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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 16 DE JULHO DE 2014

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Pode, Arnaldo? Comecei a contribuir para a Folha em setembro de 2006, são quase oito anos escrevendo sobre economia, mas, confesso, gostaria mesmo é de ser colunista de futebol. O vexame da seleção, ou, melhor, a reação ao vexame acabou, porém, permitindo de alguma forma atender aos meus anseios, casando os dois assuntos. Para quem não viu, a resposta inicial da presidente ao fiasco foi sugerir maior intervenção governamental no esporte, inclusive por meio de mecanismos para impedir a saída de jogadores com menos de 19 anos do país. Já seu ministro do Esporte chegou a aventar a possibilidade de "intervenção indireta" na organização das competições e na gestão dos clubes. Já os que, como eu, acompanham a gestão desastrosa da economia não podem deixar de associar esse tipo de reação ao observado nos últimos anos: para cada problema que aparece, o governo se vê na obrigação de tomar alguma medida pontual a respeito, o que, tipicamente, não apenas não resolve a questão, como costuma, de lambuja, gerar novas dificuldades a serem devidamente atacadas por novas medidas pontuais, perpetuando indefinidamente o ciclo de incompetência. Os empresários reclamam dos preços de energia? Em vez de identificar as causas últimas e pensar em reformas que possam aumentar a competitividade, o governo baixa as tarifas a canetadas, gerando uma crise no setor. A inflação está elevada? Em hipótese alguma se considera a possibilidade de alteração nas políticas monetária e fiscal de forma a ajustá-las a um cenário de inflação mais baixa. É preferível segurar os preços dos combustíveis, colocando a Petrobras na situação de endividamento que hoje se encontra; a única empresa de petróleo do mundo que anseia pela queda dos preços internacionais de seus produtos. Não é por acaso, portanto, que o país se encontra no estado atual. Não há um exercício de reflexão sobre a natureza das questões, muito menos das consequências das "soluções" propostas. A imagem recorrente é a do menino do conto holandês, tapando um furo do dique a cada momento, até que não lhe sobram mais dedos para tanto buraco. Falta, não só para a economia, mas também para o futebol, um diagnóstico preciso das causas do problema. Contraste a ideia de proibição da saída de jogadores com a hipótese levantada neste espaço pelo meu amigo Samuel Pessôa, a saber, que a Lei Pelé teria reduzido os incentivos à formação de jogadores, já que os clubes que investem nas categorias de base não teriam como evitar o aliciamento de futuros craques, gerando em consequência uma queda na qualidade dos jogadores. Francamente, não sei se o Samuel está certo, mas, correto ou não, trata-se de hipótese que merece investigação mais cuidadosa. Busca identificar mecanismos que afetam os incentivos dos agentes envolvidos no processo, tanto clubes quanto jogadores (assim como os indefectíveis "empresários"). Caso se prove correta, traz em si uma sugestão de política que alteraria as instituições (ou regras) sob as quais funciona a atividade futebolística, presumivelmente no sentido de aumentar o retorno dos que investem no desenvolvimento de jogadores, como, aliás, foi feito na Alemanha com enorme sucesso. É bom que se diga que futebol não é uma questão de vida ou morte (é muito mais do que isto, claro), mas no domínio econômico este tipo de abordagem consegue ter repercussões ainda mais negativas. A incapacidade de formular um diagnóstico sistêmico acerca das dificuldades do país se encontra por trás do padrão errático de política econômica que predomina no Brasil de 2009 para cá, inépcia que explica muito do fraco desempenho recente do país. Neste contexto é impossível não se lembrar da frase precisa de Dave Barry: "Quando problemas surgem e as coisas parecem ruins, há sempre alguém que descobre uma solução e está disposto a assumir o comando. Frequentemente trata-se de um maluco". Pode, Arnaldo?

Brics engrossam a voz OS BRICS deixaram de ser mera conversa fiada desde ontem, quando criaram o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e uma espécie de "mini-FMI", o Acordo de Reservas de Contingência. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul pingaram dinheiro na mesa a fim de dar alguma 2


substância e marca política a sua ação conjunta, mas quase retórica, contra o predomínio americano e europeu. Se isso vai resultar em algum benefício para o Brasil, são outros quinhentos. Mas o bonde andou. O dinheiro é pouco. O capital inicial para valer do NBD é de US$ 10 bilhões. Com apenas esse capital, mas se comportando como um banco multilateral mais agressivo, o NBD pode emprestar uns US$ 40 bilhões em uma década. Em tese, o dinheiro vai para a infraestrutura de países ainda mais pobres que nós. O BNDES, por exemplo, tem ativos de US$ 334 bilhões, mais que os US$ 324 bilhões do Banco Mundial. O Banco de Desenvolvimento da China tem o equivalente a US$ 1,2 trilhão em empréstimos, um quarto disso, estima-se, em empréstimos externos -sim, a China vem alugando e comprando boa parte do mundo pobre. Aliás, para a China tudo isso é troco. O que os chineses estão dizendo para o mundo rico é: "Olhem a minha turma, com o fortão aí do quintal de vocês (Brasil). E vai ficar ainda maior". O capital pingado pelos Brics é troco perto das reservas internacionais desses países (dinheiro em moeda forte, "dólar", guardado como seguro). A China tem US$ 3,8 trilhões em reservas. A Rússia, US$ 467 bilhões. O Brasil, US$ 368 bilhões. A Índia, US$ 321 bilhões. O "mini-FMI" dos Brics teria US$ 100 bilhões, um fundo que poderia ser parcialmente sacado em caso de crise de financiamento externo. Não é lá grande dinheiro para as economias dos Brics, com exceção da África do Sul. Na verdade, mesmo o FMI não tem fundos para lidar com o tamanho dos desastres financeiros mundiais. Note-se de passagem certa ironia ridícula nisso de o governo do Brasil criar um banco para se ajudar em caso de problema financeiro que, em parte, esse governo mesmo cria. Esse sisteminha financeiro Brics pode, claro, se transformar em seguro para outros países, tomando parte do lugar do FMI e Banco Mundial, dominados por EUA e Europa. Os Brics dizem que as contrapartidas exigidas não seriam aquelas do FMI. No entanto, qualquer instituição financeira precisa receber seus empréstimos de volta e tem de exigir garantias. Como os Brics vão fazer essa "nova política" financeira? É fato que o FMI demonstrou incompetência criminosa e terminal nas crises de 1997 a 2008. Cobrindo-se de ridículo atroz, o Fundo dizia que o mundo seguia risonho e franco até a coisa explodir nas suas fuças. Pior, as contrapartidas que o FMI exigia para "socorrer" países causaram dano econômico e desastres políticos e humanitários. As crises causadas pela finança mundializada e bucaneira foram um dos fatores que levaram os países de fora do centro do mundo a acumular imensas reservas financeiras a fim de se defender do caos. Com PIBs ainda maiores, Brics e outros blocos agora começam a partir para o ataque no jogo da política financeira mundial.

