20 de agosto de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 20 DE AGOSTO DE 2014

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Prévia da inflação oficial fica em 0,14% em agosto A prévia da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), ficou em 0,14% em agosto deste ano. A taxa é inferior às observadas em julho deste ano (0,17%) e em agosto do ano passado (0,16%). Segundo dados divulgados hoje, dia 20 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 acumula taxas de 4,32% no ano e de 6,49% no período de 12 meses. O principal responsável pelo recuo da taxa foram os alimentos, que tiveram deflação (queda de preços) de 0,32% na prévia de agosto. Segundo o IBGE, muitos produtos alimentícios ficaram mais baratos no período, como a batata-inglesa (-20,42%), o tomate (-16,47%), o feijão-carioca (-5,49%), as hortaliças (-5,13%), o óleo de soja (-3,17%) e o feijão-preto (-3,11%). Também contribuíram para a inflação menor na prévia de agosto, as deflações dos grupos de despesas pessoais (-0,67%), comunicação (-0,84%) e vestuário (-0,18%). Por outro lado, o aumento das despesas com habitação (1,44%) e transportes (0,2%) evitaram uma queda maior da taxa de inflação. No grupo habitação, a inflação foi puxada pelo aumento de preços dos artigos de limpeza (1,47%), taxa de água e esgoto (1,37%), condomínio (1,36%), aluguel residencial (0,66%) e mão de obra para pequenos reparos (0,66%). O IPCA-15 de agosto foi calculado com base em preços coletados entre os dias 15 de julho e 13 de agosto.

Regularização de dívidas volta a subir em julho O número de dívidas regularizadas, calculado a partir das exclusões dos registros de inadimplência do banco de dados do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) interrompeu a trajetória de queda registrada entre março e junho e apresentou uma leve alta de 0,97% no mês de julho deste ano em relação a 2013. Na comparação com junho de 2014, sem ajuste sazonal, o volume de quitações de dívidas em atraso também teve um resultado positivo e subiu 2,24%. O dado é do Indicador Mensal de Recuperação de Crédito do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, apesar dos números mais positivos para o último mês, ainda não é possível afirmar que os dados sinalizam uma reversão da tendência de piora no indicador de recuperação de crédito. Exemplo disso é que na comparação do dado acumulado nos sete primeiros meses de 2014 com o mesmo período do ano passado, a quantidade de pessoas que conseguiram regularizar dívidas em atraso caiu 0,97%. Para a economista do SPC Brasil, com o atual cenário de alta da inadimplência e perda da confiança dos consumidores e dos empresários, a recuperação de crédito não deve apresentar melhoras significativas até o fim do semestre. “O enfraquecimento da atividade econômica, aliado a níveis elevados de inflação e taxas de juros, nos fazem crer, no entanto, que a melhora verificada em julho é apenas uma acomodação após pioras consecutivas nos indicadores de recuperação de crédito. Com o rendimento dos trabalhadores crescendo menos e a inflação e juros em alta, o consumidor vê a sua capacidade de pagamento se deteriorar, o que torna ainda mais difícil quitar ou renegociar as dívidas em atraso”, explica Marcela.

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BC lança medidas para estimular crédito e injetar R$ 25 bi na economia Em meio ao cenário de atividade econômica fraca, o Banco Central anunciou novas medidas para estimular o crédito, complementares às que foram anunciadas em julho, e que têm potencial para injetar R$ 25 bilhões no mercado. Em julho, a autoridade monetária retirou restrições e criou incentivos com potencial de incrementar em R$ 45 bilhões o mercado de crédito. Uma das medidas anunciadas nesta quarta-feira (20) foi a liberação de outra parcela do depósito que os bancos são obrigados a deixar parados no BC os chamados depósitos compulsórios, ampliando em R$ 10 bilhões a oferta de empréstimos. Em outra frente, o BC restabeleceu em 75% o fator de ponderação de risco (FPR) uma espécie de seguro contra calotes, diminuindo o requerimento de capital para risco nas operações de crédito. Esse índice será usado em todas as operações de crédito de varejo, independentemente do prazo, e tem potencial para colocar outros R$ 15 bilhões na economia. Segundo o BC, essas medidas são um "complemento e aprimoramento" das anunciadas em julho. "Os ajustes consideram a fase atual do ciclo de crédito no Brasil e se inserem nos processos de revisão das medidas macroprudenciais adotadas a partir de 2010", informou. COMPULSÓRIO No caso do compulsório, o BC ampliou, de 50% a 60%, a parcela desses depósitos que não é remunerada, desencorajando os bancos a deixar esse dinheiro parado e induzindo essas instituições a emprestar mais. Os R$ 10 bilhões previstos com essa medida somam-se aos R$ 30 bilhões estimados com as mudanças de julho, totalizando R$ 40 bilhões o dinheiro disponível. Esses recursos poderão ser usados para compra de operações de crédito de instituições menores ou para empréstimos ao consumidor em negócios com veículos e motos. O depósito compulsório é um dos instrumentos que o BC usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas. Os bancos depositam de forma compulsória 20% de seus recursos a prazo. Por meio do compulsório, os bancos são obrigados a depositar em uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos depósitos à vista, a prazo ou poupança. Quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar aos seus clientes. Isso pode ajudar a reduzir os juros bancários ou, em momentos de mais escassez de dinheiro, impedir que sequem as fontes de crédito para o consumidor e para empresas. VEÍCULOS Para incentivar o crédito para compra de automóveis, o BC dará um bônus para quem ampliar seus financiamentos em mais de 20% nessa modalidade, deduzindo esse valor do compulsório. Por outro lado, o banco que não aumentar em pelo menos 20% seu saldo nessas operações na comparação com a média do primeiro semestre do ano– será penalizado. Nesse caso, o BC não vai deduzir esse valor do recolhimento do compulsório. Para Daso Coimbra, chefe do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos, essa é uma forma de incentivar o financiamento de automóveis. "Para ter ganho, os bancos têm que fazer mais do que faziam antes." CAPITAL Sobre o FPR, Caio Ferreira, chefe do Departamento de Regulação Prudencial e Cambial do BC, disse que a redução do requerimento de capital tem potencial de injetar R$ 15 bilhões na economia, dinheiro que, alavancado, pode representar oferta adicional de até R$ 140 bilhões de crédito. Ferreira explica que a medida deve "fortalecer algumas operações que poderiam estar injustificadamente prejudicadas pelas regras atuais", consideradas mais conservadoras do que as definidas nos acordos de Basileia. 3


