18 de dezembro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 18 DE DEZEMBRO DE 2014

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Seguimos com projeção de superávit de R$ 10 bilhões, diz Augustin Por Lorenna Rodrigues e Vandson Lima | Valor BRASÍLIA - Depois de o governo ter que mudar a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014 para não descumprir a meta de superávit primário, o secretário do Tesouro Nacional disse, nesta quinta-feira, que a estratégia da equipe econômica neste ano está “dentro de uma ideia de consolidação fiscal”. Segundo Augustin, com a crise internacional, os países com resultado primário alto são exceção. O secretário disse ainda que o governo continua projetando encerrar o ano com resultado positivo de R$ 10 bilhões. “Optamos por manter investimentos em 2014 porque, se não fizermos isso nesses anos difíceis, a retomada é mais complexa. Hoje o Brasil pode optar por fazer um primário um pouco menor em um ano mais difícil e não se desestruturar”, afirmou, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Para Augustin, a mudança na meta do ano não tem “consequência fiscal negativa” por conta da manutenção dos investimentos. O secretário lembrou que, em 2013, o Brasil apresentou um dos melhores resultados primários entre os países do G-20 e continua com em 2014 com um resultado melhor do que os outros países do grupo. “Vemos uma crítica que é difícil de compreender, de que o Brasil teria sempre que ter primários alt os. A situação de primários altos não é a norma”, completou. O secretário ressaltou que o Brasil tem uma economia sólida, com reservas internacionais e investimento estrangeiro direto elevados e a composição com baixas taxas para emissão de papéis da dívida brasileira no exterior. “Há uma tendência favorável de análise do mercado internacional sobre os fundamentos do Brasil que se expressa nas emissões externas”, disse.

Pesquisa: 71% das empresas não pretendem contratar no 1º tri de 2015 Por Valor SÃO PAULO - Os empregadores preveem um ritmo modesto de contratações no primeiro trimestre de 2015, de acordo com pesquisa realizada pelo Manpower Group Brasil com 851 empresas. Apenas 16% disseram que esperam aumentar a oferta de vagas, enquanto 10% preveem diminuir. Outros 71% vão manter suas equipes com o mesmo número de empregados. As intenções de contratações são um pouco melhores que as apuradas para o quarto trimestre deste ano, quando 14% estimavam aumentá-las, 9% diminuí-las e 77% manteriam seus quadros estáveis. A diferença entre a porcentagem dos participantes que preveem aumento nas contratações e a dos que preveem uma diminuição, chamada de expectativa líquida de emprego, ficou positiva em 8% para o primeiro trimestr e do ano que vem, feitos os ajustes sazonais, segundo a pesquisa. O percentual é igual ao quarto trimestre deste ano. Dessa forma, a expectativa líquida de emprego interrompeu uma queda de 12 trimestres consecutivos, diz a Manpower. Setorialmente, as maiores intenções de contratações são relatadas no setor de Serviços, onde a expectativa líquida de emprego está em 22%. A expectativa também é positiva nos 2


segmentos de administração pública e educação (18%), e de finanças, seguros e imobiliário (16%). No comércio, o resultado é positivo em 13%.

Apesar da redução da produção em novembro, estoques permanecem altos Por De São Paulo A produção, o emprego e a utilização da capacidade instalada na indústria brasileira diminuíram em novembro, de acordo com sondagem mensal feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Apesar da queda da atividade manufatureira, os estoques do setor seguiram intactos, sinalizando que a demanda seguiu fraca no mês passado. O indicador de evolução da produção caiu de 50,8 para 45,4 pontos, o menor nível para meses de novembro desde 2010. Em novembro de 2010, o indicador estava em 48,4 pontos. O índice de número de empregados baixou de 47,1 para 46,4 pontos e o de utilização da capacidade instalada efetiva em relação à usual caiu de 42,9 para 41,5 pontos. De acordo com a metodologia da pesquisa, os valores variam de zero a cem. Abaixo de 50 indicam retração. A sondagem mostrou que, mesmo com a retração da produção, o nível dos estoques ficou estável, em 50 pontos, mas os estoques indesejados aumentaram. O indicador de nível de estoque efetivo em relação ao planejado subiu de 51 pontos em outubro para 51,5 pontos em novembro. Diante do cenário negativo, os empresários também estão mais pessimistas. Em dezembro, todos os indicadores de expectativas para o próximo semestre ficaram abaixo dos 50 pontos, mostrando que o setor prevê queda de demanda, de exportações, do número de empregados e de compra de matérias-primas. O índice de expectativa de demanda para os próximos seis meses caiu de 50 pontos em novembro para 48,1 pontos em dezembro, o de número de empregados recuou de 47,9 pontos para 46,3 pontos e o de compra de matérias-primas diminuiu de 46,4 pontos para 45,7 pontos. No mesmo período, o indicador de quantidade exportada ficou em 48,4 pontos. A atual edição da sondagem industrial foi feita entre 1º e 10 de dezembro, com 2.186 empresas. Dessas, 874 são pequenas, 788 são médias e 524 são de grande porte.

