reportagem, detalhamento desse cronograma. "Conforme dados da própria Caixa Econômica Federal, responsável por esses pagamentos em nome do governo, o saldo nas contas dos programas sociais fechou a última semana positivo em mais de R$ 300 milhões", diz o Tesouro em nota. A reportagem pediu dados mais completos ao Tesouro, que é parte principal no processo de conciliação na AGU. Não houve resposta até o fechamento desta edição. O Tesouro também não respondeu aos pedidos de esclarecimentos sobre o deficit no fluxo mensal de repasses do governo para o banco e a relação desse contingenciamento à economia que o país precisa fazer para cumprir a meta de superavit primário. O Ministério do Trabalho, que gere o seguro-desemprego, informou, por meio de sua assessoria, que cabe ao Tesouro Nacional responder pelos repasses de recursos destinados ao pagamento do benefício.
Alta no preço da energia no mercado livre leva ELETROBRAS a prejuízo no trimestre A disparada, desde o início do ano, do preço da energia elétrica no chamado mercado livre levou a ELETROBRAS de volta ao prejuízo no segundo trimestre de 2014, quando fechou com resultado negativo de R$ 105 milhões. No acumulado do primeiro semestre, o bom resultado dos três meses iniciais do ano, de R$ 985,9 milhões, garantiu um lucro de R$ 881 milhões, 588% acima do resultado de igual período de 2013, de R$ 128 milhões. A maior parte da energia que as empresas do setor elétrico vendem está atendida por contratos, cujos preços não variam. Pequena parcela dessa demanda, porém, é comprada pelas empresas no mercado livre. Este ano, a seca determinou o uso maior de usinas térmicas, de custo operacional maior, para gerar energia no país, o que, associado à forte demanda, elevou o preço da energia vendida 5
nesse mercado. O impacto é sentido por todas as distribuidoras, que vêm enfrentando dificuldades financeiras. As negociações no mercado livre causaram à ELETROBRAS uma perda líquida de R$ 990 milhões, resultado da necessidade de compra de energia no valor de R$ 2,01 bilhão, por um lado, por suas distribuidoras, e das vendas de energia, de R$ 1,02 bilhão, de outro lado, por suas geradoras. A empresa relatou também ter tido de pagar R$ 360 milhões com ordens judiciais. Houve ainda, segundo a companhia, perdas com a valorização do real frente ao dólar, no valor de R$ 104 milhões, principalmente com a venda da energia da usina de Itaipu, que é em moeda americana, e uma provisão de R$ 131 milhões referentes a "perdas em ativos financeiros". A receita chegou a R$ 16,2 bilhões no semestre, alta de 18,5% em relação aos R$ 13,7 bilhões verificados entre janeiro e junho de 2013. No segundo trimestre, a receita avançou 17%, de R$ 6,89 bilhões para R$ 8,09 bilhões. O Ebitda (indicador de geração de caixa) chegou a R$ 465 milhões, 72% menor do que o registrado no trimestre passado, de R$ 1,7 bilhão.
Editorial: É a produtividade Depois de acelerar para 4% ao ano, em média, durante o segundo mandato do presidente Lula (PT), o PIB retomou, nos últimos anos, seu enervante ritmo de tartaruga. Na administração Dilma Rousseff (PT), a alta anual será inferior a 2%. Num aparente paradoxo, a geração de empregos manteve-se positiva até o ano passado, com razoável crescimento da renda. De 2007 a 2013, criaram-se 9,4 milhões de postos formais no país. Se o mercado de trabalho se expandiu tanto, por que não o PIB? A série de reportagens "O Brasil que trabalha", publicada por esta Folha, ajuda a compreender a dificuldade do país para crescer mesmo num contexto de expressivo avanço do emprego e da renda. Ocorre que, do total de vagas geradas nesse período, metade corresponde aos dez setores de menor qualificação, que têm índices baixos de produtividade. São ocupações de pouca especialização, como ajudante em construções, faxineiro, vigilante e recepcionista. Somente o cargo de auxiliar de obras, por exemplo, teve 921 mil novos postos, quase 10% do total. Não se pode subestimar o impacto benéfico de tais empregos. A formalização das relações de trabalho viabiliza a participação do cidadão na economia de mercado; a carteira assinada representa um passaporte para a conta bancária e o consequente acesso ao crédito, inclusive ao financiamento da tão sonhada casa própria. Outro aspecto positivo é a diminuição do fosso social. Os salários de menor qualificação foram os que mais cresceram oito vezes mais, na comparação entre trabalhadores com até quatro anos de estudo e os mais escolarizados, com 17 ou 18 anos de instrução. Por outro lado, houve redução de vagas em setores que demandam maior qualificação, como operador de máquinas, supervisor administrativo e pessoal ligado à pesquisa. De modo geral, as categorias com escolaridade mais alta tiveram crescimento menor. Esse padrão de criação de empregos, concentrado em ocupações menos qualificadas, não contribuiu para acelerar a produtividade da mão de obra como um todo, que cresceu menos de 1,7% ao ano de 2010 a 2013. No fundo, o principal obstáculo à expansão da economia brasileira –mais que outros aspectos, como ambiente internacional e falta de investimentos– continua sendo a falta de produtividade, que deriva, entre outros fatores, da baixa escolaridade. O foco primeiro e último para um verdadeiro salto de desenvolvimento, portanto, deve ser a educação da mão de obra, que precisa estar voltada para as capacitações exigidas pela economia moderna.