Trata-se, basicamente, do desmonte de medidas adotadas no fim de 2010 para frear o superaquecimento da economia. Ferreira pontuou que as medidas anunciadas nesta quarta são complementares às de julho, e não foram anunciadas no mesmo momento para "não causar impacto abrupto no mercado de uma vez". O BC ressalta que a liberação do dinheiro depende da vontade dos bancos de emprestar e da demanda dos consumidores em um momento de alta dos juros. JULHO As medidas anunciadas em julho representavam, naquela ocasião, um estímulo total de mais de R$ 45 bilhões. Com as alterações de hoje, chegam a R$ 55 bilhões. A liberação dos recursos, entretanto, dependerá da vontade dos bancos de emprestar. Hoje, o total de crédito na economia é de quase R$ 3 trilhões. Quando anunciou as alterações, o O BC disse que as mudanças, anunciadas um dia após a instituição afirmar que não irá cortar os juros por causa da desaceleração econômica, não alteram suas projeções para a inflação. PSI E EMPRESAS No mês passado, o BC também permitiu que um número maior de bancos utilize 20% do compulsório sobre depósitos a vista para fazer empréstimos dentro do PSI (Programa de Sustentação do Investimento), linha de crédito criada na crise 2008 para financiar a produção com juros mais baixos. Essa medida tem impacto de mais R$ 200 milhões. O governo também mudou regras para estimular empréstimos acima de cinco anos (60 meses) ao consumo. Para isso, decidiu que o capital que os bancos precisam ter para cobrir essas operações mais longas pode cair de acordo com o pagamento de prestações. A medida libera outros R$ 10 bilhões. Um empréstimo acima desse período exigia do banco o dobro de capital até a quitação da operação. Agora, a exigência cai quando o número de prestações a vencer for menor que 60 meses. Essa medida pode ter impacto, principalmente, no crédito automotivo e consignado, embora se direcionada a todo o crédito ao consumo. Por fim, o BC estimulou empréstimos a pequenas empresas (até R$ 3,6 milhões de faturamento bruto anual), com impacto estimado de R$ 5 bilhões. Hoje, a exigência de capital praticamente inviabiliza que o banco empreste mais de R$ 600 mil para uma mesma empresa. O estímulo visa esticar esse limite para R$ 1,5 milhão.

Produzir no Brasil é 23% mais caro do que nos EUA, de acordo com estudo A capacidade de competição da indústria brasileira sofreu uma reviravolta negativa na última década. Hoje, o custo de produzir no Brasil é 23% maior do que nos Estados Unidos. Em 2004, era 3% inferior. A conclusão é de um estudo recém-divulgado pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG). A pesquisa comparou os custos de produção dos 25 principais países exportadores do mundo. Além dos Estados Unidos, o custo de produção no Brasil ultrapassa, significativamente, o de outros países emergentes como China, Índia, México e Rússia. A consultoria analisou os custos de produção dos 25 países levando em conta quatro fatores: salários na indústria, produtividade do trabalho, custo de energia e taxa de câmbio.

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Segundo o BCG, o Brasil perdeu competitividade em todos os quesitos analisados. Com isso, o custo de produção da indústria no país aumentou 26% em relação ao dos EUA entre 2004 e 2014. Salários mais elevados combinados com um crescimento muito fraco da produtividade explicam três quartos desse aumento. O BCG ressalta que os salários pagos na indústria mais do que dobraram ao longo da última década. BAIXA EFICIÊNCIA O problema, segundo a consultoria, é que essa tendência não foi acompanhada por um aumento significativo da produtividade dos trabalhadores brasileiros. Um forte ganho de eficiência teria permitido às empresas conseguir um aumento de sua capacidade de produção suficiente para cobrir os maiores custos trabalhistas. Mas a produtividade cresceu apenas 1% ao ano no período analisado. O lento aumento da eficiência é explicado por fatores como baixa oferta de mão de obra qualificada, falta de investimento, infraestrutura inadequada e burocracia excessiva. A consultoria afirma ainda que o forte aumento do preço da eletricidade para a indústria que dobrou na última década e o maior custo do gás natural também contribuíram para erodir a capacidade de competição do setor no país. 5


SOB PRESSÃO De acordo com a tendência do custo de produção ao longo da última década, o BCG classificou os países em quatro grupos. Os que se encontram em situação mais crítica foram chamados de "sob pressão". É nesse grupo que o Brasil foi incluído. As demais nações classificadas assim foram China, Rússia, República Tcheca e Polônia. Entre os cinco, o Brasil foi o que teve o maior aumento de custo de produção, segundo o BCG. No outro extremo, entre as chamadas "estrelas emergentes globais", estão México e Estados Unidos. A competitividade dos dois países foi impulsionada por fatores como baixo aumento dos salários e ganhos de produtividade. O relatório ressalta que o mundo deixou de ser dividido em continentes competitivos versus caros. Atualmente, há casos de países muito competitivos e outros nem tanto em todos os continentes. Segundo o BCG, isso deve guiar as decisões de investimento no futuro. A consultoria prevê que a produção industrial deve se tornar cada vez mais regionalizada, centrada nos países mais competitivos de cada uma das regiões.

Sergio Amaral: É hora de destravar a política externa Afora os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e as relações com Pequim, a política externa brasileira travou, inclusive em setores prioritários –como Mercosul, América do Sul e comércio exterior. O Mercosul está paralisado, se não em retrocesso. Em pouco mais de uma década, as vendas brasileiras para o grupo declinaram de 17% a 8% das nossas exportações. Os investimentos também caíram, enquanto as instituições do Mercosul não fizeram qualquer progresso significativo. Chegou a hora da verdade para o Mercosul. Os países-membros do grupo terão de tomar decisões fundamentais: querem consolidar o livre-comércio? Pretendem manter a união aduaneira? Querem continuar a proteger bens intermediários, em detrimento da integração das cadeias produtivas? Quaisquer que sejam as opções, o importante será cumprir as regras acordadas, de modo a restaurar a credibilidade que o Mercosul perdeu. Com a adesão da Venezuela ao grupo, inclusive a cláusula democrática virou letra morta. Na América do Sul, em vez de caminharmos para a integração, marchamos a passos firmes para a desintegração, com o traçado de uma nova linha de Tordesilhas que separa o Mercosul, a leste, da Aliança do Pacífico, a oeste. O último grupo representa 34% do PIB e 51% do comércio da América Latina. Em três anos, a Aliança do Pacífico avançou, em vários setores, mais do que o Mercosul. A busca de uma convergência entre os dois grupos encontra, no entanto, a resistência do Brasil. Por fim, em comércio colocamos todas as fichas na OMC (Organização Mundial do Comércio). Com o fracasso, provavelmente definitivo, da Rodada Doha, ficamos a ver navios, pois não negociamos os acordos de comércio, bilaterais e regionais, que a maioria de nossos parceiros já concluiu. O acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o mais importante deles, ainda não foi finalizado pela resistência da Argentina em aceitar concessões que os seus parceiros no Mercosul já fizeram, e pela recusa do Brasil em prosseguir nas negociações sem a Argentina, como, de fato, pode e deveria. O custo para o Brasil será alto. Como relembrou José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, o Brasil poderá perder, entre outras vantagens, o acesso privilegiado ao mercado europeu de carne, caso as negociações com Washington avancem rapidamente, pois serão concedidas aos Estados Unidos as quotas que poderiam beneficiar o Brasil. A abertura da economia é precondição para a retomada do crescimento. Assim como as reformas econômicas são um requisito para que a indústria possa competir. 6


