SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 21 DE AGOSTO DE 2014
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Os três tipos de desemprego Sejam quais forem as causas, os governos precisam compreender o desemprego estrutural: crescimento é suficiente para conseguir trabalho para todos. Durante a recente retração da economia, a taxa de desemprego nos Estados Unidos saltou de 4,4% para 10%. O crescimento econômico de lá para cá se recuperou. Mas o desemprego continua próximo dos níveis baixos de antes da crise. A taxa nos EUA, 6,2%, ainda está 40% acima do que estava em fins de 2006. Economistas estão recorrendo ao espectro do desemprego "estrutural" para explicar este enigma. O que é isso? Os economistas com frequência se referem a três tipos de desemprego: "friccional", "cíclico" e "estrutural". Economistas desalmados não costumam se importar com os dois primeiros, que se referem a pessoas que mudam de um emprego para outro e às que são temporariamente dispensadas durante uma recessão. O terceiro tipo se refere a pessoas que são excluídas - talvez permanentemente - do mercado de trabalho. No jargão econômico, desemprego estrutural tem a ver com a discrepância entre o número de pessoas que estão procurando emprego e o número de empregos disponíveis. Isto é uma má notícia tanto para os que sofrem com ela como para a sociedade em que vivem. Pessoas sem trabalho por longos períodos tendem a ter a saúde pior do que a média. Os estruturalmente desempregados tampem pressionam os orçamentos da seguridade social. O desemprego estrutural em economias avançadas vem aumentando há décadas à medida que setores como mineração e produção manufatureira encolhem. Na Grã-Bretanha, entre 1984 e 1992, o emprego na mineração de carvão caiu 77% e na siderurgia, 72%. Comunidades que foram construídas em torno de uma única atividade profissional foram devastadas. Muitas pessoas afetadas só tinham experiência num emprego de alta e específica especialização. Elas não tinham as habilidades ou atributos necessários para se dar bem em muitos empregos no setor de serviços (como trabalhar num call center ou restaurante). Com isso, ficaram estruturalmente desempregadas. Um problema diferente pode estar afligindo as economias avançadas hoje. A retração foi realmente terrível e durou anos. Muitas pessoas desistiram de procurar emprego e se retiraram da força de trabalho. Nos EUA, o número destes "trabalhadores desanimados" saltou de 370 mil em 2007 para 1,2 milhão em 2010 (hoje ele é o dobro de seu nível de 2007). Dos desempregados há mais de um ano, a probabilidade é que apenas um terço encontre trabalho, como os desempregados a menos de seis meses: os empregadores acreditam que os desempregados em períodos mais curtos de tempo são mais motivados e especializados. Portanto, o desemprego prolongado pode se transformar em desemprego estrutural. Mas o desemprego estrutural não é um simples produto de crises econômicas. Karl Marx (que se considerava um economista) se referia a "um exército industrial de reserva". Marx defendia que o capitalismo dependia de haver pessoas sem trabalho. A existência dos desempregados asseguraria que os trabalhadores ficassem assustados demais para pleitear aumentos salariais. Os capitalistas dependiam do desemprego para manter baixos seus custos. Marx exagerou, mas a maioria dos economistas aceitaria que um certo nível de desemprego é inevitável: uma tentativa de alcançar o pleno emprego provocaria uma inflação salarial em massa. 2
Sejam quais forem as suas causas, os governos precisam compreender o desemprego estrutural. O crescimento econômico em si não será suficiente para conseguir trabalho para todos. Reformas no lado da oferta, com o treinamento de mão de obra (conhecido pelos especialistas como "políticas ativas para o mercado de trabalho") também são necessárias.
Número de inadimplentes chega a 57 milhões em 2014, o mais alto desde 2012 SÃO PAULO - O aumento do endividamento das famílias e o descontrole ao assumir novas dívidas fizeram com que o número de inadimplentes no País batesse recorde em 2014. Até agosto, 57 milhões de pessoas estão com contas em atraso, o mais alto número desde o começo da série histórica, em 2012. A instituição aponta ainda outras duas causas para o acréscimo do número de inadimplentes: o parcelamento de compras com juros elevados (como de imóveis e carros) e altas taxas cobradas pelo uso do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito. Na baixa renda, 10% do salário são gastos com parcelas no cartão de crédito, segundo uma pesquisa do Guia Bolso. "As dívidas não bancárias, como carnês de lojas, e aquelas contraídas junto aos bancos foram as principais responsáveis pela alta da inadimplência", diz a nota. O estudo revela também que 60% dos endividados têm contas atrasadas que superam toda a renda mensal. Outro dado aponta que 53% das pessoas com dívidas possuem até duas contas não pagas no prazo. O superintendente de informações sobre consumidores da Serasa Experian, Vander Nagata, avalia que o nível da inadimplência poderia estar mais elevado, no entanto a evolução da renda e o desemprego baixo atenuam este cenário. "A atual situação é preocupante, pois revela que do total da população brasileira com 18 anos ou mais (144 milhões de pessoas), cerca de 40% está inadimplente", avalia. Ele destaca, no entanto, que o número não é alarmante, pois o volume de contas da maioria dos endividados não é alta. A Serasa voltou a reforçar que a saída para o quadro de inadimplência elevada é a educação financeira de credores e consumidores.
BC pode frear as 'pedaladas' do Tesouro O governo federal está diante de uma decisão que pode ter grande impacto nas contas públicas. O Banco Central (BC) avalia incorporar às estatísticas das contas da União os créditos carregados pelos bancos públicos e privados em operações financiadas com recursos do Tesouro Nacional. Fontes do BC informaram que a decisão final depende de análises jurídicas em curso na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, na procuradoria do Banco Central e na AdvocaciaGeral da União (AGU).