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A outra goleada No primeiro semestre, a produção industrial brasileira caiu pouco mais de 2,5%, segundo dados divulgados pelo IBGE, e o consenso dos analistas aponta para queda superior a 1% em 2014 (acredito que vá ser pior, mas fiquemos com o consenso). Dado esse desempenho, o crescimento do PIB neste ano talvez não chegue a 1%, implicando expansão média no período 2011-2014 inferior a 2% ao ano, a mais fraca em um quadriênio desde 1999. A resposta oficial aponta para a conjuntura internacional como a responsável. Recentemente, por exemplo, a presidente admitiu ter "minimizado os efeitos da crise externa sobre a economia brasileira", ao atribuir a ela a culpa pelo crescimento medíocre durante sua gestão. Parece um bom argumento, exceto, é claro, por não fazer nenhum sentido à luz dos números disponíveis. A valerem as projeções do FMI para a economia global neste ano (crescimento de 3,4%), a média da expansão do PIB mundial nos últimos quatro anos aceleraria a 3,3% anuais, comparados a 3,0% ao ano observados no quadriênio anterior. Por outro lado, o desempenho nacional revelaria desaceleração expressiva no mesmo período, de 4,5% para 1,8% ao ano. Editoria de Arte/Folhapress
Posto de forma mais delicada, apenas um exercício delirante de imaginação poderia atribuir a piora do desempenho brasileiro à conjuntura internacional, que, longe de ser brilhante, apresentou melhora modesta, embora visível, no mesmo período. Não bastasse isso, a diferença entre o crescimento mundial e o nosso (1,5 ponto percentual) é a maior em pelo menos 12 anos, outro recorde a somar à maior goleada sofrida pelo país. O caso pode ser ilustrado em maior detalhe pelo gráfico que compara a produção industrial brasileira à mundial. Como se vê, a indústria nacional seguiu sua contraparte global até o fim de 2010, em que pesem alguns desvios pontuais, refletindo momentos de crescimento um tanto mais forte ou mais fraco. Em particular, é aparente a recuperação mais rápida do país em seguida à crise de 2008-2009, pois demoramos apenas dois anos para atingir o pico anterior (de outubro de 2008 a outubro de 2010), enquanto a indústria global precisou de quase três anos para isso. No entanto, a partir de 2011 o Brasil "andou de lado", situação que ainda perdura: nos 12 meses terminados em maio deste ano, a produção nacional era 1% inferior à registrada em 2010 e indistinguível do pico que antecedeu à crise. Já a produção global no mesmo período era 10% superior à observada em 2010 e cerca de 7% maior que o pico pré-crise. Qualquer que seja a métrica adotada, a verdade é que o mundo, mesmo combalido, não só cresceu bem mais que o Brasil como o fez a uma diferença de velocidade jamais vista na história deste país. Por tudo o que foi dito, deve ficar claro que a origem do problema de baixo crescimento tem raízes locais. Da forma como entendo, a questão relaciona-se essencialmente ao aumento dos 7
salários muito à frente da expansão insignificante da produtividade, em particular no setor manufatureiro. Diferentemente do que ocorre no caso dos serviços, esse aumento do custo do trabalho encontra dificuldades de repasse para preços diante da concorrência externa. Assim, as margens industriais se contraem, limitando a expansão do setor, ao mesmo tempo em que a inflação de serviços segue vigorosa (acima de 9% nos 12 meses até junho). A nota curiosa da desculpa (esfarrapada) para o baixo crescimento é que seus autores não parecem ter notado que, se fosse verdadeira, implicaria concluir que a aceleração observada no período 2004-2010 também resultaria do mundo mais forte, e não de méritos do governo de plantão. Não sei se o presidente Lula se deu conta da crítica de seus aliados a seu desempenho à frente do país. Provavelmente não, mas, em nome da verdade, seria bom alertá-los para achar uma justificativa mais sólida para o desempenho lamentável dos últimos anos.
