SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 17 DE OUTUBRO DE 2014
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Gasto médio com Dia das Crianças chega a R$ 137,58 Fonte Portal Economia SC 17 de outubro de 2014 às 09h 42 O gasto médio das compras do Dia das Crianças deste ano registrado pela pesquisa de resultado de vendas da Fecomércio SC e FCDL/SC foi de R$ 137,58. O valor é consideravelmente menor do que os R$ 149,33 registrados no mesmo período de 2013. O presidente da Fecomércio SC, Bruno Breithaupt, explica que a queda é justificada pela taxa de juros maior e pelo crescimento menor da renda das famílias, fatores que vêm enfraquecendo os resultados do comércio. Além disso, a média de contratados pelas empresas durante o período também ficou baixa, com 0,38 novos contratados por empresa. “A queda é explicada pela forte carência de mão de obra, que deixa o empresário com receio de contratar, e isso vem se repetindo em praticamente todas as datas sazonais do comércio”, observa Breithaupt. O maior gasto médio de 2014 foi o da cidade de Itajaí – R$ 196,55, seguida por Criciúma (R$ 157,60), Joinville (R$ 146,38), Florianópolis (R$ 142,13), Lages (R$ 135,31), Chapecó (R$ 100,37) e Blumenau (R$ 96,56). De acordo com balanço do Serviço de Proteção ao Crédito de SC (SPC/SC) nos dias que antecederam a data comemorativa houve um crescimento de 1,05% nas consultas para compra no crediário, na comparação com 2013. Sergio Medeiros, presidente da FCDL/SC, observa que essa variação faz com que os varejistas alimentem expectativa de dias melhores nos próximos meses. “Definitivamente 2014 não tem sido bom para o varejo, em função das inúmeras incertezas econômicas que o Brasil vive. Esse pequeno aumento faz com que acreditemos em uma melhora neste final de ano”, destaca Medeiros. Para avaliar o impacto do Dia das Crianças no comércio estadual, a Fecomércio SC e FCDL/SC entrevistaram 514 empresas, entre os dias 13 e 14 de outubro, nas cidades de Blumenau, Chapecó, Criciúma, Florianópolis, Itajaí, Joinville e Lages.
Estado registra 7 mil novos postos de trabalho Fonte Portal Economia SC 17 de outubro de 2014 às 09h 10 Dados do último CAGED (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego ), divulgado pelo MTE, revelam que o Estado registrou saldo positivo no mercado de trabalho no mês de setembro, com 7.033 novos empregos formais. Em comparação com o mesmo período de 2013, no entanto, o valor é 37,7% menor. No ano passado, foram 11.224 empregos formais criados. No Estado, o setor que liderou a criação de empregos em setembro de 2014 foi o de serviços com 3.197 vagas, seguido pelo comércio (2.665), indústria (1.171), agropecuária (66) e construção civil, único setor que fechou com valor negativo (-66). A queda no saldo de empregos catarinenses também é sentida no país: foram 123.785 novos empregos formais em setembro de 2014, contra 211.168 no mesmo período de 2013. Ou seja, redução de 41,3%, que representa o pior desempenho para o mês de setembro, desde 2001. No acumulado do ano, o CAGED também registra uma redução de 29,6%, considerando 730.124 novos postos de trabalho deste ano e 1,073 milhões nos primeiros meses de 2013. 2
A FECOMÉRCIO SC analisa a relação da baixa criação de vagas com os indicadores econômicos. Todos os setores, impactados fortemente pelo aumento do custo do trabalho, apresentaram resultados inferiores a setembro de 2013. O comércio sente as quedas nas vendas e na receita, tendo um desempenho 12,5% menor. Já a indústria, em um cenário de férias coletivas e de atividade reduzida no Estado, diminuiu em 60,7% a criação de postos de trabalho. Por fim, o setor de serviços é influenciado pelos efeitos da desaceleração dos demais setores, apresentando um saldo de vagas 25,5% inferior.
Uma aposta errada nos EUA Fonte Folha de São Paulo 17/10/2014 02h00 Os mercados financeiros internacionais viveram um novo dia de pânico na quarta-feira. O epicentro desse terremoto mais recente ocorreu no segmento de juros americanos, um dos mais líquidos e calmos entre todos os outros que compõem a arquitetura financeira moderna. A flutuação dos preços -e, portanto, dos juros- dos títulos de dez anos emitidos pelo governo americano foi realmente selvagem. Em poucos momentos de negociações o valor desses papéis caiu incríveis 5,4%, queda que poucos operadores experientes poderiam imaginar. Como a maioria dos negócios é realizada nos mercados futuros, via sofisticados programas de computador, essa variação de preços inesperada e brutal provocou o que se chama, na língua do Tio Sam, de "selloff". Traduzido para nossa língua, esse termo que dizer: "Salve-se quem puder porque os prejuízos serão grandes". Os gênios da raça -a grande maioria- que tinham quase certeza de que o próximo grande movimento nesse mercado seria de alta dos juros -e queda dos preços dos papéis- iniciaram uma corrida maluca para limitar seus prejuízos. Como sempre acontece nesses momentos, o pânico se instala e os preços chegam a níveis irracionais também. O incrível é que a mídia no dia de hoje não fala dessa situação e associa a queda dos juros nos EUA a uma visão catastrófica na economia. Isso não é verdade, pois o crescimento americano está se estabilizando e deve chegar a mais de 2,5% neste ano e no próximo. Com o Fed deixando o aumento de juros para mais tarde, ficam reforçadas as defesas contra a onda deflacionista que vem da Europa. Outra âncora para manter os juros quietos é a inflação abaixo da meta do Fed, tendência reforçada recentemente com a queda significativa dos preços do petróleo. O gatilho para o "selloff" dos últimos dias foi a declaração sempre curta, mas firme, de Stanley Fischer, vice-presidente do Fed e hoje o principal nome técnico da instituição. Ele disse aos jornais que em uma situação de economia mais fraca fora dos Estados Unidos -como ocorre agora- o Fed seria mais lento na normalização da política monetária americana. Um sinal claro para os mercados de que a aposta na alta dos juros americanos estava fundamentalmente errada e que os mercados de títulos de juros deveriam corrigir seus preços. Da publicação de suas palavras na mídia especializada até o início da correria desenfreada dos especuladores foi um pulo. Em um mundo totalmente ligado pelas mesas de operações das instituições financeiras, a onda de nervosismo e irracionalidade iniciada em Wall Street espalhou-se pela Europa e por mercados emergentes como o Brasil. Em cada país a mídia e os operadores de mercado encontraram em questões locais como as eleições do próximo dia 26 aqui no Brasil- motivações secundárias para justificar a queda das Bolsas de Valores e a volatilidade nos mercados de juros e câmbio. Pouco a pouco, ao longo do dia, a verdadeira causa dos movimentos do mercado -"selloff" dos juros norte-americanos- foi sendo esquecida, e os jornais brasileiros, e de outras regiões do mundo, no dia seguinte falavam apenas na falta de confiança na economia americana e nos riscos de o mundo todo cair em uma nova e sincronizada recessão. 3
Quando a paz voltar ao mercado e as análises fundamentadas substituírem os comentários menores dos analistas e da mídia, o que deve ficar dessa confusão será muito positivo. Com o cenário de mudança na política monetária americana empurrado para fins de 2015, os juros baixos vão fortalecer o crescimento futuro e, com isso, criar uma força compensatória para outro ataque de pessimismo em relação à economia da União Europeia. Ajudará também a China nessa transição de política econômica baseada nas exportações e investimentos em infraestrutura para o consumo interno. E também o Brasil, se o próximo governo devolver aos principais agentes econômicos a confiança e o respeito pela condução da economia.