A economia brasileira é, hoje, uma das mais fechadas do mundo. O comércio representa cerca de 20% do PIB no caso da China, este percentual é de 53%. O presidente chinês, Xi Jinping, em sua visita recente ao Brasil, declarou que seu país não seria o que é hoje não fossem a abertura do comércio e as reformas da economiae Xi Jinping é insuspeito de inclinações neoliberais. O travamento da política externa não ocorre apenas em setores prioritários. O comércio com a África continua a representar 5% de nossas exportações, como há várias décadas. As relações com Washington estão num ponto morto, exatamente no momento em que os Estados Unidos promovem uma revolução energética como prelúdio para um processo de reindustrialização, que abrirá oportunidades novas para cooperação e comércio. É preciso não confundir visitas diplomáticas e comunicados conjuntos generosos com programas e parcerias efetivas. Infelizmente, temos sido pródigos na retórica e modestos nos resultados.

José Maria Alves da Silva: Inflação e bens públicos Uma vez que, na sociedade moderna, os indivíduos são, ao mesmo tempo, consumidores de bens de mercado e cidadãos usuários de bens públicos, o bem-estar econômico geral depende das condições de oferta dessas classes de bens. Os economistas ortodoxos, porém, quando falam de bem-estar, dão a impressão de que só estão pensando em coisas como consumo e mercado. Como consumidores, podemos obter alívio de uma cefaleia simplesmente comprando o remédio apropriado ao preço de mercado. Na hora da compra, se constatarmos que o preço aumentou, teremos, além da dor de cabeça, outro mal-estar do qual não poderemos nos livrar pagando algum preço particular. Somente o que podemos fazer contra o mal-estar provocado pela inflação é reclamar do governo. Mas, agora, já não é mais propriamente o consumidor quem fala, e sim o cidadão insurgente contra a falta de um bem público: a estabilidade monetária. Quando nos incomodamos com o mau uso dos espaços públicos, da parte de outros que não poderiam ser chamados de cidadãos, não temos a mesma autonomia para prover alívio, como no caso da dor de cabeça, por mais dispostos que estivéssemos a pagar um bom preço para isso. Simplesmente não é possível comprar uma "dose de justiça" como quem compra uma aspirina na farmácia. Quanto maior é a presença da Justiça, maior é o retorno dos tributos para o cidadão. No caso contrário, ele se sente como quem está pagando cada vez mais em troca da mesma coisa. Portanto, as carências de oferta de bens públicos têm para o cidadão efeitos semelhantes aos que a inflação tem para o consumidor. A diferença é que a "inflação do cidadão" não é visível como a "inflação do consumidor", posto que não é aferida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) nem por quaisquer dos índices de preços publicados pelo IBGE ou outra entidade. Os indicadores desse mal devem ser procurados em outras estatísticas, como é o caso, por exemplo, das publicadas no Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Edição desse anuário registra que, em 2012, o número de estupros no Brasil cresceu 18,17% em relação a 2011. No mesmo período, o número de homicídios cresceu à taxa de 7,8%. Conforme recentemente noticiado, de janeiro a maio deste ano o número de roubos na capital paulista teve aumento de 42% em relação ao mesmo período de 2013. A inflação é uma taxa de crescimento de preços de bens de mercado para a qual, segundo o sistema de metas adotado no Brasil, estabelecem-se políticas visando mantê-la dentro de uma estreita faixa de controle. Mas, no que diz respeito à segurança pública, não existe nenhum sistema de metas. As taxas de crescimento de estupros e homicídios dolosos podem aumentar indefinidamente, sem que isso acione qualquer função de reação das autoridades.

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No cálculo dos comandantes da nação, o mal da inflação para o consumidor conta muito mais do que a dor das vítimas, as perdas das famílias enlutadas pela violência e o sofrimento dos cidadãos privados de segurança e justiça.

