SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 16 DE JULHO DE 2014
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Mercado estima pela primeira vez PIB abaixo de 1% em 2014 Fonte: Folha de São Paulo Online DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS 21/07/2014 09h 07 Pela oitava semana consecutiva, os analistas de mercado cortaram suas estimativas para a expansão da economia brasileira neste ano. Desta vez, a projeção de alta do PIB (Produto Interno Bruto) ficou em 0,97%. É a primeira vez que o Boletim Focus, do Banco Central, traz expectativa abaixo de 1% para este ano. Na semana passada, a estimativa era de alta de 1,05%. A revisão para o PIB acompanha a redução nas projeções para a produção industrial. Agora, os analistas esperam queda de 1,15% nesse setor, anteretração de 0,90% na semana passada. Há um mês, o mercado via o PIB crescendo 1,16% e a produção industrial caindo 0,16%. Para 2015, a estimativa para o PIB foi mantida em expansão de 1,50%, mas a da indústriacaiu pela quarta semana consecutiva, de alta de 1,80% para 1,70%. As notícias mais recentes sobre a atividade econômica em geral e industrial têm mantido o sinal negativo. Na semana passada, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) informou que o índice de confiança do setor atingiu em julho o menor patamar desde janeiro de 1999. O indicador de produção de junho despencou para 39,6 pontos, contra 48,4 em maio. O Banco Central, por sua vez, mostrou que seu IBC-Br (Índice de Atividade Econômica) teve contração de 0,18% em maio anteabril, refletindo especialmente a forte queda da indústria naquele mês. Embora o resultado tenha sido um pouco melhor que o esperado,analistas não viram no número um sinal de reversão das expectativas negativas. O dado, afirmaram, aponta atividade mais fraca no segundo trimestre. A estimativa para o IPCA a inflação oficial do país de este ano passou a 6,44%, frente a 6,48% na pesquisa anterior. A meta do governo é de 4,5%, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos. MERCADO DE TRABALHO Outros números mostraram que o enfraquecimentoda atividade chegaram ao mercado de trabalho. O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) decepcionou novamente em junho ao registrar a criação de 25,3 mil vagas no mês. O resultado foi o pior para os meses de junho desde 1998 e, como em maio, foi puxado pelo fechamento de 28,5 mil vagas na indústria. Em função da criação menor de vagas, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, reduziu para 1,1 milhão a estimativa de novas vagas este ano. A estimativa anterior era de 1,4 milhão a 1,5 milhão de empregos novos.
Banco Central deve manter foco no controle da inflação VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 19/07/2014 02h 00 Mesmo com a economia quase parada e gerando preocupação no governo, a inflação "ainda alta e resistente" se mantém como o principal foco do Banco Central no curto e no médio prazo. Segundo assessores presidenciais, apesar das apostas do mercado financeiro e do desejo de alguns setores do governo, o BC não enxerga pela frente um cenário que permita reduzir a taxa básica de juros, hoje em 11% ao ano. De acordo com um auxiliar presidencial, a leitura correta da reunião do BC desta semana, que manteve a taxa de juros inalterada, é que "a decisão tem que ser olhada pelo binóculo da inflação, e não da atividade econômica". 2
A equipe do BC, segundo relato de assessores presidenciais, trabalha com um cenário que contempla uma inflação "ainda elevada e resistente nos próximos trimestres". Pelo mais recente relatório de inflação do BC, o IPCA, índice oficial do sistema de metas, ainda estará em torno de 6% no terceiro trimestre de 2015. Em outras palavras, ainda demandando cuidado na condução da política de juros. Na visão do governo, o BC acredita, por sinal, que, mantidas as atuais condições monetárias, a resistência da inflação só tende a diminuir "mais intensamente" no segundo trimestre de 2016, quando ficaria na casa de 5%, aproximando-se, enfim, do centro da meta, de 4,5%. Editoria de Arte
Apesar de a inflação ser apontada no Planalto como a principal inimiga da candidata Dilma Rousseff, setores do governo manifestam o desejo de que o BC planeje uma queda dos juros ainda neste ano. Os últimos dados ruins da economia, reforçando as previsões de que o PIB crescerá pouco acima de 1% em 2014, acenderam o sinal de alerta. Alguns assessores presidenciais temem que a dose da política monetária ministrada pelo BC desde 2013, que fez a taxa subir de 7,25% para 11% ao ano, leve o país a crescer menos de 1%. O receio de que essa pressão política, ainda tímida, possa crescer, já que a tendência é de piora na atividade econômica, levou auxiliares presidenciais a mandar o recado de que a orientação para o BC é segurar a inflação. O Planalto sabe que inflação alta é pior em termos eleitorais que taxas de crescimento baixas. Preços em alta afetam o bolso do eleitor. PIB pequeno tem efeito mais de médio e longo prazos. E o cenário à frente indica ainda sobressaltos na inflação. Em junho, o IPCA, de 6,52% em 12 meses, superou o teto da meta. Em julho, pode bater em 6,70%.
Editorial: A força da rejeição Fonte: Folha de São Paulo Online19/07/2014 02h 00 Dilma Rousseff (PT) ainda está muito perto de vencer no primeiro turno a eleição para presidente da República, mas jamais correu tanto risco de perder em uma eventual segunda rodada de votação. A presidente conta com 36% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 15 e 16 de julho. Seus adversários somam também 36% das preferências. Em fevereiro, a vantagem de Dilma era folgada: 44% a 30%. 3
Mais notável do que isso foi a redução da diferença em um segundo turno. A petista, com 44%, e Aécio Neves (PSDB), com 40%, chegam praticamente a um inédito empate –a margem de erro é de dois pontos percentuais. Eduardo Campos (PSB) ainda perderia, mas por um placar apertado: 45% a 38%. Desde o fim de 2013, os oposicionistas reduziram a distância entre suas votações e a da presidente em pelo menos 30 pontos percentuais. Chama a atenção a discrepância entre os votos de Aécio e Campos no primeiro turno e aqueles que conseguem reunir na simulação de disputa direta com Dilma. O senador mineiro passa de 20% para 40%; o ex-governador de Pernambuco salta de 8% para 38%. Os números indicam um reagrupamento maciço em torno de um nome capaz de derrotar a presidente. Essa adesão ocorre mesmo no caso de um candidato noviço, como Eduardo Campos, conhecido por 59% dos entrevistados, e "muito bem" conhecido por 7%, ante, respectivamente, as marcas de 99% e 53% de Dilma Rousseff e de 81% e 17% de Aécio Neves. Os resultados da pesquisa são coerentes com a avaliação do governo federal e com as expectativas econômicas do eleitorado, ambas nos níveis mais baixos já registrados no governo Dilma, comparáveis aos do final do mês de protestos de junho de 2013. A votação e a avaliação da petista pioram conforme sobem a renda e a escolaridade do entrevistado; a presidente é superada por Aécio entre os que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos. A vantagem da petista sobre os adversários cai nas cidades mais populosas; é folgada nas regiões Nordeste e Norte, similar à média nacional no Sul, apertada no Centro-Oeste e desapareceu no Sudeste, onde empata com o tucano. A candidatura Dilma Rousseff é rejeitada por 35% dos entrevistados. No caso de Aécio Neves, 17% dizem que não votariam nele de jeito nenhum, índice que cai a 12% tratando-se de Eduardo Campos. Em suma, mesmo que os oposicionistas ainda não tenham conseguido entusiasmar o eleitorado, parece cada vez mais sólida a fatia dos que, acima de tudo, pretendem negar um segundo mandato a Dilma Rousseff.