Férias coletivas são concedidas em mais setores industriais Por Sérgio Bueno, Eduardo Laguna e Vanessa Jurgenfeld | De Porto Alegre e São Paulo Daniel Ely, da Randon: as férias coletivas complementam outras medidas para enfrentar desaceleração dos negócios Boa parte do setor industrial brasileiro decidiu conceder neste fim de ano um período de férias coletivas igual ou maior do que em 2013. Ainda que os estoques altos sejam mais perceptíveis na cadeia automobilística, as férias coletivas como forma de reequilibrá-los envolverão também outros ramos, como o têxtil e o calçadista, além de produtores de tratores agrícolas e fábricas de louças e metais. Líderes nacionais nos segmentos de carrocerias de ônibus e de implementos rodoviários, a Marcopolo e a Randon, ambas com sede em Caxias do Sul (RS), decidiram aumentar de duas para três semanas, em média, o período de férias coletivas na passagem de 2014 para 2015, 3


comparativamente à virada do ano anterior. A ampliação da parada acompanha o calendário dos fabricantes de chassis e das montadoras de veículos, depois de um ano de queda generalizada na produção desses setores. Segundo o gerente-executivo de recursos humanos da Randon, Daniel Ely, a medida complementa as providências adotadas em 2014 para enfrentar a desaceleração dos negócios e preservar o quadro de funcionários. Além de não repor a rotatividade da mão de obra, o grupo recorreu a férias seletivas e feriados prolongados em maio e, depois, ao escalonamento do expediente durante a Copa. De agosto a outubro, a maior parte das controladas adotou a jornada de quatro dias por semana. Neste ano, também aumentará o contingente de pessoal que entrará em férias. Em Caxias do Sul, a parada da Randon vai atingir 96% dos 9 mil funcionários, ante pouco mais de 80% no ano passado, sendo que 55% iniciaram as férias no dia 15 e 45% entrarão em férias a partir do dia 22. Na planta de Guarulhos (SP), onde são produzidos semirreboques canavieiros, o descanso será de 30 dias para 80% dos 900 funcionários, ante três semanas na virada de 2013 para 2014. Na Marcopolo, as férias irão de 22 de dezembro a 11 de janeiro, enquanto na passagem de 2013 para 2014 o descanso foi de 23 de dezembro a 5 do mês seguinte. Com 12 mil funcionários no Brasil, a Marcopolo produziu 11,3 mil ônibus no país de janeiro a setembro, 21,3% a menos do que no mesmo período do ano passado. No segmento de máquinas agrícolas, a AGCO, dona das marcas Massey Ferguson e Valtra, vai repetir neste ano as três semanas de parada nas fábricas de Mogi das Cruzes (SP) e Canoas (RS), informou a empresa por intermédio de sua assessoria. Na primeira, as férias iniciaram dia 15 deste mês e na segunda, no dia 22. A unidade de Santa Rosa (RS), onde são fabricadas colheitadeiras, não vai parar porque já teve suas operações interrompidas durante 30 dias em setembro para "reorganização de layout para produção de novos produtos". Conforme o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, Paulo Chitolina, o período médio de férias coletivas das indústrias do município ao lado de Porto Alegre neste ano será de 15 a 20 dias, o mesmo de 2013. O número de empresas que comunicou as paradas à entidade, entretanto, aumentou de cerca de 30 no fim do ano passado para 53. Além dos estoques altos e de ainda verificar demanda fraca, o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV-Ibre, Aloisio Campelo, avalia que a indústria está sendo afetada pelo descompasso entre o que as empresas acreditam que será a demanda e o que elas planejaram produzir. Ele exemplifica que no terceiro trimestre houve um novo desapontamento da indústria em geral. "O setor pensava que, depois da Copa, a recuperação seria uma espécie de devolução completa do que havia desacelerado no segundo trimestre. Mas, no caso da indústria de transformação, não foi assim". Embora as férias coletivas ocorram em diferentes setores, é no de material de transportes que os estoques estão mais chamando a atenção. Entre 14 setores pesquisados pela FGV, este é o que está mais estocado, seguido por têxtil, mobiliário, vestuário e minerais não metálicos. Em alguns casos, os níveis de estoques são os mesmos de 2009, ano de fortes reflexos da crise mundial que eclodiu em 2008. Nas têxteis catarinenses, um dos principais polos desse tipo de fabricação no país, Vivian Kreutzfeld, presidente do Sintrafite, sindicato dos trabalhadores têxteis de Blumenau e região (SC), que representa 30 mil trabalhadores de 262 empresas, diz que as grandes companhias vão dar férias coletivas neste ano de 10 a 15 dias, volume similar ao do ano passado. Ela explica, no entanto, que em alguns setores específicos dentro da fábrica há empresas que ampliarão o período de 15 para 20 dias neste ano frente ao ano anterior. Vivian diz que este é 4


