SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 15 DE SETEMBRO DE 2014
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País tem 3,5 milhões de empresas inadimplentes Fonte: Folha de São Paulo TONI SCIARRETTA PAULO15/09/2014 02h00 11h 45
e ANAÏS FERNANDES de SÃO
Mais de 3,5 milhões de empresas estavam em julho comdívidas em atraso no país, segundo os critérios da Serasa, resultado da queda das vendas e do aumento de custos com fornecedores, funcionários e bancos. É o maior volume de inadimplentes járegistrado no setor produtivo, segundo a Serasa, dona do maior banco de dados de crédito do país. O levantamento considera dívidas bancárias com atraso acima de 90 dias, dívidas tributárias em fase de execução ou incluídas na dívida ativa da União, do Estado ou do município. Para dívidas com fornecedores, foram consideradas aquelas que estão em fase de protesto, ou seja, quando o credor pede para incluir o devedor na lista. O número equivale à metade dos 7 milhões de empresas "operacionais" no país, segundo os critérios da Serasa. Para a empresa de crédito, é operacional a companhia que pesquisou a situação cadastral de um cliente ou teve o seu CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) consultado no último ano. A Receita Federal, que emite o CNPJ, contabiliza cerca de 14 milhões de cadastros ativos, incluindo companhias não operacionais (holdings, fundos, empresa de participação etc.), além de firmas que faliram, mas não derambaixa no cadastro de contribuinte. Mesmo contando os CNPJs emitidos, os inadimplentes somam 25%. São empresas que, pelos mais diversos motivos, estão com débito em atraso no banco, deram cheque sem fundo, tiveram títulos protestados, enfrentam ações judiciais porque não pagaram fornecedores ou funcionários, tiveram (ou terão) a luz e o telefone cortados ou entraram em recuperação judicial processo em que pede prazo para negociar com credores. Portanto, têm dificuldades para tomar dinheiro emprestado e comprar a prazo. Os números da Serasa não incluem os débitos na Receita Federal, no INSS e nos Fiscos estaduais e municipais, com exceção daqueles em fase de execução ou inscritos na dívida ativa. Do total de inadimplentes, 91% são empresas de pequenoe médio portes com faturamento de até R$ 50 milhões por ano-, tidas como as mais vulneráveis às flutuações das vendas e do crescimento da economia. São ainda as empresas que mais empregam no país respondem por 52% dos empregos formais, segundo o SEBRAE.
Um terço dessas companhias está no Estado de São Paulo, que concentra o maior número de pequenas empresas. Os setores mais afetados são comércio (47%), serviços (42,6%) e indústria (9,1%). Para Luiz Rabi, economista da Serasa, o número de empresas inadimplentes mostra o microcosmo da recessão técnica do país, após dois trimestres de contração no PIB. "A empresa fica inadimplente porque não tem caixa para pagar as contas, pois não vendeu como esperava. Ao mesmo tempo, aumentou o custo de materiais, aluguel, salários e os juros do banco." RECORDES Foi a primeira vez que a Serasa fez o levantamento pelo número de CNPJ com pendências. Até então, pesquisava o número de dívidas em atraso. Como o dado batia recorde após recorde (subiu 11,4% em julho, na comparação com julho de 2013), decidiu ver o número de empresas. 2
Para comparar com os anos anteriores, retroagiu ao máximo em seu próprio banco de dados. Descobriu que os 3,578 milhões de inadimplentes de julho deste ano são 8,9% a mais do que os 3,286 milhões de julho de 2013. "Sabemos que o índice de mortalidade das empresas pequenas é alto. Mas não se trata de um crescimento vegetativo dessa mortalidade. Houve aceleração, o que indica uma piora considerável na economia", disse Rabi. Para Joseph Couri, presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo, os dados não surpreendem: "É o dia a dia da maioria das pequenas indústrias brasileiras neste ano". FEIRÃO Pela primeira vez, a Serasa decidiu realizar um feirão para limpar o nome de empresas, como faz com consumidores. O evento será on-line e prevê desconto para renegociar débitos em atraso. Irão participar os principais bancos, além das elétricas AES Eletropaulo e Bandeirante, a agência CVC, as teles Oi, TIM e GVT, entre outros. O feirão começa nesta segunda-feira (15) e vai até a meia-noite desta sexta (19). Para limpar o CNPJ, a empresa precisa fazer um cadastro no site da campanha (www.limpanomeempresas.com.br), verificar suas pendências e começar a negociação.
