SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 14 DE AGOSTO DE 2014
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Editorial: Eduardo Campos Na violência cega de um acidente aéreo, perdeu-se uma das personalidades mais promissoras da vida política nacional. Aos 49 anos, Eduardo Campos vinha de uma bem avaliada gestão no governo de Pernambuco para representar, na disputa à Presidência da República, o difícil e estimulante papel de alternativa à tradicional polarização entre petistas e tucanos no plano federal. Seu perfil o habilitava de forma singular para esse desafio, embora a própria campanha tragicamente interrompida tivesse ainda de desenhá-lo com mais nitidez. Neto, por parte de mãe, do mitológico líder esquerdista Miguel Arraes, de quem foi secretário da Fazenda nos anos 1990, Campos tinha, pelo lado paterno, ligações com os setores mais conservadores da política local. O lastro de herdeiro de Arraes não o impediu de procurar caminhos próprios na cena pernambucana do mesmo modo que, ex-ministro da Ciência e Tecnologia durante o governo Lula, percebeu que suas perspectivas seriam limitadas caso seu partido, o PSB, se mantivesse por mais tempo à sombra do situacionismo petista. Escorado nos altos índices de crescimento econômico obtidos em seu período como governador, bem como numa visão administrativa sem ranços ideológicos, Campos procurou aproximar-se do empresariado, adiantando-se em relação ao mineiro Aécio Neves (PSDB) na disputa pelo campo de oposição à presidente Dilma Rousseff (PT). Ao mesmo tempo, sua candidatura buscava desvincular-se de uma imagem excessivamente industrialista, dada a presença de Marina Silva como vice. Para a postulação de Eduardo Campos confluíam tendências diversas, capazes de consolidar seu nome como fator de inovação diante dos dilemas nos quais se tem debatido a política brasileira nas últimas décadas. Capazes também, todavia, de minar a própria coerência interna de sua campanha e de um eventual governo. A tragédia de ontem que vitimou outras seis pessoas impõe, naturalmente, uma dor e um choque sem limites a familiares e amigos do candidato. Pai de cinco filhos, um dos quais nascido há pouco mais de seis meses, Campos aparentava possuir, mesmo para o grande público, os sinais inconfundíveis do bom humor, da disposição e da felicidade pessoal. Na política, ficam irrespondidas as perguntas sobre seu futuro e sobre a forma final que assumiria a candidatura peessebista no espectro ideológico. O próprio PSB, agora, colocado ante a escolha de Marina Silva, que soa óbvia, e a de um nome mais ligado à cúpula do partido, terá de haver-se com encruzilhadas e definições que a hábil empatia de Eduardo Campos provavelmente lhe permitia postergar.
Clima econômico no Brasil é o pior desde o governo Collor O clima econômico no Brasil está com a pior avaliação desde janeiro 1991, época de hiperinflação e 21 meses antes de o Congresso Nacional afastar o então presidente Fernando Collor de Mello no processo de impeachment. É o que mostra o ICE (Indicador de Clima Econômico) de julho da FGV (Fundação Getúlio Vargas), um índice mundial feito a partir de pesquisa qualitativa com economistas independentes (não ligados a governos), desenvolvido pelo instituto alemão IFO desde 1989. Na pesquisa, o Brasil aparece com 55 pontos em julho, a pior avaliação desde os 54 pontos de janeiro de 1991. Indicadores acima de 100 são considerados "favoráveis", indicando expansão e confiança na economia; abaixo desse patamar indicam tendência recessiva. Na avaliação anterior, feita em abril, o país aparecia com 71 pontos. Segundo a professora Lia Valls, responsável pela pesquisa no Brasil, a deterioração do indicador em julho decorre das sucessivas revisões para baixo do crescimento econômico, das perspectivas de investimento, das contas externas, gastos públicos e da resistência da inflação. 2
"Isso apareceu nas outras pesquisas de confiança na economia como da CNI (Confederação Nacional da Indústria)", disse. ÍNDICE DE CLIMA ECONÔMICO (em pontos) PAÍS jan.13 abr.13 jul.13 out.13 jan.14 abr.14 jul.14 BRASIL 118 111 75 95 89 71 55 Argentina 104 67 72 77 77 75 57 Bolívia 108 107 107 108 124 140 113 Chile 132 127 88 104 104 95 89 Colômbia 106 106 122 113 138 137 131 Equador 80 120 100 100 107 100 73 México 113 114 106 89 103 98 102 Paraguai 140 162 145 128 140 130 105 Peru 140 133 111 119 132 134 112 Uruguai 126 95 105 95 100 109 104 Venezuela 30 28 20 20 20 20 20 América Latina 109 103 88 88 95 90 84 Fonte: FGV O número é feito a partir de questionários respondidos por economistas. O clima econômico é uma combinação de dois subitens: situação atual e expectativas nos próximos seis meses. A queda mais acentuada foi da situação atual o indicador desceu de 68 para 42 pontos de abril para julho, lembrando que a média brasileira nos últimos dez anos era de 121 pontos. Já no indicador de expectativas, o recuo foi menos acentuado: 74 para 68 pontos, enquanto a média em dez anos era de 113 pontos. A avaliação do mundo como um todo vem melhorando, resultado da retomada das economias americana e asiática (a desaceleração na China foi comedida), além de certa estabilidade na Europa. Segundo a professora da FGV, o pessimismo no Brasil acelera desde janeiro deste ano passado e "contaminou" a avaliação de toda a América Latina que, com exceção de Argentina e Venezuela, têm indicadores considerados favoráveis. O indicador latino-americano é ponderado pelo peso de cada país no comércio exterior, sendo que o Brasil responde por 23% e o México, por 35%. Chile, Argentina e Venezuela têm 7% cada.