o caso de parte das áreas de tecelagem e fiação de algumas grandes empresas, para que haja maior equilíbrio de estoques. Em Blumenau, estão Coteminas e Karsten, além de companhias que estão em recuperação judicial, como a Teka. Em Jaraguá do Sul (SC), a maior empresa têxtil da região, a Malwee, concederá 20 dias de férias coletivas, mesmo número de dias que deu no ano passado. Em Joinville (SC), Sebastião Alves, presidente do sindicato dos metalúrgicos da região, diz que neste ano o período de férias coletivas irá variar, em média, entre 15 e 20 dias. E há casos em que alguns setores dentro da fábrica terão férias de 30 dias. No fim de 2013, o período de férias coletivas concentrou-se, em média, entre 10 e 15 dias, com raras exceções. Entre as grandes empresas da região, diz Alves, a maioria aumentou em cinco dias o período de férias em relação ao passado. Quem dava 15, agora vai dar 20. E as que deram 10 vão dar 15 dias. Alves diz que as empresas justificaram o maior número de dias de férias por decréscimo de vendas ao longo do ano em razão de três fatores principais: o Carnaval tardio deste ano, a realização da Copa e as eleições. A Docol, fabricante de metais sanitários, sediada em Joinville, apenas informou que as férias coletivas são "uma questão de operação" e que não têm nenhuma relação com uma possível crise econômica no país. Em tempos de bonança, as montadoras chegam a adiar recessos, mas neste ano o setor vai prolongar o período de férias coletivas. Em muitos casos, a parada na indústria de veículos vai se estender por quatro ou cinco semanas. Na última semana, a Volkswagen antecipou em dois dias a liberação dos funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), alegando a necessidade de adequar produção e estoques às "condições de mercado dos próximos meses" - o que indica a falta de perspectiva de reação do consumo no curto prazo. As linhas da Volks pararam na última quinta e só voltam a funcionar em 6 de janeiro, totalizando 26 dias corridos de paralisação. Nas fábricas paulistas da GM - em São Caetano do Sul e São José dos Campos -, assim como nas linhas de automóveis e caminhões da Ford no ABC, as férias vão durar um mês. As duas unidades da GM param a partir da semana que vem, enquanto a Ford interrompeu as atividades na segunda. Na fábrica de motores e transmissões da Ford em Taubaté (SP), a parada também começou na segunda-feira e vai durar três semanas. Na Renault, em São José dos Pinhais (PR), a produção será suspensa por três semanas a partir de 23 de dezembro. No setor de motores do parque da marca francesa no Paraná, os operários terão férias um pouco mais curtas: 18 dias a partir de 19 de dezembro. Uma das poucas exceções no setor automotivo, a Fiat, instalada em Betim (MG), terá período de férias menor do que a maioria da concorrência. Serão 12 dias, a partir de 24 de dezembro. Na indústria de caminhões, a maior parte das empresas, como Mercedes-Benz, Volvo e Iveco vai parar por um mês. As exceções são a MAN, fabricante dos veículos comerciais da marca Volkswagen sediada em Resende (RJ), e a Scania, instalada em São Bernardo do Campo. Nessas duas montadoras, as férias durarão três semanas. Acompanhando o calendário da indústria de veículos, os fornecedores programaram paradas por tempo acima do normal. A Pirelli, por exemplo, concedeu as férias de fim de ano mais longas desde que se instalou, há oito décadas, no Brasil. A fábrica de pneus para caminhões e 5


tratores agrícolas do grupo italiano em Santo André (SP) terá a produção interrompida por três semanas. A Tupy, que fabrica blocos de motor, sediada em Joinville, informou que a maioria dos setores da sua fábrica entra em férias no dia 22 de dezembro e retorna em 5 de janeiro. E disse que "algumas áreas entrarão em férias em períodos diferenciados como forma de atender a demandas de clientes". Segundo a Tupy, o mesmo período foi adotado nos anos anteriores. A Abicalçados, que representa o setor calçadista, informou que as empresas normalmente concedem período de férias no fim do ano, "mas na virada de 2014/2015 o procedimento é de todos". Segundo a entidade, a generalização das férias é causada principalmente pela queda nas vendas à Argentina, que normalmente estariam ocupando as linhas de montagem nesta época, considerando embarques a partir de janeiro.

Varejo prevê faturamento maior em 2015 Por De São Paulo Após queda de 1,6% em termos reais neste ano, o faturamento do varejo do Estado de São Paulo deve ter crescimento de 1,2% em 2015, para R$ 534,9 bilhões, de acordo com estimativas da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Se em 2014 a alta da inflação, dos juros e das incertezas relacionadas à economia reduziram a confiança dos consumidores, em 2015 os ajustes esperados na política econômica poderão recompor parte das perdas, diz a entidade. Apesar da perspectiva mais positiva na média do Estado, o faturamento do varejo na capital, que tem peso de 30% no total, continuará com queda real, de 1,1% - menor que a prevista para este ano, de 3,8%. A região do ABCD deverá registrar aumento de 1,2%, longe de recuperar o tombo de 8,2% do período atual. O ano de 2014 foi marcado por uma forte queda nos indicadores de confiança de ambos os lados do balcão. De acordo com o mais recente dado disponibilizado pela entidade, de novembro, o índice de confiança do consumidor estava 16% abaixo do mesmo período em 2013 e o de intenção de consumo das famílias tinha queda de 12,9%. A confiança dos empresários terminou novembro 12,7% menor que há um ano. Os baixos patamares de confiança se refletiram em quedas pronunciadas nas vendas na maioria dos segmentos do varejo paulista, em especial as de bens duráveis, dependentes de crédito - principalmente veículos, eletrodomésticos e materiais de construção. Os aumentos ficaram por conta dos bens de consumo essenciais e de primeira necessidade, como alimentos, produtos de higiene e de limpeza e medicamentos.