As aparências do mercado enganam Fonte Folha de São Paulo 17/10/2014 02h00 A finança e o pessoal do dinheiro grosso estão agitados, como costuma acontecer mais ou menos em qualquer período de eleição presidencial. Desde 2002 não faziam tanta campanha contra a eleição de um presidente ou manifestavam tão claramente seus desejos, por meio de palavras, atos e ranger de dentes. A economia do Brasil no entanto não vai sair arrebentada da campanha, como em 2002, quando Lula se elegeu. Nem de longe. Além do mais, mesmo recentemente, houve momentos ainda mais frenéticos na praça do mercado. A notícia menos animadora é que os dias de agitação maior em 2013 e 2014 (antes da campanha) eram reações a viradas no mercado mundial agravadas por uma análise mais sensata sobre fragilidades da economia brasileira. Pelo menos, tais reações eram muitíssimo mais sensatas do que aquilo que se vê nestas semanas de cassino, em especial na Bolsa de São Paulo. Ou seja, a persistência dos problemas na administração da política econômica e o andamento lerdo do país aliados à permanência da onda de paniquitos nos mercados mundiais, para nem falar de crise, vai suscitar balançadas ou até desarranjos financeiros por aqui, notáveis, no que importa mais, em juros e dólar. Em suma, não se deve ficar muito impressionado com as cambalhotas do Ibovespa, muitas delas entre caricatas e ridículas. A Bolsa de São Paulo passa pelos momentos mais frenéticos desde 2011. Mais frenéticos do que a média de qualquer um dos últimos 20 anos, se a gente olha o volume relativo de negócios em dinheiro. A volatilidade dos preços está alta, mas não mais em semanas agitadas como as de ainda março deste ano, junho de 2013 ou em vários meses de 2012, de crise e pânicos na Europa. As variações do dólar parecem acompanhar as do Ibovespa, o que apenas em parte menor é verdade. A moeda brasileira balança no balanço da bossa das mudanças da economia mundial, de juros e de taxas de crescimento. Uma ironia um tanto deprimente da comparação de 2014 com 2002 é que, embora o frenesi financeiro durante a campanha da eleição de Lula tenha sido muito maior e daninho, a situação econômica de hoje é em certo aspecto mais difícil de consertar. Claro, é preciso dizer que a economia brasileira é mais arrumada e resistente. Não tem dívida externa, nem passivos públicos em dólar. Tem reservas. A dívida pública é muito menor. Há muito menos pobreza, o que de um ponto de vista cínico e frio, digamos, tem importância quando se leva em conta os danos sociais e políticos que certos ajustes econômicos podem causar. Mas não há folga para cortar gastos e/ou aumentar receitas do governo sem que sobrevenha algum atrito político. Não há reformas econômicas "fáceis", que proporcionem retorno alto com custo político baixo, ainda mais quando se considera o ambiente político-ideológico "polarizado". Menos ainda há perspectiva de retomada do crescimento econômico em breve crescimento, não uma saída da estagnação de agora. O desemprego é baixo, o investimento também, a economia mundial não vai ajudar. Pode melhorar, claro. Mas mais devagar. 4
Editorial: O caso da reeleição Fonte Folha de São Paulo 17/10/2014 02h00 Nesta campanha eleitoral pródiga em falsas questões, poucos temas terão alcançado tanta projeção indevida como o fim da reeleição. A candidata derrotada Marina Silva (PSB), que contribuiu para adensar o conteúdo programático do debate no primeiro turno, nesse caso prestou um desserviço no que foi acompanhada pelo candidato Aécio Neves (PSDB). O instituto tem seus prós e contras, como toda regra eleitoral, mas decerto não está no fulcro das muitas distorções da política nacional. Ao contrário: como defende esta Folha há décadas, o arranjo consagrado por emenda constitucional de 1997 é mais democrático que a alternativa de um único mandato. O primeiro e mais óbvio argumento em favor da possibilidade de reconduzir um governante é o direito do eleitor de julgar sua administração com o mais eficaz dos instrumentos: o voto. Trata-se de poderoso estímulo para o ocupante do cargo fazer uma gestão responsável, voltada para resultados, e para não ceder à tentação de legar bombas de efeito retardado ao sucessor. Além disso, superestimam-se as duas principais desvantagens atribuídas à reeleição: dano à desejável alternância de poder e desequilíbrio entre concorrentes pelo uso da máquina pública. Não se pode falar em perpetuação no cargo quando se trata de meros dois mandatos, como no Brasil. A reeleição, ademais, não é uma garantia, como pode testemunhar a presidente Dilma Rousseff (PT), que pena para confirmar o padrão estabelecido por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tampouco tem sido essa a regra nos governos estaduais desde as eleições de 1998, quando a norma passou a valer. Como assinalou o colunista Fernando Rodrigues nesta Folha, dos 77 governadores que buscaram um segundo mandato, apenas 50 o conseguiram (rejeição nas urnas de 35%, portanto). Entre prefeitos, a taxa de sucesso é ainda menor, pouco mais de 50%, mostraram em 2012 Thomas Brambor e Ricardo Ceneviva em trabalho publicadona revista "Novos Estudos". Se incluídos na amostra os alcaides que não tentaram a reeleição, o índice cai para 40%. São limitados, como se vê, os poderes eleitoreiros do incumbente. Para restringir abusos com recursos públicos nas campanhas, de resto, existem tribunais eleitorais. Se não há benefício em alterar a norma, reside, na própria mudança, um malefício. A democracia brasileira é relativamente jovem, tem menos de 30 anos, e o instituto da reeleição, apenas 16. Convém deixar a lei ser aperfeiçoada com o tempo, com a aplicação continuada. Um sistema político não amadurece da noite para o dia, e modificações a cada ciclo eleitoral decerto não contribuem para melhorar a cultura democrática ao contrário, ampliam a incerteza quanto às regras do jogo.
A vingança dos imperdoáveis Fonte Folha de São Paulo 13/10/2014 16h44 Pode me interromper se você já ouviu isso antes: a economia mundial parece estar tropeçando. Por algum tempo, as coisas pareciam melhores, e houve até conversa sobre os primeiros brotos de uma recuperação. Mas agora o crescimento está se estagnando e o espectro da deflação paira sobre nós. Se essa história parece familiar, é porque de fato é conhecida; ela vem se desenrolando repetidamente desde 2008. Como em episódios anteriores, as piores notícias vêm da Europa, mas desta vez também existe uma clara desaceleração nos mercados emergentes - e existem 5
até mesmo sinais de alerta nos Estados Unidos, a despeito do bom crescimento no emprego que temos agora. Por que isso não para de se repetir? Afinal, os acontecimentos que produziram a Grande Recessão - a contração no mercado da habitação, a crise bancária - transcorreram muito tempo atrás. Por que não conseguimos escapar ao seu legado? A resposta imediata envolve uma série de erros de política: austeridade quando as economias necessitavam de estímulo; paranoia sobre a inflação quando o verdadeiro risco é a deflação; e assim por diante. Mas por que os governos continuam a cometer esses erros? Em particular, porque continuam a cometer os mesmos erros, ano após ano? A resposta, eu sugeriria, é um excesso de virtude. O excesso de rigor está matando a economia mundial. Qual é nosso problema econômico fundamental, pois? Um relato simplificado mas em geral correto do que saiu errado teria a seguinte forma: nos anos que conduziram à Grande Recessão, tivemos uma explosão de crédito (principalmente no setor privado). Noções antiquadas de prudência, da parte dos credores e devedores igualmente, foram deixadas de lado; níveis de endividamento que antes teriam sido considerados insensatos se tornaram a norma. E de repente a música parou, o influxo de dinheiro se deteve e todo mundo começou a apelar por uma redução do nível de endividamento, por uma "desalavancagem". Para os indivíduos, tomados um a um, isso era prudente. Mas minha renda é o seu gasto, e a sua renda o meu gasto, de modo que quando todo mundo tenta reduzir dívidas ao mesmo tempo, o resultado é uma depressão econômica. O que se pode fazer, portanto? Historicamente, a solução para nível elevado de endividamento em muitos casos envolveu perdão de dívidas e aceitação de prejuízos. Em alguns casos, isso aconteceu de forma explícita: nos anos 30, o presidente Franklin Roosevelt ajudou os devedores a refinanciar suas hipotecas, baixando seu custo, enquanto na crise atual a Islândia está cancelando de forma direta boa parte da dívida acumulada pelos domicílios do país nos anos da bolha. O mais frequente é que os esforços de reduzir dívidas sejam implícitos, por meio de "repressão financeira": as políticas dos governos mantêm baixas as taxas de juros, enquanto a inflação erode o valor real da dívida. O que é notável quanto após últimos anos, porém, é que o montante de dívidas perdoado tenha sido tão baixo. Sim, temos o caso da Islândia –mas é um país minúsculo. Sim, os credores da Grécia aceitaram a perda de parte considerável de seu saldo a receber– mas a Grécia também é um agente econômico menor (e ainda desesperadamente endividado). Nas grandes economias, poucos credores tiveram suas dívidas aliviadas. E longe de elas terem sido reduzidas pela inflação, a carga da dívida terminou aumentada pela queda da inflação, que está bem abaixo da meta nos Estados Unidos e perto do zero na Europa. Por que os devedores vêm recebendo tão pouca ajuda? Como afirmei acima, é tudo uma questão de rigor excessivo - o sentimento de que qualquer forma de perdão de dívida significaria premiar o mau comportamento. Nos Estados Unidos, o famoso surto do apresentador de TV Rick Santelli que deu origem ao TeaParty não girava em tornos de impostos ou gastos. Era uma denúncia furiosa de propostas para ajudar os mutuários da casa própria que enfrentavam problemas. Na Europa, as políticas de austeridade foram propelidas menos por análise econômica do que pela indignação moral da Alemanha diante da perspectiva de que devedores irresponsáveis talvez escapassem às plenas consequências de suas ações. Assim, a resposta de política econômica à dívida excessiva foi, na prática, a exigência de que os devedores pagassem suas dívidas na íntegra. O que a História diz sobre essa estratégia? A resposta é fácil: ela não funciona. Qualquer que seja o progresso conseguido pelos devedores por meio de sofrimento e economia, a depressão e a inflação mais que o compensam. Foi, por exemplo, o que aconteceu com o Reino Unido ao final da Primeira Guerra Mundial, quando o país tentou pagar suas dívidas por meio de imensos superávits orçamentários, enquanto retornava ao padrão ouro. A despeito de anos de sacrifício, os britânicos não conseguiram 6
praticamente qualquer avanço quanto a reduzir a razão entre sua dívida e o Produto Interno Bruto (PIB). E é isso que está acontecendo agora. Um recente relatório abrangente sobre a dívida tem por título "Desalavancagem, que desalavancagem?; a despeito de cortes nos gastos privados e da austeridade no setor público, o nível de endividamento está subindo graças ao mau desempenho econômico. E é possível argumentar que não estamos mais perto de escapar à armadilha da dívida do que estávamos cinco anos atrás. Mas vem sendo muito difícil fazer com que a elite da política econômica e o público mais amplo compreendam que, ocasionalmente, perdoar dívidas serve ao interesse de todos. Em lugar disso, aresposta ao mau desempenho econômico vêm sendo essencialmente a de que a surra vai continuar até que o moral melhore. Pode ser, quem sabe, que má notíciaspor exemplo uma recessão na Alemanha venham por fim a derrubar esse destrutivo reino da virtude. Mas não conte com isso.