Vendas no varejo recuam 0,7% em junho, aponta IBGE A redução dos dias úteis em função da Copa do Mundo foi o principal motivo que levou o comércio varejista a registrar queda de 0,7% nas vendas em junho frente a maio, que havia tido alta de 0,3%. O resultado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (14) e ficou abaixo das previsões do mercado, que projetavam alta de 0,4%, segundo 29 economistas ouvidos pela Bloomberg. Já as receitas obtidas pelo varejo recuaram 0,2% no período, em seu primeiro resultado negativo desde maio de 2012. No comparativo com o resultado de junho de 2013, o volume de vendas no varejo cresceu 0,8%. No acumulado de 2014, a alta foi de 4,2% e, no corte em 12 meses até junho, foi de 4,9%. SEGMENTOS O segmento de hipermercados e supermercados foi o que sentiu menos o impacto da redução dos dias úteis no período da Copa, e as vendas subiram 0,6% junho frente ao mês imediatamente anterior. Os estabelecimentos, em geral, fecharam no horário dos jogos, mas reabriam logo em seguida. 3
Segundo a gerente da coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Juliana Vasconcellos, também contribuiu o fato de nesses locais venderem itens de primeira necessidade, como produtos de higiene pessoal e alimentos, que mesmo com o torneio não tiveram seu padrão de consumo alterado. O segmento de supermercados foi o único que, em junho, teve variação positiva. VAREJO AMPLIADO O chamado "varejo ampliado" que, além dos oito segmentos também inclui vendas de veículos e material de construção, recuou 3,6% em junho ante maio. O mau desempenho desses dois setores ajudou na queda do índice. Veículos, motos e peças foi o segmento que apresentou a maior queda em junho, de 12,9% frente a maio. No sexto mês do ano, frente a igual período do ano anterior, a queda é de 18,7%. No acumulado de 12 meses, o recuo observado é de 4,3%. Segundo Vasconcellos, os percentuais demonstram que após cinco anos de política de incentivo do governo federal, com redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para motos e veículos, a demanda "acomodou". Esse movimento é reflexo também de uma redução do crédito e do comprometimento maior da renda das famílias com dívidas passadas. A técnica explicou que até nesse segmento, o impacto da redução de dias úteis em função da Copa também foi sentido, já que as concessionárias tiveram menos dias para funcionar. "No caso de veículos, a queda já vem ocorrendo há alguns meses, dado que já se tem um incentivo do governo há cinco anos que proporcionou a acomodação do mercado, a redução do ritmo de crédito que o Banco Central aponta e também a questão das famílias já terem comprometido suas rendas ao longo desse tempo", explicou Vasconcellos. As vendas somente de material de construção caíram 3,9% no período. "As pessoas adiaram reformas e outros tipos de obras em suas casas durante a Copa do Mundo", disse. OUTRAS QUEDAS A atividade relacionada ao mercado de livros, jornais, revistas e papelaria registrou queda de 5,3% em junho frente a maio. Equipamentos e material para escritório tiveram recuo de 4,2%. A redução das vendas de combustíveis e lubrificantes foi de 2,3%. Já móveis e eletrodomésticos tiveram retração de 2,1% no volume de vendas de junho em relação a maio. Tecidos e calçados (-1%), artigos farmacêuticos (-0,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,5%) também recuaram. JUN/JUN ACUMULADO NO ACUMULADO 12 ATIVIDADES JUN/MAI 2013 ANO MESES COMÉRCIO VAREJISTA
-0,7
0,8
4,2
4,9
Combustíveis e lubrificantes
-2,3
-3
4,1
5,3
Hiper e supermercados
0,6
0,5
3,5
3,4
Tecidos e calçados
-1
-2,5
-0,8
1,7
Móveis e eletrodomésticos
-2
0,1
5,1
5,6
Artigos farmacêuticos e perfumaria
-0,9
7,7
10,1
10,8
Informática e comunicação
-4,2
-7
-2,9
3,6
Livros, jornais e papelaria
-5,3
-12,1
-5,6
-2,6
Artigos de uso pessoal e doméstico
-0,5
7,9
9,6
10,2
4
COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO
-3,6
-6,1
0,1
1,9
Veículos e motos
-12,9
-18,7
-7,9
-4,3
Material de construção
-3,9
-4,7
2
4,6
Fonte: IBGE
Com efeito BB Seguridade, lucro do Banco do Brasil cai 62,1% no 2º tri O Banco do Brasil teve lucro líquido de R$ 2,829 bilhões no segundo trimestre, 62,1%inferior ao registrado em igual período do ano passado. Sobre o primeiro trimestre de 2014, houve aumento de 5,6%. A queda anual reflete a base de comparação desproporcional: entre abril e junho de 2013, o banco teve ganho recorde (R$ 7,472 bilhões), inflado pela oferta de ações da BB Seguridade. Em base recorrente, que exclui ganhos e perdas extraordinários, o lucro líquido do maior banco do país foi de R$ 3,002 bilhões, 14% maior em relação ao registrado entre abril e junho de 2013 e 23,2% acima da cifra vista no primeiro trimestre.
O banco apresentou expansão de 12,5% nos financiamentos na comparação anual e de 2,8% sobre o trimestre anterior, totalizando R$ 718,754 bilhões ao final de junho –o correspondente a 21,3% do mercado de crédito nacional–, à frente de Bradesco (R$ 435,231 bilhões), Santander (R$ 279,722 bilhões) e Itaú Unibanco (R$ 518,423 bilhões). O avanço foi possível por causa da manutenção da estratégia de aumentar o crédito de menor risco, como consignado, CDC (Crédito Direto ao Consumidor), financiamento de veículos e crédito imobiliário. Esse perfil de crédito correspondeu por 76% da carteira orgânica do BB, formada por operações com clientespessoa física, que finalizou o primeiro trimestre com saldo de R$ 142,3 bilhões, crescimento de 13,2% sobre o mesmo período de 2013 e de 3,9% em relação a março. CALOTES A inadimplência acima de 90 dias do banco encerrou junho em 1,99%, alta de 0,12 ponto percentual sobre a taxa apurada no segundo trimestre de 2013 e maior que o 1,97% visto em março. Apesar do aumento, o nível de calotes do BB ficou bem abaixo do registrado por seus principais concorrentes privados, que tiveram queda na inadimplência do segundo trimestre, na comparação anual. O Itaú Unibanco, por exemplo, viu a taxa cair para 3,4%, menor nível desde a fusão com o Unibanco, em novembro de 2008. Com a inadimplência maior, o BB elevou as despesas com provisões para calote em 8,32% no segundo trimestre, na comparação anual, para R$ 4,570 bilhões. Sobre o primeiro trimestre, houve aumento de 9,15%.