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Levy não descarta 'ajuste' tributário e diz que a volta da Cide é uma 'possibilidade' Por De São Paulo O ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem, em entrevista ao "Bom Dia Brasil", da TV Globo, que os ajustes nas contas públicas terão que ser "balanceados" e não descartou mudanças nos impostos. "Tem que ser um pacote balanceado, é a prioridade. A gente tem que pegar os diversos gastos que já foram feitos, estancar alguns, reduzir outros. E na medida do necessário, a gente pode considerar também algum ajuste de impostos", afirmou Levy. Segundo ele, ajustes terão que ser compatíveis com o aumento da taxa de poupança do país, hoje em torno de 13%, um nível considerado muito baixo. "Temos que poupar mais para investir mais, e também estar preparado para o mundo que, como vimos nos últimos dias, está mais turbulento". Ele não descartou a elevação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto que incide sobre os combustíveis. "É uma possibilidade", apontou. "Há outras". Quanto ao superávit, ou déficit, fiscal que será apresentando em 2014, Levy afirmou que qualquer que seja o caminho que a presidente Dilma Rousseff achar mais adequado "sempre haverá implicação para o ano que vem". "Se seu resolver pagar tudo, de repente a dívida aumenta, se houver modulação, significa que vamos ter que ter alguma acomodação. Não existe solução fácil nesse sentido", disse. Questionado sobre se teria condições de implementar suas ideias num governo em que há posições divergentes sobre a condução da política econômica, Levy afirmou que existe consenso dentro do governo a respeito do ajuste fiscal. "Temos um núcleo comum de ideias a respeito da necessidade de ter uma solidez fiscal. Isso hoje já é uma coisa consolidada. E diante de um quadro que exige disciplina, sabe-se o que precisa ser feito". Levy destacou que janeiro normalmente é um mês de inflação mais alta. Ele citou ainda a situação hídrica, com o custo adicional das térmicas que deve refletir nas contas de luz a partir do uso das bandeiras tarifárias. O preço mais alto da energia, diz, vai acabar ajustando o consumo. Ele acredita que o ajuste fiscal, aliado ao trabalho do Banco Central, vai ajudar a debelar a inflação. "A inflação, até pelo trabalho fiscal, vai entrar no devido momento num processo de queda", disse. Em relação ao dólar, Levy disse que é preciso ver como a moeda americana vai evoluir. "Há uma tendência de valorização no mundo todo", disse. "Com a queda do petróleo, todo mundo foge para o dólar, há uma tendência de valorização no mundo", apontou. Para ele, a retomada do crescimento da economia pode ocorrer logo. "A experiência mostra que quando se faz ajustes de maneira firme e equilibrada a reação é muito rápida. Fazer as medidas necessárias, sem esticar demais no tempo, ajuda a preservar emprego e a rearrumar as coisas e recomeçar".

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Oferta primária Por Jane Soares | Para o Valor, de São Paulo As contas externas brasileiras estão no vermelho. O déficit em transações correntes, que inclui o saldo da balança comercial, a conta de serviços e as transferências unilaterais, ficou em US$ 83,55 bilhões nos doze meses até setembro, o maior em 12 anos. O resultado é equivalente a 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Central (BC). Em novembro, a balança comercial registrou um déficit de US$ 2,350 bilhões, o pior desempenho para o mês nos últimos 20 anos. Nos 11 primeiros meses de 2014, contabiliza um rombo de US$ 4,22 bilhões, o pior desde 1998, levando o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a admitir que a balança vai terminar o ano no vermelho pela primeira vez desde 2000. A estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que as transações correntes em novembro tenham fechado com déficit de 3,9% do PIB, o equivalente a cerca de US$ 84 bilhões. E enquanto o comércio internacional começa a se recuperar da derrapada resultante da crise internacional, o Brasil continua a perder participação nas exportações mundiais e deve chegar a 1,22% em 2014. O melhor momento dos últimos 50 anos ocorreu em 2011, quando ficou em 1,41%. No ano passado, a participação foi de 1,32%. Quando se leva em conta apenas os produtos manufaturados, a participação cai para 0,7%, como mostra a pesquisa Entraves às Exportações Brasileiras, divulgada em maio pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O déficit comercial do segmento atingiu US$ 105 bilhões em 2013, quando, pela primeira vez na história, a participação das importações superou a das exportações, com 1,36% - era de 1,29% em 2011 e deve chegar a 1,23% em 2014. Hoje, o valor dos produtos industrializados importados é mais do que o dobro dos exportados. "Como o Brasil está atraindo poucos investimentos internacionais, talvez precise usar as reservas, parte delas já comprometidas com o swap cambial, para equilibrar o balanço de pagamentos, o que deixa clara a vulnerabilidade histórica do país. Só nos resta torcer para não haver novos percalços no meio do caminho", afirma José Augusto de Castro, presidente da AEB. A vulnerabilidade tem como pano de fundo a dependência da pauta de produtos básicos, uma vez que os manufaturados perderam competitividade ao longo dos últimos anos. Trabalho elaborado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) para o Valor mostra que a participação dos industrializados na pauta de exportações era de 59% em 2000. Caiu para 38% no ano passado. A dos básicos percorreu o caminho inverso. Saiu de 23% para 47% no mesmo período, enquanto a de semimanufaturados permaneceu estável, entre 13% e 15%. "Em meados da década de 2000, o bom desempenho da balança comercial escondia o fato de o Brasil não conseguir exportar manufaturados e ficar à mercê dos preços das commodities", explica Daiane Santos, economista da Funcex. "O país colheu bons resultados em função dos explosivos aumentos das commodities e do forte crescimento na demanda. Ou seja, por fatores externos sobre os quais não tinha qualquer controle", reforça Castro. Pior: o Brasil não estava e não está preparado para enfrentar o novo cenário mundial. Não aproveitou os anos de bons superávits da balança comercial para ao menos equacionar os 8