No mato sem coelho Há momentos em que minha fé no debate econômico de alto nível, já não muito profunda, confesso, desaparece de vez e frequentemente em razão dos mesmos culpados. No caso, trata-se de mais um artigo de Yoshiaki Nakano ("Valor", 12.ago) em que o autor, mantendo a característica de opinar sobre o que pouco entende, produziu a seguinte gema: "Numa política monetária (sic) de metas de inflação, é muito mais razoável considerar as taxas médias dos últimos três meses como medida de inflação do que a taxa acumulada de inflação dos últimos 12 meses, como faz o Banco Central do Brasil". Minha impressão seria levemente menos negativa se o autor tivesse perpetrado tal afirmação em qualquer período de três meses ao longo de 2014 que não fosse este terminado em julho. De fato, segundo a peculiar medida proposta pelo professor, a inflação do primeiro semestre teria registrado um mínimo de 6,3% ao ano em junho e um máximo de 9,0% ao ano em fevereiro e março, muito acima da meta. Imagino, portanto, que o silêncio de Nakano sobre o assunto na primeira metade do ano e a materialização da proposta precisamente no único mês de 2014 em que a inflação acumulada no trimestre ficou abaixo de 4,5% deva ser mera coincidência e jamais manifestação de oportunismo sobre a sazonalidade mais favorável da inflação no terceiro trimestre. De qualquer forma, o problema com a ideia é bem mais sério do que a escolha a dedo do período e a desconsideração de fatores sazonais. Para começar, porque nenhum BC que siga o regime de metas para a inflação toma decisões com base nos índices passados, seja em 3, 6 ou 12 meses. O máximo que um BC pode fazer acerca da inflação acumulada nos últimos 12 meses é avaliar se suas escolhas anteriores de política monetária foram adequadas ou não. Pode ser surpreendente para Nakano, mas decisões sobre taxas de juros hoje não conseguem mudar a inflação passada. O tempo, esse ser voraz, insiste em correr numa única direção... Ademais, os efeitos da política monetária costumam se manifestar sobre a inflação com defasagem considerável. Bancos centrais tomam decisões hoje que irão afetar a inflação alguns trimestres à frente, o intervalo preciso dependente das características particulares de cada economia. Não é, portanto, o passado, mas a perspectiva sobre o futuro, considerando inclusive a própria ação do BC, que guia as decisões acerca da taxa de juros. Aliás, é por esse motivo que bancos centrais adeptos do regime de metas costumam publicar suas previsões acerca do comportamento futuro da inflação (no caso do Brasil, por exemplo, por meio do Relatório Trimestral de Inflação, RTI). É também por causa disso que as expectativas inflacionárias dos agentes desempenham papel central na operação do regime. Obviamente previsões estão sujeitas a vários tipos de problema. Mesmo que um BC soubesse com exatidão todos os parâmetros relevantes da economia (o que não é o caso), restam elementos imponderáveis, como clima, crises externas etc., que podem mudar o comportamento da inflação independentemente da política monetária. É como se o arqueiro lançasse hoje a seta, mas esta só chegasse ao alvo meses depois e sujeita a todo tipo de interferência. Diga-se, aliás, que é precisamente por essa razão que o arqueiro deve mirar o centro do alvo; caso mire muito acima ou muito abaixo, aumentam as chances de que as interferências acabem jogando a seta para fora dele. Nada do que foi dito aqui está além do bê-á-bá do funcionamento de um regime de metas para a inflação. Qualquer um que acompanhe um mínimo do debate e tenha gastado um tanto de seu tempo para ler o RTI está a par desses temas, mas, como se viu, não se trata do caso de Nakano. Mais estudo e menos palpite poderiam contribuir muito para o debate, mas esse parece ser um mato de onde coelho algum há de sair um dia. 8


Eduardo Eduardo Campos nos deixou quando atingia o auge da sua potencialidade. Sofreu na adolescência a dolorosa experiência imposta pelas peculiaridades da política brasileira, enquanto absorvia as lições de um avô arguto e revolucionário. Relativizou a generosa utopia da juventude no duro confronto de suas ideias com o estudo da economia: os homens não obedecem aos desejos do soberano, mesmo o mais virtuoso. Para o bem ou para o mal, respondem aos estímulos que lhe são oferecidos por instituições capazes de mobilizar a sua liberdade de iniciativa. Introjetou a ideia que vale a pena perseguir a "utopia", desde que se reconheça que é preciso alguma inteligência mas muita paciência, para superar as restrições impostas pela inevitável escassez em que vivemos. Isso impõe, sempre, o respeito à liberdade do "outro" e a busca do uso mais eficiente dos instrumentos de que se dispõe. Incorporou a detestável verdade que o fácil "politicamente correto" é, algumas vezes, limitado pelo fato incontornável de ser "fisicamente impossível". Armazenou essa espécie de "sabedoria" política dentro de uma figura humana jovial, irrequieta, cordial, mas corajosa e determinada, que se dispunha a testar, na prática, o conhecimento acumulado. Amadureceu como notável deputado estadual, destacado deputado federal, eficiente ministro da Ciência e Tecnologia e governador reeleito por maioria esmagadora dos cidadãos pernambucanos beneficiados pela revolução que ele introduziu na qualidade da administração pública estadual. Estava pronto para o voo mais alto. Fomos companheiros no Congresso Nacional. Fui testemunha da sua enorme capacidade agregadora e da sua habilidade para harmonizar posições conflituosas sem apelo ao tão comum "vale tudo" das disputas políticas. Testemunhei seu excelente trabalho no setor de educação numa visita que fiz ao Estado de Pernambuco em 2008. Estivemos juntos no começo de 2014 quando, ainda aspirante à indicação para disputar a Presidência da República, ele expôs com clareza, desembaraço e convicção, suas sazonadas ideias, numa conferência promovida pela revista "Carta Capital". Os resquícios das ideias de sua juventude estavam agora implícitos num pragmatismo maduro, seguro e determinado. Eduardo –que não era minha opção–, no governo ou na oposição, aumentaria a probabilidade de continuarmos na construção da sociedade civilizada que estamos buscando desde a Constituição de 1988. Agora só podemos imaginar o que poderia ser o Brasil com ele e sentir saudades de uma alternativa que não conheceremos...

Analistas projetam mais cortes de vagas Passado o segundo trimestre e o "efeito Copa" sobre a atividade, economistas avaliam que o evento também prejudicou a já enfraquecida dinâmica do mercado de trabalho em julho. Segundo eles, indústria e construção civil devem ter continuado a cortar vagas, enquanto os serviços podem ter entrado pela primeira vez no ano na lista de setores que estão demitindo, devido à dispensa de funcionários temporários contratados para o Mundial. Por isso, alguns analistas projetam que tenham ocorrido mais demissões do que admissões no mês passado. A média de 12 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que 6,1 mil vagas formais foram abertas em julho, bem abaixo dos 41,5 mil postos criados em igual mês de 2013. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referente ao mês passado deve ser divulgado nos próximos dias pelo Ministério do Trabalho. As projeções para o dado vão de fechamento de 55 mil postos de trabalho com carteira até geração líquida positiva de 33 mil vagas. Apesar do desempenho ruim esperado para o mercado formal, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país deve ter permanecido em patamar baixo, ainda 9