Juros passam por correção e cedem após disparada na semana passada Fonte: Jornal Valor Lucinda Pinto15/09/2014 às 11h08 SÃO PAULO - Os juros futuros passam por um movimento de acomodação nesta segundafeira, após iniciarem a sessão com alta forte. Segundo operadores, a ausência de notícias sobre eleições e o tom de compasso de espera no exterior justificam essa pausa no nervosismo. De todo modo, quando se observa a inclinação da curva a termo, fica evidente que o tom cauteloso permanece. A diferença entre o DI janeiro/2017 e o DI janeiro/2021 diminui para -0,08 ponto. Segundo operadores, a inclinação só não voltou a ficar positiva porque o DI janeiro/2017, o mais líquido, subiu muito e resiste a devolver seu prêmio. “Por ser mais líquido, muita gente acaba zerando posição vendida nesse contrato, que acaba ficando distorcido em relação aos demais ativos”, diz um analista. “Como a taxa fica alta, a inclinação da curva fica negativa.” No exterior, o comportamento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) contribui para o ajuste que se vê nos DIs. A T-note de 10 anos é negociada a 2,582%, de 2,614% na sexta-feira. Esse recuo é também uma correção, após a forte onda de venda de títulos na semana passada, quando a expectativa pela decisão do Federal Reserve agitou os mercados. Às 10h51, DI janeiro/2017 era negociado a 11,68%, de 11,74% no ajuste de sexta-feira. DI janeiro/2021 tinha taxa de 11,62%, ante 11,68% na última sessão.
Dilma chama grandes empresas a SP para anunciar medidas de estímulo Fonte: Folha de São Paulo VALDO CRUZ de BRASÍLIA 13/09/2014 02h 00 Enquanto a campanha petista sataniza empresários para atacar Marina Silva (PSB), a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff tenta fazer um caminho oposto. Agendou para esta segunda-feira (15) reunião comexecutivos de 20 grandes empresas brasileiras com atuação no exterior para discutir e anunciar medidas. Entre as propostas em debate, e que podem ser anunciadas, está a redução do Imposto de Renda cobrado sobre o lucro no exterior destas multinacionais brasileiras. 3
Em pauta, também, alterações na cobrança do PIS/Cofins, que seriam feitas no próximo ano, como a simplificação dos dois tributos. A reunião, que será realizada no escritório da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em São Paulo, faz parte da estratégia da equipe econômica de se aproximar do empresariado e melhorar a confiança do setor privado nos rumos da economia. PARTICIPANTES Pelo setor privado, vão participar os presidentes da CNI, Robson Andrade, e o da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Benjamin Steinbruch, além de executivos de empresas como Odebrecht, Embraer, Vale, Marcopolo, Gerdau, Brasken, Votorantin, CSN, Iochpe e WEG. A reunião será comandada pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), que busca mostrar que segue trabalhando normalmente depois de a presidente Dilma afirmar que ele não fará parte de um eventual segundo mandato. Durante a reunião, o empresariado espera que sejam discutidas ainda ações para compensar a perda de competitividade da indústria brasileira provocada pela taxa de câmbio num patamar que não é considerado ideal. A atuação do BC até o mês passado estava mantendo o valor do dólar abaixo de R$ 2,30. Agora, com sinais de mudança na política monetária americana, a cotação subiu, o que agrada a indústria. CALENDÁRIO A reunião segue um calendário montado pela Fazenda de reuniões com o empresariado para anunciar bondades para o setor privado. Nesta semana, Mantega anunciou duas medidas para o setor. Primeiro, que o programa de estímulo às exportações, o Reintegra, terá alíquota de 3% no próximo ano, como defendiam os empresários exportadores. Pelo Reintegra, exportadores recebem de volta um percentual dos produtos manufaturados que vendem ao exterior, na forma de créditos tributários. Neste ano, será de 0,3%. Em 2015, 3%. Além disso, o ministro decidiu também incluir no programa de estímulo às exportações os setoressucroalcooleiro e de celulose, como antecipou a Folha.
Importação de café torrado sobe 586% em 5 anos Fonte: Folha de São Paulo 13/09/2014 02h 00 As exportações de café verde vão muito bem neste ano. Volume e receitas crescem. O mesmo não ocorre com o café industrializado, cujas importações explodiram e exportações estão praticamente virando pó. O Brasil importou o recorde de 1.640 toneladas de café industrializado nos primeiros oito meses deste ano, uma evolução de 586% nos últimos cinco anos. Os gastos de janeiro a agosto somaram US$ 32,3 milhões. No caminho inverso, após ter atingido 8.330 toneladas exportadas de janeiro a agosto de 2008, as vendas externas brasileiras de café torrado e moído recuaram para 1.005 toneladas neste ano. É o menor volume em dez anos. A indústria brasileira praticamente desistiu das exportações de café industrializadas, devido à dificuldade na criação de uma marca e ao desafio de competir com grandes grupos nos principais países desenvolvidos. Um dado interessante, no entanto, é que enquanto o café industrializado brasileiro perde espaço em grandes consumidores, como os Estados Unidos, avança em países emergentes. Os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) deste ano indicam que os norteamericanos reduziram em 23% as compras do produto industrializado do Brasil. Já China, Coreia do Sul, Cingapura e Tailândia aumentaram as importações do produto brasileiro. Embora esses mercados ainda sejam pequenos, eles exigem produto de qualidade e, 4