problemas que emperram o crescimento das exportações. Um dos mais sérios é o alto custo logístico. Para a soja, os preços dos fretes internos representam 25% do valor do produto. Para o milho, chegam a 50%. A reforma de portos e ferrovias anda a passos lentos, a cabotagem é praticamente inexistente, as estradas, por onde trafega a maioria dos produtos, mal conservadas A reforma tributária não acontece e desestimula o investimento, onera a produção e estimula a exportação de produtos sem valor agregado. "Medidas pontuais são meras ações paliativas, que não produzem os efeitos desejados no longo prazo," diz Castro. As leis trabalhistas, por sua vez, encarecem a mão de obra, enquanto o aumento dos juros inibe os investimentos. "É preciso tomar medidas para reduzir o custo Brasil, realizando as reformas tributária, revendo as leis trabalhistas, diminuindo os custos financeiros", diz Castro. Além disso, sem fechar acordos comerciais bilaterais ou regionais, o Brasil fica fora das negociações internacionais que reduzem tarifas aduaneiras e dão acesso a novos mercados. A política externa é alvo de críticas e o Mercosul é visto mais como um entrave do que um incentivo aos negócios. "Não tem sentido o Brasil retardar ações em função dos interesses do Paraguai. O rabo não pode balançar o cachorro", comenta Gesner de Oliveira, sócio da Go Associados e professor da Escola de Administração de Empresas (Eaesp) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O consultor defende a abertura de novos mercados para produtos industrializados e a definição de metas para, por exemplo, aumentar as exportações de serviços. "O Mercosul virou palco para manifestações políticas e não para providências que possam favorecer o comércio. É preciso despolitizar a política externa", diz Oliveira. "Nos últimos quatro anos, o Brasil focou no fortalecimento do sistema de defesa comercial e adoção de medidas protecionistas. É preciso mudar a direção da política, dando ênfase ao apoio às exportações e ao incremento da corrente de comércio", diz Daiane, da Funcex. Os analistas defendem a realização de acordos com a União Europeia e países como Canadá, África do Sul e Índia. Para os especialistas, o uso da política cambial como fator de competitividade é um grande equívoco. "Câmbio é uma medida de preços relativos que interfere no comércio internacional quando as moedas estão desalinhadas", explica Vera Thorstensen, professora da Escola de Economia e coordenadora do Centro de Comércio Global da FGV, que acompanha a posição das moedas de vários países em relação ao ponto de equilíbrio, usando metodologia do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). "O real está sobrevalorizado, o que anula a proteção que os impostos de importação deveriam oferecer ao produto nacional e, por isso, o Brasil importa muito", diz Vera. Já países com moedas desvalorizadas subsidiam as exportações. É o caso da China, Malásia, Coreia, EUA. Por isso, tanto a CNI quanto a FGV defendem a discussão do câmbio no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). A esperança é que a nova equipe econômica seja capaz de realizar os ajustes necessários para resolver as dificuldades mais prementes. Mas, qualquer ajuste, precisa de um prazo para mostrar resultados. Muitos apostam em um pequeno superávit para a balança comercial em 2015. "Os preços das commodities devem continuar em queda e a China vai crescer menos. Com a economia nacional em marcha lenta, as importações devem cair. Poderá ocorrer um superávit pela retração das importações", diz Castro.

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Em fase de mudança de comando, o MDIC deve divulgar as primeiras medidas para o comércio exterior no início do próximo ano. No momento, limita-se a explicar as causas da reversão das expectativas para a balança comercial em 2015.

Economistas debatem o perfil industrial do país Por Chico Santos | Para o Valor, do Rio Carlos Frederico Rocha: país perdeu bonde das cadeias globais de valor O Brasil construiu, especialmente a partir da década de 1950, um parque industrial diversificado que o levou, em 1980, à posição de 7ª maior economia industrial do mundo, respondendo por 2,7% da produção global de manufaturas, segundo dado do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Nas últimas três décadas, a emergência de países asiáticos, especialmente da China, reduziu a participação brasileira em 2014 a 1,6% do total e empurrou o país para a 11ª posição no ranking dos industrializados. Esse quadro, agravado pela crise que o setor enfrenta desde o segundo semestre de 2010, está gerando o debate sobre qual deverá ser o perfil industrial do país, levando em conta a competitividade internacional. Não há unanimidade, a não ser quanto à inevitável impossibilidade de competir com os asiáticos na produção de bens intensivos em uso de mão de obra, como calçados, têxteis e móveis. O economista Carlos Frederico Rocha, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em indústria, avalia que as maiores perspectivas para o desenvolvimento de atividades de alto conteúdo tecnológico no Brasil e em outros países da América Latina estão nos setores baseados em "processos de fluxo", aquelas cadeias que nascem a partir de recursos naturais como petróleo, minerais e também de produtos agrícolas. Já nas indústrias que envolvem "processos de montagem", excluídas exceções como a cadeia aeronáutica, Rocha vê o Brasil com menos chance de ser competitivo, o que não significa que esses setores irão desaparecer. O economista destaca que o tamanho do mercado interno assegura um lugar para a indústria automobilística, um setor muito influenciado pelas políticas governamentais. Mas lembra que em 2013 as exportações do setor (veículos e peças) foram de US$ 15 bilhões e as importações alcançaram US$ 21 bilhões. Em um trabalho de sua autoria, Rocha destaca que de 1996 a 2013 os segmentos que cresceram na balança comercial brasileira foram aqueles baseados em "processos de fluxo", como bens agrícolas, commodities agrícolas e commodities industriais. Já na indústria tradicional e na área de produtos que ele chama de indutores de inovação, ambos relacionados a "processos de montagem", os números da balança comercial foram crescentemente negativo. A exceção deficitária entre os setores de "fluxo" é a do petróleo e gás, caso que, para ele, será revertido em alguns anos. Para ele, não há condições de competir com os asiáticos em setores intensivos em mão de obra e que o Brasil "perdeu o bonde das cadeias globais de valor" porque as empresas estavam também atrás de mão de obra barata, estágio que o país já deixou para trás. Acha que a política de inovação do governo está correta, mas vê lentidão no retorno. O economista Marcelo Nascimento, chefe do departamento da área de estudos e acompanhamento econômico do BNDES, concorda que o Brasil tende a perder nos segmentos intensivos em mão de obra, pagando o preço de ter ultrapassado o estágio vivido hoje pelos países asiáticos que se destacam nesse campo, mas enxerga a indústria brasileira avançando 10