Brasil abre mão de 1ª presidência, e Xangai sediará o banco dos Brics A cidade chinesa de Xangai sediará o banco de desenvolvimento dos Brics, anunciou nesta terça-feira (15) a presidente Dilma Rousseff, durante a cúpula de chefes de Estado do bloco, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O Brasil abriu mão de ter a primeira presidência rotativa do banco de desenvolvimento dos Brics, que ficará a cargo da Índia. O mandato do presidente é de cinco anos. Depois da Índia, o Brasil terá a presidência, seguido por Rússia, África do Sul e China. A China era a mais cotada para abrigar a sede do organismo multilateral e fez forte campanha para tanto. Mesmo assim, a Índia não retirou Déli da disputa, o que gerou um impasse nas negociações. A África do Sul terá o primeiro escritório regional do banco. O segundo será montado no Brasil. Dentro do banco, será criado um fundo especial para ajudar a preparação e implementação de projetos de infraestrutura. Todos os países vão participar do fundo, mas a China terá maior participação. "Os Brics ganham densidade política", afirmou a presidente Dilma Rousseff, que abriu a rodada de declarações dos cinco chefes de Estado. Citou os desafios da economia global, que apresenta "modesta recuperação", como um desafio a ser enfrentado. "[O acordo do novo banco] mostra que nossos países, apesar de nossa diversidade geográfica, étnica, cultural e linguística, estão decididos a construir uma parceira sólida e produtiva com consequências altamente positivas para o sistema internacional", afirmou. "A força do nosso projeto é o potencial de 3


transformação do sistema internacional, mais justo e igualitário." Para o Brasil, ficou o posto de primeira presidência do Conselho de Administração do banco. O primeiro presidente do Conselho de Governadores, instância mais política do banco, será da Rússia. Esses mandatos também serão rotativos, com cinco anos de duração. Brics em Fortaleza Vladimir Putin, presidente da Rússia, NarendraModi, primeiro ministro da Índia, Dilma Rousseff, Xi Jinping, presidente da China e Jacob Zuma, presidente da África do Sul durante encontro em Fortaleza. BANCO Dessa forma, fica oficializada a criação do banco de desenvolvimento dos Brics, o principal acordo firmado nesta sexta cúpula do bloco, que acontece até esta terça-feira (15) em Fortaleza, e a partir de amanhã em Brasília. A ideia do banco surgiu como um complemento à atuação das instituições internacionais existentes, como FMI e Banco Mundial, criados no fim da Segunda Guerra Mundial. Sua proposta é financiar projetos de infraestrutura de países em desenvolvimento, integrantes ou não do grupo, com foco na sustentabilidade. Os cinco países terão participação igual no banco. Cada um deles terá de honrar com a contribuição de US$ 2 bilhões, somando os US$ 10 bilhões que o banco terá disponível para suas operações iniciais -o chamado capital "integralizado". O banco terá capital subscrito de US$ 50 bilhões, com possibilidade de expansão futura para até US$ 100 bilhões.

FUNDO EMERGENCIAL Os chefes de Estado também formalizaram nesta terça-feira (15) o Acordo Contingente de Reserva (CRA, na sigla em inglês), uma espécie de fundo de salvaguarda para os países do bloco. Esse fundo "emergencial" poderá ser acionado em caso de pressão nos balanços de pagamento dos países membros do bloco. O CRA contará com US$ 100 bilhões inicialmente. A China vai entrar com a maior parcela, de US$ 41 bilhões. Brasil, Índia e Rússia se comprometeram com US$ 18 bilhões cada um, e África do Sul, com US$ 5 bilhões. China poderá sacar até metade dos seus compromissos (US$ 20,5 bilhões). Brasil, Índia e Rússia poderão sacar montante equivalente a seus compromissos individuais (US$ 18 bilhões). A África do Sul poderá sacar o dobro de seu compromisso (US$ 10 bilhões). INOVAÇÃO Os presidentes dos bancos de desenvolvimento dos países membros dos Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, assinaram também, nesta terça-feira (15), acordo para aumento de investimento em inovação. O acordo tem o objetivo de oferecer linhas de crédito para investimento em pesquisa e desenvolvimento de projetos inovadores que, naturalmente, apresentam mais riscos e, por isso, têm mais dificuldade de acesso a crédito. Inovação tecnológica, com ênfase em infraestrutura e energia sustentável, é o foco do acordo. 4