Brics ampliam segurança do sistema financeiro? Sim Fonte: Folha de São Paulo Online19/07/2014 02h 00 STEPHANY GRIFFITH-JONES, BARBARA FRITZ E MARCOS A. M. CINTRA: INSTABILIDADE CAMBIAL E COOPERAÇÃO A volatilidade dos fluxos internacionais de capitais faz com que as economias emergentes fiquem sujeitas aos movimentos de boom e bust. Na euforia, investidores invadem as praças financeiras, valorizam os ativos mobiliários e imobiliários, apreciam as taxas de câmbio. Na crise, desvalorizavam os ativos e o câmbio, o interbancário e os mercados de capitais internacionais se retraem e os custos dos empréstimos se elevam. Após o anúncio de redução escalonada da política monetária americana ultraexpansionista, as expectativas de desvalorização do real têm sido contidas por uma política monetária restritiva. Entre abril de 2013 e abril de 2014, o Banco Central do Brasil elevou a taxa de juros básica de 7,25% para 11%, uma das maiores do mundo em termos reais. Além de conter a atividade econômica e as exportações, criam-se novas incertezas, em face dos impactos nas contas públicas e nos balanços das empresas e das famílias. Quais as alternativas para enfrentar essas vulnerabilidades? Uma desvalorização significativa da moeda brasileira seguida por um período de estabilidade cambial não seria uma solução mágica, mas auxiliaria a reestabelecer a competitividade das exportações, melhorando as transações correntes e a percepção de risco do país. Porém, como realizar uma maxidesvalorização sem um cataclisma: fuga de capitais, juros, inflação e desemprego em alta? Além de um acordo interno para conter a elevação temporária dos preços, tal operação 4
requereria apoio e coordenação externa. Um provedor de liquidez internacional –garantido pelas reservas brasileiras– deveria ancorar a desvalorização controlada. O FMI (Fundo Monetário Internacional) foi constituído com esta atribuição, mas permanece longe de exercê-la a contento. Diante disso, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) realizaram um duplo movimento: a articulação de um sistema de proteção à instabilidade dos fluxos internacionais de capitais e uma demonstração de solidariedade entre as economias emergentes. Na Cúpula de Fortaleza, criaram um Arranjo Contingente de Reservas de US$ 100 bilhões: China contribui com US$ 41 bilhões; Brasil, Rússia e Índia, com US$ 18 bilhões cada um; África do Sul, com US$ 5 bilhões. Cada um desses países apresentam fragilidades. Brasil, Índia e África do Sul aparecem na lista dos "cinco frágeis", com déficits em conta-corrente, baixo dinamismo do produto e do investimento, alta nos preços e nas taxas de juros. China enfrenta desaceleração econômica e desalavancagem dos governos locais e do sistema financeiro paralelo. Rússia confronta fuga de capital e desvalorização do rublo. Todavia, possuem US$ 5,3 trilhões em reservas internacionais. Pouco provável, portanto, que sofram choques externos simultâneos. Essa margem de apoio mútuo em termos de provisão de liquidez internacional deveria operar sem condicionalidades (talvez com a criação de um secretariado). A experiência do Fundo Latino-Americano de Reservas mostra que um mecanismo regional de liquidez pode ser ágil nos desembolsos –como exige o enfrentamento de crises– e sem condicionalidades, pois nenhum país-membro deixa de saldar suas dívidas. E, dado o papel que cada um desses países desempenha em suas regiões, poderiam assegurar instrumentos semelhantes de cooperação financeira monetária. Essa rede de mecanismo de defesa dos abruptos movimentos de entrada e saída dos fluxos de capitais, entre os Brics e com seus vizinhos, contribuiria para uma melhor gestão da ordem financeira e monetária internacional. Constitui decisão alvissareira e que deve começar a operar o mais rápido possível, apoiando a inserção internacional desses países e, simultaneamente, evitando um ajuste recessivo e deflacionário nas economias mais vulneráveis.
Brics ampliam segurança do sistema financeiro? Não Fonte: Folha de São Paulo Online19/07/2014 02h00 MAÍLSON DA NÓBREGA: LONGE DE SER UM SEGURO PARA CRISES. A criação pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) do Novo Banco e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR) tem inegável conteúdo político, mas limitada relevância para financiar investimentos ou enfrentar crises. É meramente retórica, assim, a declaração da presidente Dilma Rousseff, para quem essas instituições constituem "um seguro dos Brics contra a instabilidade do mercado financeiro internacional". Números dizem melhor. No Brasil, a última crise financeira (2002) foi debelada mediante um acordo com o FMI, quando os mercados receavam que Lula, então candidato à Presidência na liderança das pesquisas, adotasse o temerário programa do PT. As necessidades de financiamento externo eram então de US$ 38,8 bilhões, abrangendo um déficit no balanço de pagamentos em conta corrente de US$ 7,6 bilhões. O valor da assistência foi de US$ 30 bilhões, ou 77,3% do total. Estima-se para 2014 um déficit em conta corrente de US$ 90 bilhões e necessidades de financiamento de US$ 153 bilhões. Se ocorresse nova crise de confiança e precisássemos de assistência semelhante, o valor seria de US$ 118 bilhões. No ACR, podemos sacar uma vez o valor de nossa conta, de US$ 18 bilhões, mas apenas 30% imediatamente (US$ 5,4 bilhões). Os outros 70% dependeriam de um acordo com o FMI. 5
O FMI ainda é o principal seguro. Nos últimos anos, houve aumento substancial do volume das transações e das necessidades de financiamento de países deficitários. Ao longo de sua crise (2010), a Grécia recebeu € 110 bilhões (US$ 145 bilhões) do FMI e da União Europeia, ou 50% do PIB. Caso fosse o Brasil, na mesma proporção, seria US$ 1,1 trilhão. Claro, a Grécia foi um caso extremo, mas realça o agigantamento das cifras. Se uma nova crise envolvesse maior número de países, como em 1982 (América Latina) e 1997 (Ásia), o ACR seria café pequeno. Estaria muito longe de ser um seguro. Em resumo, os mecanismos relevantes para enfrentar crises financeiras ainda serão por muito tempo o FMI e instituições de países ricos. Na crise de 2008, o Federal Reserve (o banco central norte-americano) ofereceu linhas de crédito para outros bancos centrais. A linha concedida ao Brasil foi de US$ 30 bilhões. O ACR pode contribuir, mas em níveis modestíssimos. Não será um salvador da pátria. Quanto ao Novo Banco, são exageradas as expectativas do governo brasileiro de que fará diferença para países emergentes. A China não precisará dele. O Brasil tampouco. Já recorre pouco ao Banco Mundial, que empresta essencialmente aos Estados e municípios. O BNDES é sete vezes maior. Uma das vantagens de instituições como o Novo Banco é captar recursos mais baratos no mercado internacional, repassando o benefício aos tomadores. Para isso, precisa ter classificação de risco triplo A, o que exige administração profissional, critérios técnicos na concessão de crédito e boa governança. Ou seja, tende a ser um Banco Mundial de pequeno porte. Difícil dizer qual sua grande contribuição. Em resumo, as decisões dos Brics podem ser vistas como uma ação legítima para pressionar os países ricos a reverem a desatualizada estrutura de poder do FMI e do Banco Mundial, ainda presa aos tempos dos acordos de Bretton Woods (1944). É preciso considerar a nova realidade da economia mundial. Não faz sentido, por exemplo, que a Bélgica tenha a mesma participação da China no capital no FMI. É um exagero, pois, dizer que se criou um novo seguro ou que as novas instituições terão papel relevante para enfrentar crises financeiras internacionais. MAÍLSON DA NÓBREGA, 71, economista, é sócio-diretor da consultoria Tendências. Foi ministro da Fazenda (governo José Sarney)
Sob pressão, Petrobras leva refino ao limite Fonte: Folha de São Paulo OnlineSAMANTHA LIMAPEDRO SOARES DO RIO 20/07/2014 03h00 O esforço da Petrobras para aumentar a produção de combustíveis no país, a fim de evitar custo maior com importações, tem levado suas 12 refinarias ao limite. O uso da capacidade de processar petróleo nas unidades chegou a 97% em 2013, maior índice desde 2006, ante 92% há apenas três anos. No primeiro trimestre deste ano, a média foi de 96%. O efeito colateral é o aumento do risco de acidentes, preocupam-se trabalhadores, que já acusam aumento no número de incidentes. Novas refinarias -as polêmicas Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ), cujas obras têm sido alvo de devassa de órgãos de fiscalização por suspeita de corrupção- entrarão em funcionamento ao fim deste ano e em 2016, respectivamente, aliviando a excessiva exigência sobre as unidades existentes. As duas unidades deveriam estar prontas desde 2012. "Enquanto as novas refinarias não entrarem, as atuais ficam sobrecarregadas para atender o aumento da demanda", disse Antônio Luiz Menezes, ex-diretor da estatal. O consumo interno cresceu quase 5% em 2013. Por dia, a Petrobras precisa importa 300 mil barris de combustível e vender a um preço menor do que os praticados no exterior, por determinação do governo, que teme alta na inflação. 6