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Segundo essas fontes, a autoridade monetária está "avaliando a natureza econômica desses saldos, levando em conta os aspectos jurídicos da prestação de serviços contratada entre as instituições financeiras e o Tesouro, de forma a considerar esses montantes, se for o caso, na apuração fiscal". 'Pedaladas'. É a falta de registro destas operações que tem permitido ao Tesouro Nacional fazer as chamadas "pedaladas de despesas", práticas de atrasos nos pagamentos aos bancos (públicos e privados) de recursos obrigatórios para bancar programas sociais, como o Bolsa Família e abono salarial, e gastos previdenciários, como aposentadorias e pensões. Essas "pedaladas" têm ajudado o Tesouro a melhorar artificialmente, em determinados meses, o resultado das contas públicas, ao apresentar despesas menores do que aquelas efetivamente devidas. Uma decisão favorável à incorporação dos registros fiscais colocaria fim às "pedaladas". Com a disseminação desses atrasos, a área de fiscalização do Banco Central passou a questionar os bancos, carregados de créditos com o Tesouro nos saldos dessas contas. Quer dizer, os bancos, notadamente a Caixa Econômica Federal, continuam fazendo os pagamentos em dia, mas o Tesouro tem atrasado o repasse de recursos de forma a melhorar seus balanços mensais, ao reduzir artificialmente suas despesas. Os bancos, então, têm usado capital próprio para honrar os pagamentos, e somente têm recebido o dinheiro do Tesouro com dias de atraso. No caso das instituições públicas, o financiamento do Tesouro é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Como informou o Estado na semana passada, a AGU criou uma Câmara de Arbitragem, a pedido da Caixa, para arbitrar uma disputa entre Caixa, Tesouro e BC em torno dos atrasos. Depois de ser questionada pela área de fiscalização do Banco Central por causa dos constantes saldos negativos nas contas sociais, a Caixa buscou uma solução inédita, e foi à AGU. Hoje, se os repasses acontecem automaticamente, não há impacto fiscal do ponto de vista de patrimônio ou endividamento público, que é como o BC contabiliza o resultado fiscal do setor público. Mas quando o Tesouro atrasa pagamentos às instituições financeiras ele precisa compensá-las com a taxa Selic, hoje em 11% ao ano. Ou seja: o Tesouro ganha no curto prazo, ao apresentar despesas menores, mas se endivida com os bancos. Portanto, se o BC considerar que isso representa uma operação de adiantamento, então será preciso colocar na conta fiscal.
Cresce número de acordos salariais com aumento real para trabalhador O número de acordos salariais que terminaram com reajuste acima da inflação para os trabalhadores aumentou. De janeiro a junho deste ano, passou para 93% o percentual dessas negociações que terminaram com ganho real (acima da inflação). Esse índice havia recuado para 83,5% em igual período do ano passado. Em 2012, considerado o melhor ano das negociações salarias, chegou a 95,6%. Somente 2,6% dos acordos do primeiro semestre não zeraram as perdas da inflação. No ano passado, eram 5,8%. 4
Os dados estão em estudo divulgado nesta quinta-feira (dia 21) pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que analisou 340 negociações salariais de trabalhadores da indústria, do comércio e do setor de serviços com data-base de janeiro a junho. Os acordos do primeiro semestre também tiveram aumento real médio acima do negociado no mesmo período do ano passado. Nos primeiros seis meses deste ano, o ganho real médio (acima da inflação) foi de 1,54%, ante 1,08% de igual período de 2013. Esse é o terceiro maior aumento real médio verificado desde que o Dieese começou a acompanhar em 2008 os acordos salariais dessa série de 340 acordos. "Apesar da onda de pessimismo e dos efeitos da inflação na economia, os aumentos reais médios foram melhores do que os de 2013", diz Airton Santos, coordenador de atendimento técnico sindical da entidade. Isso porque, afirma o técnico, a inflação acumulada nos 12 meses anteriores a cada data base ficou em patamar inferior neste ano. "Para repor a inflação acumulada em abril do ano passado, os trabalhadores precisavam negociar reajustes de 7,22%. Neste ano, o INPC acumulado em abril foi de 5,62%", diz Santos. Com taxa de desemprego baixa e inflação em menor patamar, o mercado de trabalho continuou aquecido no período, e os sindicatos conseguiram negociar reajustes que ficam acima da inflação. O melhor ganho real médio foi obtido pelos trabalhadores em 2012, quando os salários tiveram aumento de 2,15% acima da inflação medida pelo INPC. O indicador é mais utilizado pelos sindicatos para negociar reajustes. MELHORES AUMENTOS Na indústria, foram os trabalhadores da construção e mobiliário, os metalúrgicos e os empregados das empresas de alimentação os que conseguiram os maiores aumentos reais médios. No comércio, o destaque foi para o ramo de minérios e derivados de petróleo. Os trabalhadores das áreas de transporte e turismo também conseguiram embolsar os melhores aumentos reais no setor de serviços. Metroviários, motoristas de ônibus e empregados do setor de limpeza urbana são algumas das categorias que conseguiram aumentos salariais com paralisações e greves que ocorreram antes e durante a Copa do Mundo. O Mundial, realizado entre junho e julho deste ano, também serviu de fator de pressão para negociar aumento de salário e benefícios para algumas categorias, segundo revelou reportagem da Folha. "As paralisações bem sucedidas podem ter servido de estímulo para que outras categorias profissionais reivindicassem ganhos salariais maiores", afirma o coordenador. EM BAIXA Dentre os trabalhadores que não conseguiram recuperar o poder de compra no primeiro semestre e tiveram reajustes inferiores ao INPC acumulado em suas datas base, sete acordos foram negociados área industrial corresponde a 4,5% das 156 negociações analisadas nesse setor. A produção na indústria recuou pelo quarto mês consecutivo em junho. Os dados do IBGE mostram perda de ritmo generalizada do setor. A indústria tem sido afetada pela desaceleração econômica no país, calendário apertado pela Copa, e mais recentemente pela crise argentina e seu impacto no setor automotivo. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) também mostraram que a indústria sofre a piora no emprego formal em junho, com fechamento de 28,6 mil postos. No comércio, dos 46 acordos analisados pelo Dieese, somente um não teve reajuste igual ou acima da inflação. O mesmo ocorre no setor de serviços, em que 138 negociações salariais foram verificadas e somente uma ficou abaixo do INPC. 5
O QUE VEM POR AÍ Para o segundo semestre, a tendência é de esses resultados se manterem, de acordo com o técnico. "Como o mercado de trabalho ainda está gerando vagas, apesar de ter diminuído o ritmo de abertura de vagas, e a inflação, segundo vários indicadores, sinalizar para tendência de queda, os acordos salariais negociados até dezembro devem se manter em patamares semelhantes aos do primeiro semestre", diz Santos. Petroleiros, bancários, metalúrgicos e comerciários são algumas das categorias profissionais com data-base no segundo semestre que já se mobilizam para obter reajustes acima da inflação em suas campanhas salariais.