Defasagem da gasolina deixa rombo de US$ 22 bi Fonte Folha de São Paulo 17/10/2014 02h00 Uma das necessidades do setor sucroalcooleiro era uma correção dos preços internos da gasolina com base nos do petróleo comercializado no mercado externo. Os valores internos de negociações da gasolina vinham com uma defasagem de preços em relação aos externos desde 2011, quando o governo decidiu pelo fim da paridade dos preços praticados internamente com os externos. A queda do petróleo no exterior praticamente elimina a necessidade desse ajuste, por ora, mas o estrago na caixa da Petrobras e dos produtores foi grande desde o período em que o governo adotou essa política. A perda potencial de receitas da Petrobras, devido à não atualização dessa paridade, é estimada em US$ 12 bilhões pelo mercado, considerado o mês de agosto de 2011, quando terminou essa equivalência, até igual período deste ano. A perda foi de US$ 0,10 por litro, atingindo R$ 0,20, com base em um câmbio médio de R$ 2,00 para o período. Essas perdas se estenderam também para o etanol, cujas receitas ficaram ainda menores devido à retirada de R$ 0,28 por litro da Cide. O resultado foi que a soma das perdas potenciais do etanol hidratado e do anidro ficou próxima de US$ 9,9 bilhões –R$ 19,8 bilhões. Os preços artificiais da gasolina inibem uma recuperação das margens do etanol, que só passa a ser atrativo quando inferior a 70% do do derivado de petróleo. A Petrobras terá um alívio com o fim desse descasamento dos preços internos e externos, mas o setor sucroalcooleiro continuará penalizado, ainda, pela retirada dos R$ 0,28 por litro da Cide. O barril de petróleo tipo Brent foi negociado nesta quinta-feira (16) a US$ 85,82, com alta de 2% em relação ao dia anterior, quando considerado o contrato de dezembro. Esse valor registra queda, no entanto, de 23% ante outubro de 2013. Já o contrato de novembro do petróleo negociado em Nova York esteve em US$ 82,70 por barril, com alta de 1% no dia, mas queda acumulada de 17% em 12 meses. Confinamento O número de animais confinados deve dobrar nos dez próximos anos no país, segundo avaliações do Rabobank, banco voltado para o agronegócio. Quanto O confinamento nacional deverá subir dos 4,5 milhões de cabeças para 9 milhões de cabeças em dez anos. O confinamento deverá render 2,5 milhões de toneladas de carne por ano até 2023. Investimentos Para atingir esse crescimento, o setor deverá investir US$ 500 milhões em novas infraestruturas. A demanda mundial por carne aquecida permitirá essa evolução. 7
Soja 1 As exportações de soja em grãos somaram 44,6 milhões de toneladas nos nove primeiros meses deste ano, com avanço de 9,9% em relação a igual período do ano passado. Soja 2 Já as receitas somaram US$ 22,8 bilhões de janeiro a setembro, com avanço de apenas 6%. Isso mostra a queda dos preços médios das exportações, segundo a Secex. Vendas A Syngenta vendeu US$ 3 bilhões no terceiro trimestre terminado no final de setembro, 3% mais do que em igual período do ano passado. As vendas de produtos de proteção das lavouras somaram US$ 2,4 bilhões. Sementes A América Latina obteve 3% de crescimento nas vendas globais. No setor de sementes, a América Latina puxou as vendas da Syngenta, com crescimento de 1%.
Meta de expansão do crédito fica mais distante para bancos em 2014 Fonte Jornal Valor Econômico Carolina Mandl de São Paulo A pouco mais de dois meses do fim do ano, os bancos já alertam os investidores: bater as metas de expansão de crédito se tornou uma missão impossível em 2014. Por enquanto, nenhuma instituição revisou oficialmente seus números, mas o recado para analistas indica que as metas do início de 2014 se mostram agora exageradas. Os bancos têm utilizado pelo menos dois fatores para justificar o distanciamento das metas. O principal deles é que, já próximo do fim de 2014, o que se vislumbra é que o crescimento econômico deve ficar próximo a zero. Somado a isso, o pacote de medidas para estimular o crédito lançado pelo Banco Central em julho ainda não surtiu efeitos significantes. Menos alarmada pelos bancos, uma maior cautela nos desembolsos diante de uma expectativa de maior inadimplência também contribui. Este é o segundo ano consecutivo em que as instituições financeiras precisam ajustar suas metas para baixo. Em 2013, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander (que não faz mais previsões) reduziram suas projeções, enquanto o Banco do Brasil (BB) chegou a elevar sua meta, algo já impensável neste ano. Em reunião com analistas em Belo Horizonte nesta semana, o Itaú afirmou que sua carteira terá uma expansão de aproximadamente 8%, bastante abaixo dos 11,7% alcançados no ano passado - já desconsiderado o impacto da aquisição da Credicard. No início do ano, o Itaú esperava um crescimento entre 10% e 13% do saldo de operações. Segundo o banco, a mudança se deve à menor expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que deve ficar próximo a zero. No início do ano, o Itaú Unibanco previa uma alta entre 2% e 2,5%. O crédito será, porém, a única meta prevista no início de 2014 que não deve ser cumprida, segundo o Valor apurou. Os números para perdas com calotes, receitas de serviços e despesas operacionais continuam válidos. Por isso, o banco avalia manter suas projeções, mesmo sabendo que não atingirá seu objetivo para a carteira de empréstimos. No Bradesco, o aviso aos acionistas é que dificilmente o banco conseguirá atingir a expectativa de uma evolução de 10%, piso da meta do banco. "Na visão da diretoria [do banco], o crescimento do crédito permanece um desafio e será difícil atingir o piso da projeção oficial, de 10% a 14%", escreveram os analistas do BTG Pactual em relatório. No dia 30, o banco inaugura a safra de balanço das instituições financeiras.
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No BB, não há perspectiva de mudanças de projeções. O banco diz a interlocutores que "está perseguindo a meta", que é de expansão entre 14% e 18%, sem afirmar se conseguirá se encaixar na projeção. Até junho, o crescimento acumulado em 12 meses era de 13,8%. Um empurrão externo também melhorará o desempenho do BB. O banco fechou recentemente a compra de uma grande carteira de financiamento de veículos do banco Votorantim, instituição da qual é sócio. Em relação aos concorrentes, o BB conta com algumas vantagens, o que pode fazer com que tenha um desempenho mais forte do que eles. Atua, por exemplo no crédito agrícola, modalidade pouco explorada por outros bancos e na qual alcançou um crescimento de 23,7% até junho. O BB também é o maior emprestador para servidores públicos federais via crédito consignado. No começo deste mês, o governo federal permitiu que esses funcionários ampliassem seus empréstimos de 60 meses para 96 meses. Para o INSS, que conta com a participação mais forte das instituições privadas, o prazo foi esticado em apenas 12 meses, para seis anos. O próprio Banco Central já reviu sua projeção para o crescimento do crédito neste ano no país. Em junho, a autoridade reduziu de 13% para 12% a expansão anual do saldo. Até agosto, no acumulado de 12 meses, a alta somava 11,1%. Outras expectativas têm se mostrado difíceis de ser cumpridas. Para o crédito imobiliário, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) espera um crescimento 15% no valor financiado neste ano, mas nos primeiros oito meses do ano a expansão foi de 3,8% na comparação com igual período do ano passado.