A defasagem da gasolina é da ordem de 18%, e a do diesel, de 11%. Sem reajuste, o impacto financeiro para a empresa pode ir a R$ 4,2 bilhões neste ano, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura. Assim, produzir domesticamente o máximo possível de derivados freia maiores custos com a importação. A prática, no entanto, tem preço. Trabalhadores afirmam ter aumentado a frequência dos incidentes como resultado do que consideram pressão para produzir mais. "Operar nesse nível atual sempre envolve um risco maior. Paradas para manutenção são adiadas, e o risco operacional é maior", afirma Menezes. A solução, diz, só virá com as novas refinarias. "Enquanto elas não entrarem, as atuais ficam sobrecarregadas. O refino tem de acompanhar o consumo, o que não acontece hoje em razão do atraso dessas unidades." No início do mês, dois dias depois de a empresa divulgar o recorde de 2,2 milhões de barris processados por dia em junho, um trabalhador feriu-se em explosão na Refinaria Duque de Caxias (Reduc). A empresa disse ter ocorrido uma "falha", sem explosão. "Tanto houve explosão que um fragmento da peça, de ferro fundido, atingiu o trabalhador, que foi afastado", disse Simão Zanardi, presidente do Sindicato dos Petroleiros na cidade. Os trabalhadores afirmam ter ocorrido, também na Reduc, um apagão em maio que deixou a refinaria parada por 24 horas. O incidente teve impacto na produção industrial do mês, que caiu 0,6% em relação a abril, em parte por causa da "queda no refino no Estado do Rio", segundo pesquisadores do IBGE. A Reduc registrou, segundo o Sindipetro, incêndios em janeiro, fevereiro e março; explosões em novembro e dezembro e vazamentos. Ainda de acordo com trabalhadores, a Refinaria do Paraná registrou dois incêndios em seis meses, em maio e novembro passados. OUTRO LADO A Petrobras informou que tem "o compromisso de abastecer o mercado nacional e reduzir as importações [de combustíveis]" e que a redução do uso das refinarias traria "prejuízos inexplicáveis". Diz ainda que o uso das refinarias ocorre "dentro dos padrões de confiabilidade" e que o plano de manutenção é rigorosamente seguido. A empresa nega haver correlação entre incidentes e nível maior de processamento das refinarias e afirma que o nível de eficiência das unidades aumentou de 95,2% para 97,2%, o que é "compatível com as melhores refinarias do mundo" e que reduziu as taxas de ocorrências. PETROBRAS/2013 * faturamento R$ 304,9 bi * ebitda R$ 63 bi * funcionários 86,1 mil * dívida líquida R$ 221,5 bi * principais concorrentes Exxon, Shell, BP, Rosneft, Petrochin
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Crédito do BNDES na Argentina despenca Fonte: Folha de São Paulo OnlinePEDRO SOARES DO RIO 20/07/2014 03h15 A crise da Argentina, agravada com a retração da economia e a possibilidade de calote de dívida do país, coincide com um tombo nos financiamentos do BNDES a projetos de infraestrutura e construção no país. O banco estatal tem linha especial de crédito que empresta recursos a países para que empreiteiras brasileiras toquem as obras -e também comprem máquinas usadas na construção ou ao longo do empreendimento. Trata-se da chamada exportação de serviços. Após o pico de financiamentos, em 2011 (US$ 802,8 milhões), o crédito ao país vizinho só caiu. Chegaram a US$ 152,8 milhões em 2013. De janeiro a março (último dado disponível), período de intensificação da crise, o valor foi de apenas US$ 1,1 milhão. Entre os motivos para essa forte redução, estão a aversão maior de investidores ao risco do país, a paralisia da economia argentina e a dificuldade em obter garantias para contratar os empréstimos. Outro fator são a postergação ou o abandono de projetos, que, em muitos casos, contam com parceiros locais ou internacionais, que se tornaram descrentes da situação do país. 8
Exemplo foi a desistência, em 2013, da Vale de complexo de exploração de potássio, cujas obras já haviam sido iniciadas e orçadas em US$ 5,9 bilhões. O projeto era financiado pelo BNDES e conduzido pela Andrade Gutierrez. Juan Mabromata/Associated Press
O líder chinês, Xi Jinping, e Cristina Kirchner em Buenos Aires; empresas do país crescem na Argentina Executivos de empreiteiras ouvidos pela Folha, sob condição de anonimato, dizem que é cada vez mais difícil obter garantias para projetos na Argentina. Outro problema é a agressividade das construtoras chinesas, que oferecem condições melhores de financiamento de bancos estatais daquele país e não se preocupam tanto com as garantias apresentadas. "O que eles querem é abrir o mercado. Não se importam muito com alguma eventual inadimplência", diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). O Brasil, diz, é um dos 15 países com capacidade de exportar serviços de engenharia, mas perde terreno na África e na América Latina -um mercado "natural" para as empresas brasileiras. "A exportação de serviços é importante porque carrega consigo as vendas de bens, especialmente máquinas." Klaus Curt, diretor da Abimaq (associação do setor de máquinas e equipamentos), diz que o Brasil perde ano a ano espaço nas exportações para a Argentina, ainda o principal mercado do setor. As vendas ao país vizinho caíram 19% de janeiro a abril. A culpa, diz, são as travas do governo local, que segura a entrada dos bens para conter a saída de dólares. Ao passo que o Brasil perde terreno, diz, o mesmo não ocorre com a China -país com o qual o Brasil assinou uma série de acordos no âmbito da criação do banco dos Brics. A nação asiática exporta cada vez mais máquinas para a Argentina. BNDES O BNDES diz que não "é afetado pela conjuntura atual" da Argentina. "Os financiamentos do BNDES são de longo prazo e centrados em exportações de bens e serviços brasileiros para projetos de infraestrutura." O banco diz que "não está no fluxo de comércio do dia a dia entre Brasil e Argentina, que é muito calcado em setor automotivo, bens de consumo, máquinas e equipamentos de mais curto prazo". 9
Segundo o BNDES, há conjunto de projetos em fase de negociação com a Argentina, que somam US$ 2 bilhões. Nenhum contrato, porém, foi fechado. Editoria de Arte/Folhapress
Editorial: O inverno chegou Fonte: Folha de São Paulo Online 20/07/2014 02h00 Não cessa a onda de dados econômicos negativos. Os últimos índices de confiança, produção, vendas e, agora, emprego apontam para uma recessão. O quadro fica cada vez pior para o governo Dilma Rousseff (PT), preso a um discurso otimista que em nada reflete o desalento disseminado pelo país. Os sinais são inequívocos. O indicador mensal do PIB divulgado pelo Banco Central teve nova queda em maio, de 0,2%. A julgar pela conhecida redução da produção industrial e da atividade em outros setores, a retração em junho deve ser mais acentuada. Se confirmada essa expectativa, será possível falar em recessão quando o IBGE divulgar o PIB oficial do segundo trimestre, o que fará no final de agosto. Analistas já revisam a projeção de 2014 para uma alta inferior a 1%. Nos últimos meses, o governo tem procurado se esquivar lembrando que as pessoas não comem PIB. Puerilidade à parte, a afirmação soa infeliz num momento em que também o emprego engrossa o coro de notícias ruins –e, neste caso, trata-se de economia bem real. Foram criadas 25 mil vagas formais em junho, o pior saldo desde 1998. Ajustado pela sazonalidade (nesse mês normalmente são gerados mais postos do que na média do ano), o número retrata o desaparecimento de 30 mil empregos. É a quarta redução consecutiva. Todos os setores apresentam desempenho fraco. O pior, como esperado, é o industrial, que fez 28 mil demissões em junho e 60 mil no segundo trimestre. Quanto às vendas no varejo, houve diminuição de 0,3% em maio, a despeito do forte aumento de atividade em eletrodomésticos, provavelmente devido à Copa do Mundo. Em junho, a situação deve piorar. O colapso no setor de automóveis é o principal destaque. Um pedaço da trajetória em queda livre descrita pelos indicadores no período de maio a julho decorre, sem dúvida, do menor número de dias úteis e da paralisação provocada pelo Mundial. 10
Mas o pano de fundo não muda: a economia está estacionando, e nada indica mudança de humor no curto prazo. A inflação, tudo o mais sugere, terminará o ano perto do teto do regime de metas, 6,5%. Não há alívio, portanto, o que complica o cenário para o Banco Central. A decisão de manter a taxa básica de juros em 11% "neste momento" era esperada, mas analistas interpretaram o comunicado do BC como um sinal de que em breve poderá haver recuo da Selic, apesar da contínua pressão nos preços. A mistura atual de PIB estagnado e inflação em alta é a pior em muitos anos. O governo surfou a onda do consumo e do crédito fácil por tempo demais e foi leniente com suas próprias contas, entre outras estripulias econômicas. Não se preparou enquanto o clima era bom, e agora o país paga por isso.