Governo e teles travam batalha sobre leilão do 4G O governo e as empresas de telecomunicações travam uma guerra de bastidores em torno do leilão de 4G (quarta geração) da telefonia móvel. Em jogo o valor da licença para operar na frequência de 700 MHz (mega-hertz). 5
As teles trabalham para que ele seja feito apenas em 2015 de olho numa redução do preço que terão de pagar pelo serviço. Já o governo quer realizá-lo agora para arrecadar R$ 8 bilhões e contar com ao menos parte desses recursos para fechar as contas públicas neste ano. Segundo a Folha apurou, o governo, que estava mais pessimista, acredita que conseguirá responder aos questionamentos do TCU (Tribunal de Contas da União) para que ele aprove o edital do leilão na semana que vem. A publicação do edital foi suspensa pelo TCU na semana passada até que o governo esclareça algumas dúvidas. Entre elas, como serão bancadas as despesas para o que chamam de "limpeza" da frequência de 700 MHz. Esta faixa hoje é ocupada pelo serviço de televisão aberta, abrangendo os canais de 52 a 69, no sistema analógico. Com a implantação da TV digital, esses canais analógicos terão de ser desligados entre 2016 e 2018, abrindo espaço para operação do 4G.
A pressa do governo em fazer o leilão se deve às dificuldades para cumprir a meta de economia de gastos neste ano, de 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto), por causa da retração na economia. A expectativa inicial era fazer o leilão em meados de setembro. Agora, com os questionamentos do TCU, ele pode ficar para outubro ou novembro. Além disso, o governo quer acelerar a ampliação da telefonia móvel de quarta geração nas cidades de médio e pequeno porte. Já as empresas de telecomunicações trabalham para reduzir o valor do leilão. Primeiro, querem pagar parte do valor com o cumprimento de obrigações de cobertura do sistema de telefonia, reduzidas pelo governo exatamente para aumentar o valor a ser pago pela concessão. Além disso, apostam nas novas tecnologias que permitem a exploração de telefonia móvel de 4G em faixas que algumas delas já possuem atualmente, como 1,8 GHz e 850 MHz, nas quais operam hoje serviços de 2G e 3G (segunda e terceira geração), mais lentos. Fazendo a migração dessas faixas de 2G e 3G para 4G, a tendência é de queda no valor de mercado da frequência de 700 MHz. VELOCIDADE A telefonia móvel de 4G, mais veloz do que a de 3G (30 vezes) e mais eficaz na transmissão de dados e vídeos, já está implantada nas principais regiões metropolitanas do país na frequência de 2,5 giga-hertz (GHz), leiloadas visando a instalação do serviço na Copa. A diferença entre a frequência de 2,5 GHz e 700 MHz é que esta última tem maior alcance, demanda uso de menos antenas e é mais apropriada para regiões menos habitadas dentro do país. Nas grandes cidades, não há muita diferença entre as duas, porque seu uso é mais intenso e, com isso, o número de antenas sempre é maior, o que eleva seu custo. EMISSORAS DE TV Além das teles, as emissoras de televisão têm um pé atrás quanto ao leilão neste ano. Elas resistiam a liberar a faixa, hoje utilizada pelos canais analógicos, por temer interferência do 4G na TV digital no país. Cederam depois que o governo afirmou que serão tomadas medidas para evitar esse problema e montou um esquema para bancar as despesas para o desligamento dos canais analógicos. Mesmo assim ainda preferem que o leilão fique mais próximo de 2016. OPERADORAS Apesar de preferirem que o leilão fique para o próximo ano, as principais teles em operação no país, Telefónica, Oi, TIM e Claro, devem entrar na disputa caso o governo supere as exigências do TCU em torno da divulgação do edital sobre a telefonia de 4G. 6
Segundo relato de diretores de empresas do setor, a principal interessada no adiamento é a Oi, que passa por reestruturação. A Telefónica também prefere que o leilão seja em 2015, mas não deixará de participar neste ano. O governo, segundo a Folha apurou, recebeu garantia de que TIM e Claro estarão na disputa. Reservadamente, as empresas do setor argumentam, porém, que o leilão poderia ser adiado, já que a nova frequência entrará em operação até 2016. Além disso, ainda é preciso completar o ciclo de investimentos na 3G e na 4G, na faixa de 2,5 GHz.
Governo descarta pressão para aderir à sanção contra Rússia O governo brasileiro não teme pressão da União Europeia para que o país desista de substituir as exportações de alimentos para a Rússia. A venda de produtos agrícolas europeus foi bloqueada pelo governo de Moscou em resposta às sanções estalecidas pelo bloco. A mesma medida recaiu sobre EUA, Canadá, Noruega e Austrália, que também adotaram restrições ao país devido à sua posição na crise da Ucrânia. Por ser uma potência no setor, o Brasil passou a ser um dos principais candidatos a se beneficiar pela medida. Qualquer movimento comercial de europeus para minar o avanço brasileiro na Rússia entraria em choque com as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), que não permite retaliação nessas situações, segundo representantes do Itamaraty ouvidos pela Folha.