Oportuna flutuação de preço da gasolina Fonte Jornal Valor Econômico Claudia Safatle17/10/2014 às 05h00 A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, ganhou um bilhete premiado e com ele vai poder consertar um dos grandes equívocos da sua gestão. O prêmio é a forte queda do preço internacional do petróleo, que tornou a defasagem entre os preços internos e externos pequena, quase irrelevante. Isso abre para o governo a oportunidade de acertar os preços dos combustíveis no mercado doméstico sem impacto considerável na já elevada inflação e, mais importante, de mudar a política de preços da gasolina e do óleo diesel do congelamento atual para um sistema de flutuação. A discussão sobre como fazer para aproveitar esse evento e se livrar do congelamento ocorre no governo e fora dele. Há quem defenda que, passada a eleição, a Petrobras resolva a defasagem, se ela ainda existir, e comunique que os preços da gasolina e do diesel vão flutuar conforme o custo de produção mais um percentual de margem para a companhia. Seria uma forma de não indexá-lo, de forma explícita, à variação da taxa de câmbio, já que essa é uma solução rejeitada pela presidente. Se permitir a flutuação dos preços dos combustíveis, na eventualidade de ser reeleita, a presidente estará passando um importante sinal aos agentes econômicos de que deixará o sistema de preços de mercado funcionar. Tal decisão teria efeitos positivos, inclusive, sobre a política fiscal, na medida em que a Petrobras com melhores resultados pagará mais impostos e dividendos à União. 9
"Tenho de dar sinal para o povo. Para que tenho que dar sinal ao mercado em uma eleição?," indagou a candidata Dilma, durante entrevista coletiva, esta semana, em resposta a um jornalista. A pergunta era sobre se ela anteciparia a indicação de nomes para a área econômica do governo para tranquilizar os mercados. Aparentemente, a declaração da presidente faz todo sentido pois, na democracia, cada pessoa, seja ela quem for, equivale a um voto. Mas a pergunta também revela uma inquietação legítima, real e que se manifesta nos preços dos ativos que vão afetar, e muito, a vida dos eleitores a quem Dilma dirige seu discurso. O mercado é, em uma descrição simples, um local de compra e venda de tudo: seja submarino, ovo ou derivativo. Por definição, ele é ávido por informações. Sem dispor dos sinais corretos, o mercado fica sem visão de futuro e, sem essa visão, não há investimentos. Sem investimentos não haverá emprego nem renda e é exatamente nesse ponto que a realidade se encontra com as eleições. O ex-presidente Lula compreendeu bem a importância de transmitir mensagens ao mercado para que este não piorasse a situação que já era delicada nas eleições de 2002. Escreveu a Carta aos Brasileiros naquele ano, com o compromisso de manter a estabilidade econômica e respeitar contratos. Durante aquela campanha o dólar chegou a R$ 4, a inflação chegou a 12,5% e os juros básicos (Selic) aumentaram para 25% ao ano. O custo para trazer a racionalidade de volta, em 2003, foi elevado: crescimento de apenas 1,15%. Mas não fosse a carta, teria sido pior. Os caminhos que a presidente escolheu depois de 2012 resultaram em baixíssimo crescimento, inflação alta, perda de confiança de empresários e consumidores, retração dos investimentos e aumento decrescente da oferta de emprego. Frente ao insucesso, o governo passou a atribuir toda a culpa à crise internacional. Em meio ao embate eleitoral, esta semana 164 economistas das mais diferentes escolas assinaram um manifesto em que descartam os argumentos do governo Dilmarelacionados à crise externa. No texto eles vinculam os problemas atuais do país "às políticas econômicas equivocadas do atual governo". Dentre elas, citam a constante mudança nas regras do jogo, a volta do fantasma da inflação e da instabilidade macroeconômica, o excessivo intervencionismo nas empresas estatais, como "o represamento artificial dos preços de energia e gasolina" que minou a capacidade de investimento das empresas. No setor privado, os investimentos entraram em colapso e sem eles "o Brasil jamais retomará o seu caminho para o desenvolvimento" e as conquistas sociais retrocederão, alertam. Em outro documento, este de apoio à candidatura Dilma, os dez economistas que o assinam originalmente reconhecem que "dificuldades conjunturais existem e devem ser enfrentadas com firmeza; fazendo correções e ajustes sempre que necessário. Mas não podem servir de pretexto para um retorno às políticas econômicas do passado", que produziram desemprego, arrocho salarial e corte dos investimentos sociais. O texto é intitulado "O Brasil não quer voltar atrás". Durante a campanha eleitoral Dilma não apresentou um programa nem indicou o que e como fará para recolocar a economia brasileira nos trilhos do crescimento, se vier a conquistar um segundo mandato. Alguns poucos sinais são emitidos por sua assessoria, principalmente que ela tentará uma reaproximação com o setor privado. Mais do que conversas, porém, a situação instável do país requer uma agenda compatível com os desafios à frente e definições claras das políticas a seguir. Por exemplo: qual será a política do seu suposto segundo governo para os reajustes dos combustíveis, que compromissos fiscais pretende assumir e como vai cumpri-los ou, ainda, se o câmbio voltará a ser flutuante ou continuará sob intervenções. Essas são apenas algumas das perguntas à espera de respostas. O momento se apresenta ideal para o governo promover a transição no regime de preços dos combustíveis, avaliam economistas próximos ao PT. Não se sabe, no entanto, se o Palácio do Planalto concorda com a ideia da flutuação.
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"A presidente entendeu que o preço da energia tem que flutuar, que o preço do etanol tem que flutuar e a última fronteira, agora, são os preços da gasolina e do diesel", comentou uma fonte. Qualquer decisão que Dilma vier a tomar sobre essa questão será extremamente relevante para se ter uma indicação de como será seu segundo mandato, se for reeleita.