Rússia e demanda interna pressionam carnes O apetite russo por carnes brasileiras continua colocando pressão nos preços internos. As carnes de boi, de suíno e de frango voltaram a subir nesta semana no mercado paulista. Agora que os alimentos começam a dar sinais de desaquecimento nos índices de inflação, as carnes poderão voltar a pressionar. A alta ocorre, no entanto, não só pela pressão russa como por um aumento interno de demanda, de acordo com analistas de mercado. Um dos destaques nessa escalada de preços é a carne suína, que tem a Rússia como o maior importador do produto brasileiro. A cotação da carne suína disparou e atingiu patamares nunca antes registrados, ao ser negociada por até R$ 87 por arroba em São Paulo.
Na média, os preços ficaram em R$ 84,8, conforme pesquisa diária feita pela Folha. Ao registrar esse valor médio, a arroba teve evolução de 7% no dia e os preços atuais superaram em 36% os de de há um ano. A liberação de mais frigoríficos aptos a exportar carne bovina para a Rússia dá sustentação, também, à arroba do boi. Nesta quarta-feira (20), a arroba subiu para R$ 126, alta de 1%. Os preços atuais do boi superam em 24% os de agosto de 2013. Segundo a consultoria Informa Economics FNP, à medida que avança a entressafra, a oferta de animais prontos para abate continua mais restrita. O preço do frango, a exemplo das outras carnes, também está em alta. O quilo de ave viva, que era negociado a R$ 2,20 há um mês nas granjas de São Paulo, está em R$ 2,50 nesta semana, uma alta de 14% no período. A elevação de preços poderá aliviar as contas dos produtores. Os custos diminuíram, com a queda de preços internacionais das commodities, e a demanda externa por carnes é forte no setor. Essa valorização ocorre, no entanto, depois de um período de preços baixos nos preços das carnes. O valor do frango, negociado a R$ 2,15 em maio, só obteve recuperação de forma mais acentuada a partir deste mês. 6
O mesmo ocorre com o setor de suínos, cuja arroba saiu de R$ 66 em maio para atingir o patamar atual. O preço de R$ 70 só foi atingido no final de junho. Já o boi ganhou R$ 6 por arroba desde maio. Eles também O recuo de preço das commodities fará mal também para a economia de outros países latino-americanos em 2014, entre eles Peru e Chile, que terão desaceleração no PIB neste ano. Sustenta Já a Colômbia, exportadora de petróleo, toma ritmo diferente e crescerá 5%, acima dos 4,7% registrados no ano passado. Argentina A avaliação é de analistas do banco Itaú, que apontam também melhora no México, devido às exportações, mas recuo na Argentina. Carbono O Ministério da Agricultura e sete entidades, entre elas BNDES, Embrapa e Febraban, fizeram acordo no âmbito do Programa para a Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura. Financiamento O acordo visa a elaboração de projetos técnicos e mostrar a agentes financeiros e agrônomos de bancos a linha de crédito e tecnologias de redução de carbono. Usina de cana em MS bate recorde de moagem Pela primeira vez uma usina consegue a moagem de 32 mil toneladas de cana em apenas um dia em uma única linha de moagem. Foi o que obteve a Unidade Santa Luzia, da Odebrecht Agroindustrial de Mato Grosso do Sul na terça-feira (19). Para a empresa, esse número é um recorde mundial. A expectativa é encerrar a safra 2014/15 com a moagem de 4,7 milhões de toneladas de cana na usina Grãos Milho volta a recuar na Bolsa de Chicago Avaliações de aumento de produtividade tanto no milho como na soja nos Estados Unidos provocaram queda nos preços dessas duas commodities nesta quarta-feira (20) na Bolsa de Chicago. Muitos analistas acreditam, no entanto, que é cedo para contar com safra recorde.
Brasil registra pior geração de vagas para julho desde 1999 BRASÍLIA - O mercado de trabalho brasileiro registrou em julho a criação de 11.796 postos de trabalho, uma queda de 71,5% quando comparado ao mesmo mês de 2013 quando foram criadas 41.463 vagas. Os dados estão sem ajuste sazonal. É o pior resultado para julho desde 1999. Na comparação com o número ajustado de julho de 2013, de 73.217 novos empregos, a geração do sexto mês deste ano foi 83% menor. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho divulgado nesta quinta-feira. O saldo, porém, ficou acima da média das projeções apurada pelo Valor Data, de 6,1 mil novas vagas em julho. No ano, foram criados 632.244 novos postos de trabalho, 30,3% a menos do que nos sete primeiros meses de 2013 (907,2 mil). A comparação leva em conta o saldo ajustado até junho e julho sem ajuste. O acumulado do ano registra o menor saldo desde 2009. A indústria foi o único setor que fechou vagas em julho, terminando o mês com saldo negativo de 15.392 postos. É o quarto mês consecutivo que a indústria registra demissões líquidas. No mês passado, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, revisou a meta de criação de novos postos de trabalho neste ano para 1 milhão. A meta anterior era entre 1,3 milhão e 1,4 milhão de novas vagas. 7
Produção industrial cai em julho, diz CNI O índice de produção industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 48,8 pontos em julho, ante 39,6 pontos em junho, de acordo com a pesquisa Sondagem Industrial. Em julho do ano passado, esse índice ficou em 52,1 pontos. O indicador varia de zero a cem pontos, sendo que valores abaixo de 50 representam queda na produção em relação ao mês anterior. Sendo assim, a produção na indústria caiu menos em julho do que em junho. Já o indicador de nível de emprego na indústria foi de 45 pontos no último mês, ante 45,2 pontos em junho e 48,5 pontos em julho de 2013. A CNI considera esse desempenho "uma manutenção no ritmo de queda". O percentual médio de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) subiu para 70% no mês passado ante 69% em junho (dado revisado de 68%). Já em relação a julho de 2013, a UCI caiu já que ela estava em 72%. O indicador relativo à utilização de capacidade efetiva-usual, que considera a UCI comum para o mês, fechou julho em 39,7 pontos, frente a 37,1 pontos em junho. Ou seja, a diferença entre a utilização da capacidade em relação ao usual foi menor em julho do que em junho. Os estoques, por sua vez, tiveram crescimento em julho ante junho. O índice de evolução de mercadorias estocadas foi de 50,6 pontos em julho, o que representa uma alta. Em junho, o indicador foi de 51,7 pontos. Sendo assim, os estoques avançaram menos em julho do que em junho Assim, para a CNI, "a indústria mostra queda na produção e emprego, estoques indesejados e elevada ociosidade. Em julho, porém, a ociosidade e o excesso de estoque se reduziram". A pesquisa foi feita com 2,191 mil empresas entre 1 e 12 de agosto.