na diversificação competitiva, desde que em um ambiente macroeconômico mais favorável do que o atual e em um quadro de demanda global mais animador. Nascimento entende que a sobrevalorização do real provocada pelo ciclo das commodities da década de 2000 tirou a competitividade da indústria brasileira, uma situação que tende a mudar com a tendência atual de valorização do dólar americano. Ele lembra que o dólar valia R$ 1,56 em julho de 2011 e hoje oscila na casa dos R$ 2,60. A valorização cambial encareceu os custos não transacionáveis (sem alternativa externa), incluindo mão de obra e serviços, que representam 34% do valor de venda dos produtos industriais. O técnico do BNDES também vê a indústria brasileira penalizada pelo quadro negativo do comércio internacional, especialmente nos seus principais mercados, como Argentina e União Europeia. O economista Leonardo Carvalho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê a indústria padecendo de males estruturais, incluídas a infraestrutura deficiente, a carga tributária elevada e o ambiente de negócios ruim, e de males conjunturais, destacando o câmbio sobrevalorizado e a fraca demanda global. E não vê demérito em o país buscar ser forte no agronegócio e em recursos naturais, desde que sofisticando essas cadeias.

Bens de capital devem crescer 15% no próximo ano Por Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo As exportações do setor de bens de capital terminam 2014 com crescimento de 10% sobre o ano anterior e perspectivas de 15% de aumento para 2015. Por trás desse desempenho, estão a valorização do dólar e ampliações de mercados essenciais como Estados Unidos e União Europeia. "Entendemos que 2015 será um ano melhor que 2014 que, apesar de todas as dificuldades, não foi desastroso. A tendência é fecharmos este ano com US$ 12 bilhões, alta de 10%. Para 2015, esperamos um crescimento de 15% nas exportações, chegando a US$ 15 bilhões", afirma Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da Abimaq. O setor começou o ano exportando cerca de US$ 900 milhões/mês e está fechando com desempenho parecido, depois de um aumento nos últimos meses. "Depois de julho, o dólar voltou a ter um fôlego em relação à exportação, o que provocou uma subida na curva", diz. No seu entender, o "câmbio traz dois problemas". "Um é o fato de as ofertas serem realizadas em um novo câmbio, porque com bens de capital a venda não é rápida. O outro é a questão da segurança do câmbio, que está muito volátil. Com isso as empresas temem ir ao mercado com uma taxa que pode sofrer alteração nesse período", afirma. Para o diretor da Abimaq, "os sub setores de máquinas que já tinham fechado suas exportações acabaram tendo vantagens nessa absorção do câmbio". "Eles são os mais internacionalizados e respondem melhor a essas vantagens, porque estão mais expostos a clientes lá de fora", diz. Segundo a Abimaq, os setores que mais exportaram foram o de máquinas rodoviárias, que iniciou o ano com US$ 188 milhões e chegou a US$ 226 milhões em outubro, e o de máquinas e ferramentas, que teve uma melhora no final do ano, passando de US$ 23 milhões no início do ano e chegando outubro com US$ 32 milhões. O de máquinas agrícolas se manteve na faixa de US$ 86 milhões. Apesar das limitações, o Brasil tem tido um bom desempenho no cenário internacional. "O comportamento do mercado brasileiro não é dos piores em relação às vendas externas de bens de capital, quando comparado a gigantes mundiais como os Estados Unidos e a União Europeia", diz Muller. Segundo ele, o Brasil ainda sofre com poucos investimentos e, apesar de 11


o câmbio não estar nos níveis desejados, os "produtos brasileiros lá fora ainda ganharão competitividade". "Esse cenário significa que tivemos sucesso com o resto do mundo e conseguimos repor a queda da Argentina", completa. Para crescer 15% em 2015, uma das estratégias defendidas pela Abimaq é focar no mercado americano, que terá uma demanda expressiva no próximo ano. "Há necessidade também de explorar mercados como a Rússia e a África", diz Muller. A América Latina é o principal mercado brasileiro para máquinas e equipamentos, com 35% das compras, seguido da Europa (29%), Estados Unidos (13%), Ásia (8%), África (5%) e o restante entre outros países. Algumas empresas do setor ilustram os bons resultados nas exportações. "Tivemos um crescimento superior a 10% em 2014, em dólar e volume", diz Luiz Cassiano Rosolen, CEO da Indústria Romi S/A, responsável pelas operações da companhia fora do país. "Os valores do mercado externo contemplam a receita obtida pela B+W, nossa subsidiária alemã", explica. A Agrale traz números animadores. "As exportações em 2014 - de janeiro a novembro superam o ano anterior em mais de 30%", diz Hugo Zattera, diretor-presidente da Agrale. "O desempenho foi alcançado em razão de vendas inéditas", afirma. "A primeira foi a venda de 320 tratores para o Zimbabwe, por intermédio do programa Mais Alimentos Internacional. Esta foi a primeira venda realizada por um fabricante brasileiro neste programa", explica. "Destacamos também a venda de veículos militares para a Namíbia", além da retomada de mercados importantes como Chile, Colômbia e Peru e ainda novos clientes na África.