Agronegócio Com a coordenação do ilustre ex-ministro da Agricultura o competente Roberto Rodrigues, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) reuniu renomados especialistas para formular uma "carta de princípios" que transmitirá aos candidatos à Presidência da República. A ideia fundamental é mostrar que o agronegócio tem que ser pensado como um conjunto de operações divididas em três estágios: 1) o que fornece insumos e tecnologia à unidade produtiva (a fazenda); 2) como esses insumos são convenientemente combinados dentro da porteira da fazenda para produzir eficientemente os bens desejados e 3) como esses bens são transferidos para os consumidores internos e externos, o que acontece fora da porteira da fazenda. Os três estágios devem ser integrados numa visão macroscópica capaz de dialogar, no mesmo nível de autoridade, com outros componentes do governo (Infraestrutura, Fazenda, Ciência e Tecnologia, Comércio e Indústria, Relações Exteriores etc.). Tal pretensão é respaldada no evidente sucesso do agronegócio do Brasil (com a triste exceção do etanol, exatamente por falta da visão macro), que em si mesmo é, talvez, o mais importante setor da nossa economia, com aproximadamente 1/3 dos empregos, produzindo 1/5 do PIB e gerando 2/5 do valor das exportações. Os "princípios" são cinco: 1) Desenvolvimento sustentável, no sentido econômico, social e ambiental, que garante rentabilidade para o agricultor eficiente, preparo técnico e proteção do meio ambiente; 2) Competitividade, um planejamento que garanta os investimentos de longo prazo de infraestrutura, logística e pesquisa científica e tecnológica de fronteira; 3) Orientação aos mercados, que estimulem inclusão social, agregação de valor, boas práticas agrícolas, descarbonização da produção, uso eficiente dos recursos naturais, proteção sanitária para evitar pragas exóticas, o que exige a regulação pelo Estado que deve respeitar; 4) A segurança jurídica, dentro das especificações do art. 170 da Constituição Federal. Este determina que a economia brasileira terá um setor produtivo baseado na iniciativa privada, apoiada na propriedade privada condicionada à sua função social; 5) E, finalmente, governança institucional, que exige que a política agrícola deve ficar a cargo de um único e forte Ministério da Agricultura, para unificar "sua inteligência estratégica" e diminuir o excesso de burocracia que pesa, principalmente, sobre os pequenos e médios agricultores. A unificação das ações deve garantir que elas satisfaçam, simultaneamente, os limites impostos pelos cinco princípios, o que parece muito razoável para a continuação do sucesso do agronegócio.
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Mauricio Tolmasquim: Profetas do apocalipse Há dois anos, a presidenta Dilma Rousseff prometeu reduzir as tarifas de energia. Cumpriu. Desde o fim do ano passado, profetas do apocalipse anunciam um racionamento. Erram. Agora, travestidos de analistas de videoteipe, realinham suas baterias e acusam: o setor elétrico foi desorganizado. Erram novamente. Continuam confundindo a opinião pública –ao misturar conceitos e dados– e distorcendo a realidade, na tentativa de emprestar alguma sustentação às teses que formulam. A quem interessa essa desinformação? A medida provisória 579, recepcionada e convertida em lei pelo Congresso, proporcionou uma redução estrutural na tarifa de energia. Isso significa queda permanente da tarifa devido à apropriação pelo consumidor de parte do bônus oferecido por um parque gerador e transmissor amortizado e à retirada da tarifa de custos de políticas públicas (Luz para Todos, subsídios à baixa renda). Como os livros de economia ensinam, tais custos devem ser debatidos pelo Parlamento e, portanto, suportados preferencialmente pelo Orçamento da União. Não se confunda essa queda estrutural com variações conjunturais de custo devidas à escassez de chuva. Sem a medida provisória, a tarifa de energia seria igualmente afetada pelo aumento do custo de produção imposto pela conjuntura climática adversa –basicamente, aumento da geração térmica, fato característico de um sistema hidrotérmico como o brasileiro. Teríamos um impacto tarifário de efeitos nefastos, já que os reajustes necessários ao custeio das térmicas se dariam sobre uma base 20% mais alta. A normalização da hidrologia restabelecerá as condições operativas do sistema e inverterá o sinal das variações conjunturais de custo. Argumentam os ex-profetas, agora analistas, que a MP 579 quebrou um dos pilares do modelo implantado em 2004, cujo sucesso, saliente-se, tem reconhecimento internacional. Nada mais falacioso. De fato, a partir de 2013, com a decisão das geradoras Cesp, Cemig e Copel de não aderir às condições da MP 579 e de não participar dos leilões daquele ano, uma parte da demanda das distribuidoras ficou sem cobertura, ou, no jargão do setor, exposta. Isso gerou custos altos porque a energia não contratada teve de ser comprada no mercado de curto prazo, onde os preços se elevaram em razão da escassez de chuvas. Foi uma aposta arriscada. Se não fosse a medida provisória, o nível de exposição seria muito maior. Afinal, outras geradoras também não ofereceriam sua energia nos leilões. Ou seja, a MP evitou aumento de custo ainda maior! Toda essa situação será normalizada no próximo ano, quando vencerão as concessões das usinas das três geradoras e as respectivas produções serão alocadas às distribuidoras ao preço de custo. Isso traz um viés de baixa à tarifa, em sinal contrário à elevação devida à exposição e à geração térmica. Nessas situações, a solução natural é fazer uma "ponte", de modo que um aumento de custo transitório possa ser absorvido sem maiores traumas pela sociedade. A redução da tarifa não deve ser confundida com os aportes do Tesouro Nacional e o financiamento do pool de bancos às distribuidoras, que visou mitigar um forte impacto tarifário de curto prazo ocasionado por seca extraordinária. O prolongamento da seca não foi apenas mais um detalhe, mas, sim, fator capital na elevação dos custos de produção. Pago de uma vez ou amenizado no tempo em razão dos empréstimos, o aumento dos custos de produção será repassado ao consumidor. Como se vê, ao contrário do que querem fazer crer, a MP 579 evitou um custo social ainda mais alto. Definitivamente, uma medida corajosa e acertada! 9
Produção de soja aumenta nos EUA, mas demanda estimada ainda é baixa Os dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) desta terça-feira (12) indicam o máximo de oferta que os norte-americanos vão ter de soja em 2014/15, mas apontam também o mínimo de demanda para o período. A concretização de oferta de 104 milhões de toneladas ainda vai depender de algumas chuvas nas regiões mais secas, enquanto a demanda de 96,4 milhões de toneladas deverá subir pelo menos em mais 2 milhões de toneladas no período. A avaliação é de Fernando Muraro, da AgRural. Um dos motivos pelos quais o Usda elevará a demanda é o volume já contratado para exportar 17 milhões de toneladas.