Futebol Terminou a orgia cívica do trintídio a que o mundo se entrega, a cada quatro anos, colonizado por uma instituição cujo poder transcendeu o saudável. Ela se aproxima perigosamente de uma organização inescrupulosa cujo objetivo é explorar a honesta paixão do homem pelo futebol. Trata-se da última lavanderia que ainda resiste ao controle de qualquer fiscalização. Como hospedeiro da diversão, o Brasil esforçou-se para fazer a sua parte, sob duras críticas internas e externas, algumas até procedentes. Fomos muito bem. Talvez menos do que gostaríamos, mas muito melhor do que supunham os censores. Como era de se esperar, quando a "bola rolou" a emoção superou todas as dúvidas e reprimendas. O entusiasmo verde e amarelo tomou conta da sociedade. As esperanças foram crescendo a cada jogo. Nas vésperas de eleições, o governo tentou, imprudentemente, apropriar-se dos resultados e a oposição, desenxabida, fingiu alegria. Infelizmente, tivemos um grave pânico quando internalizamos nossa inferioridade técnica coletiva, mas não terminamos tão mal. Afinal somos a quarta seleção no "ranking" mundial. A ideia divertida de que a seleção nacional é a "pátria de chuteiras" transformou a surpreendente derrota em "vergonha nacional", em lugar de vê-la como ela é: um acidente explicável num jogo que deve ser puro divertimento. Sábios cronistas exigiram "ao menos um gol de honra" para consolar a pátria "humilhada"! E não faltaram análises filosóficas sérias, capazes de tudo explicar quando o futuro já era passado... Tudo de um ridículo assustador! A exceção foi o espetáculo do hino nacional cantado a capela pelos cidadãos de 5 a 90 anos que ocuparam os estádios. Isso sugere que debaixo do lúdico verniz superficial transitório, desperto enquanto a "bola rola", há um forte, sólido e permanente sentimento de pertinência à pátria. Essa é a condição inicial necessária para enfrentarmos nosso verdadeiro problema: continuar a construir a sociedade civilizada sugerida na Constituição de 1988: 1º) uma República, em que todos, até o Estado e o poder incumbente que o representa, obedecem à mesma lei, sob o controle de um Supremo Tribunal Federal independente; 2º) uma democracia competitiva com eleições livres regulares e 3º) onde as políticas públicas têm como foco principal o aumento da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Foi prudente a presidente Dilma ao conter a apressada "modernização da estrutura do futebol" com estímulo oficial, porque não foi isso que a Alemanha fez. A Copa acabou e, a despeito de toda filosofia, o Brasil é o mesmo, com suas virtudes e seus problemas. A segunda-feira chegou. É hora de voltar a trabalhar!

Aumento das vendas do varejo em maio ainda é pontual, diz IBGE RIO - Os resultados mensais do comércio são muito voláteis e, apesar da alta em maio e do crescimento generalizado entre os segmentos, ainda é cedo para se falar em reversão de tendência, já que o setor vinha de três resultados negativos consecutivos. A avaliação é de Juliana Paiva, gerente da coordenação de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vendas do comércio varejista subiram 0,5% em maio, após queda de 0,4% em março e em abril, e de baixa de 0,1% em fevereiro, na série livre de influências sazonais. Todas as oito atividades do comércio tiveram crescimento entre abril e maio. De acordo com o instituto, a alta do comércio em maio está atrelada ao Dia das Mães e à Copa do Mundo. "O Dia das Mães é a segunda melhor data para o comércio, ficando atrás apenas do Natal. Com isso, cresceram as vendas de lojas de departamentos. Já a Copa do Mundo ajudou nas vendas de televisores. Em maio, começaram as promoções para atrair o consumidor", disse Juliana. Na avaliação da especialista do IBGE, o Dia das Mães também foi favorável à atividade de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que subiu 0,1% em maio, após queda de 0,9% em abril. A atividade de outros artigos de uso pessoal e doméstico subiu 2,4% em maio na comparação com abril, descontando-se os efeitos sazonais. O setor inclui lojas de departamento, joalherias e lojas virtuais. Em abril, o seg mento teve alta de 0,2% ante março, na série livre de sazonalidades. O reflexo do aumento das vendas de televisores também foi observado pelo IBGE no setor de móveis e eletrodomésticos, 5


que subiu 1,8% em maio, após alta de 0,3% no mês anterior, descontando-se os efeitos sazonais. O IBGE explicou que o ajuste sazonal da pesquisa não consegue retirar do resultado mensal a influência da Copa do Mundo, porque a competição não acontece todo ano. "Não se pode falar em redução de tendência das vendas do comércio [analisando apenas a variação de maio]. É preciso aguardar mais alguns meses de crescimento para se configurar uma reversão de tendência", disse Juliana. Nilo Lopes, técnico da coordenação de serviços e comércio do IBGE, acrescentou que o comportamento do consumidor não é homogêneo e, por isso, ele pode mudar de um mês para o outro, mesmo havendo disponibilidade de crédito para consumo e incentivos fiscais. Segundo o IBGE, os incentivos fiscais para o setor de automóveis não está sendo o suficiente para aumentar as vendas. Juliana Paiva disse que o setor passa por uma certa acomodação. Em maio, as vendas de veículos e motos, partes e peças caíram 1,9%, após alta de 4,9% em abril, na série livre de influências sazonais. "Os veículos estão com incentivo de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados reduzido] há algum tempo. É um bem durável e não há necessidade de se comprar toda hora. Faz parte do ciclo econômico", afirmou a especialista do IBGE. O varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e ainda a de material de construção, recuou 0,3% em maio ante abril, descontando-se os efeitos sazonais. No mesmo período, a comercialização de material de construção também teve queda de 0,3%.

Banco freia crédito para empresas menores Na cooperativa de transportadores Coopercarga, a principal preocupação de 2014 não tem sido a condição das estradas ou a renovação da frota de caminhões. "Neste ano, o tema das finanças é o que tem nos tomado mais tempo", afirma Osni Roman, presidente da cooperativa. Entre os cerca de 150 associados, que vão de caminhoneiros autônomos a transportadores de médio porte, Roman conta que as preocupações e as queixas com a falta de crédito se repetem. "Os bancos estão aprovando menos, exigindo mais garantias e olhando a empresa mais de perto", diz. Embora esse aperto nas condições de crédito não seja de hoje, a situação piorou em 2014. Isso porque o fraco crescimento da economia dificulta receber pagamentos de clientes, aumentando a necessidade de crédito para resolver o fluxo de caixa. "Quem precisa de uma linha de capital de giro rápido tem muita dificuldade."