Queda de preço de petróleo deve afetar comércio com Venezuela Fonte Jornal Valor Econômico Marta Watanabe e Rodrigo Pedroso de São Paulo17/10/2014 às 05h00 A queda de preços do petróleo no mercado internacional deve fazer diferença na balança comercial com a Venezuela, país com o qual o Brasil tem o maior superávit dentre os países da América Latina. De janeiro a setembro, a exportação brasileira somou US$ 3,25 bilhões aos venezuelanos, com superávit favorável ao Brasil em US$ 2,36 bilhões. No mesmo período, a balança comercial total do país teve resultado em sentido inverso, com déficit de US$ 690 milhões. No ano passado, o comércio com os venezuelanos rendeu ao Brasil superávit de US$ 3,67 bilhões. A balança total ficou com saldo positivo de US$ 2,56 bilhões. Segundo analistas, a queda de preços deve gerar divisas menores para a Venezuela, que tem no petróleo 96% do valor exportado. Os preços menores da commodity reduzirão a capacidade venezuelana de importar, num momento em que o controle cambial já restringe os desembarques locais. "Isso deve reduzir a exportação brasileira para o país e também o superávit com a Venezuela, mesmo levando em conta que os alimentos são a maior parte dos embarques para lá", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Atualmente, a nafta, derivado do petróleo, corresponde a cerca de 60% da importação brasileira com origem na Venezuela. Nas exportações brasileiras para o país predominam as carnes. Levando em conta carne congelada, bovinos vivos e carne de aves, a exportação para os venezuelanos somou US$ 1,41 bilhão de janeiro a setembro, o que equivale a quase 45% do que o Brasil exportou para o país. Apesar da concentração em alimentos, a pauta é diversificada e inclui aços laminados, pneus, tratores, medicamentos e produtos de higiene pessoal. "Se os preços reduzidos de petróleo se mantiverem, o exportador brasileiro vai sentir muito", diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores. Além da queda de demanda, a situação deve aumentar o risco da Venezuela, o que traz também dificuldades adicionais, como a contratação de seguro para exportação. Por conta do risco político já existente, cerca de 50% dos embarques brasileiros à Venezuela são feitos via Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), um sistema de compensação de pagamentos do comércio em que as operações entre os países da América Latina são garantidas pelos bancos centrais locais. O índice de uso do CCR com a Venezuela é bem maior que os 5,4% de utilização nas exportações brasileiras para todos os países do convênio. Barral diz que o uso do CCR no caso da Venezuela pode aumentar, mas o convênio não será solução para todos. "O uso desse instrumento encarece a operação e muitos exportadores já têm margem pequena, que não comportaria o acréscimo." Ele lembra que a dificuldade para exportar aos venezuelanos por conta do risco intensificou-se há cerca de dois anos. A queda de preço do petróleo, porém, deve acentuar a dificuldade. Caso os principais países não reduzam o nível de produção de petróleo e os preços continuem caindo no mercado internacional, ao exportador brasileiro, que não possa abrir mão de parte da rentabilidade, diz Barral, resta esperar que os venezuelanos consigam chegar a melhor equilíbrio nas contas públicas. Essa, porém, ressalta, é uma perspectiva a médio prazo. 11
Ao mesmo tempo, é difícil que o Brasil consiga aumentar a importação de petróleo e derivados dos venezuelanos. Ele explica que o tipo de petróleo produzido na Venezuela é muito próximo ao existente no Brasil, o que restringe a demanda brasileira. E mesmo que houvesse maior demanda, diz o ex-secretário, há também um problema na oferta, já que a Venezuela embarca grandes volume a outros parceiros internacionais. A Venezuela será a economia latino-americana mais afetada negativamente pela queda de preço, de acordo com estimativas da consultoria britânica Capital Economics. A menor receita com o óleo cru aumenta as chances de não pagamento, por parte do governo venezuelano, de dívidas contraídas. Na análise assinada pelo especialista em mercados emergentes da Capital Economics, David Rees, o petróleo mais barato deve se manter no médio prazo. As receitas com exportações líquidas de petróleo representaram 37% do Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela em 2013. Com o recuo nessa receita, o governo venezuelano terá que pagar juros maiores nos títulos da dívida pública, colocando maior pressão na já combalida reserva em dólares do país. A queda de preços também deve afetar a economia da Colômbia. O país, segundo o relatório, terá menos espaço para comprar produtos do exterior. No ano passado, as exportações líquidas de petróleo representaram 6% do PIB do país. A consultoria britânica ressalta que a economia colombiana registrava déficit em conta corrente antes do recuo do preço da commodity. Portanto, para equilibrar as contas externas, a política econômica do governo de Juan Manuel Santos terá que contrair a importação em um cenário de desaceleração do crescimento da atividade. O contexto colombiano, porém, deve ter impacto bem menor para a exportação brasileira. O comércio com a Colômbia é menos representativo do que o mantido com os venezuelanos. De janeiro a setembro, o Brasil exportou US$ 1,78 bilhão para os colombianos, com superávit de US$ 381,05 milhões. Fabio Silveira, economista da GO Associados, calcula que, para os países exportadores, os preços reduzidos poderão fazer recuar entre 10% e 15% a receita com a venda de petróleo. Em relação às importações brasileiras do óleo, porém, destaca ele, a expectativa é que, no médio e longo prazo, haja redução, em razão da esperada elevação da produção doméstica.
Governo ainda não descarta reajuste da gasolina Fonte Jornal Valor Econômico Leandra Peres de Brasília17/10/2014 às 05h00 A queda no preço internacional do petróleo trouxe alívio ao governo, mas não o suficiente para tirar o reajuste nos preços dos combustíveis do horizonte pós-eleição. A avaliação inicial é que a situação da Petrobras melhora, pois a importação de gasolina deixou de dar prejuízos à companhia, mas o governo ainda tem que resolver o problema do etanol e também o caixa do Tesouro Nacional em 2015. Por isso, a discussão que começa a se formar é de qual a melhor estratégia para os próximos meses: uma correção via aumento de preços na bomba, a volta da Cide, contribuição que incide sobre o preço dos combustíveis, ou mesmo os dois movimentos em momentos diferentes. A decisão será tomada de olho na inflação. Com o índice oficial, o IPCA, atualmente acumulando alta de 6,75% em 12 meses, acima portanto do teto da meta, a queda do petróleo dá tempo ao governo para postergar o reajuste para mais perto do fim do ano. A área econômica discutiu no início do ano a volta da cobrança da Cide, mas o assunto foi deixado de lado pelo desgaste que um aumento de impostos traria em ano eleitoral. A contribuição foi reduzida a zero em junho de 2012 e pode voltar a ser cobrada três meses depois que o governo publicar a elevação da alíquota. No último ano em que houve o pagamento do tributo, a arrecadação chegou a R$ 9,152 bilhões, dos quais R$ 2,1 bilhões foram transferidos para estados e municípios. 12
O retorno da Cide é visto no governo como uma questão de tempo: será parte da pauta econômica de 2015. No contexto atual, o retorno da cobrança teria a vantagem de trazer recursos adicionais ao caixa do Tesouro Nacional no ano que vem, quando a própria presidente Dilma Rousseff já prometeu elevar o superávit primário para algo entre 2% do PIB e 2,5% do PIB. Além disso, como é uma contribuição e é um valor fixo na composição do preço da gasolina, implica um sinal mais forte e seguro para a indústria do etanol, que ganhará alguma vantagem competitiva independente da política de preços dos combustíveis adotada pelo governo. No caso de um reajuste na bomba, sem mudanças na tributação, o Tesouro Nacional ganha indiretamente via dividendos, se houver uma melhora nos resultados da Petrobras, e pelo aumento no recolhimento de tributos pela estatal. Mas o impacto é muito inferior ao que pode proporcionar a Cide. Por outro lado, a correção via preços vai melhorar o caixa da Petrobras. Há aqui uma outra consideração a ser feita: a queda nos preços do petróleo no mercado internacional é vista como uma tendência de longo prazo. Ou seja, no momento em que a estatal aumenta a sua produção, receberá menos pelo barril e terá reduzida sua capacidade de financiar os investimentos previstos. Um aumento no preço da gasolina na refinaria poderia suavizar esse impacto. No caso do etanol, a elevação dos preços vai recompor a margem do setor em relação à gasolina, mas esse diferencial pode ser novamente corroído por uma política de preços que segure os reajustes no ano que vem. O governo federal vem sinalizando que mudará sua política em relação ao etanol. O aumento da mistura na gasolina, de 25% para 27,5%, por exemplo, deve ser resolvido logo após as eleições, já que a pesquisa encomendada pelo governo para determinar os eventuais ganhos da medida e impacto sobre a durabilidade dos motores dos veículos está adiantada. A política de represamento de preços da gasolina fez o governo da presidente Dilma Rousseff perder apoio entre o setor sucroalcooleiro. O segmento reclama da falta de prioridade e tem comparado as decisões do atual governo com as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As tentativas de reaproximação se intensificaram às vésperas da eleição presidencial. Além do aumento no percentual de mistura do etanol à gasolina, o governo autorizou o financiamento para o armazenamento do açúcar, uma reivindicação do setor, e estuda fazer leilões de energia específicos para a biomassa.
Área responsável por calcular preço perde poder na Aneel Fonte Jornal Valor Econômico Rodrigo Polito do Rio17/10/2014 às 05h00 A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retirou o poder da superintendência de estudos de mercado (SEM) de analisar as contribuições enviadas por empresas e instituições sobre a polêmica definição do valor máximo do preço de curto prazo de energia elétrica para 2015, segundo fonte ligada à Aneel. Com a medida, a área não será responsável pela nota técnica sobre o assunto que subsidiará a decisão da diretoria, provavelmente em novembro. Pelo regimento da agência, explicou a fonte, é atribuição da SEM a análise das contribuições e elaboração da nota. A diretoria da autarquia, porém, determinou a criação de comissão com representantes de diversas áreas para analisar as contribuições e escrever a nota técnica. A comissão terá técnicos, superintendentes e pelo menos um diretor. A motivação oficial da diretoria da agência é garantir a isenção da avaliação do tema. Como a nota inicial foi elaborada pela SEM, No entendimento da diretoria, haveria o risco de a superintendência ser parcial ao analisar as contribuições contrárias ao conteúdo da mesma. Há quem diga, porém, que a medida tem o objetivo de aumentar a influência da diretoria da Aneel na discussão sobre o assunto. No mercado, há uma preocupação de que a diretoria 13
esteja sofrendo influência do governo para reduzir significativamente o valor máximo do preço spot de energia para 2015. Na última terça-feira, a diretoria da Aneel propôs redução de 53% do teto do preço spot de energia, passando de R$ 822,83 por megawatt-hora (MWh) este ano para R$ 388,04/MWh em 2015. Na prática, a proposta vai beneficiar diretamente todos os agentes expostos no mercado de curto prazo e que estão registrando forte perdas devido ao valor alto do PLD, devido à situação de baixa do nível dos reservatórios hidrelétricos e operação plena das térmicas. A medida também aliviará as contas do Tesouro, que foi acionado para subsidiar as distribuidoras, que ficaram involuntariamente expostas no mercado spot desde a implementação da medida provisória 579, da Renovação das Concessões. Com a queda do teto regulatório do preço spot, porém, todo custo de operação das térmicas que ultrapassar o valor máximo do PLD será bancado pelo Encargo de Serviços de Sistema (ESS). O encargo é cobrado dos consumidores, por meio dos reajustes tarifários das distribuidoras.