Quem tem medo de saber se é digital? Por João Luiz Rosa | De São Paulo As aparências enganam. Foi o que descobriu a Guascor, uma geradora de energia térmica, ao medir a familiaridade de seus funcionários com a tecnologia na pequena Afuá, de quase 35 mil habitantes. Localizada a noroeste da Ilha do Marajó, no Pará, a cidade foi construída sobre plataformas de madeira e a maioria dos seus habitantes mora em palafitas - precauções para evitar que os rios próximos inundem ruas e casas na época da cheia. Como carros e motos são proibidos por lei, o único meio de locomoção é a bicicleta. "Até o transporte escolar é feito dessa maneira", conta Marcela Bragatto, diretora de comunicações da Guascor. O cenário, convenhamos, fazia prever um grau baixo de conhecimento tecnológico entre os funcionários de campo que atuam em Afuá e outras localidades distantes atendidas pela empresa, como o interior do Acre e de Rondônia. A Guascor atende a 53 usinas e tem 600 funcionários: 70% deles estão no campo operacional. A surpresa, feito o diagnóstico, é que 100% deles tinham celular, acessavam e-mail e navegavam pelas redes sociais. Em Afuá, em particular, lanchonetes colocam seus cardápios no Facebook e os "bicitaxis" - bicicletas que funcionam como taxis - atendem pelo WhatsApp. É desse jeito que os executivos da Guascor vão para a usina quando chegam à cidade, famosa por um camarão "melhor que lagosta", afirma a executiva. Em julho, durante o festival do camarão, nem as bicicletas circulam, de tantos turistas nas ruas. "Percebemos que o acesso à informação não representa mais um obstáculo. O real desafio é como fazer o melhor uso dos dados", diz Marcela. "Isolado não significa desinformado." Como a Guascor, outras empresas estão se animando a medir seu grau de maturidade digital. A ideia é de Francisco Gioielli, um ex-executivo do Google que se uniu a dois sócios para criar o +Digital Institute (lê-se "plus" digital). A empresa novata desenvolve os questionários e os 12


aplica por meio on-line. O produto levou um ano para ficar pronto. Até chegar à versão final, lançada em setembro, a metodologia passou por uma dezena de versões prévias. As empresas podem estabelecer filtros para ver os resultados por departamento, nível hierárquico, região geográfica e outras variáveis. A Geofusion, uma empresa de geomarketing, ainda está colhendo os resultados da pesquisa, mas já detectou diferenças significativas entre os departamentos. A companhia usa mapas e informações geográficas para ajudar os clientes a decidirem o melhor lugar para estabelecer pontos de venda e tomar decisões estratégicas a partir de critérios como renda da população local, competição na vizinhança etc. São 350 fontes de dados diferentes. A pesquisa da +Digital mostrou que a área comercial faz bom uso das redes sociais - para entender melhor o perfil dos clientes, buscar executivos etc -, mas essa ainda não é uma prática disseminada em toda a companhia. As ferramentas de compartilhamento, que ajudam no trabalho em grupo, também não são usadas de maneira homogênea. "Algumas equipes estão melhores que outras", diz Pedro Figoli, diretor-presidente da companhia. Francisco Gioielli, da +Digital: "hemograma" digital "Às vezes, o fato de uma área da empresa não saber usar uma tecnologia acaba prejudicando o uso do sistema como um todo", afirma Gioielli. É por isso que o teste precisa ser aplicado a toda a companhia. Pelo menos 30% das respostas de cada área é suficiente para obter um índice relativamente apurado. Na Guascor, controlada pelo grupo americano Dresser-Rand, outra lição assimilada é que a maturidade tecnológica ajuda a encontrar formas inusitadas, e simples, de resolver problemas do dia a dia. A companhia mantém há algum tempo um concurso de fotografia entre seus profissionais. As melhores imagens são selecionadas para integrar o calendário anual da empresa. A despeito do caráter lúdico, o concurso estimula uma prática que se mostrou muito útil depois da popularização dos celulares com câmera. Em vez de enviar relatórios de várias páginas para explicar o problema de um gerador, por exemplo, os funcionários passaram a mandar fotos das peças avariadas para o setor técnico. O resultado foi ganho de tempo e custo mais baixo. Para viajar de Belém a Afuá, um técnico precisa percorrer uma trajetória de quatro dias de barco. Com a foto em mãos, o técnico não precisa sair de onde está, se o caso se mostrar simples de resolver. Em vez disso, ele explica ao funcionário de campo como resolver o problema com o material que está mais a mão. "Isso dura meia hora e não há interrupção no fornecimento de energia", diz Marcela. A +Digital não pretende concorrer com consultorias como Accenture e Capgemini, ou empresas de tecnologia como a Microsoft, que fazem grandes projetos de adaptação digital para companhias. A ideia é estar um passo antes, diz Gioielli: traçar um "hemograma digital" que os "médicos", como as companhias citadas e suas revendas, possam usar para elaborar diagnósticos e recomendar tratamentos. É para essas empresas de serviços que o foco de vendas está dirigido, embora a +Digital já tenha concluído cinco projetos piloto e obtido dois clientes que aplicaram a metodologia a seus próprios negócios. A Geofusion, que tem 350 clientes e oferece software como serviço - o usuário paga uma mensalidade para usar o sistema - pretende aplicar os resultados do levantamento na definição de seu orçamento para 2015. Entre as prioridades na área de tecnologia estão ferramentas que ajudam a extrair automaticamente dados das redes sociais e a melhoria dos recursos de mobilidade. Na Guascor, a percepção é de que um retrato mais fiel da exposição tecnológica torna menos arriscada a tarefa de decidir onde investir na área de tecnologia. Segundo Marcela, a companhia ganha mais confiança para levar adiante projetos de educação a distância e adotar ferramentas de medição digital porque sabe que o funcionário já está acostumado a lidar com 13


o teclado do celular e com o envio de informações por meio eletrônico. É outro aprendizado com repercussões práticas. Com sede em São Paulo, a companhia chegava a esperar dois meses para receber os documentos que saíam de Afuá. Hoje, parte desse tráfego foi digitalizado e a papelada que ainda depende de assinaturas e carimbos leva 30 dias, em média, para chegar - ainda é bastante tempo, mas a metade do prazo anterior.