consequentemente, de maior valor agregado, segundo Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). Quanto às importações, a Suíça é a maior fornecedora do produto ao país. Neste ano, os suíços exportaram 706 toneladas para o Brasil, ao valor de US$ 16,5 milhões. A novidade é que os preços médios do café importado desse país, que chegou a atingir US$ 93 por quilo de janeiro a agosto de 2011, esteve em US$ 23 neste ano, segundo dados da Secex. O processo do preparo do café passa por profundas mudanças, com evolução para a chamada monodose. Essa nova forma exige investimentos e mudanças nas indústrias. Se o Brasil não avançar rapidamente nesse novo processo, vai ficar cada vez mais à mercê das importações. Até da Colômbia O número de países que fornece café industrializado para o Brasil aumenta. Neste ano, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), foi a vez de os colombianos fazerem parte da lista. Volatilidade O sobe e desce do café neste ano tem atrapalhado a vida das indústrias. Há uma dificuldade maior nas negociações com o varejo e quando determinar o aumento de preço. Oferta O superávit mundial de açúcar continua influenciando os preços na Bolsa de commodities de Nova York. O primeiro contrato recuou para 13,78 centavos de dólar por librapeso nesta sexta-feira (12), 4% menos do que no dia anterior. Consultoria prevê safra de cana de 552 mi de t A produtividade média do setor de cana-de-açúcar recuará para 69,5 toneladas por hectare na safra 2014/15, um volume inferior ao previsto no início da safra, de 71,3, e bem abaixo das 78,3 toneladas da safra anterior. A estimativa é de Julio Maria Borges, da JOB Economia e Planejamento Ltda, que prevê, ainda, uma moagem de cana de 552 milhões de toneladas no centro-sul. O motivo dessa redução de produtividade foi o clima seco até agosto, o que vai determinar uma redução da produção de açúcar para 32,3 milhões de toneladas. A de etanol cai para 24,15 bilhões de litros. Desses, 13 bilhões são de álcool hidratado. Borges reduziu a estimativa das exportações de açúcar para 22 milhões de toneladas, enquanto o consumo interno de etanol fica em 21,6 bilhões de litros. Combustíveis Etanol vale 65% do preço da gasolina em SP O preço do álcool começa a cair com menos intensidade na cidade de São Paulo. Nesta semana, o preço recuou para R$ 1,879por litro, 65% do valor da gasolina. Mesmo com queda menor, o etanol ainda é mais atrativo do que a gasolina para os consumidores paulistanos.
Editorial: Varejo partidário Fonte: Folha de São Paulo 13/09/2014 02h00 Quem quer que saia vitorioso daseleições presidenciais deste ano terá de haver-se, provavelmente, com dificuldades de negociação no Congresso ainda mais intensas do que as que hoje se verificam. Pelas projeções atuais, estima-se que será maior, no Senado, a pulverização das bancadas. Hoje, 16 legendas diferentes detêm poderes de barganha diante do Executivo. Calcula-se que, em 2015, o número passará a 18. Na Câmara dos Deputados, não há como fazer prognósticos da mesma natureza. Líderes partidários acreditam, todavia, que a fragmentação aumentará –e, segundo reportagem do jornal "Valor Econômico", o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar considera que saltará de 22 para 28 o total de siglas nessa Casa. É duvidoso que, mesmo na mais complexa das sociedades, o pensamento da população se divida em tantas visões de mundo.
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O princípio da liberdade de organização, é claro, assegura que se possam reunir em partidos quaisquer cidadãos que assim o desejarem, não importando se banal ou bizarra a causa que os agrega. O atual sistema acaba tendo o efeito, contudo, de premiar o surgimento de legendas artificiais. Obtendo uma parcela qualquer do horário eleitoral, não raro recorrem a nomes populares para prover-se de um excedente de votos. Feita a bancada, vêm os benefícios: uma fatia do fundo partidário soma-se aos cargos de assessoria parlamentar e às verbas de gabinete. O negócio, entretanto, mal começou. Haverá de dar-se no trato com o Executivo. Verdade que, muitas vezes, sobem ao Legislativoagremiações cuja inexpressividade eleitoral não é fruto do oportunismo, mas da intransigência ideológica. A existência de minúsculas organizações de esquerda termina por sustentar, num ambiente ainda marcado pela memória da perseguição, a ideia de que seria contraproducente barrar seu acesso às vantagens de estar no Congresso. O tema foi objeto de julgamento, em 2006, no Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, argumentou-se que impor critérios rigorosos demais para a concessão de benefícios condenaria à inexistênciapartidos legítimos, com efeitos nocivos, ademais, para o direito de representação das minorias. A necessidade de restringir para um teto razoável o número de partidos, no entanto, persiste, e deve ser cogitada no âmbito de uma reforma política mais ampla. O sistema proporcional, a distribuição do horário gratuito, as coligações para cargos proporcionais e a obrigatoriedade do voto são fatores que contribuem para a criação de um varejo partidário que, no fundo, desserve o eleitor. Já bastante sacrificado, aliás, pelo oportunismo dos grandes partidos. Que, estes, operam no atacado.