Governo baixa pacote e tenta estimular o crédito O Banco Central e o Ministério da Fazenda anunciaram dois pacotes de medidas para tentar reavivar o crédito, que sofre desaceleração além da prevista. Promoveram um alívio de capital para os bancos públicos liderarem a expansão do mercado e ajustes na regulação para tentar atrair as instituições privadas de volta aos negócios. O Banco Central concluiu o desmonte do conjunto de medidas macroprudenciais adotadas em 2010, concedendo um alívio de capital de R$ 15 bilhões aos bancos. A cifra é suficiente para alavancar R$ 140 bilhões em operações de crédito. Também foram liberados R$ 10 bilhões em depósitos compulsórios para os bancos expandirem os empréstimos. Para que os bancos privados voltem a emprestar com segurança depois da onda de inadimplência de 2011/2012, a Fazenda apresentou um conjunto de propostas de mudança na legislação. Elas incluem retomada mais rápida de automóveis quando o mutuário não pagar o financiamento e possibilidade de cobrar parcelas do crédito consignado simultaneamente ao depósito dos salários na conta do trabalhador do setor privado. O alívio nas regras prudenciais deve favorecer sobretudo a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que desaceleraram a expansão de suas carteiras de empréstimo porque estão com uma menor folga de capital, embora sigam liderando o mercado. As medidas deram atenção especial a dois segmentos - consignado e crédito de veículos - que tiveram forte expansão em anos recentes, mas perderam força desde o ano passado e chegam a ter crescimento negativo. A liberação de compulsórios cria incentivos especiais para a aplicação de recursos em financiamentos de automóveis - foi eliminada a exigência mais 8
pesada de capital para lastrear operações superiores a 60 meses. Para o consignado, a exigência de mais capital para operações com prazos mais longos também acabou. O conjunto de medidas foi recebido pelos bancos como um passo na direção certa. Para o presidente da Febraban, Murilo Portugal, no curto prazo o efeito deve ser uma melhora de confiança e expectativas. No médio e longo prazos, as medidas viabilizam um novo ciclo de expansão do crédito. "Podemos em dez anos chegar ao nível do Chile, onde o crédito representa 86% do PIB". disse Portugal.
Tesouro pode por Caixa em apuros Ao utilizar recursos próprios para pagar benefícios sociais, a Caixa Econômica Federal pode ter cometido uma infração às leis de Responsabilidade Fiscal (LRF) e do Colarinho Branco. Isso teria ocorrido porque o Tesouro Nacional tem retardado a liberação de recursos suficientes para pagamento de despesas como seguro-desemprego, abono salarial e benefícios do Bolsa Família. Se o procedimento for considerado um operação de crédito, caracteriza-se crime, porque a LRF proíbe que um banco estatal faça empréstimos a seu controlador. Os recursos da Caixa oferecem folga ao Tesouro Nacional para fechar suas contas e atingir o superávit primário previsto. Já o Banco Central avalia se incluirá nas estatísticas fiscais esses créditos detidos por bancos públicos e privados, sobretudo a Caixa, perante o Tesouro. Está em jogo a transparência das contas públicas, já que o governo estaria se endividando sem os devidos registros estatísticos.
Elevação dos juros pelo Fed fica mais próxima As taxas de juros poderão começar a subir antes do previsto nos Estados Unidos, antecipando o calendário indicativo do Federal Reserve, que insinuava o terceiro trimestre de 2015. A ata do banco central americano ressalta que as condições econômicas estão se aproximando das que boa parte de seus membros considera apropriadas para encerrar mais de cinco anos com juros próximos de zero. Em consequência, o documento do Fed mostra que a elaboração das estratégias de saída do período de enorme acomodação monetária avançou. Após a divulgação, o dólar bateu o recorde de onze meses em relação ao euro e as moedas emergentes se desvalorizaram. Os progressos nas condições do mercado de trabalho desde o ano passado "foram maiores que os previstos", na visão da maioria dos membros do Fed, a tal ponto que se "aproximaram visivelmente" daquelas que poderiam ser tidas como normais no longo prazo. A presidente Janet Yellen e outros membros do Federal Reserve ampliaram o exame do estado de saúde do mercado de trabalho com uma bateria de indicadores que vão além da simples taxa de desemprego. A "subutilização dos recursos do trabalho" passou a fazer parte das atas. Mas mesmo alguns dos dados que registravam essa subutilização mostraram melhora no primeiro semestre do ano. Não só as contratações ganharam força - com a folha de pagamentos apresentando o maior aumento desde o primeiro trimestre de 2012 - e a taxa de desemprego caiu, como também a taxa de desemprego de longa duração e do trabalho parcial de pessoas que não conseguem um emprego em tempo integral. Vários integrantes do Fed apontaram que em algumas regiões do país já se notam pressões altistas nos salários e falta de mão de obra em alguns setores da economia. A visão majoritária, porém, ainda é a de que tanto o desemprego de longo prazo como o trabalho em período parcial "continuam elevados pelos padrões históricos". 9
A recuperação da economia americana, por seu lado, deu sinais inequívocos de que a forte queda do primeiro trimestre é coisa do passado. O crédito ao consumidor teve "expansão robusta", embora o mesmo não tenha ocorrido com o crédito imobiliário. A produção industrial cresceu, bem como a utilização da capacidade produtiva. E embora ainda não seja generalizada a percepção de pressões salariais, a renda pessoal disponível dos americanos avançou com maior rapidez no segundo trimestre do ano que no primeiro. Contribuíram para isso a valorização dos imóveis residenciais e ganhos no mercado acionário. Os temores de que a inflação permanecesse por muito tempo abaixo dos 2%, isto é, o risco de deflação, se desvaneceu. A variação do índice de gastos pessoais de consumo chegou a 1,5% ao ano - mesmo nível do índice geral de preços ao consumidor. O resultado da evolução do cenário econômico e da "surpresa" da queda adicional da taxa de desemprego, foi uma revisão para baixo do cenário do Fed sobre o desemprego, para um ponto já "mais próximo da estimativa da taxa natural de longo prazo". Apesar da previsão para o PIB ter encolhido, pelo péssimo resultado do primeiro trimestre, a "folga de recursos" da economia é agora mais estreita do que se previa. A estimativa de inflação foi elevada um pouco, porque a economia opera mais ajustada e porque dados recentes mostram que sua relativa aceleração decorre de fatores que não são apenas transitórios. Apesar disso, o Fed prevê que ficará bem comportada e inferior a 2% por alguns anos. Cresceu assim, dentro do Fed, a impressão de vários integrantes de que a convergência para os objetivos traçados ocorreu "mais rápido que o esperado", o que tornaria "apropriado começar a remover a acomodação da política monetária antes do que havia sido antecipado". Essa sensação foi exacerbada de tal maneira que "alguns" membros do Fed se sentem "cada vez mais desconfortáveis" com a orientação futura do banco central. Eles julgam que pela rapidez da recuperação imaginada dos indicadores relevantes seria o caso de agir antes para "impedir o overshooting dos objetivos para o desemprego e a inflação no médio prazo". A pressão pela normalização da política monetária cresceu dentro do Fed. De todo modo, na ata há o compromisso explícito de dar informações detalhadas ao público "bem antes" de o banco começar a elevar os juros.