De acordo com esses interlocutores, o bloco europeu está enviando "mensagens indiretas", porque sabe que a medida política fará com que seus produtores percam mercado num momento difícil. A avaliação é que, caso o Brasil decidisse interferir nas vendas do setor privado para a Rússia, na prática, acabaria unindo-se ao bloco nas sanções, o que não interessa ao país. O governo brasileiro vem mantendo um discurso cauteloso em relação ao conflito na Ucrânia e buscando uma posição neutra. Os ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura não comentam oficialmente a questão. As duas pastas afirmaram apenas que não receberam nenhuma notificação da União Europeia sobre a venda de alimentos para a Rússia. A leitura do governo e do setor privado é que o bloqueio aos produtos de EUA e União Europeia abriu uma janela de oportunidades para o Brasil. A Rússia é sexto principal comprador de produtos agrícolas do Brasil e o principal destino da carne bovina e suína. No ano passado, foram US$ 2,8 bilhões em compras de alimentos, mais da metade em carnes. É justamente o setor de carnes que tende a se beneficiar mais rapidamente com o atrito político entre Rússia, EUA e União Europeia. A Rússia costuma dificultar a autorização para que novas empresas exportem carne ao país, segundo interlocutores da Agricultura. O cenário agora mudou. Até o anúncio das sanções, apenas 57 estabelecimentos brasileiros podiam vender carne para a Rússia. Na última semana, 92 novas unidades de produção de carne bovina, suína e de frango foram habilitadas a exportar. Esses estabelecimentos já estavam aptos a exportar e aguardavam apenas a autorização do governo de Moscou. Representantes do setor privado lembram, contudo, que a habilitação não significa aumento nas vendas de imediato. É preciso que os pedidos comecem a chegar. Caso o aumento das exportações para a Rússia se concretize, o avanço pode ajudar a atenuar a queda nas vendas de produtos brasileiros para outros destinos. Até julho, as vendas para a União Europeia, por exemplo, foram 3,4% menores do que mesmo período do ano passado. 7
Desigualdades na educação Foi publicada no fim de julho a quinta edição do relatório "As desigualdades na escolarização no Brasil", feito pelo Observatório da Equidade, ligado ao "Conselhão". Sua leitura é proveitosa para ter um panorama abrangente e ponderado da educação brasileira, reconhecendo os avanços e apontando as dificuldades. Em particular, o relatório tem o mérito de não só avaliar a evolução dos indicadores médios como olhar para os extremos. Um aspecto que chama a atenção é que o esforço brasileiro se concentra nas novas gerações. Assim, há grupos que estão ficando para trás ou ainda não foram de todo incluídos no processo de universalização. Isso se reflete, por exemplo, no analfabetismo, a mais grave mazela educacional. De 2005 a 2012, a taxa caiu de 11,1% para 8,7%, porém entre as pessoas com mais de 60 anos a queda foi de 24,8% para 24,4%. Fica a impressão de que os analfabetos idosos estão abandonados, enquanto se aguarda que o curso natural da vida acabe com o analfabetismo. É difícil mesmo combatê-lo entre adultos. Seria necessário que isso se tornasse uma bandeira nacional. Como preferimos "calar e consentir", é bom que ao menos se registre que o problema persiste. É mais difícil fazer o mesmo quanto às desigualdades entre os meios urbano e rural. De 2005 a 2012, a proporção de jovens de 18 a 24 anos que completaram o ensino médio foi de 44% para 54,7% –algo substancial, ainda que longe da universalização e representando grande desafio para a reformulação do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Nas cidades, o indicador subiu de 49,3% para 58,4%, e, nas zonas rurais, de 17,8% para 31,9%. A iniquidade tem caído, mas ainda representa grande desvantagem para os jovens do campo. Um caso bem-sucedido tem sido o da educação infantil, cujo crescimento é notável, em especial nos grupos mais vulneráveis. Como se sabe, os estímulos cognitivos e sociais nessa idade são cruciais para o sucesso educacional de longo prazo. O percentual de crianças de quatro e cinco anos de idade que vão à escola passou de 62,7% em 2005 para 78,2% em 2012. No campo, foi de 44,5% para 66,7%, e, nas cidades, de 67,6% para 80,7%. Entre os 20% mais pobres, a evolução foi de 52,8% para 71,2%, enquanto no quinto mais rico foi de 86,9% para 92,5%. Isso é fruto da inclusão dessa faixa etária na educação básica ao se criar o Fundeb, em 2007. A universalização deve ser obtida nos próximos anos, já que em 2013 passou a ser obrigatório frequentar escolas a partir dos quatro anos. Quer dizer, prioridade legal e orçamentária faz diferença nas políticas públicas. Isso remete a um tema que tem se tornado controverso: a expressiva elevação dos gastos por aluno, que a valores constantes passaram de R$ 1.993 em 2005 para R$ 4.267 em 2011. Analistas conservadores têm defendido que tal aumento não melhora o desempenho dos alunos. Essa avaliação, que pode vir acompanhada de testes econométricos, tende a não levar em conta que a elevação de gastos é recente e que são longos os períodos de maturação dos esforços em educação, em especial quando se parte de um sistema muito precário. Uma evidência disso é que os resultados dos alunos no ensino fundamental, cujos aumentos de gastos se iniciaram ainda nos anos de 1990, são hoje melhores do que os do ensino médio. Também é preciso lembrar que o desafio é descomunal. Pagando o preço de ter sido de longe o principal país escravocrata, a taxa de analfabetismo era em 1950 de mais de 50%. Só no fim da década de 1980 é que se chegou à metade dos adultos com ao menos o primário completo. A busca da universalização da educação se tornou efetiva só a partir da Constituição de 1988. Desde então, a melhora tem sido consistente tanto na ampliação do acesso quanto no aumento da qualidade, como mostram os resultados de avaliações nacionais (Ideb) e internacionais (Pisa). 8
Não obstante, o relatório do Conselhão mostra que na educação brasileira ainda há muito a caminhar e desigualdades a combater. A contenção de gastos parece ser uma sugestão longe dessa realidade. Estou triste e chocado. Meus pêsames à família de Eduardo Campos e às de todas as vítimas do desastre de ontem.
GM: Montadora anuncia investimento de R$ 6,5 bi no Brasil em 5 anos BRASÍLIA - A CEO mundial da General Motors (MG), Mary Teresa Barra, anunciou nesta quintafeira que a empresa investirá R$ 6,5 bilhões nos próximos cinco anos no Brasil. A informação foi dada após encontro com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Ao iniciar sua fala, Mary manifestou condolências pelo falecimento do candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB), ocorrida ontem. “Tivemos também a oportunidade de discutir quais medidas podem ajudar a indústria e agradeci os esforços feitos para o setor, como redução do IPI e melhoria das condições desse imposto para a compra de veículos”, afirmou Barra que, ao lado de Dilma, disse que os investimentos serão detalhados nos próximos dias. A executiva afirmou que os recursos anunciados serão aplicados na produção atual e em melhorias e adequações da produção à legislação brasileiraprevistas no InovarAuto. “Estamos no Brasil há quase 90 anos. Reconhecemos que há desafios no médio e longo prazos e continuaremos aqui”, disse a executiva, após afirmar que a General Motors investiu R$ 6,7 bilhões no ano passado. “Nosso compromisso é de longo prazo”, acrescentou, em breve entrevista à imprensa ao término da reunião, evitando comentar perspectivas de demissões na América Latina.