Anatomia de uma estagflação Fonte: Folha de São Paulo Online 20/07/2014 02h00 Na última coluna do ano passado, meu cenário sustentava crescimento da economia em 2014 de 1,8% ao ano e inflação de 6%. Transcorrido o primeiro semestre, parece-me que a atividade corre para fechar o ano em medíocre 1%. A inflação deve ficar em 6,5% ou 6,7% se houver aumento de gasolina de 5%. O aumento provavelmente virá após as eleições, se a presidente Dilma conseguir se reeleger. Ou seja, temos atividade para baixo e inflação para cima. A estagflação aprofunda-se. Se olharmos o cenário inflacionário, o item com maior erro de previsão foi a inflação dos serviços. Esperávamos no final de 2013 que, devido ao fraco crescimento da economia, o mercado de trabalho começaria a dar sinais de maior folga, o que contribuiria para moderar a inflação de serviços. Esta deveria ficar mais próxima de 7,5% do que dos 8,5% em que deverá fechar este ano. Nosso erro de previsão da inflação não ocorreu por causa de algum choque específico e não relacionado à política econômica. A elevação atípica nos preços de alimentos observada no primeiro semestre já foi parcialmente devolvida, enquanto a parcela do choque absorvida de forma permanente não explica a parte mais substancial da surpresa nos preços livres. Com relação aos itens dos serviços hotelaria e passagens áreas– que estiveram pressionados em junho em razão da realização da Copa, a expectativa é que terão seus preços normalizados entre julho e agosto. Lembremos que a inflação de serviços nos 12 meses findos em junho encontra-se em 9,1%. Ou seja, para fechar o ano em 8,5%, terá que haver até o final de 2014desinflação de 0,6 ponto percentual (ponto percentual). Isso não é nada desprezível em se tratando dos serviços, o item com maior inércia do índice. Essa redução de inflação de serviços fica por conta da devolução da inflação da Copa. Limpando o efeito dos choques alimentos e Copa, a inflação deste ano de serviços e de bens livres em geral está seguindo a do ano passado. A inflação maior em 2014 em relação ao ano passado, 6,5% ante 5,8%, deve-se ao ajuste dos preços administrados, que deverão fechar o ano com aumento de 5%, bem acima dos 1,5% de 2013. A forte queda da atividade que ocorreu de 2013 para 2014 até o momento não fez cócegas na inflação. A inflação parou de subir, mas não há sinais de que tenha começado a baixar. Minha leitura é que a desaceleração tem sido causada pela política de elevação da taxa de juros, mas também pela desorganização da atividade produtiva que resulta do regime de política econômicaadotado a partir de 2009. Um exemplo claríssimo é a forte desaceleração da produção de veículos automotores. Seguidos planos de desoneração anteciparam consumo. Adicionalmente, uma política de fechar ainda mais o setor à importação estimula forte aumento da oferta, muito além da 11
demanda. A carência de demanda e o excesso de oferta certamente requererão ajuste no setor. Ele vai desempregar. No entanto, o ajustamento e a desaceleração do setor automobilístico não seguem prioritariamente da política monetária contracionista. O setor vai mal pois a política econômica desorganizou a sua dinâmica. Compreende-se melhor sua perda de dinamismo como perda de produtividade e de eficiência da economia. A indústria automobilística é somente um exemplo do impacto desastroso de uma política microeconômica cujo princípio básico é ser discricionária e de uma política macroeconômica que reduz a previsibilidade e aumenta a expectativa de inflação. Em ambos os casos, trocamse regimes e regras por medidas "ad hoc", sem fundamento na teoria econômica padrão. A demanda cai em razão da política monetária mais apertada e a oferta cai como resultado da desorganização produtiva induzida pela política econômica. Oferta e demanda para baixo resultam em atividade em retração apesar da estabilidade da inflação. O longo prazo chegou. Construímos a estagflação.
Paixões perigosas Fonte: Folha de São Paulo Online 20/07/2014 02h00 Um dos aspectos mais relevantes em qualquer gestão pública, privada ou esportiva é o processo de tomada de decisões. Os graves problemas enfrentados pela Argentina em consequência de seu calote, os prejuízos e multas bilionárias pagas por bancos americanos por erros na crise de 2008 e as espetaculares derrotas da seleção para a Alemanha e a Holanda têm dimensões, implicações e significados muito diversos. Mas, analisando os processos decisórios, concluímos que sucessos e desastres são gerados por sequência de decisões com características comuns. As decisões bem sucedidas têm, com frequência, duas características: 1) São tomadas com serenidade e análise rigorosa de dados e baseadas nos fatos e nas melhores evidências sobre o caminho a seguir. 2) O gestor monitora de perto o resultado das decisões e a evolução do cenário, sempre pronto para, a qualquer momento, mudar de curso ou revertê-lo se as medidas gerarem resultados negativos. Um processo decisório tenderá ao fracasso quando o gestor tomar com frequência decisões passionais e egocêntricas, priorizando preferências pessoais, emocionais, ideológicas ou políticas. São fatores que contaminam a análise e causam perda de foco em relação aos dados da realidade. Outro gerador de fracasso aparece quando o gestor adota postura de torcedor emocionado da própria decisão. Vemos isso na gestão de política econômica e de grandes instituições, que levam a crises nacionais de grande gravidade. O mesmo ocorre no esporte e em outros campos. A recusa em reconhecer o fracasso e a necessidade de mudança caracterizam os processos decisórios baseados em ideias preconcebidas e posições ideológicas, que se sobrepõem à análise serena e realista dos fatos. Na economia, por exemplo, temos hoje modelagens baseadas em extensas informações e séries históricas de dados, bem como pesquisas acadêmicas abundantes, que permitem decisões mais bem informadas. Muitos desses modelos já passaram por testes exaustivos. Mas não existem verdades absolutas. As pesquisas trazem muitas vezes resultados diferentes e estão em revisão constante. Além disso, a realidade é complexa e mutante. Por isso, as decisões estão sempre sujeitas a erro e devem ter seus resultados monitorados continuamente, buscando reduzir aspectos passionais ao menor nível possível. 12
Cada um pode ser tão passional quanto desejar no seu processo de decisão somente quando o tomador da decisão arcar com as consequências. Mas é grave deixar decisões que influenciam grande número de pessoas serem tomadas de forma emocional, passional ou ideológica.