Agenda positiva para o IDH As análises feitas em seguida à divulgação dos números do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nesses últimos anos ficaram chatas e repetitivas. As mudanças metodológicas e o tecnicismo institucionalizado na interpretação dos números e rankings tornaram o indicador irrelevante no curto prazo, inacessível à grande população e à própria mídia. Passada a fumaça levantada pelo lançamento e controvérsias voluntaristas e pouco fundamentadas sobre o impacto de programas sociais x ou y no país, parece que o que fica como contribuição positiva para o desenvolvimento humano do país é nada ou muito pouco. Algumas reclamações do governo federal procedem. Mas não precisava ser assim. Existem de fato importantes lições que o IDH traz para o nosso desenvolvimento e que deveriam ser apreciadas de modo positivo e propositivo. Listo algumas como ilustração e justificativa desse argumento. Lição 1 - A agenda de desenvolvimento humano traz uma preocupação com a desigualdade e justiça social que é mais inclusiva do que a agenda de combate à pobreza. Não que essa última não seja importante, mas uma preocupação com o impacto distributivo do crescimento econômico (e da saúde e educação) no país é fundamental para a democracia e o bem-estar de todos. O IDH ajustado pela desigualdade mostra primeiro que esse é um desafio importante (ao sinalizar uma perda de 27% no valor do IDH pela desigualdade e de 16 posições no ranking) e, segundo, que mais atenção é devida à distribuição pessoal da renda nacional bruta, que continua levando à maior perda do IDH (39,7% de perda no indicador). A agenda de redução da desigualdade é mais inclusiva do que a agenda de redução da pobreza, que é minimalista e fragmentada, necessária, mas não suficiente, para o desenvolvimento humano por incorporar uma visão apenas parcial de justiça social. 10
Lição 2 - A agenda de desenvolvimento humano reforça a importância do país ser proativo em seus objetivos de desenvolvimento, não esperando o lançamento do IDH para se justificar ou defender, mas colocando metas suas, claras, de onde e quando deseja atingir determinados objetivos. Por exemplo, temos hoje 68,6% da renda nacional bruta per capita do Chile (país latinoamericano melhor colocado no IDH). Quando chegaremos a 100% (igualdade) nessa renda per capita? Temos 86,4% da expectativa de vida escolar da Noruega (1º colocado no ranking do IDH). Quando teremos o mesmo valor? Ou não desejamos esses valores? Comparações particulares são ilustrativas apenas, pois o que importa, para evitar o sabor das ondas de cada novo lançamento, é uma agenda proativa com um sistema de metas de longo prazo (mais adequado à velocidade lenta de progresso de algumas variáveis no IDH). Lição 3 - A agenda de desenvolvimento humano enfatiza a importância de focarmos nos instrumentos de política social e econômica que tenham impacto em variáveis 'fluxo', sendo mais pacientes com aquelas que retratam 'estoques'. Esse é um aspecto pouco compreendido por analistas, refletido, por exemplo nesse ano em críticas à educação pelos 7,2 anos médios de estudo dos brasileiros. Mas esse é apenas um retrato do passado (uma variável de estoque, mostrando o que aconteceu com aqueles maiores de 25 anos). Despreza assim a 'expectativa de vida escolar' (fluxo) que teve um avanço significativo nesse último ano, chegando a 15,2 anos, comparável a países como Cingapura (9º) e Japão (17º) e superior ao Chile (41º) e Cuba (44º). Similarmente, as políticas mais eficazes para o aumento da expectativa de vida vão ser encontradas em variáveis de fluxo, como a mortalidade infantil (menos de 1 ano) e abaixo de 5 anos de idade. Evitar essa confusão sobre instrumentos e impactos nos fluxos e estoques é fundamental para uma interpretação correta dos resultados das políticas sociais brasileiras e para a escolha de instrumentos que nos permitam avaliar a evolução de nosso desenvolvimento humano de forma mais confiável. Lição 4 - A agenda de desenvolvimento humano no Brasil precisa ser integrada, pois ações que potencializam o desenvolvimento de setores, como o da saúde, educação e a economia têm múltiplas sinergias que não devem ser desperdiçadas. Como melhorar a saúde das pessoas sem melhorar sua educação e conhecimento sobre como entender melhor as doenças e informações públicas? Como ter um sistema educativo produtivo sem uma população saudável (com crianças bem nutridas)? Como esperar uma economia vibrante sem pessoas educadas e saudáveis? As sinergias são múltiplas e demandam uma visão coordenada, integrada e planejada do desenvolvimento que vá muito além da competição entre setores (para ver quem foi melhor ou pior). Esse plano passa pela diminuição da desigualdade multidimensional do desenvolvimento humano e por planos integrados de ações de saúde, educativas e de crescimento inclusivo. Lição 5 - A agenda de desenvolvimento humano seria melhor operacionalizada como uma agenda de Estado e não uma agenda de governos, os quais respondem a apelos políticos e circunstanciais. Uma agenda de longo prazo precisa ser fortalecida através da sobreposição de consensos estabelecidos não somente entre partidos, mas entre o mundo político e a sociedade civil organizada. Uma agenda positiva de desenvolvimento humano deve gerar acordos sobre que futuro queremos para nós e nossos filhos. Importante notar que essa agenda de longo prazo está muito mais desenvolvida hoje no Brasil na área da educação do que na da saúde. Precisamos também de um marco de financiamento transparente do desenvolvimento humano no Brasil. Há claros indícios que os setores de educação e saúde são subfinanciados no Brasil. Precisamos construir uma agenda positiva de desenvolvimento atrelada ao IDH que dê direção e propósito aos debates circunstanciais e especulativos que cercam cada divulgação anual do indicador. Precisamos fazer sentido de números que pouco dizem e repetem o que já sabemos. Esta agenda positiva deve ser uma agenda de Estado, integrada, proativa, olhando 11
de frente para nossas desigualdades através de políticas públicas que possam ser entendidas pelos seus impactos diretos.