Editorial: Fora do tom Fonte: Folha de São Paulo 14/09/2014 02h 00 Não fosse a constante interferência do Planalto nas decisões do Banco Central durante o mandato de Dilma Rousseff (PT), com impactos nefastos para a credibilidade da instituição, dificilmente discussões sobre sua independência teriam adquirido tamanho destaque na campanha presidencial. Importa ressaltar, de início, que a propaganda do PT comete dois pecados na abordagem do tema. Primeiro,mente ao afirmar que um BC autônomo estaria entregue à sanha dos banqueiros. Depois, e mais grave do ponto de vista do país, reforça a impressão de que o órgão, sob Dilma, submete-se aos caprichos da presidente. Configurou-se, assim, uma armadilha que os publicitários petistas não conseguiram antever. Insistindo nessa tecla para alvejar Marina Silva (PSB), a própria Dilma amplifica as simpatias por aquilo que sua adversária propõe. É preciso, contudo, qualificar o debate. O conceito de independência do Banco Central não é exato e admite diversas gradações. A experiência internacional mostra que são dois os campos em que se semeia a autonomia. Um deles diz respeito à definição do objetivo a ser perseguido (como a meta de inflação), enquanto o outro se refere à escolha dos meios para atingir aquele fim. No Brasil, a meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional, composto por dois ministros (Fazenda e Planejamento) e pelo presidente do BC. Sendo todos indicados pelo chefe do Estado, este influi na definição do objetivo. Não há controvérsia de que se trata de bom arranjo para o país. Por outro lado, o BC precisa ter liberdade para gerir a política monetária, determinando a taxa de juros e as condições de crédito. Pressões políticas, nessa seara, prejudicam a tomada de decisões técnicas mas estas não podem, por sua vez, isentar de responsabilidade o presidente eleito pelo povo. 6
Eis onde está o debate. Com o BC encabrestado por Dilma, reaparece a sugestão de regras mais estritas para, por exemplo, demissões na cúpula do órgão. Nada impede que se avance nessa linha, mas o mandato fixo, em si, não garante que haverá autonomia na prática e pode até criar um problema, a depender de quem estiver no cargo. Melhor do que discutir a independência da instituição com os clichês dos publicitários é considerar normas capazes de minimizar o espaço para mandos e desmandos. O Brasil, quanto a isso, não faz má figura. Basta lembrar que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe o BC de financiar o Tesouro. Sem dúvida é possível evoluir. Incrementar mecanismos de prestação de contas e adotar medidas como a publicação dos votos de cada diretor na reunião que define os juros trariam ganhos para o país o tom da campanha, quanto a isso, só traz prejuízos.
André de Carvalho Ramos, Deisy Ventura, Pedro Dallari e Rossana Reis: Uma Lei de Migrações para o Brasil Fonte: Folha de São Paulo 14/09/2014 02h 00 Uma economia emergente, comgrande visibilidade no plano internacional, naturalmente tende a se tornar receptora de imigração. A combinação entre globalização e desigualdade faz da mobilidade humana uma característica incontornável do mundo contemporâneo. Fechar o mercado é uma ilusão defendida apenas por ingênuos. Da elite mundial hipermóvel e cosmopolita aos trabalhadores que cruzam o deserto para entrar nos Estados Unidos, o movimento é, mais do que nunca, a regra, e não a exceção. E é por tudo isso que o Brasil se tornou, desde o início da década de 1990, a opção de destino de muitos migrantes latino-americanos, europeus, asiáticos e africanos. O grande desafio do Brasil é, portanto, definir que tipo de relação terá com as migrações internacionais. Quais são os interesses nacionais, e que tipo de legislação seria adequada para a promoção desses interesses? A legislação vigente é de todo inadequada para lidar com esse desafio. Nosso Estatuto do Estrangeiro data de 1980 e é inspirado na Doutrina de Segurança Nacional. A principal preocupação do regime militar era facilitar a expulsão de estrangeiros considerados "subversivos". Logo, a lei em vigor é incompatível com a nossa Constituição, com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, e ainda menos com os interesses do país. Tal anacronismo levou o Ministério da Justiça a criar no ano passado uma comissão de especialistas para propor uma Lei de Migrações e promoção dos direitos dos migrantes no Brasil. Ao longo de um ano foram ouvidos órgãos do Estado, entidades sociais e estudiosos, o que resultou no Anteprojeto de Lei de Migrações, fortemente calcado na promoção dos direitos humanos. Ele cria uma Autoridade Nacional Migratória para coordenar a ação do Estado brasileiro nesse setor e, especialmente, para facilitar a regularização migratória, assim como promover a inclusão daqueles que estão aqui estabelecidos. Propostas restritivas que abordam as migrações sob o prisma da segurança ou da seletividade econômica não contribuem para a diminuição dos fluxos, apenas para o incremento da vulnerabilidade dos migrantes. Políticas migratórias restritivas favorecem as redes de tráfico de pessoas e os intermediários na exploração de mão de obra, o que prejudica o mercado de trabalho e a sociedade em seu conjunto. Por conseguinte, a Lei de Migrações deve ser pensada para o mundo real, isto é, um mundo em que, alheias a quaisquer obstáculos, as pessoas migram. São fundamentais a igualdade de direitos entre nacionais e estrangeiros e o esclarecimento dos migrantes em relação aos seus direitos. Manejar as migrações não é uma tarefa fácil: os bens públicos são finitos e as diferenças culturais muitas vezes são difíceis de administrar. Embora a demografia brasileira seja marcada por ciclos migratórios, ainda subsistem mitos e estigmas sobre os estrangeiros. Discriminar o migrante de hoje é desonrar nossos antepassados migrantes. Ambos comungam o sonho de trabalho e vida digna. É também ignorar que buscamos um melhor tratamento dos brasileiros 7
que se encontram no exterior. A qualidade de vida dos nacionais também depende do respeito aos direitos dos imigrantes que os cercam. Felizmente, a construção de uma política migratória baseada nos direitos humanos coincide com o interesse nacional em construir uma sociedade mais justa, enriquecida pela diversidade humana.