A preocupação das transportadoras está longe de ser isolada. Há cerca de cinco anos, as pequenas e médias empresas (PMEs) eram a nova fronteira dos bancos no crédito. Agora, a julgar pelo balanço das principais instituições financeiras, foram relegadas a um papel secundário. O crédito para esse tipo de companhia ficou mais escasso, enquanto aumenta o receio dos bancos com a inadimplência. Dados dos balanços de Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil mostram que a participação das pequenas e médias empresas no estoque total de crédito para pessoas jurídicas caiu de 43,4% em março 2011 para 38% no fim do primeiro trimestre deste ano, segundo levantamento da Serasa Experian. Em valores 6


nominais, o saldo de crédito para esse segmento dos quatro bancos encerrou março em R$ 328,7 bilhões. Não foram apenas os grandes bancos de varejo que se retraíram. Pouco a pouco, instituições de menor porte também se afastaram do segmento. Neste ano, o banco Votorantim decidiu só atender companhias com faturamento anual superior a R$ 200 milhões. Antes focado em crédito para pequenas empresas, o Indusval subiu a régua para aquelas com receita bruta em torno de R$ 500 milhões por ano. Medida semelhante foi adotada pelo Pine. O ABC Brasil também reduziu o espaço das empresas de menor porte em seus ativos totais. Dados do Banco Central (BC) mostram que só ao longo de 2013, a participação desse segmento no total dos recursos emprestados a empresas caiu de 48,9% para 46,8%. Para a autoridade, isso ocorre pois houve um crescimento mais acelerado do crédito com recursos direcionados, em que grandes empresas são mais tomadoras. Entre os grandes bancos, é o Santander que mostra o maior tombo no segmento. Em 12 meses encerrados em março, a carteira do banco de PMEs encolheu 11,8%, para R$ 31,9 bilhões. No mesmo período, a de grandes empresas cresceu 16,4%. Em comunicado, o banco promete virar o jogo. "Nossa meta é clara: tornar-se o melhor banco das PMEs no Brasil", afirmou. O Santander promete ampliar a oferta de produtos para o segmento e acelerar o atendimento às PMEs, depois de expandir núcleos regionais para o segmento. No Itaú Unibanco, o estoque de crédito para PMEs encolheu 3,6% em 12 meses até março, a R$ 83,8 bilhões. Já a carteira de grandes empresas avançou 16,9%. Ontem, o banco demonstrou, porém, que mantém interesse no setor, com a contratação de um empréstimo de US$ 480 milhões com o Overseas Private Investment Corporation (OPIC), banco de desenvolvimento americano, e o Wells Fargo. O dinheiro será usado para financiar PMEs no Norte e Nordeste. Entre os poucos bancos médios que permanecem no setor está o Daycoval. Para reduzir o risco, optou por pulverizar os desembolsos entre mais companhias, além de reforçar as garantias, diz Carlos Dayan, diretorexecutivo. Mesmo assim, não tem sido fácil crescer. Desde 2012, esse estoque de crédito se mantém quase estável. A diferença da inadimplência entre pequenas e grandes empresas ajuda a explicar a restrição. No fim de 2013, dado mais recente disponível, a taxa de calotes entre PMEs estava em 3,35%, enquanto a das grandes era de 0,32%. Os bancos têm dado prioridade a empréstimos de menor risco, ainda que com margens mais apertadas. Para o diretor-executivo do Bradesco, Altair de Souza, uma relação bancária mais ampla com o cliente ajuda a diminuir o risco de calote. "O fluxo de caixa do cliente passa pelo Bradesco, sua cobrança é feita pelo banco e os seus fornecedores também são nossos clientes. Isso acaba mitigando o risco". No Bradesco, a carteira de crédito a PMEs cresceu 6,6% no ano, para R$ 112,8 bilhões, ante 12% da carteira de grandes companhias. Entre os grandes bancos, a equação também pode se tornar mais favorável porque, além do crédito, outros serviços são vendidos às PMEs, como a gestão de folhas de pagamento. Essas fontes de receita podem tornar o crédito mais rentável. Sem muitas alternativas de crédito, as pequenas e médias empresas têm apelado a uma velha estratégia para conseguir sobreviver. "Cada vez mais, as companhias de menor porte têm recorrido aos limites de crédito de seus sócios, nas pessoas físicas", afirma João Carlos Natal, consultor do Sebrae.

Agora, Costa Rica, México e Colômbia valem mais, ao lado dos alemães Dentro de campo, a Alemanha conquistou a taça, mas fora das quatro linhas, a seleção germânica dividiu o protagonismo da Copa com três seleções - Costa Rica, México e Colômbia na lista dos elencos que mais se valorizaram durante o torneio, segundo ranking elaborado pela Pluri Consultoria. A campeã Alemanha começou a Copa como a quarta colocada na lista dos elencos mais valiosos, para encerrar o mundial no topo do ranking, valendo € 519,2 milhões, após acumular valorização de 15,5%. "Qualquer alemão que fizer um bom 7


campeonato vai valer pelo menos € 30 milhões. Eles estão supervalorizados", disse Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria e da BrSM Brasil e Sportfood Franchising e Licenciamentos.