IPC-Fipe acelera de 0,32% para 0,34% da 1º para a 2º quadrissemana Fonte Jornal Valor Econômico 17/10/2014 às 08h07 SÃO PAULO - A inflação teve ligeira alta na cidade de São Paulo, puxada por variações mais altas em despesas como habitação, educação e vestuário. A taxa do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) subiu de 0,32% para 0,34% da primeira para a segunda quadrissemana deste mês. No mesmo período de setembro, a inflação foi de 0,17%. A alta dos alimentos desacelerou de 1,11% para 1,03%, mas ainda assim esse grupo foi responsável pela maior parte da inflação do período, contribuindo com 0,23 ponto percentual da alta de 0,34%. Despesas pessoais também registrou taxa mais baixa, de 0,36% para 0,33%, mas foi o segundo maior peso no IPC-Fipe da segunda quadrissemana. Em contrapartida, houve aceleração em habitação (de -0,18% para -0,05%), alimentação (de 1,11% para 1,03%), transportes (de 0,09% para 0,10%), vestuário (de 0,38% para 0,49%) e educação (de 0,17% para 0,19%). O grupo saúde repetiu a taxa de 0,41% da quadrissemana anterior. Na comparação com o mesmo período em setembro, houve aceleração em alimentação (de 0,09% para 1,03%), transportes (de 0,08% para 0,10%), despesas pessoais (de 0,06% para 0,33%), vestuário (de 0,13% para 0,49%) e educação (de 0,06% para 0,19%). Habitação foi de alta de 0,26% para queda de 0,05%, e saúde repetiu a taxa de 0,41%.
FGV: Indicador antecedente da economia desacelera queda em setembro Fonte Jornal Valor Econômico 17/10/2014 às 11h51 SÃO PAULO - As incertezas decorrentes da eleição presidencial e a queda na demanda doméstica influenciaram mais uma queda no Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE), índice que tenta antecipar a tendência da atividade no país. O recuo em setembro, contudo, foi menor, o que pode sinalizar estabilização das condições econômicas, após o período recente de deterioração. O IACE, elaborado pelo FGV-Ibre e pelo The ConferenceBoard, caiu 0,4% em setembro, para 120,6 pontos. O resultado segue-se a um recuo de 1,0% em agosto e a um avanço 2,3% em julho. Em nove meses, o indicador caiu em oito. "As recentes quedas no IACE refletem, em 14
grande parte, as incertezas provocadas pelas eleições presidenciais e a ainda fraca demanda doméstica. No entanto, a taxa de queda ficou mais moderada, sinalizando uma possível estabilização, sucedendo a recente deterioração da economia brasileira", afirmou, em nota, Paulo Picchetti, economista da FGV-Ibre. Em setembro, as contribuições negativas das expectativas da indústria e do mercado financeiro foram parcialmente compensadas pela melhora das expectativas do consumidor. “Enquanto o fraco desempenho dos componentes do índice continua generalizado, o declínio na variação semestral parece estar se estabilizando", disse AtamanOzyildirim, economista do The ConferenceBoard . "Embora seja cedo para concluir que a tendência de queda terminou, a evolução semestral do indicador sugere que a fase de enfraquecimento das condições econômicas pode se moderar nos próximos meses.” Outro indicador divulgado por ambas as entidades e que mede as condições econômicas atuais, o Coincidente Composto da Economia (ICCE), avançou 0,1% em setembro, para 127,6 pontos. O resultado segue-se a um avanço de 0,5% em agosto e a uma estabilidade em julho.
Diretor da OMC 'joga a toalha' em principal aposta comercial brasileira Fonte Folha de São Paulo CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA17/10/2014 02h00 Está ruindo a principal, quase única, aposta comercial do Brasil, a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada em 2001 para terminar em cinco anos, mas que continua paralisada até agora. O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), que gere a rodada, praticamente jogou a toalha ontem, ao dizer que a instituição não pode continuar trabalhando como até agora, sob pena de paralisia. A regra de ouro na OMC é consenso. Ou todos estão de acordo ou não há acordo. Azevêdo foi absolutamente claro: não estava se referindo a um potencial risco de paralisia no futuro, mas de uma situação já instalada. O desabafo do DG, como é tratado o diretor-geral, deve-se à impossibilidade de levantar o veto da Índia ao pacote aprovado em Bali, no fim do ano passado, cujo objetivo era apenas o de reduzir a burocracia no comércio.
A Índia só aceitaria o pacote se pudesse manter indefinidamente subsídios a seus produtores agrícolas, clara violação às regras da OMC. Se a instituição não consegue implementar um acordo já acertado e que só mexe com burocracia, não com as políticas comerciais de seus membros, fica impraticável avançar nos temas da Rodada Doha, que, estes, sim, interferem com políticas internas (subsídios agrícolas de europeus e americanos a seus produtores, por exemplo). "O que está em jogo não é apenas a nossa capacidade de chegar a acordos mas também a de implementar o que foi acordado. Que ninguém se engane: esse impasse terá consequências para a OMC e o sistema multilateral de comércio", desabafou o embaixador da União Europeia na OMC, AngelosPangratis. Para o Brasil, já é fácil antecipar uma consequência: se a OMC não superar sua paralisia, o país terá que rever toda a sua política de acordos comerciais. Até agora, ela está centrada na hipótese -remotíssima agora- de obter avanços (em agricultura, por exemplo) na OMC.
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O previsível, agora que até Azevêdo, inveterado otimista, joga a toalha, é que os membros da OMC dediquem-se a acordos regionais, como o que está sendo negociado entre União Europeia e EUA. Ou então aos chamados acordos plurilaterais, no âmbito da própria OMC, que não implicam a aceitação de todos os integrantes, mas apenas dos que se sentirem confortáveis com seus termos. Em ambos os casos, a tendência é que as regras de jogo sigam os parâmetros dos países desenvolvidos, que nem sempre o Brasil e outros emergentes estão em condições de aceitar.