Sob a névoa eleitoral Fonte: Folha de São Paulo 14/09/2014 02h00 O debate eleitoral está centrado na economia e seus desdobramentos sociais e políticos. Mas o acirramento da campanha e sua passionalidade fazem comque ele não contribua para o melhor entendimento dos problemas e das soluções. É importante neste momento não perder de vista os desafios de curto e longo prazo que o próximo governo, qualquer que seja, enfrentará. No curto prazo, três questões devem ser equacionadas para reduzir incertezas e elevar investimentos: 1) aumentar o superávit fiscal, o que inverteria a trajetória de aumento da dívida e poderia evitar a redução da nota de classificação de risco do país; 2) assegurar a convergência da inflação ao centro da meta; 3) reduzir o déficit nas transações com o exterior, o que contribuiria para elevar confiança e investimentos. Para atingir estes objetivos, serão necessárias: 1) redução de despesas, desonerações e desembolsos do governo e eventuais correções arrecadatórias; 2) correção dos preços administrados no início do governo conjugada a política monetária eficiente, que facilita a queda de expectativas de inflação e, em consequência, da própria inflação; 3) maior liberdade de flutuação do câmbio, que ajuda a reduzir desajustes externos de curto prazo. Resultado de políticas críveis, o aumento da confiança e da credibilidade elevará o investimento doméstico e externo, reduzindo fragilidades. Há ainda os desafios de longo prazo. Sumarizando, temos: 1) educação. Elevamos o número de alunos e os anos de escolaridade, mas agora é fundamental focar na qualidade; 2) custo fiscal elevado e complexo; 3) custo de energia acima da média mundial; 4) logística inadequada, com desempenho abaixo da média. As soluções virão com investimentos na qualidade da educação, reformatributária que reduza o custo fiscal e eleve sua eficiência, reforma da área de energia para aumentar a oferta e mais investimentos em infraestrutura. O Brasil tem vantagens e forças importantes para reagir e competir globalmente. O mercado de consumo de grande porte, o oitavo do mundo, dá escala de produção. A estabilidade política, apesar das críticas a sua qualidade e aspectos éticos, está acima da média, com democracia estável desde os anos 1980. Se o Brasil não resolver os problemas de curto e longo prazo, deveremos manter crescimento baixo nos próximos anos. Resolvidas as questões de curto prazo, sem endereçar as de longo prazo, o crescimento pode ficar entre 2% e 3%. Mas, se enfrentarmos os desafios estruturais de curto e longo prazo, teremos condições de voltar a crescer ao redor de 4% como na década passada e aumentar o bem estar da população.
Sócio da Natura e presidente do Iedi defende mais abertura da economia Fonte: Folha de São PauloRAQUEL LANDIM e DAVID FRIEDLANDERR de SÃO PAULO 14/09/2014 02h 00 Uma das vozes mais respeitadas da indústria nas críticas às políticas do governo, o empresário Pedro Passos diz que o setor privado está no escuro e segura os investimentos por causa da confusão na economia. "Não sabemos qual é a inflação que combatemos nem como estão as contas do governo", afirma. "É preciso resgatar a confiança na condução da economia." 8
Sócio da empresa de cosméticosNatura e presidente do IEDI (associação dos grandes empresários nacionais), Passos diz que o país precisa de uma guinada na economia e, até agora, é a oposição que tem defendido uma agenda de mudança. Nos últimos tempos, o empresário passou a defender também uma agenda que é rejeitada por boa parte de seus pares: a redução das políticas de proteção e incentivos para setores localizados da indústria. "Evidente que não é unanimidade." Folha - Por que o setor privado vive pedindo ajuda do governo, como benefícios fiscais e recursos do BNDES? O empresariado não consegue viver sem ajuda do governo? Pedro Passos - Os empresários sempre pediram ajuda para determinados setores no Brasil. Acontece que isso aumentou depois da crise de 2008, quando o país adotou posição mais protecionista. Vários setores pediram proteção ao governo e conseguiram. Isso dá um alívio imediato, mas não resolve. Precisamos buscar maior inserção internacional e com isso ganhar competitividade. É importante para elevar a produtividade das nossas empresas. Por isso é importante mudar essa relação. Qual seria a mudança? Trocar as políticas setoriais e os incentivos localizados para determinadas indústrias que temos hoje por políticas horizontais, que atinjam de forma igual toda a economia. Isso cria condições para que setores novos possam surgir. Quando as oportunidades são iguais para todos, quem é bom aparece. Isso também diminui o risco de aplicar recursos públicos em