5 dados que definem onde estão (e para onde vão) os BRICS Líderes dos 5 países dos BRICS se encontram hoje em Fortaleza para discutir criação de banco e fundo emergencial; veja o que eles tem de igual e diferente. QilaiShen/Bloomberg
Sinal colocado durante a reunião dos BRICS na China em 2011 São Paulo - Começa oficialmente hoje em Fortaleza a 6ª Cúpula do fórum BRICS com Brasil,Rússia, Índia, China e África do Sul. Estarão presentes os governantes de todos os países do bloco: Dilma Rousseff, Vladimir Putin, NarendraModi, Xi Jinping e Jacob Zuma, respectivamente. Na pauta do encontro estão a criação de um banco de fomento com capital de US$ 50 bilhões e de um fundo de emergência de US$ 100 bilhões. O termo BRIC foi criado em 2001 por Jim O'Neill, na época presidente da Goldman Sachs Asset Management e atual professor da Universidade de Manchester, que aproveitou a similaridade com a palavra "brick" (tijolo, em inglês). Investidores e economistas adoram acrônimos, mas raramente eles pegam como o BRIC, que virou símbolo da importância cada vez maior destes países - e dos emergentes em geral - para o crescimento e o comércio globais. Mais raro ainda é um agrupamento como esse se tornar um grupo político formal, como aconteceu com o BRIC, que começou a se encontrar em 2009 e virou BRICS no ano seguinte com a inclusão da África do Sul. Após uma década de ganhos expressivos, os 5 países do bloco se encontram agora numa situação mais incerta e com grandes desafios internos e externos para enfrentar. As perspectivas de crescimento do Brasil só pioram, a Rússia é alvo de sanções por causa da invasão da Crimeia e as expectativas são altas em relação ao novo presidente da Índia. Há apreensão sobre os limites do modelo da China e ao aumento da dívida na África do Sul. Veja a seguir as diferenças entre os países do bloco e como isso afeta suas relações. As médias foram feitas considerando cada país com o mesmo peso: 1. Tamanho PIB 2013 (em bilhões) Brasil
US$ 2.245 13
Rússia
US$ 2.096
Índia
US$ 1.876
China
US$ 9.240
África do Sul
US$ 350
SOMA
US$ 15.807
Somados, os BRICS são responsáveis por cerca de 21% do PIB mundial. A questão é que a economia chinesa é maior do que a de todos os outros quatro países do bloco somados. A Índia temia que a China usasse seu peso para desbalancear o futuro banco de desenvolvimento a seu favor, e houve uma disputa para definir quem teria a sede (Xangai acabou levando). O Banco Mundial anunciou recentemente que a China está prestes a se tornar a maior economia mundial em paridade de poder de compra, um título que o país encara com hesitação. 2. Pobreza Taxa de pobreza (2009) Brasil
6%
Rússia
não disponível
Índia
33%
China
12%
África do Sul
14%
MÉDIA
16,2%
Na China, a taxa de pobreza extrema foi de 84% em 1981 para 12% em 2009. Na Índia, a queda foi de 60% para 33% no mesmo período. Como estes dois países tem, somados, mais de um terço da população global, isso teve um impacto forte na taxa de pobreza global. Junto com a experiência brasileira, este foi um dos motivos que fizeram o mundo olhar para os BRICS. 3. Renda PIB per capita (2013) Brasil
US$ 11.208
Rússia
US$ 14.612
Índia
US$ 1.499
China
US$ 6.807
África do Sul
US$ 6.618
MÉDIA
US$ 8.148
Com populações e economias de tamanhos tão diferentes, é curioso que o nivel de renda seja muito próximo em 2 dos 5 BRICS. Quem se destaca é a Rússia e o Brasil, com as maiores rendas, e a Índia, com a menor. 4. Crescimento 14
Crescimento (média 2011-2013) Brasil
2%
Rússia
3%
Índia
5,4%
China
8,2%
África do Sul
2,6%
MÉDIA
4,2%
A China já não cresce a taxas de dois dígitos como no passado, mas por enquanto tem atingido pelo menos as metas que se coloca. A Índia também desacelerou recentemente, mas o mercado está otimista com a possibilidade de reformas com o novo presidente NarendraModi. No Brasil, o PIB brasileiro começou a crescer lentamente desde 2011 e continua tendo expectativas revistas para baixo. Na Rússia, as perspectivas eram boas antes da crise com a Ucrânia e das sanções. A África do Sul nunca chegou a ter um boom, e continua patinando. 5. Investimento Taxa de investimento (% do PIB) Brasil
18%
Rússia
23%
Índia
30%
China
49%
África do Sul
19%
MÉDIA
28%
Nesse sentido, a China precisa ficar um pouco mais como o Brasil, e o Brasil precisa ficar um pouco mais como a China. Os chineses precisam passar gradualmente para um modelo menos baseado no investimento estatal e mais no consumo de seus 1,2 bilhão de habitantes, sob pena de inflar ainda mais uma bolha imobiliária que gera até cidades fantasma. Já o Brasil precisa aumentar sua taxa de investimento historicamente baixa para tirar o atraso em infraestrutura e lançar um novo ciclo sustentável de crescimento sem gerar inflação.