Outro componente importante nessa estimativa de que a demanda deverá ficar acima da projetada pelo Usda são as vendas de 4 milhões de toneladas de farelo de soja para a safra 2014/15, o que forçará um esmagamento maior no período. Daniele Siqueira, analista da AgRural e que circula pelas lavouras do Meio-Oeste dos EUA, diz que a situação em Illinois está excelente, mas em outros Estados, como Iowa, Ohio e Indiana, falta chuva. Esse efeito climático fará com que Illinois tenha uma média recorde de produtividade de 60,5 sacas de soja por hectare, somando 14,8 milhões de toneladas. Ao atingir essa produtividade, os produtores de Illinois deverão desbancar o líder, Iowa, que ficará com 13,7 milhões de toneladas. Os dois Estados plantaram 4,25 milhões de hectares. Os estoques finais de soja subiram para 44 dias de consumo nesta safra, um pouco acima do previsto em junho, mas bem superior aos 15 dias de agosto de 2013. Ritmo menor As chuvas e a redução de ritmo de atividade das usinas, devido à perspectiva de oferta menor de matéria-prima, fizeram a moagem de cana cair 19% na segunda quinzena de julho, em relação a 2013. Moagem A avaliação é de Antonio de Padua Rodrigues, da Unica. No acumulado desta safra, a moagem subiu para 280 milhões de toneladas, 3,8% mais do que em igual período da safra anterior. Angus Bovinos angus do Programa Carne Certificada passam a ganhar R$ 1,00 por arroba nas unidades do JBS de Campo Grande e de Lins. A nova tabela valoriza os pecuaristas que investem no angus, diz Reynaldo Salvador, da associação do setor. As boas perspectivas da demanda externa para as carnes continuam empurrando para cima os preços das proteínas no mercado interno. 10
A arroba de boi gordo subiu para R$ 123 nesta terça (12) alta de 21% em relação aos preços de igual período de 2013. Os dados são da Informa Economics/FNP, que aponta valorização de 2,5% apenas nos últimos sete dias. O valor da carne suína disparou, com alta de 5% nesta terça (12). Pesquisa da Folha indicou que, em média, a arroba foi negociada a R$ 78,4. A alta é de 32% em 12 meses. O preço do frango, estacionado em R$ 2,25 desde a segunda quinzena de julho, subiu para R$ 2,30 nesta semana. Em 12 meses, no entanto, contrariando as demais carnes, o frango cai 8%. Mesmo com a redução de preços de algumas commodities, as receitas dos produtores brasileiros deverão subir 2,1% no campo. O Valor Bruto da Produção está estimado em R$ 442,3 bilhões neste ano, ante R$ 433 bilhões no anterior. O valor bruto das lavouras sobe para R$ 289 bilhões, 2,8% mais no ano. O destaque fica para a soja, cujo valor das receitas deverá atingir R$ 96,5 bilhões, 7% mais do que em 2013, segundo José Gasques, coordenador dessa pesquisa do Ministério da Agricultura. No setor de carnes, a bovina lidera, com valor bruto de R$ 68 bilhões no ano, 18% mais do que em 2013. As receitas com frango recuam para R$ 42 bilhões, 16% menos. Já as com suínos sobem para R$ 13 bilhões, 8% mais.
A safra de soja dos EUA sobe para 104 milhões de toneladas em 2014/15, aponta o governo, um pouco acima da previsão anterior -103,4 milhões. Foi o suficiente para uma queda de 1,9% nos preços da oleaginosas em Chicago. A produção mundial fica em 305 milhões de toneladas.