Quem desatar o nó fiscal fará deslanchar a economia Fonte Jornal Valor Econômico Saulo Krichanã17/10/2014 às 05h00 No debate sobre a situação fiscal da economia brasileira, comparam-se dados sobre o endividamento líquido do país, em relação ao seu Produto Interno Bruto. Abstraindo-se o perfil da dívida - ou seja, seus prazos e custos médios - procura-se justificar a necessidade (ou não) de se gerar maior ou menor superávit primário das contas públicas nacionais, para retomar a confiança dos mercados: notadamente após duas das três principais agências internacionais de risco, terem feito flutuar as notas de avaliação do país. Para o (e) leitor comum, como explicar que a dívida de todos (dívida pública) em relação à produção gerada por todos (o tal do PIB) pode vir a gerar um acréscimo de impostos ou uma redução dos investimentos que impeça o acesso aos serviços públicos essenciais e, por vias tortas, dificulte (ou vede) o acesso a bens e serviços outros de necessidades menos essenciais? Mas, quem faz (sic) a dívida pública é o governo, o que enseja que o que se cobra de impostos não é suficiente para o custeio demandado do governo. O correto seria saber - de início - se o que o governo gera na execução de suas contas é suficiente para honrar o que "ele" deve para todos (ou em nome de todos). Afinal, o PIB é de todo o país (o tal do "meu, o seu e o nosso produtinho"; ou na dimensão financeira, "o meu, o seu e o nosso dinheirinho"). Assim, seria desejável saber se a Receita Corrente Líquida (RCL) da União gera lastro para enfrentar suas necessidades do dia a dia, tal como qualquer ente público ou ente privado: e se, sob este conceito, o endividamento bruto e líquido (isto é, descontados o caixa e os haveres financeiros) sustentaria, por exemplo, investimentos próprios ou os que parceiros privados poderiam vir a fazer, nas modalidades de Concessões e Parceria Público Privada, para evitar o uso de recursos da União. Avaliar este "risco" é como avaliar os vários editais e contratos de concessão que Estados e municípios têm lançado a mercado. E que têm tido um percentual de sucesso modesto se considerado o número dos contratos assinados sob os institutos das concessões: notadamente as modalidades de concessões administrativas e patrocinadas, que são as modalidades de concessão das PPP. Com efeito, (e tal como se faz na análise das contas públicas de Estados e municípios nos seus chamamentos ou nas PMI que eles demandam do setor privado), a Receita Corrente Líquida (RCL) da União (dados fechados da STN, na RGF de 2013), é de R$ 626 bilhões: até 1% da RCL poderia ser comprometido em operações de PPP (ou pouco mais de R$ 6 bilhões por ano). Pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - a que a União também está sujeita - as despesas brutas de pessoal da União são de 23% da RCL (algo como R$ 394 bilhões): o limite de alerta da LRF é de 34% (há folga aqui, pois). Mas a relação Dívida Bruta (DB/RCL) da União é de 477% (dívidas de crédito e precatórios, por exemplo) ou algo como R$ 3,1 trilhão para uma RCL de R$ 626 bilhões. Descontado o caixa, e outras disponibilidades, a relação passa para 170% da RCL. Em estresse de risco, imagina-se que não se utilizará a liquidez para pagar dívidas. Assim, a relação a considerar é a DB/RCL que, no caso, fica acima das 3,5 vezes a RCL que a LRF lhe fixou de limite de endividamento. 16
Para comprar uma casa em 20 anos, não se pode comprometer mais do que 30% do salário. E se antes da prestação as dívidas já forem maiores que o salário? Não há, pois, poupança fiscal líquidacomo não há em muitos Estados e municípios, para sustentar contraprestações de PPP). Todos (União e entes federados) estão sofrendo com o menor PIB, que encurta o cobertor da arrecadação; os entes federados ainda têm que peitar os efeitos adicionais das desonerações de impostos (para alavancar consumo), assim como carregar dívidas da LRF. E note-se que (estranhamente ninguém lembra) os juros cobrados pela LRF previam um crescimento do PIB da ordem de 4% ao ano, para se pagar o serviço financeiro das dívidas que foram repactuadas com a União, por 30 anos, no ano 2000! Com um PIB de crescimento fracionado, como pagar estas dívidas? Ou seja, a geração de poupança fiscal está, sim, muito prejudicada. E enseja, sim, muitas interrogações. Ou questões como: se não há poupança fiscal, as rotundas reservas externas cresceram turbinadas como? Se não havia "caixa primário" se colocou papéis de dívida para formar estas reservas, cevando mais dívidas? Aí, a questão dos custos e do perfil desta dívida no tempo, são, sim, muito relevantes. A União tem a ABGF para ancorar dúvidas e dívidas: os entes federados estão fora desta ferramenta. É preciso que o Tesouro Nacional aceite suas dívidas ativas como pagamento e os compensem pelas desonerações involuntárias, abatendo estes valores de suas dívidas fundadas. A questão fiscal, pois, não apenas é: na verdade, tem sido a questão de fundo mais importante da economia brasileira, e empurrada para baixo do tapete, nos últimos 15 anos. Quem desatar este nó fará deslanchar a economia brasileira. Quem viver verá.
Mercados se ajustam a um cenário menos otimista Fonte Jornal Valor Econômico17/10/2014 às 05h00 Após uma calmaria de meses, os mercados financeiros iniciaram mais uma etapa de ajuste de preços dos ativos, cuja profundidade e duração são, por natureza, incertas. Em uma visão otimista, a correção de rumos é uma resposta a evidentes exageros na avaliação de riscos, como alternativa ao retorno pequeno ou inexistente dos ativos considerados seguros, como os títulos do Tesouro americano. Na hipótese pessimista, a reavaliação indica um mal-estar geral com a situação da economia mundial, que estaria perdendo fôlego e caminha para um período prolongado de crescimento baixo. Nesse caso, as bolsas americanas deixarão de ter o comportamento exuberante que tiveram nos últimos meses e os rendimentos dos títulos do Tesouro de longo prazo encolherão. A agitação dos mercados envolve apostas sobre o calendário da normalização monetária americana, indicando eventual postergação da época para a elevação dos juros. Alertas combinados do Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial do Comércio, OCDE e recentes dados sobre o desempenho da zona do euro, da China e dos países emergentes cristalizaram um contraste agudo com o clima desanuviado dos mercados financeiros. Uma mudança de rumos teria de ocorrer para modificar a situação insustentável de alta simultânea dos ativos de riscos e dos seguros. O chamado para a ação viria, esperavase, com a proximidade do início da alta dos juros pelo Fed. Curiosamente, os mercados reagiram à sua maneira impulsiva ao fenômeno contrário, o da possibilidade de que a economia americana possa não resistir ao peso combinado de estagnação na zona do euro, declínio da expansão em muitos países emergentes e ameaça de crescimento bem menor na China. Ontem, quando os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos fecharam em 2,13% (3% no início do ano) os "fedfunds" sinalizaram aposta majoritária, em torno de 60%, para um aumento dos juros só em dezembro de 2015 - e algo como 40%, em 2016. 17
Sinais emitidos pela economia americana deixaram no ar alguma ambiguidade. As vendas no varejo foram fracas em setembro, mas muito fortes em agosto. A produção industrial subiu acima das expectativas, 1%, no mesmo mês. O que deveria resolver as dúvidas, o número de pedidos de ajuda por desemprego caíram e apresentaram a menor média desde abril de 2000. O livro bege do Fed, sobre o pulso das atividades econômicas, não apresentou nada que pudesse tirar o banco central do roteiro tentativamente traçado. E, no entanto, a outra ponta das preocupações do Fed, a da inflação, torna-se mais insegura. Há um profundo desconforto de parte dos investidores e analistas com os sinais de uma onda deflacionária, que se reforçaram recentemente. Não apenas a zona do euro confirmou sua vizinhança da taxa zero, com o índice de setembro, de 0,3%, repetindo o do mês anterior. Os títulos do Tesouro protegidos da inflação indicam que ela caiu abaixo de 1,5%, nível próximo do qual, em vezes anteriores, foram acionadas rodadas de "quantitativeeasing". Mesmo na China, a inflação anual caiu para 1,8% em setembro, a menor desde janeiro de 2000. Pressões deflacionárias nos EUA eram esperadas a partir do fortalecimento do dólar, mas agora estão recebendo reforço global com a queda rápida dos preços do petróleo e continuidade do arrefecimento das cotações das demais commodities. A demanda não encolheu apenas com a desaceleração controlada da China, a grande formadora de preços, e da Europa, como também de outros países emergentes, como Brasil e Rússia. Exceto os EUA, o crescimento não está se acelerando em vastas regiões da economia global, mostrando excesso de capacidade produtiva e possíveis novas quedas de preços à frente. Como as economias emergentes, que ajudaram a abreviar a recessão mundial logo após crise de 2008, não têm mais força de impulso agora, há dúvidas relevantes se os EUA podem cumprir quase que isoladamente esse papel. A Alemanha, que tinha semelhante missão na zona do euro, pode ter sucumbido à mediocridade do crescimento circundante e, como exportadora, à pasmaceira global. O cenário mais provável ainda é de crescimento global importante, empurrado pelos EUA. Mas isto acontecerá em ambiente de estagnação e riscos de deflação em partes importantes do globo. A volatilidade dos mercados pode ter voltado com tudo.