Alto custo impede investimentos na indústria química Altos custos de matéria-prima e energia e falta de medidas governamentais de apoio à indústria química brasileira estão retirando investimentos anuais do país Os altos custos da matéria-prima e da energia e a falta de medidas governamentais de apoio à indústria química brasileira estão retirando cerca de US$ 10 bilhões de investimentos anuais O cálculo feito pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) considera apenas projetos do setor e não considera ainda uma potencial redução decorrente do impasse nas negociações entre Petrobras e Braskem a respeito do contrato de fornecimento de nafta. "Temos um estudo que mostra que poderíamos investir US$ 167 bilhões em um período de dez anos (de 2010 a 2020). Ou seja, há um investimento potencial de US$ 15 bilhões a US$ 16 15
bilhões por ano. Mas estamos investindo algo entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões anuais", revela o presidente da Abiquim, Fernando Figueiredo. O valor dos aportes pode encolher ainda mais, alerta o executivo, caso as negociações entre Petrobras e Braskemnão evoluam de forma a garantir preços competitivos à cadeia. Na quinta-feira (17), as negociações chegaram a um impasse à medida que a Petrobras tenta repassar à Braskem um gasto adicional de aproximadamente 5% decorrente da importação do insumo, condição que contraria os interesses da petroquímica. "Se a Petrobras reajustar o preço para a Braskem, a Braskem repassará para a segunda geração e esta para a terceira geração. Mas nenhum destes segmentos comporta neste momento um reajuste, caso seja esta mesma a ordem de grandeza", alerta Figueiredo, em referência a setores como fabricantes de produtos químicos (segunda geração) e fabricantes de peças plásticas, porexemplo (terceira geração). A preocupação é traduzida em números. Figueiredo ressalta que a perda de competitividade levou a taxa de utilização da indústria química para patamares inferiores a 80% - chegou a 74% em abril passado. A média dos últimos 12 meses, de 80%, fica abaixo do patamar entre 82% e 88% registrada nos últimos anos. Além disso, os números de janeiro a maio mostram retração de 7% na produção brasileira, em contraste a uma expansão de 11,5% nas importações. Com isso, os produtos importados já atendem entre 33% e 35% do consumo de químicos no Brasil. Nafta A intenção da Petrobras de incorporar ao valor do contrato com a Braskem o custo com a importação da nafta é, na visão de Figueiredo, o repasse para o setor químico de um custo que não está associado a ele. "A Petrobras começou a importar nafta porque decidiu utilizar a nafta (nacional) na gasolina. Essa importação resultou em um custo adicional que deveria ser repassado para o combustível, não para a indústria química", diz. Um executivo do setor químico, que pediu para não ser identificado, relembrou que o momento é tão delicado que o próprio governo federal anunciou em 2013 a redução de PIS/COFINS que incide sobre as matérias-primas do setor. "É como se a Petrobras quisesse ficar com o nosso ReiQ. O governo nos deu e agora quer tomar de volta", afirmou o executivo, em referência ao Regime Especial da Indústria Química (ReiQ), um dos pilares do projeto de recuperação da competitividade do setor no Brasil. A postura adotada pela Petrobras, de não comentar o assunto, e pela Braskem, de manter uma nota na qual apenas afirma que está empenhada em encontrar uma solução para o caso, dimensiona a complexidade das discussões. Diante de um impasse inicial, as companhias assinaram um aditivo por um prazo de seis meses, a vencer dentro de semanas. Neste momento, tanto a renovação do aditivo quanto um possível acordo parecem distantes. Enquanto isso, projetos já começam a ser postergados. É o caso da fábrica de borracha sintética idealizada pela Synthos no Rio Grande do Sul, segundo o presidente do grupo polonês, TomaszKalwat. Outro projeto que pode ficar no papel é o complexo de ABS em estudo pela Styrolution. O grupo alemão teria 70% de uma joint venture formada com a Braskem (30%). Juntos, os dois investimentos somariam mais de R$ 800 milhões. A principal ameaça para estes e outros projetos não está no custo mais alto, mas sim na disponibilidade de matéria prima. Caso não cheguem a um acordo, Braskem e Petrobras poderiam negociar um contrato com volumes menores, sem a inclusão de volume equivalente à necessidade de importação de nafta. Como resultado, a oferta de petroquímicos da Braskem a seus clientes também seria reduzida. "A sinalização dada pela Braskem é de que não é possível dar garantia de fornecimento por um prazo de 15 anos, por exemplo, se o contrato em vigor tem apenas seis meses", afirma o executivo do setor químico. Energia 16
Preços internacionais indicam que a diferença de custo entre o etenol produzido na Europa com base nafta (referência para o mercado brasileiro) e o mesmo produto fabricado na América do Norte ficou em mais de 70% em 2013. No caso da energia elétrica, outro insumo importante para o setor químico, a diferença chega a 147%, segundo levantamento do Sistema Firjan. A mesma entidade prevê que o custo médio da energia elétrica para as indústrias brasileiras no mercado cativo pode crescer 60% em três anos, entre o início de 2013 e o fim de 2015. "Há casos em que a energia responde por 70% dos custos e a matéria-prima pode chegar a 50% ou mais", explica Figueiredo. "Temos uma indústria química que tem todo o potencial para ser o mais brilhante setor industrial do País, mas precisamos de uma política de longo prazo que ajude a indústria a agregar valor aos recursos naturais brasileiros", complementa.
China deverá render US$1 bi a mais nas exportações de carne São Paulo - A reabertura do mercado chinês à carne bovina do Brasil deverá gerar receita anual adicional de até 1,2 bilhão de dólares em 2015, e não deve afetar o firme ritmo das vendas para Hong Kong, disse nesta sexta-feira o presidente da associação brasileira de exportadores. "Estes são números para 2015... A expectativa é esta... pelo que representa o mercado chinês", disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), AntonioCamardelli. O anúncio da suspensão do embargo da China à carne brasileira foi feito na véspera, durante visita do presidente chinês ao Brasil. Os chineses haviam suspendido as compras do produto brasileiro em função da descoberta de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no Paraná, no final de 2012. Durante o período em que a China esteve afastada do mercado brasileiro, Hong Kong ganhou fatia maior no ranking dos principais destinos para a carne brasileira, rivalizando com a Rússia, tradicional comprador. "Acreditamos que deve seguir fortalecido por outros fatores..., após um trabalho que fizemos anterior à abertura do mercado chinês (para embarcar produtos) de maior valor agregado", disse Camardelli ao ser questionado se abertura da China afetaria as vendas para Hong Kong. Ele disse não acreditar que o avanço da China, que costuma receber o produto brasileiro indiretamente por Hong Kong, afetará as vendas para essa Região Administrativa Especial do país asiático. Ele argumentou que, atualmente, Hong Kong compra mais produtos de valor agregado, diferentemente do que ocorria no passado, quando as aquisições estavam mais baseadas em miúdos. Esta mudança de perfil permitiu uma melhora no diferencial de preços médios no comparativo de carnes com miúdos, acrescentou. O presidente da Abiec explicou que a característica do Brasil é de suprir quantidades e manter perenidade de oferta, diferentemente de outros países concorrentes. Importantes produtores de carnes do mundo, como Estados Unidos e Austrália, enfrentam problemas por custos elevados e efeitos climáticos sobre os seus rebanhos. A China havia habilitado oito plantas brasileiras a exportar ao país, antes de impor um embargo ao produto brasileiro. Além destas, a expectativa é da entrada de mais nove unidades que já foram visitadas e preencheram todos os requisitos, e estão aptas para exportar ao mercado chinês. "De concreto, seriam oito que já eram aprovadas antes, mais nove que já estão aptas e aguardando autorização (para embarcar)", disse Camardelli. A Abiec não alterou suas estimativas de exportações recordes de 1,8 milhão de toneladas e 8 bilhões de dólares em receita em 2014, considerando que o retorno da China será gradual. 17
Camardelli observou que os embarques tradicionalmente ganham força no segundo semestre, por importações maiores de países muçulmanos após o fim do Ramadã, do Chile e por compras de países que operam com sistemas de cotas.