Com fim da Copa, demanda das empresas por crédito cresce 15% São Paulo - A demanda das empresas por crédito subiu 15% em julho, em relação a junho, de acordo com a empresa de consultoria Serasa Experian. Na comparação com julho do ano passado, houve alta de 1%. No acumulado de janeiro a julho, a procura das empresas por crédito cresceu 2% frente o mesmo período do ano passado. Na comparação por portes das empresas, o crescimento foi maior para as micro e pequenas, queavançaram 16% em julho. Nas de médio porte a alta foi 2,2% e nas de grande, o avanço foi 1,3%. No acumulado dos primeiros sete meses deste ano, as grandes empresas lideraram a alta da demanda empresarial por crédito com crescimento de 9%, ante o mesmo período do ano passado. Nas micro e pequenas a alta foi 2,2% e as médias recuaram 2,5%. As empresas de serviços apresentaram o maior crescimento na demanda por crédito, com alta de 19,4% frente a junho. No comércio a alta também foi expressiva - de 14,2% perante junho. Já na indústria o crescimento em julho foi mais moderado (3,7%). No acumulado de janeiro a julho, a indústria liderou, com alta de 5,6%. O setor de serviços também teve crescimento, de 4,3%. Apenas o setor comercial recuou 1%. Os economistas da Serasa Experian avaliam que a Copa do Mundo, os feriados e paralisações, que prejudicaram o resultado da busca por crédito em junho, provocaram a alta de 15% no mês seguinte. “Foi um movimento natural e esperado dada a menor quantidade de feriados e paralisações. Mesmo assim, o avanço da demanda empresarial por crédito continua bastante moderado, quando se compara com os mesmos meses do ano passado”, diz a divulgação da Serasa.
País terá que investir mais de 20% do PIB por crescimento Rio de Janeiro - A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima que o Brasil viverá um ciclo longo de crescimento moderado da economia, com média de 3,6% a 4% ao ano, até 2050. 11
Mas, para manter esse ritmo, o Brasil terá que aumentar o nível atual de investimentos, de 18% em média do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) para pelo menos 20,5% do PIB, de acordo com o estudo Cenário Econômico 2050, divulgado hoje (12) no Rio de Janeiro, pelo presidente da EPE, Maurício Tolmasquim. O estudo faz parte de uma série de levantamentos que a EPE está produzindo para basear o plano de energia 2050. Com base no PIB de 2013, que alcançou R$ 4,84 trilhões, significa dizer que os diferentes níveis de governo precisam investir quase R$ 1 trilhão por ano, em todos os ramos de atividade, para acompanhar o crescimento natural da população, que deverá ser 226 milhões de habitantes em 2050 pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o consequente aumento da demanda por mais consumo de tudo. Serão, portanto, 26 milhões de brasileiros a mais que atualmente, e Tolmasquim destaca que o país passará por grande mudança estrutural nos próximos 35 anos. O estudo ressalta, segundo ele, que haverá acentuada evolução do PIB per capita (por habitante), de US$ 10,8 mil em 2012, que pode alcançar algo entre US$ 36 mil e US$ 42 mil em 2050, os níveis atuais da França e Alemanha. O estudo da EPE calcula que, se a expansão do PIB per capita for acompanhada por um processo de distribuição de renda, isso estimulará a inclusão de maior contingente de pessoas na classe média, gerando aumento da demanda de bens de consumo, serviços e energia, com efeitos positivos sobre diversos setores da economia. Para começar, números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores indicam que a frota nacional de veículos leves deve aumentar para 130 milhões de carros em 2050, modificando a proporção atual, de 5,4 habitantes por carro, para apenas duas pessoas por carro, como é hoje na Europa. Tolmasquim observou que a expansão da classe média, além de triplicar a frota de veículos no período em análise, também elevará o número de aparelhos de ar condicionado (de 23%, em 2013, para 65%) e de lavadoras de roupas (de 68% para 94% das casas), e tudo isso implica mais consumo de energia elétrica. Ainda no tocante a investimentos, o estudo da EPE destaca que o setor de infraestrutura terá prioridade nas próximas quatro décadas, devido à necessidade de eliminação dos gargalos logísticos que prejudicam a competitividade dos produtos nacionais. Outros setores que receberão também investimentos significativos são os de educação e inovação, com o objetivo de ampliar a qualificação da mão de obra nacional e a produtividade da indústria. Cita também mais investimentos em habitação e saneamento, petróleo e gás.