Arminio projeta ajuste fiscal em dois anos Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e principal assessor econômico do candidato Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República, desenhou um ajuste em dois tempos, ontem, ao falar sobre as mudanças necessárias para a economia brasileira. Para Arminio, o realinhamento dos preços públicos deveria ser feito o mais rápido possível, mas "com cuidado", enquanto para o ajuste fiscal ele acha mais prudente pensar em um horizonte de dois anos. Armínio não usou o termo "tarifaço", mas ao responder a uma pergunta sobre se achava necessário corrigir imediatamente o desalinhamento de preços como combustíveis e energia elétrica, ponderou que "fazer o ajuste [logo] é bom", porque o país está caminhando para mais um ano recessivo e corrigir mais rapidamente os desequilíbrios ajudaria a trazer mais crescimento, e não menos. Na sua avaliação, os retornos positivos do ajuste viriam "mais rápido que se imagina". Ele comparou o atual momento com 1999, quando, após medidas drásticas (entre elas um forte aumento da taxa de juros), o país cresceu rapidamente na sequência. "Entre o fim de 1999 e 2000, crescemos por seis trimestres seguidos a uma taxa anualizada de 4%", disse. Arminio falou na qualidade de representante econômico de Aécio, em fórum organizado pela revista "Exame". Ao defender a volta do tripé macroeconômico de câmbio flutuante, metas de inflação e superávit fiscal, classificou o câmbio como semicongelado, defendeu um superávit primário superior à meta atual de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e a convergência da inflação para a meta de 4,5%, em um primeiro momento, para, depois, gradativamente, buscar uma meta menor. "Primeiro vamos chegar no 4,5%. Acho que deve ser mais baixa, eu gostaria disso, mas vamos puxá-la para menos bem gradualmente", afirmou. 9
Sobre o ajuste fiscal, defendeu total transparência das contas públicas e disse que achava mais prudente pensar em prazo de dois anos para essa arrumação nos gastos, mas não deu detalhes de como isso poderia ser feito. Sobre as desonerações que beneficiam o setor empresarial boa parte da plateia presente ao evento - ponderou que elas precisam ser avaliadas. "O governo tem a ilusão de que está dando ao empresário o que ele quer, mas o empresário não quer fazer lobby em Brasília. Então, falta transparência, falta avaliação para saber que medidas estão dando certo ou não." Para Arminio, a economia brasileira já vive um quadro de recessão e há um congelamento de preços que precisa ser desmontado. Ele argumentou que o governo quer transferir à oposição a crítica de que fará um arrocho, quando "o arrocho já esta aí e foi feito por esse governo", disse ele, fazendo referência à inflação de 6,5% com economia estagnada.. "Não interessa se o termo é recessão técnica, a economia não cresce", disse. "O modelo está errado. Felizmente, tem cura para o que está errado." Além da ideia do arrocho, Arminio elencou mais cinco "mitos" que, segundo ele, o governo tenta "vender" e que são falaciosos ou mentira. O segundo mito seria o de que basta estimular a demanda para o país crescer; o terceiro, que o governo anterior (de Fernando Henrique Cardoso) quebrou o Brasil e foi o governo petista que pagou o Fundo Monetário Internacional (FMI); a quarta ideia errada é que a oposição fará um tarifaço ("a pergunta que deve ser feita é quem congelou os preços e criou essa distorção"); a quinta ideia é que a crise atual é culpa da fraca economia mundial; e, por fim, a avaliação de que com crédito barato, câmbio alto e desoneração você resolve o problema da indústria. Em debate que antecedeu a apresentação de Arminio, o diretor-presidente do J. P. Morgan, José Berenger, e o presidente do Conselho de Administração do Goldman Sachs, Paulo Leme, também defenderam o tarifaço. Para ambos, o realinhamento dos preços públicos - energia e combustíveis, especialmente - deveria ser feito de uma vez e no começo do próximo governo. "Eu faria [o tarifaço] de forma direta, de uma só vez, para corrigir os atrasos", disse Berenger. Para Leme, Dilma Rousseff, se reeleita, fará um governo de continuidade da atual política econômica. Ele também acrescentou a necessidade de soltar o câmbio, além do tarifaço, para corrigir o desalinhamento de preços.
IBGE: Adiamento de obras reduz venda de material de construção RIO - As vendas de material de construção recuaram na passagem de maio para junho em razão do adiamento de pequenas obras e reformas, devido à Copa do Mundo, e da menor disponibilidade de crédito para os consumidores. A avaliação foi feita pela gerente da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Juliana Vasconcellos. De acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), as vendas de material de construção caíram 3,9% em junho na comparação com maio, na série livre de influências sazonais. Foi a maior queda do setor desde março deste ano, quando recuou 4,4% em relação a março, descontados os efeitos sazonais. "Com a Copa do Mundo, as pessoas adiaram a realização de obras e reformas em suas casas. O crédito também diminuiu", disse a especialista do IBGE. Informações repassadas pelo IBGE e atribuídas ao Banco Central indicam que a taxa do crédito com recursos livres passou de 16,4% em 12 meses encerrados em junho do ano passado para 11,8% em junho de 2014, também em 12 meses.
CNI: Coeficiente de importação aumenta para 21,8% no 2o. trimestre BRASÍLIA - O coeficiente de importação da indústria aumentou no segundo trimestre e chegou a 21,8%, ante 20,6% no segundo trimestre de 2013, divulgou nesta quinta-feira na Confederação Nacional da Indústria (CNI). O indicador mede a participação de produtos importados no consumo doméstico. Ele está crescendo desde o primeiro trimestre de 2010, quando foi de 15,9%. Já o coeficiente de 10
exportações cresceu 0,5 ponto percentual e chegou a 19,2% no segundo trimestre deste ano, ante 18,7% no segundo trimestre de 2013. “Pelo segundo trimestre consecutivo, o indicador praticamente não muda”, avaliou, em nota, a CNI. Esse segundo índice “mede a importância das vendas externas para a indústria brasileira”, explicou a entidade.