setores de baixa capacidade, que não deveriam ser protegidos. O sr. é contra proteção e incentivos? Não estou falando de proibir incentivos. Mas eu daria ênfase a programas que incentivassem a inovação, com transparência na alocação de recursos, prazo para acabar e muita aferição para conferir se o apoio está realmente dando resultado. O que seus colegas da indústria acham dessa sua posição? Evidente que não é unanimidade. Mas hoje há incentivos e mesmo assim o país não cresce, por causa da falta de investimentos. Por que os empresários não investem? O país precisa de uma nova direção econômica. É necessário sinalizar que vamos crescer com ganhos de produtividade, o que pressupõe fazer as reformastributária, política e previdenciária, que foram deixadas de lado. Evoluímos nas últimas décadas com a reforma do Estado, a estabilização monetária e a ascensão social. Mas esse modelo baseado no consumo, que deu ao país uma sensação de riqueza, se esgotou sem que houvesse preparo para enfrentar um novo ciclo. Agora temos um problema de transição para um novo modelo, no qual são necessários poupança e investimento. Quais deveriam ser as prioridades do novo governo? Em primeiro lugar, uma direção de longo prazo. Que paísqueremos nos próximos oito, 12 anos? Claro que nossos problemas não serão resolvidos no curtíssimo prazo, mas é importante sinalizar o caminho a seguir. Depois, é preciso resgatar a confiança na condução da economia. Não podemos brincar com a inflação. Temos que buscar o centro da meta de inflação e, em algum momento, até reduzir seu tamanho. Precisamos de um desempenho fiscal de qualidade no setor público. Não podemos depender apenas de receitas de emergência. Medidas corretivas também são importantes. Alguns preços estão desalinhados na economia. Enquanto houver dúvida sobre o que vai ocorrer com os preços dos combustíveis e da energia, não vai haver investimento. Em que ritmo esses preços deveriam ser reajustados? 9
Acumulamos um problema grande. Portanto, a solução não vai ocorrer de uma vez. Vamos ter que fazer isso com compromisso claro, mas de forma paulatina, para evitar impacto na inflação. Obviamente o governo não vai falar antecipadamente sobre câmbio, mas é preciso sinalizar como vai corrigir esses preços. Em última instância, o empresário é um alocador de recursos. Ele precisa saber qual é o retorno e que risco está correndo. Hoje isso não é claro? Não. Falta clareza na formação dos preços públicos. Não sabemos qual é a inflação que estamos combatendo nem como estão as contas do governo. Dos candidatos, quem tem o melhor perfil para levar essa agenda adiante? Colocando nesses termos, o governo fica numa posição fragilizada, porque defende o que tem sido feito. Não estou declarando voto, mas seria incoerente da minha parte dizer outra coisa, porque precisamos de reorientações na agenda econômica. Como isso não vem sendo sinalizado pelo governo, a oposição leva vantagem no debate econômico. A relação da presidente Dilma com o empresariado não é boa. Se ela for reeleita, como refazer essa ponte? Se a presidente for reeleita, terá poder convocatório. O voto popular dá poder e ela teria condições de fazer uma nova proposta. Mas precisa querer fazer isso. Ela sinalizou mudanças na equipe atual. Mas, além de nomes, os empresários querem propostas. O caminho é trocar a equipe econômica? É preciso ter pessoas que genuinamente tenham ideias novas. No primeiro mandato, Lula manteve a independência operacional do Banco Central e fez um superávit fiscal importante, contrariando inclusive alas de seu partido. Com isso, o clima de desconfiança que havia no começo se desfez em seis meses. Marina Silva teria o apoio da indústria? Se tiver uma boa equipe, programa com metas claras e articulação política, ela poderá atrair os mais diversos setores da sociedade. Com seu discurso contra os políticos tradicionais, será que Marina conseguiria se entender com o Congresso? Marina Silva é uma pessoa inteligente, aprende rápido e sabe que o Brasil é complexo. Ela sabe que um governo só é efetivo se conseguir reunir em torno de suas ideias as diversas correntes políticas, econômicas e sociais. Murilo Ferreira, presidente da Vale, disse em entrevista à Folhaque as críticas à presidente Dilma estão concentradas em setores defasados da indústria paulista... Não quero polemizar com ele, mas não dá para fazer uma análise superficial. As críticas de setores da indústria à atual política são procedentes e devem ser levadas em consideração. Murilo tem ampla vivência num setor extrativista, em que o Brasil tem importantes vantagens competitivas. A avaliação de outros setores da indústria exigiria um aprofundamento.