A política e o mercado de trabalho O horário eleitoral gratuito da campanha de 2014 teve início nesta semana e, como sempre, os candidatos apelam para críticas aos adversários enquanto prometem mundos e fundos. A novidade é que falam para um eleitorado cada vez mais exigente e ciente de seus direitos. A sociedade brasileira passa por profundas transformações e poucos se contentam hoje com as antigas e vãs promessas da classe política. A grande causa da mudança, identificada por diversos analistas, é a queda da taxa de desemprego desde 2003. Entre os fatores estruturais que ajudam a explicar a melhoria da distribuição de renda no país nos últimos anos, o baixo desemprego é, de longe, o mais importante, tendo contribuído com cerca de 60% para a redução do índice Gini. O fato não deixa de ser discrepante diante de um PIB fraco, mas pode ser explicado por certas evidências estruturais. Uma delas, e talvez a de maior impacto, é a drástica queda verificada na taxa de fertilidade desde os anos 80, resultando em menor pressão no mercado de trabalho. O cenário mostra um novo perfil da pirâmide demográfica, cuja base tem se estreitado rapidamente. Um estudo elaborado pelo economista Andre de Queiroz Brunelli, do Banco Central, publicado em fevereiro, mostra quão significativo tem sido, pelo lado da oferta de mão de obra, o impacto da mudança demográfica no mercado de trabalho brasileiro. Sob o título "TwoDecadesofStructural Shifts in theBrazilian Labor Market: AssessingtheUnemployment Rate ChangesthroughStylizedFactson Labor Supplyand Labor Demand" ("Duas Décadas de Movimentos Estruturais no Mercado de Trabalho Brasileiro: Estimando as Mudanças da Taxa de Desemprego através de Fatos Estilizados na Oferta de Trabalho e na Demanda por Trabalho"), o texto nota que o principal fato com relação à oferta de emprego no Brasil das últimas duas décadas é o envelhecimento da força de trabalho. Brunelli usa os dados da PNAD/IBGE, além de dados de emprego das seis principais regiões metropolitanas, e desagrega as informações por categorias como idade, escolaridade, gênero e raça. "Os resultados obtidos a partir dos exercícios do desemprego demográfico, tendo por base aquele fato (do envelhecimento), são de que foi atenuada a taxa de crescimento do desemprego agregado durante os anos 90 em cerca de 20% tanto no país quanto nas regiões metropolitanas e reforçada a queda do desemprego em cerca de 30% no Brasil como um todo, e em cerca de 20% nas regiões metropolitanas nos anos 2000", diz o estudo. O autor observa que também houve mudança estrutural na demanda por mão de obra, provocada pela estabilidade de 1994, pela redução do tamanho do Estado na atividade econômica e pela abertura comercial, além de outros processos que transformaram o setor de serviços no maior empregador do país. Isto ajuda a explicar a impressionante queda do desemprego na última década, depois de ter subido na década anterior. No Brasil como um todo, a efetiva taxa do desemprego agregado aumentou 261 pontos básicos de 1992 a 2002 e sofreu um declínio de 294 pontos básicos entre 2002 e 2012. Nas regiões metropolitanas, ele apurou que a taxa efetiva de desemprego agregado cresceu 373 pontos entre 1992 e 2002, tendo caído consideravelmente 601 pontos básicos entre 2002 e 2012. Do lado da demanda por mão de obra, Brunelli investigou também o grau de 12
importância entre o desempenho do PIB e a queda do desemprego nos últimos vinte anos e descobriu que a relação é expressiva. A variação no ciclo de negócios, um fator conjuntural, responde em boa parte pela baixa taxa de desemprego, principalmente nas regiões metropolitanas do país. A suposição mais natural, com base nos dados recentes, seria a de que o desemprego no Brasil tende a aumentar nos próximos anos pelo impacto de baixas taxas de crescimento do PIB e pela acomodação gradual da economia à realidade da nova estrutura demográfica do país. No entanto, isto não parece ser a tendência se for levado em conta o resultado de outra pesquisa, realizada por LoukasKarabarbounis e Brent Neiman, economistas da Universidade de Chicago, e publicada sob o título "The Global Decline ofthe Labor Share" ("O Declínio Global da Participação do Trabalho"). Eles observam que desde o início dos anos 80, o fator trabalho vem reduzindo a sua participação na riqueza global devido ao menor custo do capital pela redução nos preços dos bens de investimento (computadores e outros equipamentos ligados a TI), em comparação com os preços dos bens de consumo. Ou seja, ao longo das últimas quase quatro décadas, o fator trabalho tem sido substituído pelo fator capital. A pesquisa envolveu 59 países, dos quais 42 apresentaram queda da participação do fator trabalho na sua renda. Na documentação coletada, foi verificada redução de 5 pontos de percentagem no valor bruto pago ao fator trabalho nos últimos 35 anos. O Brasil é uma das raras exceções da pesquisa. Um ponto fora da curva, a economia brasileira destoa do resto e aponta para uma expansão da fatia do trabalho no PIB do país nos próximos anos. Junto com o Brasil, apenas a Ucrânia apresenta resultado semelhante. "Na nossa análise, o Brasil realmente experimentou um aumento no preço dos bens de investimento e a nossa teoria prediz que a participação do trabalho na renda do país deve aumentar", observou Karabarbounis para a coluna, adiantando que a pesquisa não considerou outros aspectos que poderiam explicar a tendência de maior participação do trabalho na renda do país. Aos políticos brasileiros, que coloquem as barbas de molho!