Além da Alemanha, na lista das dez seleções que apresentaram as valorizações mais expressivas aparecem três países latinos - Costa Rica, México e Colômbia. Essa presença é ainda mais evidente quando é composta a lista dos jogadores que mais se valorizaram. Dos dez atletas que tiveram a maior variação positiva em valor de passe, sete são de seleções latinoamericanas. E três são holandeses. A história da Costa Rica reflete, como o caso protagonizado pela Alemanha, um enredo de planejamento de longo prazo. O atual técnico, Jorge Luis Pinto, assumiu o trabalho do brasileiro naturalizado costa-riquenho Alexandre Gusmão, que atuou como jogador na Copa de 1990 - quando o time foi até as oitavas de final -, e depois assumiu o comando técnico da equipe nas Copas 2002 e 2006, com foco em investimento nas categorias de base no país. Joel Campbell, por exemplo, de 22 anos, teve valorização de 70,2% entre o início e o fim do torneio, atingindo valor de mercado de € 8,9 milhões. Segundo Fernando, colombianos, costa-riquenhos, chilenos e mexicanos podem ocupar um espaço explorado por times das chamadas segundas ligas europeias, como a portuguesa. Times como Benfica e Porto contratam jovens promessas latinas para, duas ou três temporadas depois, revender esses jogador para clubes de ponta da Inglaterra, Espanha ou Itália, de olho na parte mais aguda da valorização desses ativos. "Era um segmento dominado por brasileiros, que agora passa a ser dividido por outros latinos com mais frequência", disse o consultor. Outro destaque na lista dos jogadores que mais se valorizaram foi a presença de quatro goleiros na lista: KeylorNavas (Costa Rica), Guillermo Ochoa (México), Sergio Romero (Argentina) e Claudio Barro (Chile). Já o desempenho da seleção brasileira na Copa fez o grupo perder 4,6% de valor de mercado, passando a € valer 448,7 milhões, segundo a Pluri. Dos 23 convocados para o mundial, apenas Neymar não teve desvalorização. "O impacto maior recai sobre aqueles jogadores com mais idade, já que passam a ter poucas condições de retornar à seleção brasileira, o que impacta diretamente em seu valor", disse Ferreira.

Anatel limita gasto de operadoras com a abertura de espaço para 4G Além dos preços mínimos das licenças de serviço, o edital de licitação da quarta geração (4G) de celular também terá o valor máximo do desembolso bilionário a ser feito pelas operadoras para bancar o custo de desocupação da faixa de 700 megahertz (MHz), usada pelas TVs abertas. O objetivo da medida, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), é dar maior segurança ao investidor interessado em participar do leilão, marcado para início de setembro. O gasto das operadoras que vencerem a disputa envolve a implementação de mecanismos para conter interferências no sinal de televisão, a cobertura de despesas 8


decorrentes do reposicionamento de parte dos canais de TV e a garantia de recursos para compra de receptores do sinal de TV digital da população de baixa renda.Os valores explicitados no edital devem evitar o que ocorreu na venda de licenças 4G na faixa de 2,5 gigahertz (GHz), em 2012. Naquela ocasião, as operadoras que adquiriram as licenças tiveram que negociar a ocupação da faixa com as TVs por assinatura, que usavam a antiga tecnologia de transmissão (MMDS). O acordo entre as partes não prosperou em alguns casos e a Anatel teve que arbitrar. Boa parte dos custos previstos no edital será usada para bancar os receptores de sinal digital que serão distribuídos às famílias do Bolsa Família e os filtros antiinterferência à população inscrita no cadastro único de programas sociais do governo. A Anatel estima que somente o Bolsa Família reúna cerca de 13 milhões de famílias, enquanto o cadastro único, mantido pelo Ministério do Desenvolvimento Social, detém um número ainda maior de beneficiados. O presidente da Anatel, João Rezende, disse ontem que a principal preocupação dos investidores estrangeiros em participar do leilão é com a garantia de segurança jurídica e o risco de conflito com quem deverão conviver na mesma frequência de 700 Mhz. Segundo ele, o fato de o fim da transmissão analógica ter data marcada por decreto, em 2018, deixou os empresários mais tranquilos. Segundo Rezende, eles já acompanharam a digitalização das TVs em países como Reino Unido e EUA, que também liberaram espaço na faixa para as novas tecnologias da telefonia móvel. Rezende, depois de participar de evento do setor, tentou amenizar o efeito da suspensão das metas que entrariam no edital para ampliar o investimento no setor - a iniciativa contrariava o interesse do Tesouro Nacional de aumentar a arrecadação pública ao cobrar licenças mais caras. Ele disse que a cobertura de celular em boa parte das rodovias federais, que entraria como obrigação, já será contemplada com o cumprimento de metas impostas em outros leilões. Além disso, ele afirmou que cerca de 4.000 distritos que não dispõem de telefonia móvel serão atendidos pela faixa de 700 Mhz. O edital de 4G, no entanto, não garante a cobertura integral da malha rodoviária federal, como prometido pelo governo até o ano passado. Já os distritos que serão atendidos pela faixa de 4G terão, na verdade, o custo de investimento em redes reduzido pela vantagem técnica oferecida pelos 700 Mhz - maior cobertura com menor custo - em relação às frequências detidas atualmente pelas operadoras de celular. Na edição de ontem, o Valor, informou que há interesse de parte da equipe econômica do governo na criação de uma linha de crédito para estimular a compra à vista das licenças 4G, o que seria uma forma de garantir a entrada de todo o "bônus fiscal" do leilão ainda em 2014. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, falou sobre o assunto ontem em Fortaleza, durante a cúpula dos Brics. Disse o que BNDES não deve criar mecanismo especial para leilão 4G, pois já opera uma linha para o setor de telecomunicações voltada investimentos. "Continuaremos apoiando os investimentos em telecomunicações. Nossa política de operações normais continua."

PIB da China avança 7,5% no 2º trimestre e cresce 7,4% no semestre

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PEQUIM - O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 7,5% no segundo trimestre, ante o mesmo período do ano anterior, levemente acima da expansão registrada nos três primeiros meses do ano, de 7,4%. O desempenho melhor foi associado, em parte, às medidas de estímulo do governo para lidar com a desaceleração da atividade. Alguns economistas previam um crescimento de 7,4% entre abril e junho, perante um ano antes. Nos seis primeiros meses de 2014, a economia chinesa avançou 7,4%, conforme o Departamento Nacional de Estatísticas do país. "A economia chinesa mostrou um bom momento de crescimento moderado e estável no primeiro semestre", comentou o porta-voz do organismo, ShengLaiyun. Ele destacou ainda a situação do emprego na China, com mais de 7 milhões de novos postos criados nos seis primeiros meses do ano. Sheng observou, contudo, que se deve manter em foco que o "ambiente econômico doméstico e internacional ainda é complicado" e que a economia chinesa enfrenta uma série de desafios, sem especificar quais. Avisou que Pequim vai continuar a aprofundar as reformas e ajustar a estrutura econômica, entre outros pontos.