Fator desaceleração chega ao mercado de trabalho Baixíssimo saldo líquido de geração de empregos com carteira assinada em junho aponta para perda de ritmo na criação de empregos, diz economista. Marcos Santos/USP Imagens
O saldo líquido de geração de empregos com carteira assinada no Brasil foi de apenas 25.363 vagas em junho, segundo o Caged São Paulo - A desaceleração da economia brasileira finalmente parece ter chegado aomercado de trabalho, afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. Ele dá esse parecer com base no baixíssimo saldo líquido de geração de empregos com carteira assinada em junho, de apenas 25.363 vagas, divulgados na última quinta-feira, 17, pelo Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). "Sem a abertura dos dados, o que posso falar por enquanto é isso. Gosto de ver a abertura porque com ela é que podemos ver se a desaceleração no ritmo de criação de empregos se dá por paralisação das contratações ou por demissões" disse o economista. Segundo Lima Gonçalves, o resultado do Caged em junho poderia ter sido pior se não fosse um mês sazonalmente favorável às contratações no segmento da agricultura. Segundo o MTE, no mês passado a agricultura criou 40.818 vagas; o setor de serviços, 31.143. Já a indústria da transformação fechou 28.553 vagas; a construção civil encerrou outros 12.401 postose o comércio fechou 7.070 vagas. "A geração de empregos na agricultura é sazonal, mas se compararmos com junho do ano passado, quando foram criados cerca de 59 mil vagas, vemos que a tendência é de desaceleração fraca do emprego", disse o economista. O lado bom de o mercado de trabalho entrar em desaceleração, segundo o economista do Fator, é que as expectativas de inflação tendem a se acomodar. "O lado ruim é que, quando isso acontece, o mercado de trabalho confirma a queda da economia", disse Lima Gonçalves, que antes da divulgação dos números do Caged esperava que o PIB fosse encerrar esse ano com crescimento de apenas 0,8%. O mercado de trabalho é sempre o segmento da economia a assimilar com maior morosidade os movimentos de melhora e piora da economia como um todo. Como os custos para contratação e demissão no Brasil são muito altos, as empresas demoram para abrir contratações quando a economia se aquece e demoram para demitir quando a economia entra em estágio de arrefecimento. 18
"Timing" perfeito Fonte: Folha de São Paulo Online21/07/2014 02h00 Não poderia ter sido melhor o momento escolhido para a cúpula dos Brics. Depois da derrota ignominiosa na Copa, era preciso reagir de modo convincente. Foi o que se fez em Fortaleza, num plano político que, embora mais importante, não nos dispensa da dolorosa necessidade de ter vergonha. Reagir não é fugir à vergonha. Nem desprezar o dano irreparável à autoestima de um povo que, certo ou errado, sempre teve no futebol a razão de seu orgulho, a marca definidora da identidade. O principal não foi a derrota. Outros perderam e foram recebidos como heróis. O problema é como perder. Quando Francisco 1° caiu prisioneiro de seu inimigo Carlos 5°, escreveu à rainha: "Senhora, tudo está perdido, salvo a honra". Nem os jogadores, nem o treinador e os dirigentes poderiam dizer o mesmo. É erro minimizar a gravidade do desastre. Algumas tentativas desse tipo me lembram a rendição da França em 1941. Ao saber do colapso, o francófilo Raul Fernandes pediu para ver o embaixador francês e lhe apresentou condolências. Constrangido porque já aderira ao regime colaboracionista, o diplomata desconversou: não era para tanto, a França conhecera em sua história horas piores. O futuro chanceler se formalizou: "Senhor Embaixador, não vim aqui receber lições de história; passe bem!" França, Alemanha, Rússia, China, todas tiveram catástrofes históricas, com ou sem honra. Comparadas a invasões, ocupações, derrotas com milhões de mortos, nossas calamidades foram benignas: a Copa de 1950, o 7 a 1. Nem por isso nos eximem de buscar as razões para corrigi-las. Na memória coletiva jamais se apagará a vergonha da "débacle" e de Vichy, mas a França recuperou a honra e a vontade de viver com De Gaulle e a Resistência. Por isso, pior que a derrota sem honra seria dar de ombros, virar a página, fingir que nada aconteceu para não enfrentar o difícil desafio de reformar o futebol e o desporte. Ceder a essa tentação seria confirmar o juízo de Elizabeth Bishop: o maior defeito brasileiro, segundo ela, era (e é?) o excesso de autocomplacência, a acomodação à nossa moleza, a covardia de nos reformarmos e de combater a corrupção que, da CBF ao Congresso, suga o melhor sangue de nosso povo. Longe do Brasil, vejo que essa é a tendência. Cansadas de sofrer, as pessoas querem pensar em outra coisa; os candidatos têm medo de mexer em vespeiro. Se isso se confirmar, como fez o mundo com a crise financeira, teremos desperdiçado uma crise sem dela tirar o estímulo para construir sistema melhor. Países como Alemanha e Japão esmagados na guerra, os EUA ou a Espanha depois da guerra civil, cresceram na catástrofe porque souberam retirar do desastre as lições para reformarem as instituições. Errar e perder faz parte do humano destino. Os verdadeiros perdedores, os vencidos da vida e da história são os incapazes de reformar as instituições. O problema central do Brasil é a má qualidade das instituições, do futebol ao Congresso, da Justiça ao Executivo. Se a vergonha da Copa servir de ímpeto para reformar as instituições, a derrota não terá sido em vão.
Classe média cresce e deve superar pobres no Nordeste Fonte: Jornal Valor Online Camilla Veras Mota | De São Paulo
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Para Luciana, da Plano CDE, renda da classe baixa nordestina deve se manter em alta. A classe média está ultrapassando o total de pobres e vulneráveis na única região do país em que ela ainda não era maioria. No Nordeste, segundo levantamento da consultoria Plano CDE com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, a classe C conta com 23,9 milhões de pessoas e há outros 23,7 milhões entre a D e E. Apesar de o primeiro grupo ser ligeiramente maior, ambos representam 45% da população. Com essa estrutura, a pirâmide de renda da região, semelhante à do Brasil em 2004 - quando tanto a classe C quanto a D e E representavam cercade 42% do total -, encontra mais espaço para o desenvolvimento social e uma consequente expansão do consumo, pondera Luciana Aguiar, sócia-diretora da consultoria. No Sudeste, por exemplo, 54% estão na classe média e 17% na baixa renda. O Nordeste assistiu à diminuição significativa de sua população pobre nos últimos dez anos. Entre 2001 e 2012, o ganho de renda das famílias, mais expressivo entre as classes D e E, reduziu a participação da chamada base da pirâmide de 66% para 45% dos nordestinos. A tendência de crescimento real da renda entre os domicílios mais pobres da região indica que esse movimento deve continuar nos próximos anos. O país passou por uma dinâmica semelhante, mas a "virada" aconteceu antes. Os dados da Pnad de 2012 apontam que pouco mais de 50% dos brasileiros fazem parte da classe média. Há outros 25% na classe baixa e 21% de ricos.
Para Luciana, a tendência de aumento nos rendimentos mais forte entre as famílias de baixa renda deve se sustentar na região nos próximos anos, garantida pela manutenção de políticas de distribuição de renda como oBolsa Família e pelo forte investimento governamental e privado nos polos industriais - Pecém no Ceará e Suape em Pernambuco, por exemplo. O ritmo, contudo, deve ser influenciado pela desaceleração da atividade no último ano e perder fôlego, ressalva. Em outra frente, a economia da região pode ser impulsionada pela composição atual da estrutura etária. "O Nordeste ainda vai passar pelo bônus demográfico", ressalta Luciana, referindo-se à participação dos jovens de 15 a 29 anos na população local, de 26%. Esse vetor, porém, está condicionado ao processo de qualificação profissional da classe média e dos pobres e vulneráveis na região. "Sem uma preparação para competir por um bom emprego, eles podem perder a oportunidade", avalia. 20
Um dos achados mais importantes da pesquisa da Plano CDE trata do empreendedorismo individual no Nordeste. Segundo os números da Pnad, metade da classe média é formada por informais ou trabalhadores por conta própria. Essa característica explica, por exemplo, o sucesso do segmento porta a porta - que também resolve a dificuldade de distribuição e penetração que o varejo tem entre as classes de menor renda - e pode virar oportunidade de negócio para as empresas interessadas em investir na região. "Elas podem ganhar muito se virem o consumidor também como parceiro de negócios", defende. Além dos exemplos das marcas de cosméticos, Luciana lembra a iniciativa mais recente da Danone, que anunciou expansão da venda porta a porta de iogurte - que vinha sendo testada desde 2011 na Bahia - para outros Estados da região. Em entrevista ao Valor no fim de 2013, a diretora de sustentabilidade, Adriana Matarazzo, afirmou que as 300 mulheres capacitadas em Salvador durante o projeto conseguiam vender, juntas, em média 40 toneladas de iogurte por mês, ou 400 mil unidades.
Princípios da previsão econômica Fonte: Jornal Valor Online 21/07/2014 às 05h 00 Minha carreira profissional sempre esteve voltada para a tarefa de desenhar o futuro da economia brasileira. Nesta já longa caminhada, aprendi lições importantes com meus erros e meus acertos. Com isto foi possível construir uma espécie de manual de procedimentos que sigo até hoje. Por isto trago alguns princípios na minha bagagem que me são úteis diariamente. Os mais importantes vieram da leitura de outros profissionais do futuro e de suas experiências bem vividas também. O leitor do Valor já viu - por inúmeras vezes - as referências à importância que o economista britânico John Keynes teve sobre minha formação. Volto a ele hoje quando inicio uma reflexão sobre a recessão que se anuncia para o ano de 2015, primeiro ano de um novo mandato presidencial no Brasil. A primeira lição que aprendi com Keynes foi a de separar as alterações conjunturais das mudanças de natureza estrutural e, portanto, de mais longo prazo. As primeiras são mais fáceis de serem identificadas e, por isto mesmo, de serem previstas pelos analistas. Neste caso o êxito depende basicamente de uma formação profissional sólida, e experiência no trato destas questões. Já as mudanças de longo prazo precisam de um olhar mais atento para serem identificadas.