Cresce a tendência de redução do quadro de funcionários, indicam dados do Caged O recuo da geração de vagas formais observado neste ano foi influenciado mais por perda de fôlego das contratações do que por expansão das demissões, mas uma análise mais detalhada deste fluxo indica maior propensão dos empregadores a reduzir seu quadro de funcionários. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostram que 71% dos desligamentos ocorridos no primeiro semestre se deram por iniciativa das empresas, aumento de 0,4 ponto percentual em relação a igual período de 2013. Já as demissões a pedido dos profissionais perderam participação nessa mesma comparação, ao passarem de 29,4% para 29% do total. Considerando informações enviadas pelas empresas dentro do prazo legal, 7,3 milhões de pessoas foram dispensadas de seus postos de trabalho na primeira metade do ano em todo o país, 1,5% a mais do que o contingente registrado de janeiro a junho do ano passado. Na mesma comparação, a quantidade de desligamentos a pedido diminuiu 0,5%, para três milhões. Entre o primeiro semestre de 2012 e o mesmo período de 2013, a participação das demissões por iniciativa das empresas já havia aumentado, ao passar de 70,3% para 70,6%. Antes dessa 13
leve alta, a fatia dos desligamentos feitos pelos empregadores vinha diminuindo desde 2009. De janeiro a junho daquele ano, esse percentual foi de 79,1%. Para especialistas consultados pelo Valor, o avanço das demissões feitas pelas empresas é um indício adicional de que o mercado de trabalho está sentindo os efeitos da desaceleração da atividade, mas um quadro de retração generalizada do nível de emprego está descartado. Isso porque os desligamentos involuntários estão mais concentrados na indústria - que também está lançando mão de suspensões temporárias dos contratos de trabalho, os chamados "layoffs" - e, mais recentemente, na construção civil, enquanto os outros setores estão criando menos vagas. Neste cenário, trocar de emprego fica menos vantajoso. O pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), nota que houve alteração significativa entre o primeiro e o segundo trimestres de 2014: a fatia de desligamentos a pedido caiu de 30,3% para 27,7% na passagem trimestral. Nos anos anteriores, não houve variação significativa nessa comparação, o que, segundo Moura, aponta para uma situação menos favorável do mercado de trabalho. "Como o mercado está mais incerto, os trabalhadores evitam trocar mais de emprego, porque não há tantas oportunidades novas." Além da postura mais cautelosa dos profissionais, o economista do Ibre avalia que também há um comportamento mais propício a ajustes de mão de obra por parte das empresas, principalmente nos setores da indústria e construção civil, que já vêm mostrando saldos negativos entre contratações e demissões no Caged. Em junho, a indústria cortou 28,5 mil trabalhadores, enquanto a construção dispensou 12,4 mil funcionários. Para Clemente Ganz Lúcio, diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os dados de emprego ainda são favoráveis se comparados ao ritmo da economia, mas o atual cenário de aumento de "layoffs" e férias coletivas pode ter reduzido a quantidade de trabalhadores que pedia demissão para entrar em outra empresa. "Não temos uma performance negativa do mercado de trabalho, mas sim de cautela", comentou. Mesmo assim, Lúcio observa que não houve diminuição significativa na parcela de desligamentos a pedido no total de demissões. Em 2007, por exemplo, essa classificação representava apenas 21,3% das dispensas no Caged. Nos desligamentos sem justa causa - que foram 54,3% do total de demissões no primeiro semestre - há uma fatia que pode ser creditada à iniciativa dos funcionários, mas que não pode ser mensurada, pondera João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Saboia lembra que acordos entre profissionais e empregadores para que as empresas sejam as responsáveis pela dispensa ainda são uma prática comum. "Os desligamentos a pedido devem ser mais do que as estatísticas mostram", afirma o professor, para quem ainda não é possível extrair uma tendência muito clara a partir dos números de demissões do segundo trimestre. Com o desaquecimento do mercado de trabalho, é de se esperar que os desligamentos a pedido percam participação, afirma Saboia. Por outro lado, os avanços observados na última década não permitem fazer uma análise muito negativa da alta recente na fatia de cortes por iniciativa das empresas. Para o economista da UFRJ, o aumento da renda e da formalização impedem um retorno a patamares semelhantes aos de 2007, quando as demissões involuntárias eram quase 80% do total. Leonardo Trevisan, professor da PUC-SP, faz análise semelhante, ao destacar que as estatísticas atuais ainda estão distantes das do período pós-crise. Entre 2008 e 2009, o percentual de demissões feitas pelos empregadores subiu de 76,15% para 78,16%. Desde então, entrou em trajetória de queda, e voltou a se expandir somente neste ano. 14
Trevisan relaciona esse indicador às pesquisas mais recentes de emprego do IBGE e do Dieese, que mostram perda de postos na indústria, para concluir que as dispensas estão concentradas nesse setor, enquanto os serviços continuam compensando o desemprego nas fábricas. "O mercado de trabalho não é demissionário", avalia o pesquisador. Já Moura, do Ibre-FGV, argumenta que a quantidade maior de desligamentos involuntários pode ser considerada um alerta, e não aposta em uma retomada da criação de empregos no segundo semestre. O desemprego em nível baixo e os consequentes reajustes salariais acima da inflação, devido à oferta reduzida de mão de obra, ainda dão fôlego para o setor de serviços, mas, com a inflação mais elevada, o economista afirma que não é possível prever até que ponto os ganhos salariais conseguirão superar os índices de preços.