Mercado vê mais incertezas na disputa presidencial A disputa presidencial deve ficar mais acirrada após a morte do candidato do PSB Eduardo Campos, aumentando as chances de um segundo turno, segundo especialista ouvidos pelo Valor. O grau de incerteza sobre o desfecho da corrida ao Palácio do Planalto, contudo, aumentou, o que deve deixar os mercados financeiros ainda mais voláteis daqui até outubro. Ontem, a Bovespa deu uma amostra disso, ao cair 1,5%, com as ações da Petrobras mergulhando quase 5%. Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, a tendência natural é que Marina Silva se torne cabeça de chapa, substituindo Campos. "Marina deve aumentar a transferência de votos de indecisos para a oposição. Muitas mulheres, especialmente as mais pobres, que antes estavam indecisas ou tinham alguma identificação com Dilma, podem acabar migrando seus votos para Marina", avalia Velho. Ele destaca que a maior chance de um segundo turno tende a ser positiva para o mercado, uma vez que os investidores desejam uma mudança de governo, tendo em vista o perfil mais intervencionista da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). Por outro lado, o desfecho da eleição é uma "incógnita". "O quadro fica indefinido porque na última eleição Marina ficou neutra. Não sabemos como ela vai se comportar, caso Aécio vá para o segundo turno contra Dilma", explica. O diretor para mercados emergentes nas Américas do Nomura Securities, Tony Volpon, também vê maiores chances de as eleições irem para um segundo turno, fato que ele considera negativo para a presidente Dilma Rousseff. Para Volpon, a candidatura de Marina Silva pode receber um "grande impulso inicial" devido à consternação do povo com o falecimento de Campos. "Não podemos dizer se isso será grande e durável o suficiente para torná-la uma candidata competitiva, embora não possamos descartar totalmente suas chances de ir ao segundo turno", diz o diretor do Nomura, que ainda aposta em uma vitória do candidato tucano Aécio Neves. Ele lembra que em 2010 pesquisas de boca de urna mostraram que 50% dos votos dados a Marina no primeiro turno das eleições daquele ano migraram na segunda etapa do pleito para José Serra, então candidato do PSDB. Dilma ficou com 29%. "Mantemos nossa visão de que o resultado provável da eleição de outubro será um segundo turno apertado com a vitória de Aécio Neves. Os eventos tristes de hoje [ontem] tornam em último caso esse resultado mais provável, em nossa opinião", escreveu Volpon em relatório a clientes. A economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças e professora da PUC-Rio, reconhece que o mercado pode ter alguns receios quanto à posição de Marina Silva e à sua postura de não fazer alianças com partidos que não compartilhem de sua visão, o que dificulta a execução de reformas cruciais. "Os receios podem existir, as críticas também, mas do que se pode acusar Marina? O que se viu até agora foram trocas de acusações sobre corrupção de parte a parte. Se Marina for candidata, os demais candidatos serão forçados a reposicionar o debate e a fazer proposições. Estamos na estaca zero. Podemos rasgar todas as pesquisas e começar de novo se o PSB indicar Marina à Presidência", argumenta. O diretor de pesquisas para mercados emergentes do EurasiaGroup, Christopher Garman, acredita que a eventual candidatura de Marina dificulta o "quadro de polarização" buscado pelo PT e diminui as chances de reeleição de Dilma. Nesse novo cenário, a polarização entre Dilma e Aécio tende a ser menor, o que levará o mercado financeiro a abandonar a leitura "binária" das pesquisas eleitorais.
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Zona do euro tem economia estagnada no 2º trimestre e inflação baixa SÃO PAULO - A inflação anual na zona do euro arrefeceu em julho e foi a menor desde outubro de 2009, mostrou a agência de estatísticas Eurostat. O índice de preços ao consumidor na região registrou alta de 0,4% ante o sétimo mês de 2013, após avanço de 0,5% em junho, no mesmo tipo de comparação. Na base mensal, houve deflação, de 0,7%. Ao mesmo tempo, o Eurostat mostrou que a economia da zona do euro ficou estável no segundo trimestre, em relação aos três meses anteriores, quando teve crescimento de 0,2%. Com isso, o quadro europeu continua sendo de fraco desempenho econômico, com alto desemprego e baixa inflação. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, já havia alertado que uma taxa de inflação inferior a 1%, metade da meta perseguida pela autoridade monetária, estaria em uma "zona de perigo", o que poderia levar a uma espiral deflacionária. Para estimular a economia, o BCE lançou uma série de medidas, como uma taxa de depósito negativa, e continua monitorando o cenário para avaliar o impacto dessas decisões. Na União Europeia, a inflação anual foi de 0,6% em julho, menor do que o 0,7% de junho. Entre o sexto e o sétimo mês deste ano, foi registrada deflação, de 0,5%. Quanto ao desempenho da economia do bloco, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,2% entre abril e junho, seguindo um crescimento de 0,3% nos três primeiros meses do ano. Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia da zona do euro teve ampliação de 0,7% e a da União Europeia, de 1,2%.