Entre os anos de 2011 e 2012, minha bola de cristal emitiu sinais claros de que o modelo Lula, de crescimento econômico e inclusão social,começava a patinar e que uma mudança na política econômica se fazia necessária. Vejam a curva de expansão das vendas ao varejo que está no gráfico 1 e que mostra uma tendência impossível de ser mantida por mais tempo. Já era visível então que um dos elementos básicos do crescimento entre 2004 e 2009 - a existência de ociosidade no tecido econômico brasileiro - estava se esgotando e que a inflação começava a mostrar suas garras. 21
Em outras palavras, a oferta de inúmeros insumos estava aproximando-se perigosamente do nível da demanda e uma situação de escassez começava a desenhar-se em vários mercados. Os pontos mais críticos estavam na oferta limitada de mão de obra em mercados importantes, no aumento perigoso do déficit em conta corrente, e no esgotamento da oferta de energia e da ocupação do espaço logístico. Outro elemento fundamental do ciclo de expansão que se esgotava - o aumento dos termos de troca de nosso comércio exterior-, perdia força e a relação entre os preços de exportação e importação começava a reduzir-se sob o efeito de importações crescentes de itens mais sofisticados e, portanto, mais caros. A crise americana de 2008 levou o governo Lula a uma rodada extra de estímulos via expansão fiscal e do crédito público. O PIB em 2010 reagiu alavancado principalmente pelo consumo das famílias que chegou a crescer 12% em termos reais, agravando os desequilíbrios de oferta que já existiam na economia. Nos primeiros anos do mandato da presidente Dilma, com a inflação já dando sinais de forte elevação, o governo tentou manter o crescimento via juros mais baixos, desvalorização artificial do real e redução do IPI de alguns produtos. Esta última tentativa de estímulo pelo lado do consumo tornou ainda mais forte a armadilha que se desenhava há alguns anos. Em 2013 não restou outra alternativa ao Banco Central, desafiado pelos mercados a dar sinais claros de uma ação para manter sua credibilidade, se não elevar os juros. O cerco ao crescimento fechava-se e a economia iniciou um lento movimento de desaceleração da atividade. As projeções para o crescimento do PIB no último ano do mandato da presidente Dilma já estão abaixo de 1% ao ano e não há espaço para melhora antes das eleições de outubro. A política econômica do governo Dilma tem hoje as tintas que deveria ter em 2011, mas o atraso na sua implementação tornou inexorável um período maior de baixo crescimento. Nossa presidente paga hoje, no final da corrida eleitoral, um preço elevado como mostram as pesquisas mais recentes. Mas a vida me ensinou que, nestes momentos de transição de um ciclo econômico, não se pode deixar de lado uma visão mais estrutural dos problemas enfrentados. E o quadro de distribuição de renda, mostrado no gráfico 2, revela uma mudança importante na composição da sociedade brasileira e que abre um horizonte favorável para os próximos anos. Hoje no Brasil quase 70% da população vive na formalidade econômica e essa deve ser a âncora que vai permitir aos próximos governos levar adiante, com apoio da opinião pública, as reformas de natureza micro econômicas tão necessárias para um novo ciclo de crescimento. Mas para que este potencial se transforme em realidade será necessário entender as dificuldades atuais e, em parceria com este novo cidadão econômico, desenhar uma política econômica realista e inteligente. Espero que as eleições de outubro e novembro nos tragam uma resposta positiva a este desafio.
Economia em queda cria cenário para baixar os juros Fonte: Jornal Valor Online 21/07/2014 às 05h00 Diante dos renovados sinais de debilidade da economia, o mercado financeiro passou a especular sobre um possível corte na taxa básica de juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para 3 de setembro. O que ainda preocupa é que, a despeito de o Produto Interno Bruto (PIB) caminhar abaixo do potencial, a inflação corrente continua perto do teto do intervalo de tolerância da meta, e as expectativas dos formadores de preços seguem desancoradas. Na semana passada, o Copom manteve os juros básicos da economia em 11% ao ano, como amplamente esperado pelos analistas econômicos. O próprio Banco Central havia dito em seu Relatório Trimestral de Inflação mais recente, de junho, que a manutenção das condições 22
monetárias seria necessária para garantir a convergência da inflação para o centro da meta nos próximos dois anos. No dia seguinte à reunião do Copom, a curva de juros futuros, que sintetiza as apostas do mercado financeiro sobre os próximos passos da política monetária, sofreu uma queda acentuada. Em parte, essa oscilação refletiu a leitura feita pelo mercado financeiro do comunicado divulgado pelo Copom, que manteve uma porta aberta para uma eventual mudança no rumo da política de juros. Mais do que a semântica da comunicação do Banco Central, porém, a tese do afrouxamento monetário se apoia num cenário traçado pelos operadores do mercado financeiro de que a economia está em declínio e a inflação dá seus primeiros sinais de perda de fôlego. De fato, as estatísticas econômicas mais recentes despertam preocupação. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na semana passada, registrou uma contração de 0,18% em maio. O indicador de abril, que inicialmente tinha sido calculado em 0,12%, foi revisado para 0,05%. As perspectivas para junho não são animadoras, em virtude do efeito da Copa do Mundo. A produção de veículos caiu 23% em relação a maio e o tráfego nas rodovias diminuiu 4,3%, apenas para citar dois importantes indicadores de conjuntura. Em fins de agosto, quatro dias antes de o Copom voltar a se reunir, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar os dados das contas nacionais no segundo trimestre. São grandes as chances de um número negativo, com algum risco de uma recessão técnica, caso os critérios estatísticos adotados pelo IBGE para cálculo da sazonalidade puxem também os dados do primeiro trimestre para baixo. Não causaria maiores sobressaltos uma leve recessão no primeiro semestre, caso as perspectivas para o período logo adiante fossem melhores. Apesar da moderação, a renda real segue crescendo, assim como o crédito. Os índices de confiança dos empresários, porém, encontram-se nos baixos patamares de fins de 2008, quando a economia foi atingida pela crise causada pela quebra do banco Lehman Brothers. O mercado financeiro também deposita alguma confiança em que o recuo da inflação corrente, puxada pela queda dos preços dos alimentos, deverá prosseguir nos próximos meses, pelo menos até setembro. Assim, pela primeira vez, haveria argumentos econômicos para o Banco Central iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. A questão é que, a despeito dos sinais de fraqueza da economia, as expectativas de inflação seguem se deteriorando. A variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperada pelos analistas econômicos para 2014 está em 6,48% e, para 2015, em 6,1%, em ambos os casos perigosamente perto do teto da meta, de 6,5%. O recuo da inflação na margem ainda não é suficiente para trazer o IPCA acumulado em 12 meses para percentuais mais confortáveis. Em tese, as expectativas de inflação deveriam olhar para frente, levando em conta o efeito da desaceleração da economia nos preços. Mas a coordenação das expectativas é turvada pela política fiscal ainda expansionista, pela percepção de que o Banco Central tem uma meta paralela de inflação e pelo represamento de reajustes de tarifas. Nenhum desses fatores torna impossível controlar a inflação e cumprir as metas. O risco maior, neste momento, é que, para tanto, o Banco Central seja obrigado a adiar o início da distensão monetária, fazendo a economia pagar um preço mais alto que o necessário pela desinflação.
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