A aranha das finanças Fonte Jornal Valor Econômico Howard Davies17/10/2014 às 05h00 O sistema mundial de regulamentação financeira é extraordinariamente complexo. Em parte por esse motivo, é pouco compreendido. Para poder explicá-lo a meus alunos na SciencesPo, em Paris, elaborei um tipo de diagrama na forma de rede, que mostra as conexões entre os diferentes órgãos responsáveis pelos vários componentes de supervisão. Faz uma placa de circuitos parecer algo simples. Muitas pessoas dão sinais de reconhecimento quando se menciona o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, que determina as exigências de capital dos bancos. Também podem ter ouvido falar algo do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais, no qual fica o Comitê da Basileia. A Organização Internacional das Comissões de Valores (OICV), que determina os padrões das bolsas e das comissões reguladoras de valores mobiliários, tem seu nome reconhecido em alguns rincões. Quando se chega à Associação Internacional de Supervisores de Seguros (Iais, na sigla em inglês), no entanto, as sobrancelhas se arqueiam. Há muitos outros grupos. O Conselho de Padrões de Contabilidade Internacional (Iasb) faz, em termos gerais, o que seria de imaginar pelo nome, embora os Estados Unidos, ainda que o integrem, não usem de fato seus padrões - que agora são confusamente chamados de Padrões Internacionais de Resultados Financeiros (IFRS). Mas o Iasb deu origem a outros comitês para supervisionar a auditoria. Há até um órgão internacional - reminiscente do último romance de Hermann Hesse, "O Jogo das Contas de Vidro" - que audita os órgãos que auditam as auditorias. 18
O nome Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF) soa a algo dinâmico, como se fosse uma equipe de reação rápida, que se pode enviar a um país com problemas. Na verdade, é o braço da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que monitora a adoção de padrões contra a lavagem de dinheiro. Por que faz parte da OCDE, quando sua área de responsabilidade é mundial, é um mistério. Essa arquitetura complexa (e há muito mais) foi montada peça por peça nos anos 80 e 90. Até a crise financeira asiática, era uma rede sem uma aranha no centro. Quando Hans Tietmeyer, ex-chefe do Bundesbank, o banco central alemão, foi encarregado pelos ministros das Finanças do G-7 de avaliar sua eficácia, recomendou que houvesse uma aranha, chamada de Fórum de Estabilidade Financeira (FSF), para examinar o sistema financeiro como um todo e tentar identificar vulnerabilidades. Fui membro do FSF por cinco anos. Confesso que tenho bastante medo de aranhas, mas mesmo um aracnófobo como eu teria poucos motivos para temer o órgão. O FSF não era uma criatura assustadora e cada órgão regulador, nacional ou internacional, foi deixado por conta própria para fazer o que quisesse, com todas as consequências que acabamos por conhecer. Antes de 2007, havia pouco interesse político em padrões mundiais mais rigorosos e cada país resistia à ideia de que um órgão internacional pudesse interferir em sua soberania para supervisionar seu sistema bancário. Então, quando a crise emergiu, o FSF ficou apenas na vontade. Em 2009, os governos do G-20 decidiram que um modelo mais rigoroso era necessário - o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB). O órgão atualmente trabalha em algumas novas propostas para lidar com os bancos grandes demais para falir, que vão estar no cardápio do próximo encontro do G-20, em Brisbane (ao lado do "surf andturf", "pavlovas" e de outras delícias da culinária australiana). Não há (ainda) um grupo internacional que audite a eficácia do FSB. Mas se houvesse, o que iria dizer do desempenho do FSB, sob a liderança de Mario Draghi e de Mark Carney, que o comandaram em seus tempos livres, enquanto comandavam importantes bancos centrais? No lado dos ativos do balanço patrimonial, os auditores estariam obrigados a notar que o FSB fez muitos trabalhos úteis. Seus informes regulares ao G-20 agrupam as diversas camadas de regulamentação de uma forma clara e compreensível. Não há melhor fonte de informação. Eles também registrariam que a pressão do FSB acelerou o trabalho dos reguladores setoriais. O segundo acordo da Basileia levou mais de dez anos para ser concluído; o Basileia 3 foi elaborado em pouco mais de 24 meses (embora sua adoção esteja demorando bastante). O desempenho da OICV e do Iais, da mesma forma, foi aperfeiçoado pela necessidade de que relatassem progressos por meio do FSB. O FSB também emitiu alguns alertas valiosos em suas chamadas avaliações de "vulnerabilidades". Detectou o surgimento de tensões no sistema, sem cair na armadilha do alarmismo, de prever dez das próximas três crises. E por meio de seu mecanismo de revisão pelos pares, vem estimulando cada país a fortalecer suas instituições de regulamentação. Ainda assim, uma avaliação franca reconheceria que essa aranha até agora pegou poucas moscas. Mudando de animal na metáfora, é um cão de guarda sem dentes. Não pode nem instruir outros reguladores sobre o que fazer (ou não fazer) nem obrigar os membros a adotar novas regulamentações. De fato, todo o arcabouço da regulamentação financeira internacional está construído sobre a base dos "melhores esforços". O estatuto do FSB, revisado em 2012, diz que os signatários não estão sujeitos a nenhuma obrigação. Ao contrário da Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, não há nenhum tratado internacional que sustente o FSB, de forma que os países não podem ser punidos por deixar de adotar as normas com as quais estão aparentemente comprometidos. Até agora, o veredicto seria o de que o FSB não fez nada além nem aquém do que seus mestres políticos estavam preparados a permitir-lhe que fizesse. Não há vontade política para criar um órgão que possa genuinamente policiar os padrões internacionais e evitar que os países entrem em uma desregulamentação competitiva - ou evitar que os bancos entrem em uma arbitragem de regulamentação. Parece que vamos precisar esperar pela próxima crise 19
para que essa vontade apareça. No meio tempo, o FSB, com todas suas fraquezas, é o melhor que temos. (Tradução de Sabino Ahumada).
Jovens no mercado de trabalho Fonte Jornal Valor Econômico Naercio Menezes Filho17/10/2014 às 05h00 O comportamento dos jovens no mercado de trabalho brasileiro tem atraído muita atenção recentemente, pois a sua taxa de participação tem recuado significativamente. Como a taxa de desemprego é calculada com base nas pessoas que querem trabalhar, essa queda na participação tem ajudado a manter a taxa de desemprego baixa, apesar da diminuição no ritmo de crescimento da economia e no processo de geração de empregos. Afinal, o que explica esse comportamento dos jovens no mercado de trabalho? O que podemos prever para o futuro próximo, com os primeiros sinais de desaquecimento na economia aparecendo no horizonte? A figura ao lado mostra o que aconteceu com os jovens de 15 a 24 anos de idade que moram com os pais nas últimas duas décadas, tanto no mercado de trabalho como na escola. O comportamento dos jovens pode ser analisado através da porcentagem dentre eles que só estuda; que estuda e está na PEA ao mesmo tempo (trabalhando ou procurando emprego); os que estão somente na PEA e aqueles que no momento da pesquisa não estavam estudando nem trabalhando (nem-nem). Os resultados são bastante interessantes. A década de 90 (1992 e 1999) foi o período de inclusão de jovens na escola. Assim, a porcentagem de jovens que só estava na PEA declinou de 44% para 33% em apenas 7 anos. Interessante notar que em 1999 metade dos jovens estudantes também estava na PEA, ao passo que a outra metade (mais rica) somente estudava. Entre 1999 e 2005 houve um aumento da taxa de participação no mercado de trabalho, com redução do percentual de estudantes que só estudavam e também entre os que estudavam e trabalhavam ao mesmo tempo. Porém, entre 2005 e 2013 a taxa de participação começou a declinar significativamente, passando de 63% para 53%. Isso ocorreu principalmente entre os jovens que costumavam trabalhar junto com a escola e que agora podem dedicar-se somente aos estudos. O que aconteceu? Em primeiro lugar, vale notar que esse fenômeno tem ocorrido principalmente (mas não exclusivamente) com os jovens que ainda moram com os pais (70% deles). A explicação parece estar no fato de que entre 2005 e 2013 o salário médio dos pais desses jovens aumentou 33%. Além disso, a taxa de desemprego dos adultos diminuiu substancialmente. Em contraposição, no período em que a participação dos jovens aumentou (1999 e 2005), o salário médio dos pais permaneceu estagnado, assim como a taxa de desemprego. Entre 1992 e 1999, quando a taxa de participação dos jovens também declinou, o salário dos pais também aumentou bastante. Ou seja, toda vez que o salário dos pais aumenta, a taxa de participação dos jovens diminui. Desta forma, nos períodos em que o mercado de trabalha melhora para os pais, os filhos podem ser dedicar mais aos estudos, sem necessidade de complementar a renda familiar. Nos anos 90, esse fato, juntamente com as reformas educacionais introduzidas nesse período, permitiu que os jovens mais pobres alcançassem mais anos de escolaridade. Na primeira metade dos anos 2000, com a piora do mercado de trabalho, os jovens passaram a trabalhar mais e estudar menos. Porém, mais recentemente, quando o mercado de trabalho passou a melhorar significativamente, a porcentagem de alunos que estudavam e trabalham ao mesmo tempo declinou, assim como a dos que só trabalhavam. Quais as consequências dessa dinâmica? Parece claro que toda a vez que o salário médio dos adultos aumenta, a oferta de trabalho dos jovens declina em sequência, o que faz com a taxa 20
de desemprego entre eles também caia. Como os jovens (de 15 a 24 anos) representam 40% dos desempregados num dado momento do tempo, isso afeta a taxa global de desemprego. Vale notar que 70% dos jovens desempregados ainda moram com os pais e que 50% deles nunca trabalharam antes. Desta forma, o aumento de renda dos pais evita que os jovens tenham que ingressar no mercado de trabalho para complementar a renda familiar. Será que isso vai aumentar a produtividade futura desses jovens, já que agora eles têm mais tempo livre? Isso dependerá do que eles estão fazendo com esse tempo livre. Será que eles estão fazendo mais deveres de casa ou jogando mais futebol? De toda forma, isso implica que se a situação se reverter e o salário dos adultos menos qualificados começar a declinar, os jovens irão retornar para o mercado de trabalho, o que vai aumentar novamente o desemprego e, portanto, a taxa agregada de desemprego rapidamente. Pelo andar da carruagem, isso deve começar a acontecer em breve. Veremos.
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