Bancos lucraram 8 vezes mais no governo de Lula do que no de FHC Fonte: Revista Veja Online Os bancos lucraram 279,9 bilhões de reais durante todo o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra 34,4 bilhões de reais durante mandato de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, ou seja, oito vezes mais. Os números constam em levantamento feito pelo jornal Valor Econômico com base em dados dos 50 maiores bancos, mas que não incluem o primeiro semestre do governo FHC. Na terça-feira, a candidata à presidência, Marina Silva (PSB), disse que "nunca os banqueiros ganharam tanto" quanto nos governos do PT, rebatendo críticas da candidata à 10
reeleição, Dilma Rousseff, sobre a proposta de autonomia do Banco Central (BC). Contudo, Marina cita números diferentes sobre os lucros dos bancos: 31 bilhões nos dois mandatos de FHC e 199 bilhões nos dois de Lula. O jornal alerta, porém, que há diferenças metodológicas entre as regras contábeis usadas pelas instituições e as do BC para apurar os resultados, por isso não necessariamente Marina teria errado. Se descontada a inflação vista desde 1995, porém, os números mudam: 62,1 bilhões de reais no governo FHC e 331,4 bilhões nos mandatos de Lula, mesmo assim uma enorme diferença. O Valor Econômico analisa ainda outro indicador que, segundo a reportagem, pode comparar com mais precisão os balanços nos dois períodos. Considerando a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, os bancos continuam ganhando mais no governo Lula, cujo indicador é de 20,1%, do que no FHC (7,04%). Ele mede o quanto os bancos estão tendo em retorno sobre o capital que investiram (patrimônio). No governo Dilma, o lucro nominal dos bancos foi de 239,9 bilhões de reais até junho deste ano, mas o retorno sobre o patrimônio líquido foi de 14,6%. A explicação é a desaceleração da economia, que cresceu 2,08% entre 2011 e 2013, e pela crise de inadimplência que afetou os bancos.
Petróleo mais barato favorece contas do Brasil Fonte: Mariana Durão, do Rio - O principal alento para a balança comercial brasileira este ano vem do comércio de petróleo, vilão do comércio exterior nos últimos anos. O preço do barril vem cedendo, ancorado na maior oferta e na retração da demanda global. A tendência é de uma melhora no déficit comercial da chamada conta-petróleo. Na última semana, a cotação do petróleo do tipo Brent, referência internacional de preços, caiu abaixo dos US$ 100 pela primeira vez em 16 meses. Até aqui nem os conflitos próximos a regiões produtoras como Iraque, Ucrânia e Líbia ajudaram a cotação do barril a reagir. Para o Brasil, o ciclo de baixa é positivo porque historicamente o País têm registrado déficit na balança do produto e seus derivados, com o valor das importações ultrapassando o das exportações e pressionando o balanço da Petrobras. A estatal vem sofrendo com a defasagem de preços dos derivados no mercado doméstico ante o preço de importação. Além do arrefecimento do preço, o País está exportando mais petróleo. A Petrobras estima uma alta de 7,5% de sua produção de óleo bruto e gás neste ano. Até agosto o déficit acumulado na balança do petróleo e combustíveis foi de US$ 12,9 bilhões, 30,8% menor que o de igual período de 2013. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, calcula que a conta do petróleo feche em um vermelho mais suave: US$ 15,8 bilhões, ante US$ 23,7 bilhões no ano passado. "Este ano o superávit será ajudado pela queda no valor da importação e o aumento da quantidade de petróleo produzida e exportada, um efeito que não vai se repetir em 2015", diz Castro. Em julho, a AEB reduziu sua previsão para o saldo comercial total brasileiro no ano em 75,2%, para apenas US$ 635 milhões.
Antonio Corrêa de Lacerda: Banco Central independente de quem? Fonte: Folha de São Paulo 15/09/2014 02h00 A independência do Banco Central ganha destaque em tempos de debate eleitoral. A discussão é pautada por pontos relevantes da temática macroeconômica, tendo em vista sua correlação com aspectos monetários estritos, como juros e crédito, câmbio e, por consequência, nível de atividade, renda e emprego. Interessante notar que a discussão no Brasil ocorre no âmbito de um cenário internacional ainda complexo. A deterioração decorrente das crises após 2008 e o baixo crescimento dos países desenvolvidos foram impactantes para a desaceleração do crescimento econômico 11
chinês. O enfraquecimento da economia mundial gerou uma sobreoferta de produção e uma desinflação, especialmente nas commodities metálicas. Os bancos centrais das economias desenvolvidas adotaram, desde o final de 2008, um movimento simultâneo de redução das suas taxas básicas de juros, ao mesmo tempo em que ampliaram a liquidez nos mercados. Vivemos um longo ciclo de taxas de juros reais negativas. O Fed (banco central dos EUA) já manifestou que manterá baixas taxas de juros até que haja uma clara percepção de recuperação do nível de atividades. Enquanto isso, mantém há seis anos uma taxa nominal de juros básicos abaixo da inflação. Recentemente, o Banco Central Europeu decidiu reduzir ainda mais as suas taxas para 0,05%. Há uma longa discussão a respeito do grau de independência dos bancos centrais. Na visão mais ortodoxa eles deveriam ter total autonomia frente aos governos, visando resguardar a função de guardião da moeda e gerar credibilidade da política econômica. Trata-se de uma visão desconectada da situação da economia internacional. O que ocorre na prática é que os bancos centrais vêm atuando de forma coordenada com seus governos, visando combater os efeitos da crise e evitar o seu agravamento. A passividade frente ao quadro internacional representaria custos onerosos sobre o nível de atividade, custo do financiamento da dívida pública e níveis reais das suas taxas de câmbio, especialmente para os países em desenvolvimento. Daí a importância da autonomia e independência do Banco Central do Brasil. Aqui elas não estão relacionadas ao Executivo, mas às pressões do mercado. É preciso que as autoridades monetárias decidam e implementem as medidas de política econômica, tendo em vista o que é o mais adequado para o conjunto da economia. Ao longo do último decênio houve uma tendencial e gradativa redução das taxas de juros reais no Brasil, de 9 a 10% anual, para 4,5%. No entanto, estamos ainda longe de imaginar que a batalha chegou ao fim. Na verdade, ela só começou. A nossa taxa de juros reais é ainda muito elevada para padrões internacionais. O desafio é viabilizar as condições para aproximá-la da média de países semelhantes. Tem havido progressos, mas é preciso avançar nas demais condições imprescindíveis para que os ganhos sejam perenes e sustentáveis no longoprazo. Dentre outros desafios, temos que enfrentar a distorção representada pela indexação de contratos e tarifas. Um resquício do período de inflação crônica, que precisa ser removido, porque também representa um limitador para a redução dos níveis inflacionários e, portanto, das taxas de juros. Outro ponto importante é a estrutura da dívida pública. O Brasil é o único país que ainda mantém títulos públicos de curtíssimo prazo que remuneram com elevadas taxas de juros, propiciando ao mesmo tempo rentabilidade e liquidez com baixíssimo risco, na contramão da prática usual no mercado internacional. Nem sempre o que é o desejo do mercado financeiro é o melhor para a nação.