São Paulo lidera ranking de exportação em junho Em junho de 2014, as exportações do agronegócio alcançaram a cifra de US$ 9,61 bilhões. Desta vez, São Paulo ficou em primeiro lugar no ranking de exportações, com US$ 1,6 bilhão. Em segundo lugar está Mato Grosso, com US$ 1,58 bilhão exportados. Em seguida estão os estados do Rio Grande do Sul (US$ 1,5 bilhão), do Paraná (US$ 1,2 bilhão) e de Minas Gerais (US$ 789 milhões). O setor que alcançou os maiores números de exportação em São Paulo foi o complexo sucroalcooleiro com US$ 3,1 bilhões. Desse valor, foram exportados US$ 2,6 bilhões de açúcar de cana ou de beterraba. A exportação de carne foi a segunda maior no estado, atingindo a cifra de US$ 1,23 bilhão. Já Mato Grosso, o complexo soja ficou em primeiro lugar entre os setores exportados (US$ 6,9 bilhões), de janeiro a junho deste ano. Dentro do complexo, o item mais exportado pelo estado foi a soja em grãos, com US$ 5,54 bilhões. A carne foi o segundo setor mais exportado de Mato Grosso, com US$ 811 milhões, sendo US$ 632 milhões de carne bovina. No mesmo período, o Rio Grande do Sul exportou US$ 2,9 bilhões em produtos do complexo soja. Somente a soja em grão é responsável por US$ 2,23 bilhões exportados dentro do complexo. Em seguida, no estado, está a exportação de carne, com a cifra de US$ 949 milhões. A exportação do complexo soja também foi destaque no Paraná, no primeiro semestre de 2014, com a cifra de US$ 3,6 bilhões. Em segundo lugar, o estado exportou carne (US$ 1,24 bilhão), sendo US$ 1,06 bilhão de carne de frango. O destaque de exportações de Minas Gerais é o café, com US$ 1,8 bilhão, seguido pela exportação do complexo soja, que atingiu a cifra de US$ 580 milhões.

Países do Brics defendem mudanças no Fundo Monetário Internacional Os representantes dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) defenderam a implementação de reformas do Fundo Monetário Internacional (FMI), para modernizar a estrutura de governança do órgão e refletir melhor o peso das economias emergentes. Na Declaração de Fortaleza, documento resultante da 6ª Cúpula do Brics, realizada ontem (15) em Fortaleza, os cinco países cobraram a revisão geral das cotas do FMI, sem atrasos. Após a reunião, a presidenta Dilma Rousseff também defendeu a reforma das cotas, com o cumprimento dos acordos firmados pelo G20, que previam a reforma do FMI e do Banco Mundial. Segundo ela, as modificações nas cotas poderiam garantir que essas entidades 10


refletissem o real poder das economias emergentes. A presidenta destacou que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, que irá financiar projetos dos países do Brics, não é uma resposta à falta de reforma do FMI. "É uma resposta às nossas necessidades. Acredito que, mesmo com a criação do banco do Brics, fica ainda colocada na pauta a mudança das cotas, que é importante para dar sustentação e legitimidade a uma instituição multilateral, que é o Fundo Monetário", disse. Outro tema abordado pelos líderes do Brics na declaração final do evento é a necessidade de reforma no Conselho de Segurança da ONU, para torná-lo mais representativo, eficaz e eficiente. "China e Rússia reiteram a importância que atribuem ao status e papel de Brasil, Índia e África do Sul em assuntos internacionais e apoiam sua aspiração de desempenhar um papel maior nas Nações Unidas", diz o documento. Sobre esse assunto, a presidenta Dilma ressaltou que a resolução de conflitos regionais evidenciam a necessidade de o Conselho de Segurança ser um órgão de maior representatividade. "Nós afirmamos a paz, a necessidade de priorizar o diálogo como forma de garantir a resolução de conflitos e consideramos que o melhor padrão é primeiro seguir as regras das Nações Unidas, respeitar o direito internacional e agir dentro desse marco."

Brasil entra na lista dos "top 10" em fontes renováveis O Brasil entrou, pela primeira vez, na lista dos dez primeiros colocados em um ranking mundial de atratividade para investimentos em energias renováveis formulado trimestralmente pela firma de consultoria EY (antiga Ernst & Young), que mede o ambiente de negócios em 40 países no segmento de fontes limpas de energia. O Brasil subiu do 12º para o 10º lugar no "Renewable Energy Country Attractiveness Index" (Recai), após a decisão do governo federal de incentivar, a partir deste ano, a construção de usinas solares no país. A indústria eólica já se consolidou no mercado brasileiro, que incentivou a instalação de aerogeradores a partir de 2003, logo após a crise e o racionamento de energia elétrica em 2001. A indústria solar, porém, ainda é marginal no Brasil. Os elevados custos dos painéis e a falta de fabricantes locais de equipamentos, que hoje são produzidos em larga escala na China, sempre emperraram os investimentos.