Conselheiros de Aécio e Marina convergem em política econômica Nas duas mais recentes apresentações públicas, Armínio Fraga, coordenador do programa econômico do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, e Eduardo Giannetti da Fonseca, conselheiro econômico da candidata do PSB, Marina Silva, mostraram muita convergência em termos de política econômica. Como esperado, ambos foram enfáticos na defesa da volta do tripé como fio condutor da política econômica no caso da vitória da oposição nas eleições presidenciais de outubro. Além da convergência quanto à necessidade de restabelecer o tripé, Armínio e Giannetti defenderam que é preciso uma política de ajuste no início do novo governo que passe pelo realinhamento das tarifas. Esse ajuste, disseram, terá um custo em termos de crescimento e talvez de emprego, mas ele será menor para a sociedade e para a economia do que o custo de não fazê-lo. E mais: os dois estão convencidos de que a resposta às medidas de ajuste será rápida e o país poderá voltar a crescer mais cedo do que se imagina. Giannetti foi ainda mais incisivo e deu data para a volta do crescimento. "A capacidade de reação do país é muito forte e podemos terminar 2015 com a economia em aceleração", disse, ontem, em palestra na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Armínio falou na semana passada em Fórum da revista "Exame". Armínio e Giannetti usaram o passado para justificar a avaliação de forte (e positiva) reação do Brasil às medidas de ajuste. Ambos lembraram a crise de 1998/99 - quando Armínio assumiu a presidência do Banco Central no início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e, junto com a adoção do sistema de metas de inflação, elevou os juros - e o posterior crescimento de 2000 como um exemplo desses momentos em que o ajuste traz um custo inicial forte e a benesse da recuperação vem rapidamente. Giannetti acrescentou outro momento como exemplo dessa capacidade: a reação da economia às primeiras medidas do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002 o câmbio chegou a R$ 4, uma aceleração provocada pela preocupação com um governo petista. "Nos dois momentos, em dois a três trimestres, voltamos a crescer", disse Giannetti. "Em 2000 crescemos a uma taxa de 4% ao ano por seis trimestres após os primeiros meses do ajuste", lembrou Armínio. Além da necessidade de um ajuste forte no começo do novo governo, Armínio e Giannetti (que fez questão de deixar claro que, por enquanto, fala por ele e não pela candidatura do PSB, cujo programa econômico está sendo discutido) criticaram a política de contenção artificial da inflação, tanto pelo controle dos preços de combustíveis e da energia elétrica, como pelo controle do câmbio em função da política de intervenção do Banco Central, e o desajuste fiscal. Na questão fiscal ambos enfatizaram questões diferentes mas não divergentes. 15
Aproveitando que está próximo de uma candidatura que nunca foi governo, Giannetti situou a origem do desequilíbrio fiscal na Constituição de 1988 e foi enfático ao dizer que o gasto público cresceu em todos os governos desde então, o que inclui os dois mandatos de FHC como presidente e sua gestão como ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco. "A carga tributária aumentou de 24% para 36% do PIB", disse Giannetti, ponderando que os gastos (e os tributos) subiram em todas as esferas de governo, embora tenha havido uma "sanha" maior no governo, o que aparece na importância adquirida pelas contribuições no montante da arrecadação, pois elas não precisam ser repartidas com Estados e municípios. Ele acrescentou que houve piora fiscal especialmente na gestão Dilma Rousseff que foi acompanhada de medidas de "contabilidade criativa", que minaram a credibilidade das contas públicas. Armínio concentrou suas críticas nesse último ponto e avançou na avaliação de que o "conserto" fiscal vai demorar um pouco mais (dois anos, ele imagina) e que o país está pronto para discutir e adotar uma reforma tributária que passa pela simplificação dos impostos. Giannetti não entrou nesse ponto, o que não quer dizer que não concorde com ele. Armínio e Giannetti também parecem partilhar da avaliação de que a atual meta de inflação é muito alta. Armínio foi explícito sobre esse ponto. Ele defendeu que em um primeiro momento é preciso perseguir a convergência para a meta de 4,5% (deixando a atual administração da política monetária que flerta com o teto da meta) e deixou claro que ele, pessoalmente, acha que o país deveria, depois, buscar uma meta menor. Giannetti não falou em percentuais, mas criticou a gestão do BC que "disse" para o mercado que ficava confortável com a inflação no teto "e com essa barbeiragem perdeu a batalha das expectativas". A percepção de que ele considera possível uma meta menor aparece quando ele classifica o regime de brasileiro de metas de inflação como um dos mais "condescendentes". "A nossa meta é a mais alta", e a banda uma das mais amplas, "e ainda assim ela volta e meia é ultrapassada", ponderou Giannetti. Há ainda outros pontos de convergência entre os dois economistas, como a forte crítica à postura do governo de colocar a culpa pelo baixo crescimento na crise externa, a avaliação de que o país já está em quadro recessivo, a necessidade de revisar os programas de benefícios fiscais que seguiram o modelo de "escolher campeões", a crítica ao forte intervencionismo do governo e a necessidade de recuperar o princípio de câmbio flutuante, para recompor o tripé. Giannetti foi mais detalhista ao criticar o que ele chamou de "microgerenciamento" em troca das políticas anteriores, tanto do governo FHC como no de Lula, de políticas horizontais, sem escolhas prévias dos "vencedores". Ele citou dados para mostrar o absurdo que foi a política do Tesouro emitir títulos indexados à taxa Selic para emprestar a juros subsidiados para o BNDES repassar para empresas "escolhidas", criando uma "bolsa BNDES" cujo custo do subsídio foi superior ao do Bolsa Família, disse Giannetti, dando o crédito da conta ao economista Mansueto Almeida, que participa das discussões do programa de governo da candidatura do PSDB. Quando Giannetti chamou essa política de "bolsa-BNDES", os empresários presentes se manifestaram e preferiram preservar a instituição. "Bolsa-elite", gritaram dois deles. Fraga também criticou as medidas, mas deixou claro que um dos grandes problemas é a falta de transparência e de avaliação sobre seu real benefício. Giannetti mesmo deixou claro, antes de terminar sua palestra, que vê muita convergência na política econômica das duas principais candidaturas de oposição. "Mas estou falando de convergência nessa área específica", disse ele.
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