influenciada pelo menor número de pessoas em busca de ocupação. Nove economistas estimam, em média, que o percentual de desempregados em relação à População Economicamente Ativa (PEA) foi de 4,8% em julho, nível igual ao de abril. Em função da greve dos funcionários do órgão, os resultados de maio e junho não são conhecidos, mas a publicação da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do mês passado está prevista para amanhã. Fabio Romão, da LCA Consultores, projeta abertura de 7,1 mil vagas celetistas em julho. Se confirmado, este seria o menor saldo do Caged para o período desde 1998, quando 21 mil postos foram fechados no mês. Romão, no entanto, não descarta um desempenho negativo também no mesmo mês deste ano, embora em menor magnitude. "Apesar de ter beneficiado alguns empresários do ramo de serviços, no fim das contas houve enfraquecimento do emprego por conta da Copa", disse o economista. Nas estimativas de Romão, a geração líquida de vagas nos serviços deve ter diminuído de 11,3 mil em julho de 2013 para 4 mil em igual mês deste ano, incluindo o ramo de administração pública, mas é possível que o número de dispensas supere o de contratações no setor, a depender do efeito do fechamento de postos temporários abertos para a Copa. Ainda segundo suas projeções, o saldo de empregos no comércio deve vir zerado, enquanto a indústria cortou 18,2 mil vagas formais, no quarto mês consecutivo de demissões. O comportamento fraco do emprego com carteira, no entanto, ainda não deve ter sido suficiente para elevar a taxa de desemprego nas seis principais áreas metropolitanas, porque há uma saída expressiva de pessoas do mercado. No cenário da LCA, o percentual de desocupados ficou em 4,8% no mês passado, resultado de alta de 0,1% da população ocupada em relação a julho de 2013 e de redução de 0,7% da PEA na mesma comparação. Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), estima que a taxa de desocupação foi de 4,7% em julho, quando devem ter sido abertos 5,9 mil postos com carteira em todo o país. "Nossas projeções apontam para uma continuidade do desaquecimento do mercado de trabalho formal." Moura observa que um dos fatores por trás da menor criação de empregos é puramente sazonal, já que a agropecuária tende a contratar bem menos no período, mas destaca que deve ocorrer um aprofundamento das demissões na indústria, como reflexo da perda de fôlego da atividade e da queda da participação do setor industrial no crescimento econômico. Segundo o pesquisador, a construção civil passa pelo mesmo fenômeno, devido à redução das vendas e à possibilidade de o "boom" imobiliário ter ficado para trás. "Esses dois setores também podem ter sido mais prejudicados pela menor quantidade de dias úteis em junho e julho, como reflexo da Copa do Mundo, o que fez com que ambos reduzissem as contratações e elevassem os desligamentos", acrescentou, lembrando que serviços, comércio e administração pública ainda sustentam saldo positivo na geração líquida de empregos, mas em ritmo baixo. Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco afirma que a desaceleração no ritmo de criação de vagas deve levar a um aumento moderado da taxa de desemprego nos próximos meses. O Itaú projeta que 2,5 mil empregos celetistas foram criados em julho, dado que, com o ajuste sazonal do banco, resulta em perda de 4 mil postos. Já a taxa de desocupação deve ter ficado em 5,1% no mesmo período.

IBGE: Puxada por eletricidade, Curitiba tem a maior inflação em agosto RIO - O maior patamar de inflação entre 11 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no âmbito do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de agosto, foi registrado em Curitiba. Na capital paranaense, os preços subiram 0,50%, pressionados por energia elétrica mais cara . Em julho, a inflação na localidade era de 0,11%. Entretanto, Curitiba não foi a única a apresentar aceleração de preços, no mesmo período. Outras cinco cidades mostraram inflação mais intensa ou fim de taxas negativas entre julho e 10


agosto. É o caso de São Paulo (de 0,16% para 0,26%), Brasília (de 0,10% para 0,12%), Goiânia (de 0,03% para 0,17%), Rio de Janeiro (de 0,03% para 0,30%) e Belém (de -0,13% para 0,45%). Ainda segundo o IBGE, as outras cinco localidades restantes tiveram recuo de preços ou desaceleração, no mesmo período. É o caso de Porto Alegre (de 0,41% para 0,02%), Salvador (de 0,25% para -0,38%), Belo Horizonte (de 0,19% para -0,06%), Fortaleza (de 0,0% para -0,02%) e Recife (de 0,71% para -0,28%).

Mantega autoriza subsídios para operações de crédito do BNDES BRASÍLIA - O Ministério da Fazenda publicou, nesta quarta-feira, duas portarias do ministro Guido Mantega autorizando o pagamento de subsídios da União a operações de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (B NDES), já contratadas ou a contratar até março de 2015. Os limites estabelecidos para o saldo médio das operações, para efeito de cálculo da equalização de taxas de juros, forma do subsídio, somam R$ 9 bilhões. A primeira das duas portarias publicadas permite que o Tesouro Nacional subsidie financiamentos de até R$ 2 bilhões para estocagem de etanol combustível, com data de contratação entre início de maio de 2014 e fim de fevereiro de 2015. Podem ser beneficiadas, neste caso, usinas, destilarias, cooperativas de produtores, empresas comercializadoras e distribuidoras do combustível. A segunda portaria visa à equalização de juros de operações de crédito do período de junho de 2013 a março de 2015 no âmbito de dois programas executados pelo BNDES. O limite do crédito passível de ser subsidiado foi fixado e m R$ 800 milhões no caso do ProRenova-Rural e em R$ 6,2 bilhões no caso do ProRenova Industrial. Autorizações ministeriais para pagamento de subsídios não significam necessariamente que o Tesouro desembolse os recursos para o BNDES ou outro banco financiador imediatamente no momento em que os valores são considerados devidos, após a concessão dos créditos.

Em 19 dias, Brasil importa 313 mil toneladas de trigo dos EUA SÃO PAULO - Entre os dias 27 de julho e 15 de agosto, desembarcaram nos portos brasileiros 410 mil toneladas de trigo do exterior, sendo que 313 mil toneladas foram importadas dos Estados Unidos, segundo informações da agência de afretamento marítimo Williams. Outras 97 mil toneladas vieram da Argentina e do Uruguai. O grande volume de produto entrou no início da colheita do cereal no Brasil, que deve ter este ano uma colheita recorde de trigo, de cerca de 7,5 milhões de toneladas. A tendência é que, daqui em diante, não haja grande volumes importados de trigo americano, uma vez que acabou no dia 15 de agosto o prazo para os moinhos importarem o cereal de fora do Mercosul sem pagar a Tarifa Externa Comum (TEC), de 10%. Entre as empresas que importaram trigo dos Estados Unidos no período estão Bunge, Moinho Pacífico e J.Macedo. Segundo programação da William, no dia 16 de agosto, desembarcou no país uma carga de 27,5 mil toneladas de trigo vindo do Uruguai. A maior parte (178,9 mil toneladas) do trigo importado pelo país no período entrou pelo porto de Santos (SP), seguido de Salvador (55 mil toneladas) e do Rio de Janeiro (45 mil toneladas), segundo a Williams.