O perigo de uma crise cambial Por Maria Clara R. M. do Prado Há doze meses, enquanto escrevia o texto desta coluna, o dólar disparava e o mercado vivia em alvoroço. Ninguém acreditava que 2014 seria um ano fácil. Naquele dezembro de 2013, o dólar comercial atingiu o seu auge no dia 20, tendo fechado em R$ 2,385, com alta de 1,583% sobre a cotação da véspera. Jogavam-se todas as fichas na desvalorização do real. Mas nenhuma alma chegou a imaginar que um ano depois o dólar superaria os R$ 2,70. Muito menos, que a principal empresa brasileira, a Petrobras, se veria enredada em um estrepitoso escândalo de corrupção, o maior de que se tem notícia no meio empresarial do país. E o pior ainda está por vir. Com a crise da Rússia batendo à porta e uma Europa que ainda não conseguiu recuperar-se do baque de 2008, o risco do Brasil caminhar para uma situação de descontrole cambial é muito alto. A mesma Petrobras, que no passado ajudou a sedimentar a credibilidade do país no exterior, contribui agora para macular a imagem e as expectativas com relação ao Brasil. A moeda é a primeira a derreter. A cada dia que passa, o país toma conhecimento, incrédulo, de novos fatos relacionados à desmesurada malversação de recursos que assola a Petrobras. A queda do valor da empresa, chegando à quarta parte do que valia no mercado na época áurea do pré-sal, é o lado visível de uma história dramática de extremada drenagem financeira para benefício de políticos, partidos e empresas. Pelo tamanho e abrangência, talvez seja caso único no mundo. Seja pelo largo período em que os desvios aconteceram sem que nenhuma providência fosse tomada, seja pela enorme quantidade de pessoas envolvidas, seja pelas astronômicas somas reputadas aos atos de corrupção, por qualquer ângulo, tudo parece grandioso demais, perverso demais e inescrupuloso demais. E há mais revelações pendentes. Não apenas se aguarda a divulgação dos nomes dos políticos envolvidos e as consequências do processo investigatório e jurídico, dentro e fora do país, como também os desdobramentos financeiros que afetam acionistas minoritários e contribuintes, além do próprio Estado, detentor de 51% das ações votantes, sem falar na própria empresa. Fechar o balanço do terceiro trimestre deste ano e refazer os balanços dos trimestres anteriores, a partir da reavaliação dos ativos no Brasil e no exterior, é um desafio que deve estar atormentando a Pricewaterhouse Coopers, a empresa auditora a quem cabe dar o aval às contas da estatal. Considerando que o imposto de renda devido à Receita Federal pela empresa foi calculado em cima de valores "fictícios" de muitos ativos que vão emagrecer, depois de abatido o dinheiro destinado à corrupção, pelo menos duas consequências se impõem para a Petrobras, do ponto de vista fiscal. Primeiro, os projetos superfaturados afetam a despesa operacional que terá de ser recalculada. Depois de descontados os valores desviados pela corrupção, os ativos vão sofrer 14


queda. Os novos valores, reduzidos, implicam menor nível de descontos sujeitos à dedução do imposto de renda a pagar. Resulta dali que a Petrobras terá de recolher impostos que deixaram de ser pagos em decorrência de ativos inflados. Além disso, os valores sonegados ao fisco estarão sujeitos à multa de mais de 100%, além de custos adicionais como juros e correção. No bolo dos valores fictícios estão as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; as relações com a holandesa SBM Offshore envolvendo o aluguel de plataformas; as operações com a belga Astra Oil relacionadas à refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos; os fracassados investimentos na Nigéria, entre outros projetos sob investigação. Não resta à Price senão esperar que todos os valores dos desvios tenham sido apurados para poder elaborar novos balanços em bases reais, com os valores efetivamente aplicados nas operações dos diferentes projetos. A auditora certamente não quer ser responsabilizada por crime fiscal e tenderá a minimizar eventual perda de credibilidade para evitar um fim semelhante ao da Arthur Andersen, que não conseguiu sobreviver depois do caso da Enron, nos Estados Unidos. " O pessoal da auditoria precisa tirar do patrimônio líquido o valor envolvido nos atos de corrupção que não pode ser agregado às refinarias e projetos sob suspeita, e isso reflete no balanço da Petrobras", explicou à coluna o advogado Ary Oswaldo Mattos Filho, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e fundador e ex-diretor da Escola de Direito da FGVSP. Ele defende a demissão não só da diretoria da Petrobras, mas de todo o conselho de administração, de modo a que a empresa possa, a partir daí, passar pelo necessário processo de "purificação e emagrecimento". Outras graves implicações tendem a mexer com o mercado, com o PIB e com a reputação do país no exterior. O envolvimento das grandes empreiteiras brasileiras no escândalo é uma delas. Pergunta-se se serão ou não declaradas inidôneas, o que as impediria de participar de novas obras do governo. Como o rol das envolvidas abrange praticamente todo o setor, fica um vazio no ar. "Uma alternativa seria anular o decreto (nº 64.345) baixado pelo Costa e Silva (em dezembro de 1969) que criou uma reserva de mercado para as grandes construtoras nacionais". Aberto à concorrência internacional, o setor se beneficiaria, e o país também. Outros ajustes serão necessários, até mesmo na legislação do pré-sal. No curto e médio prazos, a Petrobras acabará sendo salva, mais uma vez, com dinheiro das captações do Tesouro Nacional. A recriação da Cide e o aumento nos preços internos dos derivados de petróleo também ajudam a aliviar as contas da empresa enquanto o preço do petróleo estiver em queda lá fora, muito embora isso inviabilize a exploração do pré-sal. Mais importante agora é salvar a reputação da Petrobras o mais rapidamente possível para evitar uma séria crise cambial no país. Apelando para o otimismo, a coluna deseja a todos um Feliz 2015, na medida do possível!

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