Mas esse cenário começa a mudar. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), braço de planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), começará a oferecer neste ano contratos específicos de energia solar nos leilões de novos empreendimentos de geração. Em seu relatório, a EY afirma que, em termos de atratividade para investidores em energias renováveis, o Brasil é o lugar mais "quente" do mundo neste momento. Depois vêm o Quênia e a África do Sul. "A instalação de parques solares é rápida e poderia ajudar o Brasil neste momento de seca" afirma Mário Lima, diretor executivo de consultoria em sustentabilidade da EY, citando a crise provocada pela queda nos reservatórios das hidrelétricas. A eólica é uma fonte mais econômica, com custos mais baixos, mas a solar exige menos tempo de instalação, compara o executivo. No ranking da EY, por exemplo, o Brasil já figura em 7º lugar em atratividade para investimentos em parques eólicos construídos em terra - o país cai para a 26ª 11


posição na exploração de parques eólicos marítimos, que são mais comuns nos Estados Unidos, China e Alemanha. O Brasil ocupa a 10ª colocação em investimentos em usinas termossolares e a 15ª posição em usinas solares fotovoltaicas. Segundo Lima, o mercado brasileiro poderia se beneficiar dos pesados investimentos feitos pela China no segmento de energia solar, o que vai manter a tendência de queda nos custos dos equipamentos. Hoje, todas as usinas solares do planeta possuem uma capacidade instalada de 50 GW. "Em 2018, a China pretende atingir sozinha 75 GW de potência instalada em energia solar", diz Lima. A China é altamente dependente de térmicas a carvão e está investindo em fontes alternativas de energia para reduzir suas emissões de CO2, afirma o executivo da EY. Os índices de poluição são alarmantes em algumas cidades chinesas. Brasil, porém, precisa solucionar alguns gargalos para que a indústria solar se desenvolva. Um deles, diz Lima, é a exigência de um elevado conteúdo local para a concessão de financiamentos por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que oferece crédito para os fabricantes de equipamentos por meio da linha Finane. Normalmente, 70% dos recursos investidos pelos empreendedores nos projetos de geração de energia são alavancados. Mas, para conceder empréstimos, o BNDES obriga que 60% dos equipamentos sejam fabricados localmente. Segundo Lima, há expectativas no setor de que a exigência de conteúdo local seja reduzida numa primeira fase, para atrair fabricantes de equipamentos de energia solar para o mercado brasileiro. O percentual, segundo ele, poderia ser reduzido para 20%. Essas medidas estão sendo discutidas com o governo brasileiro, mas não há ainda uma "clareza" de como essa política será implementada, afirma Lima. Segundo ele, uma das hipóteses debatidas seria a criação de uma linha de Finame específica para o setor solar. "A energia solar é uma indústria de inovação e seria interessante para o Brasil desenvolver esse tipo de tecnologia", diz Lima, ao ressaltar que só a Weg, por exemplo, fabrica inversores no país. Em sua avaliação, o modelo que o Brasil criou para a eólica é bem-sucedido e poderia ser usado para a solar. Em energia solar, o Brasil fica bem atrás do Chile, país que ocupa o 13º lugar no índice global da EY. Na utilização de energia solar concentrada (CSP), tecnologia também conhecida como termossolar, os chilenos já estão em segundo lugar no ranking mundial, com a construção de usinas no deserto do Atacama. A diferença, porém, é que a economia chilena é mais aberta à importação que a brasileira, o que facilita os investimentos em projetos solares. "No Chile, os investimentos são puxados pelo setor de mineração, que consome muita energia. Pode-se criar sinergias interessantes entre os projetos", afirma Lima, lembrando que o Brasil também possui uma indústria de mineração desenvolvida.

Possíveis razões do baixo crescimento Um dos principais debates em curso no país é sobre as razões que teriam levado a economia brasileira a desacelerar o crescimento de forma tão abrupta. O debate é relevante porque, uma vez identificadas essas razões, num mundo ideal criam-se as condições para que se corrija o rumo das políticas, permitindo que o Produto Interno Bruto (PIB) volte a crescer de forma mais rápida. Não se trata de um debate desapaixonado. O governo Dilma sustenta a tese de que o Brasil tem avançado lentamente porque o mundo cresce pouco desde a crise de 2008. No mercado, a visão predominante é a de que o baixo crescimento é explicado pela perda de credibilidade da política econômica na gestão Dilma. Uma terceira hipótese é a de que a ausência de reformas microeconômicas seria a grande responsável pela situação atual. É bem provável que os três elementos concorram para explicar o mau momento. Dois economistas do Banco Mundial - Otaviano Canuto e Philip Schellekens - desenvolveram o tema num pequeno estudo intitulado "Três Perspectivas sobre o Pessimismo quanto ao Crescimento Brasileiro". Os dois acreditam que a explicação está na falta de reformas, mas eles também jogam luz sobre as outras duas possibilidades. De 1947 a 1980, o Brasil cresceu a uma média 12


de 7,5% ao ano. Entre 1981 e 2003, período que marcou a crise da dívida, a taxa de crescimento anual caiu para 2%. A estabilização da economia desde 1994 e um ambiente externo favorável aceleraram a expansão média anual para 5% entre 2004 e 2008. Apesar de ter resistido bem à crise mundial de 2008, inclusive ao registrar crescimento de 7,5% em 2010, o Brasil tem avançado desde 2011 a taxas que lembram o período 1981-2003. Na verdade, a confirmar-se a projeção mediana do mercado para o PIB de 2014 - alta de apenas 1% -, a média dos anos Dilma será de míseros 1,8%. Canuto e Schellekens argumentam que o crescimento acelerado de 2004 a 2010 foi resultado dos efeitos retardados das reformas realizadas nos anos 90 e na primeira metade dos anos 2000. O Brasil colocou a "casa macroeconômica em ordem" e implementou reformas nos setores financeiro, comercial e social. Os prêmios de risco de ativos brasileiros caíram de forma sistemática depois que ficou claro o compromisso com a disciplina fiscal, o regime de metas para inflação e o câmbio flutuante, independentemente do partido político no comando do governo. Adicionalmente, condições externas favoráveis ajudaram a diminuir as restrições financeiras. Para muitos, o Brasil parou de crescer porque, nos últimos três anos, o governo pôs em risco a credibilidade duramente conquistada. Com o objetivo de acelerar o crescimento, Brasília relaxou a política fiscal, tolerou inflação mais alta e fez intervenções no câmbio para amortecer a volatilidade. Além disso, usou os preços administrados para controlar a inflação e abusou de operações parafiscais pouco transparentes para estimular o crédito.