CNI/Sondagem: Índice da produção sobe a 48,8 pontos em julho SÃO PAULO - O índice de produção industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 48,8 pontos em julho, ante 39,6 pontos em junho, de acordo com a pesquisa mensal “Sondagem Industrial” divulgada nesta quarta-feira. O indicador varia de zero a cem pontos, sendo que valores abaixo de 50 representam queda na produção em relação ao mês anterior. Sendo assim, a produção na indústria caiu menos em julho do que em junho. Em julho do ano passado, esse índice ficou em 52,1 pontos. 11


Já o indicador de nível de emprego na indústria foi de 45 pontos no último mês, ante 45,2 pontos em junho e 48,5 pontos em julho de 2013. A CNI considera esse desempenho “uma manutenção no ritmo de queda”. O percentual médio de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) subiu para 70% no mês passado ante 69% em junho (dado revisado de 68%). Já em relação a julho de 2013, a UCI caiu já que ela estava em 72%. O indicador relativo à utilização de capacidade efetiva-usual, que considera o UCI comum para o mês, fechou julho em 39,7 pontos, frente a 37,1 pontos em junho. Ou seja, a diferença entre a utilização da capacidade em relação ao usual foi menor em julho do que em junho. Os estoques, por sua vez, tiveram um crescimento em julho ante junho. O índice de evolução de mercadorias estocadas foi de 50,6 pontos em julho, o que representa uma alta. Em junho, esse indicador foi de 51,7 pontos. Sendo assim, os estoques avançaram menos em julho do que em junho Assim, para a CNI, “a indústria mostra queda na produção e emprego, estoques indesejados e elevada ociosidade. Entretanto, em julho a ociosidade e o excesso de estoque se reduziram”. Esse resultado se refletiu no indicador que mede os estoques efetivos em relação aos planejados pelos industriais. O indicador de estoques efetivos/usuais foi de 51,5 pontos no último mês, ante 52,1 pontos em junho. A pesquisa da CNI foi feita com 2,191 mil empresas de todo o país entre os dias 1 e 12 de agosto.

Crescem investimentos no exterior Apesar da maior atratividade do mercado externo, especialistas apontam que apenas as companhias que já tinham presença internacional estão conseguindo capturar os ganhos da diversificação geográfica. A percepção é que, diante de resultados mais fracos, os empresários têm preferido segurar caixa e focar esforços em redução de custos a tomar o risco adicional de desbravar novos mercados. Dados do Banco Central apontam que, nos seis primeiros meses deste ano, os investimentos brasileiros diretos no exterior somam US$ 15,5 bilhões, já próximos do valor contabilizado em todo o ano de 2013, que foi de US$ 18,2 bilhões. Se o ritmo for mantido, o indicador - que mostra aportes em participações superiores a 10% em empresas lá fora - pode alcançar o pico dos últimos oito anos, de US$ 30,3 bilhões, atingido em 2010. Luis Sousa, sócio do escritório de advocacia Sousa, Cescon, Barrieu& Flesch, que assessora operações de fusões e aquisições, aponta que o apetite brasileiro já foi muito maior, especialmente nos últimos anos do governo Lula, quando as empresas nacionais mostravam bons resultados e os ativos lá fora estavam muito depreciados por conta da crise. "Hoje, esse interesse é concentrado em grandes exportadores ou nas multinacionais, que já têm grande participação lá fora e conseguem encontrar mais sinergias", afirma. É o caso da WEG, de bens de capital. Com fábricas em sete países, a empresa anunciou recentemente a compra de uma fabricante de motores elétricos na Alemanha em fevereiro e, nos mês seguinte, duas unidades na China, que marcaram sua entrada no mercado internacional de componentes para linha branca. A previsão da própria empresa é que as fábricas chinesas tenham potencial para contribuir com cerca de US$ 100 milhões ao faturamento deste ano. Para empresas já consolidadas no país, a entrada em novos mercados é uma forma de conseguir crescimento mais expressivo. É o caso da empresa de cosméticos Natura, que quer reforçar suas posições na Colômbia e no México. "Enquanto nossa participação de mercado aqui é de cerca de 15%, na América Latina nós temos apenas 3%, o que significa que é onde ainda temos grande espaço para avançar", afirma o vice-presidente de negócios internacionais, Erasmo Toledo. No segundo trimestre, a Natura viu seu faturamento lá fora crescer 22,9% frente ao mesmo período de 2013, para R$ 325,8 milhões, enquanto no mercado doméstico a expansão ficou muito abaixo da inflação, em 1,9%, para R$ 1,48 bilhão. 12


A fabricante de medicamentos Eurofarma também aposta nessa estratégia. A empresa, que desde 2009 vem fazendo aquisições na América Latina, pretende continuar com o movimento de compra de ativos na região neste ano e no próximo para reforçar a estratégia de crescimento no longo prazo. "Ainda crescemos a taxas superiores a 15% no Brasil, mas não há muito espaço para aumento de 'marketshare'", diz. Para dar fôlego à recuperação econômica, os mercados desenvolvidos também têm dado incentivos à atração de capital estrangeiro. No Reino Unido, a partir do próximo ano, o governo vai reduzir sua carga tributária sobre lucros em 20% para países do G-20, afirma Eduardo Navarro, diretor da consultoria para mercados de crescimento da KPMG. A firma de auditoria e consultoria criou um escritório em Londres há cerca de um ano para atender a demanda crescente de empresas brasileiras com intenção de abrir seus negócios por lá. "O Reino Unido quer atrair investidores qualificados e pode servir como porta de entrada para outros países da Europa." Navarro relata que os setores mais procurados são os de serviços financeiros, tecnologia da informação e de consumo - numa mudança de perfil, que até pouco tempo era formado, predominantemente, por companhias do setor de indústria de manufatura e alimentos e bebidas.