Copom vê pequeno avanço no controle da inflação Fonte: Jornal Valor 15/09/2014 às 05h00 Os progressos no combate à inflação têm sido lentos e tardios. Mas não deixa de ser um bom sinal a afirmativa feita na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na semana passada, de que finalmente a inflação entrará em trajetória de convergência à meta, de 4,5%, nos primeiros trimestres de 2016. Quando interrompeu o ciclo de alta de juros, em maio, o Banco Central já havia sinalizado que não seria possível cumprir o objetivo fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até 2015. Na melhor das hipóteses, a inflação caminharia para a meta em 2016, ainda assim sem muita certeza. Seus documentos oficiais vinham dizendo, de forma oblíqua, que a inflação "tenderia" a entrar em convergência para a trajetória de metas. As projeções apresentadas no Relatório Trimestral de Inflação de junho apontavam uma variação entre 5% e 5,1% do Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho de 2016, fim do horizonte relevante da política monetária. 12
Na ata da semana passada, o Copom informou pela primeira vez que os seus modelos de projeção indicam que a inflação entra em trajetória de convergência à meta nos trimestres iniciais de 2016. É bem provável que o Relatório de Inflação de setembro, que será divulgado dentro de algumas semanas, mostre uma variação do IPCA mais próxima de 4,5%. O Banco Central, na ata, também deixa de qualificar a inflação como "resistente". O adjetivo vinha sendo usado desde janeiro de 2013, quando a autoridade monetária começou a sinalizar o início do atual ciclo de aperto na taxa básica de juros. No começo do ano, a resistência maior do que a esperada dos preços foi um dos motivos apontados pelo Copom para subir os juros mais do que o mercado financeiro antecipava. A ata diz ainda que, na avaliação do Banco Central, a chamada absorção doméstica (consumo, investimentos e gastos do governo) já passou a crescer em linha com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), atenuando as pressões inflacionárias. A batalha contra a escalada de preços, no entanto, está longe de ser ganha. A variação do IPCA acumulada no período de um ano até agosto foi de 6,51%, ficando no limite admitido pelo regime de metas para a inflação pelo terceiro mês seguido. Poucos, além do Banco Central, acreditam que a inflação irá caminhar para a meta em 2016. A projeção mediana do mercado é uma variação do IPCA de 5,5% naquele ano. Para colher esse pequeno progresso em relação à inflação de 6,3% esperada para 2014 e 2015, será necessário subir os juros ainda mais, preveem os analistas econômicos. Seguramente, a alta de juros básicos, que somou 3,75 pontos percentuais entre abril de 2013 e de 2014, está surtindo efeitos para desacelerar a economia. Sua transmissão plena para a inflação, no entanto, está sendo obstruída pelos sinais contraditórios emitidos pelas políticas fiscal, cambial e de realinhamento de preços administrados. O adiamento de reajustes inevitáveis de preços, como gasolina, eletricidade e transportes públicos, dificulta ao Banco Central coordenar as expectativas do mercado. Os economistas privados esperam uma alta de 7% nas tarifas em 2015 e de 5,75% em 2016, bem acima do centro da meta. O Banco Central repete nas atas do Copom desde agosto do ano passado que "criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade", sem que essas condições sejam de fato criadas. Até julho, o BC ainda esperava que essa possível política fiscal neutra pudesse ajudar a equilibrar a demanda e a oferta. O equilíbrio ocorreu sem a ajuda da política fiscal, o que significa que está havendo uma sobrecarga no setor privado, sobretudo nos investimentos, que estão em queda neste ano. As intervenções do Banco Central na taxa de câmbio, que chegam perto de US$ 100 bilhões, também dificultam domar as expectativas. Para os analistas privados, parece inevitável que o real tenha que se desvalorizar diante da normalização das condições monetárias nos Estados Unidos. Eles preveem que o dólar irá subir a R$ 2,44 no fim do ano que vem. Ao deixar sem coordenação as políticas fiscal, cambial, monetária e de reajustes de tarifas, o governo eleva os custos de baixar a inflação e colhe resultados incertos.
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