Na opinião desses críticos, tudo isso resultou na redução da nota de crédito do país, que, no caso da Standard &Poor's, está a apenas um patamar da perda do grau de investimento. Canuto e Schellekens disputam esse diagnóstico. Eles concordam que a política econômica sofreu perda de credibilidade, mas não atribuem a esse fator toda a moderação do crescimento. Segundo eles, os pilares macroeconômicos permanecem, num conceito mais amplo, "intactos". Além disso, o Brasil continua a dispor de "grandes amortecedores externos". Canuto e Schellekens consideram também exagerada a tese de que a piora das condições externas nos anos recentes, com o baixo crescimento das economias avançadas, a moderação da expansão chinesa, o aumento da aversão dos investidores a risco e a elevação do custo do crédito externo, tem sido a grande responsável pelo baixo crescimento do Brasil. Eles lembram que a maior parte do PIB brasileiro é dado pelo mercado interno e que, aqui, a atividade tem uma "orientação externa limitada". Das dez maiores economias, a brasileira é a que possui a menor participação das exportações no PIB (ver gráfico). Canuto e Schellekens consideram exagerado atribuir a fatores externos o crescimento acelerado da economia entre 2004 e 2008. A opção dos dois economistas é pela ausência de reformas microeconômicas. Para eles, o ambiente microeconômico é crítico para o crescimento, "ainda mais hoje do que no passado". A razão está na dinâmica demográfica, que tem reduzido o crescimento da força de trabalho no Brasil. "Crescimento maior requer, portanto, primeiro e principalmente o aumento da produtividade do trabalho, mas isso permanece limitado por um ambiente de negócios pesado e um ritmo lento de acumulação de capital humano e físico", dizem Canuto e Schellekens. Canuto participou da equipe que, no início do governo Lula, sob a liderança do então ministro Antonio Palocci, promoveu avanços importantes na agenda de reformas microeconômicas. No período seguinte à saída de Palocci, essa agenda foi abandonada em prol 13


de medidas de estímulo ao consumo. Mais recentemente, alguns esforços, especialmente os coordenados pelo secretário de Política Econômica, Márcio Holland, foram retomados, mas a agenda, como assinalam Canuto e Schellekens, é "longa e inacabada".

Coutinho relata explosão por investimentos a chineses

Coutinho: a área de mobilidade está recebendo "um volume expressivo de investimentos"

Brasília - Em uma apresentação para empresários chineses que acompanham a visita de Estado do presidente da China, Xi Jinping, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, destacou que a distribuição de renda e a expansão do mercado consumidor brasileiro nos últimos anos fez "explodir" a demanda por investimentos em infraestrutura no País. A um dos palestrantes do Seminário Empresarial Brasil-China, realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Coutinho afirmou que o Brasil aumentou suas reservas de petróleo provadas e que isso "descortinou a perspectiva de crescimento expressivo das exportações de petróleo" do País. Ele pontuou ainda que previsões do banco de fomento apontam para investimentos no Brasil da ordem de US$ 1 trilhão no quadriênio 2014-17. Os investimentos abarcam as áreas de indústria, infraestrutura, habitação, agricultura e serviços. Coutinho ressaltou que isso coloca as taxas de crescimento do investimento da economia brasileira em uma "base sólida", embora elas ainda precisem crescer mais. Lembrando que o BNDES é o maior financiador de projetos de infraestrutura no País, Coutinho disse a área de mobilidade está recebendo "um volume expressivo de investimentos". "Dado o grande programa de investimento em logística, eles crescerão firmemente neste quadriênio", destacou, argumentando que os planos abarcam ferrovias, metrôs, portos e rodovias. "A economia brasileira detém um conjunto relevante de oportunidade em investimento e a parceria Brasil-China é de mútuo interesse para as duas economias", afirmou Coutinho. O presidente do BNDES disse ainda que existe expectativa de serem desenvolvidas parcerias com o sistema bancário chinês. "Estaremos discutindo isso com bancos chineses, além da parceria história entre o BNDES e o Banco de Desenvolvimento da China", concluiu.

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Aneel vê impacto em reajuste se não houver solução em gastos

Brasília - As negociações em torno de uma solução para cobrir os gastos das distribuidoras de energia no mercado de curto prazo “estão caminhando”, mas se não houver uma solução antes de agosto, pelo menos uma dezena de reajustes que ocorrerão no próximo mês acabarão sendo elevados por conta desses custos. O alerta foi feito nesta nesta quarta-feira pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino. Segundo ele, Entre as empresas que terão reajuste de tarifa em agosto estão Celesc (SC), CEB (DF) e Celg (GO). “Mês que vem tem um conjunto grande de empresas que passa pelo processo tarifário. Aquilo que não tiver uma solução via empréstimo ou qualquer outra fonte de recurso, no processo tarifário será refletido “, disse Rufino a jornalistas, após ter sua recondução ao cargo na Aneel aprovada pela Comissão de Infraestrutura do Senado. Segundo Rufino, um eventual novo empréstimo junto aos bancos para cobrir os gastos das distribuidoras no mercado de energia de curto prazo é uma das alternativas, mas não a única. Ele não mencionou quais seriam as outras. O diretor-geral da Aneel lembrou que a agência reguladora adiou para o fim do mês o prazo da liquidação do mercado de curtto prazo, na expectativa de que uma solução seja alcançada até lá, mas disse que não pode garantir quando sairá a solução. A questão vem sendo discutida há semanas no governo, principalmente entre Aneel e Ministério da Fazenda. Em abril, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) assinou empréstimo de 11,2 bilhões de reais junto a um sindicato de bancos para repassar às distribuidoras, mas os recursos, que deveriam cobrir a exposição das empresas até o fim do ano, terminaram em junho, diante dos elevados custos da energia gerada nas termelétrica.

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