Estagnação e deflação ainda estão no horizonte europeu O fantasma da deflação continua a rondar a zona do euro. A ameaça ficou mais próxima depois que a economia da união monetária ficou estagnada no segundo trimestre. O resultado não estava no radar das previsões, especialmente a retração da maior economia do bloco, a Alemanha, cujo PIB encolheu 0,2%. A França nada cresceu e a Itália está em sua terceira recessão desde a crise de 2008. Os três países, com performance ruim, somam dois terços, ou 66% do PIB do bloco. A inflação de julho, para piorar, caiu a 0,4% anual. Os números colocam novamente sob pressão o Banco Central Europeu, que está prestes a começar seus empréstimos bilionários a custo perto do zero para os bancos, na esperança de que o crédito para empresas dê sinais de vida. A zona do euro colhe os resultados de uma política fiscal muito dura que, se conseguiu reduzir os déficits dos governos do bloco para perto da meta de 3% do PIB, produziu, por outro lado, desemprego alto e aprofundou a forte queda da demanda. Em vez de atuar de forma contracíclica, ela deprimiu preços e atividade, tornando a recuperação mais incerta. O consumo foi debilitado pela desalavancagem, ainda bastante incompleta, de empresas e famílias, que fez despencar a demanda por crédito na zona do euro, enquanto que a limpeza dos balanços dos bancos, igualmente incompleta, reduziu-lhes a capacidade ou a intenção de emprestar dinheiro. Como resultado, os investimentos das famílias declinou 2,4% no segundo trimestre do ano e, o que é igualmente importante, os investimentos das empresas recuou pelo décimo quarto trimestre consecutivo. Com corte de gastos públicos, de consumo e de investimentos, os preços na zona do euro flertam com a deflação há meses. O resultado da interrupção do crescimento ainda que anêmico do bloco abalou a confiança dos investidores. Os rendimentos dos bônus soberanos, que explodiram em 2012, estão perto de suas baixas históricas. Os títulos de 10 anos da Alemanha chegaram a cair abaixo de 1% no início do mês, enquanto que os de um e dois anos prometiam rendimentos negativos. Alvos principais dos mercados no auge da crise, Itália (2,64%) e Espanha (2,46%) pagam hoje em seus títulos de dez anos pouca coisa a mais que os papéis do Tesouro americano. De 3 de julho a 11 de agosto, calcula o "|Financial Times", as bolsas europeias inverteram de posição e levaram uma surra. Em primeiro lugar, e pela difícil situação financeira do BES, as ações portuguesas caíram 30% no período. A bolsa alemã perdeu 8,6%, a da Itália, 14,7% e a da França, 8,6%. A estagnação da zona do euro piora a situação das exportações dos países do bloco, dela dependentes para revigorar a economia. Mais da metade (52%) das vendas é feita intrabloco (mais Reino Unido e Suíça), com Estados Unidos, que vão comparativamente muito melhor, e a 13


China, que não vai mal, comprando apenas um terço das mercadorias que partem dos 18 países da União Monetária. A incômoda pausa na recuperação, que pode ou não ser provisória, reduziu o leque de opções disponíveis no início da crise. Com os rendimentos dos bônus caindo em direção a zero, compras maciças de títulos públicos, como fez o Federal Reserve, se fossem permitidas agora de pouco serviriam para dar um impulso adicional na demanda, por meio da redução dos juros de longo prazo, já baixos. Uma aura de pessimismo passou a envolver as próximas ações do BCE, como os leilões de dinheiro quase de graça para bancos. A compra de títulos privados lastreados em ativos, dirigida para pequenas e médias empresas, pode dar algum estímulo a um setor que tem sido preterido pelos bancos e é o maior empregador do continente. Outro terreno de ação do BCE, o do sistema financeiro, pode contribuir para, no futuro, a melhoria do desempenho econômico. Os bancos da zona do euro estão passando por uma radiografia cujo resultado deverá levar a um saneamento definitivo das instituições que estão deficientemente capitalizadas, limpando o caminho do crédito. Programas de investimentos públicos financiados com dinheiro barato dariam uma ajuda valiosa à zona do euro, mas eles foram banidos diante de um ataque ortodoxo contra os altos déficits fiscais. Sem eles, e com a deflação por perto, a zona do euro só poderá da escapar da deflação com mais ação do BCE, cuja atitude de esperar para ver continua a ser uma fonte segura de inquietações.

A fragmentação de Bretton Woods O mundo mudou consideravelmente desde que os dirigentes políticos dos 44 países aliados se reuniram, em 1944, em Bretton Woods, no Estado americano de New Hampshire, para criar o quadro institucional da ordem econômica e monetária pós-Segunda Guerra Mundial. O que não mudou nesses últimos 70 anos é a necessidade de instituições multilaterais sólidas. Mas o apoio político às instituições de Bretton Woods - o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial - parece ter alcançado seu nível mais baixo de todos os tempos. Esse fator solapa a capacidade da economia mundial de realizar seu potencial e contribui para aumentar a insegurança geopolítica. Quando a conferência de Bretton Woods se reuniu, seus participantes entenderam que o FMI e o Banco Mundial eram essenciais para a estabilidade mundial. Na verdade, ambas as instituições foram criadas a fim de desestimular países individuais a adotarem políticas míopes que prejudicassem o desempenho de outras economias, incitassem ações retaliatórias e, em última análise, comprometessem toda a economia mundial. Em outras palavras, eles pretendiam evitar o tipo de políticas de empobrecimento dos países vizinhos adotado por muitas economias relevantes durante a Grande Depressão da década de 1930. Além disso, ao estimular uma maior coordenação de políticas públicas e a reunião de recursos financeiros, as instituições de Bretton Woods impulsionaram a eficiência da cooperação internacional. E fortaleceram a estabilidade ao oferecer um seguro coletivo a países confrontados por períodos temporários de sacrifícios ou em dificuldades para atender a suas necessidades de custeio do desenvolvimento. É difícil localizar mais do que um pequeno grupo de países que não se beneficiaram, de alguma forma, do FMI ou do Banco Mundial. Mesmo assim, os países parecem hesitantes em contribuir para a reforma e o fortalecimento dessas instituições. Na verdade, um número crescente de países sistemicamente importantes implementou iniciativas, embora em grande medida não intencionais, que estão solapando o FMI e o Banco Mundial. Nos últimos anos, a crescente pressão política interna levou os governos do Ocidente a adotar políticas cada vez mais limitadas. E, há poucas semanas, os países que compõem o grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tomaram medidas para reforçar um fundo de reservas cambiais destinado a atenuar as pressões de liquidez de curto prazo e para fundar seu próprio banco de desenvolvimento - um desafio direto ao FMI e ao Banco Mundial. 14