2002 e 2014: mitologia e fatos Uma eleição presidencial possivelmente acirrada, com perspectiva de alternância de poder, como em 2002, suscita discussões sobre paralelos e diferenças. O primeiro tema é a Carta ao Povo Brasileiro, na qual o então candidato Lula se comprometeu com políticas econômicas responsáveis, que teria devolvido a calma aos mercados. A Carta foi sem dúvida uma iniciativa inspirada dos assessores do candidato e um ato de coragem política do mesmo (o documento foi na contramão de texto anterior de seu partido, que pregava a ruptura com as políticas econômicas adotadas em 1999). A Carta pode ter sido condição necessária para a superação da crise de confiança, mas não foi suficiente. Na verdade, entre a divulgação da Carta, em junho, e o pior momento da crise de confiança, em meados de outubro, o real depreciou 41% ante o dólar, que chegou a custar R$ 3,95, ao mesmo tempo em que a bolsa caiu 22%. A crise de confiança começou a se desmontada quando o presidente eleito e seu ministro indicado, Antônio Palocci, começaram a sinalizar que parte da equipe econômica do governo anterior, em especial no BC, seguiria em seus cargos, e que as trocas que porventura ocorressem envolveriam pessoas com credibilidade, o que de fato ocorreu. No contexto atual, pode ser pouco razoável esperar um documento semelhante à Carta vindo do atual governo, em especial durante a campanha eleitoral. Isto porque dificilmente o mesmo deixaria de ser visto como admissão de que a tentativa de substituir o tripé macroeconômico de 1999 por uma nunca plenamente articulada nova matriz econômica foi um equívoco. O verdadeiro sinal, que só deve vir depois de uma possível reeleição, será o anúncio da composição da equipe econômica para o segundo mandato. Outro tema para discussão refere-se à possibilidade e potenciais custos da desinflação na virada de 2002 para 2003 e atualmente. Naquela transição, seja pelo efeito da depreciação cambial, seja pelo questionamento sobre o compromisso do novo governo com o regime de metas para a inflação (objeto de fortes críticas por parte de alguns dos mais proeminentes economistas do partido vitorioso), as expectativas terminaram o ano em estado muito preocupante: segundo a pesquisa Focus do BC, o consenso para 2003 era de 11%, e 8% para 2004. Além disso, a deterioração das expectativas contribuiu para a piora da própria inflação corrente, que terminou com uma taxa de 12,5% no ano. 12
Em 2014, a julgar pela expectativa de consenso, a inflação deve terminar o ano em 6,3%. É sabido que o IPCA cheio reflete em parte medidas de controle de preços de caráter temporário, queno Brasil Plural estimamos equivalentes a 1,5% - referentes a tarifas elétricas, passagens de ônibus urbanos em certas capitais, gasolina, etanol e óleo diesel. Assim, mesmo que, em uma hipotética terapia de choque, somarmos ao índice cheio o total da estimativa da inflação reprimida, a inflação terminaria o ano em 7,8%, ainda bem abaixo do resultado de 2002. As expectativas para o ano que vem, atualmente também em 6,3%, certamente seriam sensibilizadas por uma correção imediata da inflação reprimida, mas dificilmente a ponto de levar para os patamares vistos em 2003. É claro que, em tese, é possível que uma combinação de choques leve a taxa de câmbio para patamares bem superiores aos atualmente esperados pelo mercado para o fim de 2014 (R$ 2,35 por dólar), mas esse cenário não é o mais provável, de modo que, ao final de 2014, a expectativa para a inflação nos doze meses findos em dezembro de 2015 não deve fugir muito do intervalo atual. Se ainflação corrente e esperada constituíam um ponto de partida difícil para um processo de desinflação a partir de 2002, sob dois aspectos a situação atual pode ser tão ou mais desafiadora. Em primeiro lugar, ao final de 2002 o real parecia, por diversas métricas, subvalorizado. Isto significa que a taxa de câmbio real tenderia, todo resto constante, a apreciar. Atualmente, seja por estimativas baseadas na paridade do poder de compra, ou no equilíbrio a médio prazo do saldo em conta corrente, o real parece sobrevalorizado e a taxa de câmbio real apresenta tendência de depreciação. Ocorre que apreciação cambial real pode se dar via ajuste nominal, ou via taxas de inflação domésticas superiores às observadas nos parceiros comerciais. Em 2003 tivemos os dois, mas a apreciação nominal foi dominante, respondendo por 69% da apreciação real, o que, por sua vez, refletiu a redução do risco país (medido pelo CDS de 5 anos), que saiu de 3.790 pontos base em setembro de 2002 para 573 pontos base um ano e meio depois. Este movimento decorreu das políticas adotadas, com expressivo aumento do superávit primário e manutenção das taxas reais de juros em patamares elevados, 13% ao ano em média em 2003. Com uma resposta de política econômica mais débil provavelmente teríamos observado apreciação real pela via inflacionária. Pessoas e políticas fizeram diferença. Atualmente a perspectiva dominante de depreciação cambial, se aumenta a complexidade do quadro, de forma alguma inviabiliza a desinflação. Atingir 4,5% de inflação ao final de 2015 teria exigido a continuidade do processo de aperto monetário, bem como uma política fiscal e parafiscal bem mais rígida no ano corrente. Mas atingir um objetivo intermediário, algo como 5,5%, com ajuste de preços represados e flutuação cambial ao final de 2015 deve ser possível sob políticas de demanda apropriadas. Ajudaria muito se o novo governo empregasse seu capital político inicial para aprovar reformas institucionais (autonomia formal do BC, nova Lei Fiscal que amarre a dívida bruta e aumente a flexibilidade dos gastos). A alternativa, para evitar a consolidação da inflação elevada, seria estressar a calibragem dos instrumentos.
O Brasil dos meus sonhos Há momentos em que sonho: o IBGE está subdimensionando os cálculos do PIB das Contas Nacionais! Sonhei isto a primeira vez quando a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República mostrou que a renda familiar pela PNAD cresce bem mais que o PIB das Contas Nacionais, o que estaria mostrando erro no cálculo do PIB. Entretanto, fui despertado desse sonho quando lembrei que a renda familiar é apenas uma parte do PIB. E, olhando o passado, este resultado se inverte em vários anos: que pena, o cálculo do PIB está correto! Na semana que passou voltei a sonhar: foi anunciado no Valor (dia 8 de agosto, página A9) por um economista da empresa LCA, que o IBGE estaria subdimensionando o valor do PIB da Indústria de Transformação. Segundo o estudo da LCA, as Pesquisas Anuais (da Indústria, da Construção e do Comércio), mostrariam um quadro muito diferente daqueles do PIB das 13