"O arrocho já ocorreu", diz Armínio Fraga São Paulo - Com a notícia da queda do avião de Eduardo Campos (mas ainda sem a confirmação da morte), a ordem foi modificada na programação do EXAME Fórum, que ocorre hoje no Hotel Unique em São Paulo. Alexandre Rands, responsável pelo programa econômico do candidato do PSB, iria ser o primeiro dos representantes dos candidatos a falar, mas deu lugar a Armínio Fraga. Presidente do Banco Central entre 1999 e 2002 e principal acionista da Gávea Investimentos, Fraga é coordenador do programa econômico de Aécio Neves e um dos nomes mais apontados como ministro da Fazenda de uma eventual administração do candidato do PSDB. Sua declaração inicial para a palestra, com o título "Minha plataforma econômica e de desenvolvimento para o Brasil 2015-2019", foi que o país "é de renda média baixa e em função disso deveria ser relativamente fácil crescer a um ritmo acelerado e por muitos anos." Ele listou vários argumentos dados pelo governo para justificar a situação econômica atual e criticar a oposição - todos inconsistentes, na sua opinião: "Dizem que a oposição quer fazer arrocho e eu diria não, de jeito nenhum. O arrocho já ocorreu. (...) 'Vão fazer o tarifaço': essa eu acho inacreditável. Deveria começar com a pergunta: quem congelou esses preços e que resultado surgiu a partir disso?" 12
E deu a resposta: "no setor elétrico, uma medida voluntarista tentou derrubar o preço da energia na marra e deu no que deu. A conta foi subindo e já é de R$ 100 bilhões. (,,,) O governo asfixiou a Petrobras, que é hoje a empresa mais endividada do mundo." Outro argumento desconstruído foi o de que o baixo crescimento é culpa da economia internacional. Ele disse que olhando América Latina ou do Sul, a economia sob Fernando Henrique Cardoso cresceu um pouco mais que a região, sob Lula cresceu mais ou menos o mesmo, e sob Dilma cresceu 2 pontos percentuais a menos por ano. Ele criticou a dificuldade de aumentar a taxa de investimento, estacionada em 18% há mais de uma década, a falta de transparência nas contas públicas: "gastos extraorçamentarias são ineficientes e antidemocráticos". Na sua visão, a inflação no teto da meta e o sucateamento da indústrias são "consequências de um modelo econômico antiquado. Não precisa nem olhar a historia de outros países, só dentro de casa." Ele também diz que a sensação é que o Banco Central perdeu autonomia e que a independência formal é considerada por Aécio, apesar de não ser considerada prioridade. Sobre o BNDES, Fraga acredita que seu formato atual inibe o desenvolvimento do mercado de capitais e faz empréstimos que não fazem sentido para um banco público: "o empresário não quer ficar indo a Brasília fazer lobby. O empresário quer ficar na empresa empreendendo, inovando." No final, Fraga disse que lamentava "estar falando num momento possivelmente tao triste". Avisado pela plateia que a morte havia sido confirmada, ele balançou a cabeça e suspirou. Sabatina A sessão de perguntas foi conduzida por André Lahóz, diretor de redação da revista EXAME, e Claudia Vassallo, diretora da Unidade de Negócios da Editora Abril. Perguntado sobre a possibilidade de diminuir a carga tributária, Fraga disse que sua equipe tem "a ideia de fazer com que o gasto cresça menos que o PIB. Se conseguirmos fazer isso, já consideraria um grande sucesso, já que ele só cresce desde a redemocratização." Em relação ao que havia de positivo na política econômica dos últimos anos, ele citou que programas sociais também são parte da economia e merecem aplausos, assim como a maior formalização do mercado de trabalho e "boas sementes" plantadas no governo Lula. Sobre o que faria de diferente caso voltasse no tempo, Fraga declarou: "eu gosto de jogar no ataque. Teria enfatizado mais a necessidade de fazer as grandes reformas. Passei muito tempo apagando incêndio."
Agosto e setembro serão cruciais para superávit O governo concentrou em apenas dois bimestres deste ano (de julho a outubro) uma arrecadação de R$ 56,7 bilhões com apenas três itens da receita federal: concessões de serviços públicos, cota-parte de compensações financeiras e a arrecadação extraordinária, proveniente, principalmente, de parcelamentos de dívidas tributárias e de depósito judiciais. De janeiro a junho, a arrecadação com esses três itens foi de apenas R$ 28,2 bilhões. Em todo o segundo semestre, a estimativa oficial, de acordo com o decreto de programação orçamentária e financeira (decreto 8.290), é que a arrecadação desses itens atinja R$ 68,97 bilhões - quase duas vezes e meia a receita obtida no primeiro semestre. Só neste mês e em setembro, o governo projetou uma receita extra de, no mínimo, R$ 22,5 bilhões. Por isso, esses dois meses são considerados decisivos para alcançar a meta fiscal de 2014. Em agosto, a expectativa oficial é arrecadar R$ 14,5 bilhões com a reabertura do Refis - o programa de parcelamento dos débitos tributários. Ao todo, o governo espera arrecadar R$ 18 bilhões com o Refis, mas o restante dos recursos entrará nos cofres nos meses seguintes. No mês que vem, a contribuição para a meta será dada pelo leilão 4G, cuja arrecadação esperada pelo governo é de R$ 8 bilhões. 13