De fato, ao contrário dos ajustes paralelos preexistentes, que sempre foram regionais por natureza e que visavam complementar o trabalho do FMI e do Banco Mundial, o Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics e o Arranjo Contingente de Reservas não têm por base laços culturais, geográficos ou históricos. Em vez disso, se alicerçam na frustração comum com os direitos adquiridos obsoletos aos quais os EUA e a Europa se apegam - direitos que estão diminuindo a credibilidade e a eficácia das instituições de Bretton Woods. E, o que é mais importante, a Europa e os EUA continuam a resistir à plena desarticulação de um sistema de indicações baseado na nacionalidade que favorece o acesso de seus cidadãos aos mais altos cargos de direção no FMI e no Banco Mundial, apesar de fazer promessas esparsas de mudança. Além disso, eles sufocaram esforços para recalibrar, mesmo que minimamente, a distribuição da representação. Em decorrência disso, a Europa Ocidental goza de um nível enormemente desproporcional de representação, enquanto as economias emergentes, apesar de sua crescente importância sistêmica, praticamente não têm voz. E, durante a crise da dívida da zona do euro, os dirigentes europeus pouco hesitaram em assediar o FMI a infringir suas próprias regras de empréstimos. Nesse sentido, são os países que encabeçaram a criação das instituições de Bretton Wood que representam a maior ameaça à sua legitimidade, impacto e, em última instância, relevância. Afinal, não se pode esperar, dentro dos critérios mínimos do bom senso, que as economias emergentes sustentem instituições que oferecem vantagens injustas a países que com tanta frequência pregam a importância da meritocracia, da competição e da transparência. É por isso que elas agora estão determinadas a usar seu peso econômico coletivo para contornar essas instituições. Outro desafio ao sistema monetário internacional está na proliferação dos acordos de pagamento bilaterais. Ao contornar estruturas mais eficientes e inclusivas, esses pactos minam o multilateralismo. Em alguns casos, chegam até a conflitar com as obrigações dos países previstas nos Estatutos de Bretton Woods. As consequências desse processo gradual de fragmentação vão muito além da perda de oportunidades econômicas e financeiras, e incluem a fragilização da cooperação política, a redução das interdependências, e, por sua vez, a elevação dos riscos geopolíticos. Basta considerar a atual turbulência na Ucrânia e no Iraque para entender o que pode acontecer na ausência de estruturas multilaterais confiáveis capazes de moldar o desenrolar dos acontecimentos em situações de crise. Chega de problemas. Que tal soluções? Em poucas palavras, o FMI e o Banco Mundial precisam urgentemente de reformas de autofortalecimento. Com algumas medidas fundamentais - nenhuma das quais tecnicamente complicada -, as instituições de Bretton Woods podem ir além da mentalidade de 1944 de modo a refletir as realidades de hoje e ampliar as oportunidades de amanhã. Estão entre essas reformas a eliminação de contratações pautadas pela nacionalidade; a adoção de ajustes do sistema de representação, com a obtenção, pelas economias emergentes, de maior influência em detrimento da Europa; e mais igualdade e imparcialidade nas decisões de empréstimos e de vigilância econômica. O desafio será superar a resistência política - uma façanha nada desprezível, numa época em que a polarização interna tornou os políticos receosos em apoiar publicamente o multilateralismo econômico. A reiterada rejeição, pelo Congresso dos EUA, de um conjunto de reformas muito mais limitado - que foi aprovado pela maioria dos outros países em 2010-2012, não impõe obrigações financeiras adicionais aos EUA e não implica a redução do poder de voto ou de influência do país - é um bom exemplo disso. O interesse próprio esclarecido tem de superar obstáculos políticos desse tipo. Quanto mais longa for a resistência dos dirigentes mundiais à necessidade premente de reforma, piores serão as perspectivas econômicas e financeiras mundiais - para não falar em sua situação de segurança. 15


Inflação perde força em agosto e acumula alta de 6,49% em 12 meses, aponta prévia SÃO PAULO - A prévia da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), registrou alta de 0,14% em agosto, após subir 0,17% em julho. O resultado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou dentro das estimativas dos analistas do mercado consultados pela Agência Estado, que esperavam inflação entre 0,08% e 0,24%, com mediana de 0,14%. Com o resultado anunciado hoje, o IPCA-15 acumula taxas de 4,32% no ano e de 6,49% em 12 meses até agosto. Em julho, o IPCA-15 acumulou alta de 6,51% em 12 meses, ficando acima da meta do governo, de 6,5%. O IPCA-15 mede a variação dos preços entre os dias 15 do mês anterior à pesquisa e o dia 15 do mês de divulgação. Já o IPCA, considerado a inflação oficial do País, mede a variação no mês cheio, do dia 1º ao dia 30. Deflação. Quatro dos nove grupos pesquisados registraram deflação em agosto. As famílias gastaram menos com alimentação e bebidas (de -0,03% em julho para -0,32% em agosto), vestuário (de 0% para -0,18%), comunicação (-0,10% para -0,84%) e despesas pessoais (de 1,74% para -0,67%). O grupo alimentação e bebidas aprofundou o ritmo de queda nos preços na passagem de julho para agosto. Como resultado, as despesas com alimentação e bebidas passaram de um impacto de -0,01 ponto porcentual no IPCA-15 de julho para -0,08 ponto porcentual no IPCA15 de agosto. O grupo foi o maior responsável por conter o aumento da inflação medida pelo indicador no mês. Em agosto, houve queda nos preços da batata-inglesa (-20,42%), tomate (16,47%), feijão-carioca (-5,49%), hortaliças (-5,13%), óleo de soja (-3,17%) e feijão-preto(3,11%). Copa. Passada a Copa do Mundo, as diárias de hotéis voltaram a ficar mais baratas. Os preços baixaram 23,54% no IPCA-15 de agosto. O item exerceu o principal impacto para baixo na inflação do mês, uma contribuição de -0,13 ponto porcentual para a taxa de 0,14% do IPCA-15 no período. Como resultado, o grupo despesas pessoais passou de alta de 1,74% em julho para recuo de 0,67% em agosto. A deflação no grupo só não foi maior porque os gastos com empregados domésticos aumentaram 1,28%, o segundo item de maior pressão para a inflação do mês, uma contribuição positiva de 0,05 ponto porcentual. Já o terceiro maior impacto para cima no IPCA-15 de agosto foi das passagens aéreas, que subiram 10,27%, o equivalente a 0,04 ponto porcentual. O item exerceu ainda a maior pressão sobre os gastos com o grupo transportes, que saíram de queda de 0,85% em julho para aumento de 0,20% em agosto.

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