Contas Nacionais. Diz o estudo que na revisão que o IBGE divulgará no próximo ano, os resultados da produção industrial serão bem superiores aos que se conhece pelas Contas Nacionais trimestrais e que elevará substancialmente o valor do PIB dos anos posteriores a 2009. Adiciona ainda um gráfico relacionando a evolução consumo de energia e do PIB, chamando a atenção que o consumo de energia não caiu tanto quanto o PIB no período recente, corroborando que o PIB está sendo subdimensionado pelo IBGE. Não foi dito no estudo, mas por aqueles cálculos pode-se derivar que a produtividade da indústria de transformação estaria bombando, e a competitividade da indústria brasileira seria fantástica. Além disso, a participação da indústria no PIB seria bem maior do que aquela que tem se mostrado nas contas nacionais - portanto, poder-se-ia concluir que essa conversa de desindustrialização é papo de economista pessimista; teríamos que passar a discutir o fenômeno da reindustrialização brasileira a partir da introdução do PAC. E esse produto industrial maior não é exportado, pois estamos dando preferência ao consumo das famílias brasileiras que tem tido um notável aumento de sua renda média, como mostrou a SAE. Viva! Comecei a despertar deste novo sonho quando pensei cá comigo, inicialmente, que o estudo deveria mostrar a relação entre consumo de energia na indústria e o PIB da indústria; se o fizesse, constatei, ficaria evidente que a evolução dos dois anda colada como sempre o fez. A comparação da LCA está errada. Continuando minha desconfiança, lembrei-me que as pesquisas anuais do IBGE (a PIA entre elas) são divulgadas por empresas e, portanto, uma empresa ao produzir diferentes produtos, será classificada na atividade econômica em que se classifica o seu produto principal, ou seja, com maior valor da produção. Explico: a Petrobrás é classificada na PIA (Pesquisa Industrial Anual) na atividade de refino de petróleo, que é uma atividade da indústria de transformação. Toda sua produção de mineração (petróleo) e transporte (Transpetro) e eventualmente outros será classificada na PIA como produtos da indústria de transformação, superdimensionando o valor da indústria de transformação da PIA. As contas nacionais procedem de forma diferente: identifica e desmembra cada unidade local da Petrobrás (afinal a Petrobrás não refina petróleo no mesmo local que o extrai) e as classifica pelo seu produto principal na atividade correspondente. Logo, a previsão da LCA de que o PIB da Indústria de Transformação é muito maior e está crescendo mais do que revela o PIB trimestral está errada. Como não tenho elementos para reproduzir os mesmos procedimentos das contas nacionais, restou-me olhar para o passado recente, diferenciando os anos em que o IBGE já incorporou nas contas nacionais as pesquisas industriais anuais e quando não o fez. Assim é que, de 2007 a 2009 para a atividade da indústria de transformação, o problema apontado pelo estudo (PIB da PIA superior ao PIB das contas nacionais) é observado para todos os anos, à exceção de 2009. Mas esta comparação está errada e, portanto, não é utilizada para cálculo do PIB nas contas nacionais da forma como é divulgado pela PIA. Podemos buscar evitar o problema de classificação entre apenas essas duas atividades se somarmos à Indústria de Transformação a Extrativa Mineral; fica claro que o PIB da IT+EXM fica por cima no período 2007-2009 e mesmo em 2010 quando o IBGE ainda não incorporou a PIA no PIB. Para 2011, o valor de ambas é próximo e, para 2012, a distância é menor do que quando se compara apenas a Indústria de Transformação. Ou seja, o exemplo da Petrobrás acima quando aplicado apenas para a extrativa mineral se reproduz claramente. Podemos imaginar isso em algumas outras atividades e verificar que não há subdimensionamento no PIB. Podemos concluir que um elemento básico, que é a classificação da empresa, pode explicar as diferenças erradamente apontadas pelo estudo da LCA e, em momento algum, se pode concluir que os resultados das contas nacionais serão revistos substancialmente para cima em razão da incorporação das pesquisas industriais anuais. Os procedimentos do IBGE para o cálculo do PIB são bem mais complexos do que soma e subtração. Mas, quem preferir pode acreditar que "a produção industrial e, por conseguinte, o PIB da economia brasileira é bem superior aos valores conhecidos e cresce mais, e isso ficará evidente quando o IBGE incorporar as pesquisas estruturais de 2010 em diante". 14
Mas isso é um sonho sem qualquer chance de se tornar realidade. De fato a indústria brasileira está derretendo, tem baixa produtividade e é pouco competitiva; com isso, o PIB sofrerá neste próximo segundo trimestre uma forte queda só superada pelo que ocorreu no período dos primeiros 9 meses de 2009 em que a marolinha (segundo Lula, que assim apelidou a Tsunami da crise financeira), impactou o Brasil.
Como a Copa garantiu prejuízo menor da GOL no trimestre No período, a GOL somou prejuízo de 145 milhões de reais. No segundo trimestre de 2013, as perdas foram de 433 milhões de reais. Segundo Paulo Kakinoff, presidente da companhia aérea, o trimestre foi marcado por 8.000 voos adicionais por conta da Copa. “No total, foram 28.149 voos comerciais durante o Mundial, uma média de 900 voos por dia”, disse o executivo, em teleconferência com analistas e investidores, nesta quinta-feira. Durante a Copa, a GOL transportou 3,4 milhões de passageiros e registrou uma taxa de ocupação superior a 81%. Outro fator que ajudou os resultados da GOL no período foi o crescimento de 24% na receita líquida, que totalizou 2,3 bilhões de reais – número recorde para um segundo trimestre. Já a geração de caixa medida pelo Ebitdar (lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e leasing de aeronaves) ficou em 375,2 milhões de reais, alta de quase 60% em relação a 2013.
Impostômetro atinge R$ 1 tri 15 dias mais cedo que em 2013 São Paulo - Um trilhão de reais: este foi o total arrecadado por impostos no Brasil em 2014 até as 11 horas desta terça-feira. Por hora, são cerca de R$ 159 milhões. Por segundo, R$ 44 mil. A estimativa é do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e inclui tributos municipais, estaduais e federais. O valor será atingido 15 dias antes do que no ano passado. Para Rogério Amato, presidente da ACSP, isso significa aumento da carga tributária: "É um descompasso: a arrecadação cresce mais do que a economia brasileira. O contribuinte paga muito e, em contrapartida, não tem um retorno compatível - os serviços públicos deixam a desejar." Turnê Para chamar atenção para o assunto, a ACSP vai levar a partir de hoje o "Caminhão do Impostômetro" para seis cidades do interior paulista: Sorocaba (13/8), Campinas (14/8), Mogi das Cruzes (15/8), São Carlos (18/8), Santos (19/8) e São José dos Campos (20/8). Ele ficará estacionado em pontos estratégicos e terá atividades lúdicas e educativas para chamar a atenção sobre os impostos embutidos em vários produtos. Uma lei que obriga as empresas a discriminar os impostos na nota fiscal foi regulamentada recentemente, mas a fiscalização será apenas orientadora até o fim do ano. O painel do Impostômetro foi instalado em 2005 na Rua Boa Vista, no centro de São Paulo, e também pode ser acompanhado pela internet. Carga tributária A carga tributária brasileira subiu 10 pontos percentuais só nos últimos 20 anos. Na América Latina, só perdemos para a Argentina no peso dos impostos. O brasileiro médio trabalha 151 dias por ano (5 meses) para quitar sua parcela, segundo o IBPT. Como a participação dos impostos indiretos é desproporcional e pesa mais sobre os mais pobres, os brasileiros mais ricos acabam tendo uma carga tributária menor do que na média do G-20, segundo a PwC. A sonegação também é alta e já atingiu R$ 300 bilhões em 2014, segundo estimativa do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz).
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