O país saberá, portanto, ainda durante o embate eleitoral, se será possível alcançar a meta fiscal deste ano. Isso porque a variável-chave para a obtenção do superávit primário de R$ 80,8 bilhões do governo central (que compreende Tesouro, Previdência e Banco Central) é a elevada previsão oficial de receita de julho a outubro. Se ela não se realizar, a meta terá que ser abandonada. A eventual frustração da meta e sua repercussão junto aos agentes do mercado poderá resvalar no debate da eleição presidencial. Há sérias dúvidas sobre se a arrecadação federal se comportará como projetada pelo Ministério da Fazenda no decreto 8.290, de 30 de julho. A previsão oficial para a receita extraordinária é de R$ 27 bilhões de julho a dezembro, sendo R$ 18 bilhões com a nova modalidade de parcelamento de débitos tributários, cuja data-limite para adesão é dia 25 deste mês. O governo não informou de onde sairão os outros R$ 9 bilhões de receita extra. Em junho, já foi obtida uma arrecadação extraordinária de R$ 1 bilhão. Assim, em todo o ano o total previsto é de R$ 28 bilhões - resultado próximo ao do ano passado, que foi um recorde histórico. A estimativa oficial é que a receita com royalties no segundo semestre deste ano seja R$ 8,1 bilhões maior do que aquela obtida no primeiro semestre, mas o governo não explicou as razões para que isso aconteça. A previsão da receita com royalties para todo o ano é de R$ 47,98 bilhões, aumento de 31,6% sobre a receita de 2013, de R$ 36,45 bilhões. Quando encaminhou a proposta orçamentária de 2014 ao Congresso Nacional, o governo federal previa uma receita com royalties de R$ 43,6 bilhões. Para acomodar suas emendas ao Orçamento, os parlamentares elevaram o valor para R$ 47,98 bilhões. Essa nova estimativa foi mantida pelo governo, quando definiu a programação orçamentária e financeira deste ano, mas não houve explicação para essa decisão. No primeiro semestre deste ano, a receita com royalties atingiu R$ 19,95 bilhões, com um aumento de 11,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No caso da telefonia celular, o Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu a publicação do edital do leilão 4G. Os ministros do TCU vão aguardar os estudos complementares solicitados ao governo pelo relator do processo, ministro Benjamin Zymler. Ele quer saber se haverá equilíbrio na disputa entre as empresas que já detêm autorização para operar na faixa 2,5 GHz, licitada em 2012, e os novos concessionários. O governo acredita ser possível esclarecer a questão para que o leilão ocorra o mais rápido possível. Não há uma nova data para o leilão, mas é difícil que ele seja realizado ainda em agosto. Se ficar para setembro, a receita só entrará nos cofres do Tesouro em outubro, o que resultará em alteração no decreto de programação orçamentária e financeira. A grande arrecadação no segundo semestre deste ano, projetada pelo governo, é indispensável para a obtenção da meta fiscal, principalmente porque o superávit primário do governo central no primeiro semestre foi de apenas R$ 15,4 bilhões - faltam R$ 65,4 bilhões para alcançar a meta, ou R$ 10,9 bilhões de superávit primário por mês de julho a dezembro. A situação fica um pouco mais difícil, porque a previsão da receita tributária foi feita pela Receita Federal com base em um crescimento de 1,8% para a economia em 2014. Os analistas do mercado reduziram para 0,81% as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. Se a previsão do mercado estiver correta, a receita tributária poderá ser menor do que a estimada pelo governo.
Clima econômico na América Latina é o pior desde 2009, revela FGV SÃO PAULO - A percepção sobre a situação atual na América Latina fez o Índice de Clima Econômico (ICE) da região piorar entre abril e julho, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o instituto alemão Ifo. O indicador caiu de 90 pontos para 84 pontos e registrou o pior resultado desde julho de 2009 — período em que o mundo enfrentava o agravamento da crise financeira. 14
O Índice da Situação Atual (ISA) caiu de 82 pontos para 72 pontos, no menor nível desde outubro de 2009. O Índice de Expectativas (IE), por sua vez, ficou relativamente estável, indo de 98 pontos para 96 pontos. Pelo segundo trimestre consecutivo, informa a FGV, os três indicadores ficaram na zona desfavorável do clima econômico (abaixo de 100 pontos). A queda de 7% no clima econômico da América Latina não pode ser explicada apenas pelo desempenho no restante do mundo, aponta a instituição. O ICE mundial teve comportamento inverso e subiu 3% entre abril e julho, puxado por melhores avaliações em relação aos Estados Unidos e Ásia. Na União Europeia, o ICE recuou em julho, embora mantenha-se na zona favorável. Para a FGV, a piora no clima em países como Brasil, Argentina e Chile foram os responsáveis pela queda no clima geral da região. O ICE é calculado de forma que o peso dos países esteja relacionado à participação da corrente de comércio (exportações mais importações) de cada país na região. O México possui participação de 35% e o Brasil, de 23%. Enquanto o ICE do México apresentou alta de 4% entre abril e julho, o indicador do Brasil cedeu 22% no período. “No caso do Brasil, a avaliação da situação atual vem se deteriorando desde janeiro, com piora nas expectativas e na avaliação da situação econômica em geral”, diz a FGV. A situação na Argentina, por sua vez, sofre a influência da crise econômica e das incertezas trazidas pelos problemas na renegociação da dívida externa com os chamados “fundos abutres”. Já o Índice de Expectativas sugere que o cenário não é positivo para a maioria dos países latinos até o fim do ano. No caso brasileiro, a queda foi de 19% em julho ante um ano antes e de 8% entre abril e julho de 2014.
Governo aposta no crédito, sem resultado garantido Tudo indica que o governo ainda não esgotou o arsenal de medidas para tentar estimular o crédito na esperança de que essa estratégia dê algum impulso à economia, bastante debilitada a poucos meses das eleições. O desempenho das operações de empréstimos desapontou no primeiro semestre, com um crescimento acumulado em 12 meses de 11,8%, que levou o estoque para R$ 2,8 trilhões, inferior aos 12% projetados conservadoramente pelo Banco Central (BC). Será o pior ano para o crédito desde 2003. As concessões, que refletem as novas operações, cresceram menos ainda, 8,7% em 12 meses. Não fosse a arrancada dos bancos públicos, o resultado teria sido pior. A carteira das instituições de controle estatal cresceu 17,1% em 12 meses, enquanto a das privadas nacionais aumentou 5,6%, e a das estrangeiras, 8,1%. O governo se mostrou particularmente decepcionado com duas linhas que alimentaram o consumo nos anos anteriores, o financiamento de veículos, cujo estoque encolheu 3,7% nos 12 meses terminados em junho, e o consignado, que cresceu 13,7% no mesmo espaço de tempo. Dois pacotes para estimular o crédito foram anunciados em apenas duas semanas e há sinais de mais coisas a caminho. O primeiro saiu do forno pouco antes de serem divulgados os números do primeiro semestre e tem a ambição de injetar R$ 45 bilhões no mercado, com a liberação de recursos dos depósitos compulsórios. De R$ 194 bilhões em 2009, os compulsórios chegaram a R$ 402,4 bilhões no fim do primeiro semestre, saltando R$ 40 bilhões em um ano. O principal alvo dessas medidas é impulsionar o financiamento de veículos e o consignado. Por isso, houve um ajuste nas exigências de capital para essas operações que, na prática, diminui o total requerido. Outra medida permite que os bancos cumpram até metade do compulsório sobre depósitos a prazo com novas operações de crédito para pessoas físicas ou empresas ou a compra de carteiras já existentes. Alguns dias depois, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou medidas para financiar os investimentos, inclusive no setor rural. Uma das novidades mais importantes foi a alocação de R$ 30 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) para a compra de ônibus, caminhões e bens de capital a taxas inferiores à TJLP que, a 5%, já é bastante baixa. 15
Nesta semana veio à tona que o Ministério da Fazenda avalia com o da Justiça e instituições financeiras medidas para facilitar e agilizar a retomada de bens financiados em caso de inadimplência com o objetivo de impulsionar o financiamento de veículos. O governo pretende enviar ao Congresso ainda neste semestre uma proposta para alterar o Código Civil e implementar as novas regras (O Globo, 11/8). Pouco depois do anúncio das medidas de afrouxamento dos compulsórios, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com banqueiros para discutir os efeitos do pacote macroprudencial e ouviu a avaliação de que o impacto seria modesto. Dada a desaceleração do crescimento da renda, não há expectativa de uma expansão significativa do financiamento de veículos e do consignado, como houve no passado. As famílias estão mais endividadas e receiam turbulências no mercado de trabalho. Algum alívio poderá ser registrado pelos bancos públicos, que ampliaram muito suas carteiras nos últimos anos e estão perto dos limites de alavancagem. Os bancos pequenos e médios também podem ter algum refresco com a venda de suas carteiras, mas já pedem ao Banco Central que a venda de suas letras financeiras possa ser considerada para efeito de enquadramento das grandes instituições nas novas regras de cumprimento do compulsório, assim como a das carteiras de crédito. Apesar de terem considerado reduzidas as chances de aumento do crédito neste ano em função das novas medidas, os grandes bancos aproveitaram a ocasião para pedir mais folga de capital, alegando que o Brasil adota regras mais rígidas que as de Basileia 3 (Valor, 6/8). Isso é verdade. Mas a demanda parece paradoxal uma vez que os bancos possuem bilhões em crédito pré-aprovado sem interessados. As três maiores instituições privadas aumentaram a carteira de crédito em 7,4% no primeiro semestre, quatro pontos abaixo da média do sistema.
Produção industrial da zona do euro cai menos em junho SÃO PAULO - A produção industrial da zona do euro caiu 0,3% em junho, após declinar 1,1% um mês antes. Na União Europeia, o recuo foi menor, de 0,1%, seguindo também queda de 1,1% em maio. Conforme levantamento da agência de estatísticas Eurostat, no comparativo mensal, a retração na atividade da indústria na zona do euro decorreu de uma baixa de 1,9% em bens de consumo não duráveis e de 0,7% em energia. Bens de capital, por sua vez, ficaram estáveis enquanto bens intermediários avançaram 0,4% e bens de consumo duráveis subiram 2,3%. O desempenho da indústria do bloco europeu foi associado a um recuo de 1,4% em bens de consumo não duráveis e a uma baixa de 0,6% em energia. Em sentido inverso, bens de capitais avançaram 0,2%, bens intermediários tiveram alta de 0,4% e a produção de bens de consumo duráveis subiu 1,8%. O Eurostat chamou atenção para a queda expressiva na produção industrial da Irlanda entre maio e junho, de 16,5%, seguida por Holanda (-3%) e Lituânia (-2,7%). Na outra ponta, ficaram Malta, com elevação de 5,2% na indústria, Dinamarca (2,4%) e Hungria (1,8%). Considerando o confronto com junho de 2013, a produção industrial ficou estável na região da moeda comum europeia e aumentou 0,7% na União Européia.
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